segunda-feira, 25 de outubro de 2010

{clube-do-e-livro} Jane Porter - A Mulher do Sheik.txt

-O que... o que está fazendo aqui?
-Olá, querida. Eu também me alegro de verte.
O tempo se deteve, e por uns segundos a transladou a outro sítio. Estava enfeitiçada. Igual ao dia em que o conheceu, quando retrocedia com sua pequeno Volkswagen
e se chocou com o Mercedes Benz prateado dele. Seu carro tinha ficado destroçado, mas o dele sozinho tinha algum arranhão.
Bryn voltou a sentir o impacto. ficou sem fôlego.
-Kahlil!
-Lembra-te bem -parecia divertido, mas seus olhos dourados sempre sorriam, até estando furioso. Mostrou-lhe uma folha de papel-. Possivelmente também recorde isto...
Bryn olhou o papel, sem alcançar a ler o que punha. Solo ouvia sua voz, rouca. Falava um inglês formal, tal e como o tinha aprendido no internato inglês.
-O que é?
-Não o reconhece?
-Não.
Kahlil sorriu. Sua voz soava cálida e indulgente, como ao princípio de seu matrimônio, quando ela era sua apreciada noiva americana.
-É nosso certificado de matrimônio. O papelito pelo que a lei nos une.
Ela ficou sem fala. Não cabia dúvida de que ele estava louco. Olhou-o aos olhos.
Não parecia estar louco. Pelo contrario,estaba, acalmado e controlava suas emoções, como se soubesse à perfeição o que estava fazendo, como se tivesse planejado
essa visita surpresa com toda intenção.
Uma semana antes de suas bodas...
A cabeça lhe dava voltas pelo temor. "E se Kahlil descobrir ao Ben? O que acontecerá descobre que temos um filho?", pensou. "Não. Nunca voltarei com ele. Nunca voltarei
para o Zwar".
Bryn se ergueu e o repreendeu com valentia:
-Não entendo o que isso tem que ver conosco.
-Tudo, querida -ele a observava com interesse, e suas pestanas negras pareciam leques sobre seus bronzeados maçãs do rosto-. vim a ver por que te volta a casar se
ainda está casada comigo.
Era ridículo. Ela já não estava casada com ele. Já não tinha dezoito anos nem era uma menina esposa .
-Não estamos casados -lhe respondeu com voz cortante e cheia de desdém-. Nos divorciamos faz três anos -como podia ser que ainda se negasse a aceitar seu divórcio?
Tinham passado mais de três anos-. Não estou de humor para jogos. Possivelmente no Zwar não se permitam os divórcios, mas aqui são perfeitamente legais.
-Sim, querida. Isso o entendo. Talvez te esqueceste que tenho o título de advogado, outorgado pelo Harvard, uma universidade americana. Apesar de ser árabe, entendo
a legalidade de um divórcio, mas nós dois nunca nos divorciamos.
Seu tom era sutil mas ameaçador. Ela estava indignada.
-Se isto for uma brincadeira...
-Acaso brinquei alguma vez? -ela pensou com amargura, que não, que era um homem sem nada de senso de humor-. Tento evitar que passe um mau momento -seguia com esse
tom acalmado e te exasperem-. Pensei esperar a que chegasse à igreja, cheia de convidados. Podia imaginar a seu noivo, com seu fraque, te esperando junto ao altar.
ficará um fraque, verdade?
Ela não podia resistir mais o sarcasmo do Kahlil. Tinha-o visto humilhar a outros, mas com ela sempre tinha sido protetor, generoso e carinhoso.
O coração lhe doeu ao recordá-lo. Seu matrimônio tinha sido breve, muito breve, mas não podia retornar. Não podia desfazer o passado.
-Acredito que é hora de que vá. Ele sujeitou a porta para que ela não a fechasse nos narizes.
-tentei ser educado, mas talvez seja melhor que seja brusco. Não haverá bodas na próximo sábado. E enquanto eu viva, não haverá bodas com ninguém, nunca!
Ela não podia acreditá-lo. Estava furiosa. Possivelmente em seu país os homens podiam fazer que suas mulheres levassem véu, lhes dizer como tinham que vestir-se,
onde podiam ir, como tinham que pensar, mas nos Estados Unidos não era assim.
-Não sou de sua propriedade.
-No Zwar sim.
- As pessoas não são objetos, Kahlil!
Ele empurrou a porta e elevou ao Bryn agarrando-a por debaixo dos braços, com os polegares justo debaixo dos seios. Ela se estremeceu. Seus sentidos respondiam a
ele como sempre tinham respondido. Quando ele a tocava, desfazia-se como um pudim.
Kahlil a fez inclinar-se para trás.
-Como pôde pensar que ia permitir que te casasse com outro homem? Como pôde acreditar que ia renunciar a ti?
-Pelo divórcio -não podia falar, assustada, não por ele mas sim por pensar que seguia casada com ele. Seu matrimônio tinha terminado.
