sábado, 1 de maio de 2021

{clube-do-e-livro} Relançamento: Tormentos da Obsessão - Divaldo Pereira Franco/Manoel Philomeno de Miranda - Formato : pdf,epub e txt

TORMENTOS
DA OBSESS��O


Todos os direitos de reprodu����o, c��pia, comunica����o ao p��blico e explora����o
econ��mica desta obra est��o reservados ��nica e exclusivamente para o Centro
Esp��rita Caminho da Reden����o (CECR). Proibida a reprodu����o parcial ou total da
mesma, atrav��s de qualquer forma, meio ou processo: eletr��nico, digital, fotoc��pia,
microfilme, internet, cd-rom, sem a pr��via e expressa autoriza����o da Editora, nos
termos da lei 9.610/98 que regulamenta os direitos de autor e conexos.


5.ed.
Do 46�� ao 50�� milheiro

��Copyright 2001 by
Centro Esp��rita Caminho da Reden����o
Rua Jayme Vieira Lima n�� 104 - Pau da Lima
41235-000 Salvador - Bahia - Brasil

Revis��o: A Equipe
Editora����o: Nilsa Maria Pinto de Vasconcellos
Capa: Thamara Fraga

Impresso no Brasil
Presita en Brazilo

LIVRARIA
ESP��RITA
ALVORADA
EDITORA

Todo o produto desta edi����o �� destinado �� manuten����o da Mans��o do
Caminho, Obra Social do Centro Esp��rita Caminho da Reden����o (Salvador-
Bahia-Brasil.)


DIVALDO PEREIRA FRANCO

TORMENTOS DA OBSESS��O

Manoel Philomeno de Miranda
(Esp��rito)


LIVRARIA ESPIRITA ALVORADA EDITORA

CNPJ 15.176.233/0001-17 - I.E. 01.917.200
Rua Jayme Vieira Lima n�� 104 - Pau da Lima
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2002


Dados Internacionais de Cataloga����o na Publica����o (CIP)
C��mara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Miranda, Manoel Philomeno de (Esp��rito).

Tormentos da obsess��o I Manoel
Philomeno de Miranda ; [psicografado por]
Divaldo Pereira Franco. - Salvador, BA : Livr.
Esp��rita Alvorada, 2001.

ISBN 85-7347


1. Espiritismo 2. Obras psicografadas
I Franco, Divaldo Pereira, 1927- II. T��tulo.
01-0949 CDD-133.93

��ndices para cat��logo sistem��tico:

1. Mensagens esp��ritas : Espiritismo 133.93

SUM��RIO'

Tormentos da obsess��o

13

Erro e puni����o

19

O Sanat��rio Esperan��a

29

Reminisc��ncias

42

Novos descortinos

58

Contato precioso

74

Informa����es preciosas

89

A amarga experi��ncia de Le��ncio

101

Indaga����es esclarecedoras

113

Tarefas relevantes

122

Experi��ncias gratificadoras

130

O insucesso de Ambr��sio

145

Terapia especial

158

A experi��ncia de Lic��nio

174

Impress��es marcantes

195

A consci��ncia respons��vel

208

Prova e fracasso

220

Alucina����es espirituais

232

Socorro de emerg��ncia

249

Dist��rbio depressivo

270

Terapias enriquecedoras

285

Experi��ncia incomum

296

Li����es de sabedoria

308


... "Nalguns, ainda muito tenazes s��o os la��os
da mat��ria para permitirem que o Esp��rito se
desprenda das coisas da Terra; a n��voa que os
envolve tira-lhes a vis��o do infinito, donde
resulta n��o romperem facilmente com os seus
pendores, nem com seus h��bitos, n��o percebendo
haja qualquer coisa melhor do que aquilo
de que s��o dotados. T��m a cren��a nos Esp��ritos
como um simples fato, mas que nada ou bem
pouco lhes modifica as tend��ncias instintivas.
Numa palavra: n��o divisam mais do que um
raio de luz, insuficiente a gui��-los e a lhes
facultar uma vigorosa aspira����o, capaz de lhes
sobrepujar as inclina����es. At��m-se mais aos
fen��menos do que �� moral, que se lhes afigura
cedi��a e mon��tona. Pedem aos Esp��ritos que
incessantemente os iniciem nos novos mist��rios,
sem procurar saber se j�� se tornaram
dignos de penetrar os arcanos do Criador.
Esses s��o os esp��ritas imperfeitos, alguns dos
quais ficam a meio caminho ou se afastam de
seus irm��os em cren��a, porque recuam ante a
obriga����o de se reformarem, ou ent��o guardam
as suas simpatias para os que lhes compartilham
das fraquezas ou das preven����es. Contu



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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

do, a aceita����o do princ��pio da doutrina �� um
primeiro passo que lhes tornar�� mais f��cil o
segundo, noutra exist��ncia.
Aquele que pode ser, com raz��o, qualificado de
esp��rita verdadeiro e sincero, se acha em grau
superior de adiantamento moral. O Esp��rito,
que nele domina de modo mais completo a
mat��ria, d��-lhe uma percep����o mais clara do
futuro; os princ��pios da Doutrina lhe fazem
vibrar fibras que nos outros se conservam
inertes. Em suma: �� tocado no cora����o, pelo
que inabal��vel se lhe torna a f��. Um �� qual
m��sico que alguns acordes bastam para comover,
ao passo que outro apenas ouve sons.

Reconhece-se o verdadeiro esp��rita pela sua
transforma����o moral e pelos esfor��os que
emprega para dominar suas inclina����es m��s."

Allan Kardec (*)

(*) O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVII, 52"
ed. FEB, p. 263 e 264.


TORMENTOS DA OBSESS��O

A obsess��o campeia na Terra, em raz��o da inferioridade
de alguns Esp��ritos que nela habitam.

Mundo de provas e expia����es, conforme esclareceu
Allan Kardec, �� tamb��m bendita escola de recupera����o e
reeduca����o, onde se matriculam os calcetas e renitentes no
mal, que crescer��o no rumo da felicidade mediante o
contributo das afli����es que se lhes fazem indispens��veis.

Alertados para o cumprimento dos deveres morais e
espirituais que s��o parte do programa de crescimento interior
de cada qual, somente alguns optam pelo comportamento
saud��vel, o que constitui psicoterapia preventiva contra
quaisquer afli����es a que pudessem ser conduzidos. No
entanto, aqueles que se tornam descuidados dos compromissos
de auto-ilumina����o e de paz enveredam pelas trilhas
do abuso das faculdades org��nicas, emocionais e mentais,
comprometendo-se lamentavelmente com as soberanas Leis
da Vida atrav��s da agress��o e do desrespeito aos irm��os de
marcha evolutiva.

N��o ��, portanto, de estranhar, que a inferioridade daqueles
que sofrem injusti��as e trai����es, enganos e perversidades,
os arme com os instrumentos covardes da vingan��a


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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco


e da persegui����o quando desvestidos da indument��ria carnal,
para desfor��arem-se daqueles que, por sua vez, foram
motivos do seu sofrimento.

Compreendessem, por��m, a necessidade do amor e superariam
as ocorr��ncias nefastas, desculpando os seus advers��rios
e dando-lhes ensejo para repararem o atentado
praticado contra a Consci��ncia Divina. No entanto, porque
tamb��m prim��rios nos sentimentos, resolvem-se pelo
desfor��o, atirando-se nas rudes pugnas obsessivas, nas
quais, por sua vez, tornam-se igualmente presas das paix��es
infelizes que combatem nos seus desafetos.

A intelig��ncia e o sentimento demonstram que �� muito
mais f��cil amar, ser fiel, construir a paz, implantar o dever,
realizar a pr��pria e contribuir em favor da felicidade alheia,
do que semear dissabor, cultivar amargura, distender o ��dio
e o ressentimento. N��o obstante, o ego��smo e a crueldade
que ainda vigem nas criaturas humanas quase em geral respondem
pela conduta doentia, impulsionando-as para os
desatinos e descalabros que se tornam respons��veis pela
sua futura desdita.

Negando-se aos sentimentos elevados, o ser transita
pelos s��tios tumultuados do desespero a que se entrega, quando
poderia ascender aos planaltos da harmonia que o aguardam
com plenitude.

Enquanto permanece esse estado no comportamento
humano, as obsess��es se transformam em verdadeiro flagelo
para todos aqueles que se deixem aprisionar nas suas amarras.


A obsess��o apresenta-se sob muitos disfarces, tomando-
se cada vez mais grave na sociedade hodierna que teima
em n��o a reconhecer, nem a considerar.

Religiosos apegados a fanatismo injustific��vel descartam-
na, acredit��ndose credenciados a san��-la onde se ma



15

Tormentos da obsess��o

nifeste, mediante o poder da f�� e a autoridade que se atribuem.


Acad��micos vinculados ao cepticismo em torno da imortalidade
do Esp��rito nas diversas ��reas em que se movimentam,
especialmente nas denominadas ci��ncias da alma, recusam-
se a aceit��-la, convertendo o ser humano a uma situa����o
reducionista, materialista, que a morte consome, aniquilando-
o.

Arreligiosos, embriagados pela ilus��o dos sentidos ou
portadores de emp��fia, afirmam-se imunes �� enfermidade
trai��oeira por indiferen��a aos elevados fen��menos espirituais,
que se multiplicam, volumosos, e s��o desconsiderados.

Multid��es desinformadas da realidade da vida banqueteiam-
se na irresponsabilidade, comprometendo-se lamentavelmente
atrav��s de condutas esdr��xulas e imorais, gerando
futuras calamidades para cada um dos seus membros.


...E mesmo incont��vel n��mero de adeptos do Espiritismo,
com profundos esclarecimentos e orienta����o, n��o poucas
vezes opta pela leviandade e arrog��ncia, comprometendo-
se com a retaguarda onde ficam em expectativa aqueles
que foram iludidos, defraudados, maltratados pela sua insensatez.


A vida sempre convoca �� repara����o todo aquele que se
compromete, perturbando-lhe os estatutos superiores. Ningu��m,
que defraude a ordem, deixar�� de sofrer a conseq����ncia
da atitude irrefletida. Cada ser humano conduz no imo a
cruz para o sofrimento ou a transforma em instrumento de
ascens��o conforme se comporte durante o p��riplo terreno.

Os sofrimentos, que surpreendem os Esp��ritos ap��s
desvestirem-se da roupagem f��sica, s��o decorr��ncia natural
dos seus pr��prios atos, assim como as alegrias e b��n����os
que desfrutem. N��o se tratam, portanto, os primeiros, de


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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

puni����es severas impostas pela Divindade, mas de processo
natural de repara����o, nem as outras de concess��o gratuita
oferecidas aos privilegiados. O Amor vige em tudo, facultando
aos equivocados os sublimes mecanismos para a repara����o
dos erros e a edifica����o no Bem que se encontra ao
alcance de todos.

Podemos dizer, portanto, que a obsess��o pode ser considerada
como o choque de retorno da a����o infeliz perpetrada
contra algu��m que enlouqueceu de dor e de revolta,
necessitando de tratamento adequado e urgente.


Este livro �� mais um brado de alerta aos companheiros
da trilha f��sica, para que n��o se descuidem dos deveres que
nos dizem respeito em rela����o a Deus, ao pr��ximo e a n��s
mesmos.

Toda semente de ��dio, deixada a esmo pelo caminho,
sempre se transforma em planta����o de infelicidade, proporcionando
colheita de amarguras.

Somente o amor possui o recurso precioso para facultar
harmonia e alegria de viver.


Reunimos, na presente Obra, v��rias experi��ncias que
vivenciamos no Hospital Esperan��a em nossa Esfera espiritual,
no qual se encontram internados in��meros irm��os,

falidos e comprometidos com o seu pr��ximo, em lament��veis
estados de perturba����o, sedentos uns de vingan��a, despeda��ados
outros pelas circunst��ncias ultrizes e fatores de
desespero a que se entregaram durante a reencarna����o, ap��s
haverem abandonado os compromissos nobres, que substi



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Tormentos da obsess��o

tu��ram pela alucina����o e pelo transtorno moral que se
permitiram.

Nesse Nosoc��mio espiritual encontram-se recolhidos

especialmente pacientes que foram espiritistas fracassados,

gra��as �� magnanimidade do Benfeitor Eur��pedes Barsanulfo

que o ergueu, dando-lhe condi����o de santu��rio para a sa��


de mental e moral, e o administra com incompar��vel abne


ga����o auxiliado por outros dedicados senadores do Bem e

da Caridade.

Apresentamos a narra����o de v��rias vidas e suas hist��rias
reais, esperando que sensibilizem aqueles que nos honrarem
com a aten����o da sua leitura, auxiliando-os a n��o se
permitirem comprometimentos desastrosos semelhantes.

As experi��ncias que recolhemos ser��o ��teis a todos os
indiv��duos interessados na felicidade pessoal, porque os despertar��o
para os elevados compromissos assumidos perante
a Consci��ncia C��smica e os seus Guias espirituais antes
do renascimento f��sico. N��o obstante, para outros que conhecem
a luminosa orienta����o do Espiritismo, ser��o mais
vivas e penetrantes, por demonstrarem que a cren��a �� muito
importante, no entanto, a viv��ncia dos postulados exarados
na Codifica����o tem regime de urg��ncia e n��o pode nem deve
.ser postergada.

A muitos companheiros de lide esp��rita as nossas informa����es
causar��o estranheza, a outros parecer��o fantasias
de mente em desalinho, porque n��o encontraran} antes
informa����es id��nticas em detalhes nas Obras b��sicas da
Doutrina, esquecendo-se que o ilustre mestre de Lyon afirmou
que n��o estava apresentando a primeira nem a ��ltima
palavra em torno dos temas que tratava, e que o futuro se
encarregaria de confirmar o que estava exarado, ampliar
as informa����es ou corrigir o que estivesse em desacordo
com a Ci��ncia. Como nenhuma das afirma����es doutrin��rias


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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

conforme no-las ofertou Allan Kardec p��de ser superada ou
considerada inexata at�� este momento, �� justo que se lhes
possa adir novas li����es espirituais, dando prosseguimento
as memor��veis experi��ncias de vidas no Al��m-T��mulo. quais
as que se encontram na admir��vel Obra O C��u e o Inferno,
narradas com a seguran��a da sua pena s��bia e vigorosa.

Esperando que nossa contribui����o espiritual possa auxiliar
algum leitor que nos dignifique com a sua aten����o,
consciente como estamos da responsabilidade que nos diz
respeito, suplicamos as b��n����os do sublime Terapeuta para
todos n��s. Seus pacientes em recupera����o.

Salvador, 75 de janeiro de 2001.

Manoel Philomeno de Miranda


ERRO E PUNI����O

Em nossas reuni��es habituais com amigos afei��oados
ao dever, n��o poucas vezes direcionamos as
conversa����es para as quest��es que dizem respeito ��
justi��a humana e �� justi��a divina, assunto palpitante
que a todos nos interessa.

Erro e puni����o, culpa e castigo, dolo e cobran��a,
fazem parte dos temas que reservamos para an��lise
e debate, considerando o processo de evolu����o de
cada indiv��duo em particular e da coletividade em
geral.

Muito interessado na problem��tica obsessiva, diante
das ocorr��ncias do cotidiano terrestre, chama-
me a aten����o a grave interfer��ncia dos desencarnados
no comportamento dos homens.

As manchetes sensacionalistas e estarrecedoras,
apresentadas pelos peri��dicos da grande imprensa e

o perturbador notici��rio da m��dia televisiva com espalhafato
e pavor, revelando algumas express��es de
sadomasoquismo dos seus divulgadores, na maneira
de apresentar as trag��dias e desgra��as da atualidade;
os coment��rios em torno da viol��ncia, gerando

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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

mais indigna����o e revolta do que propondo solu����es,
v��m-me despertando crescente sentimento de consterna����o
pelas criaturas, acrescido do lament��vel
desconhecimento das variadas psicopatologias de
que s��o v��timas, assim como das obsess��es de que
se fazem servas.

Comentando com amigos dedicados aos estudos
sociol��gicos, psicol��gicos e penal��gicos em nossa
Esfera de a����o, aguardei oportunidade pr��pria para
auscultar nobre especialista nessas ��reas, com objetivo
de esclarecer-me, ao tempo em que pudesse
ampliar informa����es e estudos junto aos caros leitores
encarnados, igualmente dedicados ��s terapias
preventiva e curadora dessa enfermidade epid��mica
e ultriz.

Nesse estado de esp��rito, oportunamente fui convidado,
por afei��oado servidor de nossa comunidade,
para um encontro ��ntimo com o vener��vel Esp��rito
Dr. Bezerra de Menezes, numa das suas est��ncias
entre n��s, cuja dedica����o �� Humanidade, na condi����o
de desencarnado, se aproximava de um s��culo
de ininterrupto humanitarismo, em labor de caridade
e ilumina����o da consci��ncia terrestre.

A reuni��o fora reservada para pequeno grupo de
pesquisadores das terap��uticas pr��prias para a criminalidade
e suas conseq����ncias entre os seres humanos
reencarnados, havendo sido convidados apenas
aqueles dedicados ao importante mister.

Em uma ��rea ao ar livre, reservada a tert��lias ��ntimas
realizadas no Nosoc��mio, que fora programado
para obsidiados que faliram nos compromissos
terrestres, e que desencarnaram sob o guante dos
transtornos ps��quicos dessa natureza, teve lugar o


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Tormentos da obsess��o

encontro aben��oado.

Erguido, gra��as aos esfor��os e sacrif��cios do eminente
Esp��rito Eur��pedes Barsanulfo, na d��cada de
1930 a 1940, aquele Sanat��rio passou a recolher desde
ent��o as v��timas da pr��pria inc��ria, tornando-se
um laborat��rio vivo e pulsante para a an��lise profunda
das aliena����es espirituais.

O mission��rio sacramentano havia constatado
ser expressivo o n��mero de almas falidas nos compromissos
relevantes, ap��s haverem recebido as luzes
do Consolador, e que retornavam �� p��tria espiritual
em lament��vel estado de desequil��brio, sofrendo
sem consolo na erraticidade inferior. Movido pela
compaix��o que o caracteriza, empenhou-se e conseguiu
sensibilizar uma expressiva equipe de trabalhadores
espirituais dedicados �� psiquiatria, para o socorro
a esses n��ufragos da ilus��o e do desrespeito ��s
soberanas leis da Vida, credores de miseric��rdia e
amparo.

M��diuns levianos, que desrespeitaram o mandato
de que se fizeram portadores; divulgadores descompromissados
com a responsabilidade do esclarecimento
espiritual; servidores que malograram na execu����o
de graves tarefas da benefic��ncia; escritores
equipados de instrumentos culturais que deveriam
plasmar imagens dignificadoras e que descambaram
para as discuss��es est��reis e as agress��es injustific��veis;
cora����es que se responsabilizaram pela edifica����o
da honra em si mesmos, abra��ando a f�� renovadora,
e delinq��iram; mercen��rios da caridade bela
e pura; agentes da simonia no Cristianismo restaurado
ali se encontravam recolhidos, muitos deles ap��s
haverem naufragado na experi��ncia carnal, por n��o


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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

terem suportado as press��es dos Esp��ritos vingadores,
inclementes perseguidores aos quais deveriam
conquistar, ao inv��s de se lhes tornarem v��timas, extraviando-
se da estrada do reto dever sob sua injun����o
perversa...

Normalmente, naquele Instituto de sa��de espiritual,
se realizavam encontros esclarecedores, quando
se analisavam as desditosas experi��ncias dos seus
pacientes.

Vezes outras, candidatos �� reencarna����o com tarefas
definidas na mediunidade estagiavam nos seus
pavilh��es, observando os companheiros que se iludiram
e foram vencidos, ou escutando-os durante
suas catarses significativas ao despertar da consci��ncia,
dando-se conta do preju��zo que se causaram a
si mesmos, assim como aos outros, que arrastaram
na sua vertiginosa alucina����o.

Verdadeiro Hospital-Escola, constitui um brado
en��rgico de advert��ncia para os viajores do carro org��nico,
que se comprometeram com as atividades de
enobrecimento e de amor.

Foi, portanto, em agrad��vel recanto arborizado,
em noite transparente e coroada de estrelas, clareada
por di��fana e ignota luz, que ouvimos o Ap��stolo
da caridade entretecendo considera����es em torno do
erro e da puni����o, que logo o segue.

J�� conhecido, e part��cipe de outros cometimentos,
fui recebido com o seu proverbial carinho e eloq��ente
sabedoria, qual sucedera com os demais membros
do grupo atencioso.

Ap��s breves instantes de sauda����es afetuosas e
palavras introdut��rias a respeito do tema, o vener��vel
Mentor elucidou:


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Tormenios da obsess��o

- A problem��tica do comportamento moral do ser
humano encontra-se relacionada com o seu nivel de
progresso espiritual.
"Por essa raz��o, Jesus acentuou que mais se pedir��
��quele a quem mais se deu, considerando-se o
grau de responsabilidade pessoal, em raz��o dos fatores
predisponentes e preponderantes para a conduta.
Cada indiv��duo �� a hist��ria viva dos seus atos
passados. A soma das suas experi��ncias modela-lhe

o car��ter, as aspira����es, o conhecimento e a responsabilidade
moral. Invariavelmente, ao lado das conquistas
significativas conseguidas em cada etapa
reencarnacionista, n��o raro, gravames e quedas turvam
a pureza dos seus triunfos, constituindo-lhe empecilhos
para avan��os mais expressivos."
Soprava uma brisa levemente perfumada, enquanto
ele silenciou por breves segundos, para logo
prosseguir:

- Em raz��o dessa atitude, renascem os Esp��ritos
no clima moral a que fazem jus, nos grupos familiares
compat��veis com as suas necessidades, portadores
de compromissos pr��prios para o desenvolvimento
dos valores ��ticos e morais relevantes. N��o podendo
eliminar as causas precedentes, de alguma forma fazem-
se acompanhar por afetos ou advers��rios que se
lhes permanecem vinculados �� economia evolutiva.
�� certo que nunca falta, a Esp��rito algum, o divino
amparo, a inspira����o e os meios h��beis para o ��xito,
mas, muitos deles, logo despertam no corpo e atingem
a idade da raz��o, s��o atra��dos de retorno aos
s��tios de onde se deveriam evadir e ��s vicia����es que
lhes cumpre vencer...
'As tend��ncias inatas, que s��o reflexos dos com



24
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

promissos vividos, impelem-nos para as condutas que
lhes parecem mais agrad��veis e que n��o lhes exigem
esfor��os para superar. As conex��es ps��quicas, por afinidade,
facilitam o interc��mbio com os desafetos da
retaguarda, e sem o necess��rio empenho que, ��s vezes,
imp��e sacrif��cio e ren��ncia, fazem-nos tombar
nas urdiduras bem estabelecidas para venc��-los, derrot��-
los no empreendimento que deveria ser libertador."


Novamente silenciou, e olhando para a grande e
significativa constru����o hospitalar, com inilud��vel
compaix��o pelos seus internados, deu prosseguimento:


- A justi��a est�� ��nsita em a natureza, e o desenvolvimento
moral do ser amplia-lhe os conte��dos sublimes
na consci��ncia. A aplica����o dos c��digos da
justi��a na Terra vem-se dando conforme o grau de
responsabilidade humana e o seu aprimoramento
moral. Das grotescas e impiedosas puni����es do barbarismo
e da Idade M��dia, para a moderna vis��o da
ci��ncia da Penalogia, houve uma identifica����o maior
da mente humana com a justi��a divina, lentamente
incorporada aos c��digos legais terrestres. Ainda se
est�� longe de uma justi��a saud��vel e igualit��ria para
todos, n��o obstante, j�� se pensa em diretrizes humanit��rias
a serem utilizadas, dignificando o delinq��ente
antes que apenas o punindo. Isso porque o conceito
sobre a justi��a de Deus, mediante a evolu����o
do pensamento e da consci��ncia, elimina a arbitrariedade
e a crueldade que Lhe eram atribu��das, a fim
de apresent��-lO como miseric��rdia e amor, que oferecem
m��todos de reeduca����o construtiva e terap��utica
para todos os males, conforme se detecta na con

25

Tormentos da obsess��o

ceitua����o atual da doutrina da reencarna����o.

"Quase sempre, quando se pensa em justi��a,
imediatamente ocorre o pensamento em torno do
componente da puni����o, como se a sua fosse a finalidade
do castigo, e jamais da equanimidade, da preserva����o
da ordem e do dever. T��o associado tem-
lhe estado esse reflexo, que se confunde o seu minist��rio
de preservar o equil��brio do indiv��duo, da massa
e das na����es, mediante medidas coercitivas da
liberdade, ao lado de recess��es, embargos de alimentos
e rem��dios, e dilacera����es f��sicas, psicol��gicas e
morais destruidoras do sentido da vida.

"Um estudo profundo, �� luz da psicologia, faculta
identificar-se no delinq��ente um enfermo emocional,
cujas ra��zes do desequil��brio se encontram nas
experi��ncias transatas das exist��ncias. Culpa, remorso,
desarmonia interior, desamor, que foram vivenciados,
refletem-se em forma de comportamentos transtornados
e atitudes infelizes que desbordam nas v��rias
express��es do crime. Conseq��entemente, assist��ncia
espec��fica, na mesma ��rea psicol��gica, deveria
ser utilizada para recuperar o paciente infeliz e
conceder-lhe o direito �� reabilita����o, ao resgate do
erro perante a v��tima e a sociedade."

Pensativo, como se estivesse melhor organizando
a argumenta����o, fez nova pausa, logo dando prosseguimento:


- Al��m desses fatores psicol��gicos, outros mais,
quando deficientes contribuem para o erro da criatura
humana, quais sejam: a educa����o no lar e a conviv��ncia
familiar, o meio social, os recursos financeiros
e o trabalho, a recrea����o e a sa��de, que desempenham
papel de infinita import��ncia na constru����o da

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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

personalidade e no desenvolvimento dos sentimentos.
Em uma sociedade justa, h�� predomin��ncia dos
valores de que se desincumbem airosamente os governantes,
dando conta das responsabilidades que
assumiram perante o povo, sempre vigilantes no que
diz respeito aos deveres em rela����o ��s massas. Infelizmente,
ainda n��o viceja genericamente essa consci��ncia,
o que responde pelos altos ��ndices da viol��ncia
e da criminalidade, em raz��o das fugas espetaculares
pelas drogas qu��micas, pela anarquia, pelo
desbordar das paix��es a que se entregam os indiv��duos
mais fr��geis moralmente. Isso faculta-lhes a
eventualidade da pr��tica do delito, conforme se pode
constatar na literatura do passado e do presente. Fedor
Dostoiewski, na sua famosa obra Crime e Castigo,
bem descreve os tormentos da personagem
Raskolnikof que, apesar de ser um homem honrado e
portador de sentimentos nobres, terminou por cometer
atrocidades sem limites contra as suas v��timas, a
fim de apropriar-se dos valores que possu��am, particularmente
da atormentada usur��ria, que ele passou
a detestar. Diversos autores, como Victor Hugo, Charles
Dickens, Arthur M��ller e muitos outros, utilizando-
se deste fator eventual, apresentam criminosos
que se tornam simp��ticos aos seus leitores, porque
foram levados ao crime por circunst��ncias ocasionais,
desde que, portadores de elevados princ��pios, viram-
se na conting��ncia de errar, recebendo em troca puni����es
perversas e injustas.

"O erro �� sombra que acompanha aquele que o
pratica at�� que se dilua mediante a luz clara da repara����o.
Providenciados os meios h��beis para a renova����o
do equivocado, reeducando-o para a conviv��n



27

Tormentos da obsess��o

cia social, �� justo se lhe conceda o ensejo de prosseguir
construindo o futuro, enquanto se sente liberado
do desequil��brio praticado."

A fim de conceder-nos ensejo de bem aprofundar
reflex��es, o amor��vel amigo fez uma nova pausa,
e concluiu:

- Dia vir�� em que os estudiosos do comportamento
criminoso da criatura humana perceber��o, al��m
desses fatores que levam �� delinq����ncia, um outro
muito mais grave e sutil, que necessita de profundos
estudos, a fim de que se criem novos c��digos
de justi��a para os infratores colhidos por essa incid��ncia.
Referimo-nos �� obsess��o, quando Esp��ritos
advers��rios, desejando interromper-lhes a marcha
evolutiva, induzem-nos �� pr��tica de delitos de
toda ordem, tornando-se co-autores de incont��veis
agress��es criminosas, que muitas vezes redundam
em acontecimentos infaustos, irrevers��veis. Trabalhando
lentamente o campo mental das v��timas com
as quais se hospedam psiquicamente, terminam por
inspirar-lhes sentimentos vis, armando-as contra
aqueles que, por uma ou outra circunst��ncia, se
lhes tornam inimigos, com ou sem raz��o. Transformando-
se em advers��rios incans��veis, obstinadamente
as perseguem ou as enfrentam em combates
de viol��ncia, que terminam em trag��dias... Sob
outro aspecto, esses Esp��ritos utilizam-se daqueles
com os quais t��m sintonia mental e moral, para
se desfor��arem de quem os prejudicou anteriormente,
e agora n��o s��o alcan��ados pela sua sordidez
nem perversidade, praticando homic��dios espirituais
hediondos. As obsess��es, nessa ��rea, s��o muito
expressivas. Seria o caso de examinar-se se a

28
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

personagem de Dostoiewski n��o teria sido v��tima
de algum advers��rio desencarnado pessoal ou se
n��o houvera conseguido sintonizar com aqueles
que se compraziam em odiar todos quantos lhe tombaram
nas cruas perversidades!

"O erro, em si mesmo, gera um clima ps��quico
nefasto, que atrai Esp��ritos semelhantes ao que se
compromete moralmente, passando a manter sistem��tica
sintonia e com��rcio emocional continuado. O
castigo geral aplicado a todos quantos se fazem v��timas
da criminalidade, sem diferen��a de situa����o ou
conte��do espiritual, torna-se injusto e mesmo odiento,
transferindo-se para o mundo espiritual os efeitos
desses con��bios desastrosos.

"A Divindade, por��m, vela, e as Suas Leis s��bias
alcan��am inapelavelmente todos os seres da Cria����o,
facultando o processo evolutivo, mediante o qual ser��
poss��vel a felicidade que se anela.

"Cuidemo-nos, todos n��s, de nos preservar do
mal, suplicando o divino socorro, conforme prop��s o
incompar��vel Mestre, na Sua Ora����o dominical, buscando-
Lhe o amparo e a inspira����o, a fim de podermos
transitar com equil��brio pelos dif��ceis caminhos
da ascens��o espiritual."

Silenciou, o bondoso amigo, deixando-nos material
expressivo para reflex��o.

Despedindo-se momentaneamente, prometeu dar
prosseguimento ao tema fascinante que �� a obsess��o,
nesse aspecto, quase desconhecida.


O SANAT��RIO ESPERAN��A

Terminado o col��quio com o vener��vel Benfeitor
Dr. Bezerra de Menezes, continuamos entretecendo
coment��rios em torno do assunto ventilado, quando
senti interesse de aprofundar conhecimentos em torno
do Sanat��rio Esperan��a, onde anteriormente tivera
oportunidade de realizar estudos sobre a obsess��o,
bem como experienciar outras atividades espirituais.


Embora informado da finalidade do admir��vel Nosoc��mio,
desconhecia detalhes da sua funda����o.

Apresentando-se pr��pria a ocasi��o, face �� presen��a
em nosso grupo de um dos seus atuais diretores,
o Dr. Ignacio Ferreira, que fora na Terra eminente
m��dico uberabense, interroguei ao amigo gentil, sobre
a hist��ria daquele Santu��rio dedicado �� sa��de
mental, e ele, bondosamente respondeu:

- Quando ainda reencarnado, Eur��pedes Barsanulfo
foi portador de verdadeiro mediunato, porquanto
conduziu as faculdades medi��nicas, de que era instrumento,
dentro dos postulados enobrecedores da
caridade e do amor, em uma viv��ncia aureolada de

30

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

exemplos de ren��ncia e de abnega����o, havendo sido
tamb��m educador em��rito. Em raz��o dessas suas admir��veis
faculdades, dedicou-se a atender os portadores
de aliena����o mental, psiqui��trica e obsessiva,
erguendo um Hospital na cidade em que nascera, para
socorr��-los. Conseguiu, naquele tempo, resultados
incomuns, favorecendo os enfermos com a reconquista
do equil��brio. N��o obstante a terap��utica acad��mica
vigente, e que ele n��o podia aplicar, por n��o ser
habilitado a exercer a Medicina nessa ��rea, era a sua
pr��pria for��a moral que lograva o maior n��mero de
recupera����es, face �� bondade que expressava em rela����o
aos pacientes desencarnados, assim como a miseric��rdia
de que se utilizava para atender os padecentes
dos graves transtornos ps��quicos.

"Ser interexistente, viveu como ap��stolo da caridade,
possuindo extraordin��rios potenciais curadores
e especial acuidade como receitista espiritual,
dedicado ao socorro dos menos felizes.

"Nunca se negou a socorrer quem quer que fosse,
mesmo ��queles que o perseguiam de forma inclemente,
e que, ao enfermarem, n��o encontrando recursos
h��beis para o reequil��brio, buscavam-no, dele
recebendo o concurso superior para o prosseguimento
da jornada evolutiva.

"Desencarnando jovem, vitimado pela epidemia
da gripe espanhola, que assolou o mundo, prosseguiu
como mission��rio de Jesus amparando milhares de
vidas que se lhe vincularam, especialmente na regi��o
por onde deambulara na recente exist��ncia encerrada.


"O seu nome tornou-se bandeira de esperan��a, e
com um grupo de cooperadores devotados ao Bem,


31

Tormentos da obsess��o

alargou o campo de trabalho socorrista, ampliando
as ��reas de atendimento sob a inspira����o do Psicoterapeuta
por excel��ncia."

Sinceramente comovido, ante a evoca����o dos atos
de caridade do eminente Esp��rito, prosseguiu, serenamente
narrando:

- N��o se limitando a socorrer exclusivamente os
viandantes do carro f��sico, acompanhou, tamb��m,
ap��s a desencarna����o, muitos daqueles que lhe receberam
o concurso, neles constatando o estado deplor��vel
em que retornavam �� P��tria, vencidos por
perseguidores cru��is que os obsidiavam, ou vitimados
por ideoplastias terr��veis derivadas dos atos a
que se entregaram, enlouquecendo de vergonha, de
dor e de desespero ap��s o portal do t��mulo.
"Formando verdadeiras legi��es de alienados
mentais, que se agrediam, uns aos outros, chafurdando
em paisagens de sombra e ang��stia, constitu��das
por abismos de sofrimentos insuport��veis, condoeu-
se particularmente, por identificar que muitos deles
haviam recebido o patrim��nio da mediunidade iluminada
pelas li����es libertadoras do Espiritismo, mas
preferiram enveredar pelos d��dalos da irresponsabilidade,
utilizando-se da superior concess��o para o
deleite de si mesmos e das paix��es mais vis que passaram
a cultivar. Outros tantos corromperam a palavra
iluminativa, de que se fizeram instrumentos, utilizando-
a para atender aos interesses escusos, ou
negociar favores terrestres com desprezo pela oportunidade
de edifica����o de muitas vidas que lhes
aguardavam o contributo. Diversos mercadejaram os
dons espirituais, tombando sob o vampirismo propiciado
por verdugos do passado, que se compraziam


32
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

em empurr��-los para mais graves despaut��rios, com-
prometendo-lhes a reencarna����o.

"Diante da massa imensa de desesperados que
haviam conhecido as diretrizes para a felicidade,
mediante o servi��o dignificante e restaurador dos
ensinamentos de Jesus, mas que preferiram os jogos
doentios dos prazeres exorbitantes, o mission��rio
compadecido buscou o apoio dos Benfeitores de mais
Alto, para que conduzissem a Jesus uma proposta
sua, caracterizada pelo interesse de edifica����o de um
Nosocomio espiritual, especializado em loucura, para
aqueles que desequil��brio apresentassem ap��s a morte
do corpo f��sico, e que tamb��m serviria de Escola
viva, como igualmente de laborat��rio, para a prepara����o
das suas reencarna����es futuras em estado menos
doloroso e com possibilidades mais seguras de
recupera����o.

"Ap��s deferido o seu requerimento de benefic��ncia,
suplicou ao nobre Esp��rito Agostinho de Hipona,
que na Terra o houvera auxiliado e inspirado no minist��rio
abra��ado, que se tornasse o intermedi��rio das
futuras necessidades da Institui����o em surgimento
junto ao M��dico divino, a Quem suplicava b��n����os
em favor da obra.

"Havendo o s��bio crist��o, autor das Confiss��es e
de outros memor��veis trabalhos, aquiescido em intermediar
os apelos do trabalhador do Bem junto ao
Senhor Jesus, foi permitida a edifica����o do ref��gio e
abrigo especial para os doentes da alma, que se encontrassem
sob tormentosas alucina����es nos antros
escusos da erraticidade inferior."

O bondoso narrador concedeu-nos uma pausa
para apreens��o da surpreendente hist��ria, logo con



33

Tormentos da obsess��o

tinuando:

- Eur��pedes providenciou a convoca����o de admir��veis
psiquiatras e psic��logos desencarnados, que
haviam na Terra cuidado das desafiadoras patologias
obsessivas e auto-obsessivas, de forma que, preparada
a Equipe, foram tomados os cuidados pr��prios
para a edifica����o do Sanat��rio, situado nesta ��rea
distante do movimento da comunidade espiritual, a
fim de que as b��n����os da Natureza contribu��ssem
tamb��m com elementos pr��prios para acalmar as suas
torpes alucina����es e ensejar-lhes renova����o e paz.
"Obedecendo a um plano cuidadoso, foram erguidos
diversos blocos, que deveriam atender a patologias
espec��ficas, tais como del��rios graves, possess��es
de longo porte, consci��ncias autopunitivas,
desespero por conflitos ��ntimos, fixa����es m��rbidas,
hebeta����o mental, autismo conseq��ente a arrependimentos
tardios, esquizofrenias tenebrosas, obsess��es
compulsivas, etc.

"A regi��o, amplamente arborizada, absorve o impacto
vibrat��rio dos tormentos que se exteriorizam
dos conjuntos bem desenhados e das cl��nicas de repouso,
para onde s��o transferidos aqueles que se
encontram em processo de recupera����o.

"H��beis psicoterapeutas movimentam-se no
aben��oado complexo, auxiliados por devotado corpo
de param��dicos, todos habilmente preparados para
esse minist��rio de alta magnitude, demonstrando
quanto �� forte o liame do dever com amor, no atendimento
ao desespero e �� loucura.

"Afinal, a vida se expressa com intensidade no
corpo e fora dele, sendo que, na sua realidade causal,
mais significativas e vigorosas s��o as energias que


34
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

comp��em o ser, produzindo resson��ncias no futuro
organismo som��tico, que vivenciar�� todas as a����es
desenvolvidas.

"Desse modo, os m��todos de atendimento aos
enfermos espirituais s��o fundamentados no profundo
conhecimento do ser, das suas necessidades, dos
fatores que levam ao fracasso os empreendimentos
nobilitantes, das injun����es penosas provocadas pelo
interc��mbio com Entidades infelizes e perversas, dos
desequil��brios ��ntimos por acomoda����o e aceita����o
da vulgaridade e do crime...

"Muitos companheiros doentes, aqui internados,
portadores de outras patologias, foram aquinhoados
com a d��diva da constata����o da continuidade da vida
ap��s o decesso tumular, e, n��o obstante esse conhecimento,
utilizaram das faculdades medi��nicas para
dar vaz��o aos tormentos pret��ritos ainda vivos no
inconsciente, que deveriam vencer a qualquer pre��o."


Enquanto o gentil psiquiatra silenciou por breves
momentos, pus-me a reflexionar: - sempre me
chamaram aten����o aqueles irm��os que foram v��timas
das express��es sexuais desequilibradas, e que n��o
souberam canalizar nobremente as energias reprodutoras,
deixando-se consumir pelos v��cios hediondos,
que os perturbaram profundamente. N��o poucos
deles mantiveram durante a exist��ncia carnal a
ambig��idade de comportamento, apresentando-se
externamente de maneira correta, mas vivendo s��rdidos
con��bios mentais com Entidades prom��scuas,
em extravagantes e cont��nuas pervers��es a que se
entregavam �� hora de dormir, dessa forma mantendo
comunh��o estreita com as mesmas, que se haviam


35

Tormentos da obsess��o

degenerado e os atra��am para os redutos mais abjetos,
tais os lupanares antigos e mot��is modernos, que
lhes servem de habita����o...

Utilizando-me, ent��o, daquela breve pausa, interroguei
com interesse de aprender:

-Aqui s��o albergados tamb��m portadores de dist��rbios
sexuais, que contribu��ram para desastrosas
condutas na ��rea da mediunidade?

Sempre gentil, o caro m��dico elucidou:

- Como sabemos, o sexo �� santu��rio da vida, que
n��o pode ser perturbado sem tormentosas conseq����ncias
para o seu deposit��rio. Em raz��o disso, muitos
dist��rbios de comportamento t��m suas matrizes
nos mecanismos sexuais ��ntimos. Os seus aspectos
e sinistras vincula����es sempre produzem dolorosa
compun����o, por v��-los se negarem a despertar para
a realidade, enlanguescidos e sofridos nos estados
de depauperamento da energia vital, mesmo quando
socorridos e amparados... O v��cio se lhes instala nos
tecidos delicados do Esp��rito como necessidades semelhantes
aos tormentosos processos da toxicomania
e do alcoolismo, que tantos males causam �� Humanidade
terrestre que estagia no corpo f��sico e fora
dele.
"Estudadas as energias variadas que comp��em

o complexo espiritual de cada indiv��duo, abnegados
especialistas em sexologia aqui trabalham, ajudando
os que vieram recambiados para este Centro de
socorro, utilizando dos recursos pr��prios e correspondentes,
de modo a agirem nas causas dos dramas que
se desenrolaram por largo tempo, revigorando cada
paciente com as incompar��veis li����es de Jesus."
Novamente silenciou, para logo dar prossegui



36
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

mento a narrativa interessante:

- Face �� sua profunda vincula����o com o Divino
M��dico, �� entrada do amplo pavilh��o central, Eur��pedes
mandou inscrever o lapidar conceito kardequiano
Fora da Caridade n��o h�� salva����o, revivendo os
exemplos do Senhor, que todos deveriam insculpir
com vigor no imo, a fim de que o amor jamais diminu��sse
de intensidade no minist��rio socorrista, fossem
quais fossem os resultados do labor em desenvolvimento
ou conforme o enfrentamento dos desafios.
"Equipes adestradas recolhem novos pacientes
com freq����ncia, conforme as possibilidades que esses
lhes ofere��am, nas regi��es punitivas para onde
resvalam, facultando-lhes a honra da miseric��rdia de
acr��scimo que procede do Pai magn��nimo, sempre ��
espera do filho displicente ou rebelde.

"E, sem d��vida, deplor��vel, o estado em que muitos
aqui chegam, lutando contra as id��ias mantidas
durante o corpo e atormentados pelas vis��es que cultivaram
durante a vilegiatura carnal, apresentando
no perisp��rito todas as mazelas do seu desrespeito
��s soberanas leis da Vida. N��o poucos deles aqui s��o
instalados, mantendo a imanta����o ps��quica com os
inimigos cru��is, que tamb��m passam a receber assist��ncia
conveniente, libertando-os a pouco e pouco
das incr��veis fixa����es e vamp��riza����es a que se
entregam.

"Para esse fim, uma ampla enfermaria de recep����o
acolhe a todos os rec��m-chegados, ap��s o que
s��o examinados por diligentes psicoterapeutas, que
os encaminham aos respectivos n��cleos onde poder��o
desfrutar do atendimento correspondente ��s suas
necessidades.


37

Tormentos da obsess��o

"Todos, sem exce����o, recebem assist��ncia muito
carinhosa, sem que, em qualquer circunst��ncia,
seja desrespeitado o livre arb��trio do perseguidor ou
daquele que se permite dominar."

E porque fizesse nova pausa, como se esperasse
por alguma indaga����o, para mais esclarecer, atrevi-
me a interrogar:

- Do fato de haverem sido atendidos esses Esp��ritos
enfermos, ocorre, vez que outra, alguma evas��o
ou retorno aos s��tios de onde viveram?
Sem demonstrar enfado, o bondoso psiquiatra elucidou:


- Face �� circunst��ncia do respeito ao livre arb��trio
de cada qual, com relativa freq����ncia muitos internos,
atra��dos psiquicamente pelos seus verdugos,
retornam aos s��tios de hediondez de onde foram removidos,
por perfeita identifica����o de interesses e
afinidade moral mantida entre eles... N��o h�� impedimento
para essa ocorr��ncia, em se considerando o
direito de cada qual evoluir conforme as pr��prias possibilidades,
embora os impositivos expiat��rios que,
na ocasi��o adequada, alteram o comportamento daqueles
que se permitem enlanguescer na indiferen��a,
longe de qualquer prop��sito de renova����o...
"Aqui, al��m do minist��rio de recupera����o de pacientes
mentais, em raz��o da sua especialidade, muitos
candidatos a reencarna����es como futuros psicoterapeutas
e estudiosos da alma, conforme a vis��o
das modernas Doutrinas transpessoais, v��m fazendo
est��gio, a fim de adquirirem conhecimentos para lidar
com os problemas volumosos da obsess��o, dos
transtornos psicol��gicos e das psicopatologias que
se apresentam cada vez mais dominadoras na socie



38
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

dade contempor��nea.

"Por outro lado, nobres pioneiros da hipnose
como dos estudos da histeria, da psiquiatria, da psican��lise
e de outras doutrinas correlatas, visitam com
certa const��ncia o respeit��vel Sanat��rio, para colher
dados e aprimorar conhecimentos, alterar ou aprofundar
informa����es que ficaram paralisadas, quando deixaram
o corpo carnal na Terra...

"De Thomas Willis, o psiquiatra ingl��s do s��culo
XVII, a Filipe Pinel, de Mesmer a James Braid, de Wilhelm
Griesinger a Kraepelin, a Charcot, a Freud, a
Jung, apenas para nos referir a alguns dos cultos visitantes,
muitas aulas t��m sido ministradas, e debates
s��o estabelecidos para que se encontrem os melhores
m��todos terap��uticos para imediata aplica����o,
n��o apenas nos internos como em favor dos viandantes
da Terra, especialmente considerando-se a fragilidade
das for��as morais de muitos candidatos ao
equil��brio e �� fidelidade aos postulados do dever,
quando mergulham na carne.

"Muitos daqueles mestres do passado, que contribu��ram
para alargar o conhecimento em torno da
psique humana, davam-se e d��o-se conta agora ante

o espet��culo truanesco e grandioso da vida em triunfo
sobre a transitoriedade da mat��ria, da sabedoria
incompar��vel de Jesus, quando conclamou as criaturas
ao amor e �� compaix��o, �� conduta reta em favor
da vida futura, indestrut��vel, conforme o demonstrou
com a Sua pr��pria ressurrei����o...
"Outrossim, muitos deles n��o conheceram o trabalho
incomum de Allan Kardec, especialmente no
que diz respeito ��s psicopatologias por obsess��o,
igualmente tratadas por Jesus, e raros, que poderi



39

Tormentos da obsess��o

am haver pesquisado o valioso contributo do mestre
lion��s, n��o o fizeram por preconceito acad��mico, e
tudo quanto ignoravam nessa ��rea preferiram situar
no verbete Ocultismo, pronunciado de maneira depreciativa.


"Algumas das tentativas terap��uticas de que foram
iniciadores esses visitantes e ilustres mestres,
agora s��o aqui aplicadas com efici��ncia, pelo fato de
produzirem o efeito desejado no campo energ��tico
de onde procedem os fen��menos psicol��gicos e psiqui��tricos,
sede, portanto, do ser integral, espiritual,
que somos todas as criaturas.

"N��o ignoramos, todos os que aqui estagiamos,
que qualquer tipo de enfermidade tem no Esp��rito a
sua origem, face �� conduta mental, emocional e moral
que o mesmo se permite, produzindo transtorno
vibrat��rio que se refletir�� na ��rea correspondente do
corpo perispiritual, e mais tarde no f��sico. Somente
agindo-se no mesmo n��vel e campo, propondo-se simultaneamente
a mudan��a de atitude ps��quica e comportamental
do paciente, se pode aguardar resultados
satisfat��rios na correspondente manifesta����o da
sa��de."

Novamente interrompeu a surpreendente explica����o,
para prosseguir:

- Musicoterapia, preceterapia, amorterapia s��o
as bases de todos os procedimentos aqui praticados,
que se multiplicam em diversificados m��todos de
atendimento aos sofredores, conforme as s��ndromes,
a extens��o do dist��rbio, a gravidade do problema.
Concomitantemente, as indiscut��veis terapias desobsessivas
recebem cuidados especiais, particularmente
nos processos de vampiriza����o, para liberar aque

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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

les que submetem as suas vitimas, internando-os logo
depois para tratamento de longo curso; para cirurgias
perispirituais de retirada de implantes perturbadores,
que foram fixados no c��rebro e prosseguem
vibrando na ��rea correspondente do psicossoma; para
momentosas regress��es a experi��ncias pregressas
em cujas viv��ncias se originaram os enfrentamentos
e os ��dios, demonstrando-se que, inocentes, realmente
n��o existem ante a Consci��ncia C��smica; para libera����o
de hipnoses profundas; para reestrutura����o
do pensamento danificado pelas altas cargas de vibra����es
delet��rias desde a vida f��sica; para reencontros
com afetos preocupados com a recupera����o de
cada um daqueles pertencentes �� sua fam��lia emocional...


"Por outro lado, a fluidoterapia muito bem aplicada
produz efeitos surpreendentes, tendo-se em vista
aqueles que a utilizam, movimentando energias
internas e trabalhando as da Natureza, que s��o direcionadas
aos centros perispirituais e chakras, agindo
no intrincado mecanismo das for��as energ��ticas
que constituem o Esp��rito.

"O amor, por��m, e a paci��ncia, - acentuou com
��nfase - assumem primazia em todos os processos
socorristas, procurando amenizar a ang��stia e o desespero
daqueles que se enganaram a si mesmos e
sofrem as lament��veis conseq����ncias.

"Convidados especiais, para a psicoterapia mediante
palestras comovedoras e ricas de ensinamentos
libertadores dos v��cios, evocando vultos e acontecimentos
hist��ricos que merecem ser repensados,
apresentam-se com assiduidade, fazendo parte do
programa terap��utico deste N��cleo de Esperan��a, que


41

Tormentos da obsess��o

sempre representa o Amor que nunca falta e pacientemente
aguarda."
Havendo silenciado, algo comovido, deixou-nos

o conforto que deflui da bondade de Deus, jamais desamparando
os filhos rebeldes, que preferem os caminhos
tormentosos, quando poderiam haver seguido
a estrada do bem e do dever sem trope��os.
E porque a noite se encontrasse coroada de estrelas
e um perfume bals��mico bailasse no ar, �� medida
que o grupo se diluiu, cada qual buscando o repouso
ou as atividades que deveria desempenhar,
continuamos no local, reflexionando.


REMINISC��NCIAS

As informa����es do Dr. Ignacio Ferreira deram-nos
a dimens��o perfeita da grandeza espiritual de Eur��pedes
Barsanulfo, cuja dedica����o �� viv��ncia do Evangelho,
�� luz do Espiritismo, dele fizera um verdadeiro
ap��stolo da Era Nova.

Dando prosseguimento ao seu minist��rio de amor
ao Mestre atrav��s do pr��ximo colhido pelo vendaval
da alucina����o, com um grupo de abnegados mensageiros
da luz erguera, sem medir esfor��os, aquele
Nosocomio para o socorro aos enfermos da alma e o
estudo preventivo da loucura, assim como das terapias
pr��prias, com especificidade na ��rea dos transtornos
obsessivos de natureza medi��nica atormentada.


Sem d��vida, sendo a mediunidade uma faculdade
inerente ao Esp��rito, que a deve dignificar mediante
o seu correto exerc��cio, todos os seres humanos,
de alguma forma, s��o-lhe portadores.

Quando se expressa mais ostensivamente, em
raz��o de compromissos espirituais anteriores, �� cam



43

Tormentos da obsess��o

po muito vasto a joeirar, exigindo comportamento
consent��neo com a magnitude de que se reveste. Ao
mesmo tempo, em raz��o das defec����es e conquistas
morais do seu possuidor, situa-se em faixa vibrat��ria
correspondente ao grau evolutivo do mesmo, produzindo
sintonia com Entidades que lhe correspondem
ao apelo de ondas equivalentes.

Assim sendo, torna-se ve��culo dos pensamentos
e indu����es pr��prios �� sintonia, todos aqueles, encarnados
ou n��o, que s��o semelhantes aos sentimentos
do m��dium.

Por isso mesmo, quando irrompe a mediunidade,
n��o raro, se transforma em grave tormento para o
seu portador, por coloc��-lo em campo diferente do
habitual, expondo-o ��s mais diferentes condutas morais
e mentais, procedentes do mundo espiritual, e
que se sucedem de maneira volumosa e perturbadora.


Desequipado de conhecimento e de recursos para
contrabalan��ar as ondas ps��quicas e as sensa����es f��sicas
delas decorrentes, experimenta dist��rbios nervosos,
tais a ansiedade, a depress��o, a inseguran��a,

o mal-estar f��sico, as cefalalgias, os problemas de est��mago,
de intestinos, as tonturas, e que resultam da
absor����o das energias negativas que lhe s��o direcionadas
pelos pr��prios advers��rios, assim como por
outros Esp��ritos, perversos uns, zombeteiros outros,
malquerentes quase todos eles...
�� certo que jamais escasseia a miseric��rdia divina
atrav��s do amor, da inspira����o que verte do seu
Guia espiritual na sua dire����o, das indu����es para a
pr��tica das virtudes, da ora����o e do dever, mas que
nem sempre s��o captadas e decodificadas conforme


seria necess��rio para os resultados imediatos.

Pela tend��ncia �� acomoda����o e por decorr��ncia
das m��s inclina����es que vicejam do passado de onde
cada qual procede, mais facilmente se d�� guarida ��s
vincula����es malfazejas do que �� condu����o superior.

Quando, no entanto, o medianeiro toma conhecimento
das li����es educativas do Espiritismo, especialmente
atrav��s das diretrizes seguras de O Livro dos
M��diuns, de Allan Kardec, o roteiro de seguran��a se
lhe desenha com maior efici��ncia, convidando-o a
submeter-se ao compromisso s��rio de trabalhar pelo
pr��prio como pelo bem comum.

A medida que se moraliza, o m��dium se equipa
de resist��ncias para vencer as persegui����es espirituais,
que s��o um grande entrave ao ��xito do seu minist��rio,
particularmente tendo em vista as paix��es
inferiores que constituem um grande desafio a enfrentar
a todo momento.

A mediunidade, portanto, pode ser uma prova����o
dolorosa, que se transforma em tarefa de ascens��o,
ou um sublime labor mission��rio que, assim mesmo,
n��o isenta o indiv��duo dos testemunhos, das dificuldades,
das ren��ncias e da vigil��ncia constante
que deve manter.

Durante a mais recente vilegiatura terrena, lidando
com portadores de mediunidade, acompanhamos
n��o poucos indiv��duos que derraparam em terr��veis
enganos, a��odados pelos seus inimigos desencarnados,
que lhes n��o concediam tr��gua. Isso acontecia,
porque neles encontravam tomadas ps��quicas para
acoplarem os seus plugs, o que lhes permitia o interc��mbio
sistem��tico e cont��nuo.

Recordo-me, por exemplo, do irm��o Ludg��rio, que


45

Tormentos da obsess��o

se iniciara no h��bito destrutivo do alcoolismo desde
muito jovem.

Portador de faculdade medi��nica atormentada,
por necessidade reparadora, foi reencontrado pelos
inimigos desencarnados que, desde cedo, aos doze
anos aproximadamente, o induziram �� ingest��o de
bebidas alc��olicas, inicialmente nas festas familiares
e nas de car��ter popular muito comuns na cidade
onde residia, para o arrastarem por longos anos aos
mais abjetos comportamentos e experi��ncias infelizes.


Quando, pela primeira vez, travamos contato pessoal
com esse paciente, defrontamo-lo, excitado e provocador,
na sala das palestras doutrin��rias da Casa
Esp��rita onde mourej��vamos.

Havia terminado a reuni��o, dedicada ao estudo
de O Livro dos Esp��ritos, de Allan Kardec, quando ele
se adentrou pelo recinto, visivelmente embriagado,
agressivo, utilizando-se de palavras vulgares e gestos
grosseiros para fazer-se notado.

Gentilmente atendido por um dos membros da
Institui����o, desatou em gritaria e amea��as, que criaram
um constrangimento geral entre as pessoas que
se encontravam de sa��da e aqueloutras que permaneciam
em conversa����o saud��vel e despedidas.

O nobre diretor da Casa, o irm��o Jos�� Petitinga,
que se mantinha entretecendo considera����es sobre

o tema abordado junto a um grupo de interessados,
foi atra��do pelo alarido inusitado, e acercou-se do enfermo,
a fim de o atender. Com muita habilidade, tocando-
lhe o bra��o e envolvendo-o em suave magnetismo,
retirou-o da sala p��blica, conduzindo-o para
um c��modo mais discreto, onde procurou dialogar com

46

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

paci��ncia e miseric��rdia.

Era totalmente imposs��vel qualquer conversa����o
edificante, em raz��o do estado de alcoolismo do visitante
inesperado, cujos centros do discernimento e
da l��gica se encontravam bloqueados. Assim mesmo,
as palavras gentis do abnegado diretor provocaram
mais rebeldia nos comparsas espirituais, que se
locupletavam com os vapores alco��licos que absorviam
atrav��s do enfermo da alma, logo deixando-o,
ap��s impreca����es e promessas de vinditas em altos
brados, sem que conseguissem atemorizar ou perturbar
o psicoterapeuta sereno.

Ato cont��nuo, o paciente, sem o suporte flu��dico
dos seus perseguidores, entrou em ligeira convuls��o,
tremendo e vomitando violentamente, causando profunda
compaix��o. Logo depois desmaiou, permanecendo
inconsciente por alguns minutos, tomado de
palidez mortal e d��bil respira����o.

Formando um c��rculo de ora����es, Petitinga, eu e
mais alguns companheiros, envolvemo-lo em vibra����es
de revigoramento, aplicando-lhe passes restauradores
de energias, que lhe facultaram recuperar a
consci��ncia vagarosamente.

Passados esses momentos mais graves, a caridade
crist�� socorreu-o, conforme as circunst��ncias do
momento, envolvendo-o em esperan��as e promessas
de paz.

Ap��s ser-lhe providenciado o concurso monet��rio
para alguma refei����o, Ludg��rio afastou-se, ganhando
a pra��a ensolarada...

A impress��o que nos deixou foi muito dolorosa.
Tratava-se de um jovem de aproximadamente vinte e
oito anos, que demonstrava o desgaste produzido pelo


47

Tormentos da obsess��o

alcoolismo e a inseguran��a derivada do processo obsessivo
pertinaz qu��o dilacerador.

A partir desse incidente, inspirado pelos seus
Guias espirituais, ele retornou, em estado de sobriedade,
��s reuni��es doutrin��rias, uma ou outra vez,
quando se comportava com relativa calma. Avan��ado
o fen��meno obsessivo, j�� assinalava marcas irrevers��veis
nas telas mentais do paciente, que o levavam
a confundir os conceitos que ouvia e a supor-se
facilmente ofendido, quando algo o desagradava.

Normalmente era de trato irrit��vel, de maneiras
rudes e possuidor de ego muito sens��vel, que o armava
contra as demais pessoas que sequer o podiam
olhar, produzindo-lhe sempre a id��ia falsa de que

o estavam censurando.
Na complexidade desse problema obsessivo defrontamos:
primeiro, o paciente soberbo, cuja dor n��o
lhe alterara a conduta da exist��ncia anterior, quando
malograra, exatamente na faixa do comportamento
obstinado e violento, traindo lembran��as de poder e
ostenta����o, que lhe davam um aspecto quase rid��culo
de prepot��ncia entre farrapos e imund��cie; e, segundo,
os inimigos, insolentes e perversos, aqueles
que padeceram nas suas m��os impiedosas, e hoje
buscavam desfor��ar-se sem qualquer escr��pulo. A
pugna se instalara quando, identificado na atual reencarna����o
pelas suas antigas v��timas, passou �� conviv��ncia
ps��quica dominadora, conduzido ao v��cio, no
qual experimentava prazer, facultando-lhe descarregar
as complexas excentricidades que lhe remanesciam
no inconsciente.

Podia-se perceber a extens��o do ��dio que vicejava
entre ambos, comparsas do comprometimento, por



48

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

quanto, esclarecido quanto �� interfer��ncia desses
Esp��ritos em sua conduta, Ludg��rio reagia entre blasf��mias
e maldi����es, que denotavam a rebeldia que
lhe era peculiar, facultando o campo vibrat��rio espec��fico
para maior interc��mbio com os perseguidores.
Esses, por sua vez, desejavam derrot��-lo cada vez
mais, n��o se contentando em v��-lo jogado �� ru��na f��sica,
moral, mental, econ��mica, sem qualquer amigo,
dormindo em verdadeiras pocilgas, nas ruas imundas
do h��rrido bas fond onde permanecia semi-hebetado...
Planejavam receb��-lo, ap��s exaurir-lhe as
energias animais por vampiriza����o, al��m do portal do
t��mulo para darem prosseguimento ao con��bio vingador.


Em uma das oportunidades em que se encontrava
l��cido e com relativa paz, mantivemos uma conversa����o
mais calma, havendo recolhido dados muito
importantes para uma anamnese do seu caso e
estudo cuidadoso da quest��o tormentosa, que sempre
me despertava profundo interesse espiritual.

Narrou-nos que, desde a primeira inf��ncia, era
acometido de sonhos terrificantes, nos quais seres
monstruosos perseguiam-no, amea��ando destru��-lo
por meio de formas as mais terr��veis que se possa
imaginar. Sempre despertava daqueles sombrios pesadelos
banhado em ��lgido suor e apavorado. As sombras
da noite passaram a ser-lhe um incompar��vel
tormento.

N��o tendo renascido em lar equilibrado, conseq����ncia
compreens��vel, porque decorrente da conduta
anterior vivenciada, os pais n��o lhe proporcionaram
o carinho necess��rio, antes repreendendo-o,
surrando-o sem aparente motivo, e obrigando-o a si



49

Tormentos da obsess��o

lenciar o sofrimento, que se lhe foi agigantando, a
ponto de passar a temer as noites e o sono. Lentamente
se lhe instalaram no imo sentimentos de ira e
m��goa contra os genitores, transferindo-os para os
demais irm��os, que com ele n��o mantinham bom relacionamento,
de algum modo por efeito da sua pr��pria
constitui����o temperamental.

Freq��entou a Escola p��blica para o curso prim��rio,
sempre depressivo e atemorizado, expressando
conduta anti-social, at�� que, aos doze anos, experimentou
o primeiro trago, no pr��prio lar, por ocasi��o
do anivers��rio do genitor. A partir da��, ap��s uma alucina����o
que o venceu, criando tumulto e sendo sovado
impiedosamente pela ignor��ncia que predominava
na fam��lia, passou a tomar bebidas alco��licas ��s
ocultas e a entregar-se a pensamentos vulgares na
��rea sexual, que lhe constitu��a um tormento cruel, em
raz��o do surgimento de impot��ncia psicol��gica, que
era tamb��m resultado da somatiza����o dos conflitos
mantidos, bem como efeito do alcoolismo em instala����o
no seu organismo debilitado.

A medida que os anos se passaram, viu diminuir
as perspectivas de vida alegre ou feliz, sendo empurrado
para a regi��o do meretr��cio, ap��s desaven��as
dom��sticas cont��nuas, quando sua presen��a se tornou
insuport��vel na fam��lia dif��cil, em raz��o das crises
alco��licas que se faziam prolongadas e gravemente
perigosas.

Muitas vezes foi levado ao c��rcere p��blico por
policiais impiedosos que o surpreenderam nas casas
de lasc��via em deplor��veis situa����es, ou por desordens
nos bares, quando lhe era negada bebida sem o
correspondente pagamento.


50

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Estava transformado em p��ria social, detestado
por uns e amea��ado por outros companheiros de desdita.


