A Copa mais bizarra da História
"Estão acontecendo muitas maluquices na Copa do Mundo! Será que tem alguma coisa na água da África do Sul?"
Assim escreveu hoje, em sua página no twitter, o zagueiro Rio Ferdinando, que só não está defendendo a cambaleante seleção inglesa porque se machucou. Kaká acabara
de ser expulso depois de uma simulação do adversário que lembrou, conforme assinalado no atento site da BBC, a de Rivaldo em 2002.
Em uma semana de Copa, acumularam-se esquisitices em volume inédito. Ferdinand tem razão. Começou no zumbido da vuvuzela, um som primitivo que as pessoas detestam
e ao mesmo tempo amam, a ponto de esgotar estoques em várias partes do mundo. Depois, a esdrúxula tentativa de Queda da Bastilha feita pelo jogadores franceses,
que ao vexame no campo acrescentaram uma palhaçada fora dele ao se recusar a treinar por causa do desligamento de Anelka por brutal indisciplina. As câmaras captaram,
nas discussões, o preparador físico do time francês sair do campo em que deveria haver treinamento, depois de quase brigar fisicamente com outro jogador, e atirar
seu cronômetro para longe. Não chegou a espantar, diante da saga na África do Sul do sanatório francês, a renúncia em plena campanha do diretor da delegação.
Na Inglaterra de Ferdinand, Wayne Rooney saiu do segundo jogo agradecendo as vaias dos torcedores ingleses. Um jornal tomou as dores da torcida e chamou os jogadores
de "cape clowns", um trocadilho com o nome da cidade em que a Inglaterra está jogando (Cape Town, Cidade do Cabo). Um torcedor irritado, não se sabe direito como,
acabou entrando no vestiário da seleção. Ele disse que estava atrás de um banheiro e viu uma porta aberta pela qual entrou. Era o vestiário e, fora um jogador pelado,
viu David Beckham vestido como se estivesse num casamento, e de cara feia como um noivo contrariado. "Decidi que tinha que aproveitar para falar em nome da torcida",
afirmou, depois, o torcedor. Ele disse a Beckham que os torcedores ingleses tinham gastado muito dinheiro para ir à África do Sul e perguntou o que seria feito,
como se Beckham tivesse alguma responsabilidade que não seja a de sentar no banco de reservas de paletó e gravata.
Também o técnico da seleção inglesa, o italiano Fabio Capello, parece estar sendo vítima de uma insurreição, a exemplo do colega de tormento francês. O ex-capitão
John Terry, ainda hoje, negou. A última vez que Terry fez isso - apoiar publicamente um técnico - quem ele prestigiava, sendo capitão do Chelsea, era Felipão.
Que subitamente desapareceu dos deslumbrantes gramados ingleses, enxotado ao melhor estilo brasileiro.
Mulheres bonitas costumam ser bem-vindas aos estádios. Na África do Sul foram mandadas embora. Um grupo de beldades de laranja foi cruelmente expulso por fazer
'ambush
marketing', propaganda de emboscada. O laranja exuberante delas, evidentemente captado pelas câmaras, tinha o objetivo de promover uma marca de cerveja. Quando
beldades
são despachadas de estádios é porque todo mundo está louco.
É estranho também, para mim, ver a Copa tão longe do Brasil. Mas ao mesmo tempo é divertido ver como os ingleses, ainda mais fanáticos por futebol que os brasileiros,
enxergam a Copa. Eles são mais didáticos, sem ser chatos, que os jornalistas esportivos brasileiros. Fico sabendo que a última vez que um jogador da seleção brasileira
fez três gols numa Copa - o hat trick, como eles chamam aqui - foi Pelé, aos 17 anos, na vitória sobre a França em junho de 1958. "Uma coisa para o Luiz Fabiano
pensar?", alguém comentou. Como se Luiz Fabiano tivesse alguma idéia do hat trick de Pelé.
Luiz Fabiano fizera seu segundo gol, depois de levar duas vezes a bola com as mãos, em outra esquisitice da Copa. A imagem do juiz perguntando a ele se ele tinha
usado os braços já é um clássico da inocência (do juiz) e da cara de pau (de Luiz Fabiano). Também fiquei sabendo que Drogba assinalou o primeiro gol de uma seleção
da África em jogos contra o Brasil numa Copa. O Brasil jogou seis vezes contra a África e venceu todas.
No intervalo, um comentarista inglês presente ao estádio Soccer City observa: "Esses brasileiros. Não estão nada satisfeitos. Erros no controle de bola deixam os
caras malucos. Raras vezes vi torcedores tão furiosos quando estão ganhando o jogo no fim do primeiro tempo." A dificuldade na pronúncia dos nomes é engraçada.
Kaká
vira "caca" com frequência, e há uma certa justiça poética aí pelo seu desempenho nesta primeira fase da Copa. A camisa que foi de Pelé e Rivelino fica absurdamente
grande em Kaká.
Para mim, a maneira como os nomes brasileiros são ditos é uma esquisitice a mais, e esta passou ao largo de Rio Ferdinand. Bem como o movimento Cala Boca Galvão,
que sabe-se lá como ficou entre os tópicos mais quentes do twitter por diás, com trotes passados pelos brasileiros nos gringos como dizer que se tratava de uma
campanha para salvar os pássaros galvao, ameaçados de extinção.
Ainda é cedo para vaticínios futebolísticos. A Copa só começa verdadeiramente na segunda fase, quando homens se distinguem de meninos em partidas em que você mata
ou morre. Até lá, o que se tem é uma espécie de aquecimento com algumas baixas. Se haverá grandes partidas, é uma incógnita. Certo é que o conjunto de esquisitices
já deu à Copa do Mundo da África do Sul o título de campeã de bizarrices.
A água de lá deve ter alguma coisa mesmo, como sugeriu Ferdinand. Ou existe uma explicação lógica para os palavrões murmurados por Dunga para um repórter na entrevista
concedida depois da vitória? Parecia que nada seria capaz de superar o "vocês-vão-ter-me-engolir" de Zagallo, mas Dunga abriu um novo capítulo no livro dos ressentimentos.
Eu não tomaria a água de lá.
Renata Coutinho
"Um livro aberto é um cérebro que fala; fechado, um amigo que espera;
esquecido, uma alma que perdoa; destruído, um coração que chora."
(Rabindranath Tagore)
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