-Que divórcio? -espetou ele.
-O divórcio... nosso divórcio.
-Não houve divórcio. Nunca devolveu os últimos papéis, e com os documentos sem assinar, o divórcio não seguiu adiante.
Com a boca seca e o coração a cem, ela sentia como o sangue lhe subia à cabeça.
-Que documentos? -balbuciou.
-Impugnei o divórcio. Não queria aceitar que me tivesse deixado. Disse-lhe ao juiz que era uma ausência temporária. Mandou-te uns papéis e você nunca os devolveu.
portanto não se concedeu o divórcio.
-Comprou ao juiz. Deu-lhe dinheiro...
-Não te excite. Seu sistema legal não está tão corrompido. Se quer culpar a alguém, te culpe a ti mesma.
Bryn se tinha ficado sem fala. Seria certo que se esqueceu dos papéis? Tentou recordar o primeiro ano, esses meses horríveis que passou lutando sozinha por manter
ao bebê. mudou-se de casa meia dúzia de vezes, tinha tido vários trabalhos além de seu trabalho fixo, solo para pagar suas dívidas. Tirou forças de fraqueza:
-Não sabia que no Texas se podia impugnar um divórcio.
-No Texas, tudo é possível.
Bryn imaginou que Kahlil tomava ao Ben em braços, o levava em seu avião privado, e ela não o voltaria a ver. Era uma visão tão vivida que lhe doía como se lhe tivesse
parecido a adaga que levava sob sua túnica.
-por que o faz?
-Casou-te comigo. Entendeu as promessas. Eu as cumpro e você as vais cumprir.
-Nunca voltarei a viver contigo, Kahlil.
-Mas você é minha esposa, e seguirá sendo-o.
Uma vida com ele era como uma vida encadeada. E Ben... Fechou os olhos. Não podia resistir pensá-lo. E Ben, apanhado com ela.
Elevou a vista e olhou a seu marido. Antes o encontrava muito bonito. Nesse momento lhe dava medo.
-O que é o que quer?
-A ti.
Sentiu como se o estômago caísse aos pés. "Nunca, nunca...", pensou
-Isso não vai acontecer. Ele sorriu com dureza.
-Sim vai acontecer. Arrumado minha vida -se foi para a porta, abriu-a e saiu ao alpendre-. Amanhã te enviarei meu carro, jantaremos e discutiremos o futuro.
-Não há futuro -se equilibrou para ele com os punhos fechados.
-Sim que o há. O que te parece com as sete?
A essa hora Ben já estaria em casa. Era a hora de seu banho, de lhe contar contos e deitá-lo. Não podia sair. Tampouco podia deixar que Kahlil voltasse.
-Não pode voltar para minha vida à força. Se o que diz é certo... -ficava sem voz. depois de um tenso silêncio, conseguiu continuar-. Necessito tempo. Preciso fazer
chamadas, e além disso, está Stan...
-Ah sim, o bom do Stanley Hopper. Seu chefe, seu prometido, seu agente de seguros.
-Vete!
Ele se encolheu de ombros.
-Estou no Four Seasons. Não me partirei da cidade até que esclareçamos coisas -se agachou e lhe deu um beijo nos lábios-. Como certo, com esse vestido está preciosa.
Ela se tinha esquecido de que levava o vestido de noiva. Alisou um pouco a saia. O estava provando se por acaso necessitava algum acerto.
-Queria ver se ficava bem.
-Fica bem -sorriu-. Muito bem.
Uma hora depois de que Kahlil se fora, ainda estava tremendo. Não podia relaxar-se.
Kahlil estava equivocado. Ela já não estava casada com ele. Não era sua esposa. Não podia sê-lo.
Enquanto ia recolher ao Ben ao maternal, Bryn não deixava de pensar que se de verdade era ainda a mulher do Kahlil, ele teria direito legal de ver o Ben, de levar-lhe
A única forma que tinha de proteger ao Ben era mantê-lo em segredo. Mas não sabia como fazê-lo.
Bryh se tomou livre o dia seguinte e o passou fazendo chamadas o tribunal, a advogados, a todos os que pudessem ajudá-la a esclarecer a realidade de seu divórcio.
Mas tudo foi em vão. Cada funcionário lhe dizia o mesmo, que em efeito, faltavam alguns documentos e que o caso se fechou fazia mais de um ano.
Então, Kahlil tinha razão. Seu matrimônio ainda existia sob as leis do Texas.
Demorou dois dias mais em aceitar a terrível verdade. Dois dias com o estômago revolto, sem dormir, e recriminando-se por não ser mais ordenada e por não haver-se
certificado de que o divórcio tinha sido concedido. Tudo era culpa dela.
Ao fim, com grande dor de coração, chamou o Stan e lhe contou o que acontecia. Ele foi a sua casa e estiveram falando durante muito tempo, mas ao final os fatos
eram os fatos e não puderam fazer nada mais que pospor as bodas. Stan se comportou como um cavalheiro, sem lhe reprovar nada e lhe oferecendo todo seu apoio.