Nunca ouvira falar a respeito do Espiritismo, por��m,
sabia que a morte n��o representava o fim da
vida, porquanto, nos del��rios alco��licos, conseguia
detectar os inimigos que o afligiam e o levavam a recordar-
se dos atos ign��beis que lhe haviam sofrido.
Juravam jamais o perdoar, mas vingar-se sem piedade
at�� que, rastejante, experimentasse o m��ximo de
padecimentos que lhe imporiam.

Tratava-se, bem se v��, de muito dif��cil conjuntura
espiritual, cuja altera����o dependeria do paciente
submetido e sem resist��ncias morais, face ao largo
per��odo de entrega espont��nea. Apesar disso, buscamos
envolv��-lo em carinho, oferecendo-lhe os instrumentos
poderosos do Evangelho de Jesus, particularmente
o amor e o perd��o, que deveria usar com
seguran��a, a fim de reconquistar aqueles a quem
maltratara, e agora cometiam erro equivalente, tomando
a clava da justi��a nas m��os desvairadas.

Parecendo despertar do largo transe, passou a
freq��entar as reuni��es dominicais de exposi����o doutrin��ria,
iniciando um per��odo de abstin��ncia alco��lica.
Auxiliado por nossa Casa, que procurava diminuir-
lhe a pen��ria econ��mica, sentia-se atra��do aos
antros conhecidos, quando os companheiros de desdita
o instigavam a novas liba����es alco��licas, tombando
muitas vezes em recidivas dolorosas.

Algumas vezes, banhado em l��grimas, nos informava
que sempre lhe negavam alimento, enquanto
lhe ofereciam as bebidas malditas. Sem resist��ncias
morais e dependente dos t��xicos do ��lcool, fraqueja



51

Tormentos da obsess��o

va, porquanto, simultaneamente, os desencarnados
n��o apenas inspiravam os doadores como o induziam
�� queda...

Sinceramente compungido com o caso Ludg��rio,
em ocasi��o pr��pria, durante nossas reuni��es hebdomad��rias
de terapia desobsessiva, indagamos ao
Benfeitor encarregado o que se poderia fazer em favor
do enfermo desorientado, e esse esclareceu que
traria ao atendimento espiritual um dos seus verdugos,
a fim de formularmos uma id��ia da gravidade do
cometimento.

Menos de um m��s transcorrido, incorporou-se em
um dos nossos m��diuns sonamb��licos indigitado
obsessor que, vociferando, golpeando o ar e arquejante
sob a a����o do ��dio, declarou, asselvajado:

- Aqui estou, atendendo �� solicita����o do Sr. Miranda,
que se atreve a envolver-se em problemas que
n��o lhe dizem respeito. Nunca tive defensores, e sufoquei
as minhas penas por largo per��odo em silencioso
sacrif��cio, at�� o momento, quando posso desfor��ar-
me do bandido que mas cumulou por anos a fio,
sem qualquer piedade ou miseric��rdia. Que pretende,
o seu improvisado benfeitor?
Usando a palavra com cautela e demonstrando
compreens��o do drama de que se tornara v��tima o
desditado, tentamos recordar-lhe a Justi��a Divina da
qual ningu��m se evade, bem como considerar o significado
daquele instante para todos n��s, por ensejar-
nos reconhecer a falibilidade das nossas conceitua����es
e formas de ver a vida, numa tentativa de
chegar-lhe at�� os sentimentos obnubilados.

Totalmente desvairado, na cegueira que o tomava,
passou a detalhar as ocorr��ncias que o desgra��a



52
Manoel P. de Miranda/Divaido Franco

ram antes, bem como a outros que ora participavam
do programa de cobran��a.
Deixamo-lo exteriorizar o desconforto e as m��goas,
quando blasonou, estent��rico:

-O nosso plano, j�� que �� um plano coletivo, do
qual participamos diversos advers��rios que o detestamos,
�� arm��-lo contra algu��m, a fim de que cometa
um hediondo crime, para o qual n��o haver�� perd��o.
Isso realizado, t��-lo-emos para sempre sob nosso poder.
-E os amigos, por acaso - respondemos com paci��ncia
- desconhecem que os programas divinos s��o
outros, com caracter��sticas mui diversas das que v��m
estabelecendo contra o irm��o submetido ��s suas tenazes?
- �� claro que sabemos - ripostou, alardeando superioridade
intelectual. - No entanto, ele �� o devedor,
a quem nos recusamos desculpar, porquanto jamais
usou de piedade, m��nima que fosse, para quem
lhe sofria a crueza. Perverso e obstinado, caprichoso
e mau, sobrep��s-se ��s Leis e destruiu vidas incont��veis
que deveria preservar, dominado pela loucura
do poder que logo lhe escapou das m��os hediondas
quando lhe adveio a morte.
- Curioso - analisamos com piedade fraternal -��
observar que o amigo incrimina-o, procedendo da forma
que nele censura, utilizando-se da mesma medida
de que o acusa, assim rumando para futuros processos,
n��o menos desditosos do que esse no qual
jaz o seu antigo verdugo. De maneira como n��o existe
v��tima inocente, nenhum algoz passa sem expungir
os delitos atrav��s dos mecanismos soberanos da
Vida. S�� o amor possui a chave para decifrar todos os

53

Tormentos da obsess��o

enigmas existenciais e solucionar as dificuldades do
caminho evolutivo. Assim, rogamos-lhe, e aos demais
companheiros, que lhe seja concedida uma chance
pelo menos, para reabilitar-se pelo bem que possa
oferecer ��queles aos quais prejudicou, especialmente
os incluindo por haverem sido os ofendidos...

- Nunca! - interrompeu-nos, com rispidez. - Ele
nos pagar��, e isso acontecer�� sem demora... Utilizamos
da lei de tali��o: olho por olho, dente por dente.
-O amigo esqueceu-se do amor - propusemos
com piedade - conforme nos ensinou Jesus. Somente
o amor possui os mecanismos que desagregam as
constru����es do mal, gerando b��n����os e proporcionando
o bem.
O comunicante estrugiu em ruidosa gargalhada
de mofa e acrescentou com ironia:

- N��o me fale em amor, nem em Jesus. Tamb��m
se dizia crist��o, o covarde, e ap��s os crimes tenebrosos
que praticava contra aqueles que lhe ca��am no
desagrado, corria ao culto religioso a que se filiava, e
rogava perd��o do seu confessor, que o atendia, igualmente
infame, enquanto suas v��timas eram dilaceradas
pelo relho, trucidadas por m��todos incomuns de
perversidade. Onde o amor desse Jesus?
Profundamente consternados, esclarecemos:

- N��o podemos confundir a Doutrina do Mestre
com os homens que dela se utilizam para atendimento
das pr��prias mis��rias e paix��es imediatistas. Longe
dos sentimentos que apregoam, exploram e mentem,
enganando-se a si mesmos e ��queles que se deixam
conduzir pelas suas urdiduras, igualmente interessados
nesse con��bio de ilus��es e mendacidade. O
Mestre ofereceu-se em holocausto, mesmo quando

54
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

todos O abandonaram.

- Nunca lhe concederemos ocasi��o de repetir o
que j�� fez, e temos pressa em concluir a tarefa iniciada
-. Ripostou com enfado e nervosismo.
Preferimos silenciar. O momento n��o era para discuss��o
verbal, nem para debate in��til. Recolhendo-
nos em ora����o, escutamos suas palavras finais e atormentadas:


-O mal devora aqueles que o vitalizam, n��s o
sabemos. Enquanto n��o chega a nossa vez, torna-
mo-nos os instrumentos h��beis para que essa lei se
cumpra sem qualquer desvio...
Porque n��o existem viol��ncias em nossos compromissos
para com a vida, ele resolveu afastar-se
do m��dium, ou foi retirado carinhosamente pelo Mentor,
deixando-nos algo frustrados e incompletos.

Posteriormente, nosso Instrutor esclareceu-nos
que a hora era grave, e somente o esfor��o do paciente
poderia modificar os planos de vindita elaborados
pelos seus desafetos, o que parecia bastante dif��cil...

N��o passaram duas semanas, e fomos informados
da trag��dia em que se envolvera o pobre Ludg��rio,
tendo fim a consumida exist��ncia f��sica.

Discutindo com outro companheiro embriagado,
comparsa habitual das extravag��ncias alco��licas,
num dos bares em que se homiziavam, foi acometido
de grande loucura e, totalmente alucinado, tomou de
uma faca exposta no balc��o da espelunca, cravando-
a, repetidas vezes, no antagonista, mesmo ap��s t��-lo
abatido e morto.

A cena de sangue, odienta e ultrajante, provocou
a ira dos passantes e comensais do repelente recinto
que, inspirados pelos perversos e indigitados


55

Tormentos da obsess��o

Esp��ritos vampirizadores, se atiraram contra o alco��latra,
linchando-o sem qualquer sentimento de humanidade,
antes que a policia que freq��entava o local
pudesse ou quisesse interferir.

Todo linchamento demonstra o primarismo em
que ainda permanece o ser humano, e resulta da explos��o
do ��dio que acomete aos imprevidentes, que
passam a servir de instrumentos inconscientes de
hordas espirituais perversas, que d��o vasa aos sentimentos
vis atrav��s das paix��es desordenadas...

A hedionda cena do Calv��rio �� bem o exemplo
desse fen��meno de primitivismo em que estagiam
muitos indiv��duos. Aquele Homem, que somente amara
e o bem fizera, fora escarnecido, abandonado, crucificado,
ap��s um julgamento arbitr��rio, apoiado pela
massa que dEle tanto recebera. E mesmo na cruz, inspirados
pelas hostes selvagens da erraticidade inferior,
bradavam ir��nicos, aqueles que se Lhe fizeram
de inimigos de ��ltima hora:

- N��o ��s o Messias? Sai, ent��o, da cruz para que
vejamos e acreditemos... -E estertoravam em alucinadas
gargalhadas.
Os jornais fizeram estardalha��o sobre o inditoso
acontecimento, que a n��s outros que o conhec��amos,
muito nos compungiu, deixando-nos material espiritual
para demoradas reflex��es e interroga����es que
somente ap��s a morte nos foi poss��vel compreender.

Naquela ocasi��o, indagamo-nos, se teria falhado
a ajuda espiritual que se estava iniciando com futuras
perspectivas de atenuar o processo obsessivo. Por
que os desafetos conseguiram atingir as metas estabelecidas?
Por qual raz��o n��o nos foi poss��vel aprofundar
terapias mais eficientes em favor dos desen



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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

carnados, quando da comunica����o psicof��nica de um
deles? Outras indaga����es permaneceram bailando
em nossa mente, at�� que o tempo, o grande consolador,
foi-nos esclarecendo com as luzes soberanas da
l��gica do Espiritismo.

Ap��s a morte f��sica, ainda interessado no caso
Ludg��rio, tentamos encontr��-lo, sem o conseguir. Soubemos,
por fim, que aquele, que lhe fora v��tima do
homic��dio infame, era um dos comparsas anteriores,
que se desaviera quando da partilha de terras que
haviam sido espoliadas de camponeses humildes que
lhes sofriam a domina����o arbitr��ria, tornando-se-lhe
igualmente advers��rio. Desde ent��o, unidos pelos
crimes, uma ponte de animosidade fora distendida
entre eles. Como os advers��rios espirituais se vinculavam
a ambos, encontraram campo vibrat��rio prop��cio
para o assassinato de cunho espiritual.

Ante esse fato doloroso, em outras circunst��ncias,
sempre me perguntava, como as leis terrenas julgariam
os criminosos que houvessem sido v��timas
dos seus inimigos desencarnados? Puniriam ao homicida
vis��vel que, por sua vez, se tornara v��tima de
outros indigitados criminosos? E como alcan��ar aqueles
que se encontram al��m das sombras terrenas em
paisagens imortais excruciantes e permanecem odientos,
se escasseiam recursos pr��prios para a an��lise
e penetra����o nessas regi��es?

Eram essas interroga����es que nos ficaram e permanecem
interessando-nos por conquistar as respostas,
em raz��o da freq��ente repeti����o de delitos dessa
ordem e crimes outros sob a inspira����o de seres
espirituais desencarnados. Igualmente, podemos considerar
aqueles suic��dios, nos quais a insidiosa pre



57

Tormentos ela obsess��o

sen��a e indu����o de algozes desencarnados responde
pelo ato tormentoso, que diariamente arrebata em
todo o mundo grande parcela da sociedade...

Agora, certamente, ter��amos oportunidade de
conseguir respostas com os admir��veis estudiosos
do assunto, quando pud��ssemos conhecer mais detalhes
a respeito de alguns irm��os delinq��entes dentre
os internados no Sanat��rio espiritual.

E porque a noite avan��asse incessante e generosa,
busquei, eu pr��prio, o repouso, aguardando as
b��n����os do amanhecer.


NOVOS DESCORTINOS

Menos de uma semana ap��s a noite de conviv��ncia
reconfortante com Dr. Bezerra de Menezes,
recebemos novo convite, agora firmado por Dr. Ignacio
Ferreira, para participarmos de novo encontro que
deveria ocorrer no anfiteatro do Nosoc��mio, e cujo
tema que por ele seria debatido, tinha por t��tulo Homic��dios
espirituais.

A hora aprazada, dirigimo-nos ao Sanat��rio da
Esperan��a, e, em ali chegando, encontrando-nos com
alguns dos amigos que participaram do evento anterior,
seguimos ao belo recinto, onde se realizavam diversas
confer��ncias e se debatiam temas de interesse
comum, pertinentes aos transtornos obsessivos.

Alguns dos companheiros que se reuniram conosco
haviam exercido o sacerd��cio m��dico na Terra,
na ��rea da psiquiatria, de que se desincumbiram a
contento, porquanto conseguiram conciliar o conhecimento
acad��mico com as informa����es salutares da
Doutrina Esp��rita, que melhor elucidam as psicog��neses
das diversas perturba����es ps��quicas, incluindo
a cruel obsess��o.


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Tormentos da obsess��o

Quando alcan��amos o local, um suave burburinho
percorria as galerias que se apresentavam repletas.
Uma ansiedade saud��vel pairava em quase todas
mentes, aguardando a presen��a do conferencista
que, na Terra, havia participado de atividades ainda
pioneiras nesse campo delicado da sa��de mental.

Dr. Ignacio Ferreira houvera experienciado com
muito cuidado, enquanto no corpo f��sico, o tratamento
de diversas psicopatologias incluindo as obsess��es
pertinazes, no Sanat��rio psiqui��trico que erguera
na cidade de Uberaba, e que lhe fora precioso laborat��rio
para estudos e aprofundamento na psique humana,
especialmente no que diz respeito ao inter-relacionamento
entre criaturas e Esp��ritos desencarnados.

A Sra. Maria Modesto Cravo, se iniciara pelas
m��os abnegadas do nobre Esp��rito Eur��pedes Barsanulfo,
quando os fen��menos ins��litos passaram a perturb��-
la, e, gra��as �� sua faculdade preciosa, revelou-
se abnegada servidora do Bem. De sua segura mediunidade
se utilizavam os bons Esp��ritos, particularmente
o pr��prio Eur��pedes, para o minist��rio do
esclarecimento dos estudiosos, assim como para a
pr��tica da caridade.

A gentil dama, que se vinculava �� religi��o cat��lica
com o fervor caracter��stico do cora����o feminino,
subitamente passou a ser acometida por clarivid��ncia
l��cida, ao tempo em que fen��menos el��tricos a
afligiam, sempre quando tocava objetos met��licos,
produzindo-lhe peculiares choques. Sem explica����o
para a ocorr��ncia, que a desorientava compreensivelmente,
ap��s ouvir alguns m��dicos locais que ignoravam
completamente a causa de tais sucessos,
consultou constrangidamente o nobre mission��rio


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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sacramentano, que logo a submeteu a cuidadosa anamnese,
constatando-lhe a mediunidade respons��vel
pelas ocorr��ncias aflitivas.

Ap��s esclarec��-la em torno da causa daqueles
dist��rbios, prop��s-lhe o estudo s��rio do Espiritismo,
no que foi atendido com respeito e considera����o, com

o que tamb��m anuiu o dedicado esposo, intrigado
que se encontrava com a singularidade daquelas
manifesta����es totalmente estranhas.
Numa das experi��ncias de educa����o da mediunidade,
e encontrando-se a respeit��vel senhora em
transe profundo, um dos guias espirituais comunicou-
se, explicando as raz��es da fenomenologia e recomendando
os cuidados compat��veis, a fim de que
a senhora bem pudesse exercer o compromisso superior
que trouxera programado antes da sua atual
reencarna����o, a fim de contribuir eficazmente em favor
dos enfermos mentais e de outras pessoas com
dist��rbios transit��rios de comportamento.

Durante muitos anos a digna dama submeteu-se
��s instru����es dos seus abnegados Mentores, encarnado
e desencarnado, trabalhando com disciplina e
devotamento, havendo, ao desencarnar, conseguido
a palma da vit��ria, sendo mais tarde convocada para
prosseguir no mesmo servi��o em nossa esfera da
a����o.

No momento reservado para o in��cio da confer��ncia,
adentraram-se no audit��rio, al��m do conferencista,
o respeit��vel Eur��pedes e D. Maria Modesto.
Ato cont��nuo, e sem desnecess��rias explica����es, Eur��pedes
proferiu emocionada ora����o, logo apresentando
o orador, que assomou �� tribuna, enquanto os seus
acompanhantes sentaram-se �� mesa, ao lado do que


61

Tormentos da obsess��o

presidia a reuni��o.

Dr. Ignacio encontrava-se sereno e bem apessoado.
Ante o sil��ncio que se fez natural, ele come��ou a
exposi����o, utilizando-se da sauda����o que caracterizava
os encontros entre os crist��os primitivos:

- Que a paz de Deus seja conosco!
"Peregrinos do carreiro das reencarna����es, buscando
a ilumina����o e a paz, temos mergulhado no
corpo e dele sa��do, gra��as �� abnega����o dos generosos
Guias que se responsabilizam pelas nossas tentativas
evolutivas. Desse modo, a Terra continua sendo
para n��s, o colo de m��e generosa, que nem todos
temos sabido preservar em elevado conceito. Honrados
com as oportunidades sucessivas do processo
de crescimento interior, sempre nos apresentamos
conforme as conquistas realizadas nas experi��ncias
anteriores que nos assinalam os passos, havendo
contribu��do para que romp��ssemos as duras algemas
da ignor��ncia, da perversidade e do primarismo. Jugulados,
por��m, ��s a����es que n��o soubemos praticar
com a eleva����o necess��ria, repetimos comportamentos
ou avan��amos sempre tendo em vista a conquista
interior de valores que jazem adormecidos. Vitimados
pela pregui��a mental, em grande n��mero n��o
conseguimos avan��ar quanto seria desej��vel, e, por
isso, formamos grupos de repetidores de li����es que
permanecem inaproveitadas. O ego��smo, esse algoz
implac��vel de cada um de n��s, tem sido o advers��rio
declarado do nosso processo de desenvolvimento
espiritual. Face �� sua domina����o, resvalamos para o
orgulho, a presun����o, logo despertamos para a raz��o,
atribuindo-nos valores que estamos longe de possuir.
Por conseq����ncia, tornamo-nos hipersens��veis em re



62
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

la����o �� conduta pessoal, disputando cr��ditos que n��o
possu��mos em detrimento das demais criaturas nossas
irm��s.

"Esse comportamento mals��o tem-nos gerado antipatias
que poderiam ser evitadas, atritos que n��o
se encontravam programados, preconceitos que somente
nos t��m retido na retaguarda. Incapazes de
discernir o que podemos fazer em rela����o ao que devemos,
atribu��mo-nos recursos de que n��o dispomos;
ao inv��s de nos esfor��armos por viver a l��dima fraternidade,
nos separamos em grupos que se hostilizam
reciprocamente, semeando disc��rdias e divisionismos
ingratos, que se nos transformam em algemas
de sombra e de dor.

"Mesmo quando convidados por Jesus para uma
saud��vel mudan��a de conduta, as vaidades intelectuais
hauridas nas Academias ou fora delas nos assaltam,
conduzindo-nos �� soberba e fazendo-nos desdenhar
o Mestre que n��o freq��entou Escolas especializadas,
por considerarem-nO mito ou arqu��tipo embutido
em nosso inconsciente. Em decorr��ncia dessa
perturbadora atitude, derrapamos em lament��veis
situa����es de ang��stia e de desajuste, que nos t��m
mantido distantes do conhecimento profundo do Esp��rito,
somente ele capaz de nos libertar totalmente
da ditadura do ego. �� essa postura doentia, gerada
pela vaidade e sustentada pelas ilus��es do corpo, que
nos tem desviado do roteiro que deveremos seguir, a
fim de conquistarmos por definitivo a plenitude na
vida eterna.

"Soa, no entanto, o momento pr��prio para a nossa
defini����o espiritual frente aos desafios que nos
chegam e aos apelos que nos s��o dirigidos de toda


63

Tormentos da obsess��o

parte, seja dos cora����es aflitos no corpo f��sico ou daqueloutros
que se perderam nos d��dalos das paix��es
primitivas de que ainda n��o se conseguiram libertar.
N��o ��, desse modo, por acaso, que aqui nos reunimos
mais uma vez sob as b��n����os do s��bio Psicoterapeuta,
que �� Jesus."

Houve uma breve pausa, para facultar-nos acompanhar
com aten����o os enunciados oportunos.

Suave brisa perpassava pelo amplo anfiteatro.
Todos nos mant��nhamos serenos e atentos, sintonizados
com o pensamento do expositor, que logo prosseguiu:


- A grandeza da vida se expressa atrav��s de inumer��veis
maneiras, porquanto, envolvido pelo corpo
f��sico ou sem ele, estua rico de vida o ser espiritual.
Enquanto mergulhado no denso v��u da carne, entorpece-
lhe parte do discernimento e a vis��o global se
lhe torna limitada. No entanto, ao despir-se do envolt��rio
material, �� recuperada a plenitude das fun����es,
podendo avaliar o resultado das experi��ncias vividas,
das constru����es edificadas e dos planos anteriormente
tra��ados, se foram executados conforme sua elabora����o
ou se houve malogro entre a inten����o e a
a����o. Sempre, por��m, luz a divina miseric��rdia amparando,
inspirando, conduzindo, ensejando o crescimento
infinito do Esp��rito. No entanto, face �� rebeldia
que se demora na conduta de expressiva maioria,
eis que adia a felicidade, equivocando-se, para
depois reparar, comprometendo-se, para mais tarde
recuperar-se, adquirindo resist��ncias, para vencer o
mal que nele permanece, avan��ando sempre e sem
cessar. Mesmo nas aparentes exist��ncias malsucedidas,
adquire valores que ir��o contribuir para a sua

64

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

plena realiza����o, porquanto nada permanece in��til
nesse processo ascensional. A aprendizagem, por
isso mesmo, �� conseguida atrav��s do erro e do acerto,
da percep����o do fato e de como realiz��-lo, bem
como da ilumina����o, que s��o verdadeiras metodologias
para aprimorar cada aluno na Escola da vida.

"�� mediante esse agir e arrepender-se, quando
equivocado, que surgem as vincula����es dolorosas,
exigindo repara����es igualmente aflitivas. Isso, porque,
raramente, o erro �� individual. Quase sempre
acontece envolvendo outras pessoas com as quais
se convive ou junto a quem se estabelecem programas
de afetividade, de interesses comuns, de lutas
necess��rias. E toda vez que algu��m defrauda a confian��a,
ou burla o respeito e a dignidade de outrem,
estabelecem-se v��nculos perturbadores entre o agente
e a sua v��tima que, destitu��da de eleva����o moral,
ao inv��s de esquecer e perdoar, atormenta-se nos cipoais
da vingan��a, desejando cobrar os males de que
se cr�� objeto. N��o estando preparados para entender
que o mecanismo do progresso exige disciplina e testemunho,
os temperamentos arbitr��rios rebelam-se
e se prop��em fazer justi��a com as pr��prias m��os, em
atentado grave contra a ordem estabelecida e a pr��pria
Vida. Ningu��m, por��m, pode ser juiz honesto em
causa pr��pria, por impossibilidade de harmonizar ou
de eliminar as emo����es que ditam comportamentos
quase sempre ego��sticos e perturbadores. Assim, as
malhas da rede obsessiva se v��o estabelecendo, vinculando
negativamente uns indiv��duos aos outros,
aqueles que se agridem e se desconsideram.

"Por conseq����ncia, a obsess��o �� pandemia que
permanece quase ignorada embora a sua virul��ncia,


65

Tormentos da obsess��o

para a qual, na sua terr��vel irrup����o, ainda n��o cogitaram
os homens de providenciar vacinas preventivas
ou terapias curadoras. T��o antiga e remota quanto
a pr��pria exist��ncia terrestre - por decorr��ncia das
afinidades perturbadoras entre os homens - todos os
Guias religiosos se lhe referiram com variedade de
designa����es, sempre utilizando-se dos mesmos m��todos
para a sua erradica����o, tais: o amor, a piedade,
a paci��ncia e a caridade para com os envolvidos na
terr��vel trama. Passados os per��odos em que viveram,
e os seus disc��pulos, quase de imediato, olvidaram-
se de levar adiante pela pr��tica, essas espec��ficas li����es
que receberam. Face �� tend��ncia para o envolvimento
emocional com o mitol��gico, n��o poucas vezes
t��m confundido a revela����o do fen��meno medi��nico
com id��ias de arqu��tipos que jazem semi-adormecidos
no inconsciente, e que passam a ocupar as
paisagens mentais, sem os correspondentes crit��rios
de compreens��o, para investir esfor��os na sua
equa����o, desse modo transfe��ndo-os para a galeria
do fant��stico e do sobrenatural."

Desejando que o audit��rio absorvesse as reflex��es
psicol��gicas e hist��ricas da sua proposta, silenciou
por breves segundos, dando prosseguimento:

- Gra��as �� valiosa contribui����o cient��fica do Espiritismo
no laborat��rio da mediunidade, constatando
a sobreviv��ncia do ser e o seu interc��mbio com as
criaturas terrestres, a obsess��o saiu do pante��o m��tico
para fazer parte do dia-a-dia de todos aqueles que
pensam. Enfermidade de origem moral, exige terap��utica
espec��fica radicada na transforma����o espiritual
para melhor, de todos aqueles que lhe experimentam
a incid��ncia. Ocorre, no entanto, como �� f��

66
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

cil de prever-se, que essa psicopatologia, qual sucede
com outras tantas, sempre apresenta, no paciente
que a sofre, graves oposi����es para o seu tratamento.
Quando, ainda l��cido, o mesmo se recusa receber a
conveniente orienta����o, e, �� medida que se lhe faz
mais tenaz, as resist��ncias interiores se expressam
mais vigorosas. De um lado, em raz��o da vaidade pessoal,
para n��o parecer portador de loucura, particularmente
porque assim se sente, e, por outro motivo,
quando sob os camartelos das obsess��es, porque o
agente do dist��rbio cria dificuldades no enfermo,
transmitindo-lhe rea����es violentas, para ser evitado
o tratamento especial. Em todos os casos, por��m, o
tempo exerce o papel elevado de convencer a v��tima
da parasitose espiritual, atrav��s do padecimento ultriz,
quanto �� necessidade de submeter-se aos cuidados
libertadores.

"Iniciando-se de forma sutil e perversa, a obsess��o,
salvados os casos de agress��o violenta, instala-
se nos pain��is mentais atrav��s dos delicados tecidos
energ��ticos do perisp��rito at�� alcan��ar as estruturas
neurais, perturbando as sinapses e a harmonia do
conjunto encef��lico. Ato cont��nuo, o quimismo neuronial
se desarmoniza, face �� produ����o desequilibrada
de enzimas que ir��o sobrecarregar o sistema nervoso
central, dando lugar aos dist��rbios da raz��o e
do sentimento. Noutras vezes, a incid��ncia da energia
mental do obsessor sobre o paciente invigilante
ir�� alcan��ar, mediante o sistema nervoso central, alguns
��rg��os f��sicos que sofrer��o desajustes e perturba����es,
registando distonias correspondentes e comportamentos
alterados. Quando se trata de Esp��ritos
inexperientes, perseguidores desestruturados, a a����o


67

Tormentos da obsess��o

magn��tica se d�� automaticamente, em raz��o da afinidade
existente entre o encarnado e o desencarnado,
gerando descompensa����es mentais e emocionais.
Todavia, �� medida que o Esp��rito se adestra no comando
da mente da sua v��tima, percebe que existem
m��todos muito mais eficazes para uma a����o profunda,
passando, ent��o, a execut��-la cuidadosamente.
Ainda, nesse caso, aprende com outros compares mais
perversos e treinados no mecanismo obsessivo, as
melhores t��cnicas de afli����o, agindo conscientemente
nas ��reas perispirituais do desafeto, nas quais implanta
delicadas c��lulas acionadas por controle remoto,
que passam a funcionar como focos destruidores
da arquitetura ps��quica, irradiando e ampliando o
campo vibrat��rio nefasto, que atingir�� outras regi��es
do enc��falo, prolongando-se pela rede linf��tica a todo
o organismo, que passa a sofrer danos nas ��reas afetadas.


"Estabelecidas as fixa����es mentais, o h��spede desencarnado
lentamente assume o comando das fun����es
ps��quicas do seu hospedeiro, passando a manipul��-
lo a bel-prazer. Isso, por��m, ocorre, em raz��o da
aceita����o parasit��ria que experimenta o enfermo, que
poderia mudar de comportamento para melhor, dessa
forma conseguindo anular ou destruir as indu����es
negativas de que se torna v��tima. No entanto, afei��oado
�� acomoda����o mental, aos h��bitos irregulares,
compraz-se no desequil��brio, perdendo o comando e
a dire����o de si mesmo. Enquanto se vai estabelecendo
o contato entre o assaltante desencarnado e o assaltado,
n��o faltam a este ��ltimo inspira����o para o
bem, indu����o para mudan��a de conduta moral, inspira����o
para a felicidade. Vitimado, em si mesmo, pela


68

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco
autocompaix��o ou pela rebeldia sistem��tica, desconsidera
as orienta����es enobrecedoras que lhe s��o direcionadas,
acolhendo as insinua����es doentias e perversas
que consegue captar.

"Muita falta faz a palavra de Jesus no cora����o e
na mente das criaturas humanas em ambos os lados
da vida. Extraordin��ria fonte de sabedoria, as Suas
li����es constituem mananciais de sa��de e de paz que
plenificam, assim que sejam vivenciadas, imunizando
o ser contra as terr��veis perturba����es de qualquer
ordem. Mas o mundo ainda n��o compreende conscientemente
o significado do Mestre na sua condi����o
de Modelo e Guia da humanidade, o que �� lament��vel,
sofrendo, as conseq����ncias dessa indiferen��a
sistem��tica."

Novamente o orador fez oportuna pausa na sua
alocu����o.

Enquanto isso ocorria, o meu c��rebro esfervilhava
de interroga����es em torno do tema palpitante. N��o
havia, por��m, tempo para desvincular-me do racioc��nio
fixado nas suas palavras.

Dando continuidade, Dr. Ign��cio Ferreira aduziu:

- Como a inspira����o espiritual se faz em todos os
fen��menos da Natureza, inclusive nas atividades humanas,
�� compreens��vel que, al��m das tormentosas
obsess��es muito bem catalogadas por Allan Kardec
- simples, por fascina����o e subjuga����o - os objetivos
mantidos pelos perseguidores sejam muito variados.
Eis porque as suas maldades abarcam alguns dos crimes
hediondos, tais como: autoc��dios, homic��dios,
guerras e outras calamidades, face �� interven����o que
realizam no comportamento de todos aqueles que se
afinizam com os seus planos nefastos. Agindo medi

69

Tormentos da obsess��o

ante h��beis programa����es adrede elaboradas, v��o
conquistando as resist��ncias do seu dependente
mental, de forma que, quase sempre, porque n��o haja
uma rea����o clara e definitiva por parte da sua v��tima,
alcan��am os objetivos morbosos a que se entregam
enlouquecidos.

"Quando das suas graves interven����es no psiquismo
dos seus hospedeiros, suas energias delet��rias
provocam taxas mais elevadas de serotonina e
noradrenalina, produzidas pelos neur��nios, que contribuem
para o surgimento do transtorno psic��ticoman��aco-
depressivo, respons��vel pela diminui����o do
humor e desvitaliza����o do paciente, que fica ainda
mais �� merc�� do agressor. �� nessa fase que se d�� a
indu����o ao suic��dio, atrav��s de hipnose cont��nua,
transformando-se em verdadeiro assass��nio, sem que

o enfermo se d�� conta da situa����o perigosa em que
se encontra. Sentindo-se vazio de objetivos existenciais,
a morte se lhe apresenta como solu����o para o
mal-estar que experimenta, n��o percebendo a capta����o
cruel da id��ia autocida que se lhe fixa na mente.
N��o poucas vezes, quando incorre no crime infame
da destrui����o do pr��prio corpo, foi vitimado pela for��a
da poderosa mentaliza����o do advers��rio desencarnado.
Certamente, h��, para o desditoso, atenuantes,
em raz��o do processo mals��o em que se deixou
encarcerar, n��o obstante as divinas inspira����es que
n��o cessam de ser direcionadas para as criaturas e
as advert��ncias que chegam de todo lado, para o respeito
pela vida e sua conseq��ente dignifica����o.
"O mesmo fen��meno ocorre quando se trata de
determinados homic��dios, que s��o planejados no
mundo espiritual, nos quais os algozes se utilizam


70
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

de enfermos por obsess��o, armando-lhes as m��os
para a consump����o dos nefastos crimes. Realizam o
trabalho a longo prazo, interferindo na conduta mental
e moral do obsesso, a ponto de interromperem-lhe
os fluxos do racioc��nio e da l��gica, aturdindo-os e dominando-
os. T��o perversos se apresentam alguns
desses perseguidores infelizes qu��o desnaturados,
que se utilizam da incapacidade de rea����o dos pacientes
para os incorporar, podendo saciar sua sede de
vingan��a contra aqueles que lhes est��o ao alcance.
Utilizando-se do recurso da invisibilidade material,
covardemente descarregam a adaga do ��dio nas v��timas
inermes, tombando, mais tarde, na pr��pria armadilha,
porquanto n��o fugir��o da justi��a divina instalada
na pr��pria consci��ncia e vibrando nas Leis
c��smicas, que sempre alcan��am a todos.

"De maneira id��ntica, desencadeiam guerras
entre grupos, povos e na����es, cujos dirigentes se encontram
em sintonia com as suas terr��veis programa����es,
formando verdadeiras legi��es que se engalfinham
em lutas encarni��adas visando alcan��ar os objetivos
infelizes a que se prop��em. Passam desconhecidas
essas causas, que os soci��logos, os pol��ticos,
os psic��logos, os religiosos n��o conseguem detectar,
mas que est��o vivas e atuantes nas paisagens terrestres,
e a reencarna����o se encarregar�� de corrigir
sob a sublime dire����o de Jesus."

Quedou-se o orador em r��pida reflex��o, enquanto
nos d��vamos conta da gravidade das obsess��es
geradoras de tumultos e desgra��as coletivas, atrav��s
daqueles que se lhes tornavam instrumentos d��ceis
ao comando, na condi����o de inimigos da Humanidade.
O tema apresentava-se muito mais profundo e


7 1

Tormentos da obsess��o

grave do que pod��amos imaginar, embora n��o ignor��ssemos,
por dedu����o, que assim ocorria.
N��o havia tempo para mais amplas pondera����es,
porque o preclaro orador continuou com a palavra:

- Na raiz de inumer��veis males que afetam a coletividade
humana, encontramos o interc��mbio espiritual
manifestando-se com seguran��a. As obsess��es
campeiam desordenadamente. Isto n��o implica em
dar margem ao pensamento de que as criaturas terrestres
se encontram �� merc�� das for��as desagregadoras
da erraticidade inferior. Em toda parte est�� presente
a miseric��rdia de Deus convidando ao bem, ao
amor, �� alegria de viver. A op����o inditosa, no entanto,
de grande n��mero de criaturas �� diversa dessa
oferta, o que facilita a assimila����o das id��ias tenebrosas
que lhe s��o dirigidas. Assim mesmo, ante a
prefer��ncia das terr��veis alucina����es, o amor paira soberano
aguardando, e quando n��o �� captado, a dor
traz de volta o calceta, encaminhando-o para o reto
proceder mediante o oportuno despertar.
"Todos esses criminosos espirituais, terminadas
as batalhas em que se empenham, passam a experimentar
incomum frustra����o por haverem perdido as
metas que desapareceram e por darem-se conta dos
tormentos ��ntimos em que naufragam, descobrindo-
se sem objetivo nem raz��o de continuar a viver... E
como n��o podem fugir da vida em que se encontram,
s��o atra��dos compulsoriamente ��s reencarna����es
dolorosas, experimentando os efeitos das hecatombes
que ajudaram a ter lugar. Mergulham, ent��o, na
grande noite terrestre do abandono, da loucura, das
anomalias, emparedados em enfermidades reparadoras,
experimentando rudes expia����es, que lhes ser��o


72
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

a aben��oada oportunidade para reencontrar o caminho
do futuro...

"O Mestre Jesus foi enf��tico, ao enunciar: - Vinde
a mim todos v��s que estais cansados e eu vos aliviarei,
complementando com seguran��a: - Em verdade
vos digo que ningu��m sair�� dali (do abismo) enquanto
n��o pagar at�� o ��ltimo ceitil. Ele alivia todos aqueles
que O buscam sob o pesado fardo das afli����es,
entretanto, �� necess��rio que a d��vida moral contra��da
contra a Vida seja resgatada at�� o ��ltimo centavo,
quando ent��o, o devedor se sentir�� equilibrado para
conviver com aquele que lhe padeceu a impiedade,
sendo perdoado e reconciliando-se com a pr��pria
consci��ncia e o seu pr��ximo. Somente, portanto, atrav��s
do perd��o e da reconcilia����o, da repara����o e da
edifica����o do bem incessante, �� que o flagelo das obsess��es
desaparecer�� da Terra de hoje e de amanh��,
pelo que todos nos devemos empenhar desde este
momento."

Demonstrando emo����o bem controlada, concluiu:

-O amor �� o bem eterno que sobrepaira em todas
as situa����es, mesmo nas mais calamitosas, apontando
rumos e abrindo espa��os para a realiza����o da
felicidade total. Viv��-lo em clima de abund��ncia, �� o
dever a que nos devemos propor, inundando-nos com
a sua sublime energia que dimana de Deus.
"Que esse amor, procedente de nosso Pai, nos
permeie todos os pensamentos, palavras e a����es, s��o
os votos que formulamos ao terminarmos a r��pida
an��lise em torno desse tema palpitante."

Logo foi conclu��da, com simplicidade e profundeza
a exposi����o, o vener��vel Eur��pedes assomou ��
tribuna e dirigiu palavras estimuladoras aos presen



73

Tormentos da obsess��o

tes, encerrando a reuni��o com sentida prece, que a
todos nos reconfortou.

Porque diversos ouvintes se houvessem acercado
do Dr. Ign��cio Ferreira, fizemos o mesmo, endere��ando-
lhe algumas r��pidas quest��es, que foram respondidas
com bonomia e gentileza. Interessado em
aprofundar estudos em torno do tema exposto e outros
que haviam conduzido pacientes desencarnados
�� interna����o no Nosoc��mio espiritual, indaguei ao
gentil diretor se me permitiria realizar um est��gio
naquele reduto de amor e de recupera����o mental e
emocional, a fim de ampliar estudos e conhecimentos
que me facultassem maior crescimento ��ntimo.

Como se aguardasse a solicita����o apresentada,

o dedicado m��dico, com suave express��o de j��bilo
no rosto, aquiesceu de imediato, oferecendo-se, inclusive,
para acompanhar-me, quanto lhe permitissem
os deveres, e quando impossibilitado, me proporcionaria
a ajuda de competente psiquiatra que ali
colaborava com devotamento e abnega����o.
Sem titubear, aceitamos a gentileza e despedi-
mo-nos, logo alguns dos amigos se preparavam para
sair, rumando com eles aos deveres a que nos vinculamos.


A noite, salpicada de estrelas e banhada de luar,
era um convite a reflex��es profundas sobre o amor de
nosso Pai, sempre misericordioso e s��bio.

Banhado por essa quase m��gica claridade dos
astros, pude ver o planeta terrestre querido, de onde
procedia, envolto em sombras no seu giro colossal
em torno do Astro-Rei, e n��o sopitei o sentimento de
gratid��o e de saudade das suas paisagens inesquecidas.



CONTATO PRECIOSO

No dia seguinte, ainda vibrando de emo����o pelas
li����es recebidas na v��spera, dirigi-me ao Sanat��rio
Esperan��a, estuante de alegria, por considerar
excepcional a oportunidade de aprendizagem naquele
reduto de b��n����os que o amor havia erguido para
auxiliar os combalidos e fracassados nas lutas espirituais
da Terra.

Conhecia, atrav��s de refer��ncias, desde h�� muito,
aquele Nosoc��mio, de que ouvia falar em conversa����es
habituais com diversos amigos. Todavia, por
reconhecer a precariedade dos meus conhecimentos
em torno das doutrinas ps��quicas e das conquistas
realizadas por especialistas dessa ��rea, nunca me
atrevera a solicitar oportunidade para conhecer mais
de perto as enobrecedoras realiza����es que ali tinham
lugar.

Embora soubesse superficialmente da finalidade
a que se destinava, ignorava os m��todos e as terap��uticas
utilizadas no tratamento dos pacientes
espirituais. Eram, portanto, compreens��veis, a eufo



75

Tormentos da obsess��o

na e expectativa que me assaltavam.

O dia estava espl��ndido, banhado de suave luz e
agrad��vel temperatura, quando, vencendo alguma
distancia e atravessando os jardins bem cuidados,
enriquecidos de flores e arbustos formosos, dei entrada
no agrad��vel hall, dirigindo-me �� recep����o.

Solicitando o encontro com Dr. Ign��cio, fui informado
que ele me esperava no seu gabinete, que me
foi gentilmente indicado. Um volunt��rio, que ali se
encontrava, ofereceu-se para conduzir-me �� sala, elu-
cidando-me que estava em est��gio, na fase do atendimento,
a fim de preparar-se para iniciar estudos
especiais sobre a problem��tica do comportamento
humano, quando se encontrasse habilitado.

Muito simp��tico, logo informou-me que houvera
desencarnado, fazia vinte anos, havendo sido atendido
naquele Nosoc��mio, onde despertara em lament��vel
estado de perturba����o espiritual, de que se foi
libertando, gra��as ao amparo e empenho dos m��dicos
e enfermeiros que o atenderam, at�� que p��de ensaiar
os primeiros passos pelo ambiente, dando-se
conta da realidade da vida e procurando adaptar-se
ao novo habitat, embora as saudades dilaceradoras
que conservava em rela����o �� fam��lia e aos seres amigos,
bem como ��s tarefas interrompidas que ficaram
no domic��lio carnal.

Escutava-o, atento, como se estivesse recordando-
me dos primeiros tempos, quando chegara ��quela
Comunidade, recambiado pela morte �� P��tria de
origem.

Gentil e jovial, elucidou-me que houvera sido v��tima
de si mesmo, porquanto, portador de mediunidade
psicof��nica, tivera ensejo de travar contato com


76

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

a Doutrina codificada por Allan Kardec, por��m, por
neglig��ncia e perturba����o, nunca se interessara em
aprofundar estudos e educar o comportamento que,
embora n��o fosse vulgar, igualmente n��o se fazia portador
de t��tulos de enobrecimento.

Consorciando-se com uma jovem que acreditava
ser-lhe alma g��mea, sentiu-se amparado emocionalmente,
de maneira a manter o equil��brio sexual, que
lhe constitu��a motivo de desarmonia antes do matrim��nio,
dificultando-lhe preservar-se fiel ao compromisso
medi��nico, que abra��ava desde os dezessete
anos, quando rec��m-sa��do de um tormento obsessivo
simples...

Nesse ��nterim, chegamos �� ante-sala do diretor
daquela ��rea, espec��fica para os obsidiados desencarnados,
fazendo-nos anunciar, e aguardando o convite
para sermos recebidos. Como o infatig��vel dirigente
se encontrasse em reuni��o, acomodamo-nos,
e o novo amigo prosseguiu:

- Ap��s haver passado por diferentes terapias de
adapta����o, estou agora sendo utilizado na recep����o
para acompanhamento de visitantes, preparando-me
para futuros cometimentos.
Sinceramente sensibilizado pela sua gentileza,
apresentei-me com breves considera����es, e continuamos
a agrad��vel conversa����o.

- Chamo-me Alm��rio - informou-me com um sorriso
af��vel -e fui uma v��tima a mais da pr��pria leviandade,
no trato com os tesouros da vida espiritual,
raz��o porque fui recolhido a este Hospital.
"Recordo-me que, desde crian��a, vez por outra,
era acometido de clarividencias, detectando seres
infantis, que se me acercavam em festa, convivendo


77

Tormentos da obsess��o

com os mesmos por alguns minutos. Outras vezes,
defrontava monstros pavorosos que me amea��avam,
levando-me ao desespero e a desmaios, dos quais
acordava banhado por ��lgido suor. O carinho vigilante
de minha m��e sempre me socorria, defendendo-
me desses fantasmas terrificantes. Por algum breve
per��odo tive a impress��o de que amainara a ocorr��ncia,
para, a partir dos catorze anos, dist��rbios nervosos
tomarem-me com certa periodicidade, fazendo-
me tremer e quase convulsionar. Fui levado ao m��dico
que, ap��s exames superficiais, atribuiu tratar-se
de epilepsia, havendo-me receitado medicamentos
que mais me atordoavam, e que, de alguma forma,
diminu��am aquele desagrad��vel tormento. Tomando
conhecimento do que sucedia comigo, uma vizinha
nossa sugeriu aos meus pais que me encaminhassem
a um Centro Esp��rita, por acreditar que se tratava
de um dist��rbio no campo medi��nico, portanto,
de uma obsess��o que estivesse em processo de instala����o.
Embora meus genitores estivessem vinculados
�� religi��o cat��lica, n��o titubearam, conduzindo-
me ao N��cleo que fora indicado, por ser aquele da
freq����ncia da generosa amiga."

Alm��rio fez uma pausa, como se estivesse recapitulando
p��ginas importantes do livro da sua exist��ncia
mais recente, ap��s o que, tranq��ilamente continuou:


- A primeira visita foi inesquec��vel, porque, atendido
carinhosamente pela diretora da Casa, enquanto
convers��vamos fui acometido da crise, facilitando-
lhe o diagn��stico espiritual. Conhecedora dos tormentos
da obsess��o, D. Clarice usou de palavras bondosas
para com o perturbador, enquanto me aplicava

78
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

a bio-energia atrav��s de passes vigorosos em clima
de ora����o. De imediato, retornei ao estado de paz, de
modo que a entrevista foi encerrada, ap��s ser-me oferecida
a terapia para o equil��brio da sa��de, que consistia
em fazer parte de um grupo juvenil de estudos
esp��ritas, a fim de que me pudesse iniciar no conhecimento
da Doutrina, ap��s o que, e somente ent��o,
me seria permitido participar das atividades medi��nicas.


"Na minha condi����o juvenil, felizmente, n��o tivera
tempo para derrapar nas vicia����es que est��o ao
alcance da mocidade. N��o obstante, cometera os equ��vocos
pertinentes �� condi����o de jovem, por fazerem
parte do card��pio comportamental destes tumultuados
dias da Humanidade.

"A mediunidade, em raz��o da freq����ncia �� Institui����o
Esp��rita, talvez, pelo clima ps��quico ali existente,
irrompeu com melhor defini����o, assegurando-
me tratar-se de um compromisso s��rio, que deveria
abra��ar, mas, para o qual seria necess��rio abandonar
a mesa farta dos prazeres, que se encontrava diante
de mim, convidativa, e que eu n��o estava disposto a
faz��-lo. Preparava-me para o vestibular, numa tentativa
de conseguir uma vaga na Faculdade de Farm��cia,
quando fui acometido por uma crise mais forte,
que me deixou prostrado, acamado, exigindo a presen��a
da devotada diretora da Casa Esp��rita, que me
socorreu com fluidoterapia e palavras de muito encorajamento,
recomendando-me a leitura saud��vel de
O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,
para robustecer-me moralmente, ajudando-me a superar
a agress��o espiritual.

"A Entidade, que insistia em me afligir, estava



79

Tormentos da obsess��o

me vinculada por fortes la��os do passado pr��ximo,
quando fora molestada pela minha irresponsabilidade
e n��o se encontrava interessada em liberar-me com
facilidade da sua sujei����o. Tornava-se indispens��vel
que, mediante a minha reforma ��ntima demonstrasse-
lhe a mudan��a que se operara dentro de mim, e
do esfor��o empreendido para reparar os males que
lhe houvera feito. Esse programa de ilumina����o interior
iria exigir-me um grande tributo, porque anelava
por viver como as demais pessoas, amealhar um bom
pec��lio para, mais tarde, construir fam��lia e desfrutar
dos favores da vida. O meu passado espiritual, por��m,
era muito severo, e fui constrangido a trabalhar-
me para algumas adapta����es �� circunst��ncia que
ent��o se apresentava...

"Eis, pois, como me iniciei no Espiritismo, atrav��s
das b��n����os do sofrimento, que n��o soube aproveitar
o quanto deveria."

O novo amigo silenciou discretamente. Passados
alguns segundos de reflex��o, parecendo aturdido,
referiu-se:

- Rogo-lhe desculpas por haver-me disparado
neste relato autobiogr��fico, sem dar-lhe oportunidade
de uma conversa����o mais simp��tica, egoisticamente
pensando no meu pr��prio caso. Como v��, estou
aprendendo a disciplinar-me, sem conseguir silenciar
os anseios do ego doentio, cumulando-o de
coment��rios desinteressantes...
Interrompi-o, com delicadeza, explicando-lhe que
sua narra����o me proporcionava imensa alegria, ademais
da sua amizade, simples e desinteressada, que
me havia recebido com amabilidade e confian��a.

- Constitui-me - disse-lhe, sinceramente - um

80
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

imenso prazer, iniciar os meus estudos neste Nosoc��mio,
aprendendo, desde o primeiro momento em
que aqui me apresento, li����es de inapreciado valor.
Sou-lhe, portanto, muito reconhecido, e agradeceria
que, enquanto esperamos o nosso dirigente, que continue
com a sua agrad��vel e proveitosa narra����o.

Estimulado, e desculpando-se, Alm��rio deu continuidade:


- Gra��as ao apoio de pessoas abnegadas na Casa
Esp��rita, dos meus pais e do meu Guia espiritual, consegui
adentrar-me na Faculdade e iniciar o curso que
desejava. Concomitantemente, continuei participando
das atividades da Juventude, por��m, quase indiferente
pelo estudo da Doutrina e a sua incorpora����o
interior na conduta di��ria. O ambiente tumultuado da
Faculdade, as minhas predisposi����es para comprometimentos
na ��rea sexual, facultaram-me compromissos
perturbadores e vincula����es com Entidades
enfermas que enxameiam nos antros de prostitui����o,
nos mot��is da moda, freq��entados por semelhantes
encarnados que ali d��o vaz��o aos seus instintos prim��rios
e tend��ncias pervertidas.
"J�� participava das atividades medi��nicas, ao
lado de pessoas enobrecidas e caridosas, sem que
os seus exemplos repercutissem nos meus sentimentos
exaltados pelo sexo em desvario e por falsa necessidade
que lhe atribu��a. Tornei-me, desse modo,
portador de psicofonia atormentada, que o carinho
dos dirigentes encarnados e espirituais tentaram a
todo esfor��o equilibrar, mas as minhas inclina����es
infelizes dificultavam esse saud��vel empreendimento.
Acredito que a generosa D. Clarice percebia o meu
conflito, por��m, honrada e discreta, esperava que o


8 I

Tormentos da obsess��o

meu discernimento e as orienta����es espirituais que
me chegavam em abund��ncia me despertassem para
a realidade, que n��o podia ser postergada.

"Foi nesse ��nterim que, orando fervorosamente,
supliquei aux��lio aos C��us, prometendo-me altera����o
de conduta e vincula����o mais segura com o compromisso
aceito espontaneamente... E a minha ora����o
foi ouvida, porquanto, nessa mesma semana, conheci
Annette, que seria mais tarde a carinhosa esposa
que me auxiliaria na educa����o das for��as gen��sicas.

"O amigo deve saber quanto �� importante a disciplina
sexual na viv��ncia medi��nica. Como as energias
procriativas e vitais n��o devem ser desperdi��adas,
mas canalizadas com propriedade e sabedoria.
O seu uso indevido, al��m de produzir conex��es viciosos
com Esp��ritos enfermos e vampirizadores, debilita
os centros de capta����o ps��quica, dificultando o
correto exerc��cio da faculdade. O casamento, portanto,
constituiu-me verdadeira d��diva de Deus, que me
impeliu a uma conduta melhor em interc��mbio enobrecido.


"As lutas prosseguiram com certa harmonia, at��
quando me diplomei e consorciei-me com a mulher
amada. O nosso relacionamento foi muito equilibrado
e, conhecedora dos meus compromissos, Annette
n��o teve qualquer dificuldade em acompanhar-me
aos estudos esp��ritas e participar das reuni��es doutrin��rias,
a princ��pio, e depois, das sess��es pr��ticas
e de socorro espiritual aos desencarnados."

Alm��rio empalideceu subitamente, e percebi-lhe
uma leve sudorese na teste.
Preocupado, interroguei-lhe se estava sentindo-
se mal, ao que respondeu:


82
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

- Encontro-me bem, muito obrigado! �� que me
acerco dos momentos graves da narrativa, e sinto-
me constrangido. Afinal, o amigo n��o me conhece, e
eu o bombardeio com uma narrativa t��o pessoal e ��ntima,
que certamente o surpreende e o desagrada.
Com certeza, �� descortesia de minha parte o que lhe
estou fazendo, quando deveria estar apresentando-
lhe alguns dos admir��veis programas de nosso Hospital-
santuario.
Toquei-lhe o ombro afavelmente, animando-o a
continuar, n��o porque estivesse picado pela curiosidade
doentia, mas porque senti que lhe fazia bem a
catarse, tanto quanto me era ��til para o aprendizado
que iria iniciar.

Narrei-lhe algumas das pr��prias experi��ncias, de
quando me encontrara no corpo f��sico, assim como
dos estudos que relatei em algumas das Obras psicografadas
que havia enviado aos queridos viajantes
terrestres, a fim de o tranq��ilizar, asseverando-
lhe mesmo, que houvera sido a Provid��ncia que o
destacara para acompanhar-me, ajudando-me a entender
os sublimes mecanismos da evolu����o, das lutas
de aprimoramento moral e das conquistas espirituais
de todos n��s. Por fim, expliquei-lhe que a demora
em ser atendido pelo nosso abnegado Dr. Ferreira
parecia proposital, ensejando-nos aprofundamento
da amizade rec��m-iniciada.

O novo amigo sorriu, um pouco desconcertado, e
anuiu, dando curso �� sua muito oportuna exposi����o.

- N��o obstante todo o empenho a que me entregava
- esclareceu, com sinceridade - para a renova����o
interior e o desempenho das tarefas em andamento,
um ano ap��s o casamento passei a experi

83

Tormentos da obsess��o

mentar inexplic��vel impot��ncia sexual, gerando-me
graves conflitos e dificuldades em torno do relacionamento
conjugal. Sentindo-me fracassado e sem
esperan��as, procurei ajuda m��dica, ap��s uma grande
relut��ncia, fruto da ignor��ncia e da conceitua����o
machista, e o especialista nada detectou na minha
constitui����o org��nica, que justificasse o problema, encaminhando-
me a um sex��logo que, inadvertidamente,
me recomendou extravagante terapia, perturbando-
me al��m do que j�� me encontrava transtornado.
Nesse per��odo, o exerc��cio medi��nico tornou-se-me
penoso e angustiante, por dificuldades de concentra����o
e de equil��brio emocional.

"Foi quando resolvi pedir socorro ao Mentor de
nossa Sociedade que, sol��cito, atrav��s da mediunidade
sonamb��lica de Eduardo, por quem se comunicava
desde h�� muito tempo, aconselhou-me a reconquistar
o equil��brio mediante a confian��a em Deus,
explicando-me tratar-se de uma disfun����o psicol��gica,
em cuja raiz estava a ���influ��ncia perversa da minha
advers��ria espiritual...

"Equipado com o esclarecimento oportuno, procurei
reanimar-me, elucidando a esposa em torno da
terapia em desdobramento, e pedindo-lhe a compreens��o,
que nunca me foi negada, j�� que sempre se
conduziu como digno exemplo de companheira ideal
e madura, embora contasse apenas vinte e quatro
anos de idade. A tentativa de renova����o interior, por��m,
n��o havendo proporcionado resultados imediatos,
diminuiu de intensidade, enquanto a vol��pia do
desejo incontrolado, me inquietava em ang��stia crescente.


"Nesse per��odo, em que a mente se encontrava


84
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

agitada, passei a vivenciar sonhos er��ticos, nos quais
a lasc��via me dominava, particularmente com uma
mulher que se me apresentava, ora linda e maravilhosa,
noutros momentos, desfigurada e perversa.
Muitas vezes arrastava-me a antros de pervers��o,
onde me sentia exaurir, despertando, socorrido pela
esposa que percebia minha agita����o e lamentos, e
sentindo-me t��o depauperado qu��o perdido em mim
mesmo. N��o experimentava a necess��ria coragem
para narrar-lhe o pandem��nio em que me debatia,
evitando que identificasse os meus tormentos
mentais...O drama prolongou-se por mais de seis
meses, quando algo inusitado ocorreu."

O amigo silenciou brevemente, concatenando as
id��ias, ap��s o que prosseguiu:

- Participando das reuni��es medi��nicas de socorro
aos desencarnados, fui instrumento de terr��vel
comunica����o, que acredito era necess��ria para o esclarecimento
da minha prova����o, certamente providenciada
pelos Benfeitores espirituais. Tratava-se de
Entidade feminina que se dizia minha v��tima, de
quem abusara, explorando-a sexualmente at�� arruin��-
la. Pior do que isso, informava que eu era casado
naquela ocasi��o, mas vivia clandestinamente com
jovens seduzidas em orgias e alucina����es. N��o fora
ela a primeira... No entanto, havia sofrido muito sob
os impositivos das minhas pervers��es. Duas vezes,
sucessivamente, concebera, e, sentindo-se feliz pelo
fato, esperava receber apoio, que lhe neguei, sem
qualquer compaix��o, levando-a ao abortamento insensato.
Na primeira ocasi��o do crime, ela p��de ceder
sem maior relut��ncia, por manter a ilus��o de que
eu possu��sse algum sentimento de afetividade e pra

85

Tormentos da obsess��o

zer em conviver ao seu lado, mesmo que fugazmente.
Todavia, na segunda concep����o, recusando-se
ceder �� minha insist��ncia, foi levada, quase �� for��a,
quando j�� se encontrava no quinto m��s de gravidez,
para o hediondo infantic��dio, que se transformou
numa trag��dia de alto porte. A inabilidade do m��dico,
na cl��nica s��rdida onde recebia as clientes infelizes,
ao extrair o feto, provocou uma hemorragia, n��o
conseguindo deter o fluxo sang����neo, e, embora transferida
de emerg��ncia para o Pronto Socorro da cidade,
menos de duas horas depois seguia pela morte o
destino da filhinha covardemente assassinada... Narrou,
ent��o, os sofrimentos indescrit��veis que experimentou,
e a sede de vingan��a que tomou conta da
sua mente... No entanto, perdeu-se num d��dalo de
afli����es sem nome. S�� mais tarde, quando eu me encontrava
na passada reencarna����o, no per��odo infantil,
�� que conseguiu, com a ajuda de alguns especialistas
em obsess��o, reencontrar-me, o que lhe houvera
proporcionado infinito prazer. Desde ent��o, continuou
explicando, me seguia, e pretendia levar a
cabo o plano de interromper-me a exist��ncia carnal,
auxiliada como se encontrava por outros Esp��ritos a
quem eu prejudicara, e que estavam igualmente dispostos
a conseguir o mesmo fanal.

"A l��cida doutrinadora tudo fez para explicar-lhe

o erro em que se movimentava, n��o havendo conseguido
resultados expressivos. Envolvendo-a, por fim,
ap��s diversas tentativas de esclarecimentos, em ternura
e vibra����es de paz, a atormentada inimiga retirou-
se do campo medi��nico em que se comunicava.
Mas n��o se desvinculou de mim, porquanto, onde se
encontra o devedor, a�� estagia o cobrador...Terminada

86
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

a reuni��o, fui elucidado quanto aos meus deveres
imediatos em favor da liberta����o, beneficiando o Esp��rito
infeliz, quanto a mim pr��prio. No entanto, os
v��cios do pret��rito tornaram-se-me grilh��es indestrut��veis,
que eu n��o conseguia romper. Mantendo a
mente aturdida pelos desejos que o corpo n��o atendia,
lentamente derrapei em perigosa depress��o, que
se tornou grave, gra��as ��s rea����es que me acometiam,
maltratando a fam��lia, os amigos, e deixando-me
sucumbir cada dia mais, ao ponto de recusar-me prosseguir
nas atividades espirituais e profissionais, mergulhando
no fosso profundo e escuro da subjuga����o,
que poderia ter sido evitada, caso me houvesse resolvido
pela luta."

Novamente interrompeu a hist��ria. Respirou,
quase penosamente, e vendo-o sofrido, propus-lhe
que deixasse para pr��ximo encontro a conclus��o do
seu drama, ao que ele redarguiu

- Apesar da ang��stia que me produz a lembran��a,
desta vez, face a espontaneidade com que brotam
da alma as evoca����es, experimento um certo
bem-estar, como se me conscientizasse em definitivo
dos graves erros, sem escamoteamento das pr��prias
responsabilidades, nem fugas injustific��veis do
enfrentamento, que s��o passos decisivos para o recome��o
em clima de renova����o leg��tima.
Sorriu, ligeiramente, e ante a minha anu��ncia com
um movimento simples da cabe��a, concluiu:

- Naquele transe, sob a indu����o cruel, que me
houvera conduzido ao transtorno psic��tico-man��acodepressivo,
em uma noite de alucina����o, porquanto
podia ver a mulher-verdugo de minha exist��ncia e os
seus asseclas, fui induzido a ingerir algumas dr��ge

87

Tormentos da obsess��o

as de son��fero, quase automaticamente, sem qualquer
reflex��o, a fim de apagar da mente aqueles terr��veis
pesadelos e libertar-me dos vergonhosos doestos que
me atiravam �� face, humilhando-me, escarnecendo-
me, e sempre mais me amea��ando. A medida que as
subst��ncias passaram a atuar no meu organismo, um
cruel torpor e enregelamento tomou-me todo, produzindo-
me a parada card��aca, e a desencarna����o...

"Muito dif��cil explicar os sofrimentos que ent��o
passei a experimentar. No princ��pio, era o pesadelo
do morrer-e-n��o-estar-morto, a vida sem vida, as sensa����es
da mat��ria em decomposi����o e a crua persegui����o
que n��o cessava. N��o saberia dizer por quanto
tempo estive sob as torpes e excruciantes vingan��as
daqueles irm��os mais desditosos. As preces da
esposa sofrida, dos meus genitores e dos amigos da
Institui����o religiosa, passaram, ent��o, a alcan��ar-me
como orvalho refrescante no t��rrido padecimento que
n��o diminu��a. Um dia, que ainda n��o posso identificar,
senti-me sair do antro para onde fora levado pelas
m��os perversas que me induziram ao suic��dio,
embora sem a minha concord��ncia, o que representava
um atenuante para a desdita, passando a dormir
sem a presen��a dos sic��rios, e a despertar, para
logo adormecer, at�� que a mem��ria e o discernimento
ressurgiram, auxiliando-me no processo de recupera����o.
E senti-me amparado neste verdadeiro santu��rio.
Gra��as a Deus e aos Bons Esp��ritos, aos cora����es
amigos e caridosos, aqui me encontro abra��ando
um novo trabalho com vistas ao futuro, que a Terra-
m��e me conceder��, pela n��mia miseric��rdia do C��u.

