Michael Kepp, jornalista norte-americano radicado há 27 anos no Brasil, é autor do livro de crônicas "Sonhando com Sotaque- confissões e desabafos de um gringo
brasileiro"
(ed. Record).
site: www.michaelkepp.com.br
Tristeza, sim, tem fim
Quando sofrem pancadas que atingem o coração, as pessoas se perguntam por quê, para corrigir os erros e se preparar para acertos.
Mas o vazio que sentem é tão profundo que as paralisa.
Provoca autopiedade, não autoanálise; depressão, não determinação. Ironicamente, um mergulho no desespero é um meio de se recuperar.
Eu, quando estava de coração partido, ouvia baladas de Sinatra sobre a agonia do abandono: confirmavam e ampliavam o que eu já sentia.
Se ele, em "I'm a Fool to Want You"(sou um tolo de te querer), podia implorar a alguém incapaz de amá-lo "Take me back!"(volte pra mim!), por que eu, mero mortal,
não poderia ter a mesma fantasia? Deixava Sinatra me arrastar para o fino da fossa, onde podia exaurir minha dor e me erguer de novo.
Ouvir música de autoajuda como "Amanhã é Outro Dia" me afundaria mais. Precisava me sentir como o personagem sem amor do livro "Tanto Tempo na Pior que o que Pintar
é uma Boa".
Quem se nega a fazer esse mergulho emocional tem medo de sentir. Alguns se protegem da dor do abandono depreciando-a. Comparam quem os deixou a bondes e dizem:
outro
logo vai passar.
Outros fingem que o amor é indolor. Basta pensar em um recém-largado que tenta ser o mais animado da festa.
Brasileiro também usa música de fossa para curar o coração, da desesperadora "Me Dê Motivo", de Tim Maia, à dilacerante "Atrás da Porta", na voz de Elis.
Mas bossa nova melancólica também pode ser trilha de cena de amor ou animar baile. Casais mais velhos dançam agarradinhos ouvindo sucessos como "Tristeza Não Tem
Fim" ou "Eu Sei que Vou te Amar", que evoca a dor de cada despedida.
É o mesmo com a canção de Cole Porter, "Ev'ry Time We Say Goodbye", que sussurro para a minha mulher em momentos românticos.
Essas músicas, ampliando a angústia do adeus, lembram-nos dos améns que dizemos por estarmos juntos.
"Futuros Amantes", de Chico Buarque, também investiga por que as músicas sobre amores que já se foram criam um clima romântico.
Os vestígios do amor que a canção menciona (fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos) vão contagiar quem quer que os descubra.
A mensagem da música? O amor é uma força que se autorregenera. Como a fênix mitológica, pode morrer em um clarão, mas se levanta das cinzas e nasce mais uma vez.
Renata Coutinho
"Um livro aberto é um cérebro que fala; fechado, um amigo que espera;
esquecido, uma alma que perdoa; destruído, um coração que chora."
(Rabindranath Tagore)
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