Quando partiu, Bryn só tinha uma chamada por fazer.
Telefonou ao hotel Four Seasons e a passaram com a suíte do Kahlil. Ele não mostrou surpresa para ouvir sua voz. O tom do Bryn era acalmado e formal. Propô-lhe que
jantassem juntos o dia seguinte em um restaurante. Kahlil ofereceu lhe enviar seu carro mas ela o recusou. Disse-lhe que iria no seu, e que seria a última vez que
se vissem.
Entretanto a noite não começou como Bryn tinha planejado. O carro não lhe arrancou, e teve que pedir um táxi e chamar o restaurante para avisar que chegaria tarde.
antes de que chegasse o táxi, uma limusine negra se deteve diante de sua casa. Era Kahlil. Soube sem necessidade de vê-lo nem ouvi-lo. Sentia-o, sentia sua força,
sua ira, sua obstinação.
Da janela do salão, viu-o sair da limusine, abrir a porta e esperar. Não disse nada. Estava claro: acreditava que lhe pertencia, que era seu e só dela e, certamente,
não pensava deixá-la em paz.
A limusine sulcou as ruas até chegar ao restaurante, mais tranqüilo e mais seleto, ao que Kahlil tinha trocado a reserva. Durante o trajeto, disse algo sobre resolver
assuntos que não estavam terminados, mas Bryn pensou que tudo estava terminado. Morto.
A limusine se deteve frente a uma fachada que parecia a de um armazém. Entretanto, dentro tudo era muito luxuoso.
-Tem apetite? -perguntou Kahlil lhe pondo a mão sobre o quadril.
Bryn sentiu que se estremecia e se separou de um salto. Não entendia por que, se já não sentia nada por ele, ainda seu corpo reagia dessa maneira ao contato com
o Kahlil.
-Não.
O maítre os saudou e os acompanhou a uma salita com cortinas de veludo vermelho. Bryn esperava que não as fechasse. Kahlil pediu aperitivos.
-Sorri -lhe disse recostando-se sobre o respaldo-. Parece que lhe estejam torturando.
-Estão-me torturando. Isto é uma tortura.
- Aonde chegamos! -burlou-se ele-. Houve um tempo em que morria por mim.
"Quase morro vivendo contigo", pensou Bryn, mas não o disse. Ele não sabia nada de sua última noite na Tiva, nem da amizade com sua primo, uma amizade que foi um
terrível e quase trágico engano.
-Não pode me roubar a vida, Kahlil. passaram três anos e meio desde que estávamos juntos. Eu troquei...
-Sim, tornaste-te rebelde.
-Só me tornei mais amadurecida e já não aceito que me dê ordens.
-Nunca tive que te ordenar nada. Fazia-o tudo por mim -sua voz se suavizou ao dizer a palavra "todo" -, com muito prazer.
Ao Bryn lhe fez um nó no estômago. Não queria pensar no passado, nem na relação que tiveram.
-Kahlil, quero o divórcio e vou solicitar o de novo amanhã pela manhã. Stan conhece um advogado excelente e cedo ou tarde vou casar me.
-Espero que seu Stan seja um homem com muita paciência, porque vai ter que esperar muito tempo. vou atar te com todas as leis que haja. Você sabe que o farei.
Ela o olhou como se fora o muito mesmo diabo.
-por que? O que te tenho feito? Seus olhos dourados a fulminaram.
-Rompeu sua palavra.
Assim era isso. Era uma vingança. Era para fazê-la sofrer. Sentiu temor ante o perigo que isso supunha para o Ben.
Chegaram os aperitivos, mas ela estava tão desgostada que não os provou. fixou-se em que Kahlil tampouco comia.
-Não tinha tanta fome?
-Tenho-a, mas estou esperando a que me sirva. Como se fora uma das mulheres de seu harém! Isso era incrível.
- Não está impedido, xeque ao-Assad!
-por que ia servir me eu, se estiver você aqui para me servir? -ela ficou olhando-o atônita. Molesta por sua beleza, pela negrume de seu cabelo, sua frente, a elegante
curva de seus maçãs do rosto. Tinha lutado tanto para escapar dele que lhe tinha esmigalhado o coração. Tinha demorado anos em superá-lo e por fim, quando estava
preparada para casar-se de novo, ele havia tornado. Um homem traiçoeiro, que a podia desarmar com solo um olhar de seus preciosos olhos. Tinha-o amado muito e tinha
necessitado mais dele do que ele estava disposto a dar. Raivosa, ficou em pé, mas ele a agarrou pela boneca e a obrigou a sentar-se-. Não pode ir -lhe disse com
voz imperiosa-. Não me pediste permissão para deixar a mesa.
- Nunca te pedi permissão para nada e não vou começar agora! -estava a ponto de chorar.
Quem se acreditava que era?-. Como pude imaginar alguma vez que estava apaixonada por ti? Que estúpida fui!