"Tenho orado em favor daqueles que sofreram a
minha pervers��o e loucura, propondo-me espiritual



88
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

mente socorr��-los, quando as circunst��ncias o permitirem.
Somente o perd��o com a reconcilia����o real,
edificando os sentimentos das v��timas com os algozes,
conseguir�� produzir a paz e a l��dima fraternidade."


Alm��rio agora, quando encerrara a narra����o,
apresentava-se corado, e sorria, exteriorizando real
alegria. Deixava-me a impress��o que houvera retirado
um peso da consci��ncia e, talvez, por primeira vez,
encarara-se sem constrangimento nem desculpas em
rela����o aos atos conturbadores praticados.

Agradeci-lhe a confian��a e a gentileza de oferecer-
me a sua hist��ria, que me proporcionaria muito
material para reflex��es, e pedi-lhe, ato cont��nuo, que
durante o meu est��gio naquele Nosocomio, quanto
lhe permitissem os deveres, que eu gostaria de contar
com a sua companhia fraterna para conversa����es,
troca de opini��es e mesmo sua ajuda, desde que ali
habitava, h�� muito tempo, o que me seria muito valioso.


Ele n��o se fez de rogado, e, num gesto muito
amigo, abra��ou-me, exteriorizando gratid��o e votos
de muito ��xito.

Encontr��vamo-nos abordando outros temas,
quando fui chamado nominalmente, para o encontro
com o Dr. Ign��cio, que se encontrava aguard��ndome.
Despedi-me do jovem companheiro e segui ao
gabinete onde teria a entrevista com o nobre psiquiatra.



INFORMA����ES PRECIOSAS

Com jovialidade irradiante o Dr. Ferreira recepcionou-
nos, exteriorizando os j��bilos que o invadiam,
face �� possibilidade de esclarecer-me em torno das
nobres atividades daquela Casa de Socorro.

Por minha vez, profundamente sensibilizado, n��o
tinha como expressar-lhe o reconhecimento que me
dominava, retribuindo-lhe com simplicidade a generosa
maneira de estimular-me ao progresso ��ntimo.

Convidando-me a sentar-me em confort��vel poltrona,
passou a explicar-me parte da complexidade
dos labores que tinham lugar naquele admir��vel Nosocomio
espiritual.

Esclareceu-me que era respons��vel somente por
um dos pavilh��es que albergava m��diuns e alguns
outros equivocados, enquanto diversos trabalhadores,
respectivamente se incumbiam de administrar
outros setores que acolhiam diferentes ordens de portadores
de aliena����es espirituais e que haviam fracassado
no projeto reencarnacionista.

A supervis��o geral era realizada por uma coliga



90
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

����o constitu��da pelos diretores dos diversos N��cleos
sob a presid��ncia do ap��stolo sacramentarlo, encarregado
das decis��es finais.

Outrossim, lidadores da psiquiatria, que ali trabalhavam
com terapias valiosas, ofereciam tamb��m
seu contributo, na condi����o de respons��veis pelas
cl��nicas, nas quais estagiavam.

A ordem, a disciplina e o respeito pelas atividades
pertinentes a cada ��rea constitu��am valioso recurso
para a harmonia geral e o cont��nuo aprimoramento
de t��cnicas terap��uticas como m��todos de
socorro que se multiplicavam conforme as necessidades
que ocorressem.

- Vige, em todos os momentos - exp��s com delicadeza
- o sentimento de amor, entre aqueles que ali
laboramos, constituindo o elo forte de vincula����o entre
n��s. As decis��es s��o tomadas sempre ap��s di��logos
construtivos e nunca vicejam o melindre, a censura
ou qualquer outra express��o perturbadora de
comportamento, qual sucede nas diversas Entidades
terrestres. O exemplo de engrandecimento moral e
de abnega����o, oferecido por Eur��pedes, sensibiliza e
d�� seguran��a, por haver-se transformado no servidor
de todos, ao inv��s de constranger os menos h��beis
com as suas valiosas conquistas.
Fazendo uma breve pausa, apresentou-me o programa
que me propunha para o per��odo do est��gio
solicitado.

- N��o ignoramos - acrescentou - que o amigo
Miranda vem-se aprofundando nas psicog��neses da
obsess��o e suas seq��elas, das enfermidades mentais
que as precedem ou que as sucedem, e, por isso
mesmo, quanto me seja poss��vel, acompanh��-lo-emos

91

Tormentos da obsess��o

nas visitas ��s enfermarias e apartamentos que hospedam
os irm��os em recupera����o moral e comportamental.


"Noutros momentos, o irm��o Alberto ser�� o seu
cicerone constante, autorizado a atend��-lo quanto
seja poss��vel e os nossos regulamentos permitam."

Chamando, nominalmente, pelo interfone sobre

a mesa o companheiro, deu entrada na sala um ho


mem de sessenta anos presum��veis, cordial e gentil,

que deveria ser o bondoso orientador de que eu ne


cessitava.

Apresentados amavelmente pelo incans��vel di


retor, disse-nos:

-O caro Alberto aqui se encontra em a����o, h��
mais de vinte anos, desde quando se despiu do corpo
f��sico e foi recolhido carinhosamente, de imediato
passando �� condi����o de cooperador infatig��vel.
"Havendo exercido a mediunidade socorrista por
quatro lustros em vener��vel Institui����o Esp��rita, atravessou
o portal do t��mulo portando t��tulos de merecimento,
que o credenciaram a tornar-se valioso auxiliar
no despertamento de consci��ncias em hiberna����o
ou nubladas pelos fluidos t��xicos remanescentes
das subjuga����es perversas de que foram v��timas.
Ele ter�� expressivas experi��ncias para repartir com o
nosso querido estagi��rio."

Antes que o novo amigo pudesse dizer algo, desculpando-
se ante as refer��ncias justas, prosseguiu:

-O caro Miranda �� estudioso das faculdades medi��nicas
e suas distonias, com expressiva folha de
servi��o ao interc��mbio saud��vel entre as criaturas
deambulantes no corpo f��sico e fora dele. Fui informado,
hoje mesmo, atrav��s do nosso servi��o de es

92

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

clarecimento, a respeito das atividades espirituais
que vem desenvolvendo do lado de c��, h�� mais de
cinq��enta anos... Portanto, identificados pelos mesmos
objetivos, tenho certeza que formar��o um par de
trabalhadores aben��oados, fi��is aos prop��sitos do
minist��rio de ilumina����o interior e da sa��de integral
a que se afei��oam.

Agradecendo, algo canhestramente, apertamo-
nos as m��os com sorriso fraternal, enquanto conclu��a:

- Nesta primeira fase, o nosso Alberto ir�� lev��-lo
a conhecer superficialmente o nosso pavilh��o.
Rogando-lhe permiss��o, expressamos reconhecimento
e sa��mos do seu gabinete, facultando-lhe dar
prosseguimento aos compromissos graves que lhe
diziam respeito, comprometendo-se reencontrar-nos
logo mais.

Quando nos encontramos no amplo corredor de
acesso aos v��rios setores, com cortesia Alberto chamou-
me a aten����o para a estrutura do edif��cio desenhado
com cuidados especiais.

- Utilizamo-nos durante o dia - come��ou a elucidar-
me - do m��ximo da luz natural do Sol, cuja intensidade
�� coada pelas l��minas especiais transparentes,
que constituem grande parte do teto, ao mesmo
tempo beneficiando a flora abundante que decora o
im��vel, enquanto emana energias revigorantes. Mantemos
todas as plantas vivas e evitamos colher as
flores, a fim de que sejam mais duradouras nas suas
hastes e se renovem com facilidade.
Olhei para a frente e percebi paralelamente destacados
os blocos das enfermarias que se deslocavam
da via central, intercalados por ��reas retangulares
externas que davam um aspecto agrad��vel, qual


93

Tormentos da obsess��o

se fosse uma cl��nica especial, sem as caracter��sticas
convencionais, frias e r��gidas dos hospitais terrestres.
A um observador menos cuidadoso, pareceria um Hotel
de grande porte, reservado para o repouso de convalescentes.


Notando a minha admira����o, o generoso amigo
aduziu:

- Realmente, essa foi a preocupa����o dos construtores
deste Nosoc��mio: retirar ao m��ximo qualquer
motivo que induza �� depress��o ou �� ang��stia, propondo
bem-estar e recupera����o. Igualmente, houve
o cuidado de organizar um ambiente saud��vel sem
os atavios que levam a devaneios e a reminisc��ncias
perturbadoras da caminhada terrestre... Nesta parte
superior, pois que nos encontramos no primeiro piso,
estagiam os pacientes melhorados, enquanto os mais
aflitos e desesperados permanecem no t��rreo e no
piso inferior, onde identificam paisagens menos belas,
face ao estado de estremunhamento e perturba����o
em que se demoram.
Realmente, eu n��o me houvera dado conta de que

o pavilh��o se erguia suavemente do solo, e que os
pisos se destacavam com ligeira inclina����o, diferindo
das edifica����es a que me encontrava acostumado.
Anotando as observa����es que detectava, agradeci
a Deus a incomum oportunidade que ora me era
concedida, e que deveria aproveitar ao m��ximo.

Informou-nos Alberto que, naquela unidade hospitalar,
estavam internados cem pacientes, aproximadamente
quarenta em boa fase de recupera����o, com
lucidez, e mais sessenta, que ainda experimentavam
os tormentos que os assaltaram na etapa final, que


94

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

lhes precedeu �� desencarna����o. Variavam os dramas
de consci��ncia, todos por��m, quase sempre vincula-
lados �� conduta, no exerc��cio da mediunidade.

Dando ��nfase �� informa����o, comentou:

-A mediunidade �� b��n����o, sob qualquer aspecto
considerada, porque faculta a constata����o da sobreviv��ncia
do Esp��rito �� disjun����o molecular, o que
�� fundamental para um comportamento compat��vel
com os fatores que geram felicidade. Logo ap��s, enseja
oportunidades valiosas para o exerc��cio da auto-
ilumina����o, pelas instru����es de que o m��dium se faz
porfador, adotando-as, de in��cio, para si mesmo, antes
que para os outros. Por fim, podendo exercer uma
forma de caridade especial, que �� a de auxiliar no esclarecimento
daqueles que se demoram na ignor��ncia
da sua realidade ap��s a desencarna����o, granjeando
amigos e irm��os excepcionais, que se lhe incorporam
�� afetividade. A mediunidade, portanto,
exercida com a l��gica haurida na Codifica����o Kardequiana,
constitui valioso patrim��nio para a eleva����o
e a paz. O m��dium, por isso mesmo, �� donat��rio transit��rio
de oportunidades ��mpares para a plenitude,
n��o se podendo permitir as leviandades de utilizar
esse nobre recurso de maneira comprometedora, vulgar,
insensata. Todo aquele que se facultar desvirtuar-
lhe a finalidade nobre, qual acontece com qualquer
faculdade f��sica ou moral, sofrer�� as inevit��veis conseq����ncias
de que n��o se libertar�� com facilidade.
No entanto, �� bem reduzido o n��mero daqueles servidores
que se desincumbem a contento desse minist��rio,
quando o abra��am.
Parecendo reflexionar com cuidado, logo prosseguiu:



95

Tormentos da obsess��o

- Seria de pensar-se que essa concess��o n��o deveria
ser delegada ��queles que moralmente s��o d��beis,
mas somente a quem possu��sse resist��ncias
contra o mal que nele mesmo reside. A quest��o, por��m,
n��o est�� bem colocada nesses termos. A Divindade
faculta a todos os seres humanos ensejos incomuns,
nas mais diversas ��reas, para propiciar-lhes o
progresso moral. Com a mediunidade n��o ocorre de
forma diferente. Embora nem todos os indiv��duos possuam
faculdades ostensivas, que se expressem em
forma sonamb��lica ou inconsciente, quanto gostariam
muitos, que justificam suas d��vidas por tomarem
parte nas comunica����es mais ou menos l��cidas na
��rea da consci��ncia, o fen��meno �� bem caracterizado,
oferecendo fatores para avalia����o equilibrada de
quem se empenhe em realiz��-lo. A medida que o seu
exerc��cio se faz equilibrado, sistem��tico, ordeiro, surgem
melhores possibilidades para o interc��mbio,
ampliando os recursos do medianeiro, que dever��
aprimorar-se mais, ante o est��mulo de que se v�� objeto.
"Todos sabemos, quando portadores de algum
senso e consci��ncia, que as faculdades gen��sicas t��m
finalidade espec��fica, proporcionando a procria����o, e,
para tanto, ensejando o prazer que leva ao ��xtase.
N��o obstante esse conhecimento, a utiliza����o do sexo
se transformou em um mercado de sensa����es, sem
qualquer sentido afetivo ou de interc��mbio emocional.


"No que diz respeito ao desempenho medi��nico,

o sexo equilibrado �� de vital import��ncia, por oferecer
energias espec��ficas para potencializar os mecanismos
delicados de que se utilizam os Esp��ritos. Si

96

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

multaneamente, a faculdade medi��nica, em raz��o
dessas energias que movimenta, irradia, qual ocorre
com outras faculdades art��sticas, culturais, cient��ficas,
um campo vibrat��rio que proporciona bem-estar
��queles que se lhe acercam, envolvendo-os em encantamento
e admira����o. O mesmo se d�� em rela����o
�� mediunidade, pelo fato de parecer algo m��gico ou
sobrenatural, muito do agrado dos sensacionalistas
e supersticiosos. Como efeito, n��o s��o poucas as pessoas
que se sentem atra��das pelos m��diuns, a princ��pio
sem se darem conta da ocorr��ncia fascinante, terminando
por envolver-se emocionalmente em afetividade
apaixonada, injustific��vel. Do mesmo modo,
os Esp��ritos ociosos e perversos, que sempre procuram
perturbar aqueles que se voltam para o bem, n��o
logrando agir diretamente sobre o instrumento medi��nico,
despertam sentimentos perturbadores que
vicejam nos invigilantes, que se deixam arrebatar,
comprometendo-se e prejudicando aquele que lhe
tombe na armadilha bem urdida... Ao mesmo tempo,
outros fatores que geram gan��ncia, heran��as infelizes
do ego em desgoverno, como o dinheiro f��cil, os
sonhos do triunfo e da gl��ria ef��meros, as vaidades
infantis, que lhes d��o a impress��o de serem indiv��duos
privilegiados, que se acreditam possuir somente
m��ritos e destaques, s��o terr��veis advers��rios do
bom desempenho da mediunidade."

Perscrutando o imenso corredor, pelo qual transitavam
m��dicos, enfermeiros, assistentes sociais,
psic��logos e alguns pacientes em recupera����o, o
amigo concluiu com alguma melancolia:

- A maioria dos que aqui se encontram em tratamento
foi v��tima de perturba����es na ��rea sexual, que

97

Tormentos da obsess��o

os fez derrapar em compromissos graves perante a
pr��pria e a Consci��ncia Divina. Certamente, outros
igualmente ca��ram nos referidos perigos �� mediunidade,
procurando, no ��ntimo, satisfa����es hedonistas,
sexuais...

Enquanto caminh��vamos, o bondoso cicerone referia-
se aos problemas que mereciam maiores considera����es,
chamando-me a aten����o para o estado dos
enfermos e explicando, ligeiramente, com o respeito
que cada qual merece, os esfor��os que agora desenvolviam
para se reabilitar dos enganos a que se atiraram.


Visitamos, passo a passo, a cl��nica de avalia����o,
para onde eram trazidos aqueles que se encontravam
melhorados, quando eram submetidos a testes psicol��gicos,
de modo a medir-lhes o grau de entorpecimento
mental e de vincula����o com os dramas vividos,
ap��s o que eram encaminhados ��s enfermarias
pr��prias.

Fomos travando conhecimento com diversos operosos
funcion��rios especializados, sempre corteses,
que trabalhavam com a face radiosa de alegria saud��vel,
sem os ru��dos costumeiros que s��o apresentados
como j��bilo.

Visitamos uma cl��nica para tratamento de choques
eletromagn��ticos, que se aplicavam em baixa
voltagem, com objetivo de produzir est��mulos nas sinapses
eletroqu��micas dos neur��nios, especialmente
naqueles que haviam sido portadores do transtorno
man��aco-depressivo ou obsessivo-compulsivo,
permanecendo com as suas seq��elas. Esse processo
facultava a libera����o das energias delet��rias que se
haviam fixado no perisp��rito e continuavam aturdin



98
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

do-os.

Acompanhamos um tratamento aplicado por jovem
psicoterapeuta feminina, que dialogava com uma
dama amargurada, que resistia em responder ��s perguntas
que lhe eram dirigidas. Sem qualquer enfado,
cansa��o ou irrita����o, a psic��loga narrou-lhe pequena
hist��ria, que lhe atraiu a aten����o.

Contou com simplicidade, que a exist��ncia terrena
pode ser comparada a algu��m que possui um
tesouro valioso e sai em busca de outro perfeitamente
dispens��vel, mas que acredita ser o ��nico que lhe
trar�� felicidade, tombando depois em frustra����o e desespero.


Para ilustrar, referiu-se a uma antiga lenda oriental,
na qual uma jovem senhora, caminhando com o
filhinho nos bra��os, passou por uma estranha gruta,
de onde uma voz agrad��vel e sedutora chamou-a, nominalmente,
convidando-a a entrar e apropriar-se dos
tesouros ali existentes, belos e raros, como os olhos
humanos nunca viram antes. Ficando aturdida, foi tomada
de curiosidade, pelo fato de ouvir a desconhecida
voz e pela proposta fascinante. Como novamente
escutasse o convite para se tornar muito rica, ouviu
com nitidez a voz lhe dizer que tudo poderia recolher
antes de sair, que passaria a pertencer-lhe, por��m,
no momento em que se afastasse da caverna,
uma pesada porta desceria e n��o mais se abriria. Tivesse
pois, cuidado, porquanto estava diante de incomum
felicidade, mas n��o poderia voltar ao local depois
que a porta fosse cerrada.

A felizarda olhou em volta, e como n��o visse ningu��m,
imaginou que nada teria a perder, se se adentrasse,
o que fez de imediato, ficando deslumbrada


99

Tormentos da obsess��o

ao contemplar j��ias de peregrina beleza, gemas preciosas,
colares reluzentes, vasos de ��bano e alabastro,
estatuetas de incompar��vel perfei����o cobertas de
l��pis-laz��li, esmeraldas, diamantes, rubis, p��rolas.

N��o retornara �� realidade, quando ouviu a voz
repetir:

- Retira o que quiseres para levar, mas, tem tento,
porque ap��s sa��res a porta descer��, fechando-se
para sempre, e o que ficar atr��s, nunca mais ser�� recuperado.
Tomada por imensa gan��ncia, come��ou a recolher
as pe��as que lhe pareciam mais valiosas, e porque
desejasse a maior quantidade, colocou o filhinho
que tinha nos bra��os em lugar confort��vel no solo,
continuando a colocar na barra da saia transformada
em dep��sito, tudo quanto podia carregar.

Quando acreditou estar com um fardo infinitamente
valioso saiu apressadamente e viu descer a
porta pesada.

Respirou aliviada e sorriu.

Encontrava-se radiante de felicidade, quando, subitamente
recordou-se do filhinho que havia deixado
na furna...

Os olhos da paciente brilharam inteligentes, e ela
perguntou:

-E a m��e, como ficou?
- Desesperada! - replicou a psicoterapeuta - Agora,
que tinha tudo quanto havia anelado, perdera, esquecido
na caverna, o seu maior tesouro. Assim agimos
em nosso dia-a-dia terreno. Possu��mos o que h��
de mais importante para a felicidade, e, no entanto,
continuamos na cova das ambi����es procurando fantasias
e brilhos secund��rios, perdendo o tesouro da

100

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

paz, sem o qual ca��mos no fosso do desespero sem
rem��dio...

... E prosseguiu na sua atividade maravilhosa, trazendo
aqueles que se atiraram no desfiladeiro sombrio
do mutismo e do isolamento para recome��ar o
treinamento para a realidade.


A AMARGA EXPERI��NCIA
DE LE��NCIO

Gentilmente assessorado por Alberto, dirigimonos
a uma das Enfermarias de amplas propor����es,
que era dividida habilmente em agrad��veis e c��modos
apartamentos para atendimento individual dos
pacientes.

Adentramo-nos em um deles, que se apresentava
acolhedor.

Ampla janela abria-se para o jardim verdejante,
onde ��rvores frondosas abrigavam folhagem luxuriante
e roseirais abriam-se com abund��ncia de perfumadas
flores.

O c��modo reconfortante transpirava paz, pintado
em suave tonalidade verde, apropriada para o repouso
e a reflex��o.

Reclinado sobre duas amplas almofadas encontrava-
se um senhor de pouco mais de sessenta anos,
de semblante s��rio, mas que n��o denotava sofrimento
ou simples circunspe����o. Sentada pr��xima �� cabeceira
da cama, uma dama que irradiava paz conver



102
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sava afavelmente em doce tonalidade de voz.
Quando nos notaram a entrada, Alberto explicitou:


- Perdoe-nos a invas��o da privacidade.
De imediato, foi advertido quanto ao prazer que
a sua visita lhes proporcionava. Certamente, muito
querido, foi recebido com real alegria, o que deveria
acontecer com certa freq����ncia.

- Desejo apresentar-lhes um novo amigo - explicou
o visitante - que se encontra realizando est��gio
em nossa Cl��nica. Trata-se do irm��o Miranda, trabalhador
afei��oado aos problemas pertinentes aos dist��rbios
espirituais, nos quais vicejam as interfer��ncias
dos irm��os alucinados e doentes, que se comprazem
no mal por ignor��ncia.
Sorri jovialmente e acerquei-me do leito, cumprimentando
fraternalmente o convalescente e a nobre
senhora, que se apressou em dizer:

- �� sempre com renovada alegria que recebemos
companheiros dedicados ao estudo dessa grave epidemia,
que tem sido motivo de mart��rio para as criaturas
humanas, at�� hoje ainda n��o combatida com a
efici��ncia que merece. E parece-me bastante estranho,
por ser, talvez, a doen��a mais antiga da Humanidade,
em rela����o a outras tantas prejudiciais. Basta
que nos recordemos que, em todos os per��odos do
pensamento hist��rico, a obsess��o e suas seq��elas
se t��m apresentado ceifando a sa��de f��sica e mental
dos indiv��duos. Terrivelmente ignorada, ou simplesmente
desconsiderada, vem prosseguindo no seu
triste fanal de vencer todos aqueles que lhe tombam
nas malhas coercitivas. Todos os esfor��os, portanto,
direcionados para a desmistifica����o e o combate a

103

Tormentos da obsess��o

esse terr��vel mal devem ser envidados, por todos
aqueles que nos encontramos forrados pelos ideais
superiores e que haurimos na palavra de Jesus o direcionamento
correto para a felicidade.

Parecendo que esperavam alguma palavra de
minha parte, algo timidamente concordei, acrescentando:


- Na raiz de todos os problemas que aturdem o
ser humano sempre encontraremos o Esp��rito como
seu respons��vel, face aos comprometimentos que se
ocasionou. Criado, simples e ignorante, com neutralidade
interior, defrontando as op����es de agir correta
ou incorretamente, tudo quanto lhe ocorre prov��m da
prefer��ncia que se permitiu de in��cio, cabendo-lhe o
reencontro com o equil��brio que lhe direcionar�� os
passos para o futuro. A obsess��o encontra-se incursa
nesse racioc��nio, porquanto, somente ocorre em
raz��o do comportamento irregular de quem se desvia
do roteiro do bem fazer, criando animosidades e
gerando revides. Certamente, haver�� muitas antipatias
gratuitas entre as pessoas, que resultam de prefer��ncias
psicol��gicas, de identifica����es ou rea����es
afetivas. Os dardos atirados pelas mentes agressivas
e inamistosas s��o inevit��veis para aqueles contra
quem s��o dirigidos. No entanto, a conex��o somente
se dar�� por identidade de sintonia, por afei����o ��
afinidade em que se manifestam. Por esse motivo, a
obsess��o sempre resulta das defec����es morais do Esp��rito
em rela����o ao seu pr��ximo, e desse, infeliz e
tresvariado, que n��o se permite desculpar e dar novas
chances a quem lhe haja prejudicado. N��o ignoramos
aquelas que t��m g��nese nas invejas, nas persegui����es
aos idealistas e trabalhadores do Bem, mas

104

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

que tamb��m somente se instalam se houver tomada
ps��quica naquele que se lhes torna objeto de persegui����o.


Porque percebesse o interesse real pela exposi����o
n��o proposital, continuei:

-O indiv��duo que ama a retid��o de princ��pios e
os executa firmado em prop��sitos de eleva����o moral,
mesmo quando fustigado pela pertin��cia dos irm��os
desajustados e perversos de ambos os planos da vida,
n��o se deixa afetar, permanecendo nas disposi����es
abra��adas, fiel ao programa tra��ado. Pode experimentar
alguma afli����o, como �� natural, mas robustece-se
na ora����o, no prazer do servi��o que realiza, nas leituras
edificantes, na consci��ncia pacificada. Simultaneamente,
torna-se amparado pelos Esp��ritos nobres,
seus afei��oados desencarnados, aqueles que foram
beneficiados por sua bondade fraternal, que acorrem
a proteg��-lo e sustent��-lo nas atividades que lhe dizem
respeito. Jamais se curvam sob as for��as tenebrosas
do mal aqueles que se entregam a Deus, a Jesus
e ao Bem, nas fileiras do dever a que se apegam.
Sentia-me enrubescer, quando, silenciando, Alberto
aduziu:

- Tem toda raz��o o nosso estagi��rio. Nenhuma
sombra, por mais densa, consegue diminuir a claridade,
assim como for��a alguma da desagrega����o
moral e espiritual logra romper o equil��brio da Lei de
amor.
Dando novo curso �� conversa����o, informou-me
que o nosso visitado chamava-se Le��ncio e a dama
devotada, era D. Matilde, sua genitora, que o precedera
no retomo �� P��tria pela desencarna����o.

- Le��ncio - explicou gentilmente - encontrava

105

Tormentos da obsess��o

se naquele apartamento, h�� alguns poucos meses,
ap��s tratamento prolongado na ��rea de psiquiatria
do Hospital, na parte inferior do edif��cio. Desencarnara
fazia pouco mais de quinze anos, e naquele momento
se encontrava em perfeito refazimento, reidentificando-
se com os superiores objetivos da vida.

Sentindo-se indiretamente convidado �� conversa����o
edificante, o paciente apresentou uma express��o
de melancolia, e com gentileza comunicou:

- Eu sou um h��spede feliz deste aben��oado reduto
de miseric��rdia. Aqui cheguei em lament��vel
situa����o moral e espiritual, que somente a complac��ncia
divina pode socorrer. Em realidade, n��o me
recordo dos detalhes que me caracterizaram a chegada.
Antes, eu conhecera o amor e o experienciara
atrav��s do lar ditoso em que renasci, do carinho dos
meus genitores devotados e, mais tarde, da esposa e
dos filhos queridos. No entanto, a grandeza do amor
que experimentamos neste remanso dedicado �� sa��de
transcende quaisquer palavras, porquanto, os mission��rios
que o constru��ram, e o mant��m h�� longos
anos, optaram pelo trabalho incessante em favor do
pr��ximo, quando poderiam estar desfrutando de outros
ambientes de luz e de reconforto moral... Renunciaram
�� felicidade de fruir paz, adotando a alegria
de oferec��-la ��queles que a malbarataram por conta
da pr��pria irresponsabilidade. Medito longamente nos
enunciados luminosos de Jesus, que aqui se vivem,
e no ensinamento superior de Allan Kardec, a respeito
da Caridade, que �� a ess��ncia do trabalho desenvolvido
neste Hospital, a fim de que se me insculpam
a ferro e fogo no Esp��rito, para que jamais volva a
olvid��-los...

106

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Silenciou brevemente, e ap��s solicitar-nos, a Alberto
e a mim, que nos sent��ssemos em c��modo div��
pr��ximo, o que aquiescemos, talvez por considerar
oportuno, deu curso �� edificante conversa����o:

- Renasci, na Terra, h�� pouco mais de setenta
anos, em formoso lar, onde o amor e o dever constitu��am
diretrizes de seguran��a. Desde cedo ouvi e senti
o respeito pelo nome de Jesus e por Sua doutrina.
Assim, portanto, fui educado na escola do exemplo,
ao lado de outros irm��os consangu��neos. Meus pais
eram cat��licos, por��m, se dedicavam com fidelidade
aos ensinamentos da Igreja que freq��entavam e para
a qual nos conduziram com carinho. �� medida que
crescemos e adquirimos maioridade fomos optando
pelas doutrinas que nos pareciam mais compat��veis
com o desenvolvimento intelectual e moral. Consegui,
por minha vez, adentrar-me em uma Universidade,
que era um dos meus sonhos mais ardentes, e
conclu�� o curso que elegera.
"Foi nesse per��odo, que passei a me interessar
pelos fen��menos medi��nicos e paranormais, nos dias
febricitantes em que a Parapsicologia era apresentada
como a grande esclarecedora e devoradora de supersti����es,
mitos e cren��as... Aprofundei-me no estudo
das diferentes correntes russa, holandesa, inglesa,
americana e brasileira, se podemos classific��-
las desse modo, adotando o comportamento em torno
dos fen��menos de natureza eminentemente psi e
aqueloutros medi��nicos, que me levaram ao estudo
s��rio do Espiritismo. Afei��oado �� literatura, �� filosofia,
�� hist��ria, encontrei nos postulados esp��ritas a
l��gica profunda e a ��tica feliz para uma exist��ncia
ditosa. Havendo-me dedicado �� arte de escrever, j��


107

Tormentos da obsess��o

que era profissionalmente ligado a um grande peri��dico,
no qual estava presente com regularidade e comentava
acontecimentos inusuais, passei a divulgar
a Doutrina Esp��rita com entusiasmo e quase exalta����o.
De temperamento forte e presun��oso, esqueci-
me que todos t��m liberdade para pensar e agir conforme
lhes pare��a melhor e que ningu��m foi designado
para ser defensor do Espiritismo, num arremedo
de postura zelote, que hoje reconhe��o como abomin��vel,
conseguindo ferir gregos e troianos, conforme

o velho conceito, quando deveria ater-me ao lado nobre
das quest��es, apresentando os conceitos superiores
do pensamento dos imortais e do Codificador,
sem preocupa����es mesquinhas e exibicionistas."
Interrompeu a narra����o por um pouco, ap��s o que,
medindo as palavras com acentuado cuidado, voltou
a narrar:

- Consorciei-me com excelente companheira, que
me foi enviada por Deus para ajudar-me na travessia
terrestre e experimentei a honra da paternidade v��rias
vezes. Reconhe��o que fui esposo e pai cuidadoso,
cumpridor dos deveres, que procurou transmitir �� fam��lia
as li����es libertadoras do Espiritismo. Mas a pros��pia
intelectual envenenou-me os sentimentos. Soberbo
e ego��sta, lentamente deixei-me fascinar pela
absurda id��ia de que me cabia a miss��o de preservar
a mem��ria do mestre de Lion, lutando qual Don
Quixote contra os fantasmas monstruosos que detectava
nas p��s dos moinhos de vento da ilus��o, passando
a agredir sistematicamente nomes respeit��veis
e Institui����es venerandas, por discrep��ncias de
minha parte. Possuidor de palavra f��cil, usei a tribuna
esp��rita muitas vezes, apresentando temas rele

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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

vantes, mas sempre os concluindo com dardos venenosos
bem dirigidos contra os inimigos que criava
ou supunha possuir. Simultaneamente consegui escrever
p��ginas repassadas de beleza, que ainda confortam
muitas pessoas que as l��em. As paix��es que
predominavam no ser que sou, com o tempo assomaram,
tomaram-me o f��lego, e tornei-me pessimista,
agressivo, antip��tico.

"Como seria de esperar, muitos daqueles a quem
agredi pela Imprensa reagiram com o seu direito de
defesa, dando curso a discuss��es infelizes e desnecess��rias,
que a morte a mim demonstrou serem somente
fruto da vaidade e da exibi����o do personalismo
doentio. �� que, no meu inconsciente, qual ocorre
com muitos outros viandantes terrenos, agasalhava
a id��ia de passar �� imortalidade... humana. Consegui,
por fim, ser mais detestado do que estimado. N��o
me dava conta, eu que ensinava aos outros, que estava
sendo arrastado vigorosamente a rude obsess��o,
face ao cerco organizado por advers��rios soezes
do Cristo e da Doutrina Esp��rita. Como conseq����ncia,
passei a nutrir vigorosa antipatia por m��diuns e
dirigentes de reuni��es que se me apresentavam como
ignorantes e incapazes de contribuir em favor da Causa
Esp��rita, quando, em uma reuni��o experimental,
dentre as muitas que visitava com o fim de desmascarar
m��diuns e exibir-me, encontrei aquela que seria
o piv�� dos meus desconcertos emocionais. Tratava-
se de jovem e encantadora m��dium psicof��nica e
clarividente de excelentes recursos, por��m, em fase
prim��ria de educa����o da faculdade. Relativamente
fr��gil e muito insegura, inspirou-me imediata afei����o,
que n��o pude identificar de momento, tal a qualidade


109

Tormentos da obsess��o

de que se constitu��a. O certo ��, que, �� medida que
voltei ��quele N��cleo, ao qual se vinculara, passei a
oferecer-me para ministrar cursos de passes e outros,
atraindo-a com persistente indu����o. N��o me passavam,
ent��o, pela mente, id��ias perturbadoras ou desejos
mals��os. Telementalizado, por��m, pelas Entidades
infelizes, consegui que ela se me afei��oasse, derrapando
posteriormente em adult��rio nefando."

O irm��o Le��ncio empalideceu ante a lembran��a
daqueles acontecimentos sombrios e fez-se ligeiramente
tr��mulo. Tentando, por��m, controlar a emo����o,
prosseguiu, de voz embargada:

- O esc��ndalo, que tem pernas curtas, logo aconteceu,
envolvendo a mo��a que, admoestada carinhosamente,
foi afastada da Institui����o, quanto eu mesmo,
cortesmente, pelo seu diretor, at�� que a minha
fam��lia tomou conhecimento, e n��o mais pude ocultar
a verdade, massacrando com a conduta irrefletida
e doentia, cora����es afetuosos e sens��veis. Incapaz
de continuar no lar, ap��s exculpar-me com a esposa
dilacerada, retirei-me para viver com a aturdida v��tima
da minha sedu����o. A sua faculdade incipiente,
ante a conduta reproch��vel que passou a manter, se
tornou campo de perturba����o e enfermidades que a
vitimaram, levando-a �� prematura desencarna����o.
"N��o me perdoando a s��rie de desatinos, transferi-
me de cidade, abandonei os deveres espirituais,
quando mais deles necessitava, e derrapei por completo
na obsess��o. O desequil��brio mental assaltou-
me, e passei aos alco��licos em fuga espetacular da
realidade. Nesse comenos, soube da desencarna����o
da esposa devotada, e somei, ��s dores antigas, mais
essa afli����o, perdendo totalmente o interesse pela


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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

exist��ncia f��sica. A queda no fosso de si mesmo n��o
encontra apoio ou piso de sustenta����o, abrindo-se o
abismo e cada vez mais se tornando profundo. Esquecido
dos e pelos amigos, uni-me a grupos de dipsoman��acos
elegantes e vulgares at�� que a morte me
convidou o corpo ao t��mulo e o Esp��rito �� consci��ncia
dos atos."

Novamente aquietou-se ante o respeitoso sil��ncio
de todos n��s. Enquanto a genitora lhe acariciava
a cabe��a, como a estimul��-lo a prosseguir, ele assim

o fez:
- Fui arrastado por antigos asseclas, inimigos que
eu arregimentara em reencarna����es anteriores, quando
me houvera tornado membro-soldado do Ex��rcito
de Jesus, e impusera a crueldade como instrumento
de convers��o religiosa... Agora desfor��avam-se com
inclemente perversidade, arrastando-me para regi��es
inferiores onde experimentei as mais rudes humilha����es
e desacatos de outros mais arrogantes advers��rios.
O meu sofrimento era t��o atroz e a consci��ncia
de culpa t��o severa, que n��o me recordava das bland��cias
da ora����o, nem da intercess��o divina sempre
ao alcance de todos os calcetas e criminosos.
"Por fim, depois de excruciantes sofrimentos, recordei-
me de Jesus, e passei a suplicar-Lhe miseric��rdia
e compaix��o. Essa atitude por��m, era reflexo
das intercess��es de minha m��e e de minha esposa,
ent��o recuperada das dores que lhe houvera infligido
e que me perdoara todos os delitos que eu cometera,
apiedadas das minhas refregas e dos meus sofrimentos
superlativos.

"Desse modo, em uma das excurs��es realizadas
pela Rainha Santa Isabel, de Portugal, ��s regi��es de


l1l

Tormentos da obsess��o

supremo desconforto e dor, o ap��stolo de Sacramento
me retirou do abismo prendendo-me numa das redes
magn��ticas atiradas sobre o paul de degrada����o
e vergonha, recambiando-me para este Abrigo, onde
permaneci longamente em recupera����o, libertandome
dos pesadelos que me continuaram afligindo.
Transferido para este recinto onde me encontro, agora
livre das marcas hediondas das regi��es trevosas
onde estive, permanecem as reminisc��ncias dos erros,
a amargura do insucesso, mas tamb��m a esperan��a
do futuro acenando-me com oportunidades de
repara����o."

Quando silenciou, o suor porejava-lhe na face
p��lida e as l��grimas corriam-lhe em abund��ncia silenciosa
e depuradora.

Dona Matilde, traduzindo expressiva alegria no
rosto, enquanto o filho se refazia, completou:

- A jovem, por haver sido v��tima da pr��pria ignor��ncia
e insensatez, foi amparada devidamente em
outro pavilh��o do nosso Hospital, e apesar desta Cl��nica
ser dedicada a pacientes espec��ficos, ele aqui
foi amparado para receber assist��ncia mais especializada
atrav��s dos m��diuns que cooperam com o
nosso servi��o de recupera����o espiritual.
"Conforme os amigos podem depreender, mais
se pede ��quele que mais recebe, de acordo com o ensinamento
s��bio de Jesus, e a responsabilidade do
nosso Le��ncio �� muito grave em raz��o do seu profundo
conhecimento do Espiritismo, que n��o soube
aplicar como recurso e combust��vel para a auto-ilumina����o,
preocupado como se encontrava em combater
os outros, esquecido de si mesmo... Mas, como
rado acontece conforme a vontade de Deus, haver�� tem



112

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

po para recome��o e trabalho, alegria e servi��o, repara����o
e crescimento interior. Hoje vivemos alegres,
porque a minha nora querida tem estado conosco, e
os filhos que ambos deixaram na Terra, felizmente
conseguiram superar os traumas sofridos, n��o havendo,
portanto, maiores danos como conseq����ncia da
deser����o ao dever."

Sentia-me fascinado com o ocorrido com Le��ncio
e a mente esfervilhava de perguntas que a oportunidade
n��o permitia apresentar.

Agradecendo-lhe a generosidade da narra����o
edificante para mim e rica de advert��ncias para todos
os que dela tomem conhecimento, passamos a
outros temas agrad��veis, ap��s o que, alguns minutos
transcorridos, pedimos licen��a para nos afastarmos,
prosseguindo com a nossa visita de aprendizagem
e tomada de conhecimento dos fatores que levam
o indiv��duo que possui tudo, no entanto invigilante,
a delinquir.

Quanto �� grave o comportamento de querer mudar
o mundo sem a preocupa����o de realizar mudan��as
internas, fundamentais, para que, assim, o mundo
venha a tornar-se melhor. �� sempre mais f��cil exigir
dos demais, impor ao pr��ximo, vigiar os atos alheios,
do que voltar-se para si mesmo, sendo exigente
consigo e contemporizador com as defici��ncias que
registre nas demais pessoas.


INDAGA����ES
ESCLARECEDORAS

Logo nos afastamos do apartamento aconchegante,
indaguei ao preclaro Alberto:

- Sem desejar envolver-me em julgamento apressado,
gostaria de entender como p��de o amigo Le��ncio,
portador de tantos recursos de eleva����o e conhecimentos
profundos da Doutrina da raz��o, envolver-
se nessa teia de preju��zos graves?
L��cido e ponderado, sem qualquer express��o de
censura, explicou-nos:

- Caro Miranda, a exist��ncia terrestre, como sabemos,
�� sempre in��ada de perigos, que repontam
do passado delituoso e das atra����es que se multiplicam
exuberantes, ao calor das paix��es que remanescem
dos instintos e s��o imperiosas no seu cerco ��
l��gica, �� raz��o. Reencarnado, o Esp��rito perde temporariamente
parte da lucidez que possui, a fim de
que aprimore os sentimentos e engrande��a-se nos
testemunhos. N��o obstante, no fragor das lutas renhidas,
envolve-se com entusiasmo ou desinteres

114

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sa-se de levar adiante os objetivos para os quais retornou
ao prosc��nio terrestre, quando sofre injun����es
dif��ceis. Invariavelmente, os primeiros tentames de
crescimento se fazem com relativa facilidade, tornando-
se desafiadores �� medida que se expande o campo
de a����o e se d�� o reencontro com as experi��ncias
pret��ritas que ficaram interrompidas, mas as personagens
que delas participaram continuam vivas e
atuantes... �� nessa fase que irrompem as lembran��as,
agora transformadas em sentimentos e emo����es,
sem claridade de entendimento, conduzindo a comportamentos
que surpreendem pelo inesperado da
circunst��ncia. Nosso caro Le��ncio experimentou a
d��diva do conhecimento esp��rita, mas lhe faltaram
os recursos morais, que embora vicejassem no ��ntimo
e o orientassem de alguma forma, n��o eram suficientes
para superar as tend��ncias em predom��nio
no ego: a vaidade exacerbada, o temperamento agressivo
e soberbo, a presun����o do conhecimento acad��mico,
a ambi����o por exercer um minist��rio mission��rio...
Foi nessa defici��ncia do Esp��rito, que se abriram
as brechas para as agress��es impudentes dos
seus advers��rios pessoais, bem como aqueloutros do
ideal libertador.

Facultando-me tempo para reflex��o, calou-se por
breve momento, para logo dar seguimento aos coment��rios:


- O conhecimento intelectual nem sempre oferece
discernimento emocional, e n��o s��o poucos aqueles
que, possuidores de grande cultura, falham em
quest��es pertinentes ao sentimento, ensoberbecendo-
se e mantendo dist��ncia mental das pessoas que
consideram inferiores. Infelizmente, os preconceitos

115

Tormentos da obsess��o

de toda ordem sempre surgem na ut��pica superioridade
daqueles que se atribuem valores que realmente
n��o possuem. Afirma-se com certa sabedoria, que
Deus p��s o conhecimento na cabe��a, para bem conduzir
o indiv��duo atrav��s da raz��o, por��m o sentimento
foi colocado no cora����o, para que a ard��ncia
das emo����es possa derreter o gelo da intelig��ncia.
H��, desse modo, uma dist��ncia significativa entre
conhecer e vivenciar, ensinar e sentir, compreender
e amar em profundidade, ajudando sempre e sem cessar.
O Espiritismo �� dirigido �� l��gica e �� raz��o, por��m,
tem as suas ra��zes fincadas no amor, o que permite
que todos os indiv��duos o assimilem pelo entendimento
e pelo sentimento, quando desvestido
das linguagens complexas que, n��o poucas vezes,
alguns dos seus profitentes o revestem, em exibicionismos
liter��rios desnecess��rios e de resultados negativos.
H�� muita facilidade em dizer coisas simples
de maneira interpolada, mas �� muito dif��cil exprimir
temas complexos de forma f��cil, o que resulta em possuir
mais do que o conhecimento, mas sim, a sabedoria.


"O nosso confrade tornou-se duelista da palavra,
esgrimindo o verbo com terminologia agu��ada como
l��mina para ferir, esquecendo-se de que a nossa �� a
proposta de ajudar sempre, porquanto Jesus e Allan
Kardec sempre se conduziram dessa forma. Mesmo
quando assumiram postura austera, jamais recorreram
�� viol��ncia ou ao desrespeito acusador em rela����o
aos seus advers��rios. O Espiritismo �� a grande
luz que predominar�� um dia no arquip��lago de estrelas
do conhecimento, orientando e iluminando mentes
e cora����es para o auto-encontro e a plenitude."


116

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Eu concordava totalmente com as suas elucida����es
claras e robustas. Apesar disso, desejando melhor
entender o acontecimento de que tom��ramos
conhecimento, ainda interroguei:

- Le��ncio referiu-se a ter sido membro-soldado
do Ex��rcito de Jesus. O que desejou dizer?
Elegante e generoso, o diligente companheiro esclareceu:


- Devemos recordar-nos que nos s��culos XV e
XVI na Espanha, dois acontecimentos graves na ��rea
da religi��o assinalaram toda uma ��poca de terror para
a Humanidade. A primeira, teve lugar quando o monge
dominicano Tom��s de Torquemada foi nomeado
um dos inquisidores da f��, no ano de 1482. Homem
culto e perverso, logo se reuniu com os legistas Jo��o
de Chaves e Trist��o de Medina, de imediato redigindo
as Instru����es e Ordenan��as dos Inquisidores que,
somente por ele pessoalmente condenaram �� fogueira
8.800 pessoas e mais 96.504 que experimentaram
outras puni����es. Ainda, gra��as a ele, os Reis cat��licos,
Fernando e Isabel, expulsaram do pa��s mais de
um milh��o de judeus que de l�� fugiram a fim de escapar
��s hediondas persegui����es. O segundo, foi a cria����o
da Companhia de Jesus, pelo tamb��m dominicano
In��cio de Loyola que, ap��s o insucesso como
cavaleiro, renunciou ��s batalhas, mergulhou o pensamento
na hist��ria da vida dos santos e tornou-se
peregrino, trocando a sua pela indument��ria de um
mendigo. Posteriormente visitou a terra santa, ordenou-
se monge e criou a referida Ordem que, se de
um lado sensibilizou homens not��veis para o minist��rio
da evangeliza����o dos povos, como Jos�� de Anchieta
e Manoel da N��brega, por outro submeteu os

117

Tormentos da obsess��o

silv��colas do Novo Mundo a arbitrariedades inimagin��veis,
inclusive, quase destruindo-lhes a cultura e
a f�� primitiva... Juntando-se a esses dois vision��rios,
que nos merecem respeito, mas que exorbitaram no
comportamento religioso a que se entregaram, muitos
homens se ofereceram para servir a Jesus, desde
que n��o abandonassem, naturalmente, o mundo nem
os seus bens, motivando desgra��as inomin��veis, cujos
frutos amargos ainda se encontram na ��rvore dos
remorsos de incont��veis criaturas... O nosso caro Le��ncio
fez parte das hostes desses soldados de Jesus,
que se permitiam todas as arbitrariedades sob o amparo
da justi��a religiosa e apoio da secular igreja, contraindo
d��vidas inumer��veis, que continuam pesando
na economia moral de cada um. Embora haja retornado
�� Terra mais de uma vez em experi��ncias expiat��rias,
na mais recente, aquinhoado com a lumin��fera
mensagem do Consolador, para poder reparar e
libertar muitos encarcerados na ignor��ncia religiosa,
eis que volveu �� conduta soberba e perniciosa de ontem,
sintonizando com os desafetos que o v��m perseguindo
desde aqueles j�� recuados dias... Ao inv��s
de haver utilizado a incomum oportunidade para de-
salgemar-se, continuou no erg��stulo a que se permitiu
espontaneamente. O per��odo de sofrimento nas
regi��es purificadoras o auxiliar�� a agir corretamente
em futuros cometimentos. O reencontro com a consci��ncia
pessoal e a C��smica, presentes no pr��ximo,
mesmo ferido, �� inevit��vel para todas as criaturas."

Ante o sil��ncio que se fez natural, meditando, recordei-
me da informa����o de D. Matilde, quanto ao seu
internamento naquele e n��o em outro pavilh��o, por
motivos especiais. Para n��o perder o ensejo de apren



118

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

dizagem, novamente indaguei:

- Quais os motivos especiais para que o irm��o padecente
viesse para esta Cl��nica e n��o para outra qualquer,
j�� que essa era espec��fica para m��diuns fracassados?
Como se esperasse pela interroga����o, com a gentileza
de paciente professor, o cicerone disposto explicou:


- O grave comprometimento com o erro n��o anulou
as boas obras que foram praticadas. O irm��o Le��ncio
deixou na Terra um patrim��nio liter��rio muito
nobre, que vem ensinando e orientando muitas vidas
a encontrar o rumo da felicidade mediante o esclarecimento
correto e oportuno. As suas defec����es
s��o pessoais, e por elas vem respondendo, mas tamb��m
os labores de engrandecimento moral oferecem-
lhe cr��ditos relevantes, que diminuem as conseq����ncias
funestas da sua invigil��ncia. Nada desaparece
na contabilidade da vida, constituindo sempre valor
que faz parte das opera����es evolutivas dos seres. Ao
lado disso, os seus afetos, particularmente a genitora,
credora de muitos t��tulos de enobrecimento, e sua
esposa, que conseguira manter o amor acima das vicissitudes,
as ora����es de muitos cora����es que lhe s��o
afetuosos, intercederam em seu favor, facultando-lhe
conquista especial da miseric��rdia de Deus, que nunca
se expressa em regime de exce����o, por estar aberta
a todos os seres do universo. Ademais, em raz��o
da hipnose profunda de que foi v��tima nos recintos
expungitivos por onde passou, fixando nele as atrocidades
anteriormente praticadas, que necessitavam
ser apagadas por interm��dio de terapia baseada nas
viv��ncias passadas, de forma que, somente o presen

119

Tormentos da obsess��o

te e o futuro pudessem direcionar-lhe os passos, sem
os clich��s perversos insculpidos no inconsciente profundo,
impondo-lhe amargura e remorso pouco edificantes.
Aqui estagiam m��diuns psicof��nicos muitos
h��beis e portadores de excelentes recursos de ectoplasmia,
facultando que sejam realizadas sess��es pr��prias
para essa finalidade - cirurgias para a extra����o
de c��lulas fotoel��trcas implantadas no enc��falo perispiritual,
clich��s insculpidos na mem��ria ps��quica,
etc. Foi, portanto, uma provid��ncia terap��utica e n��o
uma concess��o de privil��gio, o que lhe aumenta tamb��m
a responsabilidade e o compromisso para com a
Vida.

-E que lhe est�� reservado para o futuro? - tornei
a inquirir com real interesse, igualmente pensando
nas experi��ncias que eu pr��prio deveria enfrentar em
rela����o ao porvir.
Sorrindo com jovialidade, sem apresentar qualquer
laivo de irrita����o com uma indaga����o t��o ing��nua,
Alberto contestou:

- Para todos n��s, caro Miranda, est��o reservadas
as oportunidades aben��oadas de crescimento e evolu����o,
n��o importando qual seja o contributo de dor e
luta que nos seja imposto. Evolu����o �� processo de
renova����o constante e de crescimento interior passo
a passo com alegria e tiroc��nio em torno da Realidade.
Ainda n��o foram desenhados os projetos espec��ficos
para o retorno do nosso Le��ncio �� Terra. Muitos
que lhe est��o vinculados encontram-se no plano f��sico,
e creio que somente ap��s reunir novamente o cl��,
revisar conquistas e preju��zos, os Mensageiros da
Verdade ir��o definir diretrizes para recome��o, tendo
em vista as possibilidades do paciente ent��o reno

120

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

vado e rico de entusiasmo pelo recome��o. A Terra ��
colo gentil de m��e devotada, que sempre nos recebe
de volta, ensejando-nos amadurecimento e liberta����o
de grilh��es, a fim de que, tamb��m ela ascenda na
escala dos mundos, conforme est�� programado.

Silenciou o bom condutor, ensejando-me reflexionar
um pouco, e voltar a nova indaga����o:

-E a jovem m��dium, como se encontra? Volver��
a manter relacionamento com Le��ncio?
- Conhe��o a mo��a enganada - prosseguiu com a
sua gentileza e sinceridade -e tenho-lhe acompanhado
o processo de recupera����o. Pelo fato de haver
sido mal orientada, a sua responsabilidade �� menor,
mesmo em rela����o ao fracasso no campo medi��nico,
no qual deveria exercer a faculdade atormentada, contribuindo
para o bem de muitos Esp��ritos que, atrav��s
do seu concurso, receberiam a orienta����o terap��utica
para se libertarem dos sofrimentos em que
estorcegam. Destitu��da como se encontrava de sentimentos
pervertidos ou inten����es mals��s, foi considerada
em nossa Institui����o como sendo v��tima das
circunst��ncias e da pr��pria fragilidade moral, recebendo
carinhosa ajuda. Atualmente vem trabalhando
mediunicamente, colaborando no socorro aos desencarnados
portadores de alucina����es dolorosas
que, nos seus fluidos, encontram campo de refazimento
e, mediante a doutrina����o que recebem, passam a
ter diminu��dos os sofrimentos. Sempre h�� oportunidade
para todos quantos honestamente se empenhem
na tarefa de recupera����o de si mesmos e de
fraternidade em rela����o ao seu pr��ximo. A moeda de
amor que direcionamos a outrem �� raio de luz em nosso
caminho em sombras, clareando-nos a marcha. Cer

121

Tormentos da obsess��o

tamente, em momento pr��prio, defrontar-se-��o esses
Esp��ritos amigos e de sentimentos controvertidos,
para que programem a sublima����o do amor atrav��s
de algum mecanismo da reencarna����o. Por enquanto,
�� prematura qualquer conjectura em torno de como
isso acontecer��, cabendo a cada qual o estabelecimento
de metas renovadoras e felizes.

Sentia-me encantado com as informa����es esclarecedoras.
O dia estava esplendente de luz, que penetrava
suavemente pelo teto e pelos lados do edif��cio,
derramando claridade suave e benfazeja. E porque
as horas corressem c��leres, retornamos ao gabinete
do doutor Ign��cio Ferreira, para aguardar novas
instru����es. Certamente que ficaram por ser visitados
muitos outros setores do Pavilh��o, o que ocorreria em
momento adequado.


TAREFAS RELEVANTES

Quando retornamos ao gabinete do psiquiatra
amigo, fomos recebidos com g��udio e interesse em
torno do que houv��ramos observado, e quais eram
as nossas opini��es a respeito do trabalho. Naturalmente,
escusando-nos de apresentar conceitos precipitados
e usando prud��ncia, referi-me �� agrad��vel
oportunidade de aprender e renovar-me sob a orienta����o
fraternal de Alberto que aliava, �� condi����o de
cicerone, a sabedoria do bom professor, que muito
me surpreendera positivamente.

Dispensando-lhe os servi��os; pois que se encontrava
comprometido com novas tarefas naquela tarde,
doutor Ignacio convidou-me a um passeio pelo
jardim externo do Pavilh��o, a fim de nos reabastecermos
de energias vitalizadoras extra��das da Natureza.


A temperatura amena e o fav��nio caricioso que
bailava no ambiente calmo estimulavam-nos a caminhar
entre as al��ias bem tra��adas com buxos formosos
e pelos jardins floridos que trescalavam perfumes
variados. T��nhamos a impress��o de nos encontrar em


123

Tormentos da obsess��o

uma est��ncia de paz, distante das afli����es terrenas,

o que era realidade, pois essa fora a inten����o do idealizador
do Conjunto hospitalar, a fim de que os pacientes
se refizessem das turbul��ncias vividas, recompondo-
se e reformulando conceitua����es em torno da
vida.
Intrigavam-me, a arg��cia para o bem e a eleva����o
espiritual de Eur��pedes Barsanulfo, o abnegado
servidor de Jesus, que abra��ara o mart��rio nos prim��rdios
do Cristianismo nas G��lias lugdunenses,
assinalando o seu sacrif��cio com a coragem e a f�� inamov��vel
no Her��i da Cruz.

Porque a circunst��ncia fosse favor��vel, e sabendo
que o nobre m��dico privava da intimidade do grande
ap��stolo, interroguei-o com delicadeza a respeito
do l��dimo crist��o.

Sem fazer-se rogado, o benfeitor entreteceu considera����es
justas sobre a sua mais recente exist��ncia
na Terra, que dava continuidade a experi��ncias
luminosas que lhe caracterizavam a evolu����o. Face
ao seu interesse pelo atendimento psiqui��trico aos
falidos no minist��rio da f�� esp��rita, informou-nos que,
desde h�� dois s��culos, aquele Esp��rito de escol se
interessava pela interpreta����o do homem, pelo aprofundamento
na sua psicologia e por uma formula����o
de proposta iluminativa para a sua perfeita integra����o
no equil��brio.

- Depois de inumer��veis exist��ncias prof��cuas informou-
nos o amigo, enquanto caminh��vamos pela
alameda -o mission��rio do amor renascera em Zurique,
no ano de 1741, com o nome de Johann Kaspar
Lavater, havendo manifestado desde muito jovem
acentuado pendor m��stico, que o levou atrav��s dos


124

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

anos �� ado����o da religi��o dominante, na ��rea do protestantismo.
Havendo sido ordenado pastor, contribuiu
grandemente para a divulga����o do pensamento
crist��o desvestido de qualquer dogmatismo, paix��o
de seita ou denomina����o estranha. Orador incomum
e pensador profundo, com imensa habilidade para
desenovelar Jesus dos s��mbolos neotestament��rios
em que fora sitiado pelos Conc��lios e interesses subalternos
das religi��es do passado, seus serm��es
atra��am grande p��blico, especialmente porque, ��quela
��poca, apoiavam a revolu����o das id��ias novas que
se alastrava pela Su����a, rec��m-chegada da Fran��a.
Logo depois, porque a Revolu����o Francesa extrapolasse
na difus��o das teses materialistas, favorecendo
o racionalismo absoluto, colocou-se contra o absurdo
da nega����o de Deus e da imortalidade da alma,
permanecendo vinculado ��s correntes m��sticas e sentimentais,
nas quais melhor identificava Jesus e os
Seus prop��sitos de amor para com a Humanidade.
As suas reminisc��ncias de outras exist��ncias, de sacrif��cio
e dedica����o �� f�� crist��, tornaram-no admirado
e respeitado. Exilado para a Basil��ia, pela sua lealdade
ao pensamento crist��o original, permaneceu devotado
ao apostolado, retornando, mais tarde, quando
foi ferido numa das lutas pela tomada da cidade
por Mass��na, no ano de 1799, de cujas conseq����ncias
veio a desencarnar em 1801. Admirado te��logo,
passou a ser considerado o criador da moderna Fisiognomonia,
em raz��o do livro que deixou e foi publicado
mais tarde sob o t��tulo de A Arte de Conhecer os
Homens pela Fisionomia.

Convidando-nos a sentar em gracioso banco sob
uma p��rgula florida, atraente e confort��vel, prosse



125

Tormentos da obsess��o

guiu, explicando-nos:

- A Fisiognomonia, �� uma velha arte, ou ciencia
para alguns estudiosos, de se conhecer as qualidades
inatas e os valores morais dos indiv��duos atrav��s
do exame e da cuidadosa interpreta����o da fisionomia
de cada um. Trata-se, sem d��vida, de cren��a
antiga, atrav��s da qual a fisionomia �� reflexo do ser
humano em si mesmo. Fosse hoje, e poder��amos aduzir
que isso teria alguma raz��o gra��as ao perisp��rito,
que se encarrega de modelar no corpo os valores ��tico-
morais da criatura, muitas vezes desvelando o seu
mundo interior pelos reflexos que a face exterioriza.
Muitos s��bios gregos cuidaram de estud��-la, dentre
os quais Galeno, Pl��nio, Cassiodoro, al��m de diversos
escritores do passado que fizeram o mesmo. Esquecida,
por um largo per��odo, ressurgiu na Renascen��a,
despertando o interesse de in��meros pesquisadores,
especialmente do c��lebre Tom��s de Campanella,
que muito a divulgou, baseando-se no trabalho
de Porta, intitulado Da Fisiognomonia Humana. Novamente
esquecida, foi restaurada por Lavater, e passou
a merecer alguma considera����o a partir da��, no
s��culo XIX, ligando-se �� nascente Frenolog��a, sendo,
sem qualquer d��vida, ambas doutrinas precursoras
da atual Biotipologia. Cremos, pessoalmente, ser prov��vel
que C��sar Lombroso utilizou-se de alguns dos
seus postulados, a fim de estabelecer as bases da
sua tese na Antropologia Criminal, atrav��s de estudos
antropom��tricos cuidadosos, procurando demonstrar
que os criminosos pertencem a um tipo biol��gico
especial da humanidade, bi��tipo representativo de
um grupo pr��prio descendente do g��nero humano.
Esse ser apresentaria uma degeneresc��ncia que o re

126

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

baixaria ao n��vel inferior, ao est��gio de selvageria,
pouco superior ao dos lun��ticos. Igualmente supunha,
o grande investigador italiano, que as caracter��sticas
mentais decorreriam da hereditariedade, sendo,
portanto, de origem fisiol��gica, expressando a representa����o
de um ser degenerado e prim��rio muito
diferente do indiv��duo humano normal e expressando-
o nos tra��os f��sicos, mentais e nervosos. Centralizava
no conceito do atavismo as anomalias mentais,
como sendo uma regress��o a um tipo inferior de ser
humano, gra��as �� hereditariedade e n��o aos fatores
ambientais. Embora recha��ado no seu tempo, contribuiu
de alguma forma para a introdu����o de novos m��todos
para o tratamento dos criminosos e de muitos
alienados mentais...

"Apesar de haver travado conhecimento com os
fen��menos medi��nicos, que ap��s estudados levaram-
no ao Espiritualismo e mesmo ao Espiritismo, faltou-
lhe um conhecimento profundo da reencarna����o como
das leis de causa e efeito, para entender que, todo Esp��rito
�� o autor do seu destino, insculpindo em cada
experi��ncia carnal as conquistas e preju��zos que decorrem
da sua conduta. Desse modo, o atavismo que

o leva a uma aparente queda na escala inferior da
evolu����o, trata-se apenas do dist��rbio que o Esp��rito
se imp��e para aprender a valorizar a vida, mediante
expia����es engrandecedoras e prova����es regenerativas.
No caso dos criminosos natos, que tanto o preocupavam,
identificamos, sim, em cada um deles, o Esp��rito
prim��rio, em processo de ajustamento ��s leis
da ordem e da disciplina, desarmonizado no grupo
social. Identificados, devem merecer tratamento especializado,
a fim de evitar que derrapem nos crimes

127

Tormentos da obsess��o

hediondos ou sejam v��timas da pr��pria impulsividade,
sendo trucidados por outros mais perturbados. A
reencarna����o ��, portanto, a chave para equacionar o
enigma que o not��vel antrop��logo criminalista n��o
conseguiu, detendo-se apenas nos efeitos, na constitui����o
do cr��nio e noutras caracter��sticas mentais e
nervosas."

Parecendo ordenar o racioc��nio, em espont��nea
reflex��o, logo depois, deu curso �� narra����o:

- Sempre interessado no progresso do ser humano
e na sua transforma����o moral, a fim de conquistar
a felicidade, Eur��pedes tem trabalhado, desde recuados
tempos, para conseguir esse desiderato. Enquanto
viveu na organiza����o f��sica e amou, ajudando a
edificar vidas, na sua querida Sacramento, na recente
reencarna����o, onde deixou pegadas luminosas, que
prosseguem apontando os rumos do Mestre, n��o mediu
sacrif��cios para se transformar no l��dimo disc��pulo
fiel de Jesus em todas as circunst��ncias. Regressando
�� p��tria espiritual e constatando a fal��ncia de
muitas exist��ncias que se deveriam ter entregado ao
minist��rio do Bem, mas retornavam na condi����o de
Esp��ritos desvairados, hebetados, tristes, fracassados
e arrebanhados para regi��es de muita sombra e dor,
nas quais se homiziam os advers��rios da Luz, empenhou-
se em erguer este santu��rio para a sa��de mental,
que �� tamb��m albergue para repouso e refazimento
dos descuidados filhos do Calv��rio, que se esqueceram
do Mestre, deixando-0 abandonado...
Nas palavras finais, o m��dico denotava emo����o
na voz e compaix��o pelos combalidos que foram arrebatados
pela loucura a que se entregaram espontaneamente,
porque nunca faltam advert��ncias e con



128

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sola����es, socorros e apoio, mesmo quando, obstinadamente,
os aprendizes preferem afastar-se dos mestres
e das suas li����es de amor.

Os doces perfumes pairavam na leve brisa, e harmonias,
para mim desconhecidas, tocavam-me as
mais delicadas fibras do Esp��rito.

-O processo de evolu����o - continuou espontaneamente
a enunciar - �� lento, porque aqueles que
nele estamos envolvidos, optamos pelo imediato, que
s��o as ilus��es que afastam aparentemente as responsabilidades
e as lutas, intoxicando-nos os centros do
discernimento e entorpecendo-nos a raz��o. Luz, por��m,
em toda parte, o amor de Nosso Pai convidando
�� renova����o e ao trabalho, �� conquista de si mesmo
como passo inicial para a aquisi����o da alegria, da paz
e da felicidade de viver. Dia vir��, e j�� se anuncia, em
que o Evangelho de Jesus tocar�� os cora����es com
mais profundidade, e o ser humano se levantar�� dos
vales por onde deambula, galgando a montanha da
liberta����o, a fim de contemplar e fruir os horizontes
infinitos e plenificadores. At�� que chegue esse momento,
que todos n��s, aqueles que amamos e j�� despertamos
para as responsabilidades que nos dizem
respeito, nos demos as m��os e, unidos, sirvamos sem
reclama����o, ampliando o campo das realiza����es enobrecedoras.
Depois de um sorriso muito especial, tocou-me o
ombro, e com gesto de simpatia e muita cordialidade,
concluiu o passeio, convidando-me:

- Retornemos ao Pavilh��o, porquanto, logo mais,
quando o manto da noite descer sobre a Terra e nossa
Regi��o, teremos muito trabalho pela frente e algumas
realiza����es especiais.

129

Tormentos da obsess��o

Sem qualquer delonga levantamo-nos e, silenciosos,
beneficiando-nos das concess��es da natureza,
respirando em ritmo tranq��ilo e profundo, seguimos
na dire����o da entrada do formoso Nosocomio.


EXPERI��NCIAS
GRATIFICADORAS

Hospedado em agrad��vel apartamento situado
no Pavilh��o por onde caminhamos pela manh��, atendendo
�� gentileza do seu diretor que no-lo ofereceu
para o per��odo reservado ao nosso est��gio, quando
retornamos e despedimo-nos, fomos conduzido por
Alm��rio ao novo domic��lio.

Ficando a s��s, ap��s agradecer ao dedicado companheiro,
n��o me pude furtar a reflex��es oportunas.

Para onde dirigisse o pensamento encontrava
presente a miseric��rdia de Deus atrav��s dos Seus Embaixadores.
O amor desse Esp��rito superior, o vener��vel
Eur��pedes, conseguira edificar um ninho de paz
para alguns dos n��ufragos da jornada terrestre, especialmente
aqueles que n��o deveriam fracassar ante

o fragor das mar��s bravias que se sucedem na sociedade
terrestre, e, n��o obstante, sucumbiram... Honrados
pelo conhecimento da Revela����o Esp��rita, como
se houveram enganado, a ponto de retornarem em
situa����o calamitosa?! Os esclarecimentos e as adver

131

Tormentos da obsess��o

t��ncias oferecidos pelo Espiritismo constituem um
barco de seguran��a para a travessia org��nica no processo
evolutivo. No entanto, fazia-se expressivo o n��mero
daqueles que, mesmo informados da realidade
da vida, optaram pelas enganosas paix��es de breve
dura����o, entorpecendo a consci��ncia nos vapores do
ego��smo e dos desejos infrenes que os conduziram
ao malogro.

N��o s��o poucas as pessoas que, ignorando a Doutrina
Esp��rita e respeitando-a, acreditam que o fato
de algu��m esposar as li����es que defluem das p��ginas
luminosas da Codifica����o e das Obras que lhe
s��o subsidi��rias, de imediato o torna um ser renovado
e imbat��vel. Isso deveria ocorrer, sem d��vida, no
entanto, em raz��o das heran��as ancestrais negativas
e das m��ltiplas vincula����es com o v��cio, cujos
res��duos permanecem por longo per��odo impregnando
o perisp��rito, nem sempre o candidato �� edifica����o
de si mesmo consegue o objetivo a que se prop��e.
Para que isso aconte��a, torna-se imprescind��vel
todo o empenho e sacrif��cio pessoal, renunciando ��s
fortes tend��ncias perturbadoras, a fim de realizar a
transforma����o moral imprescind��vel �� felicidade.

O expositor, o escritor, o m��dium esp��rita, melhor
do que qualquer outro adepto da Doutrina do Consolador,
s��o portadores de altas responsabilidades, devendo
insculpir na conduta os conte��dos que oferecem
aos demais. Com destaque, por��m, o medianeiro
esclarecido, por sentir e manter contato direto com

o mundo extra-f��sico, tornando-se instrumento das
comunica����es dos imortais, est�� consciente do significado
dos valores morais que deve cultivar, a fim
de n��o se deixar dominar pelas fantasias e fanfarro

132

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

nices do gozo exorbitante, do ego��smo, do orgulho e
da presun����o que o tentam constantemente, mas n��o
disp��em de recursos mais valiosos e profundos para

o convencerem.
Sucede, no entanto, que o conhecimento apenas
n��o basta para oferecer resist��ncia a pessoa alguma
ante as inclina����es para o mal e para a desordem interior.
Ap��s consegui-lo, faz-se imprescind��vel vivenci��-
lo, passo a passo, momento a momento, mantendo
vigil��ncia e coer��ncia na conduta, a fim de n��o se
comprometer negativamente, desviando-se do caminho
da retid��o.

Simultaneamente, e n��o podemos olvidar, h�� um
advers��rio trai��oeiro e perverso, sempre alerta, para
torpedear as aspira����es de soerguimento daqueles
que se encontram comprometidos com a retaguarda.
S��o os inimigos espirituais, que devem merecer muita
aten����o. Testemunhas e acompanhantes dos homens
terrestres inspiram-nos, participam das suas
atividades, tornam-se companheiros insepar��veis do
seu comportamento. ��, no entanto, gra��as ao livre-
arb��trio de que cada qual disp��e, que conseguem interferir
nas vidas com as quais se associam, materializando
os seus intentos mals��os em raz��o da predomin��ncia
das inclina����es vinculadas ao egotismo, ao
orgulho, �� soberba, aos interesses mesquinhos, que
permanecem com as suas seq��elas tormentosas naqueles
que lhes tombam nas armadilhas.

Por outro lado, os bons Esp��ritos n��o cessam de
inspirar, de interceder, de oferecer prote����o a todos
quantos se lhes facultam a ajuda, utilizando-se de
todos os recursos poss��veis para que os seus afei��oados
consigam desobrigar-se dos compromissos as



133

Tormentos da obsess��o

sumidos, alcan��ando o patamar da vit��ria.

Precatem-se, portanto, aqueles que aspiram pela
felicidade e por alcan��ar ��xito nos empreendimentos
que realizam, com os recursos da ora����o, da paci��ncia
e do trabalho elevado, a fim de manter o pensamento
em faixa superior de reflex��es, evitando, desse
modo, ser alcan��ados pelos petardos mentais e
hipnoses dos seus comparsas de ontem, hoje investidos
de prop��sitos doentios e vingativos.

Encontrava-me, desse modo, extasiado com os
providenciais recursos de atendimento aos que tombaram
nos fundos abismos da insensatez durante a
jornada humana.

Refletindo em torno das instru����es recebidas, e
diante da vida estuante, recordava-me da frase lapidar
que encima incont��veis sepulturas terrestres:
Repousa em paz. Apesar disso, constatava que somente
existe movimento, nunca repouso absoluto,
mesmo em rela����o �� mat��ria que experimenta os fen��menos
transformadores das c��lulas e mol��culas. O
Esp��rito, esse peregrino da imortalidade, mesmo
quando em profunda hiberna����o, que �� sempre transit��ria,
est�� vivo e pulsante.

Ao mesmo tempo, como �� lament��vel a informa����o
inver��dica de algumas religi��es em torno do sono
perene at�� o momento em que soar��o as trombetas
anunciando o Dia do Ju��zo Final. A simbologia, que
assinalava o despertar de cada consci��ncia, foi transformada
em realidade, sem qualquer an��lise da sua
possibilidade.

Em toda parte a vida estua de maneira din��mica.
Morre uma forma para dar lugar a outra mais espec��fica,
ininterruptamente. A cada instante essa al



134

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

tera����o se apresenta no Universo. Gal��xias s��o absorvidas
pelos buracos negros e outras surgem gloriosas.
No entanto, na ��ptica desses religiosos ortodoxos,
o Esp��rito deve permanecer em atitude in��til, ou
segundo os negadores da vida, sucumbindo ante o
fen��meno biol��gico da desintegra����o molecular. S��o
conclus��es ing��nuas de ambos grupos, porque acostumados
ao conceito antropom��rfico de Deus, esquecem-
se de aprofundar-Lhe a grandeza.

Naquela Comunidade, a a����o era a mola mestra
a vibrar com dinamismo em toda parte. Continua����o
natural das realiza����es terrenas, convidava-nos ao
trabalho de auto-aprimoramento, de constru����o do
bem em favor do pr��ximo e de n��s mesmos, sem que
isso constitu��sse viol��ncia aos falsos cr��ditos para a
santifica����o.

O mesmo Sol que aquece a Terra e o incompar��vel
zimb��rio estrelado a que me acostumara contemplar
enquanto no corpo f��sico, ali estavam irradiando
beleza e concitando-me a reflex��es graves sobre a
excelsitude do Amor e a necessidade de crescimento
moral e espiritual.

Constitu��da de material espec��fico, male��vel ��
a����o do pensamento, quase tudo se assemelhava a
uma cidade terrestre aprimorada, sem os excessos
de perturba����o e tumulto, por��m, igualmente regida
por Leis e Estatutos pr��prios.

Compreensivelmente, o c��u de del��cias, no qual

o trabalho �� abominado, n��o deixa de ser monotonia,
insensatez e cansa��o... Da mesma maneira, o inferno
com as suas labaredas que ardem e queimam as carnes
da alma, sem nunca as consumir, n��o resiste a
qualquer indaga����o da l��gica em torno do amor que

135

Tormentos da obsess��o

nunca perdoa e sempre castiga com a eternidade o
erro relativo que foi praticado...

O Esp��rito �� legat��rio de si mesmo, armazenando
sempre as experi��ncias e ascendendo de esfera
em esfera, cada vez menos densa, at�� alcan��ar a Erraticidade
superior de constitui����o sublime.

Vigem e estuam em todo lugar o movimento, o
trabalho de solidariedade e de socorro de reeduca����o.
Sempre existem solu����es para os dramas mais
complexos e as desgra��as mais tenebrosas.

N��o me podia furtar, portanto, ao mergulho na
gratid��o ao Criador e a Jesus, que no-lO desvelara,
cujo exemplo de dedica����o e sacrif��cio infunde em
milh��es de vidas o desejo de servi-lO e distribuir miseric��rdia,
compaix��o e aux��lio por amor.

Os minutos corriam c��leres, pois que os momentos
de j��bilo parecem ser portadores de velocidade
incomum, enquanto aqueles de sofrimentos apresentam-
se lentos e int��rminos...

Procurando sintonizar com a psicosfera reinante,
aguardei a noite amiga para iniciar-me na a����o
socorrista e aprender a experi��ncia do servi��o fraternal.


Ap��s orar, agradecendo ao Senhor as concess��es
de que me via objeto, procurei alguns momentos de
repouso, pensando nas atividades que deveriam ter
lugar naquele Pavilh��o, conforme anunciara o gentil
orientador.

As vinte e duas horas Alberto me veio buscar,
conduzindo-me at�� um recinto simples, onde se encontravam
presentes diversos Esp��ritos treinados nas
excurs��es ��s zonas excruciantes e expungitivas das
faixas inferiores, o Dr. Ign��cio e o amor��vel Eur��pe



136

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

des.

Reunidos em clima de amizade e expectativa, o
Benfeitor exorou a superior prote����o para a tarefa programada
atrav��s de sentida ora����o, gerando um clima
ps��quico de inef��vel harmonia, ap��s o que, sintetizou:


- Desceremos em grupo a especial regi��o terrestre
de muito sofrimento espiritual, onde se homiziam
atormentados e atormentadores em desespera����o
rec��proca, todos eles, por��m, irm��os nossos que se
deixaram colher na rede das dissipa����es que se permitiram,
sucumbindo ante o fasc��nio das obsess��es
e da desenfreada conduta nas paix��es tenebrosas.
"N��o nos cabe, em momento algum, julgar aqueles
que se equivocaram, nem revidar ��s provoca����es
dos seus sic��rios impenitentes, igualmente infelizes,
na loucura que se permitem. A miseric��rdia de Deus
estende-se a todos igualmente, no entanto, somente
aqueles que come��am a despertar para a realidade
de si mesmos, logram beneficiar-se."

Fez uma pausa oportuna, e com entona����o de voz
que tra��a responsabilidade e zelo, acrescentou:

- Todas as criaturas terrestres - Esp��ritos reencarnados
que s��o - possuem percep����o medi��nica,
que o futuro se encarregar�� de estudar com seriedade,
a fim de ser utilizada com eleva����o, tornando-se
um sentido a mais que ser�� conquistado a pouco e
pouco, lentamente incorporando-se aos demais sensoriais.
O eminente Codificador informou que a mediunidade
radica-se no organismo, sendo, portanto,
uma conquista do processo evolutivo para facilitar o
crescimento do Esp��rito, que no corpo imprimiu essa
fun����o. Aqueles, no entanto, que s��o portadores de

137

Tormentos da obsess��o

capacidade ostensiva e se comprometeram antes do
ber��o em vitaliz��-la pelo exemplo de honradez e abnega����o,
quando se entregaram ao uso indevido das
for��as de que eram portadores, ataram-se a infelizes
advers��rios pessoais, assim como do Bem, que lutam
milenarmente para a instala����o da loucura no
mundo. Alguns deles, que se rebelaram contra Jesus,
por haver, no corrente mil��nio, sido v��timas das injusti��as
e dos crimes hediondos praticados contra as
suas exist��ncias e as daqueles a quem amavam, pelos
falsos crist��os do per��odo medieval, transformaram-
se em justiceiros e vingadores, que pensam desafiar
as soberanas Leis da Vida, sem compreender
que s��o utilizados, na alucina����o a que se entregam,
pela Divina Justi��a, que lhes permite serem os bra��os
que alcan��am os delinq��entes que com eles sintonizam,
para despertarem ap��s as dores extenuantes
que lhes s��o impostas.

"Rabinos judeus e mulah's mu��ulmanos, que foram
suas v��timas preferidas durante o per��odo da hedionda
Inquisi����o, e transferiram o seu horror ao suave
Mestre, em nome de Quem os seus algozes se
apresentavam, permanecem nessas prov��ncias de
aberra����es e crueldade, distantes da esperan��a e da
compaix��o. No entanto, isso ocorre, em raz��o do livre-
arb��trio de cada um, porquanto, no momento em que
�� disparado o raio do arrependimento e a s��plica lhes
escapa do cora����o dirigida ao Pai, s��o-lhes enviadas
as provid��ncias necess��rias para os atender. Nunca
cessa o amor soberano em favor dos seres sencientes."


Novamente fez sil��ncio, enquanto o pulsar da Natureza
clara pelos pirilampos estelares tornava-se li



138

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

����o viva de miseric��rdia dirigida a todos.
Logo ap��s, concluiu:

- Nossa atividade, logo mais, ter�� lugar em nosso
querido planeta, em regi��o pantanosa, que a imagina����o
humana descreveria como infernal. Nosso
objetivo �� resgatar Ambr��sio, que ali se encontra h��
quase duas dezenas de anos... Guardaremos vigil��ncia
e ora����o em nossa vilegiatura espiritual e faremos
parte da caravana da nobre Entidade que fora,
na Terra, a Rainha Isabel de Portugal, considerada
santa, que se dedica a esse mister h�� muitos anos
como mensageira do Amor, mantendo irrestrita confian��a
em Deus.
De imediato, notificados que a Caravana da magn��nima
Benfeitora chegaria em breves momentos, dirigimo-
nos ao jardim, a fim de aguard��-la.

A minha mente atropelava-se com interroga����es
que a ocasi��o n��o permitia esclarecer.

Procurei relaxar ante um gesto fraterno de Alberto,
que parecia entender-me a perplexidade e a inquieta����o,
passando a manter uma conversa����o descontra��da
e promissora com o gentil amigo.

Vimos acercar-se ent��o o grupo de trabalhadores
especializados em liberta����o magn��tica de Esp��ritos
aprisionados em regi��es dolorosas sob o comando
da nobre Senhora. Vestida com traje largo e simples,
que exteriorizava suave claridade procedente
do Esp��rito, sem qualquer sinal exterior de grandeza,
a santa da caridade trazia na m��o direita um bord��o
de subst��ncia transparente levemente azulada, enquanto
a sua aura irradiava incompar��vel majestade.
Aproximadamente cinq��enta colaboradores apresentavam-
se equipados com redes muito delicadas


139

Tormentos da obsess��o

e macas alvinitentes, alguns archotes apagados e
mais ou menos dez enfermeiros encontravam-se a
postos. A um sinal do Dr. Ign��cio, Alberto e eu nos
acercamos da Comandante, sendo apresentados carinhosamente,
na condi����o de aprendizes daqueles
servi��os espec��ficos de socorro aos infelizes espirituais.


Expressando um sorriso de indefin��vel beleza e
humildade, a Senhora nos distendeu uma n��vea m��o
com dedos delicados, que osculei com emo����o e reconhecimento
pela oportunidade que me facultava
junto aos seus cooperadores. N��o disse qualquer palavra
nem era necess��rio enunci��-la. O amor irradia
sentimentos que o verbo n��o pode traduzir.

Antes de descermos ao abismo terrestre, e porque
todos nos encontr��ssemos em silenciosa expectativa,
a Entidade santificada exorou a prote����o do
M��dico divino para o minist��rio de amor, e silenciando
avan��ou, por todos n��s seguida na dire����o do querido
planeta.

Seria dif��cil para mim explicar o admir��vel fen��meno
de volita����o que nos reunia sob a mesma vibra����o
no harmonioso deslocamento.

Pod��amos ver-nos aproximando-nos da Terra que
se agigantava diante de n��s at�� pararmos em um lugar
l��gubre, de aspecto truanesco.

N��o haviam passado vinte minutos, segundo os
meus c��lculos, e sent��amos as emana����es delet��rias
da regi��o enfermi��a e sombria, onde nenhum sinal
de vida se manifestava. Ao lado de p��ntanos p��tridos,
cavernas se abriam profundas em montanhas
escuras que limitavam a ��rea do paul dantesco. Reunindo-
nos �� borda do lama��al, demo-nos conta da


140
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

escurid��o reinante, como se nuvens carregadas cobrissem
a ��rea, vez que outra sacudida por trov��es
espocantes e rel��mpagos velozes. Concomitantemente,
o exalar de mat��ria em decomposi����o e os fogos
f��tuos que eram percebidos falavam sem palavras
sobre a zona morb��fica em que nos adentr��vamos.

A medida que nos adapt��vamos ao ambiente hostil,
percebemos as emana����es carregadas que subiam
do lodo tornando sempre mais densas as nuvens
que pairavam amea��adoras, como se estivessem carregadas
de tormentas incomuns prestes a desabar
fren��ticas e destruidoras.

A Senhora postou-se �� frente, enquanto os cooperadores
de imediato a seguiram formando uma fila
indiana silenciosa e austera. O nosso pequeno grupo
ficou entre os que carregavam as tochas e os padioleiros
vigilantes. Erguendo o bord��o que derramava
suave claridade, iniciou-se a marcha sobre o tremedal.
Os archotes foram acesos e produziam uma luz
branca que n��o se expandia, suficiente por��m, para
iluminar o charco que borbulhava amea��ador. Acompanhando
o Dr. Ign��cio e Alberto, que sempre seguiam
as pegadas que eram deixadas pelos visitantes,
eu mantinha a mente em Jesus e os sentimentos adornados
de compaix��o. Nesse estado de alma pude perceber
que, de momento a momento, na sombra das
lamas agitadas erguiam-se cabe��as que clamavam
por miseric��rdia e apoio, para logo afundarem no lodo
asfixiante. O vozerio, as exclama����es, os pedidos de
socorro e as queixas misturavam-se a blasf��mias e
recrimina����es que aumentavam �� medida que nos
adentr��vamos pela furna aberta na rocha por antigas
correntes d��gua, que a tornava perigosa, escorrega



141

Tormentos da obsess��o

dia...

Sem nenhuma palavra, conseguia captar o pensamento
do Dr. Ferreira, infundindo-me ��nimo e si-
lenciando-me as inquieta����es que come��avam a assaltar-
me. A densa treva era cada vez mais escura,
impedindo quase a irradia����o dos archotes acesos.
Entre um e outro rel��mpago, pudemos perceber que
acima do lama��al pairavam Entidades perversas, que
pareciam flutuar no ambiente, de aspecto indescrit��vel,
que as oleogravuras religiosas n��o conseguem
imitar pelo seu aspecto degenerado e apavorante, que
aplicavam relhos naqueles que se erguiam do charco
imundo suplicando amparo.

- S��o os perturbadores da ordem que nos visitam,
objetivando roubar nossos escravos. Pancada
neles...
E gargalhadas estent��ricas produziam estranhos
ecos na furna imensa.

- Ataquemo-los! - Gritou algu��m de aspecto feroz,
exibindo sua carantonha deformada, enquanto,
amea��adoramente eliminava fuma��a arroxeada pelas
narinas, erguendo bidentes e chibatas que estalavam
no ar pesado.
E como logo voltava a escurid��o, passado o instante
do rel��mpago, somente ouv��amos os protestos
e desafios, que n��o recebiam qualquer resposta.

A caravana avan��ava decidida, entre acusa����es
e doestos, acrimonias e agress��es verbais, at�� que
vimos erguer-se o bast��o da Senhora e os archotes
aumentaram a luminosidade. Nesse momento apresentou-
se uma ��rea imensa dentro da caverna, na
qual estorcegavam Esp��ritos aprisionados ��s paredes,
fazendo recordar alguns dos supl��cios da mitologia


142

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

grega, surrados sem piedade, outros acorrentados por
p��s e m��os, carregando pedras pesadas e removendo-
as de um para outro lugar, enquanto no lodo, afogando-
se sem cessar, in��meros se erguiam e novamente
desciam em terr��vel e inomin��vel sofrimento.

Novamente o bord��o se ergueu, e as redes foram
atiradas sobre o lameir��o, tornando luminosas as
malhas que pareciam pirilampos sobre o lodo. Muitas
cabe��as que se erguiam, percebendo o recurso
que poderia ser salvador, agarravam-se-lhes e gritavam
por socorro, enunciando os nomes de Jesus, de
Deus, de Maria, de alguns dos santos das suas antigas
devo����es, alardeando arrependimento e suplicando
amparo. De energia magn��tica muito bem
constitu��das, a novo sinal as redes foram puxadas pelos
bra��os fortes dos seus condutores e observamos
que, enquanto algumas se despeda��avam, deixando
no lugar, em agonia, aqueles que as seguraram, outros
eram colhidos e arrastados at�� os caravaneiros
que os retiravam e os colocavam, debilitados, nas
macas que de imediato eram distendidas para os receber.


Por algumas vezes se repetiu o admir��vel concurso
de prote����o aos infelizes.

Percebendo a ocorr��ncia, seres monstruosos, que
haviam sido v��timas de zoantropia por hipnose e que
se deslocavam no ar tentando impedir o atendimento,
eram recha��ados por outras redes protetoras que
foram atiradas sobre o grupo, impossibilitando qualquer
investida mal��fica dos dominadores da regi��o.

Enquanto se travava uma verdadeira batalha, em
que os perversos administradores da ��rea purgatorial
tentavam anular o esfor��o dos mission��rios do amor,


143

Tormentos da obsess��o

o venerando Eur��pedes acercou-se de uma parede
que exsudava putrefa����o e rompeu com as m��os as
cadeias que prendiam um Esp��rito desfalecido e deformado,
que lhe tombou nos bra��os, antes que os
sic��rios vigilantes pudessem interferir... Ato cont��nuo,
dois auxiliares tomaram-no e o colocaram em maca
protetora, iniciando-se o retorno, deixando para tr��s
o abismo aterrador.
Nesse comenos, c��es amestrados foram trazidos
e ati��ados contra a caravana. N��o me atrevi a olh��-
los na escurid��o banhada levemente pelos archotes
e os rel��mpados cont��nuos, porque o benfeitor me inspirava
�� ora����o e ao mergulho ��ntimo no amor de
Deus. Mais tarde, vim a saber que se tratava de terr��veis
mutila����es experimentadas pelo perisp��rito de
muitos seres desditosos que se vitimaram na Terra e
foram arrastados para aquele s��tio infeliz, onde experimentaram
hipnoses terr��veis e deformantes.
Quando, por fim, chegamos �� orla daquele verdadeiro
purgat��rio, que superava tudo quanto a imagina����o
pudesse definir, observamos que os Esp��ritos
recolhidos foram de imediato atendidos com fluidoterapia,
recebendo ligeiro asseio e atendimento
para que viessem a adormecer, a fim de n��o serem
criados impedimentos na viagem de retorno ao Hospital.
Novamente sob o comando da Rainha Isabel a
caravana ascendeu e, �� medida que se aproximava
da nossa comunidade, pod��amos ver o querido planeta
mergulhado em sombras, menos densas do que
aquelas localizadas onde estiv��ramos, banhando-nos
da claridade das estrelas que adornavam o zimb��rio
sobre a cidade onde resid��amos.


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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Logo chegamos, e os pacientes foram levados
com o grupo de visitadores, enquanto o enfermo espiritual,
que fora retirado das paredes e do erg��stulo,
foi encaminhado �� parte inferior do nosso Pavilh��o,
para receber o tratamento que lhe seria dispensado.

S�� ent��o fui informado pelo Dr. Ign��cio, que se
tratava de Ambr��sio, que motivara a excurs��o de miseric��rdia
e de socorro, n��o obstante tamb��m, j�� fossem
credores de aux��lios aqueloutros que vieram trazidos
ao N��cleo de renova����o e tratamento.


O INSUCESSO DE AMBR��SIO

De certo modo j�� familiarizado com incurs��es ��
Erraticidade inferior, aquela expedi����o, todavia, pelas
caracter��sticas de que se revestia, ensejou-me interroga����es,
que tive oportunidade de apresentar ao
gentil diretor no dia imediato.

Impressionara-me profundamente com o f��cies do
irm��o Ambr��sio, tendo em vista os sinais das sev��cias
que lhe haviam sido aplicadas e que se apresentavam
na forma, dando-lhe um aspecto dantesco. Os
tra��os humanos haviam sofrido graves altera����es e
todo ele se apresentava esqu��lido, destro��ado, inspirando
compaix��o e produzindo choque emocional
em quem o fitasse.

Adormecido, ao ser transportado ressonava de
maneira particular, em um repouso assinalado pelo
terror, natural reminisc��ncia dos sofrimentos e pavores
que experimentara durante o largo cativeiro naquela
regi��o de furnas macabras.

Concomitantemente, exteriorizava odores p��tridos
que remanesciam da decomposi����o cadav��rica,


146

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

ainda impregnada no perisp��rito, que igualmente se
exteriorizava sob deforma����es respons��veis pela
maneira como se encontrava em esp��rito.

Andrajoso, quase despido, a cabeleira desgrenhada,
como se houvesse crescido desordenadamente,
misturava-se �� barba hirsuta, de aspecto imundo,
a envolver a cabe��a, o rosto e parte do t��rax.

Os seus gemidos eram gritos de indefin��vel dor,
que antes provocavam nos algozes que o martirizavam
chala��a e mais azedume, e agora, um grande respeito
e compaix��o em n��s.

Naqueles d��dalos de onde provinha, n��o luziam
a miseric��rdia nem a esperan��a, e algu��m menos habituado
ao trabalho nas zonas espirituais inferiores
suporia tratar-se do inferno mitol��gico das religi��es,
ultrapassando, por��m, as figura����es horrendas das
imagina����es terrestres...

Quando o Dr. Ign��cio nos convidou a visit��-lo,
agora internado em nosso Pavilh��o, n��o sopitamos o
interesse de aprender mais e, rogando-lhe licen��a,
apresentamos-lhe algumas das inquieta����es que me
ardiam na mente.

Com a afabilidade que lhe �� natural, o distinto
escul��pio n��o se fez rogado, permitindo-nos f��ssemlhe
propostas as quest��es.

- Por que a Caravana - iniciei - era presidida pela
nobre benfeitora de Portugal?
Sem qualquer enfado ou indisposi����o, respondeu-
me:

- Desde quando desencarnara, deixando luminosas
li����es de caridade, que a celebrizaram na Terra, e
podendo desfrutar de justas alegrias em regi��es ditosas,
a fim de prosseguir no seu desenvolvimento

147

Tormentos da obsess��o

espiritual, a extraordin��ria Senhora optara por continuar
amparando o povo que o matrim��nio lhe havia
concedido para ser tamb��m sua fam��lia espiritual. Por
conseq����ncia, dedicou-se a socorrer igualmente os
desencarnados retidos em l��gubres paisagens de recupera����o
dolorosa, trabalhando para retir��-los dali,
oferecendo-lhes as oportunidades sacrossantas do
amor e do perd��o. Face ��s faculdades medi��nicas incontest��veis
que lhe exornaram a exist��ncia f��sica,
especialmente a de ectoplasmia, que lhe permitira a
realiza����o de v��rios fen��menos grandiosos e que foram
tomados por milagres pela ignor��ncia vigente na
��poca, poderia movimentar essas for��as agora intraps��quicas,
direcionando-as em favor dos Esp��ritos
mais infelizes, aprisionados ao remorso, �� consci��ncia
culpada, que se tornaram v��timas f��ceis de si mesmos
e dos seus advers��rios inclementes qu��o odientos.


Fez uma breve pausa, e logo adiu:

- Com um vasto patrim��nio de realiza����es espirituais,
fez-se muito amada, e quando se prop��s a
esse especial minist��rio de socorro, muitos valorosos
Esp��ritos se apresentaram para assessor��-la, contribuindo
para a diminui����o dos angustiosos sofrimentos
daqueles que estagiam nas esferas desditosas
e de dif��cil acesso. N��o que a miseric��rdia divina
deixe de possuir recursos extraordin��rios de atendimento
aos p��rias morais, que se permitiram homiziar
com outros semelhantes em con��bios nefastos. Gra��as,
por��m, �� sua eleva����o moral, granjeada no sacrif��cio
e na abnega����o, e �� especializa����o que se permitiu
atrav��s dos tempos nesse g��nero de atendimento,
a sua irradia����o vibrat��ria produz um vigoro

148

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

so campo de defesa, que os petardos mentais e as
agress��es dos verdugos desencarnados da Humanidade
n��o conseguem cindir.

"Sil��ncio, ora����o mental e amor s��o os equipamentos
exig��veis para que se possa tomar parte na
sua Caravana, ao lado de muito bem elaborada disciplina
interior, feita de confian��a em Deus e respeito
��s Suas Leis, a fim de que a perturba����o e o receio
n��o abram brechas tornando vulner��vel o conjunto.

"Para evitar rea����es desnecess��rias dos habitantes
e controladores desses l��bregos s��tios, ela diminui
a pot��ncia da energia que pode exteriorizar, irradiando
apenas a claridade suficiente para iluminar a
��rea visitada, mantendo os objetivos tra��ados, sem
deixar-se atrair por simula����es e armadilhas dos h��beis
artes��os do mal e da crueldade. Com certeza
existem numerosas Caravanas equivalentes, no entanto,
compromissos espirituais existentes entre ela
e o nobre Eur��pedes atraem-na periodicamente �� nossa
Comunidade hospitalar, a fim de oferecer a sua
valiosa e s��bia ajuda."

-E por que a fila indiana, para conduzir-se no
paul tormentoso? - inquiri, interessado.
- Por precau����o - redarguiu, calmamente. -O
campo de energia por ela aberto, ao marchar �� frente
do grupo, cria defesas em favor daqueles que seguem
na retaguarda. Ademais, o terreno pantanoso encontra-
se empesteado de vibri��es mentais e de detritos
ps��quicos que poderiam reter os caminhantes descuidados,
quais armadilhas distendidas por todos os
lados para impedir a fuga dos prisioneiros espirituais.
"Da mesma forma que na Terra a ast��cia perver



149

Tormentos da obsess��o

sa se utiliza de engrenagens s��rdidas para reter e
malsinar suas v��timas, considerando-se ser o nosso

o mundo causal, conv��m n��o esque��amos que aqui a
mente disp��e para o bem como para o mal, de muitos
arsenais de for��a, de que se utiliza conforme o est��gio
de evolu����o em que se encontra."
Porque o clima da conversa����o fosse agrad��vel,
prossegui, indagando:

-O nosso irm��o Ambr��sio constitui-se merecedor
de um socorro especial, tendo-se em vista haver
sido ele o motivo central da incurs��o vitoriosa?
Desenhando um suave sorriso na face, em raz��o
da pergunta algo ing��nua, o amigo educado retrucou:


- N��o h�� privil��gios nas Leis divinas, caro Miranda,
conforme sabemos. Nem pessoas ou Esp��ritos
existem que sejam especiais... O nosso irm��o Ambr��sio,
que hoje se encontra conosco, partiu da Espiritualidade
na dire����o do planeta terrestre cantando hosanas
de esperan��as e retorna destro��ado, aprisionado
no calabou��o que abriu para si mesmo atrav��s
da invigil��ncia, em raz��o de haver falido nos prop��sitos
que se comprometeu tornar realidade.
"H�� quase setenta anos mergulhou no corpo f��sico
sob a carinhosa assist��ncia de Benfeitores que o
inspiraram e se prontificaram a ajud��-lo por mais de
meio s��culo em atividades espirituais significativas.
Enriquecido com mediunidade ostensiva, preparou-
se para cooperar com a divulga����o da Doutrina Esp��rita,
devendo entregar-se ao minist��rio com abnega����o
e humildade. Em raz��o dos seus esfor��os direcionados
para o Bem n��o seriam regateados valores
que o auxiliassem na desincumb��ncia da tarefa.


150

Manoel P de Miranda/Divaldo Franco

"Recuperado de graves delitos cometidos no
campo do sacerd��cio cat��lico, no passado, no qual
se comprometera terrivelmente, o exerc��cio da med��unidade
iluminada pela Codifica����o Esp��rita ser-
lhe-ia a estrada de Damasco para o verdadeiro encontro
com Jesus. Embora a terapia valiosa de que
fora objeto, n��o conseguiu superar inteiramente o
homem velho e os v��cios derivados do ego��smo e da
presun����o, voltando a enrodilhar-se em cipoais mais
vigorosos, agora sem escusas, em raz��o do conhecimento
que possu��a sobre a vida espiritual..."

Fazendo uma reflex��o mais cuidadosa, concluiu:

- ... O corpo �� ainda uma armadura muito pesada
para o Esp��rito que sente o bloqueio dos compromissos
e desvaira nos arrazoados da insensatez, mesmo
quando advertido e orientado com seguran��a.
"Nosso amigo e irm��o Ambr��sio renasceu em
c��lido ninho dom��stico, onde o amor vicejava, a fim
de dispor de for��as para enfrentar e superar as agress��es
dos advers��rios desencarnados, que o vigiavam
desde a inf��ncia. Como n��o esquecemos, nesse per��odo,
os m��diuns ostensivos experimentam grandes
afli����es propiciadas pelos seus inimigos de ontem,
que tentam perturbar-lhes a marcha, impedindo por
antecipa����o a realiza����o dos programas para os quais
renasceram.

"Por isso mesmo, o carinho dos pais, as orienta����es
espirituais, particularmente as esp��ritas, constituem
o valioso recurso para criar resist��ncias morais
nos futuros trabalhadores da Causa do Bem, que
se poder��o dedicar sem receio aos compromissos iluminativos.
Foi o que aconteceu com o nosso candidato
�� reabilita����o. Se foi acicatado e perseguido por


151

Tormentos da obsess��o

diversos companheiros inamistosos que o afligiam,
n��o lhe faltaram o devotamento dos pais, especialmente
da m��ezinha que tamb��m era portadora de
percep����o medi��nica, ajudando-o no exerc��cio da ora����o
e dos bons costumes, a fim de que se imunizasse
contra as heran��as infelizes que se lhe encontravam
vivas no ��ntimo, mas tamb��m como tesouro de sustenta����o
para as lutas do futuro."

Caminh��vamos lentamente pelo corredor, na dire����o
da enfermaria em que se encontrava o rec��m-
chegado. Segurando-me o bra��o, afetuosamente, e
mudando de tom de voz, o nobre m��dico aduziu:

-A mediunidade �� compromisso de alta significa����o
que ainda n��o encontrou a necess��ria compreens��o
entre as criaturas encarnadas no mundo f��sico.
Por um atavismo perverso que teima em permanecer
dominante, �� quase sempre tida como favor divino
para eleitos, for��a sobrenatural, mecanismo prodigioso
e equivalentes, que tornam o medianeiro um
ser especial, quando n��o combatido tenazmente, tornando-
se-lhe uma armadilha cruel que o leva �� presun����o
e ao despaut��rio. Mesmo que procure viver
com simplicidade e demonstre que �� somente instrumento
do mundo espiritual, que a ocorr��ncia do fen��meno
independe da sua vontade, as criaturas viciadas
nas supersti����es e interessadas nas quest��es
imediatistas o envolvem em bajula����o, em excesso
de cortesias, em destaques embara��osos que quase
sempre terminam por perturbar-lhe a marcha... As
heran��as do pensamento m��gico, com que acompanham
as manifesta����es medi��nicas, fazem que se
transfiram para a criatura os m��ritos que pertencem
�� Vida, empurrando-a para trope��os e compromissos

152

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

negativos, sem for��as para resistir aos ass��dios de
todo porte que a circunscrevem em ��rea muito apertada
e conflitiva.

"Por outro lado, vigem a intoler��ncia sistem��tica
e a persegui����o gratuita �� faculdade medi��nica, por
uns considerada como de natureza demon��aca, por
outros como transtorno patol��gico ou sagacidade de
malabaristas interessados em enganar ou fruir resultados
monet��rios para o pr��prio bem. Embora injustas,
apoiam-se em algumas ocorr��ncias infelizes que
assinalam personalidades fr��geis ou enfermi��as, cuja
conduta sempre oferece margem para essas inditosas
afirma����es, totalmente destitu��das de significado
ou de l��gica.

"O nosso Ambr��sio conseguiu atravessar a inf��ncia
relativamente bem, suportando o cerco da hostilidade
dos inimigos da Verdade, amparado pelos
genitores vigilantes. Durante a adolesc��ncia, quando
os fen��menos se fizeram mais ostensivos, foi levado
a uma c��lula do Espiritismo crist��o, recebendo
apoio e orienta����o segura para a desincumb��ncia dos
compromissos que ficaram firmados na retaguarda.
A adolesc��ncia, com os seus tumultos org��nicos, produziu-
lhe alguns dist��rbios que foram superados com
boa orienta����o, e quando chegou a idade da raz��o,
dedicando-se ao trabalho medi��nico atraiu a aten����o
das pessoas desacostumadas com as aut��nticas
manifesta����es esp��ritas, que come��aram a cerc��-lo
de privil��gios, exaltando-lhe a personalidade e impregnando-
o com as infelizes influ��ncias, qual se tratasse
de um semideus com miss��o especial na Terra.

"Terminados os estudos e passando a exercer a
fun����o que elegera como recurso para uma vida hon



153

Tormentos da obsess��o

rada, gra��as �� exterioriza����o do ectoplasma produzia
manifesta����es seguras, que fascinavam os companheiros
honestos e deslumbravam os incautos. As
mensagens que retratavam os seus autores com riqueza
de detalhes tornaram-se motivo de interesse e
de atra����o para os cora����es saudosos, que se reconfortavam,
e o campo de servi��o ampliou-se-lhe, fascinante
e rico de oportunidades. Logo se criou uma
pequena corte de assessores ociosos e de pessoas
desinteressadas do Espiritismo, mas desejosas de
proje����o e de oportunismo, atraindo-o, lentamente,
para o abismo no qual se precipitou."

Demonstrando compaix��o e entendimento na
face e na voz, o dedicado amigo prosseguiu:

- Embora inspirado e bem direcionado pelos seus
Mentores espirituais, come��ou a negligenciar as advert��ncias,
supondo-se infal��vel e possuidor de recursos
que n��o lhe pertenciam, tornando-se verdadeiro
infante adulado, e exibindo os dist��rbios do
passado que come��aram a ressumar do inconsciente
profundo. Logo se fez ex��tico, tomando atitudes estranhas
e sintonizando com Entidades vulgares que
lhe exploravam a vaidade exacerbada, empurrando-
o para o anedot��rio chulo nas palestras doutrin��rias
que se permitia proferir, perdendo o equil��brio total e
a compostura a pouco e pouco. Os conflitos sexuais,
que estavam sob controle, tamb��m come��aram a assomar
nesse comenos, e tornou-se propagandista do
exerc��cio livre das paix��es da libido, em tons de modernidade,
como se liberdade e licen��as morais fossem
a mesma coisa.
"Inspirado e a��ulado por Entidades vulgares dos
comportamentos do sexo ultrajado, vampirizadoras


154
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

das energias humanas, foi empurrado para atitudes
p��blicas e particulares reproch��veis, gerando vexame
nas pessoas sinceramente vinculadas �� Doutrina
Esp��rita e embara��ando aquelas outras menos informadas
face ��s propostas expendidas, todas estranhas
aos c��nones espiritistas.

"N��o demorou muito e come��ou a sentir a mudan��a
radical que passou a operar-se em torno da
faculdade medi��nica. Os Esp��ritos nobres, recha��ados
pela sua vacuidade e presun����o, foram afastados
por ele mesmo, e outros, de eleva����o suspeita,
pseudo-s��bios e perversos, come��aram a influenci��-
lo, especialmente uma legi��o de artistas pl��sticos do
fim do s��culo passado e come��o deste, que mantinham
as paix��es que os consumiram, nele encontrando
campo ps��quico para o prosseguimento das alucina����es
a que se entregaram. Os efeitos f��sicos foram
cessando, e sob a tutela das insinua����es perturbadoras,
come��ou a preencher por conta pr��pria os espa��os
medi��nicos com ast��cia e manobras esp��rias,
sem entender a li����o silenciosa que lhe era ministrada
pelos Guias espirituais, chamando-lhe a aten����o,
aos retos deveres, �� honestidade, ao afastamento das
companhias mals��s de ambos os planos da vida.

"A perda e a suspens��o da mediunidade s��o efeitos
naturais das Leis soberanas, que fazem parte do
minist��rio a que se entregam todos aqueles que pretendem
servir ao Bem, em raz��o da n��o propriedade
desses recursos, mas apenas da possibilidade de sua
utiliza����o para fins edificantes e libertadores. S��o uma
verdadeira provid��ncia superior para advertir os incautos
e traz��-los de volta ao caminho do dever, o
que nem sempre, por��m, sucede.


155

Tormentos da obsess��o

"Fascinado pela chamada vida social, recalque
natural de dificuldades vividas na inf��ncia, passou a
desfilar como ser excepcional, que provocava exclama����o
e inveja nos c��rculos fr��volos dos meios em que
comparecia festivamente. Distanciando-se dos enfermos
e sofredores, fez-se rude no trato com as demais
pessoas, subestimando-as, soberbo nas express��es
comportamentais, verdadeiro astro da mediunidade
de ocasi��o, e em tudo quanto realizava em nome da
Caridade, disfar��ava embutidos os sentimentos de
autopromo����o e exibicionismo, longe, portanto, do
amor ao Bem e do culto irrestrito do dever.

"Desnecess��rio dizer que passou da obsess��o
simples para a fascina����o, quando n��o lhe faltaram
co-respons��veis, e, por fim, tombou, aturdido, na subjuga����o,
que o fez mais agressivo, quando n��o totalmente
vulgar."

Est��vamos chegando �� pequena e especial enfermaria
na qual se alojava o enfermo, quando o dedicado
diretor concluiu:

- Nesse estado de aliena����o espiritual e moral,
tornou-se a estrela das festas da futilidade, aplaudido
pelos incautos, seus semelhantes, e mentalmente
foi acometido pelos acicates dos inimigos desencarnados
que o exploravam e o induziam �� perda do contato
com os Benfeitores da Vida Maior. Numa noite
de horror, ap��s a exibi����o em uma das promo����es que
realizava com freq����ncia para lisonjear o pr��prio ego,
foi acometido de uma isquemia cerebral inesperada,
e n��o obstante atendido com urg��ncia, padeceu um
bom par de meses em tratamento hospitalar, sucumbindo
sob o ass��dio dos inimigos que o arrastaram
para a repugnante regi��o de onde foi agora retirado.

156
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

"A mediunidade �� ponte de servi��o, pela qual chegaram
�� Terra as informa����es do mundo espiritual,
ensejando a Allan Kardec a constru����o da incompar��vel
Obra que legou �� humanidade como patrim��nio
indestrut��vel para os tempos do futuro. No entanto
n��o �� imprescind��vel para a preserva����o da Doutrina,
que a dispensa, sendo o seu exerc��cio, sem a
prud��ncia e orienta����o do Espiritismo, sempre um risco
de imprevis��veis conseq����ncias para o seu usu��rio,
assim como para todos aqueles que compartilham
das experi��ncias sem controle."

Silenciando, convidou-nos a entrar.

Deparei-me com uma cena inesperada. O enfermo
encontrava-se sob forte indu����o hipn��tica ainda
em sono provocado. O aspecto horrendo permanecia
como na v��spera. Assistido por enfermeiros dedicados,
gritava com regular freq����ncia, como se continuasse
sob a��oites e lapida����es que experimentara.
Os odores f��tidos, embora diminu��dos, em raz��o do
ambiente assepsiado, continuavam, causando algum
mal-estar.

- Nosso amigo encontra-se em sono profundo
que lhe foi aplicado - esclareceu Dr. Ign��cio - porque,
ao despertar, face ao longo per��odo em que esteve
prisioneiro, poderia sair correndo em desespero,
pensando fugir da rocha a que se encontrava atado.
O nosso labor inicial �� fluidoterap��utico, a fim de
desvesti-lo das coura��as vibrat��rias em que se encontra
envolvido, at�� podermos chegar mais tarde ao
seu psiquismo anestesiado pelas energias dos algozes
que o entorpeceram desde os dias quando transitava
no corpo f��sico.
"Oremos com un����o, a fim de que nossa mente


157

Tormentos da obsess��o

possa envolv��-lo em vibra����es de harmonia, dissipando
as camadas de energia delet��ria que o subjugam,
mantendo as imagens cru��is que o dilaceram
mentalmente."

Sem mais detalhes, o amigo silenciou e mergulhou
em profunda ora����o, sendo acompanhado por
mim e pelos demais auxiliares presentes. Lentamente
uma suave claridade em tons alaranjados desceu
sobre o enfermo e um suave perfume invadiu o ambiente
contrastando com as emana����es enfermi��as que
foram ultrapassadas. Ap��s alguns minutos de ora����o
silenciosa, que se transformaram em b��lsamo para o
internado, fomos convidado a sair, deixando-o entregue
�� enfermagem competente.

No lado externo, Dr. Ign��cio informou-nos que, ��
noite, seria realizada uma reuni��o especial de tratamento,
contando com a presen��a da Senhora Maria
Modesto Cravo e do venerando Eur��pedes Barsanulfo,
para a qual me convidava.

Acompanhamo-lo at�� a porta do gabinete onde
nos despedimos, ali encontrando Alberto, que se disp��s
a continuar conosco.


TERAPIA ESPECIAL

�� hora aprazada, encontr��vamo-nos na enfermaria
onde se recuperava o irm��o Ambr��sio.

Dr. Ignacio requisitara a presen��a de duas damas
que n��o conhec��amos, a fim de contribu��rem com
as suas faculdades medi��nicas na atividade programada.


Est��vamos em sil��ncio e recolhimento, quando
deram entrada no agrad��vel recinto o venerando Eur��pedes
Barsanulfo e Dona Maria Modesto, que eu iria
conhecer com mais identifica����o a partir daquele
momento.

O ap��stolo sacramentano saudou-nos com equilibrada
jovialidade, enquanto a senhora Modesto limitou-
se a desenhar um sorriso na face delicada,
meneando a cabe��a em gesto de cumprimento silencioso.


A enfermaria mantinha-se em penumbra e pairava
a agrad��vel psicosfera amena que fora providenciada
desde a manh��.

��ramos, ao todo, oito participantes da empresa


159

Tormentos da obsess��o

esp��rita para o atendimento ao enfermo cujo drama
nos compungia.
Eur��pedes, tomando a palavra, sintetizou o programa
a ser desenvolvido:

- A transfer��ncia do nosso querido paciente para
este recinto n��o rompeu os v��nculos energ��ticos mantidos
com alguns dos verdugos que o retinham na
furna de afli����es. Foi deslocado espiritualmente, sim,
mas as fixa����es ps��quicas encontram-se-lhe imantadas
atrav��s do perisp��rito denso de energias morbosas.
"Iremos tentar deslocar algumas das mentes que
prosseguem vergastando-o, atraindo os seus emissores
de pensamentos destrutivos a conveniente e
breve di��logo, para, em ocasi��o pr��pria, torn��-lo mais
prolongado, mediante cuja terapia procuraremos liber��-
lo das camadas conc��ntricas de amargura e de
culpa, de necessidade de puni����o e de fuga de si
mesmo, at�� o momento de o despertarmos do sono
reparador, que lhe foi imposto por for��a das circunst��ncias."


De imediato fomos convidados a sentar-nos, os
m��diuns em torno da mesa pr��xima ao leito do paciente,
e os demais ao lado, em um conv��vio dul��uroso
e fraterno.

O nobre Eur��pedes levantou-se, e proferiu comovida
ora����o:

-Jesus, Incompar��vel benfeitor!
Tu que elegeste o amor como solu����o para todos
os graves problemas humanos, inunda-nos desse sublime
tesouro, para bem atendermos aos deveres que
nos dizem respeito neste momento.

Logo a morte se Te assenhoreou no G��lgota, e o


160

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

teu corpo foi inumado, desceste em esp��rito ao Abismo,
a fim de buscar Judas, que houvera enlouquecido,
deixando-se arrastar pelas for��as hediondas da
Treva, e o libertaste para recome��ar novas experi��ncias
ilumin ativas...

Incapazes de agir com a Tua superior vontade e
poderosa energia, ajudaste-nos a retirar da regi��o aflitiva
o Teu disc��pulo desvairado, agora necessitado de
socorro espec��fico, para que as pesadas escamas da
ignor��ncia e da loucura sejam-lhe igualmente liberadas.


Porque se acumpliciou com a sombra, perdeu o
contato com a Tua claridade mir��fica, permanecendo
nesta demorada situa����o de horror.

Ajuda-nos a libert��-lo daqueles que lhe engendra


ram a escravid��o, e, n��o obstante o largo per��odo de
impiedade com que o seviciaram, ainda teimam em
reconduzi-lo para os hediondos s��tios onde esteve at��
h�� pouco.
Penetra-nos com a Tua sabedoria e guia-nos no

dif��cil d��dalo, cujo acesso est�� ao nosso alcance, para
que n��o nos percamos nas suas rotas mentirosas.
Irriga-nos de ternura e conduze-nos com seguran��a
no labor que realizaremos em Tua homenagem.

Ao silenciar, pairavam no ar vibra����es harmoniosas,
interrompidas somente pela agita����o de Ambr��sio
que, no entanto, estava mais calmo.

Poucos minutos ap��s, uma das damas convidadas
come��ou o transe psicof��nico atormentado, agitando-
se e blasfemando em desconserto emocional
profundo, com a voz alterada e roufenha.

Palavras agressivas e gestos de viol��ncia denotavam
o baixo n��vel evolutivo do comunicante desen



161

Tormentos da obsess��o

carnado, enquanto exteriorizava vibra����es morb��ficas,
penosas.
Eur��pedes, profundamente concentrado, deixou-

o falar, facultando maior entrosamento com a m��dium,
e enquanto todos nos un��amos em prece silenciosa,
o visitante blasonou, agressivo:
- Com qual direito os senhores se adentram em
nosso recinto de justi��a, sem nosso consentimento,
com a presun����o de libertarem o r��probo e infame
criminoso? Onde ele estiver, n��o conseguir�� ficar livre
dos nossos v��nculos que foram muito bem fixados
durante os seus largos anos de depend��ncia do
nosso alimento mental. N��o lhes parece muita a aud��cia
da invas��o?
Sem qualquer desagrado ou agressividade como
revide, o Benfeitor esclareceu:

- N��o ignoramos o seu relato e o lamentamos
muito, tendo em vista a sua consci��ncia de parcial
responsabilidade no que nos narra, o que torna o irm��o
acusado, rec��m libertado de sua regi��o, como
sendo v��tima de si mesmo, mas tamb��m do caro visitante.
"N��o somos respons��veis pela apontada invas��o
da sua ��rea para ajudar o aflito que p��de fruir de lucidez
e anelar pela liberta����o, recordando-se que tamb��m
�� filho do Amor. Foi ele pr��prio quem nos propiciou
a busca, terminada a prova reparadora que se
imp��s, ao permitir-se o con��bio moral com os amigos...


"Cada qual sintoniza com aquilo e aqueles com
os quais se compraz. No momento em que muda o
direcionamento da aspira����o, passa a sintonizar noutra
faixa ps��quica e emocional, estabelecendo novos


162
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

compromissos..."

- E quem s��o os senhores - interrompeu com insol��ncia
mal disfar��ada - que se atrevem a adentrar-se
pela nossa prov��ncia?
Com a tranq��ilidade da sabedoria e da f��, respondeu
o amigo gentil:

- Que saibamos, todo o Universo pertence a Deus,
e as domina����es transit��rias mudam de m��os, conforme
as circunst��ncias. Desse modo, inspirados pelo
Pai Doador e Seu filho todo amor, buscamos atender
aqueles que Os evocam, e mesmo encontrando-se
retidos nos antros de pervers��o t��m o direito de ser
liberados.
"Gra��as �� interfer��ncia de Isabel de Portugal, a
nobre rainha das rosas, apiedada dos infelizes, foi
poss��vel buscar a ovelha perdida para recoloc��-la no
rebanho, j�� que se houvera extraviado por si mesma,
atra��da pelo canto enganoso do amigo infeliz e dos
seus compares."

A um sinal discreto, Dr. Ign��cio levantou-se e come��ou
a aplicar passes dispersivos no chacra coron��rio
da m��dium em transe, para logo distribuir vigorosas
energias na mesma regi��o, que facultava ao
agressor a perda do controle da situa����o.

Ato cont��nuo, o orientador prosseguiu:

- N��o pretendemos mudar-lhe a maneira de pensar,
de ver e de entender os atuais acontecimentos.
Os irm��os cru��is existem e proliferam, porque s��o alimentados
psiquicamente por aqueles que preferem
o engodo, o crime e a irresponsabilidade, trabalhando
com efici��ncia os bra��os da justi��a desvairada que
os alcan��ar�� nas suas esferas espirituais. Reconhecemos
que a sua como a exist��ncia de justiceiros es

163

Tormentos da obsess��o

pirituais �� resultado da alucina����o que grassa no
mundo das fantasias at�� quando se instale a verdade
nas mentes e nos cora����es.

Fez uma breve pausa, e notamos que o verdugo
passava por uma r��pida altera����o com sinais de entorpecimento
mental.

A seguir, o doutrinador completou:

-O nosso desejo, no momento, �� diluir os la��os
ps��quicos que o atam ao nosso irm��o, rompendo as
vincula����es doentias que t��m vicejado at�� ent��o entre
ambos. Confiemos, outrossim, que num dia n��o
long��nquo, o irm��o Ambr��sio certamente ser�� o mensageiro
da luz para o felicitar tamb��m. Por enquanto,
o amigo ficar�� hospedado conosco em recinto pr��prio,
onde come��ar�� com as reflex��es que lhe permitir��o
retroceder ou avan��ar, conforme o seu livre-arb��trio.
Quando silenciou, o agressor, adormecido, foi
deslocado do perisp��rito da m��dium e acomodado em
maca pr��xima que o aguardava.

Imediatamente Dona Maria Modesto, a inst��ncia
do mentor concentrou-se especialmente e vimos
Dr. Ign��cio tomar de delicado aparelho, constitu��do
por dois capacetes unidos entre si por um tubo transparente,
colocando cada um, respectivamente na cabe��a
de Ambr��sio e da m��dium.

A seguir, parecendo ligados por corrente el��trica
desconhecida, sendo, no entanto, de natureza ps��quica,
vimos que o tubo passou a deslocar um tipo
de energia viscosa que se desprendia do interior da
cabe��a do enfermo e que inundava a mente da senhora,
fazendo-a agitar-se.

Era a primeira vez que observava esse tipo de


164
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

transfer��ncia de energia ps��quica, mente a mente,
com finalidade terap��utica em car��ter medi��nico.

A m��dium foi sendo envolvida pela massa vol��til
e densa, que fora do tubo e do capacete movimentava-
se em torno da sua cabe��a, prolongando-se descendentemente
ao t��rax, parecendo produzir-lhe dores.
Gemidos e express��es de pavor tomaram-lhe a
face e a voz, enquanto Eur��pedes, atento, acompanhava
o fen��meno peculiar.

Subitamente prop��s �� Senhora em transe profundo,
inundada pelas sucessivas camadas de espesso
vapor, que liberasse as afli����es que a angustiavam.
Vimos, ent��o, o rosto congestionar-se envolto pela
n��voa em tonalidade marrom, que eliminava tamb��m
odor acre, nauseabundo, e contorcer-se, transmitindo
a todo o corpo os movimentos ag��nicos, quando,
ent��o, come��ou a falar:

-A sua vida �� nossa e voc�� deve funcionar como
um fantoche sob nosso controle... Ou��a nossa voz,
que �� a ��nica portadora de recursos para o conduzir
�� felicidade... Somos os conquistadores do Infinito e
dominamos as vidas que se nos entregam, possuidores
dos recursos que proporcionam poder na Terra,
destaque e gl��ria... Negociemos: voc�� cede um pouco
e n��s concedemos muito... N��o lhe faltar��o amor,
gl��ria, alegrias e posi����o de destaque...
Houve uma pausa r��pida, e a ouvimos exclamar
em afli����o:

- Morro! Asfixio-me nessa neblina venenosa. Socorro!
A voz sofrida provocava-nos compaix��o, enquanto
a sua agita����o denotava realmente um grande sofrimento.



165

Tormentos da obsess��o

O Mentor, que se encontrava na retaguarda da
Senhora, muito sereno, nimbado de suave claridade,
intercedeu, ajudando-a com palavras calmantes:

- Absorva essa energia infeliz, para libertar o
nosso paciente. O sacrif��cio de amor arrebenta as algemas
da loucura e da perversidade. Ofere��a a sua
contribui����o em forma de miseric��rdia.
Simultaneamente, procurava retirar com movimentos
r��tmicos as camadas que se movimentavam
em torno da cabe��a e dos ombros da Senhora, parecendo
an��is constritores que apertavam, produzindo
asfixia. Da cabe��a do Orientador a suave claridade
passou a envolver a massa que continuava avolumando-
se, at�� que, a um sinal, o Dr. Ign��cio retirou o capacete
do paciente, interrompendo o fluxo da nefasta
energia.

Eur��pedes continuou a operar em sil��ncio, movimentando
as m��os e desprendendo as vibra����es poderosas
do seu psiquismo iluminado, que se misturavam
com aquelas nefandas que foram sendo dilu��das,
a pouco e pouco, enquanto a m��dium continuava
extravasando mal-estar... Todos or��vamos, envolvendo
o instrumento median��mico em dulcidas e ternas
energias de amor que a vitalizavam, sustentando-
a no cometimento socorrista.

Alguns minutos transcorridos, e o envolt��rio viscoso
come��ou a desaparecer e a diluir-se como se
fosse transformado em vapor que se fizesse ��gua e
escorresse para o piso.

Como a opera����o transformadora continuasse, a
m��dium foi recuperando as caracter��sticas normais,

o ritmo respirat��rio n��o mais aflitivo, desaparecendo
da cabe��a, ainda encimada pelo capacete, as conden

166
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sa����es doentias.
Permanecendo em transe, expressou-se noutro
tom:

- Tenho medo e devo obedecer... Sou um r��probo
e necessitado... A minha fal��ncia moral �� sinal de desgra��a,
mas n��o h�� outra alternativa... O que aconteceu
comigo? Onde a promessa dos anjos, que j�� n��o
est��o comigo?
E mudando de tonalidade, p��s-se a gargalhar, estent��rica:


- Gozar, �� o lema... Viver enquanto o corpo me
permite a oportunidade... Logo mais vem a morte e
tudo se aniquila, ou n��o? Deus, meu, estou louco! Que
me aconteceu? Onde estou, e que fa��o aqui?
Tratava-se, para mim, de uma estranha comunica����o,
que n��o recebia a terapia da palavra gentil do
Orientador.

Continuou esse estado alterado de consci��ncia
na trabalhadora medi��nica.

Eur��pedes ouvia-a com aten����o, dispersando,
agora, ondas quase invis��veis �� minha percep����o ps��quica,
at�� que um grande sil��ncio tomou conta da
enfermaria.

O paciente acalmou-se, quase totalmente, e di��fana
claridade al��m daquela natural que inundava o
ambiente envolveu a sala em tons alaranjados suaves,
procedente das Ignotas Regi��es espirituais, em
decorr��ncia da concentra����o e das preces ali vivenciadas.


Dona Maria Modesto retornou ao estado de lucidez
sem denotar cansa��o ou mal-estar, nimbada de
delicada luz que dela se irradiava. Era portadora de
t��tulos de enobrecimento que lhe conferiam lumino



167

Tormentos da obsess��o

sidade pr��pria pelos servi��os de amor direcionados
�� Humanidade.

Eur��pedes, visivelmente jubiloso, ap��s dedicar palavras
de reconforto e agradecimento aos presentes,
levantou-se e orou:

-M��dico das almas!
Apresentamo-nos com as nossas dores e queixumes
�� Tua miseric��rdia, como filhos pr��digos de volta
ao Lar paterno, e Tu, Irm��o incompar��vel, nos recebeste
com j��bilo e compaix��o, envolvendo-nos nos Teus
recursos terap��uticos, libertadores.

Desnudamo-nos, abandonando os atavios da mentira
e da farsa, e n��o nos censuraste, nem nos acusaste
de queda ou delito.

Percebeste as chagas do nosso sentimento e colocaste
o b��lsamo curador, que agora nos diminui as
dores, ajudando-nos na recomposi����o.

Ensejaste-nos a oportunidade de trabalhar na Tua
vinha, e embora sabendo que n��o correspondemos ��
confian��a, n��o nos cobraste o dever interrompido ou o
fracasso cometido.

Somente tiveste compaix��o para com a nossa defec����o,
e bondade para facultar o nosso soerguimento.


Eis-nos novamente de p��, aguardando o que queiras
que fa��amos, j�� que ainda n��o sabemos discernir
ap��s o torvelinho que nos visitou...

Agradecemos-Te, Compassivo Benfeitor, e nos re


jubilamos por estarmos despertos, preparando-nos
para novos cometimentos, nos quais esperamos triunfar.


Permanece conosco, particularmente com o n��ufrago
que alcan��a esta praia de amor, por onde pas



168
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sas, qual acontecia na Galil��ia do passado, a fim de

recolheres os combalidos e cansados, os colhidos pelas
ondas furiosas das for��as inesperadas e poderosas.
Inundados de j��bilo, louvamos-Te e, reconhecidos,
pedimos-Te que aben��oes a tarefa que ora encerramos.


Todos est��vamos sensibilizados. O ambiente calmo
exigia sil��ncio, a fim de que a medita����o nos ensejasse
o entendimento das ocorr��ncias vividas.

Sa��mos discretamente, deixando os enfermeiros
encarregados de assistir ao irm��o Ambr��sio, que agora
dormia um sono reconfortante, sem os estertores
angustiantes, embora a express��o do rosto permanecesse
quase a mesma.

Fora da enfermaria, despedimo-nos do Terapeuta
e da sua auxiliar, das duas damas e do cavalheiro
que as acompanhara, ficando com o Dr. Ign��cio, que
parecia perceber o turbilh��o de quest��es que me agitavam
a mente.