-Não lhe imaginou. Estava-o.
-Estive-o, mas agora solo sinto ódio.
-Ódio, amor, o que importa? Estou mais interessado em fazer que cumpra suas promessas -seu k era imenso-. Entendo que foi muito jovem quando nos casamos, mas te
dei tempo para que mature. Três anos e meio. Agora vim para te levar a casa.
- Zwar não é minha casa!
-Pura semântica -disse com brutalidade-. Estou cansado de discutir. O fato é que seu sítio está na Tiva, em palácio, me dando filhos.
-Isso é algo que não vai acontecer jamais.
-Crie que seria mais feliz casada com seu patético agente de seguros? Tenho-o feito investigar e é um homem sem faísca, sem impulso...
-E o quero.
-Não me importa. Não pode o ter -ela ficou tão furiosa que levantou a mão para lhe cruzar a cara, mas ele a agarrou pela boneca antes de que lhe desse-. Está louca?
Os fortes dedos dele atendiam sua boneca e lhe doía.
-Deixa ao Stan em paz. Não se merece isto.
-Mas você sim. Insultaste-me e também a minha família. Tinha uma responsabilidade. Foi a princesa ao-Assad e abandonou a minha gente.
-me solte, por favor.
-Espero que te desculpe.
-Está-me fazendo mal.
Fulminando-a com o olhar, Kahlil a soltou. Logo fechou as cortinas.
Bryn pensou que a estava arrastando outra vez a seu mundo, que a obrigava a submeter-se. Não podia permiti-lo. Não era sozinho uma esposa. Era também uma mãe, a
mãe do Ben.
Lhe saltavam as lágrimas. Apertou os lábios tentando controlar-se.
-Não chore -lhe disse ele com tom brusco-. Minha mulher não deve chorar em público.
-correste as cortinas e ninguém me pode ver.
-Eu posso verte -seu tom era tão duro... Cada uma de suas palavras soava brusca. Ela não queria discutir porque sabia que ele argumentava muito melhor que ela. Kahlil
pensou que Bryn calava porque se dava por vencida-. Se não querer discutir, não me provoque. Não vim que tão longe para que uma mulher se burle de mim -ela se perguntava
se sempre tinha sido tão arrogante e condescendente.
Possivelmente antes seu machismo lhe parecia atrativo, mas nesse momento, dava-lhe medo. Não só por ela, mas sim pelo Ben e pelo futuro do Ben. Pensou que se Kahlil
se inteirava de que tinha um filho, insistiria em que se educasse no Zwar, seu pequeno reino petroleiro no Oriente Médio. Zwar era um lugar formoso, mas longe da
liberdade que ela e Ben desfrutavam no Texas.
De repente, Kahlil se inclinou para ela e lhe agarrou o queixo, atraindo-a para ele. Ela se estremeceu ao sentir seu contato, mas se fez a forte. Não queria que
ele se desse conta de quanto a afetava. Mas quando lhe acariciou um lábio com o polegar, Bryn tremeu e Kahlil se deu conta.
-Tornaste-te muito sensível -lhe disse com sarcasmo-. O que passa, que Stan não te toca alguma vez?
-Minha relação com o Stan não é teu assunto.
-Uma resposta muito atrevida para uma mulher em situação tão precária.
Ela se armou de valor e forçou um sorriso.
-troquei, Kahlil. Já não sou a jovem com quem te casou.
-Bem. Então os dois teremos que nos adaptar. Eu tampouco sou o homem com quem te casou -lhe sorriu sem deixar de olhá-la-. E você trocaste. Tornaste-te muito mais
bonita.
-Não me adule.
-Não estou te adulando. conheci a muitas mulheres, mas nunca conheci a nenhuma como você. Nenhuma com sua doçura, sua suavidade...
- Para!
-Sua pele pálida e sem defeitos. Seus olhos, do mesmo azul escuro das safiras. Sua boca, mais suave que uma rosa.
A pele lhe arrepiava. Uma voz interior lhe dizia: "Não o escute. Não deixe que te seduza. sobreviveste uma vez e pode obtê-lo de novo".
-Só me deseja porque não pode me ter. Ele a soltou. Seguiu sonriendo, mas seus olhos eram mais duros que o aço.
-Posso ter-te. Solo que não quis me pôr agressivo -era certo. Nunca tinha sido agressivo com ela, mas Bryn lia em seus olhos e na curva de sua boca, que podia ser
implacável. O deixou de sorrir-. Stan Sabe que você é uma esposa pouco constante?
- Sabe que te deixei.
-Disse-lhe que me abandonou sem me deixar nenhuma nota, nem me dar um beijo de despedida? Sabe que tomou seu passaporte, sua bolsa e foi sem mais?
-Sabe que tomei meu passaporte e saí correndo - ela ficou olhando-o aos olhos.
Se queria jogar duro, ela também podia. Era o que tinha estado fazendo desde que partiu do Zwar. Juntar centavos para comprar os cereais do café da manhã, comprá-la
roupa de segunda mão, trabalhar em dois turnos na agência de seguros. Assim era como tinha conseguido tirar adiante a seu filho ela sozinha.