Antes mesmo que o interrogasse, o M��dico convidou-
me a um momento de relaxamento no jardim
florido da entrada do Edif��cio, para onde nos dirigimos,
e enquanto as estrelas lucilavam ante a Natureza
tamb��m iluminada pela claridade arg��ntea da lua,
explicou-me:

- Realizamos, h�� pouco, uma atividade n��o comum
na ��rea dos fen��menos medi��nicos, conforme o
habitual entre os encarnados. Trata-se de uma experi��ncia
espec��fica para dist��rbios profundos, que se
fixaram no recesso do perisp��rito de Ambr��sio, alcan��ando
as delicadas tecelagens mentais do Esp��rito,
que lhe sofrem as conseq����ncias danosas.

169

Tormentos da obsess��o

"O objetivo inicial era romper a fixa����o mental
de um dos seus advers��rios, o que foi conseguido
gra��as �� psicofonia atormentada, retirando as energias
que lhe estavam imantadas e, momentaneamente
transferindo-as para a m��dium. Desligado psiquicamente
da sua v��tima, o retomo se lhe tomar�� mais
dif��cil, especialmente quando o paciente despertar
com outras disposi����es mentais, n��o mais facultando
campo vibrat��rio para sintonia com esse teor de
energia.

"J��, no caso do fen��meno de que foi objeto a Senhora
Cravo, observamos que n��o houve uma incorpora����o,
mas a retransmiss��o das id��ias e pensamentos,
no primeiro instante, que foram fixadas no enfermo
desde h�� muitos anos, quando ele se encontrava
no exerc��cio da mediunidade e come��ou a sintonizar
com essas Entidades perversas, que o sitiavam. Todas
aquelas frases eram hipn��ticas, que lhe foram
direcionadas atrav��s dos tempos e se tornaram grava����es
verbais a se repetir sem cessar, levando-o ao
desespero, �� obedi��ncia. Esse �� um dos h��beis mecanismos
geradores de obsess��es, porque o paciente
n��o tem como deixar de estar em contato interno
com os comandos devastadores, que terminam por
dominar-lhe o racioc��nio, a vontade, a emo����o..."

Reflexionou um pouco, parecendo coordenar o
pensamento, e continuou:

-Trata-se de t��cnicos desencarnados que d��o assist��ncia
ininterrupta ��s futuras v��timas que, desabituadas
ao exerc��cio dos pensamentos edificantes e
felizes, acolhem as indu����es negativas e prejudiciais
com as quais passam a sintonizar e comprazer se,
em mecanismos de fuga da responsabilidade,


170
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

transferindo sempre culpa e dever aos outros, que
julgam n��o lhes conferir a import��ncia que se atribuem.


"Normalmente sentem-se abandonados por todos
e pelas Leis, evitando reconhecer o desleixo pessoal
perante o compromisso assumido e passam ��
posi����o de v��timas, que n��o o s��o, facultando mais
franco interc��mbio mental com esses verdugos da sua
paz, de que n��o se d��o conta, ou que preferem n��o
cuidar com a necess��ria aten����o. Lentamente, se lhes
v��o fixando as manifesta����es da raiva contra os demais,
os ressentimentos se lhes aninham na emo����o
e se entregam ao desvario, conscientes ou n��o do
que est�� acontecendo. Quanto mais se permitem descuidar,
mais amplas possibilidades s��o oferecidas
aos inimigos, que os n��o liberam, at�� quando passam
ao controle mental soberano, empurrando-os para
as obsess��es por subjuga����o."

Novamente aquietou-se, e, recordando-se do fen��meno,
esclareceu:

- Para esse tipo de manifesta����o ps��quica, torna-
se indispens��vel um m��dium muito sens��vel e portador
de eleva����o espiritual, a fim de evitar impregnar-
se desses miasmas pestilenciais, que se tornam vibri��es
mentais e passam a ter vida embora transit��ria,
enquanto nutridos pelos geradores de energia.
Sendo retiradas as frases perturbadoras, s��o liberados
os centros pensantes, e ap��s um per��odo de torpor,
enquanto se refazem as sinapses perispirituais,
que volvem �� normalidade ao largo do tempo, o reequil��brio
volta a instalar-se.
"Desse modo, se tornou dispens��vel qualquer tipo
de esclarecimento, porquanto n��o se encontrava em


171

Tormentos da obsess��o

comunica����o qualquer Esp��rito, e sim, as id��ias que
atormentaram longamente o desavisado. A atitude
do Benfeitor era aquela mesma, desembara��ar a m��dium
das correntes mentais absorvidas, a fim de que
n��o permanecessem res��duos m��rbidos, enquanto as
dissipava com refinada t��cnica e concentra����o diluente
dos fluidos perniciosos."

Utilizando-se do sil��ncio natural, indaguei:

-A m��dium experimentou dores durante o transe,
face aos gemidos e express��es de ang��stia que
exteriorizava?
Paciente e educativo, respondeu:

- No estado de transe sonamb��lico, indispens��vel
��quele tipo de ocorr��ncia, pela falta da consci��ncia
alerta, n��o h�� qualquer sensa����o de dor ou de
sofrimento no m��dium. S��o os automatismos fisiopsicol��gicos
que produzem os estertores, as contra����es
e os gemidos. Devemos, por��m, levar em conta, que
�� necess��ria a abnega����o por parte do m��dium que
se oferece para esse delicado mister.
- Tendo em vista a informa����o, - voltei a indagar
- de que se tratavam as fixa����es implantadas no perisp��rito
do paciente? N��o poder��amos considerar a
comunica����o como sendo do corpo mental, conforme
designa����o de alguns espiritualistas do passado e
do presente, que asseveram ser a criatura humana
constitu��da por sete corpos?
- Poder��amos assim denominar parte do fen��meno
- respondeu com sabedoria - No entanto, a explica����o
n��o se aplica �� primeira fase da ocorr��ncia,
porque eram as id��ias e imagens que foram transmitidas
ao paciente e que ora se exteriorizavam. Naquelas
em que havia auto-reflex��o, poderemos con

172
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

siderar como dessa natureza, por haverem pertencido
ao enfermo. A tese dos sete corpos �� muito antiga,
e iremos encontr��-la nas revela����es primitivas do
pensamento indiano, mais tarde renovadas por Buda
e, atrav��s dos tempos, por diversas outras doutrinas
como a Rosacruz, a Teosofia, etc. Alguns estudiosos
desse conceito, tentando negar a comunica����o dos
Esp��ritos desencarnados, recorrem �� velha tese da
mitologia chinesa sobre as almas errantes, que permanecem
em volta da Terra, para dizer que s��o esses
casc��es mentais que se manifestam, enquanto outros
apelam para o corpo mental, na condi����o de condensa����o
de res��duos do pensamento que envolvem o
corpo astral... Preferimos a tese esp��rita, conforme a
desenvolveu o eminente Codificador Allan Kardec
que, no perisp��rito, situa recursos ainda n��o detectados
e que ser��o a chave para decifrar in��meros problemas
que dizem respeito ao ser humano, �� vida na
Terra...

"Face �� plasticidade de que �� portador, o perisp��rito
assimila os pensamentos que s��o elaborados
pelo Esp��rito, condensando-os e dando lugar ��s constru����es
que s��o do particular agrado do seu agente.
Eis porque as deforma����es, que experimentam muitas
Entidades, decorrem das pr��prias elabora����es
mentais, quando n��o s��o ampliadas por processos
hipn��ticos de companheiros perversos, que os obsidiam,
e o fazem porque encontram campo prop��cio
��s indu����es perniciosas.

"Foi o Dr. Hyppolite Baraduc, o nobre m��dico franc��s,
que se dedicou �� pesquisa do duplo et��reo, quem
denominou essa emana����o da mente, que p��de fotografar,
por corpo mental. Trata-se, naturalmente, de


173

Tormentos da obsess��o

um delicado envolt��rio, qual ocorre com o perisp��rito
em rela����o ao Esp��rito.
"A grande verdade �� - arrematou com um sorriso

- que somos aquilo que cultivamos mentalmente,
abrindo espa��o a sintonias correspondentes. N��o foi
por outra raz��o que o Mestre galileu nos advertiu: A
cada um conforme suas obras, que s��o decorr��ncia
natural dos seus pensamentos."
Considerando o adiantado da hora, o generoso
amigo convidou-me ao repouso, acompanhando-me
�� porta do meu recanto de paz, embriagado de emo����o
e reconhecimento a Deus por tantas concess��es
de que me sentia enriquecido.


A EXPERIENCIA DE LIC��NIO

As observa����es da experi��ncia, tendo por instrumento
o irm��o Ambr��sio, levaram-me a profundas
reflex��es.

O conhecimento das propriedades do perisp��rito,
conforme as l��cidas refer��ncias do eminente Codificador
do Espiritismo Allan Kardec, �� a ��nica forma
de compreender-se in��meros enigmas que dizem
respeito �� sa��de f��sica, mental e emocional dos indiv��duos,
bem como os processos de evolu����o do ser
humano. Sede da alma, arquiva as experi��ncias que
s��o vivenciadas, bem como os pensamentos elaborados,
transformando-os em realidade, conforme a
intensidade da sua constitui����o.

Eis porque a fixa����o de determinadas id��ias termina
por impor-se na face da criatura, exteriorizando

o seu comportamento interior, mesmo quando o disfarce
se apresenta ocultando as estruturas reais da
personalidade.
Gra��as a este poder pl��stico que lhe �� uma das
propriedades b��sicas, as id��ias demoradamente
mantidas levam a estados obsessivos-compulsivos,


175

Tormentos da obsess��o

que terminam por alterar a forma do ser que passa a
vivenciar uma monoid��ia degenerativa e desagregadora
da estrutura molecular, de que esse corpo sutil
se constitui. Essa condi����o permite que Entidades
perversas e vingativas induzam as suas v��timas a
assumir posturas bizarras e infelizes, mediante largos
processos de hipnose a que se deixam arrastar.
Esse fen��meno ocorre, todavia, porque h�� uma resson��ncia
vibrat��ria em quem entra em contato com
esses t��cnicos espirituais, encarregados de realizar
processos perturbadores. J�� pod��amos notar na face
do nosso rec��m-chegado os sinais da altera����o que
se operava, como conseq����ncia dos pr��prios e dos
pensamentos que lhe eram transmitidos.

As atividades que haviam sido realizadas traziam
como meta libertar o paciente das sucessivas camadas
mentais delet��rias nas quais se envolveu, realizando-
se o processo de fora para dentro, a fim de
que, ao despertar para a realidade l��cida passe a operar
a transforma����o no sentido inverso: do interior para

oexterior.
Cada um ��, portanto, o arquiteto das suas constru����es
de felicidade ou de desdita.
Jesus foi perempt��rio, quando prop��s: -Busca a
verdade e a verdade te libertar��.

�� de surpreender que muitas pessoas tomem conhecimento
da realidade, dos mecanismos libertadores
da vida, e, n��o obstante, optem pela escurid��o da
conduta, derrapando em compromissos insanos, que
as levam a derrapar nas terr��veis alucina����es que se
prolongam por largo per��odo, de forma a insculpir nos
refolhos da alma as leis de equil��brio e de harmonia
indispens��veis �� felicidade.


176
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Sucede que as Leis de Deus est��o escritas na consci��ncia,
e, por essa raz��o, ningu��m consegue fugir
de si mesmo, porquanto, para onde for, sempre se
conduzir�� conforme a estrutura moral e espiritual interior.
Porque essa realidade se exterioriza em ondas
de vibra����o compat��vel, os Esp��ritos nobres como os
inferiores as identificam, acercando-se dos seus agentes
conforme a sua constitui����o.

Aguardava o prosseguimento das terapias, quando
fui visitar o novo amigo acompanhado pelo generoso
Alberto.

Em retornando �� sua enfermaria, fomos gratificados
com a visita de bondosa Entidade, que nos foi
apresentada como sendo Lic��nio que, na Terra, por
sua vez, exercera tamb��m a mediunidade.

O visitante justificou-se, informando que houvera
conhecido o nosso Ambr��sio, quando ambos exerciam
o minist��rio medi��nico e abra��aram a Revela����o
Esp��rita.

Tive a alegria de conhecer o caro companheiro,
quando fui ouvi-lo por primeira vez em um Clube Recreativo
onde sua palavra era aguardada com entusiasmo.


Vivamente aclamado, o trabalhador do Bem j�� se
encontrava em franca decad��ncia espiritual, porque
se embriagara dos vapores da vaidade e da presun����o,
cercado por um grupo de admiradores que n��o
cessavam de o elogiar, como se estivesse a soldo do
mundanismo. J�� lhe faltavam a gentileza no trato com
as pessoas e a arrog��ncia se expressava na sua forma
de conduzir-se. No entanto, ao levantar a voz e
expor o tema que lhe houvera sido proposto, fui tomado
de surpresa ao acompanhar-lhe os profundos


177

Tormentos da obsess��o

conceitos ��ticos e filos��ficos bem como as conclus��es
esp��ritas que imprimia ��s frases muito bem elaboradas.
Com uma linguagem cl��ssica mas sem pedantismo,
passeou literariamente pela cultura da imortalidade
do Esp��rito desde priscas Eras, chegando �� atualidade
com verdadeira ��nfase e l��gica que a todos
sensibilizou.

"Enquanto o ouv��amos, eu meditava analisando
a pessoa que chegara, indiferente ao p��blico que ali
se encontrava ansioso, e o expositor feliz, quase meigo
e rico de conhecimentos, que produzia viva empatia
no audit��rio superlotado. Pude observar ent��o
que, durante a sua confer��ncia, face ao significado
do assunto, conseguiu romper a carapa��a infeliz que

o envolvia, entrando em sintonia com o Mundo espiritual
que passou a inspir��-lo por interm��dio de venerando
Mensageiro de Esfera mais elevada. O verbo
flu��a pelos seus l��bios em catadupas sonoras e
agrad��veis, enquanto dele se irradiava a energia do
Benfeitor que produzia incompar��vel bem-estar em
todo o p��blico. Concomitantemente, eu podia perceber
que outros Esp��ritos dedicados ao socorro pela
fluidoterapia aproveitavam-se da concentra����o natural
que se fizera no audit��rio interessado, passando
a descarregar energias saud��veis nas pessoas, que
as assimilavam, enriquecendo-se de for��as para o
prosseguimento da luta.
"Tamb��m eu me encontrava vivamente emocionado
e quase em l��grimas. Nesse estado de esp��rito,
me interrogava em sil��ncio: - por que o esclarecido
orador se permitia derrapar nos equ��vocos do mundanismo,
sabendo-se amparado por elevados Guias
da Humanidade, aos quais deveria submeter-se em


178
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

clima de humildade e servi��o? Evitei, no entanto, considera����es
negativas, porquanto todos somos ��dolos
com p��s de barro, fr��geis, incapazes de suportar c
peso das pr��prias imperfei����es."

Lic��nio olhou o enfermo com leg��timo sentimento
de compaix��o e solidariedade, logo prosseguindo:

- Terminada a alocu����o, ruidoso aplauso explodiu
natural, resultado do entusiasmo que a todos dominava.
Encerrada a solenidade, fez-se um c��rculo de
simpatizantes a sua volta, enquanto os zeladores da
sua pessoa procuravam impedir o acercamento dos
interessados em travar um contato, manter um di��logo
complementar ao tema apresentado, em total desconsidera����o
��s palavras que haviam sido pronunciadas.
Foi com dificuldade, que se rompeu o cerco defensor,
como se o m��dium-orador fosse uma estrela
dos entretenimentos terrestres e devesse ficar distante
dos seus f��s ardorosos.
"Infelizmente, ainda n��o se entendeu que Jesus
jamais se escusava. Nunca necessitou de defensores
da Sua integridade f��sica, moral ou ps��quica. Mesmo
na multid��o mais compacta, vagamente protegido
pelo Ap��stolo Pedro que O seguia �� retaguarda,
quando tocado pela mulher enferma, percebeu-o e
ajudou-a no seu apelo mudo... Lentamente, os m��diuns
v��o adquirindo status de santidade, tomando-
se intoc��veis, de personalidades extraterrestres, ou
de mission��rios especiais que devem evitar o contato
com as massas, com os necessitados, exatamente
aqueles para os quais veio em servi��o. Essa onda
modernista cultivada por alguns que se inebriam da
pr��pria pros��pia, termina por afog��-los na insensatez
e no despaut��rio.


179

Tormentos da obsess��o

"Conv��m nunca esquecermos que o Senhor �� o
nosso Pastor... e nos defende, desde que nos n��o permitamos
a leviandade de buscar os enredamentos
com o mal, a perversidade, a vulgaridade. Mantendo-
se atitude de equil��brio e nobreza, coloca-se uma
invis��vel tela transparente de fluidos entre as pessoas
e os instrumentos do Bem, dificultando atravessar
essa delicada mas poderosa barreira vibrat��ria, e franqueando
o acesso de todos ��queles que podem, de
alguma forma, contribuir espiritualmente a benef��cio
do seu pr��ximo".

Novamente silenciou, recapitulando a experi��ncia,
para logo continuar:

- Com a mente fixa no expositor, ele captou-me a
onda ps��quica e percebeu que se tratava de uma emiss��o
de simpatia, sorrindo jovialmente e distendendo-
me a m��o fraterna, que cumprimentei, para surpresa
dos seus corifeus levianos... A sua m��o puxou-
me como se tivesse necessidade de um amigo, e
quando est��vamos pr��ximos, com um sorriso espont��neo,
perguntou-me, jovialmente:
-�� a primeira vez que nos encontramos?
"Por minha vez, sorri afavelmente, e retruquei:
- Na atual reencarna����o, creio que sim. Por��m,
acredito que j�� nos conhecemos...
"Ele anuiu com satisfa����o, e prop��s:

- Que n��o seja, pois, a ��ltima. Gostaria muito de
privar da sua amizade, que me pode enriquecer na
trajet��ria que ambos estamos realizando.
"Ante a surpresa dos seus ac��litos, justificou-se
com a informa����o de que outro compromisso o aguardava
e saiu, deixando algo frustrados aqueles que o
houveram buscado para um conv��vio fraterno mais


180

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

pr��ximo.

"Voltamos a ver-nos e a estreitar rela����es nas semanas
seguintes, quando tive oportunidade de conviver
melhor com as suas afli����es e lutas, compreendendo
quanto se encontrava amargurado e inquieto,
inseguro ante os acontecimentos e, ao mesmo tempo,
paradoxalmente entusiasmado com os ��xitos sociais
e econ��micos."

As observa����es de Lic��nio, pela maneira tranq��ila
com que eram apresentadas, calavam-me profundamente
no cora����o, facultando-me melhor compreender
o m��dium que naufragara no mar tormentoso de
ondas encapeladas dos compromissos espirituais, e
aquele outro que, sob o coercitivo das afli����es alcan��ara
o porto de seguran��a. O primeiro intoxicara os
centros do discernimento com os vapores da presun����o
que se transformara em loucura destrutiva, enquanto
o segundo mantivera irretoc��vel o compromisso,
fitando o futuro, mas tendo como b��ssola o
dever e como leme as li����es s��bias da Doutrina Esp��rita
que introjetara para melhor vivenci��-las no presente.


Interrompendo-me as reflex��es, voltei a aten����o
para os oportunos apontamentos do visitante operoso.


- A partir daquele contato - aduziu o trabalhador
do Bem - passei a nutrir imensa simpatia pelo expositor
e m��dium, dando-me conta do perigo que o sitiava,
gra��as ao envolvimento emocional produzido
pelos auxiliares e fascinados que constitu��am o seu
grupo de adoradores.
"No primeiro encontro, terminada a alocu����o e
recuperada a consci��ncia l��cida, o h��bito mental do



181

Tormentos da obsess��o

entio a que se entregava na vol��pia dos prazeres dos
sentidos voltou a predominar-lhe na consci��ncia, e
logo se lhe acercaram os comensais infelizes da conviv��ncia
ps��quica, advers��rios de ontem que lhe urdiam
cuidadosamente o fracasso, e outros desordeiros
de ocasi��o se lhes associavam, locupletando-se
no banquete da vampiriza����o das suas for��as e energias
morais."

Deteve-se por breves segundos a contempl��-lo
ainda disforme e profundamente adormecido, continuando
a esclarecer com outro timbre de voz:

- A mediunidade, por mais vigor de que se revista,
jamais produzir�� com dignidade sob o a��oite interno
dos conflitos humanos, gerando a conduta reproch��vel
do seu possuidor. Compromisso de gravidade,
n��o se pode converter em instrumento de mercantilismo
danoso, nem de divers��o para fr��volos sem
conseq����ncias de alta periculosidade. Face ��s leis de
afinidade e de sintonia que vigoram em toda parte,
logo a instrumentalidade medi��nica passa a emitir
vibra����es de baixo teor, torna-se campo de extenuantes
combates com predomin��ncia de vicia����es
crescentes. N��o poucas vezes s��o os Esp��ritos perversos
que promovem a situa����o afugente, inspirando
os m��diuns ��s defec����es morais em raz��o da sua
fragilidade em rela����o aos valores ��ticos. No entanto,
tornando-se presun��osos, recusam-se a meditar
em torno das advert��ncias que lhes chegam de ambos
os planos da vida, negando-se ao auto-exame do
comportamento a que se afei��oam, expulsando do
conv��vio os amigos leg��timos que os passam a considerar
como inimigos, enquanto se deixam arrastar
pelos demais telementalizados dos referidos cru��is

182
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

advers��rios que tamb��m os utilizam para a grande
derrocada. Perdem os paradigmas da conduta, os par��metros
do equil��brio, tornam-se irrespons��veis, alteram
a linguagem para a compatibilidade com o chulo
e o atrevido, enquanto se exaltam pensando erguer-
se ao Olimpo da alucina����o. Nessa fase, encontram-
se instaladas as matrizes das obsess��es de longo
curso, e a queda ruidosa no abismo �� somente
quest��o de tempo.

Olhou-nos com imensa ternura, e completou:

- Longe de mim analisar as ciladas que foram preparadas
para colher o querido irm��o Ambr��sio. No
entanto, por experi��ncia pessoal, conhe��o a senda
de espinhos por onde transitamos todos aqueles que
desejamos servir �� Causa do Senhor sob chuvas, ��s
vezes, ��cidas, ou de pedras, noutras ocasi��es, que
s��o sempre as incompreens��es de todo jaez. Certamente
n��o �� f��cil resistir ��s investidas do mal. Todavia,
quando o m��dium se torna d��cil ��s orienta����es
dos seus Guias, seguindo-as, antes que as estabelecendo
ou impondo as que sup��e serem corretas, granjeia-
lhes a prote����o e o concurso. Ocorre, normalmente,
que a faculdade que permite as comunica����es ��
neutra em si mesma, dependendo das disposi����es
morais do m��dium, invariavelmente um Esp��rito comprometido
negativamente com a Vida e as experi��ncias
evolutivas.
"Em diversas ocasi��es tentei, nos encontros fraternos
que o mundo espiritual nos proporcionou, advertir
o amigo iludido, convidando-o a retornar ��s origens
do trabalho, na simplicidade, nos labores desobsessivos
e no socorro aos desencarnados em afli����o.
Demonstrando simpatia e mesmo sensibilizado


183

Tormentos da obsess��o

com minhas palavras, sorria, gentil, e retrucava-me:
"- J�� realizei essas atividades no come��o... Agora encontro-
me noutro patamar, em contato com Entidades
Superiores que n��o se envolvem com a problem��tica
dessa natureza, e que me norteiam os passos
para grandes cometimentos, para os espet��culos de
impacto que posso produzir..."

"Dei-me conta da gravidade do problema do amigo,
mas os deveres aos quais me afervorava, como o
atendimento aos pobres f��sicos, econ��micos, morais,
foram preenchendo-me as horas e os dias, e, embora
ouvindo coment��rios j�� desfavor��veis �� sua conduta
por alguns daqueles que o perturbaram com a sua
bajula����o desmedida, prossegui envolvendo-o em
ora����es intercess��rias, quando soube, posteriormente,
da aliena����o em que derrapou e da desencarna����o,
digamos, prematura, que o retirou do corpo."

Encontrava-se com os olhos marejados de l��grimas,
o que tamb��m ocorria conosco.

Foi nesse clima de solidariedade e compaix��o fraternal,
que Lic��nio nos convidou �� ora����o em favor do
companheiro em processo de recupera����o, com o que
todos concordamos, vitalizando o enfermo que se
beneficiou do concurso espont��neo da caridade fraternal.


Como o visitante estivesse de sa��da e eu j�� houvera
estado com o enfermo cordialmente, a inst��ncia
de Alberto acompanhamos o novo amigo que, muito
acess��vel, demonstrou-se gratificado pela oportunidade
de darmos prosseguimento �� conversa����o noutro
recinto.

A enfermaria situava-se na parte inferior do Pavilh��o,
onde se internavam os pacientes mais gra



184

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

ves. Assim, atravessamos o longo corredor ouvindo
as exclama����es e gemidos que venciam os obst��culos
das enfermarias, o que provocava certo constrangimento
pela impossibilidade de fazermos algo que
modificasse a situa����o dos aflitos al��m do que era
realizado.

Chegamos �� parte superior e nos afastamos do
edif��cio central, rumando para o parque onde um lago
transparente refletindo o c��u de azul turquesa, tornava-
se convite natural para um di��logo demorado e
esclarecedor. A brisa suave carreava ondas de perfumes
que nos envolviam agradavelmente. Pequenos
grupos espirituais espalhavam-se nas alamedas coloridas
pelas flores primaveris, enquanto outros encontravam-
se em conversa����o animada nos diversos
recantos programados para esse fim.

Porque nos encontr��ssemos em sil��ncio respeitoso,
Alberto, mais familiarizado com Lic��nio, solicitou-
lhe que nos informasse um pouco mais sobre as
suas experi��ncias medi��nicas, esclarecendo que o
interesse era justificado em raz��o do programa de
aprendizado a que me propusera naquele Nosoc��mio
espiritual. Informou-o, outrossim, que eu funcionava,
��s vezes, como rep��rter de acontecimentos fora do
corpo, transferindo as not��cias para os amigos da jornada
terrestre em convites oportunos para reflex��es
e aux��lios de esclarecimentos.

Sem fazer-se rogado, o amigo sorriu com amabilidade,
passando a informar:

- A mediunidade foi-me no planeta a cruz de eleva����o
moral, e prossegue como oportunidade de crescimento
interior, face ��s aspira����es acalentadas de
ilumina����o e paz.

185

Tormentos da obsess��o

"Quando for realmente valorizada conforme merece,
constituir�� para as criaturas humanas uma fonte
de inexaur��veis consola����es, assim como incompar��vel
instrumento de evolu����o. Por mim pr��prio
aquilato as suas b��n����os, porque renasci na Terra
com pesada carga de compromissos infelizes que me
cumpria atender, reabilitando-me e ressarcindo d��vidas.
Desde o ber��o, felizmente, experimentei a pobreza
e o desafio das dificuldades dom��sticas nos
bra��os de genitores atormentados que se me tomaram
verdadeiros benfeitores pelas exig��ncias, ��s vezes,
descabidas, e pelos sofrimentos que me impuseram,
sem dar-se conta certamente do que realizavam,
porque tamb��m obsidiados tornavam-se instrumento
daqueles que n��o desejavam o meu processo
de reeduca����o espiritual. A dor, desse modo, foi-me
sempre o anjo alerta, ensinando-me obedi��ncia e simplicidade.


"Os fen��menos come��aram a aturdir-me durante
a primeira inf��ncia, quando se me apresentavam in��meros
verdugos da paz a quem eu houvera criado
embara��os em passado n��o distante. Assustavam-
me, amea��avam-me e agrediam-me com freq����ncia
e impiedade. N��o obstante, Amigos espirituais afei��oados,
quais a minha av�� materna, a quem n��o havia
conhecido no corpo, sempre interferiam socorrendo-
me e orientando-me, carinhosamente ajudando-
me a compreender a ocorr��ncia penosa. Na adolesc��ncia
fiquei ��rf��o de pai, sendo felicitado mais tarde
pela presen��a de um padrasto caridoso que foi
enviado pelo Senhor, e que me ajudou a encontrar o
caminho da renova����o de que necessitava. Facultou-
me possibilidades para estudar e granjeou-me o tra



186
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

balho honrado para a conquista do p��o di��rio.

"Acompanhando os m��ltiplos fen��menos de que
me fazia objeto, levou-me a uma Institui����o Esp��rita,
que passamos a freq��entar sob os protestos veementes
de minha genitora, e onde aprender��amos as li����es
inquestion��veis da Codifica����o do Espiritismo
Embora viv��ssemos em cidade muito cat��lica, n��o
fomos incomodados quando da ado����o da nossa fe
religiosa, exceto por algumas pessoas menos informadas
e mais fanatizadas, o que �� natural. Aos vinte
e cinco anos de idade consorciei-me e transferi-me
para a capital com a esposa, a fim de cuidar dos interesses
da Firma em que trabalhava com dedica����o e
respeito.

"As sortidas das Entidades perversas eram constantes,
criando-me embara��os cont��nuos onde quer
que me apresentasse. Cal��nias, acusa����es sem qualquer
justificativa, antipatias inexplic��veis, azedume
e desprezo foram as armas de que se utilizaram atrav��s
de pessoas invigilantes para me aturdir. A pr��pria
esposa - alma querida que Deus p��s no meu caminho,
a fim de torn��-lo menos ��spero - experimentou
cruas persegui����es por ser-me fiel e permanecer
ao meu lado em todos os momentos dif��ceis. N��o resultando
favor��veis esses mecanismos de persegui����o,
outros surgiram em forma de coima impiedosa
por parte de senhoras insatisfeitas e vazias interiormente,
que procuravam compensa����o sexual, passando
a atacar-me com exig��ncias descabidas em nome
de paix��es atormentadas e sem qualquer sentido
moral.

"Felizmente, a trama sempre se desfazia, quando
nas reuni��es de desobsess��o os Benfeitores tra



187

Tormentos da obsess��o

ziam �� psicoterapia aqueles algozes impenitentes
que, atrav��s de mim mesmo se beneficiavam, mudando
de id��ias e comportamento. Mas n��o se tratava
de uma tarefa de f��cil execu����o, por motivos compreens��veis,
exigindo perseveran��a, ren��ncia, coragem
e f��."

O narrador fez um sil��ncio oportuno, dando-nos
tempo para a assimila����o das suas palavras repassadas
de sinceridade, logo prosseguindo ante nosso
interesse compreens��vel:

- N��o fomos aben��oados, a minha mulher e eu,
com a presen��a de filhos biol��gicos, mas o nosso era
e �� um amor profundo. Aos vinte oito anos de idade,
a esposa contraiu tuberculose pulmonar, e ap��s menos
de dois anos de rudes prova����es e dores libertou-
se do corpo, deixando-me profundamente sofrido.
Naqueles dias, a t��sica era considerada uma verdadeira
peste branca, arrasadora e insens��vel. A f��
esp��rita, no entanto, que j�� era o bast��o de seguran��a
da minha exist��ncia, fez-se-me mais vigorosa, sendo-
me poss��vel ent��o prosseguir abra��ando os compromissos
espirituais sem des��nimo ou solu����o de
continuidade.
"Naquela ��poca, eram comuns os m��diuns denominados
receitistas, que se faziam instrumento de
devotados m��dicos desencarnados, especialmente
dedicados �� Homeopatia, que atendiam aos enfermos
pobres que os buscavam nas reuni��es p��blicas ou
lhes escreviam cartas solicitando aux��lio. Eu me encontrava
entre esses servidores, e de cedo compreendi
a soberania das Leis em rela����o ��s possibilidades
humanas. No come��o, ap��s a desencarna����o da
esposa, experimentei a frustra����o decorrente do meu


188
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

insucesso medi��nico, n��o conseguindo salvar a companheira
enferma que tamb��m passara a receber o
tratamento conveniente do escul��pio a quem recorr��ramos.
E isso foi sempre tido em relev��ncia por alguns
companheiros, que expressavam suas d��vidas
quanto �� interfer��ncia dos bons Esp��ritos atrav��s da
minha faculdade, adindo que eu sequer conseguira
curar a esposa, como se isso dependesse das pequenas
possibilidades humanas de qualquer um de n��s.
Robustecido na f�� e sustentado pela palavra l��cida
do meu Guia espiritual prossegui com ardor, sem olhar
para tr��s."

Mais uma vez silenciou, por alcan��ar um momento
mais delicado da narra����o. Olhou em derredor,
como se buscasse a alma querida que estivesse prestes
a acercar-se-lhe, e explicou:

- Um homem que se consorcia e �� feliz, quando
lhe chega a viuvez, essa se lhe torna um fardo pesado
em demasia. Os h��bitos conjugais, o companheirismo,
a afetividade bem sustentada agora em falta,
transformam-se-lhe em vazio existencial que, muitas
vezes, conduz o solit��rio a precipitados relacionamentos
como fuga ou busca de solu����o, ou o empurram
para transtornos depressivos muito graves. Gra��as ��
ora����o e ao apoio da esposa desencarnada, que passou
a visitar-me, fui-me readaptando ao estado de
solteiro, quando o cerco dos Esp��ritos viciosos fez-
se-me mais rude, atirando pessoas desprevenidas na
minha dire����o, inspirando-lhes sentimentos contradit��rios
que eu tinha que administrar com muito cuidado,
face �� invigil��ncia que se permitiam e �� frivolidade
com que se apresentavam. Dentre algumas dessas
almas atormentadas, uma se me transformou em

189

Tormentos da obsess��o

intoler��vel presen��a. Dizendo-se apaixonada e recorrendo
a expedientes falsos sobre sermos almas g��meas
comprometidas, passou a assumir atitudes incompat��veis
com o bom tom, exigindo-me adotar um
comportamento en��rgico, dissuadindo-a de qualquer
pr��xima ou long��nqua possibilidade de futuro relacionamento
��ntimo, conjugal ou n��o. Desarvorada, promoveu
um esc��ndalo, no qual, totalmente incorporada
por Entidade leviana do seu mesmo jaez, acusava-
me de m�� conduta em rela����o a outra dama, de
quem tinha ci��me, gerando ambiente desagrad��vel
e psicosfera venenosa que davam margem a coment��rios
injustos e sempre do agrado daqueles companheiros
desocupados, que se comprazem em gerar
situa����es penosas... Foram dois anos de lutas severas,
mas sem desist��ncia de minha parte. Felizmente,
o reto proceder, a severidade imposta aos meus
atos, a disciplina na desincumb��ncia dos deveres fizeram-
se os meus argumentos de inoc��ncia, que terminaram
por prevalecer ante a insidiosa persegui����o.
Afastando-se da Sociedade, a pobre senhora entregou-
se ao alcoolismo, semidependente que j�� o era,
havendo sido essa a brecha moral por onde se infiltraram
as influ��ncias mals��s... Pouco tempo depois
desencarnou em lament��vel situa����o espiritual, sendo
arrebatada pelos seus comparsas de embriaguez
et��lica. Estou informado que, h�� pouco, ap��s mais de
vinte anos de padecimentos em regi��es de muito sofrimento,
foi recambiada �� reencarna����o em situa����o
de resgate penoso. Nunca esteve fora das minhas ora����es,
porquanto �� digna de ajuda e compaix��o.

"No passado pr��ximo, a mediunidade era vivida
com muito sacrif��cio, face �� ignor��ncia a respeito do


190
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Espiritismo e ��s informa����es propositadamente deturpadas
em torno dos seus postulados. Os m��diuns
��ramos vistos como pessoas esquisitas, endemoninhadas,
mantenedoras de estranhos pactos e ritos
com Satan��s, ou quando n��o, como possuidoras de
dons m��gicos e sobrenaturais, que descaracterizavam
o minist��rio. Permanecer com simplicidade e trabalhar
sem alarde, eram o compromisso estabelecido,
porquanto, como sempre ocorreu, enxameavam
tamb��m os oportunistas, os aventureiros, os interessados
exclusivamente nas quest��es materiais, que
esperavam recompensas na pr��tica medi��nica...

"Foi o caso do nosso irm��o Ambr��sio, que n��o
teve for��as para romper o cerco dos simpatizantes,
que se lhe fez em volta sob indu����o dos embaixadores
da Treva, que o atra��ram para o po��o fundo da
fal��ncia espiritual, conforme oportunamente os amigos
compreender��o.

"N��o conseguindo colher-me nas suas redes fortes
de perturba����o, os inimigos da Luz encontraram
outra forma de afligir-me. Entre os pacientes que recorriam
�� nossa Casa buscando o amparo dos Benfeitores,
apareceu um senhor de largos recursos financeiros
e de proje����o social, que se fazia acompanhar
de um filho enfermo de leucemia. Ap��s haver
tentado os recursos em voga, nada conseguindo, voltou-
se para a assist��ncia espiritual e a medicina homeop��tica
medi��nica. Jamais se lhe prometeu qualquer
resultado, sen��o aquele que a Miseric��rdia Divina
sabe, e apenas ela administra. A princ��pio, o jovem
apresentou sinais de melhora, o que muito animou
o genitor, para depois ser consumido pela enfermidade
pertinaz que o arrebatou do corpo... N��o obs



191

Tormentos da obsess��o

tante todos procur��ssemos consol��-lo, subitamente
pareceu enlouquecer, e acusou-me de exerc��cio ilegal
da Medicina, tentando responsabilizar-me pela
desencarna����o do filho amado. Foram dias muito sombrios,
mas tamb��m visitados pelas claridades espirituais,
porquanto, o pr��prio m��dico do jovem falecido
convidado a opinar, quando se pretendia instaurar
um inqu��rito contra mim, foi taxativo em assinalar
que a enfermidade era incur��vel naquela ocasi��o e
que os dias a mais que o jovem desfrutara poder-seia
considerar como d��diva de Deus, j�� que n��o havia
outra explica����o... O sofrido genitor aquietou-se, enquanto
n��s outros ficamos com o cora����o opresso e a
alma retalhada pela amargura da acusa����o e suas
duras penas..."

Est��vamos comovidos ante os testemunhos silenciosos
do trabalhador da Causa do Bem. Quantas
ren��ncias e afli����es que o mundo n��o conhece, assinalam
as almas de escol dedicadas ao minist��rio da
Verdade! Esses s��o os verdadeiros her��is, aqueles
que est��o crucificados nas traves invis��veis da cal��nia,
da perversidade e n��o se queixam, n��o blasfemam,
antes agradecem a Deus a oportunidade de
demonstrar-Lhe amor, sem abandonar a charrua da
caridade fraternal.

Ao dar continuidade �� narra����o autobiogr��fica,
Lic��nio obtemperou:

- As pessoas inadvertidas e apressadas pensar��o
que somos apologistas do sofrimento e preferimos
a dor como mecanismo de auto-realiza����o em
atitude masoquista com que nos comprazemos. Mas
est��o enganadas. Trata-se da realidade do cotidiano
existencial no mundo at�� hoje. A ��nica maneira que

192
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

se apresenta como ideal para o indiv��duo �� o enfrentamento
tranq��ilo e l��gico dos desafios, sem deixar-
se sucumbir ou perturbar, como s��i acontecer com
aqueles que, no s��culo, somente esperam o prazer, a
gl��ria, a ostenta����o, vivendo o transit��rio, o ef��mero,

o enganoso...
"Sob outro aspecto, a mediunidade bem exercida
faculta ao seu possuidor momentos de incompar��vel
beleza e ventura, contatos espirituais insuper��veis,
facultando a conquista de afei����es duradouras
e aben��oadas, que se lhes tornam enriquecimento
especial para os dias do futuro imortal. Ao mesmo
tempo, como existem aqueles que criam dificuldades
e sombreiam as horas do medianeiro com dores excruciantes,
produzindo dificuldade de todo teor, aproximam-
se tamb��m criaturas de elevada estatura moral,
que o cercam de bondade e leg��tima afetividade,
envolvendo-o em ora����es de reconforto moral e ��nimo,
a fim de que seja vitorioso no minist��rio desafiador.
N��o s��o poucos esses amigos ideais do servidor
de Jesus na mediunidade dignificada, que est��o sempre
pr��ximos para o ajudar sem qualquer interesse
de retribui����o, tocados pelos seus exemplos de f�� e
de coragem, de dedica����o e de trabalho."

A considera����o foi muito oportuna, funcionando
de maneira positiva, evitando que a melancolia ou a
ang��stia assinalasse a narrativa edificante do trabalhador
jovial.

E utilizando-me da interrup����o natural, indaguei-
lhe, interessado:

-E a esposa querida, ainda se encontra no plano
espiritual, residindo com o amigo?
- Sim - respondeu com espontaneidade. - Agora

193

Tormentos da obsess��o

preparamo-nos para outros misteres no futuro, que
desejamos ocorram na seara esp��rita que nos fascina.
Os tempos agora s��o mais favor��veis, embora as
criaturas, de certo modo, permane��am com muitos
conflitos e dificuldades. No entanto, o Espiritismo j��
desfruta de algum respeito e o campo �� prop��cio para
um esfor��o de renova����o preparando a Nova Era.

- Permito-me imaginar - continuei indagando que
o amigo dever�� estar de volta ao planeta querido
muito em breve, �� verdade?
Tomado pela mesma jovialidade, Lic��nio respondeu:


- �� claro que gostar��amos, Albertina e eu, de volver
ao prosc��nio terrestre ao amanhecer do novo Mil��nio,
a fim de podermos trabalhar pela extin����o das
sombras que, gradualmente ir��o cedendo lugar �� peregrina
luz da Verdade.
-E desde h�� quantos anos, o amigo se encontra
fora do corpo f��sico?
- H�� quase uma vintena de anos, o que n��o ��
muito, mas considero suficiente para estar preparado
para os compromissos do amanh��. No entanto,
como sabe o caro amigo Miranda, tudo depende de
muitos fatores que est��o sendo considerados pelos
nossos Maiores...
Est��vamos edificados diante de tudo quanto
ouv��ramos atrav��s da narra����o das experi��ncias
bem vividas pelo irm��o Lic��nio. Compreendemos,
ent��o, que havia chegado o momento de nos despedir,
porquanto as horas avan��avam sem que nos
d��ssemos conta e outros misteres esperavam-nos
a todos.

Agradecemos ao novo companheiro, colocan



194
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

do-nos ��s suas ordens para qualquer eventualida
de, e, ap��s abra��ar-nos, retornamos ao pavilh��o, Al
berto e eu.


IMPRESS��ES MARCANTES

Os dias transcorriam ricos de aprendizado. O
amigo Alberto revelava-se cada vez mais identificado
comigo nos labores dignificantes do Nosoc��mio.
Sempre que lhe era poss��vel convidava-me a excursionar
pelas depend��ncias do pavilh��o, onde defront��vamos
variados exemplos de queda e propostas de
ascens��o moral, de erros e programas de recupera����o
entre os pacientes.

Simp��tico e discreto, levava-me a visitar os companheiros
de luta que n��o souberam aproveitar a
oportunidade formosa da reencarna����o, seja porque,
fragilizados, n��o suportaram a carga da persegui����o
que sofreram ou porque, vitimados em si mesmos
optaram pelo equ��voco, quando deveriam conduzir o
fardo de prova����es com elevada postura moral. A verdade
�� que os internos daquele Nosoc��mio haviam
recebido demasiadamente da Miseric��rdia Divina,
que neles investira largo patrim��nio de esperan��a, e
retornaram vencidos, sem que os valores aplicados
se transformassem em oportunidade de crescimento


196
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

interior.

Pode parecer estranho, que pessoas informadas
da imortalidade do Esp��rito e familiarizadas com o
fen��meno das comunica����es medi��nicas permane��am
vulner��veis aos t��rridos ventos da alucina����o
terrestre, decorrentes do mergulho no organismo f��sico.
No entanto, a ocorr��ncia �� mais freq��ente do
que parece. Superados os primeiros per��odos do entusiasmo
com a constata����o da imortalidade e a possibilidade
de interc��mbio com o mundo espiritual, os
indiv��duos, que sempre est��o �� ca��a de novidades,
com as exce����es compreens��veis, adentram-se na
rotina e n��o se estimulam a novas empresas de estudo
e a����o em favor de si mesmos e do seu pr��ximo,
deixando-se anestesiar pela indiferen��a, ou se permitem
espica��ar pelo perfeccionismo, passando a
descobrir erro em tudo e em todos, num mecanismo
de autojustifica����o para a in��rcia a que se entregam,
ou para o afastamento dos deveres que lhes dizem
respeito.

A embriaguez dos sentidos �� muito forte, e n��o
raro prepondera em a natureza humana, dificultando

o discernimento dos valores reais em rela����o aos transit��rios.
Mesmo informados os indiv��duos sobre a legitimidade
da vida e de como se desenrolam os programas
de crescimento interior, escapam do dever,
procurando mecanismos psicol��gicos de racionaliza����o,
para se comprometerem negativamente, estabelecendo
v��nculos ps��quicos perniciosos com os Esp��ritos
insensatos e maus que pululam em toda parte.
Por outro lado, n��o disciplinados pela escola do
sacrif��cio a perseverar nos ideais de engrandecimento
humano, quando defrontados pelos problemas e


197

Tormentos da obsess��o

desafios, que s��o naturais em todos os empreendimentos,
passam a demonstrar mau humor e desconfian��a,
transferindo-se para outras prov��ncias de interesses
imediatos, abandonando os compromissos
relevantes.

Quando lhes sucede a desencarna����o, por��m, que
sempre parece chegar quando n��o se a est�� aguardando,
as tentativas de recome��o e repara����o apresentam-
se tardiamente e os conflitos assomam agora
em forma de remorsos in��teis, que mais estreitam
as amarras com os seus comensais criminosos.

O ser humano �� sempre respons��vel pelas injun����es
que se propicia, e porque portador de livre-arb��trio
e discernimento, deve optar pelo melhor, isto ��,
aquilo que lhe proporcione equil��brio e felicidade real,
sem a n��voa dos enganos.

Cada paciente com o qual travara contato naqueles
dias, ensejava-me vasto cabedal de informa����es
para o pr��prio burilamento interior. A todo instante,
em cada um patenteava-se a li����o que eu deveria insculpir
a fogo na consci��ncia: ningu��m foge da Vida, e
a mesma clamava aos meus sentimentos por compreens��o
e fidelidade m��xima aos deveres que me
diziam respeito.

J�� me encontrava no Hospital psiqui��trico por
duas semanas de enriquecimento espiritual, quando

o dr. Ign��cio me informou que desejava levar-me ��s
enfermarias onde se encontravam os irm��os son��mbulos.
Certamente, n��o me era estranha a situa����o
em que muitos Esp��ritos chegam �� Erraticidade e c��
permanecem por largo tempo anestesiados nos centros
da consci��ncia, at�� quando o Amor os recambia
�� reencarna����o em processos dolorosos de recupera

198

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

����o. Trata-se, muitas vezes, de suicidas, assassinados,
psicopatas, pessoas que haviam sido v��timas de
desencarna����o violenta e cujo processo de despertamento
era dif��cil em raz��o das circunst��ncias que
os arrebataram do corpo som��tico. No entanto, a forma
como o Diretor se referiu ��queles pacientes chamou-
me particularmente a aten����o, despertando-me
saud��vel curiosidade.

Terminados os seus labores diurnos, ��s 20h. o incans��vel
m��dico me aguardava no seu gabinete, para
onde rumamos, Alberto e eu.

Apresentando excelente disposi����o defluente do
bem fazer e da alegria de servir, recebeu-nos com demonstra����o
de afeto, logo dispondo-se a conduzir-
nos �� ��rea especializada.

- Trata-se de um lugar espec��fico em nosso pavilh��o
- acentuou com delicadeza - onde se encontram
amparados in��meros Esp��ritos em estado de hiberna����o
tempor��ria. A mente exerce em todos n��s, conforme
�� do nosso conhecimento, um papel preponderante.
A denominada mente abstrata concebe e o nominalismo
verbal envolve a id��ia que passa a ter exist��ncia
real, tomando forma e facultando-nos identificar
pensamentos, coisas, pessoas, assim como intercambiar
mensagens. Quando essas formula����es possuem
conte��do edificante, saud��vel, e aspira����es nobres,
transformam-se em paisagens de beleza e de
alegria, favorecendo o bem-estar e a tranq��ilidade naquele
que as cultiva. Da mesma forma, quando tendem
ao primarismo, ao exclusivamente sensorial, particularmente
nas ��reas do prazer e do mesquinho,
igualmente se convertem em prov��ncias de gozo r��pido
e sombrio, envoltas em n��voa densa, na qual se

199

Tormentos da obsess��o

movimentam e se vitalizam arqu��tipos grosseiros e
princ��pios espirituais em transi����o evolutiva. Noutras
ocasi��es, homiziam-se, nesses redutos mentais, Esp��ritos
profundamente asselvajados que se alimentam
dessas emana����es delet��rias em um c��rculo vicioso
entre o paciente, seus hospedeiros e vice-versa.
Como efeito do baixo teor dessas vibra����es, a
mente degenera na sele����o de mensagens e retrai-
se, fixando-se apenas naquelas em que se comprazem
os indiv��duos. Com o passar do tempo, quase
monoidealizando-se, o Esp��rito deixa de emitir novos
influxos ps��quicos e o perisp��rito sofre altera����es correspondentes,
retraindo-se, volvendo ��s express��es
iniciais...

"Difere esse processo dos lament��veis casos de
zoantropia, licantropia e diversos equivalentes, porque
n��o s��o produzidos por hipnose exterior, mas por
exclusiva responsabilidade do enfermo.

"Nunca ser�� demasiado insistir-se na necessidade
da educa����o do pensamento, na disciplina das
aspira����es mentais, nas buscas ps��quicas relevantes,
a fim de evitar-se o enredamento nas malhas das
pr��prias constru����es idealizadas."

Descemos ao piso inferior, j�� nosso conhecido,
no qual se encontrava Ambr��sio, aproximando-nos
de uma dentre v��rias enfermarias de maior porte, e
adentrando-nos cuidadosamente. Embora se tratasse
de uma sala de dimens��o expressiva, com janelas
que davam para o exterior - mesmo a constru����o se
encontrando em uma esp��cie de subsolo - as mesmas
eram resguardadas por cortinas espessas para
impedir a claridade que pudesse vir de fora. Apesar
da suave luz que se derramava do alto, pairava no


200
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

ambiente uma t��nue n��voa pardacenta que cobria
praticamente todo o ambiente acima dos leitos bem
cuidados e paralelamente arrumados em ambos os
lados, mantendo uma ampla passagem central que
os separava. Na parte do fundo, pude observar que
havia alguns biombos, que recordavam os existentes
nas enfermarias terrestres, para preservar a intimidade
dos doentes. Sentia-se tamb��m um odor nauseante
especial, conforme percebera nas visitas a
Ambr��sio, enquanto diversas Entidades amigas, vigilantes
e dedicadas, permaneciam silenciosas assistindo-
os a todos.

Pod��amos escutar tamb��m o ressonar pesado dos
adormecidos, com varia����es de ritmo, que certamente
representava o estado de torpor ou de pesadelo
vigente em cada qual.

Acercando-se de um leito assistido por uma Senhora
que denotava eleva����o espiritual, o Diretor saudou-
a afavelmente e apresentou-nos sem maiores
explica����es.

-A querida amiga - disse-nos com naturalidade
-�� a genitora do irm��o Agenor, que se encontra em
estado sonamb��lico, h�� mais de dois anos entre n��s.
Com freq����ncia vem visitar o filho e envolv��-lo em
energias diluentes do casulo no qual se encarcerou.
A sua const��ncia e amor t��m contribu��do eficazmente
para o refazimento do jovem equivocado, lentamente
arrancando-o da auto-hipnose que se permitiu
embora inconscientemente.
A Dama, que irradiava cativante simpatia, sorriu,
e acrescentou:

- Percebo-o mais calmo e j�� consigo emitir pensamentos
que lhe ressoam na casa mental, convidan

201

Tormentos da obsess��o

doo a sair do esconderijo onde se oculta.

Dr. Ign��cio solicitou-me que me concentrasse na
��rea correspondente ao enc��falo do adormecido. Todo
ele fazia recordar uma cris��lida, no seu processo de
transforma����o. Havia adquirido estranha apar��ncia,
envolvendo-se em an��is constritores que se movimentavam
ao ritmo respirat��rio. As formas convencionais
e humanas haviam sido substitu��das pela esdr��xula
carapa��a que o envolvia externamente, apesar
de a respira����o eliminar a mef��tica subst��ncia que
se adensava no ar em contato com a predominante
no recinto.

Tomado de sincera compaix��o, e mentalizando o
Mestre Jesus, procurei direcionar o meu pensamento
para a ��rea correspondente ao c��rebro, e, �� medida
que ali me fixava, pude observar que penetrava o
envolt��rio grosseiro, podendo acompanhar a luta que
era travada pelo Esp��rito mergulhado em ang��stia
inomin��vel. Tratava-se de um encarcerado esfor��ando-
se para libertar-se da constri����o entre blasf��mias
e impreca����es, amea��ando-se de exterm��nio com interregnos
de alucina����o e gritaria infrene. Pela sua
mem��ria repassavam, como numa tela cinematogr��fica,
os atos que havia cometido e que respondiam
pela situa����o penosa em que se encontrava, sofrendo
inenarr��vel afli����o que, no entanto, n��o o conseguia
consumir. Fixa����es mais severas repetiam-se em
terr��vel continuidade, impedindo-lhe qualquer disposi����o
para pensar ou elaborar algum mecanismo de
liberta����o. Nessa rude peleja surgiam com rapidez
momentos de calma, que pareciam anim��-lo, para logo
recrudescer o tormento. Naquela vis��o profunda, apareciam
as imagens do passado, especialmente as


202

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

decorrentes do uso infeliz que fizera da exist��ncia
dedicada ao prazer, e, por fim, ao mergulho em dist��rbio
depressivo sob a a����o mental de vingador inclemente
que o induziu ao suic��dio...

Retomando a lucidez e demonstrando a surpresa
em tomo do terr��vel flagelo moral que infelicitava o
paciente, dr. Ign��cio veio-me em socorro, esclarecendo-
me:

- Agenor, o nosso irm��o, nasceu em lar feliz, amparado
pela abnega����o materna, que n��o soube valorizar
desde os verdes anos da exist��ncia f��sica. Convidado
ao estudo do Evangelho no Lar, realizado pela
m��ezinha, escusava-se, renitente e ingrato. Reencarnara-
se, como �� normal, para recuperar-se de graves
delitos, e o Espiritismo dever-lhe-ia ser a diretriz de
seguran��a para caminhar com acerto, produzindo no
bem e recuperando-se do mal que jazia nele pr��prio.
Embora a insist��ncia da genitora, pouco assimilou
das li����es esp��ritas e crist��s. Logo lhe foi poss��vel,
entregou-se aos disparates sexuais, enveredando
pelas drogas de consumo f��cil. Nos intervalos, quando
despertava dos estados de alucina����o, encontrava
a m��ezinha vigilante a convid��-lo �� mudan��a de
comportamento, sem que os resultados se fizessem
eficazes. Nesse comemos, adveio a desencarna����o
da senhora, crucificada no sofrimento que ele lhe impunha,
e, logo recuperando-se no Al��m, compreendeu
que somente o tempo seria o grande educador
do filho rebelde.
"Os anos sucederam-se, multiplicando desequil��brios
no nosso paciente, que mergulhou em prostra����o
e dist��rbio de melancolia, em depress��o, mais
consumindo drogas, at�� que, inspirado pelos Esp��ri



203

Tormentos da obsess��o

tos perversos com os quais convivia mentalmente,
desertou do corpo atrav��s de uma superdose."
Houve um sil��ncio, repassado de piedade e emo����o,
ap��s o qual, continuou:

- Pode-se imaginar a dor materna; mas, submissa
aos des��gnios de Deus e conhecedora das leis que
regem a vida, ao inv��s de censurar ou esquecer o filho,
empenhou-se em prosseguir auxiliando-o, conseguindo
ampar��-lo al��m da morte com a sua posterior
transfer��ncia para nossa Casa, depois de um per��odo
de tempo expressivo em que o mesmo permaneceu
em regi��o espiritual correspondente �� situa����o
de suicida. H�� quinze anos desencarnado, encontra-
se entre n��s, conforme informamos, h�� vinte e
cinco meses em processo de recondicionamento e reequil��brio.
"Os momentos de calma, que foram observados,
s��o j�� o resultado das indu����es aben��oadas da genitora,
que o tranq��ilizam por breves momentos, e que
se ir��o ampliando at�� que sejam conseguidos mais
significativos reflexos de paz no seu mundo interior
desestruturado."

Porque se fizesse um sil��ncio espont��neo, alonguei
o olhar na dire����o do leito pr��ximo, e pude ver
outro paciente envolto em vibra����es escuras, que o
apresentavam como se fosse uma m��mia enla��ada
por ataduras especiais que o mantinham im��vel.

Acompanhando-me a express��o de surpresa, o
Benfeitor auxiliou-me o entendimento, inform��ndome
que se tratava de uma deformidade muito especial
do perisp��rito, que fora mutilado pela mente encarnada
com ambi����es desmedidas, produzidas tamb��m
por terr��vel incid��ncia obsessiva de h��bil hip



204

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

notizador sem a indument��ria carnal, que induzira
aquele Esp��rito a atitudes de pervers��o sexual demorada,
levando-o a retomar a postura larval...

"N��o obstante - prosseguiu com gentileza - fosse
conhecedor da vida ap��s a morte, porquanto se
houvera dedicado a experi��ncias medi��nicas, as perturba����es
do sexo insaci��vel conduziram-no ao desrespeito
pelo santu��rio gen��sico, corrompendo diversas
pacientes que lhe buscavam o apoio terap��utico,
porquanto se apresentava como portador de valores
dessa natureza. M��dico que era, percebera que, na
raiz de muitos transtornos psicol��gicos e dist��rbios
org��nicos, existem raz��es anteriores �� concep����o,
face ��s conseq����ncias de condutas equivocadas em
outras exist��ncias e subseq��entes perturba����es espirituais,
concebendo estranho m��todo de atendimento,
e conseguindo, ��s vezes, dialogar com os desencarnados
em perturba����o, sensibilizando-os, em
algumas ocasi��es. Com avidez incomum para amealhar
moedas e a��odado no comportamento sexual pela
mente transtornada, seduzia as pacientes que o buscavam
aflitas, mantendo con��bios infelizes sob a justificativa
de que, atrav��s desse relacionamento, se
lhes tornava mais f��cil a recupera����o da sa��de. H��bil,
na conversa����o, e sedutor, iludiu algumas mulheres
que lhe ca��ram nas teias ardilosas, e quando algumas
se apresentaram gr��vidas, n��o trepidou em
propiciar-lhes o aborto criminoso com que se evadia
da responsabilidade paterna.

"Como ningu��m consegue desrespeitar as Leis
da Vida sem sofrer-lhes as imediatas conseq����ncias,
uma jovem se lhe afei��oou apaixonadamente, transformando-
se em fardo desagrad��vel. Havendo con



205

Tormentos da obsess��o

cebido dele um filho, e sendo obrigada a abort��-lo no
quarto m��s de gesta����o, ao ser desprezada com indiferen��a
apelou para o suic��dio, em que sucumbiu
martirizada e desditosa... Despertando em profunda
desola����o e vigiada por verdugos impenitentes, foi
arrebanhada por um dos perversos inspiradores do
insensato, que a conduziu ao campo vibrat��rio do
desarvorado, ampliando-lhe os tormentos mentais
que j�� o sitiavam interiormente. Vencido pela consci��ncia
de culpa, passou a recordar-se da jovem obsessivamente,
a ouvi-la na tela mental e a desej��-la
como anteriormente, enquanto prosseguia nos desatinos
a que se entregava cada vez mais ��vido e alucinado..."


Dr. Ign��cio acercou-se do leito e, convidando-me
a observar profundamente o que existia al��m da camada
externa que envolvia o Esp��rito, pude detectar-
lhe a deformidade que o assinalava, fazendo recordar-
me o estado de larva que precede �� forma definitiva.
Somente que, ali, ocorria o oposto: as desvairadas
aspira����es que o dominavam perturbaram-lhe em
demasia a mente, e a hipnose bem urdida pelos inimigos
produziu na plasticidade do perisp��rito a degeneresc��ncia
chocante que agora se manifestava.

Pude perceber tamb��m, que mentalmente continuava
ligado �� suicida que se lhe imantava ao pensamento
embora estando distante, enquanto vozes
desesperadas e acusadoras ressoavam na ac��stica
mental, recordando-o dos crimes cometidos.

- Aqui est�� conosco, porque - explicou o escul��pio
amigo - apesar de todos os lances tr��gicos da
sua infeliz exist��ncia, momentos houve, no in��cio das
experi��ncias, em que procurou auxiliar desinteressa

206

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

damente a diversas pessoas, quando socorreu como
m��dico muitos enfermos pobres, e esse concurso no
Bem n��o ficou desconhecido pelos C��digos soberanos.
O Senhor continua desejando o desaparecimento
do pecado, do erro, do mal, n��o o do pecador, do
equivocado, do doente que ficou mau, havendo sempre
a b��n����o para o recome��o, jamais uma puni����o
eterna ou um castigo sem remiss��o.

-E de quanto tempo necessitar�� para o despertar?
- interroguei, impressionado:
Com a sua proverbial prud��ncia, respondeu:

- N��o existe pressa no rel��gio da Eternidade... O
tempo �� dimens��o muito especial em nossa Comunidade,
apesar de aqui nos encontrarmos sob as vibra����es
e o magnetismo do Sol. Nesse caso, muitos fatores
est��o no acontecimento em si mesmo, aguardando
solu����o adequada... O certo �� que, estando amparado
em nosso pavilh��o, isso j�� lhe constitui uma b��n����o
de reconforto e de esperan��a ap��s os longos anos
de mart��rio em regi��o particular para onde foi empurrado
pelos seus algozes e comparsas espirituais.
Alonguei os olhos pelo ambiente repleto de leitos
ocupados e senti-me estremecer de preocupa����o
em rela����o a mim mesmo, bem como a todos aqueles
que deambulam anestesiados pela ilus��o, mantendo-
se longe dos compromissos espirituais, ou mesmo
quando tomam contato com as li����es de vida eterna
em quaisquer que sejam as doutrinas religiosas
do planeta, e ao inv��s de adaptarem o comportamento
��s suas diretrizes moralizadoras, submetem-nas
ao seu talante, continuando irrespons��veis e fingindo-
se auto-suficientes.

Havia muito que aprender. Toda uma exist��ncia


207

Tormentos da obsess��o

carnal, realmente, nada significa para o Esp��rito que
deve crescer no rumo do infinito, ampliando a capacidade
de entendimento da Realidade.

Ap��s visitarmos com brevidade outros pacientes
necessitados do divino amparo, por��m socorridos
pela caridade crist�� incessante, dirigimo-nos �� enfermaria
de Ambr��sio, que deveria experimentar nova
terapia para o despertamento.


A CONSCI��NCIA
RESPONS��VEL

Com o abnegado Alberto retornamos �� enfermaria
onde Ambr��sio prosseguia sob assist��ncia carinhosa,
mergulhado no abismo das pr��prias ang��stias
e afli����es. Apresentava-se como de h��bito amadurecendo
as reflex��es ao calor do arrependimento
tardio, que abre espa��o para a expia����o que vivia, a
fim de que o futuro lhe facultasse a necess��ria repara����o.


Afei��oei-me ao sofredor, nele identificando muitos
companheiros terrestres que fazem da mediunidade
mercantilismo extravagante ou instrumento de
exibi����o do ego para tormento pr��prio.

Detendo-me junto ao seu leito, procurava exteriorizar
os sentimentos de compaix��o e ternura, a fim
de que as densas camadas de energia delet��ria fossem,
a pouco e pouco, diluindo-se, de forma que, em
ocasi��o oportuna, ele se pudesse libertar para novos
enfrentamentos com a raz��o e a caridade.

Dessa maneira, ali permaneci em ora����o por al



209

Tormentos da obsess��o

guns minutos, assessorando os assistentes espirituais
que dele cuidavam, dando-me conta de que o amor
com que se encontrava visitado pela caridade geral,
conseguia o objetivo feliz de abrir-lhe espa��o para a
liberta����o.

Preparava-me para sair com o devotado cicerone,
quando deu entrada uma nobre Senhora, portadora
de expressiva beleza, que havia conhecido o
m��dium durante a vilegiatura carnal e mantinha por
ele devotamento fraternal.

Depois de saudar-nos, manteve-se em silenciosa
ora����o, durante cujo per��odo exteriorizou suave e
peregrina claridade que igualmente envolveu o paciente
adormecido. Manteve-se em atitude de reflex��o
por v��rios minutos, quando, ent��o, disp��s-se a sair.

Alberto, sempre gentil, conhecendo-lhe a hist��ria
vivida na recente exist��ncia terrena, acompanhou-
a e, no corredor, apresentou-me com bondade e gentileza,
explicando os objetivos da minha est��ncia,
naquele Sanat��rio espiritual.

Sem qualquer constrangimento, a Senhora externou
simpatia pelo projeto no qual me encontrava envolvido,
e ofereceu-se a narrar-nos sua especial experi��ncia
humana.

Acercamo-nos, por sugest��o da mesma, de uma
sala muito agrad��vel, num dos recantos do pavilh��o,
ali, no subsolo, que se encontrava iluminado pela
branda luz do Sol da primavera.

Logo se apresentou o ensejo, ela exp��s:

- Conheci a prova����o da facilidade econ��mica,
havendo nascido em uma fam��lia paulistana possuidora
de largos tratos de terras e abundantes bens de
varia natureza. Experimentei a ternura de pais devo

210

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

tados e generosos, que me mimaram por demorados
anos, enriquecendo-me de carinho e falando-me dos
deveres da consci��ncia perante a vida e a humanidade.
Pude estudar em Escolas requintadas, embora
n��o me houvesse interessado por adquirir um Diploma
de qualquer especialidade. Senti, desde muito
cedo, que havia nascido para o lar, anelando por uma
fam��lia que pudesse contribuir favoravelmente para
a sociedade. Muito sens��vel, passei a identificar fen��menos
medi��nicos que me alegravam, ensejando-
me conviv��ncia com os Esp��ritos, que passei a amar.

"Nesse ��nterim, travei conhecimento com o Espiritismo,
e confesso que me fascinei com os romances
medi��nicos, firmados por Entidades nobres atrav��s
de seareiros dignos. As hist��rias, repassadas de
sabedoria, fundamentadas nos postulados kardequianos,
me tocavam profundamente. Procurei introjetar
algumas daquelas vidas, de forma que me servissem
de modelo para o cotidiano existencial. Porque
essas mensagens fossem reveladoras, participando
de experi��ncias pr��ticas em um grupo familiar, comecei
a psicografar breves p��ginas, que me constitu��ram
verdadeiras b��n����os.

"Muito bem relacionada socialmente, n��o temi
informar ��s amigas e aos familiares as descobertas
preciosas da Doutrina dos Imortais. Na minha ingenuidade
supunha que todos estivessem amadurecidos
para as reflex��es profundas da vida ap��s o t��mulo,
esquecendo-me de que muitos s��o chamados, mas
somente poucos ser��o escolhidos. Compreensivelmente,
minhas palavras e entusiasmo foram mal interpretados,
e mesmo censurados, levando-me ao retraimento
em torno das id��ias que abra��ava."


211

Tormentos da obsess��o

A Senhora, enquanto recordava, demonstrou
emo����o que a fez parar por um momento, logo prosseguindo:


- Foi naquele pequeno grupo que conheci o homem
honrado e brilhante com quem me casei posteriormente.
Exercendo um alto cargo em respeit��vel
Empresa, tornara-se esp��rita premido pela l��gica dos
postulados doutrin��rios e pelos esclarecimentos que
oferecia em torno dos ensinamentos de Jesus, porquanto,
estudioso do Evangelho, n��o podia concordar
com as peias dogm��ticas e as interpreta����es absurdas
que eram oferecidas pela Igreja de Roma.
"O nosso foi um reencontro, porquanto as afinidades
que nos vinculavam eram numerosas, ensejando-
nos um relacionamento afetivo, profundo e s��rio.
Consorciamo-nos, para j��bilo dos meus pais, que
ainda se encontravam reencarnados, e constru��mos
a casa que deveria hospedar-nos, como se fosse um
ninho encantado para a viv��ncia do amor. �� medida
que os anos se passaram, relacionamo-nos com outras
fam��lias esp��ritas e tornamo-nos membros ativos
de respeit��vel Institui����o devotada �� divulga����o do
Espiritismo.

"Como a felicidade no mundo n��o �� completa,
constatamos com tristeza a impossibilidade de sermos
pais, por impedimento org��nico de minha parte.
Conseguimos, no entanto, sobrepor �� tristeza e decep����o,
a compreens��o de que na Terra colhemos conforme
a semeadura anterior, e resolvemo-nos por contribuir
de maneira positiva em favor das crian��as
muito necessitadas que acorriam ao Departamento
assistencial do N��cleo que freq��ent��vamos."

Novamente fez uma breve pausa oportuna, como


212

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

que para concatenar as recorda����es, e continuou:

- Nessa ocasi��o, um dos casais que se nos tornou
muito amigo e afei��oado, informou-nos que pretendia
visitar em outra cidade abnegado m��dium que
enriquecia as vidas que o buscavam com mensagens
de alta qualidade, porque fi��is aos seus Autores, e
cuja vida era um Evangelho de feitos. Sem qualquer
dificuldade programamos uma excurs��o, objetivando
visit��-lo, e, na data estabelecida, bem como no
hor��rio regulamentar, tivemos a imensa alegria de
conhecer algu��m que passaria, a partir de ent��o, a
constituir-nos exemplo de f��, de coragem, de abnega����o
na mediunidade e na conduta, cujo conv��vio
iluminava as vidas que se lhe acercavam.
"Naquela noite incompar��vel, tivemos a impress��o
que os C��us desceram �� Terra, no modesto recinto
onde se orava e se discutia as promessas do Evangelho,
ao tempo em que o medianeiro psicografava
sem cessar. Fascinada, acompanhei todos os lances
daquele inesquec��vel acontecimento entre preces de
entrega a Deus e, porque n��o dizer, deslumbramento
pelo que acontecia �� minha volta. Posso afirmar que,
tamb��m os outros, aqueles que viajaram conosco e
diversos mais que vieram de diferentes lugares, participavam
do banquete de luz com a mesma emotividade,
reconhecidos e firmando prop��sitos de fidelidade
ao dever, �� consci��ncia esp��rita.

"A reuni��o prolongou-se por v��rias horas, e, ao
terminar, foram lidas as mensagens de alto conte��do
filos��fico, ��tico e espiritual. Umas de consola����o aos
familiares aflitos que ali estavam buscando conforto
para as dores da saudade e do sofrimento; outras de
poetas e escritores que volviam ao prosc��nio terres



213

Tormentos da obsess��o

tre para traduzir as emo����es da sobreviv��ncia ao corpo
fr��gil; outras mais, de orienta����o e advert��ncia...Foi
nesse momento, que o abnegado m��dium chamou-
nos nominalmente, a mim e ao meu marido, passando
a ler uma mensagem do Vener��vel dr. Bezerra de
Menezes, conclamando-nos ao trabalho da caridade
fraternal, da entrega aos filhos do Calv��rio, da dedica����o
aos que se encontrassem perdidos na noite da
ignor��ncia espiritual... O casal amigo igualmente foi
aquinhoado com expressiva mensagem de conforto
e de chamamento, que lhes assinalou os sentimentos
em profundidade, norteando-lhes a exist��ncia a
partir de ent��o com seguran��a e firmeza. Conclu��da
essa parte, em conv��vio espont��neo e quase ��ntimo,

o iluminado instrumento dos Esp��ritos narrou-nos
detalhes da sua faculdade, especialmente aqueles
que ocorriam durante o transe medi��nico, informando-
nos sobre acontecimentos que tiveram lugar na
reuni��o, e que se tornaram para todos n��s li����es de
incomum beleza, que jamais seriam esquecidos ou
descurados.
"Retornamos aos nossos lares tomados por incoerc��vel
felicidade, prometendo-nos servir e amar sem
restri����o, custasse-nos o pre��o que fosse. Posso afirmar
que aquela experi��ncia iluminativa foi o marco
definidor do nosso futuro espiritual, e que, lamentavelmente,
n��o soube preservar por fraqueza moral,
face ao cerco das m��s inclina����es que predominam
em a minha natureza. Outras vezes voltaria ��quele
santu��rio, onde a morte era destru��da pela presen��a
da vida abundante, e outras p��ginas de invulgar beleza
nos foram dirigidas, convidando-nos ao prosseguimento
do servi��o e da caridade, caminhos segu



214

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

ros para a liberta����o do ego��smo, do orgulho e da presun����o.
Simultaneamente, as faculdades medi��nicas
ampliaram-me as possibilidades de capta����o espiritual,
e, sem dar-me conta comecei a intoxicar-me de
vaidade, considerando-me quase privilegiada...

"Como se pode perceber, um passo em falso, na
dif��cil ascens��o, e tudo pode transformar-se em sofrimento,
em desalinho, em queda... Foi o que me sucedeu,
porquanto, convidada a edificar uma Obra de
amor para atender criaturas infelizes, que a orfandade
recolhera e o abandono social crestara, considerando
a minha posi����o s��cio-econ��mica passei a imaginar
uma constru����o fabulosa, longe da simplicidade
do bem, empenhando-me com todas as for��as e
aplicando muitos dos recursos que possu��a, a fim de
execut��-la. A imagina����o em febre libertou antigos
infelizes h��bitos adormecidos no inconsciente, e a
Dama que deveria ser da Caridade, passou a viver a
impon��ncia da ilus��o, pensando em detalhes sem
import��ncia, a que atribu��a alto significado, deixando
o tempo correr, precioso patrim��nio que escapava,
enquanto os candidatos espirituais ao amparo se
perdiam nos cipoais dos v��cios e da delinq����ncia."

A Senhora demonstrava vis��vel emotividade. Desejei
pedir-lhe para interromper a narrativa que se
lhe apresentava aflitiva, mas, olhando o caro Alberto,
em busca de apoio, vi que ele esbo��ou delicado sorriso,
tranq��ilizando-me.

- Pe��o desculpas - disse-nos a narradora - pela
emo����o. Trata-se de recorda����es muito caras, que n��o
posso esquecer, hoje patrim��nio da consci��ncia respons��vel.
Olvidei que o bem dispensa atavios, tem
praticidade e urg��ncia. Nos engodos a que me entre

215

Tormentos da obsess��o

guei no mundo, facilmente as imposi����es da frivolidade
se transformam em valores significativos somente
porque lhes atribu��mos significado.

"�� claro que o nobre dr. Bezerra me advertiu sutilmente
v��rias vezes, n��o apenas atrav��s do seu d��cil
instrumento medi��nico, como tamb��m por meu
pr��prio interm��dio. Mas a ilus��o, que se me instalara
no Esp��rito, bloqueou-me a raz��o, e somente eu n��o
conseguia ver o lament��vel engano a que me entregava.
A morte amiga, nesse momento dif��cil, arrebatou-
me o companheiro, que me deixou um grande
vazio existencial, mas n��o me despertou a humildade
necess��ria para o servi��o de Jesus entre os Seus
na Terra.

"Sem a lucidez indispens��vel, afastei-me dos
amigos que me tentavam dissuadir da empresa grandiosa,
convidando-me ao singelo trabalho da fraternidade,
e reuni um grupo de equivocados como eu,
fascinados com as mensagens de que me fazia objeto,
sem aplicar a raz��o, o discernimento, na an��lise
das p��ginas que ent��o psicografava. Como conseq����ncia,
n��o fru�� a alegria de albergar aqueles que a
Vida me confiava aos cuidados, havendo desencarnado
antes de concluir o trabalho...

"Pode-se imaginar a decep����o que me assaltou
ao despertar al��m do portal de cinzas. A medida que
a claridade mental me assomava, mais ang��stia me
assaltava o cora����o e a raz��o. O compassivo dr. Bezerra,
veio ent��o, mais uma vez, em meu socorro, oferecendo-
me conforto moral e esperan��a em rela����o
ao futuro, de forma que o desespero n��o me fizesse
afundar na depress��o ou noutro estado qualquer de
perturba����o. Esclareceu-me que sempre �� tempo de


216
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

recome��ar, e demonstrou-me que ele pr��prio prosseguia
auxiliando os companheiros que ficaram na retaguarda,
o que tamb��m eu poderia fazer em companhia
do esposo, despertando os amigos aos quais
anestesiara, e amparando os necessitados que ficaram
na expectativa da assist��ncia que lhes n��o pude
oferecer. �� certo que a luz do Espiritismo orientava-
me na a����o da fraternidade, e procurei atender os aflitos
do caminho, assistindo-os com carinho e miseric��rdia
quanto me era poss��vel."

Um outro sil��ncio espont��neo fez-se entre n��s.
Transcorridos alguns segundos, a nobre Dama adiu:

-A reencarna����o �� d��diva de Deus, sem a qual
ningu��m lograria o triunfo sobre as pr��prias paix��es.
Etapa a etapa, o Esp��rito se liberta dos limites, como
o diamante que sai da parte bruta a golpes da lapida����o,
a fim de brilhar como estrela divina. O trabalho
prossegue, felizmente, e os amigos devotados t��m
encontrado no Benfeitor vigilante a inspira����o, que
procuramos vivenciar com eles, restaurando os objetivos
desviados e trabalhando afanosamente para
que a dor seja menos aflitiva e o amor mais operoso
em todas as dimens��es.
"Foi no in��cio das atividades de constru����o da
Obra que conheci o irm��o Ambr��sio, numa das suas
confer��ncias monumentais em nossa cidade. Vinculamo-
nos fraternalmente, e o recebemos em nosso lar,
meu marido e eu, diversas vezes, quando ele exercia
a mediunidade com eleva����o. Acompanhei, de alguma
forma, o seu decl��nio, quando mudou de amizades,
preferindo os espet��culos estapaf��rdios e exibicionistas
decorrentes da lament��vel obsess��o que o
acometeu. Visitando-o, n��o me posso furtar �� refle



217

Tormentos da obsess��o

x��o, de que tamb��m eu tombara em sutil interc��mbio
nefasto, cuja sintonia facultara atrav��s da vaidade
exacerbada no cumprimento do dever. A sua �� a hist��ria
de muitos de n��s, m��diuns desprevenidos e vitimados
em n��s mesmos pela lux��ria, pela prepot��ncia,
pela sede de gl��rias terrenas e de encantamentos
para a egolatria."

E dando um toque final, com um sorriso matreiro,
encerrou o nosso encontro, esclarecendo:

- Mediunidade e presun����o n��o podem andar juntos
sem desastre �� vista.
Pediu-nos licen��a e afastou-se airosa, deixando-
nos mensagens de alta gravidade para reflex��o e
aprendizado.

Como eu poderia entender que, n��o obstante o
quase insucesso da sua experi��ncia, se apresentasse
portadora de valores espirituais relevantes? Logo
por��m compreendi, por r��pida conclus��o, que o Bem
que se faz sempre �� melhor para o seu realizador, n��o
importando como �� feito ou vivenciado. A Dama, que
ora se analisava com bastante severidade, realizara
uma Obra de amor e vivenciara o Evangelho quanto
lhe permitiram as possibilidades. Os equ��vocos, a que
se referia, eram conseq����ncia de malogradas experi��ncias
anteriores, que n��o conseguiu superar, mas
lutou tenazmente para produzir melhor e com mais
efic��cia. O essencial �� n��o parar, n��o se acumpliciar
com o mal, n��o perverter os objetivos nobres, permanecendo
fiel ao compromisso abra��ado para fazer o
melhor, mesmo que o n��o consiga. E ela, de alguma
forma, fora uma triunfadora.

Dialogando com Alberto, conclu��mos que ela se
tornara v��tima da interfer��ncia de mentes desencar



218
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

nadas interessadas em manter a sombra na Terra e
de impedir que os Esp��ritos afei��oados �� Verdade se
desembara��assem dos liames negativos a que se vincularam
antes. Sutilmente, mas com firmeza, esses
Esp��ritos enfermos movimentam-se nos mais significativos
programas de dignifica����o humana, tentando
enredar aqueles que se encontram envolvidos na
sua realiza����o, inspirando pensamentos equivocados,
mas com apar��ncia de eleva����o. Induzem-nos a pr��ticas
ex��ticas, como destaque no grupo onde mourejam,
�� usan��a de indument��rias com esta ou aquela
tonalidade, dando um toque de pureza externa aos
seus atos, sem a correspondente pulcritude interna,
enquanto lhes insuflam a vaidade desmedida, atraindo-
os para posturas n��o condizentes com a atividade
que realizam...

A obsess��o sutil �� enfermidade que grassa desordenadamente
entre as criaturas humanas passando
quase despercebida. �� sua a����o nefasta se devem
muitos dist��rbios no comportamento terrestre e
muitas quedas ante os compromissos morais e espirituais
que deveriam ser realizados com mais elevada
nobreza.

Somente a constante vigil��ncia da consci��ncia
reta constitui mecanismo de defesa contra essas sortidas
do mundo espiritual inferior, ao lado do envolvimento
nos compromissos ��ntimos com a simplicidade
do cora����o e da a����o, perseverando-se nos deveres,
sem qualquer extravag��ncia at�� o momento da
liberta����o carnal.

A um observador inexperiente pareceria que as
for��as identificadas como sendo o Mal, conseguem
operar livremente em toda parte, sem que haja con



219

Tormentos da obsess��o

trole superior limitando o seu campo de a����o. No entanto,
a realidade �� bem diversa; isto porque esses
Esp��ritos que se cr��em poderosos na preserva����o dos
objetivos vis, est��o apenas doentes, necessitados de
amor e de miseric��rdia que nunca lhes faltar��o. A sua
perman��ncia nesses objetivos �� de breve dura����o,
porque ser��o atra��dos para a Grande Luz, e se libertar��o
no momento pr��prio dos impositivos inferiores
a que se afervoram momentaneamente.

O processo de crescimento espiritual nem sempre
�� f��cil, porquanto vencida uma etapa outra se
apresenta, de modo que s��o superadas as defici��ncias
anteriores mediante conquistas novas. Aqueles
que se mant��m na retaguarda e se acreditam incapacitados
de prosseguir, lentamente despertam para
os valores nobres e conquistam-nos, al��ando-se �� plenitude
que a todos nos aguarda.


PROVA E FRACASSO

A entrevista proveitosa com a nobre senhora Hildegarda
ensejou-me reflex��es complexas em torno
das oportunidades de ilumina����o de que dispomos
durante a exist��ncia carnal e das situa����es que nos
conduzem aos desvios, aos insucessos.

Impressionado com a tranq��ilidade e confian��a
que dela se irradiavam naquela noite, quando do encontro
adrede estabelecido com o dr. Ign��cio Ferreira,
n��o sopitei a curiosidade positiva e, aproveitando-
me da sua proverbial bonomia, referi-me �� experi��ncia
que tivera e ��s conclus��es a que chegara, indagando-
o com interesse:

- Quais as perspectivas que se desenham para
esse Espirito que, integrado no programa do Bem,
considera-se, no entanto, em d��bito para com o dever
n��o cumprido, e de que aparentemente n��o �� respons��vel?
Conhecendo a experi��ncia da Senhora, o amigo
respondeu-me com naturalidade e lucidez:

-O caro Miranda sabe que as Leis Divinas, inscritas
na consci��ncia de cada ser, estabelecem as diretrizes
da felicidade ou da necessidade de repara

221

Tormentos da obsess��o

����o do erro conforme a pauta de valores vivenciados
durante a oportunidade existencial. Nossa gentil irm��,
despertando para a consci��ncia respons��vel, deu-se
conta da mais grave imperfei����o que lhe dificultou a
execu����o da tarefa, e sem permitir-se autocompaix��o
ou remorso desnecess��rio, trabalha com af�� e com
diferentes prop��sitos dos experienciados anteriormente,
anelando por granjear m��ritos para retornar
oportunamente ao palco terrestre, a fim de realizar o
mister que a desencarna����o lhe interrompera. Sendo-
lhe a vaidade, a excessiva autoconfian��a, o ponto
vulner��vel do seu car��ter, adestra-se, neste momento,
no exerc��cio da vera humildade, executando atividades
que lhe propiciem maior entendimento do significado
profundo da reencarna����o. Elegeu, assim que
se encontrou em condi����es para a pr��pria edifica����o,
os servi��os das ��reas da limpeza e da conserva����o
de algumas das nossas enfermarias para auto-educar-
se. No trato mais direto com a dor e os labores
que jamais imaginou executar quando na Terra, lapida
as imperfei����es morais e alarga os sentimentos
da afetividade, para retornar ao Lar que planejou com
excessivos cuidados em rela����o �� forma, �� apar��ncia,
vivendo-lhe a ess��ncia dos objetivos e da realiza����o
da caridade sem ja��a...

O querido Orientador calou-se por um pouco e,
de imediato, alongou-se:

- Tenho conhecimento que a dedicada senhora
Hildegarda requereu ��s Entidades Superiores, a oportunidade
de reencarnar-se em regi��o de muita pobreza,
na cidade onde levantou a Institui����o dedicada
�� caridade, a fim de ser recolhida em plena orfandade,
naquele mesmo ninho, de modo que, ao alcan

222
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

��ar a idade adulta, afei��oada e reconhecida pelo domic��lio
que a favoreceu, possa dedicar-se ao prosseguimento
da tarefa, l�� mesmo, em benef��cio de algumas
gera����es de necessitados que vir��o para os seus
bra��os. Verificamos, dessa forma, que o compromisso
n��o realizado �� transferido de ocasi��o, mas nunca
deixado de ser executado.

"Face aos esfor��os envidados para a viv��ncia da
f�� racional que abra��ou, �� solidariedade bem vivenciada
na Associa����o que freq��entava, a conduta moral
saud��vel e severamente mantida, conquistou m��ritos
que a tornam um exemplo de vida espiritual enobrecida.
A defici��ncia que lhe dificultou a execu����o
plena do programa que deveria realizar, �� problema
��ntimo, que ela est�� procurando ultrapassar. A Lei e
sempre de amor, nunca de puni����o, no sentido castrador
e perverso. Jamais faltam ensejos de ilumina����o
para quem deseja realmente a palma da vit��ria,
bastando-lhe n��o olhar para tr��s, mas prosseguir com
devotamento, utilizando-se de todas as oportunidades
para tornar-se melhor. Por isso mesmo, o grande
desempenho �� sempre de natureza interna, nas paisagens
dos sentimentos onde ningu��m passeia para
os observar, exceto o pr��prio indiv��duo."

Mudando o ritmo da conversa����o, convidou-nos.
a Alberto e a mim, para visitarmos uma das alas do
pavilh��o, na qual se encontravam as enfermarias reservadas
aos pacientes portadores de transtornos
ps��quicos.

Jubilosamente surpreendidos, aquiescemos de
bom grado e dirigimo-nos ao andar superior ao da
administra����o, onde eram atendidos os portadores
de dist��rbios mentais al��m da morte...


223

Tormentos da obsess��o

Os enfermos mais agitados permaneciam em ambientes
restritos, enquanto os outros em processo de
recupera����o, desfrutavam da conviv��ncia geral com
diversos companheiros, a fim de readquirirem a autoconfian��a
e a sociabiliza����o.

- Visitaremos - elucidou o diretor -o irm��o Gustavo
Ribeiro, que foi recolhido em nossa Cl��nica ap��s
dois anos da desencarna����o, quando recambiado do
lar e da fam��lia a que se fixava em terr��vel perturba����o
ps��quica. Sob tratamento especializado, h�� mais
de seis meses, reajusta-se e readquire, mui lentamente,
o equil��brio da consci��ncia.
Quando nos adentramos no agrad��vel apartamento,
encontramos sob a carinhosa vigil��ncia de
dois enfermeiros, que nos saudaram jovialmente, um
cavalheiro com aproximadamente cinq��enta e cinco
anos, com as c��s embranquecidas e acentuado desgaste
org��nico de que fora v��tima na Terra, com uma
f��cies desfigurada e macilenta. O olhar desvairado fitava
um ponto vago, e agitava-se com regularidade,
bracejando no ar e chorando copiosamente.

Os dedicados assistentes acalmavam-no com palavras
repassadas de carinho e de lucidez, auxiliando-
o a retornar �� postura anterior.

Observando-o com cuidado, n��o detectei vincula����o
direta com qualquer Entidade perversa, que fosse
respons��vel pelo seu desequil��brio, o que me surpreendeu,
sobremaneira.

Olhando o m��dico interrogativamente, o amigo
atento percebeu a minha perplexidade e acorreu em
meu aux��lio, explicando-me:

- N��o se trata de perturba����o obsessiva, mas de
transtorno mental, ocasionado pela rebeldia e insen

224

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

satez do pr��prio paciente. O nosso caro Gustavo �� o
prot��tipo do indiv��duo que, da Vida, somente se atribui
m��ritos, tomado sempre de altas doses de presun����o
e rico de cultura vazia. Atra��do ao Espiritismo,
faz mais de vinte anos, quando contava pouco
mais de trinta e cinco janeiros, portador ent��o de delicado
problema de sa��de, pareceu descobrir as respostas
para os enigmas teol��gicos e existenciais que

o aturdiam. Advogado de profiss��o, com fam��lia constitu��da,
abra��ou as id��ias novas com o entusiasmo
que resultava tamb��m da recupera����o da sa��de.
"Beneficiado pela fluidoterapia, enquanto recebia
conveniente ajuda m��dica, seus mentores trabalharam
com afinco para auxili��-lo na libera����o de altas
cargas de energia delet��ria que absorvia dos inimigos
desencarnados, que o perseguiam com crueldade
e pertin��cia. Havia, portanto, no seu problema
org��nico significativa contribui����o espiritual negativa,
que o amea��ava no transcurso dos dias. Lentamente,
gra��as aos recursos combinados da Ci��ncia
m��dica e do aux��lio espiritual, o amigo recomp��s o
quadro da sa��de, tornando-se um entusiasta simpatizante
do Espiritismo. Possuidor de temperamento
forte e autorit��rio, logo come��ou a discordar da administra����o
da Entidade, apresentando sugest��es
descabidas e referindo-se desagradavelmente, com
a arrog��ncia que lhe era habitual, a algumas atividades
que ali se desenvolviam.

"Ami��de ocorre nos comportamentos humanos
atitudes dessa natureza. Os indiv��duos s��o atra��dos
a qualquer tipo de realiza����o, e, sem estrutura nem
experi��ncia, imaturos e um tanto irrespons��veis, come��am
a atirar petardos destruidores em todas as


225

Tormentos da obsess��o

dire����es, acreditando-se detentores do conhecimento
pleno, que pode ser muito expressivo na teoria mas
inoperante na pr��tica. Ao inv��s de auxiliarem sem
imposi����o, corrigindo, quando necess��rio, ap��s haverem
adquirido a confian��a do grupo e dado provas
de sinceridade, de lealdade ao dever, agem de maneira
inversa, cuidando mais das prerrogativas do ego
do que da edifica����o de todos. Muito sens��veis, s��o
severos com os demais e muito melindrosos, sentindo-
se magoados por qualquer coisa, ou pelo simples
fato de n��o serem aceitas suas id��ias estapaf��rdias.
No caso em tela, o amigo, n��o sendo atendido, como
realmente n��o deveria ser, face ��s suas descabidas
exig��ncias, abandonou a Institui����o onde se beneficiara
e come��ou a peregrina����o para encontrar uma
que fosse modelar, isto ��, dentro dos ��ngulos estreitos
da sua convic����o. Passou a estudar a Doutrina, e
logo come��ou a detectar erros e conceitos que atribu��a
estarem superados, preocupando-se em corrigir

o que ignorava, ao inv��s de autocorrigir-se, o que ��
certamente mais dif��cil.
"N��o demorou muito tempo, e transformou-se no
que se denominava como esp��rita de gabinete, eufemismo
bem elaborado para justificar-se a pregui��a, a
inutilidade pessoal, distanciando-se do trabalho e
quedando-se na postura de atirador de pedras. A fam��lia
n��o lhe recebeu a orienta����o espiritual conveniente,
os filhos cresceram sem forma����o religiosa e
sem a necess��ria assist��ncia paterna em raz��o das
dificuldades de relacionamento, quando foi acometido
de pertinaz enfermidade que o consumiu lentamente.
Nesse c��menos, procurou apoio espiritual na
antiga Institui����o onde anteriormente se beneficia



226
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

ra, mas, n��o obstante a abnega����o dos seareiros de
boa vontade, o processo cancer��geno prost��tico era
irrevers��vel, e o caro confrade desencarnou em situa����o
penosa, assinalada pela revolta surda contra a
Vida..."

Calou-se o bondoso m��dico e olhou demoradamente
para o enfermo em novo epis��dio de alucina����o.
Logo ap��s, acentuou:

- Miranda, somos o que cultivamos em nosso
pensamento. Semeamos ventos mentais e colhemos
tempestades morais avassaladoras. Enquanto n��o nos
resolvamos pela solu����o dos problemas ��ntimos, alterando
nossa conduta mental, adquirindo l��cida
compreens��o das Leis de Deus para vivenci��-las, estaremos
cercados pelos tesouros da felicidade sem
nos apercebermos, antes, barafustando-nos pelos lugares
onde nos encontrarmos.
"Porque a sua n��o fosse uma f�� trabalhada na
raz��o e no sentimento, sua l��gica era tamb��m an��rquica,
que deveria funcionar em seu favor, desejando
submeter a Lei de Causa e Efeito ao seu talante,
esquecido de que, afinal, a vida �� do Esp��rito e n��o
do corpo transit��rio. A fun����o da Doutrina Esp��rita ��
preparar o ser humano para a compreens��o da sua
imortalidade, jamais para ajud��-lo a conquistar coisas
e posi����es terrenas que o destacam no grupo social,
mas n��o o dignificam nem o engrandecem moralmente.
Ainda permanece em muitos simpatizantes
do pensamento esp��rita a falsa id��ia de coletar
benef��cios pessoais e sociais, quando aderindo aos
postulados kardequianos, tendo a vida modificada
para mais prazer e maior soma de comodidades. Outros,
igualmente mant��m a respeito do Espiritismo a


227

Tormentos da obsess��o

falsa id��ia mitol��gica em torno das Entidades Nobres,
que dever��o estar ��s suas ordens, solucionando-lhes
os problemas que engendram, atendendo-os nas suas
questi��nculas e necessidades do processo evolutivo.


"O amigo Gustavo �� mais um n��ufrago, que teve
oportunidade de encontrar a embarca����o segura, a
b��ssola para conduzi-lo no oceano imenso, o tim��o
de equil��brio e, n��o obstante, resolveu guiar-se pelos
instrumentos equivocados das pr��prias paix��es."

Ante a pausa natural feita pelo narrador, interroguei
com interesse de aprender:

-E como veio parar aqui? Qual o mecanismo que
desencadeou o interesse dos Benfeitores pelo irm��o
equivocado?
Sem demonstrar irrita����o, dr. Ign��cio respondeu
com tranq��ilidade:

- Somando a afli����o da partida do esposo, ��s preocupa����es
com os filhos e �� perturba����o que o mesmo
produzia no lar, sem dar-se conta do deslindamento
dos v��nculos carnais, a vi��va sofrida, embora pouco
informada das b��n����os do Espiritismo, recordou-
se que o marido, vez que outra, no passado, referira-
se �� excel��ncia da Doutrina. Tivera ocasi��o de assistir
aos passistas transmitindo bioenergia ao paciente
e falando-lhe com inef��vel do��ura sobre a resigna����o
e a coragem ante o processo degenerativo e afugente,
ficando sinceramente comovida e grata a esses
operosos desconhecidos que lhe visitavam o lar
para ajudar o companheiro, sem apresentar outro interesse,
sen��o o bem dele mesmo. Orando, compungida,
em momento de grande afli����o, sinceramente
voltada para o bem da fam��lia e de si, atraiu o seu

228
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Guia espiritual que a inspirou a procurar aquele grupo
de pessoas generosas, cuja conduta espiritual tanto
a impressionara. Ao busc��-los, e sendo imediatamente
atendida, os trabalhadores do Evangelho sugeriram
o estudo da Palavra no seu lar, em encontro
hebdomad��rio, quando ent��o, mui lentamente o pobre
Gustavo percebeu que fora arrebatado do corpo,
entrando em dilaceradora revolta e perturba����o. Ap��s
transcorridos mais de dez meses de assist��ncia espiritual
�� fam��lia, o Mentor do desencarnado solicitou
internamento do amigo falido, o que foi providenciado
pelo dedicado Eur��pedes sem qualquer relut��ncia.


-E qual a terapia - voltei �� carga - que lhe tem
sido oferecida, a fim de liber��-lo do transtorno ps��quico
em que se debate?
Pacientemente, o Amigo explicou:

- Tr��s vezes por dia s��o-lhe aplicados recursos
magn��ticos para reajustamento dos neur��nios perispirituais
desagregados pelas ondas da rebeldia que
lhe assinalou a exist��ncia f��sica. As sinapses, sofrendo
a irregularidade das cargas el��tricas, funcionam-
lhe desordenadamente liberando os fantasmas encarcerados
no inconsciente, que foram os comportamentos
odientos, censur��veis, que agora, ressuscitados,
perturbam-no. Duas vezes por semana s��o aplicadas
t��cnicas hipn��ticas, levando-o a processos regressivos,
a fim de serem trabalhadas as lembran��as, que
recebem terapia calmante para que desapare��am, lentamente
dilu��das as formas de conflitos e remorsos
que o aturdem. Concomitantemente, s��o realizadas
leituras edificantes que se lhe v��o imprimindo na
mente e estabelecendo novos racioc��nios propicia

229

Tormentos da obsess��o

dores de paz e de esperan��a.
- Qual a perspectiva - insisti com amabilidade de
recupera����o da sua lucidez mental?

- Depender�� do esfor��o dele mesmo - redarguiu,
gentilmente. - As fixa����es mentais s��o trabalho de
demorado curso, realizadas por aqueles que as estimam.
Quando de qualidade inferior, mant��m-se prejudicando
e enlouquecendo. �� natural que a sua desestrutura����o
ocorra tamb��m de maneira lenta, a fim
de serem evitados choques emocionais no comportamento
dos pacientes. A viol��ncia n��o faz parte dos
Soberanos C��digos, sendo express��o de atraso espiritual
daquele que a desencadeia. Assim mesmo, provid��ncias
cuidadosas t��m sido tomadas, de forma a
reconduzi-lo �� realidade. N��o h�� muito, a esposa veio-
lhe em visita, trazida em desdobramento pelo sono
natural, e ele conseguiu perceb��-la, experimentando
alguns momentos de lucidez e de emo����o natural.
Esse fen��meno foi-lhe muito positivo, e tudo indica
que ser�� repetido na medida que se apresente mais
favor��vel o seu quadro. Outros Esp��ritos amigos encontram-
se empenhados em predisp��-lo �� retomada
da consci��ncia, para que recomece a experi��ncia de
busca da felicidade.
"O nosso Sanat��rio tem como prioridade, conforme
o Miranda est�� esclarecido, atender os amigos da
f�� esp��rita que optaram pela perturba����o, pelo engodo,
pelos compromissos infelizes, e que necessitam
de atendimento carinhoso para o prosseguimento das
tarefas interrompidas."

Naquele momento, chegaram os passistas encarregados
do atendimento de Gustavo. Era uma excelente
oportunidade para auxili��-lo com o nosso mo



230
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

desto contributo de ora����o e simpatia.

Proferida a prece por Alberto, solicitado pelo Orientador,
logo ap��s foi lida uma p��gina de O Evangelho
segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, e depois
de breve coment��rio por um dos servidores, foram
aplicados passes dispersivos no chakra coron��rio,
alongando-se por todo o corpo perispiritual, prosseguindo-
se com a doa����o de energias saud��veis. No
in��cio, o paciente estertorou, acalmando-se lentamente,
at�� ser aben��oado por um sono repousante e tranq��ilo.


Estava encerrada a nossa visita. Despedimo-nos
dos assistentes, e quando nos encontr��vamos no corredor,
indaguei ao m��dico uberabense:

- S��o aplicados outros recursos, que desconhecemos
na Terra?
- Sim - respondeu com simpatia - todos eles de
natureza energ��tica. Houve tempo, em alguns casos
muito graves, em que foram aplicados eletrochoques,
e mesmo hoje, vez que outra, um tanto raramente, se
fazem necess��rios procedimentos terap��uticos dessa
natureza. Todavia, os mecanismos espirituais s��o
muito variados para o atendimento dos enfermos
mentais, incluindo regress��o de mem��ria, hipnose
profunda, fixa����o de pensamentos libertadores atrav��s
da sua repeti����o mental em dire����o ao enfermo e
aplica����o de energias especiais encontradas em nosso
campo vibrat��rio... Mas, �� sobretudo atrav��s do
amor, com o interesse pelo bem-estar dos enfermos
que, por meio da ora����o que nos vincula ao Pensamento
Divino, e do qual se haurem for��as vigorosas
para transmiti-las em favor dos necessitados, que, na
raz��o em que v��o sendo absorvidas, o quadro em que

231

Tormentos da obsess��o

demoram se modifica para melhor, alterando o comportamento
emocional e ps��quico, por fim, propiciando-
lhes a recupera����o do equil��brio.

"Vivemos em um universo de ondas e de mentes,
de id��ias, de vibra����es, de energia, e tudo quanto
existe �� resultado das v��rias apresenta����es desses
campos de for��as, apresentando-se em variado
painel de formas e de acontecimentos. Se nos recordarmos
de Jesus, constataremos essa realidade quando
Ele nos ensinou: -Seja o que for que pe��ais na
prece, crede que o obtereis, e vos ser�� concedido - conforme
as anota����es de Marcos 11, vers��culo 24. Por
que, na prece? Em raz��o desse miraculoso mecanismo
vibrat��rio poder alterar a estrutura da nossa realidade,
passamos a experimentar outras express��es
da energia que promana de Deus e nos modifica a
realidade interior. Sendo o pensamento uma fonte de
energia espec��fica, de acordo com a sua constitui����o
positiva ou negativa, sempre alcan��a a meta para a
qual �� direcionado. No que se refere ao bem que produz,
�� excel��ncia dos resultados que proporciona, ��
qualidade de onda de que se constitui, transforma-
se num excepcional recurso terap��utico que podemos
utilizar em qualquer lugar onde nos encontremos
e que, entre n��s, desencarnados l��cidos e trabalhadores,
face �� maior facilidade de elabor��-lo, torna-
se-nos um instrumento dos mais preciosos para a
constru����o do equil��brio, propiciando a sa��de."


ALUCINA����ES ESPIRITUAIS

Encerrada a visita a Gustavo Ribeiro, dr. Ign��cio
conduziu-nos a uma Enfermaria onde se encontravam
diversos pacientes: uns hebetados, outros agitados,
todos em lament��vel estado de desequil��brio
ps��quico.

Havia uma gritaria infrene, gargalhadas ensurdecedoras,
blasf��mias e vitup��rios que se misturavam
ao choro convulsivo e aos apelos comovedores.

A enfermaria espiritual diferia pouco daquelas
terrestres, caracterizada por��m, pela limpeza e pelos
cuidados especiais que eram dispensados aos pacientes.
Havia, n��o obstante o tumulto, uma psicosfera
de tranq��ilidade e de dedica����o ao pr��ximo, que surpreendia.
Observando os doentes, notei que cada um
permanecia no seu mundo, totalmente alienado da
realidade ambiental, das necessidades do seu companheiro
de infort��nio, dos acontecimentos �� sua
volta.

Sob o direcionamento do m��dico, acercamo-nos
de um leito, separado dos demais por um biombo coberto
de tecido alvinitente, e nos deparamos com um


233

Tormentos da obsess��o

paciente desfigurado, estere��tipo do alucinado. Gritava
e debatia-se com desespera����o, como se desejasse
libertar-se de agressores invis��veis que o agoniavam.
Agucei a observa����o mental e detectei que
ele lutava contra formas hediondas que o amea��avam
e logravam atac��-lo. Ante a surpresa, que se me
fez natural, o amigo gentil explicou-me:

- Trata-se de formas-pensamento, que foram elaboradas
por ele mesmo durante quase toda a exist��ncia
de adulto, e de que n��o se conseguiu desembara��ar
na Terra, continuando no seu campo mental
ap��s a morte f��sica. T��o v��vida era a sua constitui����o
que adquiriram exist��ncia, e s��o nutridas agora pelo
medo e pelo mecanismo da consci��ncia culpada. O
irm��o Hon��rio �� v��tima tamb��m de si mesmo, por��m,
com alguma diferen��a em rela����o a Gustavo, como
teremos ocasi��o de o constatar.
Indagando quanto aos procedimentos que deveriam
ter antecipado aquele momento, dr. Ignacio foi
informado de que a sala estava preparada, faltando,
somente, anestesiar o paciente para conduzi-lo.

De surpresa em surpresa, sa��mos da Enfermaria
com o pequeno grupo que conduzia o sofrido Hon��rio
agora adormecido mediante o recurso especial que
lhe foi aplicado e aproximamo-nos, no lado oposto,
de um recinto suavemente iluminado onde j�� se encontravam
Eur��pedes, dona Maria Modesto e as duas
m��diuns j�� nossas conhecidas. Pairava no ar d��lcida
vibra����o de paz, em raz��o de o recinto estar invadido
por ondas sucessivas de bem-estar com quase impercept��vel
melodia ambiental, que convidava �� reflex��o
e �� prece.

Ap��s instalar o enfermo na cama que o aguarda



234
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

va, depois de breves considera����es, o vener��vel Eur��pedes
orou:

-Jesus, Excelso Terapeuta:
Os enfermos espirituais, que somos quase todos-
n��s, reunimo-nos, mais uma vez, no Hospital de amor
que nos confiaste, para rogar-Te diretriz de seguran��a
para a reconquista da sa��de eterna.

Apesar de conhecedores que somos dos sublimes
recursos do amor, ainda n��o conseguimos aplic��-los
com a efici��ncia desej��vel, raz��o pela qual apelamos a
Tua sabedoria para que nos inspire a sua aplica����o
na dosagem correta de medicamento libertador.

Anelando por servir, perdemo-nos, n��o poucas vezes,
no labirinto dos interesses mesquinhos e pessoais,
deixando a empresa da fraternidade em plano secund��rio.


Ajuda-nos a manter a for��a moral indispens��vel,
para nos n��o desviarmos do objetivo central da evolu����o,
que �� o bem fazer.

Neste momento, vem ter conosco na praia da compaix��o,
para auxiliar-nos a recuperar o n��ufrago da
viagem terrestre, cujo barco org��nico se esfacelou nos
recifes das paix��es.

Colocamo-nos em Tuas h��beis m��os e aguardamos
que nos guies mediante a inspira����o de que necessitamos.


Vem, pois, M��dico das almas, socorrer-nos, suplicamos-
Te!

Ao silenciar, gra��as �� un����o com que pronunciara
cada palavra, a vibra����o superior mantinha-se na
sala, gerando emo����o de paz e de confian��a ilimitada.


Sentados em um semic��rculo fronteiro ao leito de


235

Tormentos da obsess��o

Hon��rio, percebemos que dona Maria Modesto entrava
em transe profundo. �� medida que se lhe alteravam
as formas do rosto, suave ectoplasma era exteriorizado
pelas duas damas envolvendo a m��dium,
auxiliando-lhe a transfigura����o. O semblante empalideceu
expressivamente, a respira����o fez-se-lhe
opressiva, um ricto estranho sulcou-lhe a face desenhando
uma figura estranha, quase uma m��scara de
sarcasmo, semelhando-se ��s oleogravuras representativas
de Satan��s que, entre estertores, come��ou a
blasonar:

- Eu sou o Senhor dos v��ndalos e perversos. Sou
a chibata que estimula e que pune. Sou Mefist��feles,
de que se utilizou Goethe, para o seu Fausto. Atendo
aos chamados, inspiro e passo a comandar aqueles
que se me afei��oam e passam a dever-me a alma. Logo
se me faz oportuno arrebato-a para os meus dom��nios.
Qual �� o problema que aqui se delineia, exigindo
minha presen��a? Venho espontaneamente, bem se
v��, a fim de inteirar-me do que se deseja.
- Reconhecemos - respondeu com brandura, Eur��pedes
- todas as prerrogativas do amigo que nos
visita, o que nos constitui um grande prazer e uma
honra especial, recebendo-o com carinho e muita fraternidade.
- Deixe-se de verborreias desnecess��rias. Que
esperam de mim?
- Inicialmente trata-se de um encontro de amizade
- respondeu o Mentor. - Respeitando-lhe as convic����es
em torno do que lhe apraz, desejamos esclarec��-
lo que, infelizmente, o poder que estardalha��a ��
destitu��do de fundamento, porque o caro amigo �� Esp��rito
criado, sujeito ��s Leis que regem a vida, embo

236

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

ra possuidor de recursos magn��ticos que poderiam
ser utilizados de maneira mais ��til. Demais, apesar
da sua aparente for��a, outra existe mais poderosa que
a todos nos submete, que �� aquela que procede de
Deus, ��nsita nos Seus ministros e, especialmente em
Jesus.

- Onde est��o e quais s��o essas decantadas for��as,
que as n��o conhe��o - vociferou, gargalhando estranhamente
- Eu sou forte e apoio-me em mais seguro
poder. Hon��rio �� meu, e o terei pelo tempo que
me aprouver, porquanto assim ele quis, j�� que firmou
um pacto comigo para todo o sempre, a partir do momento
em que lhe facultei desfrutar do prazer e do
gozo. Como me desincumbi da minha parte, ele ter��
que corresponder ao comprometido.
- N��o ignoramos - ripostou o evangelizador esp��rita
- que o enfermo manteve largos col��quios mentais
com o amigo. No entanto, o seu crit��rio de raz��o
estava perturbado pela ins��nia de que j�� se encontrava
acometido, embora a aparente conduta equilibrada.
Ele preferiu viver o seu mundo mental ��s experi��ncias
dignificadoras do mundo moral. Nessa
fuga da realidade, conectou com o amigo que se aproveitou
da sua fraqueza para infundir-lhe id��ias falsas
e brindar-lhe est��mulos perversos, qual ocorreu
com voc�� pr��prio em ocasi��o oportuna, quando se
fez v��tima de outrem mais perverso que o vem explorando...
-E quem �� esse explorador a que se refere. - Esbravejou
em ruidosa gargalhada de mofa. - Eu sou
senhor dos meus atos e movimento-me na ��rea que
me agrada, onde sou respeitado e temido.
- Certamente - elucidou Eur��pedes - mais temi

237

Tormentos da obsess��o

do que respeitado, em raz��o de transitar entre cegos,
fingindo possuir vis��o total e clara da realidade. Recorde-
se do enunciado de Jesus ao referir-se que todo
cego que conduz cegos, tomba no abismo com eles...
Isso, ali��s, j�� aconteceu, desde que a sua, �� a regi��o
da ignor��ncia, verdadeiro abismo onde se encontram
sepultadas todas as aspira����es do ser. Mas, Jesus, ��
a luz libertadora, e para Ele estamos convocando-o
neste momento aflitivo da sua vida.

- Dou-me conta que voc�� n��o me conhece. - Estridulou,
revoltado. - Lamento que n��o tenha informa����es
a meu respeito, n��o obstante tenho-as muitas
em refer��ncia �� sua pessoa. E porque sei quem ��,
n��o temi enfrent��-lo, desejando, neste momento,
medir for��as com o advers��rio...
Sem perturbar-se, o Mentor redarguiu:

- N��o �� nosso interesse medir for��as, porque reconhe��o
n��o as possuir. O pouco de que disponho
n��o �� meu, antes ��-me concedido por miseric��rdia
de acr��scimo. Al��m do mais, apoiamo-nos no amor, e
com ele esperamos encontrar o recinto de paz e entendimento
para seguir juntos na dire����o da Grande
Luz.
-A mim n��o me interessa grande ou pequena
luz. - Acentuou com desd��m. - J�� tenho a minha claridade
essencial, aquela que me norteia os passos. A
quest��o, todavia, �� outra. Trata-se de Hon��rio e nada
mais me interessa.
- Penso diferente - aduziu o doutrinador. - Creio
que se trata de voc��, que se encontra em sofrimento
que escamoteia com a m��scara da indiferen��a. O nosso
irm��o Hon��rio, que tem sido sua v��tima, naturalmente
necessita de liberta����o, para que, posterior

238
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

mente voc�� se libere dos pr��prios conflitos.

- Isso n��o me interessa, nem tampouco a voc�� reagiu
com viol��ncia verbal - Continuarei cobrador
inclemente com aquele que me �� devedor, a quem
tudo ofereci conforme me solicitou, e o realizarei com
a severidade que o assunto requer.

- Novamente o amigo se equivoca - esclareceu,
sereno, enquanto o perturbador espumava de ira -O
��nico doador real �� Deus, a quem tudo pertence. O
que parece pertencer-nos �� de Sua propriedade, especialmente
no que diz respeito ao poder, que no
mundo �� sempre transit��rio e v��o. Por um processo
de afinidade, o caro Mefist��feles estimulou mentalmente
o descuidado, j�� que ambos navegavam na
faixa da ilus��o, facultando-lhe experi��ncias perturbadoras
e doentias que se lhe fixaram na mente, gerando
formas ps��quicas que se condensavam quando
lhes recorria ��s imagens para deleitar-se na alucina����o
que o assaltava.
- Exijo que me respeite - redarguiu, furibundo N��o
vim aqui para ser desconsiderado. O meu problema
�� com o bandido traidor, mas posso aceitar o
repto e enfrent��-los a todos os senhores, porque sou
decidido e sei o de que necessito, bem como a melhor
maneira de consegui-lo.
Sem perder a serenidade, antes pelo contr��rio,
Eur��pedes contestou:

- N��o �� nosso objetivo desrespeit��-lo, submet��-
lo ou intimid��-lo. O nosso Guia �� Jesus, que sempre
conquista com amor e compaix��o, jamais com viol��ncia.
A Sua compassiva miseric��rdia desce hoje sobre
voc��, como sempre tem acontecido embora o amigo
n��o o haja detectado anteriormente. Desejamos es

239

Tormentos da obsess��o

clarec��-lo que Hon��rio, como voc�� mesmo e todos n��s,
somos filhos de Deus, que n��o nos encontramos ao
desamparo. �� certo que ele se comprometeu e se enganou.
Quem lhe pode atirar a primeira pedra, considerando-
se isento de erro? Por��m, atrav��s do sofrimento
que se imp��s, j�� resgatou a d��vida, estando
em condi����es de iniciar uma nova experi��ncia iluminativa
para crescer e libertar-se da inferioridade que
lhe pesa na economia moral.

-E se eu n��o o permitir? - Interrogou, arrogante.
- Deus o far�� atrav��s de Jesus, Aquele a quem
entregamos a opera����o desta noite - esclareceu com
tranq��ilidade. -O que pretendemos, �� que o amigo-
irm��o d��-se conta do tempo que vem sendo desperdi��ado
na ilus��o de manter-se como uma personagem
que n��o tem exist��ncia real. Conforme sabemos,
o mito do diabo est�� ultrapassado, embora a loucura
de alguns Esp��ritos que desejam assumir-lhe o comportamento
e dar-lhe legitimidade em um esfor��o insensato
que vai al��m da fantasia. Ningu��m foge de
si mesmo, dos seus pr��prios arquivos mentais, das
suas realiza����es... Neste momento, iremos convid��-
lo a recordar-se de suas experi��ncias pessoais, levando-
o numa viagem ao tempo-ontem, quando se lhe
instalou a id��ia absurda de ser Mefist��feles.
Ato cont��nuo, dr. Ign��cio acercou-se da m��dium
e come��ou a aplicar-lhe energias dissolventes no centro
cerebral, a fim de que a mem��ria do Esp��rito se
desenovelasse das indu����es mentais a que fora submetida.
Ao mesmo tempo, p��s-se a induzi-lo ao sono
profundo, usando o recurso da palavra tranq��ila, monoc��rdia,
repetitiva. Sem muita relut��ncia o visitante
adormeceu e, estimulado a recuar ao passado, no s��



240

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

culo XIX, logo come��ou a caracterizar-se como um ator
em pleno palco representando a figura dram��tica da
trag��dia do Fausto.

Enquanto repetia as palavras de Goethe, enunciadas
por Mefist��feles, em atitude prepotente e exuberante,
o Benfeitor esclarecia:

- Voc�� confundiu a personagem da fantasia tr��gica
a que dava vida no teatro com o homem da realidade
terrena, igualmente atormentado, vaidoso, sonhador
e perseguidor do triunfo na ribalta dos interesses
humanos, sem qualquer estrutura em torno da
espiritualidade interior. Repetindo o papel que o fascinava,
introjetou-o de tal forma, que passou a viv��-
lo no comportamento cotidiano, embrenhando-se no
matagal da auto-obsess��o. Ao desencarnar foi, por
sua vez, v��tima de h��bil hipnotizador, que o induziu
a assumir a forma perversa, para que lhe fosse ��t��
nos lament��veis processos de perturba����o espiritual
em que o atirou, desprevenido e insano como tem
sido. Enfrente agora a realidade diversa. Voc�� �� filho
de Deus e necessita ser feliz. Abandone a indument��ria
triste e ilus��ria que o veste.
Enquanto o Esp��rito apresentava diferentes express��es
faciais que variavam do espanto ao terror
durante o esclarecimento oportuno, Eur��pedes prosseguia:


-O seu per��odo de sofrimentos tamb��m acabou.
Atr��s da m��scara sempre se encontra o ser humano
angustiado, sem roteiro, escondendo suas dores no
disfarce da ilus��o. Voc�� merece despertar para uma
nova realidade, come��ando a experi��ncia dignificadora,
aquela que constr��i o ser interno verdadeiramente
harmonizado.

241

Tormentos da obsess��o

E dando maior ��nfase �� voz, enquanto dr. Ign��cio
aplicava passes de dispers��o energ��tica no Esp��rito,
permitindo que fossem desaparecendo as constru����es
ideopl��sticas, Eur��pedes acentuou com firmeza:


- Augusto, acorde para a realidade e para a vida.
Retome a sua forma humana, aquela que o vestiu
durante a trajet��ria terrestre antes da alucina����o. Saia
do palco e volva �� realidade. Voc�� est�� entre amigos
que lhe compreendem o drama ��ntimo, que n��o vem
ao caso aqui examinar, e �� muito bem recebido. Ningu��m
foge indefinidamente de si mesmo, nem das
Leis de Deus, que a todos nos alcan��am onde quer
que nos refugiemos. Desperte... desperte... e seja
bem-vindo, meu irm��o.
O Esp��rito come��ou a contorcer-se na aparelhagem
medi��nica delicada, a respirar com dificuldade,
e enquanto se dilu��am as forma����es da indument��ria
e da m��scara facial, ele se foi reconstituindo e assumindo
a personalidade que lhe pertencia, recurvando-
se como algu��m de muita idade, portador de problema
na coluna, para finalmente ser tomado por convulsivo
pranto, que lhe dificultou o verbo.

- Acalme-se, meu amigo! - Prop��s, suavemente
Eur��pedes - Todo renascimento �� doloroso, especialmente
quando se d�� atrav��s do abandono da fantasia
para a realidade, da loucura para a raz��o. Tudo
agora �� passado, e voc�� disp��e de um futuro aben��oado
que o aguarda. Agora �� necess��rio repousar, dormir
e sonhar com o Bem, de forma que o amanh�� surja
das n��voas do ontem com as claridades da alegria
de viver.
Nesse momento, dr. Ign��cio, que prosseguia apli



242
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

cando energias restauradoras do equil��brio, deslindou
o comunicante dos la��os que o vinculavam ao
perisp��rito da m��dium e o colocou em uma cama de
campanha que se encontrava atr��s do semic��rculo
para posterior transfer��ncia para a Enfermaria adequada,
onde prosseguiria o seu tratamento.

Ainda sob o clima ps��quico de j��bilo ante o ��xito
do cometimento espiritual com o irm��o Augusto, Hon��rio
despertou, chamado por Eur��pedes, logo assumindo
a postura alucinada. As formas-pensamento,
que o exauriam em terr��vel processo de vampiriza����o
das suas energias espirituais, assomaram ao
consciente e ele come��ou a delirar, assumindo posturas
grotescas, escabrosas, que eram os res��duos
dos seus conflitos morais e sexuais em desalinho, vivenciados
pela mente atormentada.

Utilizando-se das b��n����os do clima ps��quico,
uma das damas presentes, a Sra. Ernestina, visivelmente
mediunizada, levantou-se e aproximou-se do
enfermo. Irradiava mir��fica luz que a banhava toda
em tom prata-viol��ceo, espraiando-se pelo pequeno
recinto e dando-lhe uma tonalidade especial.

Nesse comemos, Eur��pedes assinalou:

- Hon��rio, voc�� j�� n��o se encontra no corpo no
qual se refugiava. Esp��rito liberto da mat��ria, mas
preso ��s suas sensa����es, voc�� j�� n��o necessita das
imagens delirantes para encontrar o prazer. Enquanto
n��o mudar de atitude perante a vida, descobrindo
outros valores, permanecer�� nesse estado de loucura.
Acorde para a realidade na qual est�� instalado e
passe a vivenci��-la.
Segurando-lhe firmemente as m��os, imp��s:

- Acorde! Abandone, por momentos breves que

243

Tormentos da obsess��o

sejam, as fantasias sexuais e os devaneios mentais.
Desperte, n��s lhe ordenamos em nome de Jesus, o
Cristo!

Do terapeuta, �� medida que a voz assumia express��o
en��rgica, ondas sucessivas de energia envolviam
o enfermo, diluindo as imagens mentais que
permaneciam como verdadeiro envolt��rio em torno
da sua cabe��a, e ele, nominalmente convocado, pareceu
despertar, alterou a express��o da face, os olhos
recuperaram a normalidade, banhado por d��bil luminosidade,
e enquanto balbuciava palavras desconexas,
num retorno lento, como quem desperta de um
largo letargo recheado de pesadelos int��rminos, percebeu
o Benfeitor e escutou-o, propondo-lhe:

- Observe onde se encontra. Voc�� n��o est�� a s��s
como lhe era habitual. Aqui estamos alguns amigos
interessados em liber��-lo do largo sofrimento, da loucura
do prazer imposs��vel. Volva �� consci��ncia e olhe
bem �� sua volta...
O paciente atendeu �� solicita����o, quase automaticamente,
e gritou, quando viu o Esp��rito comunicando-
se atrav��s de dona Ernestina:

- Deus meu, um anjo! Ser�� a M��e de Jesus?!
- N��o, meu filho. Sou a tua pobre m��ezinha, que
vem em teu aux��lio em nome da nossa M��e espiritual,
a Genitora de Jesus.
O paciente foi acometido de emo����o sincera e
levantou-se do leito, ajoelhando-se, num impulso intempestivo,
dobrando-se quase at�� o solo, que tentou
beijar em uma atitude profundamente comovedora.
A seguir, explicitou:

���Volte para o C��u, mam��e, porque eu n��o mere��o
a sua presen��a. Eu sou um p��ntano e a senhora ��


244

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

um l��rio de Deus. N��o me atormente com a sua visita,
porquanto eu sou detest��vel e devo estar sonhando...


- N��o, meu filho, voc�� est�� desperto, n��o �� um
sonho. - Elucidou com bondade e ternura que se misturavam
em vibra����es de paz. - Voc�� j�� n��o se encontra
entre as pessoas da Terra. A morte, essa benfeitora
de todos n��s, trouxe-o para o reino da verdade,
onde nada permanece oculto, e as oportunidades de
eleva����o se apresentam enriquecedoras. As afli����es
deveriam ter ficado com o corpo que j�� se desfez, mas
voc�� as trouxe no seu mundo ��ntimo, fechado �� luz
do discernimento e da confian��a irrestrita em Deus.
Agora, devem cessar suas afli����es.
Hon��rio chorava e sorria, num misto de tristeza
profunda e de alegria que o tomava. Enquanto isso,
ap��s uma breve pausa, que deveria auxili��-lo a absorver-
lhe as considera����es, a m��ezinha prosseguiu:

- Visitei-o durante os longos anos da nossa separa����o
f��sica, mas voc�� n��o me p��de identificar. A
solid��o em que esteve atirado por v��rios fatores, ao
inv��s de direcionar-lhe a mente para Deus e para a
paz, empurrou-o para as fugas espetaculares no rumo
do del��rio e das abje����es morais. N��o desejamos julgar-
lhe a conduta. Apenas queremos inform��-lo que
tudo isso agora �� passado, mas o futuro sorri-lhe mil
possibilidades de refazimento, de renova����o, de trabalho
edificante. Voc�� nunca esteve realmente a s��s...
Quanto nos foi poss��vel, procuramos infundir-lhe ��nimo
ante as vicissitudes e inspira����o para suportar o
fardo da soledade, que necessitava por imposi����o
evolutiva. Optando pelos devaneios, associou-se a
Esp��ritos vulgares que o exploraram ps��quica e fisi

245

Tormentos da obsess��o

camente, enquanto o auxiliavam no banquete da pervers��o
moral. Mas agora tudo come��a a mudar. Permane��a
atento, e levante-se, meu filho, para refundirmos
nossas energias em um abra��o de inef��vel
amor.

A veneranda Entidade dobrou a m��dium, distendeu
os bra��os e auxiliou o filho at��nito a levantar-se.
Tremendo como varas verdes, foi cingido pela genitora,
enquanto apoiava a cabe��a suarenta e dorida
nos ombros maternos, solu��ando, e balbuciando: - Eu
n��o sabia! Eu n��o sabia...

- Jesus, meu filho - acentuou a nobre visitante ��
o nosso Caminho para a Verdade e para a Vida. Busque-
O em suas reflex��es, siga-0 em seu comportamento
mental e suas atitudes espirituais. �� sempre
tempo para recome��ar e para servir. N��o se detenha.
Tanto quanto me esteja ao alcance, virei visit��-lo, porque
estagio em outro campo de atividade que n��o
est�� nesta cidade. O nosso amor facilitar�� o nosso
interc��mbio mental e nos dar�� for��as para recuperarmos
juntos o tempo malbaratado, as oportunidades
perdidas, o servi��o que deixou de ser executado.

Auxiliando-o a sentar-se no leito, concluiu com
do��ura:

- Nunca se esque��a do amor de Deus. �� medida
que voc�� compreender o significado deste momento,
mesmo que retornando os clich��s viciosos �� sua consci��ncia,
reaja e pense em Deus, buscando a leitura
dos textos evang��licos, a fim de conseguir material
iluminativo para o seu crescimento interior.
"Muito bom ��nimo, filho da alma! Que Deus o
aben��oe e o ampare!"
Agradecendo ao grupo que lhe criou as condi



246

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

����es ps��quicas h��beis para a comunica����o, afastou-
se da m��dium que volveu �� consci��ncia.

Hon��rio respirava sem muita dificuldade, enquanto
as l��grimas lhe escorriam lentas e, em reflex��o,
tentava fixar na mente a ocorr��ncia de alto significado,
sem apresentar, por��m, os del��rios que antes
lhe caracterizavam o comportamento.

Pairando peculiar sil��ncio, Eur��pedes concluiu a
reuni��o, orando:

-S��bio M��dico das almas!
No momento em que encerramos a opera����o espiritual
de liberta����o dos Esp��ritos emaranhados no cipoal
do erro e da amargura, reconhecemos que foste
Tu Aquele que agiu por n��s e atrav��s de n��s, exteriorizando
o Teu inef��vel amor, que os impregnou, liberando-
os de si mesmos e abrindo-lhes os horizontes

da sa��de interior e plena.
Agradecemos-Te, Benfeitor da Terra, e curvamo-
nos, humildemente, ante a Tua magnanimidade, rogando-
Te que nos n��o deixes a s��s na longa marcha

ascensional, para que n��o venhamos a perder o Teu
rumo, que �� a nossa seguran��a.

Suplicando-Te que nos envolvas a todos n��s nas
Tuas merc��s, conclu��mos o labor desta noite, preparando-
nos para o permanente amanh�� de nossas vidas.
S��, pois, conosco, hoje e sempre.

Podia-se perceber-lhe a emo����o al��m das palavras
e a humildade real que as vestia de beleza e gratid��o.


A seguir, depois de breves momentos de conversa����o
edificante despediu-se e afastou-se com as
m��diuns, rumando para novos deveres.

Hon��rio foi conduzido a uma outra enfermaria in



247

Tormentos da obsess��o

dividual, onde passaria a receber diferente assist��ncia
�� daquela que lhe era oferecida at�� ent��o, enquanto
dr. Ign��cio, eu e Alberto, rumamos em dire����o aos
nossos aposentos.