-Não te perguntou Stan por que me deixou?
-Ele sabia que não era feliz e isso foi suficiente para ele.
Kahlil elevou sua taça de vinho.
- Que homem tão pormenorizado! Crie que o compreenderá igual de bem quando o atirar ao lixo, cansada também desse matrimônio?
Seu sarcasmo era tão cortante como uma folha de barbear. Teria saído correndo, mas sabia que não o obteria. Esta vez não poderia escapar.
-Nunca atirei ao lixo.
-Não? Pois assim me senti. E assim pareceu a todo mundo. O palácio se encheu de chimorreos. O escândalo afetou a todo o reino. Não só me humilhou . Humilhou a toda
minha gente.
-Que escândalo?
-Se rumoreaba que me tinha sido... infiel.
Capítulo 2
NUNCA! - Bryn se ruborizou, envergonhada e surpreendida.
Como podia Kahlil pensar tal coisa? Como podia pensar o pior? Era muito mais doloroso do que acreditava. Ao princípio tinha desejado que ele fora em sua busca.
Esperava que tivesse descoberto a traição do Amin. Mas Kahlil acreditou que era ela quem o tinha traído, que lhe tinha falhado, que lhe tinha sido infiel. Nem sequer
tinha pensado em outra possibilidade. Por outra parte, ele também tinha falhado duas vezes. As lágrimas que não derramava, queimavam-lhe a garganta. Ao abandoná-lo,
quase se tinha destruído a si mesmo. Tinha sido o mais duro que tinha feito em toda sua vida. O pior de tudo foi quando, já no Texas, descobriu que estava grávida.
Era um bebê que Kahlil tinha desejado. Era um bebê que nunca chegaria a conhecer. havia-se sentido muito culpado. Menos mal que ao ser tão pobre, não tinha mais
remedeio que levantar-se cada manhã e trabalhar e trabalhar até cair rendida. Kahlil podia burlar-se do Stan e de sua agência de seguros, mas seu trabalho como secretária
era o que a tinha salvado.
-por que não nos divorciamos e acabamos com isto? -disse cortante.
-Não posso fazê-lo.
-por que não? -levantou os olhos para o Kahlil, precavendo-se de que a firmeza de sua boca, e seu olhar, cálida e dourada, eram iguais às de seu filho. Ben era um
Kahlil em miniatura.
Então entendeu a horrível verdade. Ela e Kahlil não podiam ser estranhos. Tinham em comum a um precioso filho: Ben.
-Muito fácil -replicou-. O divórcio pode que seja o mais fácil, mas eu nunca tomei o caminho mais fácil -ela sabia que Kahlil se referia a seu matrimônio.
Ele a tinha avisado que suas bodas causaria muito revôo, que sua família não a passaria, e ela se limitou a beijá-lo na boca. Tão segura estava de que ganharia à
família, e que se não, o amor e o respeito do Kahlil seriam suficientes. Mas se tinha equivocado. Voltou a sentir que seu coração se acelerava. Tinha-o amado tanto
que solo queria estar com ele. Tinha-o necessitado tanto... Mas ele se apartou dela e seu calor tinha desaparecido detrás de uma máscara impessoal. O dever, o país,
os negócios. Seus mundos já não se conectavam. Suas vidas se separaram.
-Quanto desejas o divórcio? -pergunta-a a fez tremer.
Estava jogando com ela com a mesma crueldade que um gato joga com um camundongo. Não lhe pensava responder. Que falasse ele primeiro. Mas dando-se conta da magnitude
de seu problema decidiu responder. O futuro do Ben e seu próprio futuro estavam em jogo. Não devia provocar ao Kahlil. Devia lhe seguir a corrente. Além disso, a
senhora Taylor que estava cuidando do Ben retornaria com ele às onze, e para então tinha que haver-se liberado do Kahlil e estar em casa.
-O suficiente para arriscá-lo tudo?
-O que quer dizer por "tudo"?
-Que seja minha durante o fim de semana -atônita, ela se levou o copo de água aos lábios. Ele se inclinou por volta dela-. Quero te ter durante um fim de semana.
-Essa é sua proposta?
-Estou-te dando a oportunidade de retomar o controle de sua vida.
-Se passado um fim de semana contigo, concederá-me o divórcio?
-Se cumprir com minhas condições -o fazia soar tão fácil que Bryn não podia pensar.
-Quais são as condições?
-Quero um fim de semana comprido contigo. Quatro dias. Três noites. Eu escolho a cidade.
-Quer que seja sua mulher?
-Quero que seja meu amante -ela elevou os olhos. Embora Kahlil sorria, seu olhar era frio-. Quero te possuir, desfrutar de ti a prazer, e fazer que seja minha, completamente
minha outra vez.
Algo dentro dela se comoveu. Desejo, amor? Kahlil sabia como ela reagia ante ele. Sabia que podia seduzi-la.