Caminhando silenciosamente, porque a ocasi��o
me ensejasse oportunidade, interroguei ao m��dico:

- Hon��rio continuar�� l��cido a partir deste momento?
- N��o totalmente - respondeu com afabilidade. Os
processos de auto-obsess��o prolongada deixam
muitas seq��elas que somente o tempo e o esfor��o do
paciente poder��o drenar, superando-as. Nesse processo,
conforme vimos, o enfermo experimentava o
ass��dio do seu comparsa obsessivo, que se mantinha
�� dist��ncia, mas se lhe vinculava pelo pensamento,
induzindo-o constantemente �� viv��ncia dos prazeres
vulgares. Fazia-se v��tima do desequil��brio pessoal
e da liga����o perversa. Amparado aquele que o
perturbava, e que ir�� enfrentar as conseq����ncias dos
seus atos infelizes, o paciente ter�� pela frente todo
um significativo trabalho de reconstru����o mental, de
reestrutura����o do pensamento, de mudan��a da conduta
moral. No entanto, sob o adequado tratamento
que se prolongar�� pelo per��odo necess��rio, conseguir��
readaptar-se ao correto, ao moral e ao saud��vel

-E que acontecer�� com Mefist��feles? - Indaguei
curioso.
- Ser�� atendido conforme merece, por sua vez
desligando-se do outro comparsa mais inditoso, que
dele se utilizava para processos vulgares dessa natureza.
Nosso relacionamento de criaturas umas com
as outras produz efeitos correspondentes aos graus
de vincula����o. Quando auxiliamos a algu��m, que pas

248
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sa a contribuir positivamente no grupo social em que
se encontra, os juros de amor s��o-nos tamb��m acrescentados,
porquanto o importante �� o ato inicial de
ajuda. Da mesma forma, quando nos responsabilizamos
pela degrada����o ou queda, infelicidade ou desalinho
de outrem, todo o volume de desares que aparece
�� adicionado �� nossa atitude primeira, ��quela
que deu curso aos desatinos que tiveram lugar a partir
dali. Eis porque o bem �� sempre melhor, mais proveitoso,
mais positivo para aquele que o realiza. Nunca
devemos desperdi��ar o ensejo de servir, de amar,
de contribuir em favor do progresso, por menor que
seja a nossa contribui����o, por menos valiosa que se
nos apresente. Estamos convidados a construir, nunca
a perturbar, a erguer o amor ��s culmin��ncias, jamais
a impedir-lhe o avan��o, seja sob qual justificativa
o fa��amos.

Silenciando, naturalmente, respeitamos-lhe o cansa��o
natural e, logo mais, atingindo o apartamento
onde me hospedava, despedi-me de Alberto e do nobre
mission��rio da psiquiatria, buscando tamb��m o
conveniente repouso.


SOCORRO DE EMERG��NCIA

No dia seguinte, ao despertar, o drama que envolvia
Augusto e Hon��rio retornou-me �� mem��ria com
acentuada nitidez. Relacionava aquelas duas vidas,
cujas experi��ncias tiveram cen��rio em ��pocas e lugares
diferentes, e, no entanto, se associaram de
maneira t��o perturbadora qu��o desastrosa. Sem que
houvesse algum v��nculo pessoal, pelo menos aparente,
passaram por experi��ncias doentias que somente
a bondade de Deus conseguira interromper. Perguntava-
me, ent��o: - Seguiriam diferente rumo ou voltariam
a encontrar-se, a fim de dilu��rem quaisquer ressentimentos
que permanecessem ap��s as reflex��es
profundas dos acontecimentos nefastos? Haveria alguma
liga����o espiritual anterior negativa, que justificasse
aquele intercurso obsessivo? Outras quest��es
dentro do mesmo pensamento surgiram-me e tive que
postergar esclarecimentos, aguardando o momento
pr��prio.

Como de h��bito naquele per��odo, Alberto veio
buscar-me para participar das atividades nas enfermarias,
observando e aprendendo, e expus ao amigo
as minhas inquieta����es.


250
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Demonstrando interesse, foi sincero em responder-
me que tamb��m ignorava as implica����es em torno
do caso muito especial.

Atrav��s do cicerone am��vel, fui informado que,
ao amanhecer do dia imediato, ter��amos uma reuni��o
de atendimento espiritual a um companheiro encarnado,
que se encontrava enleado em sutil obsess��o,
e deveria receber uma assist��ncia mais especializada
em nossa Institui����o, o que era relativamente comum.
Esse minist��rio de amor acontecia com a finalidade
de auxiliar os cora����es humanos reencarnados
a sentirem de mais perto o amor de Deus e serem
alertados das ciladas que lhes eram armadas pela invigil��ncia
e pelos inimigos da Causa do Bem na Terra,
assim como dos seus pr��prios advers��rios, aqueles
em rela����o aos quais cometeram desatinos, e agora
se voltavam armados de ��dio e dominados pela sede
de vingan��a. Para esse novo trabalho eu me encontrava
convidado, devendo preparar-me convenientemente,
como seria de esperar-se.

N��o pude ocultar o j��bilo, porque o tema da obsess��o
sob qualquer aspecto considerado sempre me
fascinou, ajudando-me a entender o intrincado da Lei
de Causa e Efeito no transcurso da evolu����o humana.

Desse modo, visitamos alguns dos amigos cujas
experi��ncias dolorosas anot��ramos, oferecendo a contribui����o
da nossa fraternidade e, dentre eles, Hon��rio,
que apresentava sinais de vis��vel melhora, embora
a express��o dos olhos ainda denotasse fixa����o
nos quadros do passado, conforme era de esperar-se
e nos fora esclarecido.

N��o �� nada f��cil a ascens��o, a transfer��ncia do
vale estreito para a adapta����o no monte que alcan��a


251

Tormentos da obsess��o

horizontes infinitos. A longa peregrina����o pelo charco
produz diversos problemas ao organismo que se
intoxica das emana����es morb��ficas, da umidade, do
tremedal. A medida que o ser ascende �� convidado ��
adapta����o lenta em cada patamar, a fim de no futuro
poder contemplar as alturas e absorver o oxig��nio
puro a que n��o est�� acostumado.

O dia transcorreu enriquecido de experi��ncias libertadoras,
por ensejar-nos reflex��es cada vez mais
profundas em torno dos acontecimentos que elevam
ou escravizam o Esp��rito, decorrentes da sua conduta
anterior. A vis��o da vida, desde o ponto de vista
espiritual, elimina o mecanismo da culpa alheia e a
consci��ncia se transforma no acusador severo ou no
benfeitor amigo de cada qual, relacionando os feitos
existenciais que retornam vivos e pulsantes atrav��s
do caleidosc��pio da mem��ria.

As 23h30min., dr. Ign��cio buscou-me no apartamento,
ensej��ndo-me apresentar-lhe as interroga����es
sobre o caso Hon��rio. Com muita sabedoria e
simplicidade, explicou-nos que, nem todo novo encontro
se trata de um reencontro, como ali��s, �� l��gico.
Estamos diariamente fazendo novos amigos ou
afastando-nos deles conforme as nossas a����es. No
caso que me impressionara, fora o encarnado quem
abrira brechas mentais para a parasitose espiritual,
atraindo Mefist��feles pelo teor de vibra����es emanadas
pela sua mente em desalinho. E logo adiu:

- Cada experi��ncia humana faculta vincula����o
com o objetivo a que se direciona, ensejando novos
relacionamentos ou dando prosseguimento aos antigos,
sem que, necessariamente, esteja a repetir-se
com as mesmas personagens. Digamos, por fim, que

252

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

foi meramente casual esse fen��meno obsessivo, face
�� similitude vibrat��ria entre os dois c��mpares espirituais.
Liberados dos la��os da afinidade que os retinha
em perturba����o, marchar��o por caminhos diversos,
tendo em vista os valores que tipifiquem o processo
evolutivo de cada qual. Talvez possam encontrar-
se, o que n��o ser�� indispens��vel, porquanto despertar��o
em paisagens mentais pr��prias a fim de seguirem
adiante no rumo do Infinito.

Quando silenciou, est��vamos em um recinto que
transcendia a beleza comum, na sua simplicidade
quase comovedora. Harmonias espirituais pairavam
no ar, produzindo um estado de emo����o especial. De
reduzidas propor����es, era um santu��rio para as experi��ncias
medi��nicas e os interc��mbios com aqueles
que transitavam na noite terrestre exercendo atividades
muito delicadas. Preservado de vibra����es
delet��rias, convidava �� medita����o e �� prece.

Ao nos adentrarmos, encontramos o nobre Eur��pedes
e sua dedicada m��dium, bem como outros Esp��ritos
af��veis, para mim desconhecidos, que nos receberam
com cordialidade e simpatia.

Dr. Ign��cio, sem maior formalidade, apresentou-
nos, explicando a raz��o da minha presen��a no labor
espiritual da noite, e todos foram, a uma s�� voz, gentis
e fraternos. Alberto tamb��m j�� se encontrava presente,
o que aumentou a minha alegria.

A reuni��o seria um pouco mais tarde. A necessidade
do encontro antecipado tinha por objeto favorecer-
nos o contato proveitoso com o dedicado Eur��pedes,
que iria conversar conosco informalmente,
conforme aconteceu.

- Dentre as atividades medi��nicas a que me hou

253

Tormentos da obsess��o

vera afervorado na Terra - iniciou, o devotado amigo,
a sua explica����o - o tratamento com os obsessos sempre
me significou minist��rio delicado e credor do
maior empenho. Acompanhar a trajet��ria de um ser
submetido pela mente desarvorada de outro, que se
utiliza da situa����o espiritual para reivindicar valores
que lhe n��o pertencem, porque tudo procede de Deus,
ou para exigir pagamentos morais por danos sofridos,
sempre se me expressava como uma forma de
sofrimento pessoal. Isso, n��o somente por sentir a alucina����o
do hospedeiro, mas tamb��m por compreender
a infelicidade do seu transit��rio h��spede. Sempre
que enfrentava essa pertinaz enfermidade, procurava
penetrar no ��mago do vingador para despert��-lo
para a felicidade que adiava apenas por capricho, ignor��ncia
ou rebeldia. Acostumado, no entanto, ao
abandono que se permitira ou ao sofrimento a que se
deixara arrastar, esse irm��o do Calv��rio relutava em
acreditar nos meus sentimentos, sempre supondo que
eu guardava motivos subalternos, qual o de afast��-
lo do encarnado e semelhantes, sem qualquer considera����o
pela sua dor. Evitando discuss��es est��reis,
sempre busquei irradiar simpatia e compreens��o pelo
seu drama, conseguindo sensibilizar um expressivo
n��mero de equivocados.

"Na trama da obsess��o, portanto, n��o apenas se
encontra em desalinho o que chora e se desespera,
mas tamb��m aquele que aplica o l��tego, o verdugo
aparentemente insens��vel, que �� sempre algu��m que
perdeu o rumo de si mesmo, por conseq����ncia, a identifica����o
com a vida. Acercar-se da sua situa����o penosa,
mediante sincera emo����o, �� de significado profundo,
porque a irradia����o mental �� mais poderosa


254

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

do que a verbaliza����o que pode ser destitu��da da vibra����o
de legitimidade. O amor, por conseq����ncia, ��

o mais poderoso recurso ao nosso alcance, expresso
ou n��o, para ser utilizado, do que quaisquer argumentos
bem urdidos, por��m, escassos do recurso vitalizador
que �� necess��rio a todo aquele que se encontra
em car��ncia afetiva. E os perseguidores s��o,
invariavelmente, Esp��ritos em grande car��ncia, desconfiados
e ��ridos, porque foram v��timas de enleios e
trai����es relacionados com os seus sentimentos de
nobreza e de sinceridade."
Fazendo uma pausa oportuna, e mantendo a express��o
da face muito serena, prosseguiu:

- Tendo em vista a necessidade de ressarcimento
das d��vidas contra��das pelo abuso da confian��a que
nos foi oferecida, torna-se-nos necess��rio o mergulho
na carne, a fim de refazermos os caminhos, as afei����es,
as oportunidades. Antes da viagem �� reencarna����o,
ainda l��cido, o candidato promete fidelidade
e devotamento, sintonia com os Amigos espirituais
que ficaram na Erraticidade para os ajudar na desincumb��ncia
do dever. Logo por��m, que o corpo ensombra
a lucidez espiritual, diminuindo-a, os impositivos
da mat��ria passam a predominar no ser em
recome��o, n��o poucas vezes afastando-o do caminho
tra��ado. Eis porque o Espiritismo, representando o
retorno de Jesus �� Terra atrav��s de O Consolador, desempenha
a miss��o sublime de despertar as consci��ncias
adormecidas, facultando o interc��mbio direto
com o mundo de origem, onde se haurem as energias
indispens��veis ao cumprimento da tarefa e se disp��em
das lembran��as para o prosseguimento dos
compromissos. �� tamb��m durante a vilegiatura car

255

Tormentos da obsess��o

nal que t��m curso os combates iluminativos, quando
se devem reunir e confraternizar os antigos advers��rios,
a princ��pio, sob o sufr��gio da dor, porquanto defraudaram
as Leis, sem que delas se possam evadir,
para depois se renderem ao amor, �� fraternidade.

"Assim sendo, as matrizes que se encontram no
perisp��rito - as marcas impressas pela consci��ncia
culpada - facultam as indu����es e fixa����es entre credores
e devedores, expressando-se em afli����es obsessivas
para ambos atormentados. Ningu��m, pois,
na Terra, que esteja isento da comunh��o com os Esp��ritos,
seja pela necessidade reparadora, manifeste-
se atrav��s do impositivo da inspira����o e do direcionamento
feliz para o rumo que se pretende alcan��ar.
Esse relacionamento faz parte do processo da evolu����o,
porque o crescimento ou a queda de algu��m sempre
repercute na grande fam��lia espiritual que constitu��mos.
Reconhecemos, portanto, que a reencarna����o
�� sempre um grande desafio, especialmente para
aquele que deseja realizar a merit��ria obra de espiritualiza����o
dos homens, a come��ar por si mesmo. S��o
muitos os impedimentos naturais que se levantam
nessas ocasi��es, tentando embara��ar ou dificultar a
execu����o do programa delineado."

O querido Instrutor olhou suavemente para o
Alto, como tentando colocar em palavras o que conhecia
por viv��ncia pessoal, e estava acima da verbaliza����o,
continuando:

-O carreiro carnal �� sempre uma experi��ncia de
alto risco para quem deseja atingir as cumeadas da
montanha das bem-aventuran��as. Recordando-nos
do Mestre, constataremos que Ele venceu os tr��s
montes que O desafiaram: o Tabor, onde se transfi

256

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

gurou esplendente de beleza diante de Mois��s e Elias,
que vieram reverenci��-lO, bem como dos disc��pulos
que ainda n��o tinham dimens��o da Sua grandeza.
Foi o monte da comunh��o espiritual no seu sentido
mais elevado. O outro, foi aquele no qual Ele cantou
as bem-aventuran��as, revolucionando os c��digos
de ��tica, de economia e de moral vigentes na sociedade,
abrindo horizontes novos para o entendimento
dos valores espirituais. E, por fim, o G��lgota, onde,
aparentemente vencido, triunfou, imortal, colocando
a ponte para a perp��tua comunh��o de todas as criaturas
com o Pai. No primeiro, Ele desvelou-Se, no segundo
estabeleceu as diretrizes do amor, e, no terceiro,
viveu todos os ensinamentos que enunciou.

"O Esp��rito reencarnado em tarefa libertadora
sempre ser�� chamado ao testemunho nos montes
onde problemas equivalentes o aguardam: no primeiro,
deve dar a conhecer o objetivo a que se dedicar��;
no segundo, cabe-lhe tra��ar as linhas de comportamento
que adotar��, e no terceiro, viv��-las at�� o momento
final com equil��brio e abnega����o. N��o �� demasiado,
porque nunca faltar�� o apoio indispens��vel ao
��xito, que procede do mundo espiritual vigilante e
ativo. Eis porque, iniciada a tarefa na seara, ningu��m
deve olhar para tr��s.

"Reunimo-nos aqui, neste momento, para receber
um querido companheiro que se encontra nas
sombras terrestres com tarefa muito bem programada,
mas caminha a largos passos para a loucura das
paix��es humanas a que ora se entrega. Telementalizado
pelos advers��rios do seu progresso, bem como
por sistem��ticos inimigos da liberta����o das mentes
humanas das chagas obsessivas, deveremos convi



257

Tormentos da obsess��o

dar o companheiro a reflex��es acuradas e, mais uma
vez, tentar dissuadi-lo dos objetivos v��os que est��
abra��ando com louca sofreguid��o, procurando na Terra
o prazer e o engodo, a fama e a popularidade, esquecendo-
se de Jesus, que vai passando para segundo
plano, ou pior, que se torna instrumento de atra����o
para os seus torpes desejos de sensa����es. Quando
se est�� muito preocupado com a pr��pria promo����o,
esquece-se da raz��o do trabalho, que passa a
lugar secund��rio. Como a exist��ncia f��sica �� muito
breve e logo se acaba, o iludido desperta no abismo
do arrependimento tardio, assinalado pelos sofrimentos
demorados.

"Aguardemos, portanto, Edmundo, o servidor em
perigo."

Nesse comenos, um grupo de amigos espirituais
deu entrada no recinto trazendo Edmundo adormecido,
que foi colocado em uma cadeira confort��vel e
acolhedora.

Pude observar que se tratava de um jovem que
ainda n��o completara quarenta janeiros. O seu era
um sono inquieto, que demonstrava desalinho interior.
Embora a apar��ncia agrad��vel, o corpo perispiritual
apresentava-se com estranhas exterioriza����es
vibrat��rias, particularmente nos centros coron��rio e
gen��sico. Emitiam ondas de cores quentes, intermitentes,
denunciando comprometimento dos fulcros
geradores de energia. Continuando a observa����o com
mais cuidado, percebi-lhe dilacera����es no campo
modelador biol��gico de proced��ncia inferior, que iriam
manifestar-se posteriormente no corpo som��tico.
No centro cerebral estava instalada a matriz obsessiva,
o que tamb��m se apresentava no aparelho se



258
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

xual. Certamente, os plugues de liga����o haviam sido
deslindados magneticamente naquele momento pelos
assistentes que o trouxeram para o encontro especial.


Interrompi as observa����es, porque o Instrutor
exorou as b��n����os divinas para a atividade que se
iniciava mediante comovida ora����o, ap��s o que se
aproximou do visitante e o despertou, chamando-o
nominalmente com carinho fraternal.

Ouvindo-o, e despertando, Edmundo logo recobrou
a lucidez, detectando com relativa facilidade o
local onde se encontrava, n��o ocultando a surpresa
que o acometeu.

Sorridente, percebeu o Mentor, que jovialmente

o convidou �� reflex��o, sem maiores pre��mbulos:
- Saudamo-lo mui cordialmente em nome de Jesus,
a quem servimos. Aqui nos reunimos e o recebemos
carinhosamente com o objetivo de record��-lo
que esta n��o �� uma viagem de recrea����o espiritual
ou de compensa����o emocional. Objetivamos, isto sim,
acord��-lo para o cumprimento digno das responsabilidades
assumidas antes do ber��o e que, neste momento,
encontram-se em grave perigo para a sua concretiza����o.
Fez uma r��pida pausa, e com tom bondoso, mas
en��rgico, prosseguiu:

- Voc�� partiu desta Col��nia com um programa de
a����o espiritual muito bem delineado, no qual foram
investidos muitos valores, e o atendeu por bom per��odo
da exist��ncia f��sica. Abeberando-se na inexaur��vel
fonte do Espiritismo, saciou a sede de informa����es
e despertou para a tarefa que deveria realizar. A
mediunidade franqueou-lhe o acesso �� Espiritualida

259

Tormentos da obsess��o

de, que jamais deixou de regatear-lhe aux��lio e apoio.
Agora, quando a notoriedade o alcan��a, facultando-
lhe ensejo para ampliar o campo de servi��o e dedica����o
a Jesus e �� Sua Doutrina, voc�� come��a a comprometer-
se com a frivolidade e o mundanismo.

"Entendemos que esses advers��rios j�� se lhe encontram
fixados no Esp��rito, respons��veis que foram
por mais de um insucesso em exist��ncias anteriores.
Todavia, esta �� a sua oportunidade feliz para servir
ao Senhor, e n��o para dEle servir-se, como vem fazendo,
repetindo a ins��nia para a qual recebeu altas
dosagens de energia libertadora. A mediunidade ostensiva
�� compromisso muito grave de conseq����ncias
relevantes, que n��o pode ser utilizada mediante a
irrever��ncia e o despaut��rio.

"N��o lhe deve ser v��o o conhecimento espiritual
para o transformar em espet��culo circense, que lhe
exalta o personalismo doentio em detrimento da austeridade
e da consci��ncia de dever que lhe cumpre
atender. O investimento dos bons Esp��ritos est�� sendo
malbaratado, enquanto a futilidade e a presun����o
assumem prioridade no seu comportamento."

Silenciou, facultando ocasi��o de serem as suas
palavras apreendidas e memorizadas.

Ante o aturdimento de Edmundo, o Benfeitor continuou:


- Iremos record��-lo dos compromissos a que voc��
se vinculou e os vem desrespeitando sob indu����es
de Esp��ritos vulgares, que ora se lhe associam �� conduta
mental e social, apoiados nas suas prefer��ncias
transatas...
Olhando a senhora Modesto, a nobre m��dium desenrolou
um pergaminho que trazia nas m��os e, com


260

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

voz pausada, leu o programa que fora tra��ado por solicita����o
do medianeiro e sua anu��ncia jubilosa a algumas
propostas que haviam sido apresentadas pelos
seus Guias espirituais.

Eu me encontrava pasmado. Era a primeira vez
que via uma atividade dessa natureza, mediante a
exibi����o de um relat��rio no qual estavam arquivadas
as responsabilidades de algu��m comprometido perante
as soberanas leis.

A voz mel��dica da senhora parecia derramar p��rolas
luminosas que eram os deveres que assinalariam
a experi��ncia do companheiro reencarnado.

- Voc�� prometeu - prosseguiu com a leitura do
documento - canalizar para Jesus e Sua Doutrina
quaisquer homenagens e triunfos que lhe chegassem.
Aceitou servir e passar, lutando contra as tend��ncias
inferiores; superar o cerco da bajula����o e reconhecer
que a faculdade medi��nica n��o �� propriedade
pessoal, mas empr��stimo superior, a fim de dignific��-
la. Voc�� pediu a solid��o, para recolher-se nos bra��os
amorosos do Mestre; rogou o conv��vio com os sofredores,
a fim de enxugar-lhes as l��grimas atrav��s
das b��n����os da mediunidade; suplicou a simplicidade
de cora����o, de forma que pudesse entesourar paz;
empenhou-se para que a sua fosse a fam��lia universal,
e todo esse seu esfor��o deveria ser direcionado
para a ilumina����o de consci��ncias, considerando o
s��culo como oportunidade de crescimento e n��o de
usan��a desarvorada...
Por alguns minutos a m��dium vitoriosa repassou
as informa����es contidas no pergaminho em luz, at��
conclu��-lo.

Silenciando, Eur��pedes perguntou-lhe com tris



261

Tormentos da obsess��o

teza na voz:

- Que tem o querido irm��o feito da f�� renovada?
Como se tem utilizado dos recursos medi��nicos, ora
movimentados por for��as inferiores? Como se encoraja
a tentar unir C��sar e Jesus no mesmo recipiente
de prazer e proclamar que a vida deve ser fru��da sem
qualquer desvio das suas concess��es?
Outras interroga����es foram apresentadas com
amor e severidade, a fim de que ficassem impressos
na mem��ria espiritual todos os acontecimentos daquela
noite incompar��vel.

- Somando-se a esses desatinos de comportamento
moral e psicol��gico - prosseguiu o nobre Mentor
- advertimo-lo que os Mensageiros que o amparam
t��m encontrado dificuldades para manter o contato
ps��quico, porque os seus centros de capta����o medi��nica
est��o sintonizados com as faixas de baixa freq����ncia
que decorrem das suas aspira����es ocupadas
por ativistas infelizes. A mente do m��dium deve
sempre estar vinculada aos ideais de enobrecimento,
impedindo, desse modo, a interfer��ncia dos Esp��ritos
vulgares, que se comprazem na ilus��o, estimulando
conduta equivocada, para mais estreitarem a
comunh��o ps��quica com aqueles que os albergam no
mundo ��ntimo. Nunca faltam recursos preciosos para
a preserva����o da sa��de interior, tais: a ora����o, as leituras
edificantes, o trabalho de socorro fraternal, tanto
quanto o social que diz respeito aos valores existenciais,
a medita����o, o espairecimento sadio, a conversa����o
edificante, o interc��mbio de pensamentos
elevados... Somente dessa forma, �� poss��vel preservar
o psiquismo das incurs��es desastrosas, propiciadas
pelos servidores das paix��es subalternas. Nesse

262
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sentido, o caro irm��o tem-se permitido a cultura da
ociosidade espiritual, negligenciando os deveres,
para ter tempo de entregar-se ao culto da personalidade
e ao prazer nas rodas elegantes do anedot��rio
picante e vulgar, tanto quanto da exibi����o de valores
que est��o longe de ser leg��timos... Para onde pretende
direcionar os passos? Que tem feito dos tesouros
medi��nicos que deveriam ser aplicados para enxugar
l��grimas e diminuir afli����es? Onde o devotamento
�� causa do Bem? A simples presen��a nas reuni��es
que propiciam a exalta����o do ego, nas quais a chocarrice
e a insensatez campeiam, somente traz maior
contingente de responsabilidade n��o atendida. Torna-
se urgente que fa��a uma avalia����o de conduta, a
fim de retomar a charrua sem olhar para tr��s. Fracasso
hoje, significa compromisso adiado para mais tarde
com aumento de graves deveres.

"Este nosso reencontro deve facultar-lhe o despertar
da consci��ncia e a vis��o real do compromisso
com o corpo ef��mero. N��o negamos a contribui����o
da psican��lise, a que recorreu para elucida����o dos
enigmas que dizem respeito ao sexo e aos conflitos
que dele se derivam. Todavia, conv��m considerar que

o ser n��o se origina no momento da concep����o fetal.
A sua carga gen��tica �� desenhada antes desse instante,
atrav��s do qual o Esp��rito mergulha no fen��meno
carnal... As heran��as morais se delineiam como
futuros compromissos a serem resgatados, necessitando
mais de seriedade moral na conduta do que
placebos psicol��gicos, que contribuem para aparente
melhora, mas n��o resolvem em profundidade o problema
das responsabilidades assumidas, que ressurgir��o
em outras express��es. Voc�� solicitou determi

263

Tormentos da obsess��o

nadas inibi����es de natureza sexual, a fim de dedicarse
mais ao amor desinteressado de paix��es, �� conviv��ncia
com os sofredores, compreendendo-lhes os
transes porque passam, �� ren��ncia de alguns prazeres,
de modo a oferecer maior contributo aos labores
espirituais... Ademais, tornando-se vis��vel o seu trabalho
esp��rita, n��o lhe cabe o direito de desnudar os
pr��prios conflitos e apresentar solu����es equivocadas,
que ir��o servir de modelo para outros cora����es atormentados,
que buscar��o a fuga ao inv��s do enfrentamento
libertador.

"Ningu��m se evade do dever sem mais graves
conseq����ncias. A reencarna����o �� b��n����o que faculta
a repara����o dos erros e propicia o crescimento moral
mediante o dever retamente exercido. A tarefa, que
voc�� escolheu, p��e-no em contato com antigos companheiros
de alucina����o, hoje desencarnados, que
ora se manifestam para demonstrar a sobreviv��ncia,
n��o obstante permane��am alguns em estado de perturba����o
e desar, deixando seq��elas vibrat��rias no
seu campo medi��nico... Para uma saud��vel viv��ncia
espiritual, torna-se imprescind��vel que a sua estrutura
moral seja bem definida, no que diz respeito ��
eleva����o de pensamentos e nobreza dos atos."

Houve um sil��ncio expressivo. O Benfeitor fez um
sinal quase impercept��vel, e dois auxiliares deram
entrada a um Esp��rito visivelmente cruel, que estertorava
no campo vibrat��rio em que era conduzido.

Enquanto isso, dona Maria Modesto, profundamente
concentrada, atraiu a Entidade violenta, que
lhe tomou os recursos medi��nicos, logo esbravejando:


- Por que essa prote����o a esse biltre? N��o v��em

264

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

que ele nos elege ao inv��s de aos senhores? Reencontramo-
nos, por fim, ap��s um largo distanciamento.
Atra��do por ele e suas m��rbidas exig��ncias morais,
vivemos agora em parceria. Ajudo-o na dissimula����o,
na pr��tica do exibicionismo, e devoro-lhe as
entranhas, nutrindo-me com o ��dio que lhe devoto.

Tomado de surpresa, Edmundo estremeceu e p��s-
se muito p��lido.

- Reconhece-o? - indagou-lhe Eur��pedes - tomado
de imensa compaix��o.
- Como n��o?! - Ripostou o visitante, que tremia,
dominado por profunda emo����o. - Vivemos juntos em
Paris, nos dias j�� long��nquos do come��o deste s��culo,
quando nos acumpliciamos ambos em relacionamentos
perversos. Eu experimentava peculiar intui����o
a respeito da sua presen��a no meu campo ps��quico,
mas n��o tinha certeza...
N��o p��de alongar-se, porque o sic��rio interrompeu-
o de chofre, praguejando:

- Tu sabes que a morte a ningu��m devora. Mais
do que outros tens conhecimento da imortalidade e
suas diversas viv��ncias gra��as aos teus recursos
medi��nicos. Agora est��s sob o meu comando, e n��o
mais daquele que antes te conduzia. As afinidades
que existem entre n��s, e que aproximaste mais quando
optaste por nossos interesses, tornam-nos quase
xif��pagos espirituais. Espero que, neste intercurso,
predominem os meus sentimentos, arrastando-te aos
s��tios onde me encontro por tua causa.
Edmundo mantinha uma express��o de choque
desenhada na face e respirava ofegante, quase transtornado.
Nas suas paisagens ��ntimas, a mem��ria houvera
desencadeado pain��is que estavam cobertos


265

Tormentos da obsess��o

pela n��voa do olvido, mas permaneciam vivos e agora
retornavam.

Com a eleva����o que o caracterizava, o Mentor dirigiu-
se ao verdugo e atenuou-lhe a agressividade,
informando:

- O amigo se refere ao conhecimento da imortalidade
que o nosso Edmundo possui. Mas o fato �� id��ntico
em rela����o a voc��. Sobrevivente do carreiro carnal,
permanece com os valores que amealhou e deles
se utiliza. Tomando a decis��o de vingar-se do antigo
companheiro de lutas, escorrega na mesma rampa da
loucura, porque se torna v��tima de si mesmo. Ningu��m
tem o direito ou o poder de transformar-se em cobrador
do seu pr��ximo, buscando regulariza����o de compromissos
que ficaram em sombras. A Vida a todos
imp��e suas necessidades, n��o cabendo a ningu��m
esse procedimento arbitr��rio e infeliz. Da mesma forma
como o nosso Edmundo agiu incorretamente, a
sua conduta n��o lhe �� diferente. At�� quando teremos
a luta mudando somente de cen��rio, e prosseguindo
a mesma batalha?
- Ele em nada se modificou - estertorou o enfermo
espiritual - permanecendo vulgar e debochado,
explorador da credulidade alheia e aproveitador sem
car��ter. �� destitu��do de sentimento de amor e de dignidade,
porque o seu ego��smo o alucina. Sempre foi
assim a sua forma de viver.
- N��o desconhecemos os problemas do seu acusado
- elucidou o Instrutor - no entanto, n��o vemos
condi����es de ser-lhe voc�� o julgador impiedoso e o
cobrador inditoso. A sua atitude n��o �� diversa da que
ele vem mantendo. N��o lhe cabe, portanto, a prerrogativa
de apresentar-se como o bra��o da Lei que a

266

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

tudo e a todos alcan��a, porquanto isso d��-se sem a
interven����o de quem quer que seja...

- Haja o que houver - interrompeu o indigitado
perseguidor - seguirei vingando-me, e ningu��m me
impedir�� de faz��-lo. Nossos la��os de identifica����o
muito vigorosos me facultar��o isso. Eu o conhe��o e
os senhores n��o. Compromisso com ele n��o tem qualquer
sentido. Os anos em que esteve c��, preparando-
se para a nova experi��ncia n��o lhe concederam
as resist��ncias necess��rias para a auto-supera����o.
Foi um investimento muito valioso em pessoa sem
dignidade...
- Quanto a isso - interferiu Eur��pedes com brandura
- n��o lhe cabe o julgamento por falta total de
conhecimentos que lhe facultem o mesmo. A decis��o
veio de Mais Alto e ele aceitou a incumb��ncia, havendo
falhado em alguns pontos, �� certo, gra��as tamb��m
�� sua interfer��ncia, o que lhe diminui a responsabilidade,
mas estando ainda em condi����es de recome��ar
e prosseguir com admir��veis possibilidades
para o ��xito futuro.
"De nossa parte agradecemos a presen��a do
amigo e suas informa����es, que ser��o levadas em conta,
ao tempo que o envolvemos em vibra����es de paz
e de perd��o, despedindo-nos por enquanto"....

Os assistentes acercaram-se da m��dium em transe
e aplicaram-lhe energias anestesiantes, que terminaram
por acalmar o agressor espiritual que se rebelava
e esbravejava, levando-o ao sono refazente, e
logo retirando-o do recinto.

No sil��ncio, que se fez natural, podia-se ouvir a
respira����o ofegante de Edmundo, que chorava, sinceramente
comovido.


267

Tormentos da obsess��o

O amoroso Eur��pedes acercou-se-lhe, tomou-lhe
as m��os e falou-lhe paternalmente:

- Irm��o da alma: tenha cuidado! Voc�� acaba de
conhecer a trama oculta que se desenrola na Erraticidade
inferior para impedir-lhe o avan��o. Naturalmente,
que n��s, os seus Amigos devotados, n��o nos encontramos
inertes, e esta reuni��o �� uma demonstra����o
disso. Todavia, a sua coopera����o ser�� de inestim��vel
valor em benef��cio dos seus deveres. �� necess��rio
retroceder no caminho por onde tem seguido,
para recome��ar a estrada da ren��ncia e do servi��o
de Jesus, por onde deve avan��ar. N��o se estremunhe
ante a realidade, que lhe cabe entender para prosseguir.
Os dias terrestres s��o muito r��pidos, por mais
largos se apresentem. Se voc�� cumprir com o dever,
retornar�� ao Lar vitorioso para os grandes momentos
de felicidade que aguardam todos aqueles que s��o
fi��is.
"Iremos deix��-lo consciente do nosso encontro
espiritual, a fim de que possa refletir e reprogramar
os seus atos. Sabemos que n��o ser�� f��cil, porque os
seus aduladores encarnados e exploradores espirituais
estar��o vigilantes. No entanto, a op����o ser�� sempre
sua. Tenha bom ��nimo e confie no Senhor que
nos ama. Agora durma e repouse, para despertar em
paz e em lucidez."

Come��ou a aplicar-lhe energias relaxantes, que
adormeceram o m��dium visitante, que recuperou a
express��o facial agora refletindo paz.

Logo depois, Eur��pedes orou com un����o, agradecendo
ao Senhor da Vida pela concess��o daquela
madrugada, deixando-nos envolvidos num halo de
alegria e de felicidade.


268
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Antes que a reuni��o fosse formalmente dissolvida,
os assistentes reconduziram ao leito o amigo reencarnado,
enquanto os presentes, ap��s sauda����es
afetuosas, nos afastamos, cada qual buscando o seu
pr��prio ambiente de repouso.

Dr. Ign��cio e Alberto tiveram a gentileza de conduzir-
me ao apartamento, e, durante o trajeto, indaguei
ao s��bio m��dico:

- Edmundo se recordar�� da experi��ncia de h��
pouco?
- Sim - redarguiu, generoso. - O inconsciente liberar��
as informa����es com bastante clareza, e as li����es
recebidas, tanto do advers��rio espiritual como
do Benfeitor, voltar��o �� consci��ncia, para lentamente
se dilu��rem no esquecimento parcial.
-E ter�� possibilidades para retornar ao caminho
do compromisso? - indaguei, com real interesse na
sua renova����o.
Sem fazer-se muito solicitado, ele explicou:

- Quando o Esp��rito reencarnado se enleia nas
experi��ncias do prazer sensual, demora-se obstinado
na busca de novas sensa����es que lhe facultem o
exorbitar das for��as. Face ao h��bito que se lhe fixa,
encontra alguma dificuldade em mudar de comportamento,
exceto quando visitado pelo sofrimento depurador,
que lhe d�� dimens��o da realidade na qual
se encontra envolvido. N��o raro, as advert��ncias espirituais
do tipo das que acabamos de participar, resultam
pouco frut��feras, em raz��o da obstina����o da
conduta irrefreada no sono carnal. Entretanto, t��m o
valor de demonstrar as b��n����os do Amor Sem Limite
que tudo investe em favor daqueles que se Lhe encontram
comprometidos, a fim de que se n��o tenham

269

Tormentos da obsess��o

do que queixar: abandono, desconforto, solid��o, necessidade...
Nunca lhes faltam os recursos do Mundo
Maior. Saber aplic��-los �� tarefa de cada qual. Oraremos,
no entanto, e volveremos a inspir��-lo de diferentes
formas, a fim de que aproveite a ensancha formosa
que lhe est�� sendo concedida. Nesse sentido,

o Esp��rito Mateus, encarregado de o assistir, n��o medir��
esfor��os nem meios para liber��-lo de si mesmo e
daqueles perturbadores com os quais comparte as
paix��es desordenadas.
Chegando ao recinto generoso onde me hospedava,
despedi-me dos amigos afetuosos e procurei o
repouso, n��o sem antes meditar em torno das li����es
que nos foram ministradas naquele amanhecer de
b��n����os.


DIST��RBIO DEPRESSIVO

Os momentos, uns ap��s outros, enriqueciam-me
com as experi��ncias adquiridas no Hospital espiritual.


As diferentes vidas que prosseguiam buscando

o rumo de seguran��a, e que ali se encontravam ou
eram trazidas para atendimento, constitu��am-me um
laborat��rio expressivo para preciosas conquistas iluminativas.
Edmundo permanecia-me nas reflex��es, que me
facultavam compreender o amor de Nosso Pai na sua
ess��ncia mais elevada, sempre vigilante e misericordioso,
n��o se detendo nas defec����es daqueles a quem
socorre, por��m, ajudando-os sem cessar.

Assim pensando, refletia a respeito das incont��veis
concess��es de que fora objeto durante a exist��ncia
anterior, e de que, somente, a pouco e pouco,
me dava conta na vida ap��s a morte. Como conseq����ncia
desse conhecimento, o j��bilo era-me intenso
e a gratid��o a Deus tornava-se-me um constante
hino de louvor.

Ap��s visitar os irm��os, Ambr��sio, que se renovava
mui lentamente, Agenor, que prosseguia ador



271

Tormentos da obsess��o

mecido, por��m agora menos agitado, Hon��rio, em refazimento
vagaroso, mas seguro, prossegui observando
as terapias energ��ticas aplicadas no pavilh��o.
Detinha-me especialmente na observ��ncia dos pacientes
mais agitados, compreendendo cada vez melhor
o alto significado do trabalho an��nimo de muitos
Esp��ritos abnegados, que escolheram essas atividades
socorristas tomados pela afetividade em favor do
pr��ximo. N��o se escusavam dedicar-se �� caridade em
tempo integral mediante a assist��ncia fraternal aos
portadores de aliena����o mental e aqueloutros portadores
de seq��elas das obsess��es prolongadas. Gentis
e pacientes, movimentavam-se em sil��ncio, interiorizados
nos deveres que lhes diziam respeito, constituindo-
se verdadeiros exemplos de psicoterapeutas
do amor em jubiloso servi��o de eleva����o pessoal.

Tanto devotamento facultava-me entender quanto
me encontro distante da santifica����o, por me faltarem
os recursos indispens��veis ao servi��o libertador.
N��o obstante, tornava-se-me est��mulo para prosseguir
na busca de informa����es que pudessem elucidar
os enigmas do comportamento humano durante
a vilegiatura carnal, assim facilitando a ascens��o de
todos os interessados no processo evolutivo.

A assist��ncia fraternal de Alberto, o seu conhecimento
dos diversos setores socorristas do Nosoc��mio,
eram-me fatores de encorajamento para a aprendizagem,
impulsionando-me ao avan��o.

Nesse ��nterim, fui convidado por dr. Ign��cio a participar
de um ato solene, quando um estudioso dos
transtornos psicol��gicos deveria proferir uma confer��ncia
sobre o fascinante e grave tema do dist��rbio
depressivo.


272
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Enquanto estava na Terra, as informa����es a respeito
do assunto eram relativamente escassas, sendo
mais abundantes entre os estudiosos da psiquiatria
e da psicologia, sem maior divulga����o em rela����o
aos leigos. Passadas algumas d��cadas ap��s a
desencarna����o, podia constatar que os avan��os na
pesquisa das g��neses e terap��uticas dessa s��ndrome
haviam avan��ado muito, e, no mundo espiritual,
sendo o conhecimento mais profundo, facultava respostas
pr��prias para o que podemos denominar quase
de epidemia na atualidade do convulsionado planeta
de provas...

Assim, aguardei com interesse redobrado a ocasi��o
para participar do magno evento.

�� hora aprazada dirigimo-nos, Alberto e eu, ao
Audit��rio ao ar livre, onde teria lugar o significativo
cometimento.

Tratava-se de um recinto de amplas propor����es
com capacidade para aproximadamente mil pessoas
e a sua edifica����o recordava os anfiteatros greco-romanos,
que facultavam uma bela vis��o do palco de
qualquer lugar onde se estivesse. O entardecer estava
deslumbrante, aben��oado por fav��nios perfumados,
enquanto os convidados assentavam-se nas arquibancadas
semicirculares. O expositor adentrou-se
no recinto acompanhado por Eur��pedes, dr. Ign��cio e
outros nobres Esp��ritos que eu n��o conhecia pessoalmente.
Apresentava um semblante calmo e demonstrava
na face que houvera desencarnado com mais
de setenta anos... Jovial e de agrad��vel express��o,
foi conduzido �� parte central, tomando parte na mesa
da cerim��nia presidida pelo fundador do Nosoc��mio.

Encontravam-se presentes m��dicos especializa



273

Tormentos da obsess��o

dos no estudo da psique, enfermeiros e trabalhadores
dos diversos departamentos do Hospital, interessados
nos esclarecimentos que seriam oferecidos
pelo culto conferencista e muitos outros Esp��ritos especialmente
convidados.

Ap��s expressiva exora����o ao Senhor da Vida, a
todos sensibilizando, Eur��pedes fez breve apresenta����o
do cientista-orador, esclarecendo que o mesmo
exercera a profiss��o de psiquiatra enquanto reencarnado
na Terra, havendo oferecido expressivo
contributo �� psican��lise e �� psicologia, e que se encontrava
liberado do corpo havia mais de trinta anos,
dando prosseguimento ��s pesquisas em torno da
mente e da emo����o humana como resultado dos processos
da evolu����o espiritual.

Sem mais delongas, o esclarecido m��dico acercou-
se da tribuna, deteve-se em breve sil��ncio durante
o qual exteriorizou uma suave claridade que o
emoldurou delicadamente. Em seguida, deu in��cio ��
confer��ncia, saudando-nos a todos com jovialidade e
adentrando-se no tema:

- A depress��o, tamb��m identificada anteriormente
como melancolia, �� conhecida na Humanidade desde
recuados tempos, por estar associada ao comportamento
psicol��gico do ser humano. A B��blia, especialmente
no Livro de J��, dentre outros, nos apresenta
v��rios exemplos desse dist��rbio que ora aflige incont��vel
n��mero de criaturas terrestres. Podemos identific��-
la na Gr��cia antiga, considerada como sendo
uma puni����o infligida pelos deuses aos seres humanos
em conseq����ncia dos seus atos incorretos. Encontramo-
la, desse modo, tamb��m presente no s��culo
IV a.C, gra��as a diversas refer��ncias feitas por Hi

274
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

p��crates. Mais tarde, no s��culo II a.C, Galeno estudou
esse transtorno como sendo resultado do desequilibrio
dos quatro humores: sangue, b��lis amarela,
b��lis negra e fleuma, que seriam respons��veis pelo
bem-estar e pela sa��de ou n��o dos indiv��duos. Arist��teles
assevera que S��crates e Plat��o, como muitos
outros fil��sofos, artistas, combatentes gregos, foram
portadores de melancolia, que acreditava estar vinculada
��s capacidades intelectuais e culturais do seu
portador. A Igreja romana, a partir do s��culo IV, tamb��m
passou a consider��-la e defini-la, ligando-a �� tristeza,
sendo tida como um pecado decorrente da falta
de valor moral do homem para enfrentar as vicissitudes
do processo existencial. Posteriormente esteve
associada �� ac��dia, passando a ser definida com mais
severidade como sendo um pecado cardinal, em raz��o
de tornar os religiosos pregui��osos e amedrontados
ante as tarefas que deveriam desempenhar. As
lendas a seu respeito fizeram-se muito variadas e as
discord��ncias complexas, vinculando-a, n��o raro, ��
b��lis negra, respons��vel pelo ato impensado de Ad��o
ao comer a ma���� no para��so...

"A hist��ria da medicina tamb��m relata que, j�� no
s��culo X, um m��dico ��rabe, estudando a melancolia,
confirmou que a mesma resultava da referida e tradicional
b��lis negra. Com o Renascimento, por��m, esse
transtorno passou a ser tido como uma forma de insanidade
mental, surgindo nessa ��poca diferentes
propostas terap��uticas de resultado duvidoso.

"A medida que se processava o progresso cultural,
a melancolia passou a expressar os estados depressivos
e, a partir de 1580, tornou-se popular na
literatura com caracter��sticas melhor definidas. Foi a


275

Tormentos da obsess��o

partir do s��culo XVII, que a tese de Galeno come��ou
a ser superada e lentamente substitu��da por defini����es
que abrangiam a natureza qu��mica e mec��nica
do c��rebro, respons��vel pelo dist��rbio perturbador.
N��o obstante a descoberta da circula����o do sangue
pelo eminente Harvey, que facultou a apresenta����o
de novos conceitos explicativos para a depress��o,
esclarecendo que se podia tratar de uma defici��ncia
circulat��ria, permaneceram ainda aceitos os conceitos
ancestrais de Galeno, e, por efeito, a terapia se
apresentava centrada nos m��todos da aplica����o de
sangrias, purgantes, vomit��rios com o objetivo de limpar
o corpo, eliminando os humores negros nefastos.
No s��culo XIX, ainda por um largo per��odo foi associada
�� hipocondria, respons��vel pela ansiedade m��rbida
referente ao estado de sa��de e ��s fun����es f��sicas...
Logo depois, passou �� condi����o de uma perturba����o
mental, de um estado emocional deprimido.

"A melancolia alcan��ou homens e mulheres not��veis
que n��o conseguiram super��-la, e padeceram
por largos per��odos a sua afugente presen��a, e em
alguns casos, conduzindo-os a perturba����es profundas
e at�� mesmo a suic��dios hediondos. In��meros
poetas, escritores, artistas, religiosos, cientistas famosos
n��o passaram sem sofrer-lhe a incid��ncia cruel,
dando margem a que alguns desavisados pensassem
que se tratava da exterioriza����o da genialidade
de cada um..."

Houve uma pausa oportuna, a fim de facultar o
entendimento do discurso na sua apresenta����o hist��rica
para logo prosseguir:

-A depress��o �� hoje classificada como sendo
uma perturba����o do humor, uma perturba����o afeti

276
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

va, um estado de mal-estar que se pode prolongar
por tempo indeterminado. Foi o admir��vel Emil Kraepelin,
o nobre psiquiatra alem��o, quem apresentou
melhores an��lises sobre a depress��o no s��culo passado,
classificando-a como de natureza unipolar,
quando �� menos grave, mais simples e r��pida, e bipolar,
quando respons��vel pelas associa����es man��acas.
Aprofundadas pesquisas ofereceram novas classifica����es
nos anos sucessivos, incluindo as melancolias
de involu����o, que se manifestam em forma de
medo, de culpa e de v��rios dist��rbios do pensamento.
O eminente psicanalista Sigmund Freud sugeriu o
luto como sendo respons��vel pela depress��o, resultado
de perda, de um ser amado ou de outra natureza.
A perda, para o nobre mestre austr��aco, produz
dilacera����es psicol��gicas muito graves, gerando dist��rbios
comportamentais que se prolongam por tempo
indeterminado. Concomitantemente, outros pesquisadores
estabeleceram que a depress��o poderia
ser end��gena, quando originada em disfun����es org��nicas,
portanto, de natureza biol��gica, e reativa,
como conseq����ncia de fatores psicossociais, socioecon��micos,
s��cio-morais, em raz��o das suas nefastas
conseq����ncias emocionais. Outros observadores,
no entanto, detiveram-se em analisar a depress��o sob
dois outros aspectos: a de natureza neur��tica e a de
natureza psic��tica. A primeira �� mais simples, com
melhores possibilidades terap��uticas, enquanto que
a segunda, por se caracterizar pelas alucina����es e
ilus��es perturbadoras, exige procedimentos mais cuidadosos
e prolongados.

"A depress��o, seja como for considerada, �� sempre
um dist��rbio muito angustiante pelos danos que


277

Tormentos da obsess��o

proporciona ao paciente: dores f��sicas, taquicardias,
problemas g��stricos, inapet��ncia, cefalalgia, sentimento
de inutilidade, vazio existencial, desespero,
isolamento, aus��ncia total de esperan��a, pensamentos
negativos, ansiedade, tend��ncia ao suic��dio... O
enfermo tem a sensa����o de que todas as suas energias
se encontram em desfalecimento e as for��as
morais se diluem ante a sua injun����o dolorosa.

"A perturba����o depressiva ainda pode apresentar-
se como grave e menos grave, cr��nica ou dist��mica,
cuja fronteira �� muito dif��cil de ser estabelecida.
Somente atrav��s dos sintomas �� que se pode defini-
las, tendo-se em vista as perturba����es que produz
nos pacientes. Nesse sentido, a somatiza����o, decorrente
de estigmas e constrangimentos que lhe facultam
a instala����o, pode dar lugar ao que Freud denominou
perturba����o de convers��o, gra��as �� qual um
conflito emocional se converte em cegueira, mudez,
paralisia ou equivalentes, enquanto outros psicoterapeutas,
discordando da tese, acreditam que esses
fen��menos resultem de perturba����es f��sicas n��o identificadas...


"Por outro lado, a fadiga tem sido analisada como
respons��vel por v��rios estados depressivos, especialmente
a de natureza cr��nica, que se apresenta acima
do n��vel toler��vel de gravidade. N��o obstante, a
depress��o tamb��m se manifesta em crian��as e jovens,
estruturada em fatores end��genos e outros de
natureza sociol��gica, decorrentes do relacionamento
entre pais e filhos, do conv��vio familiar e comunit��rio
conflitivo...

"A mania, por outro lado, �� mais severa em raz��o
das altera����es manifestadas no humor, que se fazem


278
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

mui ami��de em propor����es gravemente elevadas. Em
determinado paciente pode expressar-se como um estado
de excessivo bom humor, de exalta����o da emotividade,
em contraste com os acontecimentos vivenciados
no momento, logo regredindo com rapidez para
a depress��o, as l��grimas, envolvendo sentimentos
contradit��rios, que passam dos risos excitados aos
prantos pungentes. No momento de exacerba����o o
enfermo delira, acreditando-se messias, g��nio da pol��tica,
da arte, com demasiada valoriza����o das pr��prias
possibilidades. Vezes outras, experimenta estados
de temor, por acreditar que existe conspira����o
contra sua vida e seus desejos, seus valores especiais.
Apresenta-se em determinado momento palrador,
mudando de conduta com muita freq����ncia, ou
ent��o deixa-se ao abandono, sem higiene, aparecendo,
noutras vezes, de maneira extravagante e vulgar.
Nessa fase, torna-se sexualmente excitado, ex��tico,
irrespons��vel, negando-se a aceitar a enfermidade e
mesmo a submeter-se ao tratamento adequado.

"A incid��ncia do dist��rbio depressivo apresenta-
se quantitativamente maior no sexo feminino. Nesse
caso, podemos aduzir ao quadro geral, as manifesta����es
da depress��o pr�� e post-partum, que se originam
em disfun����es hormonais, conduzindo as pacientes
a estados de grave perda do equil��brio emocional
e mental."

O expositor calou-se por um pouco, enquanto o
p��blico atento, acompanhava-lhe o racioc��nio rico de
ensinamentos oportunos. De imediato, deu curso ��
confer��ncia:

- As influ��ncias b��sicas para a s��ndrome depressiva
s��o muitas, e podem ser encontradas nas cren

279

Tormentos da obsess��o

��as religiosas, nos comportamentos sociais, pol��ticos,
art��sticos, culturais e nas mudan��as sazonais. Por
outro lado, a hereditariedade �� fator decisivo na ocorr��ncia
inquietante, tanto quanto diversos outros de
natureza ambiental e social, como guerras, fome,
abandono, seq��elas de enfermidades dilaceradoras...
Pode-se, portanto, informar que �� tamb��m multifatorial.
Do ponto de vista psicanal��tico, conforme eminentes
estudiosos quais Freud, Abraham e outros, a
depress��o oculta uma agress��o contra a pessoa ou o
objeto oculto. Numa an��lise biol��gica, podemos considerar
como fatores respons��veis pelo desencadear
do dist��rbio depressivo, as altera����es do quimismo
cerebral, no que diz respeito aos neurotransmissores
como a serotonina e a noradrenalina. Em uma an��lise
mais cuidadosa, al��m dos agentes que produzem
stress, inclu��mos entre os geradores da depress��o, os
horm��nios esteroides, estrog��nios e androg��nios, relacionados
com o sexo, que desempenham papel fundamental
no humor e no comportamento mental.

"�� claro que n��o estamos relacionando todas as
causas que predisp��em ou que d��o origem �� depress��o,
antes desejamos referir-nos mui superficialmente
a somente algumas daquelas que desencadeiam
esse processo alienante. Nosso objetivo essencial
neste momento �� identificar o fator de natureza preponderante
para depois concluirmos pelo de natureza
predisponente. E esse, essencial, importante, �� o
pr��prio Esp��rito reencarnado, por nele se encontrarem
��nsitas as condi����es indispens��veis para a instala����o
do dist��rbio a que faz jus, em raz��o do seu
comportamento no transcurso das experi��ncias carnais
sucessivas.


280
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

"O Esp��rito �� sempre o semeador espont��neo, que
volve pelo mesmo caminho, a fim de proceder �� colheita
das atividades desenvolvidas atrav��s do tempo.
N��o bastassem as suas pr��prias realiza����es negativas
para propiciar o conflito depressivo e as suas
ramifica����es decorrentes, que geraram animosidades,
m��goas e revoltas em outros seres que conviveram
ao seu lado e foram lesados nos sentimentos,
transformando-se em outro tipo de raz��o fundamental
para a ocorr��ncia nefasta.

"Ao reencarnar-se o Esp��rito, o seu perisp��rito imprime
no futuro programa gen��tico do ser os requisitos
depurativos que lhe s��o indispens��veis ao crescimento
interior e �� repara����o dos gravames praticados.
Os genes registram o desconserto vibrat��rio produzido
pelas a����es incorretas no futuro reencarnante,
passando a constituir-se um campo no qual se
apresentar��o os dist��rbios do futuro quimismo cerebral.
Quando se apresentam as circunst��ncias predisponentes,
manifesta-se o quadro j�� existente nas
intrincadas conex��es neuroniais, produzindo por fen��menos
de vibra����o eletroqu��mica o transtorno, que
necessitar�� de cuidadosa terapia espec��fica e moral.
N��o apenas se far�� imprescind��vel o acompanhamento
do terapeuta especializado, mas tamb��m a psicoterapia
da renova����o moral e espiritual atrav��s da
mudan��a de comportamento e da compreens��o dos
deveres que devem ser aceitos e praticados.

"Nesse processo, no qual o indiv��duo �� respons��vel
direto pelo dist��rbio psicol��gico, face aos erros
cometidos, ��s perdas e ao luto que lhe permanecem
no inconsciente e agora ressumam, o dist��rbio faz-
se inevit��vel, exceto se, adotando nova conduta, ad



281

Tormentos da obsess��o

quire recursos positivos que eliminam o componente
c��rmico que lhe dorme interiormente. N��o s��o da Lei
Divina a puni����o, o castigo, a vingan��a, mas s��o impostas
a necessidade da repara����o do erro, da renova����o
do equivocado, da reconstitui����o daquilo que
foi danificado... O Esp��rito reflete o amor de Deus nele
insculpido, raz��o pela qual est�� fadado �� perfei����o
relativa, que alcan��ar�� mediante o esfor��o empreendido
na busca da meta que lhe est�� reservada. S��o,
portanto, valiosas, as modernas contribui����es das ci��ncias
da psique, auxiliando os alienados e depressivos
a reencontrar a paz, a alegria interior, a fim de
prosseguirem no desiderato da evolu����o."

Novamente o l��cido orador fez uma pausa oportuna,
logo dando prosseguimento:

- Nesse cap��tulo, n��o podemos olvidar aqueles
outros Esp��ritos que foram vitimados pelo infrator, que
agora retorna ao palco terrestre a fim de crescer interiormente.
Quando permanecem em situa����o penosa,
sem olvido do mal que padeceram, amargurados
e fixados nas dores terrificantes que experimentaram,
ou se demoram em regi��es pungitivas, nas quais vivenciam
sofrimentos incomuns, face �� pertin��cia nos
objetivos perversos do desfor��o pessoal, s��o atra��dos
psiquicamente aos antigos verdugos, com eles
mantendo intercurso vibrat��rio danoso, que a esses
��ltimos conduz a transtornos obsessivos infelizes. O
c��rebro do hospedeiro bombardeado pelas ondas mentais
sucessivas do h��spede em desalinho, recebe as
part��culas mentais que podem ser consideradas como
verdadeiros el��trons com alto poder desorganizador
das conex��es neuroniais, afetando-lhe os neurotransmissores
como a serotonina, a noradrenalina, a do

282
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

pamina e outros mais, aos quais se encontra associado
o equil��brio emocional e o do pensamento.

"Instalado o plugue na tomada perispiritual, o interc��mbio
doentio prosseguir�� atingindo o paciente
at�� o momento quando seja atendido por psicoterapia
especial, qual seja a bioenerg��tica, por interm��dio
dos passes, da ��gua fluidificada, da ora����o, das
vibra����es favor��veis �� sua restaura����o, �� altera����o
da conduta mental e comportamental, que contribuir��o
para anular os efeitos morbosos da incid��ncia alienadora.
Simultaneamente, a desobsess��o, mediante
cujo contributo o perseguidor desperta para as pr��prias
responsabilidades, modifica a vis��o espiritual,
ajudando-o a resolver-se pela mudan��a de atitude
perante aquele que lhe foi advers��rio, entregando-o,
e a si mesmo tamb��m se oferecendo, aos des��gnios
insond��veis do Pai Criador.

"Nunca ser�� demasiado repetir que, na raiz de
todo processo de desequil��brio mental e emocional,
nas psicopatologias variadas, as causas dos dist��rbios
s��o os valores morais negativos do enfermo em
processo de reeduca����o, como decorr��ncia das a����es
pret��ritas ou atuais praticadas. N��o existindo efeito
sem causa, �� compreens��vel que toda ocorr��ncia infeliz
de hoje resulte de atividade agressiva e destrutiva
anterior.

"N��o poucas vezes, tamb��m se pode identificar
na g��nese da depress��o o fator respons��vel pelo funcionamento
sexual deficiente, receoso, frustrante, que
induz o paciente ao desinteresse pela vida, �� fuga da
realidade...

"Desse modo, a depress��o, mesmo quando decorra
de uma psicog��nese bem delineada, seja pela


283

Tormentos da obsess��o

hereditariedade ou pelos fatores psicossociais e outros,
sua causa profunda se encontra sempre no Esp��rito
endividado que renasce para liberar-se da injun����o
penosa a que se entregou.

"Assim sendo, aproxima-se o dia, no qual, a ci��ncia
acad��mica se dar�� conta da realidade do ser
que transcende a mat��ria, e cujas experi��ncias multif��rias
atrav��s dos renascimentos corporais responde
pelo bin��mio sa��de-doen��a.

"N��s pr��prio, quando nos labores terrestres, muito
nos aproximamos da fronteira da imortalidade, n��o
a havendo transposto em raz��o dos preconceitos acad��micos,
embora n��o nos houvessem sido regateados
os recursos que evidenciavam a indestrutibilidade
do ser atrav��s da morte e isso demonstravam
de forma irretoc��vel. Como ningu��m pode deter o progresso,
que se multiplica por si mesmo, o amanh��
constitui a esperan��a dos que tombaram nos processos
perturbadores e degenerativos, quando encontrar��o
a indispens��vel contribui����o dos cientistas e
religiosos que, de m��os dadas, estar��o trabalhando
em favor da sua recupera����o mental e org��nica."

Fez, propositadamente, uma nova pausa, que a
todos nos comoveu pelo que disse de imediato:

- N��o h�� como negar-se: Jesus-Cristo �� o Psicoterapeuta
excepcional da Humanidade, o ��nico que
p��de penetrar psiquicamente no ��mago do ser, auxiliando-
o na reestrutura����o da personalidade, da individualidade,
facultando-lhe uma perfeita identifica����o
entre o ego e o self, harmonizando-o para que
n��o mais incida em compromissos degenerativos. Por
isso mesmo, todos aqueles que Lhe buscaram o conforto
moral, a assist��ncia para a sa��de combalida ou

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Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

comprometida, f��sica ou mental, defrontaram a realidade
da vida, alterando a forma existencial do comportamento
que lhes seria de inapreciado valor nas
futuras experi��ncias carnais.

"A Ele, o af��vel M��dico das almas e dos corpos, a
nossa sincera gratid��o e o nosso apelo para que nos
inspire na equa����o dos dramas que afligem a humanidade,
tornando a Terra um lar melhor para se crescer
moral e espiritualmente, onde os sofrimentos decorrentes
das enfermidades de v��ria g��nese cedam
lugar ao equil��brio e �� produ����o da vera fraternidade
assim como da sa��de integral."

Pairava no ambiente uma dul��urosa vibra����o de
paz e de alegria. Todos apresentavam o semblante
irradiante de j��bilo. O l��cido orador mantinha-se sereno
e suavemente iluminado, banhado por peregrina
claridade que jorrava dos Altos Cimos...

Eur��pedes levantou-se, abra��ou-o, conduziu-o ��
mesa diretora da solenidade e, visivelmente feliz, proferiu
inesquec��vel ora����o gratulatoria, dando como
encerrada a confer��ncia.

A noite havia chegado e se encontrava banhada
por arg��nteo luar e pelos pingentes estelares que cintilavam
muito ao longe.

Os mais interessados acercaram-se do palco, a
fim de conhecer mais de perto o convidado eloq��ente
e com ele dialogarem brevemente. N��s, Alberto,
dr. Ign��cio e eu, fomos daqueles que se lhe acercaram,
a fim de fruir mais proximamente a sua vibra����o
penetrante e saud��vel, congratulando-nos com a exposi����o
oportuna e esclarecedora.


TERAPIAS ENRIQUECEDORAS

A confer��ncia oferecera-me valioso material para
medita����o, especialmente na parte em que o orador
se referira �� interfer��ncia das Entidades desencarnadas,
produzindo transtornos depressivos, mediante
os lament��veis processos de obsess��o. Irrompendo
em onda caudalosa, essa psicopatologia moderna,
ora denominada como a doen��a do s��culo, investe
contra uma verdadeira multid��o de criaturas reencarnadas,
cujo processo se prolonga al��m da roupagem
f��sica, advindo a desencarna����o.

No dia seguinte, Alberto apresentou-me ao dr.
Orlando Messier, que fora, no pa��s onde vivera a sua
mais recente experi��ncia carnal, devotado psiquiatra
que se dedicara ao estudo da psicologia com alma.
N��o conhecera o Espiritismo conforme a estrutura
doutrin��ria defluente da Codifica����o Kardequiana. No
entanto, mediante cuidadosas investiga����es com os
seus pacientes, ao lado da an��lise demorada das
obras dos drs. Roberto Assagioli e Viktor Frankl, conseguira
detectar a sobreviv��ncia do Esp��rito �� disjun����o
molecular da mat��ria e entender a interfer��ncia


286
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

que os desencarnados exercem na conduta dos viandantes
terrestres. Tivera tamb��m oportunidade de
atender a diversos pacientes portadores de obsess��es,
em cujas oportunidades se manifestaram os
seus algozes, bem como examinou a contribui����o do
psiquiatra Karl Whikland, atrav��s das narra����es das
suas experi��ncias de consult��rio, exaradas no livro
Trinta anos entre os mortos, que o auxiliaram a aceitar
a realidade da vida al��m do corpo, facultando-lhe
desenvolver psicoterapias valiosas no atendimento
��queles enfermos mentais que o buscaram.

Desencarnado, foi convidado a especializar-se no
Sanat��rio Esperan��a, onde se encontrava em atividade
socorrista fazia mais de dez anos.

Tamb��m estivera na confer��ncia da noite anterior
e encontrava-se vivamente fascinado com a exposi����o
do visitante ilustre. Para ele n��o houve propriamente
novidades quanto ��s origens dos dist��rbios
psicol��gicos e das aliena����es mentais, bem como no
tocante ��s terapias que eram aplicadas largamente
em nosso pavilh��o. Todavia, as refer��ncias procedentes
de mais doutos conhecedores da psique humana,
perfeitamente concordes com as suas conclus��es,
constitu��am-lhe motivo de compreens��vel g��udio.

Foi, portanto, num clima de muita cordialidade,
que decorreu o nosso encontro, propiciando-me mais
amplas possibilidades de aprendizagem.

O amigo recente dirigia-se a uma das Enfermarias
onde se hospedam os irm��os violentos, n��o se escusando
a uma conversa����o fraterna que ele pr��prio
iniciou.

- Conven��o-me, cada vez mais - informou-nos
dr. Orlando - que ao lado de todos os tratamentos

287

Tormentos da obsess��o

especializados para a cura da depress��o, assim como
de outros dist��rbios de comportamento, o trabalho
desempenha um papel terap��utico fundamental. O
mesmo acreditamos, no que diz respeito �� psicodan��a.
Enquanto a mente do enfermo se encontrar direcionada
para um objetivo saud��vel, desvincul��ndose
da id��ia depressiva, ir�� regularizando a distonia e
provocando uma positiva rea����o cerebral, face �� imposi����o
do pensamento bem direcionado, que agir��
nos neur��nios, favorecendo-lhes as sinapses em ritmo
equilibrado. O trabalho �� recurso muito valioso
para fazer o tempo passar, informa a tradi����o terrestre,
mas, sobretudo, para que passe de maneira saud��vel
e dignificadora, acentuamos n��s. Felizmente, a
praxiterapia vem sendo utilizada com propriedade,
colhendo resultados positivos.

"Quando o indiv��duo se envolve com qualquer
tipo de trabalho ou responsabilidade edificante, concentra-
se na sua execu����o e mant��m-se atento aos
objetivos delineados. Naturalmente estimulados pela
a����o mental saud��vel os neur��nios produzem enzimas
carregadas de energia que, �� semelhan��a de f��tons
especializados, produzem harmonia vibrat��ria
nos neurotransmissores, proporcionando reequil��brio.
O mesmo milagre produz a ora����o. Como por��m, raros
desses pacientes podem demorar-se concentrados
na prece, na medita����o ou nas leituras elevadas,
porque entram em divaga����o pessimista, o trabalho
e a dan��a, em raz��o do esfor��o f��sico para desempenh��-
los, produz resposta mais direta e imediata.

"Sempre quando atendia um cliente portador de
dist��rbio depressivo, ap��s as recomenda����es terap��uticas
acad��micas, propunha-lhe qualquer tipo de


288
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

laborterapia, a come��ar por quase insignificantes esfor��os
no pr��prio lar, no jardim, na repara����o de objetos
ou m��veis quebrados at�� os servi��os de benefic��ncia
m favor da comunidade. Os resultados, apesar
das permanentes negativas do mesmo em execut��-
los, explicando que lhe era quase imposs��vel atender-
me, redundavam sempre positivos. Renascia-lhe

o interessee pela vida, o desejo de prosseguir, a diminui����o
da ansiedade, a autoconfian��a, claro que lentamente.
O importante era demonstrar-lhe as imensas
possibilidades que lhe estavam �� disposi����o e
que, por momentos se encontravam adormecidas,
aguardando somente o despertar da vontade e do
esfor��o.
"Como passo seguinte procurava identificar-lhe
a confiss��o religiosa, a fim de estimul��-lo �� cren��a
em Deus, eliminando as propostas fanatizantes das
diversas religi��es, ensinando que o apoio divino nunca
falta, e quando a criatura se entrega ao Criador,
Ele corresponde-lhe com seguran��a e amor. Esse meu
comportamento causava estranheza em muitas fam��lias,
nas quais se encontravam os problemas depressivos,
bem como entre os colegas, quase sempre aferrados
a terr��vel convic����o materialista. No entanto, a
observ��ncia de tal procedimento terap��utico conferia-
me estat��stica valiosa, quantitativa e qualitativamente,
confirmando-me a sua excel��ncia nos resultados
favor��veis �� recupera����o da sa��de."

Olhando-me com interesse, o novo amigo indagou-
me:

- Nas suas experi��ncias com obsidiados na Terra,
alguma vez sugeriu o trabalho como terapia libertadora?

289

Tormentos da obsess��o

Recordando-me dos momentos valiosos vivenciados
nas atividades desobsessivas, retruquei, sem
qualquer d��vida:

- Somos tamb��m de parecer que o trabalho ��, realmente,
um dos mais eficazes mecanismos de promo����o
do indiv��duo. Jesus teve ocasi��o de acentuar,
conforme anotado pelo evangelista Jo��o, no cap��tulo
5, vers��culo 17: -Meu Pai trabalha at�� agora e eu tamb��m
trabalho, demonstrando a alta significa����o desse
procedimento. N��o poucas vezes, estimulando os
obsessos ao trabalho, eles reagiam justificando-se
incapacidade de realizar alguma coisa de ��til, ao que
lhes objetava, informando que sempre se pode fazer
algo, m��nimo que seja, quando se tem interesse. E
insistindo, conseguia auxili��-los a sair da in��rcia, da
autocompaix��o, da frustra����o existencial ou da revolta
neles instalada pela a����o corrosiva da obsess��o...
"Quando a mente se desvincula de atividades enriquecedoras,
o drama da obsess��o se torna mais grave,
porque a insistente id��ia transmitida torna-se acolhida
pelo enfermo, que passa ao di��logo desestruturador
do comportamento. Quanto mais recua para o
interior, vivenciando a conversa����o infeliz, mais poderosa
se torna a indu����o do agente perseguidor."

Exteriorizando um sorriso jovial, dr. Messier alongou
as considera����es psicoterap��uticas:

-A ora����o, por sua vez, produz uma intera����o
mente-corpo, esp��rito-mat��ria, de incont��veis benef��cios.
Examinemos, por exemplo, o que sucede com
as id��ias desconcertantes. �� medida que o paciente
as fixa, uma energia delet��ria se prolonga pela corrente
sang����nea, partindo do c��rebro ao cora����o e
espraiando-se por todo o organismo, o que produz

290

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

desconforto, sensa����es de dores, dificuldades respirat��rias,
taquicardias, num crescendo que decorre do
estado auto-sugestivo pessimista, que amea��a com
a possibilidade de morte pr��xima, de perigo iminente
de acontecimento nefasto e semelhantes... Tratase
essa, sem d��vida, de uma ora����o negativa, cujos
efeitos imediatos s��o afli����o e desalinho emocional.
Tal sucede, porque a mente visitada pelos pensamentos
destrutivos responde com produ����o de energia
toxica que alcan��a o cora����o - o chakra cerebral envia
ondas eletromagn��ticas ao card��aco, que as absorve
de imediato - e esparze pelo aparelho circulatorio
os petardos portadores de altas cargas dessa
vibra����o, somatizando os dist��rbios. Da mesma fornia,
portanto, a ora����o, que �� a estrutura����o do pensamento
em comunh��o com as elevadas fontes do
Amor Divino, permite que a mente sintonize com os
campos de vibra����o sutil e elevada, realizando o mesmo
processo, somente que de natureza saud��vel e
reconfortante. Captadas essas ondas pelo psiquismo,
irradiam-se do esp��rito ao perisp��rito, que aumenta a
resist��ncia energ��tica, vitalizando as c��lulas e os
campos organizados da mat��ria, modificando-lhes a
estrutura para o equil��brio, a harmonia.

"Quando algu��m ora, torna-se um d��namo gerador
de for��a, a emitir ondas de teor correspondente ��
qualidade da energia assimilada. De incompar��vel
resultado terap��utico, a ora����o ��, tamb��m, ponte de
liga����o com a Divindade, na qual se haurem coragem
e bem-estar. O exemplo mais dignificante vem de Jesus.
Sempre que o cansa��o Lhe tomava o organismo,
Ele buscava a ora����o, a fim de comungar com Deus,
reabastecendo-se de vitalidade. E era Ele quem con



291

Tormentos da obsess��o

seguia alterar os campos de energia com a simples
vontade, direcionando-a conforme Lhe aprouvesse."

Encontrava-me encantado com os conceitos l��gicos
do m��dico gentil, e recordava-me dos efeitos
salutares da ora����o, toda vez, quando, na Terra e no
Al��m, deixava-me conduzir pelas suas vigorosas correntes
de ondas saud��veis.

Ap��s o sil��ncio, que se fez natural, dr. Messier
adiu:

- Estou seguro de que a Evangelhoterapia �� o
recurso precioso para produzir a recupera����o do equil��brio
das criaturas, preserv��-lo naquele que j�� o possui
e irradi��-lo na dire����o de quem se encontra necessitado.
"Partindo-se do princ��pio atrav��s do qual todos
reconhecemos que o paciente mental necessita de
compreens��o, bondade e est��mulo constante, nas li����es
do Evangelho de Jesus, mesmo tendo-se em vista
algumas distor����es que decorrem das tradu����es
incorretas, infi��is, ou das adultera����es que experimentou
durante os quase dois mil��nios, assim mesmo
ainda �� um reposit��rio de otimismo, de esperan��a
e de conforto moral, dif��cil de ser encontrado em
outra qualquer Obra da humanidade. N��o negamos a
excel��ncia de outros livros b��sicos de diversas religi��es,
ricos de miseric��rdia, de paz e de consolo espiritual.
No entanto, o Evangelho, face �� sua linguagem
simples e profunda, ��tica e atual, d��-nos a impress��o
que foi elaborado para este momento tormentoso
que se vive no planeta terrestre, atendendo a
todas as necessidades do ser humano. A sua leitura
calma, com reflex��o, objetivando entender as ocorr��ncias
existenciais, constitui incomum medicamen



292
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

to para o Esp��rito que se recupera da ansiedade e
dos dist��rbios que o afetam, repousando na alegria
de viver. Ademais, sua proposta de sa��de fundamenta-
se no amor, em todo o bem que se pode fazer, no
deslocamento do eu para o n��s, do isolamento a que
se arroja o enfermo para a solidariedade que aguarda
a sua parcela de coopera����o.

"Com essas disposi����es interiores, altera-se para
melhor a paisagem ��ntima, e Esp��ritos nobres, interessados
no bem-estar de toda a humanidade acercam-
se da pessoa, envolvendo-a em ondas de amor,
de autoconfian��a, de bem-estar, n��o poucas vezes
apresentando-se nos estados on��ricos, quando a reconfortam
e a estimulam ao prosseguimento da jornada.


"Todo indiv��duo �� constitu��do de antenas ps��quicas
transceptoras, que emitem e captam ondas equivalentes
�� sua capacidade vibrat��ria, portanto, �� intensidade
e qualidade da energia que exterioriza.
N��o ��, pois, de estranhar-se, que cada qual viva conforme
pensa, tornando-se feliz ou desventurado em
raz��o das id��ias que agasalha na mente."

Est��vamos quase chegando �� Enfermaria, quando
o psiquiatra nos convidou a entrar, caso n��o tiv��ssemos
outra tarefa em pauta no momento. Alberto
e eu nos olhamos, e porque n��o nos encontr��ssemos
comprometidos com atividade imediata, anu��mos,
acompanhando-o.

Utilizei-me desses breves minutos antes de penetrarmos
no recinto, para interrog��-lo:

-E que me diz sobre a aplica����o dos f��rmacos e
antidepressivos outros, quais o Prozac, t��o utilizado
atualmente nos diversos transtornos emocionais e

293

Tormentos da obsess��o

em alguns outros mentais?
Com a mesma gentileza, considerou:

-O avan��o da ci��ncia, buscando entender e solucionar
os graves problemas humanos, �� consider��vel,
constituindo-se numa demonstra����o do amor de
Deus pelas Suas criaturas, diariamente enviando ��
Terra os Seus mission��rios em todas as ��reas, a fim
de alterar as ocorr��ncias para melhor, estabelecendo
par��metros de equil��brio e de paz, bem como de renova����o
e de sa��de para todos. Os f��rmacos antidepressivos
em geral, t��m por meta elevar os n��veis da
serotonina, bem como da noradrenalina, subst��ncias
relacionadas com a depress��o conforme ouvimos na
confer��ncia da noite passada. Significa dizer, que t��m
por meta aumentar a quantidade de neurotransmissores
no c��rebro, que lhes sofre car��ncia. O que ainda
merece estudos �� a necessidade de compreender-
se como as altera����es que ocorrem em uma mol��cula
t��o simples podem produzir transtornos t��o profundos
no comportamento do ser? Sabemos, n��s outros,
os estudiosos da vida espiritual, que essa ocorr��ncia
tem sua g��nese no processo reencarnat��rio, quando
o Esp��rito imprime nos genes as suas necessidades
evolutivas, desencadeando os dist��rbios correspondentes
ao processo de crescimento moral no momento
adequado da vida f��sica. N��o obstante, os antidepressivos
oferecem resultados positivos de acordo
com a ficha c��rmica de cada paciente, porque a fun����o,
por exemplo, do Prozac, composto denominado
hidrocloreto de fluoxetina, �� bloquear a capta����o da
serotonina, constitu��do de tal forma semelhante ��quela,
que pode enganar os neur��nios, competindo com
a mesma na sua capta����o e deixando-a na face exte

294
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

rior da c��lula. Como todos os f��rmacos objetivam alterar
diretamente a qu��mica cerebral, inevitavelmente
produzem depend��ncia e algumas seq��elas, que
podem ser contornadas pelo psiquiatra e tamb��m
pelo esfor��o do pr��prio paciente no processo de recupera����o.


"Variam as opini��es de especialistas em torno
do Prozac. Alguns consideram-no como excelente,
com respostas positivas quase imediatas �� sua aplica����o.
Outros, no entanto, evitam-no, por haverem
constatado em alguns dos seus clientes resultados
menos felizes, at�� mesmo indutivos ao suic��dio... Tudo
isso tem a ver, sem d��vida, com o passado espiritual
do enfermo, porquanto, cada indiv��duo possui as conquistas
que o tipificam, diferenciando-o dos demais.
O medicamento que, em algu��m produz resultado positivo,
noutrem desencadeia dist��rbios e efeitos diferentes,
como �� compreens��vel, face �� estrutura org��nica
de cada qual.

"Reconhecendo e valorizando a contribui����o cient��fica
dos nobres pesquisadores e dos resultados
das suas conquistas em favor dos pacientes depressivos
como de outras enfermidades, a conduta do recuperado
ter�� muito que ver com o seu processo de
preserva����o da sa��de, evitando as perturbadoras recidivas
que invariavelmente acontecem por novos
desvios de comportamento, por falta de identifica����o
com os valores enobrecedores da vida, por abuso e
desgaste das energias nos prazeres exorbitantes e
prim��rios.

"Avan��amos, a pouco e pouco, para a elimina����o
das terapias realizadas mediante a aplica����o de drogas
que, por enquanto, ainda se fazem necess��rias.


295

Tormentos da obsess��o

Relat��rios cuidadosos atestam que existem, neste
momento, aproximadamente duzentos tipos de psicoterapias
variadas, incluindo-se, bem se v��, aquelas
denominadas alternativas que, em diferentes regi��es
do planeta oferecem resultado positivo, desde
as denominadas fitoterapia, acupuntura, bioenergia,
florais de Bach, energiza����o atrav��s de metais, de
cristais, de perfumes e ��leos, de do-in, de Reiki, etc,
auxiliando o ser humano na conquista e no encontro
de si mesmo."

Alcan��amos a porta de entrada da Enfermaria,
quando o amigo, sorrindo, sentenciou:

- Em cada de um n��s se encontram ��nsitos os
valores da sa��de e da doen��a, dependendo da ocorr��ncia
de fen��menos adequados para a sua manifesta����o...
Entremos!

EXPERI��NCIA INCOMUM

A minha mente esfervilhada de novas interroga����es,
que no momento n��o podiam ser esclarecidas.
O conhecimento do dr. Messier fascinava-me, e a sua
naturalidade encantava-me. Enunciava os conceitos
com a espontaneidade daquele que os conquistou
pela experi��ncia ap��s larga reflex��o em torno da psique
humana.

Embora j�� houvesse estado na ��rea dos pacientes
agitados, aquela enfermaria era-me totalmente
desconhecida.

A psicosfera local apresentava-se densa e o ambiente
fracamente iluminado, a fim de manter os pacientes
na condi����o conforme se apresentavam. Todos
aqueles que ali trabalhavam movimentavam-se
em sil��ncio respeitoso, procurando irradiar tranq��ilidade
e compaix��o, que se exteriorizavam por leve claridade
que os envolvia, destacando-os na penumbra
ambiente. Ouvia-se o ressonar ruidoso dos internos,
e espa��adamente alguns estranhos ru��dos guturais,
que poderiam ser gritos e apelos sufocados na ang��stia
que os dominava.

Quando nos acercamos de um dos leitos enfilei



297

Tormentos da obsess��o

rados em duas ordens, uns defronte dos outros, deparei-
me com uma cena surpreendente. Sobre a cama
havia algo semelhante a um casulo de expressiva propor����o,
como um envolt��rio mumificador ocultando o
Esp��rito que se encontrava revestido por essa forma
estranha. J�� conhecia a ocorr��ncia com Agenor que,
no entanto, n��o se consumara totalmente, como a
transforma����o que agora estava diante dos meus
olhos.

O Esp��rito assim revestido movia-se com dificuldade,
aprisionado por resistentes fios sucessivos que

o imobilizavam quase, apertando-o no h��rrido envolt��rio
de colora����o cinza e de estrutura viscosa.
-A mente - sussurrou o escul��pio, discretamente
- produz material conforme a sua pr��pria vontade,
criando asas para a ascens��o ou pres��dio para a escravid��o.
O irm��o Evaldo �� prisioneiro de si mesmo.
N��o anotamos mais graves anomalias no perisp��rito,
no entanto, encapsulou-se em fortes teias mentais
degenerativas que o v��m retendo desde quando se
encontrava na Terra, interrompendo-lhe a b��n����o da
reencarna����o. Oculto nessa triste forma por v��rios
anos ap��s a viagem de retorno, soa-lhe o momento
de iniciar-se o seu processo de liberta����o, para o despertar
da consci��ncia em torno das responsabilidades
que lhe dizem respeito. A vida �� incorrupt��vel e
jamais pode ter o seu curso alterado indefinidamente.
A inef��vel miseric��rdia do Pai est�� sempre vigilante,
a fim de que todos os Seus filhos alcancemos a
plenitude que nos est�� destinada.
Silenciando, analisou o paciente demoradamente,
detendo-se na ��rea cerebral igualmente oculta. O
seu olhar penetrante alcan��ava o ser infeliz que se


298

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

escondia de si mesmo e gerara mentalmente o casulo
para refugiar-se.

O atendente espiritual, que o cuidava, acercou-
se prestimoso e explicou que as provid��ncias para o
ato cir��rgico haviam sido tomadas, estando a equipe
aguardando no Centro destinado a esse fim.

Anuindo �� elucida����o, dr. Orlando autorizou a remo����o
do enfermo para a sala reservada para o mister,
convidando-nos, a Alberto e a mim, a acompanh��-
lo.

Na parte final da imensa enfermaria encontrava-
se o centro cir��rgico, onde j�� estavam alguns membros
do tratamento especializado que ali deveria ter
lugar.

Apresentando-nos rapidamente ao grupo, o paciente
que fora trazido em cama com roldanas foi
transferido para a mesa cir��rgica, iluminada por forte
luz que se originava em l��mpadas pr��prias, qual
ocorre nas mesmas circunst��ncias na Terra.

O casulo, que tinha a dimens��o de um homem,
exteriorizava na parte superior a exsuda����o que se
convertia em fio espesso sempre se concentrando em
volta da c��psula densa.

Logo depois de ser proferida por dr. Orlando uma
ora����o fervorosa suplicando o aux��lio divino, dois
m��dicos ao seu lado tomaram posi����o em volta do
paciente. Tudo fazia recordar um tratamento cir��rgico
conforme os padr��es conhecidos no mundo f��sico.
Havia o instrumentador, o anestesista, que permaneciam
concentrados, irradiando energia calmante que
se direcionava para o chakra cerebral do adormecido
e dois outros enfermeiros-auxiliares que aguardavam
instru����es.


299

Tormentos da obsess��o

Nesse momento, percebi que o paciente encontrava-
se sob a����o hipn��tica de uma energia que lhe
chegava como resson��ncia ps��quica e que o mantinha
na estranha autopuni����o. Compreendi que, mesmo
naquele caso, estava diante de um processo obsessivo
�� dist��ncia, que deveria ser interrompido com
muito cuidado.

O anestesista acercou-se mais e come��ou a aplicar
bioenergia dispersiva na ��rea do chakra coron��rio,
onde se adensavam campos de magnetismo perturbador,
como se podia depreender pela colora����o
escura condensada. A medida que eram aplicados os
recursos libertadores e dilu��das as sucessivas camadas
que cobriam a regi��o, interrompeu-se o fluxo exterior
e o paciente agitou-se por alguns segundos
dentro do envolt��rio confrangedor.

Foi a vez de dr. Orlando, utilizando-se de uma l��mina
semelhante a um bisturi a laser, tentar cortar os
fios superpostos uns e interpenetrados outros, para
alcan��ar a cabe��a do enfermo. A delicada tarefa era
feita com perfei����o, cortando os mais viscosos, exteriores,
e adentrando-se naqueles que se encontravam
consolidados internamente. O cirurgi��o auxiliar, utilizando-
se de um pin��a pr��pria, mantinha aberta a
pequena cavidade, enquanto era aprofundado o corte.
A medida que se fazia a incis��o, aqueles fios grosseiros
desmanchavam-se e se transformavam em um
l��quido nauseabundo, que escorria pela carapa��a e a
mesa, caindo no piso. Os enfermeiros vigilantes recolhiam-
no com vasilhames especiais, mantendo a
assepsia do ambiente. A incis��o deveria medir dez
cent��metros mais ou menos, tornando-se mais cuidadosa
�� medida que se acercava do ser espiritual ali


300
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

encarcerado. Logo depois, o outro m��dico ampliou-a
de forma que alcan��asse a dimens��o de toda a cabe��a
numa linha reta.

Nesse instante, dr. Messier, come��ou a bloquear

o campo coron��rio-cerebral com algo semelhante a
uma atadura que irradiava peculiar vibra����o para que
impossibilitasse a exterioriza����o do psiquismo doentio
do cirurgiado.
Para minha surpresa, constatei que era o pr��prio
paciente quem emitia as sucessivas cargas de energia
delet��ria que lhe procedia da mente fixada na
autopuni����o. Quando a cabe��a p��de ser vista, percebi
que do seu interior vinham as ondas exc��ntricas,
agora com menor intensidade, porque parcialmente
impedidas pelo tecido vibrat��rio de prote����o, para
evitar a ocorr��ncia do processo danoso.

O anestesista direcionou as m��os para a parte
desvelada e come��ou a aplicar a bioenergia que se
exteriorizava em campos vibrat��rios de tonalidades
azul-prateada e viol��cea, penetrando o c��rebro perispiritual
e modificando-lhe a colora����o escura, enfermi��a.
Enquanto esse processo se realizava, dr. Orlando
continuou cortando o casulo da parte superior
da testa para baixo, alongando-se pelo t��rax e membros
inferiores, auxiliado pelo outro cirurgi��o.

Havia tens��o nos especialistas que se encontravam
profundamente concentrados no tratamento de
emerg��ncia e de gravidade.

Transcorrida mais de uma hora, foi aberta toda a
c��psula, deixando �� mostra o Esp��rito infeliz, que se
apresentava com h��rrida apar��ncia, esqu��lido, com
v��rias excresc��ncias tumorosas na face e por todo o
corpo, como flores despeda��adas e apodrecidas, fa



301

Tormentos da obsess��o

zendo-me recordar as enfermidades parasitas que
agridem os pacientes destitu��dos dos recursos imunol��gicos
de defesa org��nica. O aspecto era repelente
e nauseante. No entanto, se tratava de um irm��o
colhido pelo vendaval das paix��es, que retornava ao
lar destro��ado pela loucura de si mesmo, mas que
nunca estivera ao abandono...

Carinhosamente foi retirado do molde grosseiro
que o vestia e transferido para outra mesa pr��xima,
onde o processo de aux��lio prosseguiu.

Sobre as p��stulas foram aplicadas subst��ncias
especiais que eram concentrados de energia ass��ptica,
para auxiliar o refazimento dos tecidos decompostos,
e apesar de encontrar-se em sono profundo,

o cirurgiado passou a gemer dolorosamente. Os procedimentos
de recupera����o prosseguiram fortalecendo-
o, enquanto os enfermeiros-auxiliares retiravam
os res��duos morbosos dos envolt��rios que o vitimavam.
Conclu��da a interven����o cir��rgica, dr. Orlando recomendou
que se continuassem com os recursos de
reenergiza����o a cada quatro horas, tendo-se o cuidado
de substituir a atadura vibrat��ria que funcionava
como bloqueador da mente em desalinho, a fim de
evitar que novos comprometimentos pudessem ser
exteriorizados.

O trabalho agora seria de despertamento de Evaldo
ao primeiro ensejo, de modo a conscientiz��-lo da
necessidade de modificar o direcionamento mental
para o pr��prio bem.

Outras recomenda����es foram feitas, e ap��s uma
prece gratulatoria sa��mos da sala com o h��bil cirurgi��o
e psiquiatra.


302
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Logo nos afastamos do recinto e alcan��amos o
ampio corredor, n��o pude ocultar o interesse de aprender,
e indaguei ao m��dico:

- Como explicar-se esse processo de encapsulamento
que acab��ramos de ver?
Sem nenhum desagrado ele esclareceu-nos:

- Conv��m ter sempre em considera����o que somos
aquilo que cultivamos interiormente. O c��u e o
inferno s��o regi��es interiores que habitamos conforme
a postura mental respons��vel pelos nossos atos.
Exteriorizando essas prefer��ncias ps��quicas, consubstanciamo-
las em edifica����es que se tornam sustentadas
pelas cont��nuas ondas do desejo e do interesse.
Quando outros indiv��duos trazem os mesmos
valores, re��nem-se for��as que concretizam aspira����es,
dando lugar a regi��es pr��prias dos pensamentos
em a����o. Assim temos as prov��ncias de provas e
dores al��m do t��mulo, tanto quanto aquelas de del��cias
e de paz. N��o poucos m��sticos e m��diuns, em
processo de desdobramento ainda na Terra, t��m sido
trazidos a esses s��tios, o que deu margem aos conceitos
m��ticos de inferno, purgat��rio, limbo e c��u de
forma concreta com as suas implica����es religiosas e
dogm��ticas. �� ��bvio que n��o os existem do ponto de
vista material, consoante a propositura da f��sica
newtoniana ou linear. N��o obstante, multiplicam-se,
em realidade, os campos e regi��es de sofrimento, de
ang��stia e de recupera����o na Erraticidade, da mesma
forma que os aben��oados redutos de alegria, de
paz, de bem-aventuran��a, conforme prometidos por
Jesus no conceito do reino dos C��us.
"Por enquanto, face ao primarismo que ainda viceja
entre as criaturas, os desvios mentais e compor



303

Tormentos da obsess��o

tamentais t��m projetado e vitalizado mais ��reas para
recupera����o penosa do que lugares paradis��acos e
ed��nicos.

"Toda vez que a mente se fixa em algo, emite vibra����es
que se transformam em for��a correspondente,
logrando atender ao direcionamento que lhe �� proposto.
No caso do nosso irm��o Evaldo, sua consci��ncia
de culpa elaborou um recinto escuro para ocultar
a mis��ria a que se entregou, enquanto deambulava
no prosc��nio terrestre na sua anterior e mais recente
jornada."

Fez uma pausa tranq��ila, para ordenar o racioc��nio
e continuou:

- Nosso amigo partiu do mundo espiritual com
definidos compromissos na ��rea pol��tico-religiosa a
que era afeito anteriormente e que n��o soube corresponder
com o valor que deveria ser aplicado. Fracassou,
v��rias vezes, gerando situa����es penosas na f��
religiosa abra��ada, assim como no campo da pol��tica,
que submeteu ��s paix��es do dogmatismo e dos
interesses inconfess��veis que o caracterizaram. Muito
comprometido espiritualmente, preparou-se para
novo cometimento e recebeu o aval dos seus Guias
espirituais. Por mais de um dec��nio equipou-se de
conhecimento e de valores ��ticos para atuar com eleva����o
nos dois delicados campos. Quando se acreditou
em condi����es de reencetar a jornada, foi conduzido
a um nobre lar esp��rita, sob a tutela de m��e generosa
que lhe era anjo protetor, a fim de que o Consolador
lhe facultasse compreender os compromissos
assumidos e a Lei de Causa e Efeito o despertasse
para o desempenho sagrado da tarefa.
"Desde cedo, participou com a genitora dos es



304
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

tudos evang��licos no lar, em momentosos encontros
de medita����o e de interc��mbio, quando os Amigos
espirituais inspiravam as conversa����es e direcionavam
os interesses da fam��lia. Participou das aulas de
evangeliza����o da ��poca, indevidamente denominadas
de catecismo esp��rita, e mais tarde tomou parte
num dos primeiros grupos de mocidades esp��ritas
que se iniciavam no Brasil. Conseguiu destacar-se,
exercendo lideran��a, porquanto, para tanto, fora preparado,
enquanto simultaneamente estudava direito.
Bacharelando-se, teve a felicidade de ser convidado
por h��bil advogado pol��tico que o iniciou na dif��cil
conjuntura administrativa do pa��s, na qual conseguiu
amealhar expressivos recursos financeiros.
Logo depois, consorciou-se com excelente companheira,
e enquanto o triunfo lhe batia ��s portas, permitia-
se o distanciamento da f�� esp��rita. �� claro que
se justificava como sendo v��tima da falta de tempo,
escamoteando o constrangimento que sentia de declarar-
se espiritista nas altas rodas, nas quais agora
se movimentava entre luxos e preconceitos mesquinhos.


"O tempo �� inexor��vel, e todos passam por ele,
que permanece inalterado. O dr. Evaldo, ent��o proeminente
pol��tico, esqueceu-se completamente dos
compromisso espirituais. No auge do poder, tomado
pela avidez desvairada para o enriquecimento il��cito,
acumpliciou-se com amigos envolvidos em corrup����o
e, em breve, derrapou em terr��veis enovelamentos morais,
desviando verbas que deveriam atender necessidades
urgentes e salvar vidas, transferindo-as para
contas fora do pa��s nos denominados para��sos fiscais.

"Nesse interregno, face aos descalabros ��ntimos


305

Tormentos da obsess��o

que n��o ficaram apenas na ��rea dos comprometimentos
pol��ticos, mas tamb��m sexuais, vinculou-se a antigos
inimigos desencarnados que o espreitavam, come��ando
a hospedar psiquicamente h��bil manipulador
das for��as mentais que passou a comand��-lo vagarosamente
at�� apropriar-se-lhe com relativa facilidade
do seu mundo ps��quico.

"Quando menos esperava, a esposa sofrida ante
a conduta irregular do marido com a qual n��o concordava
e o admoestava sempre que poss��vel, foi acometida
de um carcinoma que a vitimou em r��pidos
meses. Surpreendido pelo infausto acontecimento,
n��o tendo procriado, o insensato come��ou a atormentar-
se, dando campo �� consci��ncia de culpa e procurando
fugir de si mesmo. Os valores amealhados de
nada lhe valeram, porque n��o podiam minimizar os
conflitos ��ntimos e a sensa����o de que a morte da
mulher em condi����es muito dolorosas de certo modo
era uma puni����o �� sua conduta irregular, como se a
Divindade se utilizasse de mecanismos m��rbidos
quais os dessa natureza.

"Lentamente afastou-se da agitada vida mundana
sob a justificativa da viuvez, e apesar de insistentemente
convidado pelos comparsas, refugiou-se em
pertinaz depress��o que passou a consumir-lhe as
metas existenciais, a raz��o de viver, qualquer objetivo
que o pudesse arrancar da penosa situa����o.

"A m��ezinha, ora desencarnada, envidou esfor��os
exaustivos para arranc��-lo da situa����o pungente
a que se entregou, mas tudo redundou in��til, porque

o torturado come��ou a perceber quanto a sua avidez
contribu��ra para a mis��ria de muitos seres humanos
necessitados, os quais deveria defender e amparar

306
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

atrav��s dos mecanismos pol��ticos e da f�� esp��rita que
anteriormente esposara.

"Tentando ocultar o drama, o seu inconsciente
come��ou a criar a teia vibrat��ria que terminou por
envolv��-lo ent��o sob o direcionamento do advers��rio
espiritual. Tr��s anos transcorridos ap��s a desencarna����o
da senhora, sucumbiu em triste ru��na humana,
negando-se �� alimenta����o e ao tratamento especializado,
que embora sob imposi����o vigorosa de outros
familiares n��o logrou arranc��-lo do abismo da
consci��ncia culpada ao qual se atirara com sofreguid��o."


Novamente o psiquiatra silenciou, demonstrando
uma profunda compun����o pelo enfermo. A seguir,
concluiu:

- Em deplor��vel estado mental e f��sico desencarnou,
jugulado �� estranha obsess��o por resson��ncia
dos pensamentos perversos do inimigo que o aguardou
no p��rtico da imortalidade, encarcerando-o nos
fios vigorosos da pr��pria urdidura mental e recambiando-
o para o escuso recinto onde se homiziava. Ali,
sob hipnose cruel, vergastou-o por mais de um dec��nio,
ap��s o que foi transferido para nosso Hospital
por intercess��o da m��ezinha abnegada, aqui demorando-
se at�� este momento, quando come��a o seu
processo de despertamento para o encontro l��cido
com a realidade.
- Deus, meu! - exclamei - emocionado. Quanto a
aprender e a corrigir no mundo ��ntimo!
Alberto, sempre silencioso, aduziu com jovialidade:


- N��o �� por outra raz��o que o Mestre nos informou
que mais ser�� pedido ��quele a quem mais foi

307

Tormentos da obsess��o

dado.

De fato, quem possui a luz embutida na mente e
no cora����o n��o pode andar em trevas, semear escurid��o,
para tanto, apagando a pr��pria claridade ��ntima,
pois que, sem qualquer d��vida, voltar�� a percorrer o
mesmo caminho e o defrontar�� conforme o haja deixado.


Assim, emocionados e reconhecidos, despedimonos
do culto e generoso m��dico, rumando ao gabinete
do dr. Ign��cio Ferreira, onde ��ramos gentilmente
aguardados.


LI����ES DE SABEDORIA

A aprendizagem prosseguia ampliando-me os horizontes
do entendimento em torno do ser, do seu
destino, das afli����es e alegrias que s��o vividas ao
largo do processo evolutivo. Em todo lugar, naquele
pavilh��o, que era apenas um dos quatro reservados
aos alienados mentais que permaneciam vinculados
��s reminisc��ncias terrestres e aos seus engodos, eu
defrontava a Lei de Causa e Efeito no seu mister de
disciplinar e educar, orientar e libertar o Esp��rito das
amarras que o jugulam ��s heran��as do primarismo
por onde passa ao largo da vilegiatura carnal.

Novos contatos permitiam-me penetrar em quest��es
dantes jamais concebidas, que fazem parte da
natureza humana e se sediam nas estruturas mais
complexas do ser espiritual.

A exist��ncia corporal �� sempre um desafio dignificante,
que deve ser vivida com eleva����o e respeito
pelos postulados que facultam o crescimento interior
no rumo da plenitude. Nem todos aqueles que se encontram
mergulhados na neblina carnal d��o-se conta
do alto significado dessa concess��o superior da
miseric��rdia divina. Enquanto transcorre em clima de


309

Tormentos da obsess��o

j��bilos infantis sem mais graves compromissos, predominam
os encantamentos, que logo passam, assim
se desenham os exerc��cios de auto-aprimoramento,
de auto-ilumina����o mediante o servi��o do bem, o
sacrif��cio das paix��es, a ren��ncia ��s ilus��es, o testemunho
depurador pelo sofrimento... Anestesiado pelos
vapores do organismo, o Esp��rito transita sem responsabilidade,
comprometendo-se e despertando
para os necess��rios resgates, at�� adquirir a consci��ncia
de si mesmo, definindo-se pela marcha ascensional
sem est��gios nos patamares de sombra e dor.
O tropismo divino atrai-o e fascina-o, poderoso e absorvente,
fazendo-o superar os atavismos ancestrais
e romper as vigorosas redes retentivas da retaguarda.


Esse processo de liberta����o ��, ��s vezes, penoso,
feito com suores e l��grimas, oferecendo, logo depois,

o pr��mio da harmonia, da supera����o dos instintos e
dos tormentos. Empenhar-se com acendrado interesse
pelo conseguir, deve ser a meta de todos n��s, que
ainda nos encontramos vinculados aos v��cios milenares,
prejudiciais e asselvajados.
Ali tivera oportunidade de conhecer abnegados
servidores an��nimos que se encarregavam de tarefas
humildes umas, aparentemente insignificantes
outras, nas quais investiam todo o amor e alegria, procurando
ser ��teis, intensificando prop��sitos de sublima����o
e aguardando confiantes o futuro. Esp��ritos
que, na Terra, haviam envergado a t��nica do destaque
social, mantido nas m��os a adaga do poder, transitado
entre honrarias e louvores, agora se encontravam
mergulhados na simplicidade por onde recome��avam
o desenvolvimento ��tico-moral para a cons



310
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

tru����o superior de si mesmos.

Por outro lado, encontrara testemunhos de ren��ncia
incompar��veis, em que almas nobres aguardavam
a recupera����o dos seus afetos para somente depois
ascenderem a planos mais elevados e desfrutarem
de bem-estar. O servi��o de aux��lio ao pr��ximo sofredor
em nome do amor, exigindo-lhes sacrif��cios cont��nuos,
possu��a-lhes significado essencial em detrimento
das pr��prias alegrias que adiavam, a fim de
que os seus j��bilos n��o se assentassem no esquecimento
das l��grimas que os aguardavam para enxug��-
las...

Um m��s se havia passado desde que cheg��ramos
ao Hospital e f��ramos carinhosamente recebidos.


Com esse saldo credor na economia dos sentimentos,
encaminhei-me ao gabinete do dr. Ign��cio
Ferreira, a fim de inform��-lo de que, no dia imediato
retornaria �� comunidade onde residia, ali prosseguindo
no desempenho das atividades que me diziam respeito.


O m��dico uberabense recebeu-nos com efus��o
de j��bilos, explicando-me que Eur��pedes Barsanulfo,
recordando-se que o prazo referente ao meu est��gio
terminava, houvera-me convidado e a outros amigos
por seu interm��dio, para nos reunirmos na sua resid��ncia,
a fim de participarmos de um encontro informal
de despedida, o que ocorreria ��s vinte horas daquele
mesmo dia.

N��o pude ocultar o entusiasmo que, por pouco,
n��o me conduziu ��s l��grimas. Reconhe��o as defici��ncias
que me tipificam o processo espiritual, e receber
t��o generosa defer��ncia representava-me alta res



311

Tormentos da obsess��o

ponsabilidade em rela����o ��quele momento e ao futuro
que me aguarda.

Assim, busquei o caro Alberto, a fim de visitarmos
os enfermos e novos amigos com os quais travara
contato naquele per��odo, deixando-lhes exteriorizados
os meus sentimentos de gratid��o e votos de
breve recupera����o das dores pungitivas que a alguns
excruciavam, p��rtico por��m, das inef��veis alegrias
que os esperavam.

Fomos ao encontro de Alm��rio que se apresentava
com excelente disposi����o ps��quica e continuava
no atendimento aos visitantes do pavilh��o. Agradeci-
lhe, penhorado, a gentileza com que me houvera
recebido no primeiro dia, confiando-me a sua hist��ria
rica de li����es, ajudando-me a resguardar-me das
pr��prias mazelas.

Logo mais, restabelecemos o contato com dr. Le��ncio,
que se conscientizava, a cada novo dia, com
mais amplo tiroc��nio dos deveres para com a vida e
para consigo mesmo, ao inv��s da intoler��ncia e do
radicalismo que invariavelmente ocultam os conflitos
graves, que logo se exteriorizam assim tenham
oportunidade.

Junto a Ambr��sio, a prece de reconforto moral e
de fraternal sentimento solid��rio foi a contribui����o
��nica de que dispusemos para expressar-lhe simpatia
e ajuda, confiando-o �� inalter��vel bondade de
Deus.

Igualmente, ao lado do dr. Agenor reflexionamos
em sil��ncio a respeito dos tesouros do conhecimento
que aplicamos incorretamente e das duras conseq����ncias
que adv��m dessa inditosa conduta. Apesar
de hibernado, sem poder exteriorizar as afli����es


312
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

que o martirizavam, vivia-as mentalmente atrav��s do
processo das evoca����es constantes e autom��ticas.
O tempo lhe seria o auxiliar milagroso em favor do
despertamento para os novos desafios que deveria
enfrentar.

O reencontro com Lic��nio foi enriquecido de alegrias,
face ��s conquistas do digno trabalhador do Bem,
que se soube apagar a fim de que brilhasse a luz da
verdade atrav��s dos seus atos. O seu riso generoso e
f��cil permaneceria em minha mem��ria como o sinal
de vit��ria ap��s o dever retamente cumprido, agora
lhe descortinando infinitas outras possibilidades de
crescimento interior.

Dona Hildegarda recebeu-nos com sensibilidade,
convidando-nos ao retorno, assim nos fosse poss��vel,
a fim de participarmos n��o apenas das atividades
hospitalares, mas tamb��m dos labores espirituais
que desenvolvia na crosta terrestre ao lado dos
amigos. Jovial e confiante, avan��ava no rumo da Grande
Luz sem olhar para tr��s, investindo amor e tenacidade
no desempenho dos compromissos que ora lhe
diziam respeito.

O irm��o Gustavo Ribeiro apresentava-se mais
animado, embora os v��nculos profundos que ainda
mantinha com o lar e o peso do arrependimento que

o esmagava. A prece de reconforto moral e de encorajamento,
que fizemos ao seu lado, foi a forma de
que disp��nhamos no momento para agradecer-lhe a
li����o de vida que nos oferecera como advert��ncia
para a pr��pria indig��ncia.
Buscamos a presen��a de Hon��rio, encontrando-

o no lento processo de conscientiza����o ap��s os duros
transes passados, que ainda prosseguiam em for

313

Tormentos da obsess��o

ma de fixa����es mentais pungentes.

N��o nos esquecemos de Agenor, cuja m��ezinha
nos encantara com o seu testemunho de fidelidade e
prote����o ao filho rebelde, e que permanecia em sono
profundo visitado pelas imagens perturbadoras da
conduta irregular.

Fomos agradecer ao dr. Orlando Messier a confian��a
e a generosidade que nos dispensara, pedindo-
lhe permiss��o para rever o dr. Evaldo e orar ao seu
lado, a fim de o envolver em vibra����es de esperan��a
e de recupera����o, no que fomos gentilmente atendidos.


Diante de cada um desses irm��os e de outros tantos,
agradecemos a Deus a oportunidade de aprender
com eles, sem a necessidade de experimentar os
mesmos sofrimentos porque passaram e ainda sofriam,
face �� lucidez que nos acompanhava. A verdade
�� que, em toda parte, o amor abre o seu elenco de
possibilidades de servi��o e de renova����o em convite
perene para a felicidade.

A medida que a noite se anunciava, ao lado do
incans��vel Alberto que se nos houvera transformado
em verdadeiro benfeitor, experimentava j�� os sentimentos
de saudade e de reconhecimento pelas admir��veis
li����es aprendidas no pavilh��o que nos hospedara
naquele breve per��odo.

Agradecendo ao companheiro vigilante e prestimoso,
recolhi-me ao apartamento, a fim de preparar-
me para o encontro com o fundador do Hospital Esperan��a
conforme delineado.

A hora estabelecida, dr. Ign��cio Ferreira e Alberto
vieram buscar-me para o conv��vio feliz.

Somente ent��o dei-me conta de que o mission��



314
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

rio sacramentar��o residia em ��rea pr��xima ao Hospital,
e n��o em alguma das suas depend��ncias. Desde
quando desencarnara, que se empenhara em dar
prosseguimento �� edifica����o de uma comunidade
dedicada ao amor e ao estudo da Verdade, que houvera
iniciado antes do mergulho no corpo, conseguindo,
ao largo dos anos, receber nas diversas edifica����es
familiares e amigos mais recentes, tanto quanto
de ��pocas recuadas, a fim de prosseguirem juntos no
minist��rio iluminativo, assim iniciando a fraternidade
mais ampla entre eles, pr��dromo daquela que ser��
universal.

Podia-se dizer que se tratava de um bairro na cidade
espiritual com magn��fico tra��ado urban��stico e
rica paisagem luxuriante, na qual se experimentava
a harmonia entre as realiza����es do Esp��rito e o ambiente
geral, produzindo refazimento e inef��vel bem-
estar por toda parte.

As resid��ncias encontravam-se bem distribu��das
com expressivas dimens��es e jardins que as uniam,
tanto quanto largos espa��os para encontros e conviv��ncia
em grupos. Noutra ��rea, destacava-se um
amplo edif��cio escolar, no qual se encontrava um d��stico
expressivo enunciando tratar-se do Educand��rio
Allan Kardec.

N��o cabia em mim de contentamento e surpresa.
Dr. Ign��cio, percebendo-me o espanto, e sorrindo
jovialmente, informou-me:

- Esse Instituto foi o modelo no qual Eur��pedes
se inspirou para erguer o seu equivalente em Sacramento
no come��o do s��culo XX. Aqui, em momentosos
deslocamentos espirituais, ele vinha abastecer-
se de energias e conhecimentos mediante desdobra

315

Tormentos da obsess��o

mento parcial pelo sono f��sico, para desenvolver novos
padr��es pedag��gicos �� luz do Espiritismo, vivendo
grandioso pioneirismo em torno da educa����o. Diversos
daqueles seus alunos de ent��o, ora aqui se
encontram, trabalhando na divulga����o da metodologia
do ensino moderno, ampliando a vis��o da liberdade
com responsabilidade nas grades pedag��gicas.
A obra do Bem n��o �� realizada de improviso, nem
surge conclu��da de um para outro momento. Exige
esfor��o, perseveran��a e dedica����o.

"O Educand��rio tem v��rios setores, que se iniciam
no atendimento maternal, passando pelo jardim
de inf��ncia e prosseguindo atrav��s da prepara����o
prim��ria, secund��ria, universit��ria... H�� lugar para
todos os n��veis et��rios conforme os padr��es terrestres,
e aqueles que desencarnam em diferentes idades,
quando para c�� s��o trazidos, disp��em de competente
atendimento de acordo com as suas necessidades."


Hav��amos caminhado entre jardins e alamedas
bem cuidados por quase um quil��metro desde que
sa��ramos da porta central do pavilh��o no Hospital que
nos alojava.

Diante dos meus olhos alargava-se a Comunidade
amor e conhecimento da Verdade.

Perpassavam no ar da noite suaves e quase inaud��veis
melodias que nos estimulavam �� alegria e aos
sentimentos superiores, produzindo vibra����es de
harmonia em nosso mundo ��ntimo.

Quando chegamos �� ampla resid��ncia do Benfeitor
gentil, este veio receber-nos �� porta e fez-nos
adentrar com amabilidade que nos sensibilizou, reconhecendo
a aus��ncia de m��rito de nossa parte.


316
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

Na sala de largas janelas que permitiam a entrada
do perfume exterior das flores em explos��o de primavera,
iluminada amplamente encontravam-se in��meros
Esp��ritos joviais que nos receberam com verdadeiro
e natural contentamento. O anfitri��o nos apresentou
a todos, um a um, entretecendo ligeiro coment��rio
a respeito de cada qual. Eram familiares da ��ltima
experi��ncia f��sica, amigos queridos, ex-alunos,
cooperadores devotados, m��diuns que o auxiliavam
na psicoterapia espiritual com os sofredores desencarnados,
enfim, membros da grande ordem do amor
universal.

Deixando-me inteiramente �� vontade, convidou-
nos a sentar e, com a naturalidade que lhe era habitual,
explicou-nos a todos que o encontro tinha por
objetivo agradecer a nossa visita e entretecer breves
coment��rios em torno do crist��o no mundo, especialmente
do crist��o-esp��rita enriquecido pela Terceira
Revela����o.

Todos concentramos os olhos e a aten����o no em��rito
trabalhador de Jesus que, sem mais delonga, considerou:


- Todo conhecimento superior que se adquire visa
ao desenvolvimento moral e espiritual do ser. No que
diz respeito ��s conquistas imortais, a responsabilidade
cresce na raz��o direta daquilo que se assimila.
Ningu��m tem o direito de acender uma candeia e
ocult��-la sob o alqueire, quando h�� o predom��nio de
sombras solicitando claridade. A consci��ncia esclarecida,
portanto, n��o se pode omitir quando convidada
ao servi��o de liberta����o da ignor��ncia de outras
em aturdimento. Somos c��lulas pulsantes do organismo
universal, e quando algu��m est�� enfermo, debili

317

Tormentos da obsess��o

tado, detido no c��rcere do desconhecimento, o seu
estado se reflete no conjunto solicitando coopera����o.
Jesus �� o exemplo dessa solidariedade, porque jamais
se escusou, nunca se deteve, avan��ando sempre
e convidando todos aqueles que permaneciam
na retaguarda para segui-lO. Esse �� o compromisso
do ser inteligente na Terra e no Espa��o: socorrer em
nome do amor os irm��os que se det��m ergastulados
no erro, no desconhecimento, na dor...

"A Humanidade, desde priscas Eras, tem recebido
a ilumina����o que verte do Alto. Nunca faltaram os
mission��rios do Bem e da Verdade conclamando ��
ascens��o, �� supera����o das imperfei����es morais. Em
��poca alguma e em lugar nenhum deixou de brilhar a
chama da esperan��a em nome de Nosso Pai, que enviou
os Seus ap��stolos ao Planeta, a fim de que todas
as criaturas tivessem as mesmas chances de auto-
realiza����o e de crescimento interior. Todos eles, os
nobres Mensageiros da Luz, desempenharam as suas
atividades em elevados climas de enobrecimento e
de abnega����o, que deles fizeram l��deres do pensamento
de cada povo, de todos os povos.

"Foi, no entanto, Jesus, quem melhor se doou ��
Humanidade, ensinando pelo exemplo dedica����o at��
�� morte, e oferecendo carinho at�� hoje, aguardando
com paci��ncia infinita que as Suas ovelhas retornem
ao aprisco. Apesar das Suas magn��ficas li����es, o ser
humano alterou o rumo da Sua proposta de l��dima fraternidade,
promovendo guerras de exterm��nio, elaborando
castas separatistas, elegendo ilus��es para a
conquista do reino terrestre... Sabendo, por antecipa����o,
dessa peculiaridade da alma humana, o Mestre
prometeu o Consolador que viria para erguer em


318
Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

definitivo os combalidos na luta, permanecendo com
as criaturas at�� o fim dos tempos...

"E o Consolador veio. Ao ser apresentado no Espiritismo,
surgiram incont��veis possibilidades de
edifica����o humana, pelo fato de a Doutrina abarcar
os v��rios segmentos complexos e profundos da Ci��ncia,
da Filosofia e da Religi��o, contribuindo em todas
as ��reas do conhecimento e da emo����o para o
desenvolvimento dos valores eternos e a conseq��ente
consolida����o do reino de Deus na Terra. Expandindo-
se a Codifica����o kardequiana, as multid��es esfaimadas
de paz e atormentadas por v��rios fatores, acercaram-
se e continuam abeberando-se na fonte generosa
e rica, para serem atendidas, sorvendo os seus
s��bios ensinamentos.

"Quando, por��m, deveriam estar modificados os
rumos convencionais e estabelecidos a fraternidade,
a solidariedade, a toler��ncia, o trabalho de amor na
fam��lia que se expande, come��am a surgir desaven��as,
ressentimentos, conflitos, campanhas de perturba����o
e ataques grosseiros, repetindo-se as infelizes
disputas geradas pelo ego��smo e pela v�� cegueira das
paix��es dissolventes, conforme ocorreu no passado
com o Cristianismo, destruindo a sementeira ainda
n��o conclu��da e amea��ando a ceifa que prometia b��n����os.
Esp��ritos uns, possu��dos pelo desejo de servir,
mergulham no corpo conduzindo expectativas felizes
para ampliar os horizontes do trabalho digno, mas,
v��timas de si mesmos e do seu passado sombrio, restabelecem
as vincula����es enfermi��as, tombando nas
malhas bem urdidas de obsess��es cru��is, vitimados
e perdidos... Outros mais, que deveriam ser as pontes
luminosas para o interc��mbio entre as duas esfe



319

Tormentos da obsess��o

ras vibrat��rias, a��odados na inferioridade moral, comprometem-
se com os v��cios dominantes no mundo e
desertam das tarefas redentoras... Diversos outros
ainda, preparados para divulgar o pensamento libertador,
deixam-se vencer pelo bafio do ego��smo e do
orgulho que deveriam combater, tornando-se elementos
perturbadores, devorados pela ira f��cil e dominados
pela presun����o geradora de ressentimentos e de
��dios... A paisagem, que deveria apresentar-se irisada
pela luz do amor, torna-se sombreada pelos vapores
da soberba e do despaut��rio, tornando-se palco
de disputas vis e de promo����es doentias do personalismo,
longe das seguras diretrizes do leg��timo pensamento
esp��rita... Que est��o fazendo aqueles que
se comprometeram amar, ajudar-se reciprocamente,
fornecendo as certezas da imortalidade do Esp��rito e
da Justi��a Divina? Enleados pelos vigorosos fios da
soberba e da presun����o, cr��em-se especiais e dotados
com poderes de a tudo e a todos agredir e malsinar.


"Como conseq����ncia dessa atitude enferma est��o
desencarnando muito mal, incont��veis trabalhadores
das lides esp��ritas que, ao inverso, deveriam
estar em condi����es felizes. O retorno de expressivo
n��mero deles ao Grande Lar tem sido doloroso e angustiante,
conforme constatamos nas experi��ncias
vivenciadas em nossa Esfera de atividade fraternal e
caridosa...O sil��ncio em torno da quest��o j�� n��o ��
mais poss��vel. Por essa raz��o, anu��mos que sejam
trombeteadas as informa����es em torno da desencarna����o
atormentada de muitos servidores da Era Nova
em dire����o aos demais combatentes que se encontram
no mundo, para que se d��em conta de que de



320

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

sencarnar �� desvestir-se da carne, libertar-se dela e
das suas vincula����es, por��m, �� realidade totalmente
diversa e de mais dif��cil realiza����o."

O digno mission��rio silenciou por breves segundos,
logo dando curso aos seus enunciados:

- Felizmente nos confortam o testemunho de in��meros
her��is do trabalho, os permanentes exemplificadores
de caridade, a const��ncia no bem pelos vanguardeiros
do servi��o dignificante, os ativos oper��rios
da mediunidade enobrecida e dedicada ao socorro
espiritual, os incans��veis divulgadores da verdade
sem ja��a e sem prepot��ncia que continuam no
minist��rio abra��ado em perfeita sintonia com as Esferas
Elevadas de onde procedem.
"Quem assume compromisso com Jesus atrav��s
da Revela����o Esp��rita, n��o se pode permitir o luxo de
O abandonar na curva do caminho, e seguir a s��s,
soberbo qu��o dominador, porque a morte o aguarda
no pr��ximo trecho da viagem e o surpreender�� conforme
se encontra, e n��o, como se dar�� conta do quanto
deveria estar melhor mais tarde.

"A transitoriedade da indument��ria f��sica �� convite
�� reflex��o em torno dos objetivos essenciais da
vida que, a cada momento, altera o rumo do viajante
de acordo com o comportamento a que se entrega.
Ningu��m se iluda, nem tampouco iluda aos demais.
A consci��ncia, por mais se demore anestesiada, sempre
desperta com rigor, convidando o ser ao ajustamento
moral e �� regulariza����o dos equ��vocos deixados
no trajeto percorrido. Todos quantos aqui nos
encontramos reunidos, conhecemos a dificuldade do
tr��nsito f��sico, porque j�� o vivenciamos diversas vezes,
e ainda o temos vivo na mem��ria e nos testemu



321

Tormentos da obsess��o

nhos a que fomos convocados. Ningu��m esteve na
Terra em regime de exce����o. Apesar disso, bendizemos
as dificuldades e as provas que nos estimularam
ao avan��o e �� conquista da paz.

"Provavelmente, estas informa����es, quando forem
conhecidas por muitos correligion��rios, ser��o
contraditadas e mesmo combatidas. Nunca faltam
aqueles que se entregam �� zombaria e �� aguerrida
oposi����o. Os seus est��mulos funcionam melhor quando
est��o contra algo ou algu��m. N��o nos preocupamos
com isso. Cumpre-nos, por��m, o dever de informar
com seguran��a, e o fazemos com o pensamento
e a emo����o direcionados para a Verdade. Como os
reencarnados de hoje ser��o os desencarnados de
amanh��, e certamente o inverso acontecer��, os companheiros
terrestres constatar��o e se cientificar��o de
visu. Jamais nos cansaremos de amar e de servir, tentando
seguir as luminosas pegadas de Jesus, que nos
assinalou com sabedoria: -Muitos ser��o chamados e
poucos ser��o escolhidos. Sem a pretens��o de sermos
escolhidos, por enquanto apenas pretendemos atender-
Lhe ao sublime chamado para o Seu servi��o entre
as criaturas humanas de ambos os planos da vida."

Calando-se, visivelmente emocionado, ergueu-se
e, nimbado por peculiar claridade que dele se irradiava,
exorou a Deus com inesquec��vel tom de voz:

Amant��ssimo Pai, incompar��vel Criador do Universo
e de tudo quanto nele pulsa!
Tende compaix��o dos vossos filhos terrestres, mer


gulhados nas sombras densas da ignor��ncia e do primarismo
em que se demoram.
A vossa excelsa miseric��rdia tem-se consubstanciado
em li����es de vida e de beleza em toda parte,


322

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

convidando-nos, est��rdios que somos, ao despertamento
para a vossa grandeza e sabedoria infinita. N��o
obstante, continuamos distra��dos, distantes do dever
que nos cabe atender.

Apiedai-vos da nossa pequenez e deixai-nos sentir
o vosso inef��vel amor, que nos rocia e quase n��o ��
percebido, a fim de alterarmos o comportamento que
vimos mantendo at�� este momento.

Enviastes-nos Jesus, o inexced��vel Amigo dos deserdados
e dos infelizes, depois de inumer��veis Mensageiros
da Luz, ouvimos-Lhe a voz, sensibilizamo-nos
com o Seu sacrif��cio, no entanto, desviamo-nos do roteiro
que Ele nos tra��ou e continua apontando. Tombando,
por��m, no abismo, por invigil��ncia e leviandade,
tentamos reerguer-nos v��rias vezes, e nos ajudastes
por compaix��o, sem que essa magnanimidade alterasse
por definitivo nossa maneira de ser durante
os s��culos transatos.

Permitistes que Allan Kardec mergulhasse no corpo,
a fim de demonstrar-nos a imortalidade da alma,
quando campeava a descren��a e a cegueira em torno
da vossa Majestade, e tamb��m nos fascinamos com o
mestre lion��s. Logo depois, por��m, eis-nos perdidos no
cipoal dos conflitos a que nos afei��oamos, experimentando
sombra e dor, esquecidos das diretrizes apresentadas.


No limiar da Nova Era que se anuncia, permiti
que vossa luz imarcesc��vel nos clareie por dentro, libertando-
nos de toda treva e assinalando-nos com o
discernimento para vos amar e vos servir com devotamento
e abnega����o.

Excelso Genitor, tende piedade de n��s, favorecendo-
nos com o entendimento que nos ajude a eliminar


323

Tormentos da obsess��o

o mal que ainda se demora em n��s, desenvolvendo o
bem que nos libertar�� para sempre da inferioridade
que predomina em a nossa natureza espiritual.
Sede, pois, louvado, por todo o sempre, Venerando
Pai!

Calou-se o orante.

A luz ambiente diminuiu de intensidade durante
a ora����o, ao tempo em que peregrina claridade de
luar invadiu o recinto bafejado por acordes harm��nicos
de harpa dedilhada ao longe com incomum maestria.
Simultaneamente, p��talas de rosas coloridas
ca��am do teto e dilu��am-se com delicadeza no contato
conosco.

As l��grimas nos escorriam silenciosas e longas
pela face, confirmando o nosso compromisso emocional
com o dever que jamais desapareceria do nosso
rumo espiritual.

O ambiente permaneceu em sil��ncio profundo por
alguns minutos, ouvindo-se o pulsar da Natureza e
recebendo-se o inef��vel amparo divino.

Lentamente a claridade ambiente retomou e todos
nos olhamos comovidos e felizes.

Estava encerrado o incomum encontro.

Despedimo-nos de todos os novos amigos, certos
de que nos voltar��amos a encontrar oportunamente
em algum outro lugar na grande marcha para Deus.

Eur��pedes, gentilmente acompanhou-nos �� porta,
abra��ando-nos com afeto e colocando a comunidade
na qual se encontrava inteiramente �� nossa disposi����o,
caso vi��ssemos a ter qualquer necessidade.

Beijei as m��os da Entidade veneranda e, com dr.
Ign��cio e Alberto, retornei ao pavilh��o, igualmente
despedindo-me de ambos com profunda gratid��o, por



324

Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco

quanto, ao amanhecer, seguiria de retorno ao lar, jamais
me olvidando de tantas gra��as recebidas e das
afei����es estabelecidas.

A noite de b��n����os daria lugar a futuros amanheceres
de trabalho e de ilumina����o, que estamos
percorrendo com os olhos postos em Jesus, o Amigo
por excel��ncia.










  O Grupo Allan Kardec lança
hoje mais um livro digital !
Desejamos a todos uma boa
leitura !

Tormentos da Obsessão - Divaldo Franco /Manoel Philomeno de Miranda
         
Livro digitalizado por Fernando José dos Santos e revisado por André Luiz de Menezes

Sinopse:
Este livro é mais um brado de alerta aos companheiros da trilha física, para que não se descuidem dos deveres que nos dizem respeito em relação a Deus, ao próximo e a nós mesmos. Toda semente de ódio, deixada a esmo pelo caminho, sempre se transforma em plantação de infelicidade, proporcionando colheita de amarguras. Somente o amor possui o recurso precioso para facultar harmonia e alegria de viver. Apresentamos a narração de várias vidas e suas histórias reais, esperando que sensibilizem aqueles que nos honrarem com a atenção da sua leitura, auxiliando-os a não se permitirem comprometimentos desastrosos semelhantes.

Observação:: A ultima vez que fizemos o  relançamento foi em 13  fev 2018.
Hoje relançamos acrescentando  os formatos : epub e txt

Este livro representa uma contribuição do Grupo Allan Kardec para os deficientes visuais.

https://groups.google.com/group/grupo-espirita-allan-kardec?hl=pt-br

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