-Crie que não tenho forças para te abandonar pela segunda vez.
-Hei dito isso?
-Não precisa. Conheço-te.
-Se me agradar, tramitarei os documentos do divórcio no Zwar. Se não conseguir me agradar a inteira satisfação, voltará para o Zwar comigo e tomará lições das concubinas
de palácio.
-Em qualquer caso, você ganha.
-Só tem que sacrificar quatro dias de sua vida. Estou seguro de que o amor do Stan vale ao menos esse sacrifício.
O amor do Stan valia muito mais, mas o preço do Kahlil...
Quatro dias em sua cama. Quatro dias fazendo o amor. Bryn se imaginou os dois corpos misturados, a pele úmida... Sentiu que lhe acendiam as bochechas.
-É uma proposta muito humilhante.
-Mas te dá alguma possibilidade, alguma esperança de futuro.
Esperança de futuro. O futuro do Ben.
Bryn respirou fundo e por um momento, considerou a oferta. Sozinha, nua, débil. Levaria-a una,vez mais a um estado de desejo e de paixão insuportáveis, e o voltaria
a necessitar, voltaria-o a amar, como antes. Muito. Era muito arriscado. Para ela e para o Ben.
Quando estavam juntos ocorria algo maravilhoso. Ela se sentia mais viva, mais sensual, mais consciente. Mas o preço era muito. Kahlil a fazia sentir emoções e desejos
que não podia controlar. Tinha-lhe feito muito dano. Não era normal. As emoções não deviam ser tão profundas.
-Não posso -balbuciou, doída-. Não há maneira.
Ele sorriu com um gesto equívoco.
-Não tem que me responder ainda. Pode pensá-lo um pouco mais. Tome uma hora ou dois. depois de tudo, é seu futuro.
Terminaram de jantar e Kahlil soltou um punhado de bilhetes sobre a mesa, várias centenas de dólares. Ao Bryn parecia uma fortuna.
Enquanto se dirigiam à limusine, Bryn esteve a ponto de chorar. Kahlil não tinha nem idéia do que significava lutar e preocupar-se com cada compra do mercado, por
cada fatura. Pagar e pagar. Stan se tinha devotado a ajudá-la muitas vezes, mas ela não tinha aceito. Outras tantas, tinha-lhe proposto matrimônio até que por fim,
pensando no futuro do Ben, tinha resumido e tinha aceito.
sentaram-se no assento de atrás da limusine e Kahlil lhe deu a direção do Bryn ao condutor. Era um perigo que Kahlil se aproximasse de sua casa. Poderia ver os brinquedos
do Ben ou outros detalhes que a delatassem.
-por que não vamos dar uma volta em carro?
-Uma volta? -respondeu ele incrédulo.
-Sim, ou um passeio. Faz uma noite muito boa e não há nada de umidade. É a primeira vez há semanas...
Kahlil ficou olhando-a:
-De quem nos estamos escondendo?
O fato de que ele pudesse ler seus pensamentos com tanta facilidade fez que Bryn tivesse mais medo. Tinha que livrar-se dele quanto antes e suspeitava que não ia
ser fácil. Kahlil era muito preparado, e estava muito furioso. Recordou quando Ben tinha saído da casa com a senhora Taylor. Tinha-lhe mandado um beijo enorme com
a mão. Naquele momento tinha pensado em todo o pior. E se tinham um acidente? E se não o voltasse a ver? voltava-se louca de preocupação. Não podia lhe falhar ao
Ben. Lutaria para protegê-lo. Disso estava segura.
ficou olhando ao Kahlil com um sorriso.
-É um delito querer dar um passeio?
-Antes você não gostava de caminhar.
-Claro que não. Tinha dezoito anos e preferia as motos e os carros de carreiras e algo que fizesse que meu coração desse saltos -"como você", pensou. "Você fazia
que meu coração desse saltos mil vezes ao dia".
Kahlil lhe disse à chofer que os levasse a um conhecido parque. A noite estava tranqüila e as ruas quase deserta. Começaram a dar voltas pelo parque.
Ele não falava. Ela tampouco e lhe dava voltas e voltas à proposta do Kahlil tratando de encontrar uma alternativa que cumprisse com sua sede de vingança sem pôr
em perigo ao Ben. Não lhe ocorria nada. Descartou pleitear, e também fugir com o Ben. Sabia que essa vez não tinha escapatória e estava segura de que Kahlil a encontraria
e sua fúria não teria limites.
depois de passear um momento, Kahlil a olhou de esguelha.
-Não tem alternativa -lhe disse com suavidade-. Não vais escapar te sem que alcancemos um acordo.
Bryn sentiu que todos seus nervos ficavam de ponta. Como podia adivinhar seus pensamentos?
-Acordo. Proposta. Está tratando de me humilhar.
-É uma garota muito lista -deixou de andar e se plantou diante dela, lhe dizendo em tom zombador:
-Você me humilhou ante minha família e ante minha gente. Tem sorte de que te humilhe de uma forma muito mais... privada.
-O que te faz pensar que vou aceitar seu plano?
-Antes foi muito atrevida. Tinha ânsia de aventuras, de viajar, do desconhecido. O que acontece, já Rio te atrai o desconhecido?
"Não. Não desde que fui mãe", pensou Bryn. Após solo pensava na segurança e no futuro do Ben. perguntava-se como seus pais tinham podido levá-la por todo Oriente
Médio, vivendo em lojas ou em um reboque e dormindo ao bordo das estradas. Viviam de maneira muito precária e lhes havia flanco muito caro.
-Agora prefiro as coisas simples -respondeu quase sem voz-. Prefiro relações que não sejam complicadas.
-Como Stan?
-Não o meta nisto -lhe respondeu irada.
-Como vou evitar o? Ele é o inimigo.
-Stan não é o inimigo. O inimigo "é você". Ele riu .
-Quatro dias. Quatro dias e será livre. Poderá te casar com o Stan, ter filhos, e seguir com sua vida.
Era típico do Kahlil. Era um manipulador. Um demônio.
E esse demônio a conhecia. Sabia como ela o tinha procurado uma e outra vez, desfeita pelo prazer de seus corpos, tão inexperiente que não podia saciar-se.
A relação que tinha com o Stan não era assim. A culpa era dela. Apesar da gratidão que sentia, não desfrutava quando ele a tocava. Tratava de convencer-se de que
seus sentimentos trocariam quando estivessem casados, mas não estava segura.
Olhou ao Kahlil desafiante. A lua iluminava seu perfil. Pensou se seria certo que se ia com ele e fazia tudo o que lhe pedisse, deixaria-a livre. perguntava-se se
podia confiar-se nele.
-Não pode escolher a cidade -lhe disse sem fôlego, sentindo-se apanhada. Não poderia respirar até ver-se livre, pensou-. Quatro dias, três noites e eu escolho o
lugar, a cidade e o hotel.
-A cidade e o hotel? Parece que me tem medo.
Não ia morder o anzol, ocupada como estava em lhe buscar os peros à proposta. Passar um par de noites com ele em Nova Iorque, não podia ser tão mau. Faria o que
lhe pedisse e poderia obter o divórcio.
-Nova Iorque -lhe disse-. No hotel Rit Carlton.
-Paris e o Rit Carlton.
-Não me partirei dos Estados Unidos,
-Não confia em mim?
-Não -elevou a cara em um gesto de desafio-. Está atuando como juiz, jurado e verdugo. Não me parece justo.
Ele riu .
-Vejo que vais ter que trabalhar muito duro para me agradar -quando Bryn se dirigiu à limusine estava a ponto de explorar.
dava-se conta de que estava perdendo o tempo dele, o do Ben e o dela. Com sua roupa cara, Kahlil parecia um homem moderno, mas sua maneira de pensar era a de um
suserano. A limusine se deteve frente à casa do Bryn. Kahlil a agarrou brandamente pelo cotovelo.
-Pode que seja arriscado para ti o ir comigo, mas talvez seja a coisa mais inteligente que tenha feito jamais. Tudo na vida entranha um risco. Inclusive sua liberdade
-ela não respondeu. Não podia. Lhe acariciou o braço nu e ao sentir seu contato, Bryn se estremeceu-. O fim de semana também terá seu prêmio -continuou-. Está te
consumindo por mim. Está te abrasando.
Bryn se sentia febril, seu corpo se derretia e reagia ao contato dele com nova vida. Sempre a tinha feito sentir-se assim, louca de desejo. Ele era como uma droga,
que a possuía e a transformava. Em sua cama, entre seus braços, ela era capaz de tudo por ele. De deixar seu lar, trocar de nome, e adorá-lo, rendida a seus pés.
Quando estava com ele perdia por completo o controle.
Respirou fundo, enjoada e indecisa entre desejos opostos. Sair correndo, ficar, gritar, beijar...
Pensava que se se ia com ele, desfrutaria de sua própria humilhação.
Notou a coxa dele aproximado ao dele e sentiu seu calor. Lhe prometia um prazer intenso como ela não havia sentido nunca mais que com ele. ruborizou-se e fechou
os olhos. Estava de novo em seu poder.
"Basta! Acordada. Não pode fazê-lo. Pensa no Ben. Pensa nos perigos de palácio. Ali está Amin", pensou.
Abriu os olhos e voltou para a realidade.
-Não posso fazê-lo, Kahlil. Não o farei. Temos que resolver de uma vez.
-Resolver de uma vez -se burlou ele-. Difícil, querida. Se não aceitar, seguirá sendo minha esposa.
-Não é justo.
-A vida não é justa.
Ela apartou a cara para não deixar que visse as emoções que sentia. Estava zangada, excitada, rasgada. Se não se ia com ele, Kahlil descobriria ao Ben, mas se se
ia, era como deitar-se na cratera de um vulcão.
Era o futuro do Ben ou o seu.
Ben ganhou.
-Nenhum homem obrigaria a uma mulher a render-lhe disse com amargura, incapaz de dissimular seu k e seu desespero. O não tinha intenção de liberar a das promessas
matrimoniais. Tinha-lhe dado tempo, mas não a tinha perdoado. Sem um divórcio, podia perder ao Ben-. Como te odeio!
-Não me importa. Quero o que é meu. E você, esposa minha, é minha - Bryn intuiu que ia beijar a. Em seus braços estaria perdida. Tratou de escapulir-se, mas ele
foi mais rápido e a aprisionou contra o respaldo do assento-. Não pode escapar -murmurou, lhe pondo uma mão na garganta-. De todos os modos, não acredito que de
verdade queira escapar -dito isso, beijou-a na boca.
Seu tibieza a pilhou despreparada. Cheirava a especiarias, como sempre tinha cheirado. Era um aroma que a embriagava e a transportava à primeira vez que se beijaram.
Lua enche e hortas de laranjeiras, praias cor marfim, o calor da noite...
Kahlil.
Fechou os olhos e entreabriu os lábios desejosa de sua doçura e de sua força. Tinha-o amado muito e ele a tinha cheio, apropriando-se de seu coração e de sua alma.
Kahlil.
Ele percorreu sua boca com a língua, despertando sensações por todo o corpo, na boca, entre as coxas...
sentia-se indefesa, mas enfeitiçada. Durante noites tinha chorado por ele, o tendo saudades, tendo saudades sua pele, seu aroma, sua paixão.
Seu corpo se foi abrandando, respondendo, desoyendo o protesto de sua razão e recusando recordar nada exceto o prazer de estar entre seus braços.
A mão dele se deslizou para seus seios, fazendo-a arder sob a pele. estremeceu-se e se apertou junto a ele.
-me diga -o tom de voz do Kahlil era áspero e irônico-, é assim como responde quando Stan te acaricia? -ela notou que se gelava. esticou-se indignada e tratou de
apartá-lo. Kahlil riu -. Ai, querida, não deixe de me fazer o amor. Estou muito excitado.
Bryn sentiu repugnância, remorsos e sobre tudo, sentiu-se ferida. Recordou quem era Kahlil. Um selvagem. Um selvagem de uma terra selvagem. Sua dor se converteu
em ódio e levantou o braço lhe dando uma sonora bofetada.
Tinha-lhe dado na bochecha mas ele não se moveu. O que tinha feito?, perguntou-se Bryn. Como tinha ousado lhe pegar a ele?
-Sinto-o -lhe disse.
Ele não respondeu e ela ficou geada no assento.
-Já me levantaste a mão duas vezes, e uma delas acertaste -lhe disse sem alterar-se-. Não é um bom costume -ela pensou que deveria desculpar-se outra vez, mas não
lhe saíam as palavras. Suas emoções estavam encontradas. Por um lado o desejava e pelo outro, odiava-o. Desejava que a acariciasse, mas queria feri-lo. Era uma loucura.
Estar perto dele era uma loucura. Pensou que nunca poderia escapar dele-. É um costume que terá que atalhar. Entende-o, princesa ao-Assad?
-Não me chame princesa. Não sou uma princesa.
-Sim que o é, e enquanto seja minha esposa tem direito a meu nome, minha fortuna e meu amparo.
-Não...
-Não tem escapatória. te casar comigo trocou sua vida -seu olhar se cravou na sua e enquanto saía do carro, tirou-a da mão para ajudá-la a sair-, para sempre.
Capítulo 3
O telefone estava soando dentro da casa e Bryn o ouviu da rua. Tentou colocar a chave na fechadura, mas lhe tremiam as mãos e não o conseguia.
-Necessita ajuda? -perguntou Kahlil em tom zombador.
-Não.
O telefone seguiu soando e se preocupou com a insistência. Pensou que podia ser a senhora Taylor e que talvez lhe tinha passado algo ao Ben. Por fim conseguiu abrir,
mas o telefone deixou de sonar.
Kahlil a ouviu suspirar e lhe disse:
-Se for algo importante, carinho, ele voltará a chamar -Kahlil começou a perambular pela casa e entrou na cozinha. Bryn estava furiosa de que entrasse sem permissão,
e o seguiu. Tensa, observou como ele ficava olhando a pintura descascada dos armários e o estou acostumado a gasto. Não lhe tinha escapado nenhum defeito-. Se necessitava
dinheiro, deveria haver me pedido -disse isso por fim, voltando-se para olhá-la. Tinha os braços cruzados e a malha de sua jaqueta acentuava seus fortes bíceps.
Kahlil era grande, duro, todo músculo, imponente.
Ela respirou fundo. Doíam-lhe a cabeça e o coração. Não ia deixar que sua riqueza fizesse trocar seus sentimentos. Essa casa era o cenário de tudas as boas lembranças
de sua vida com o Ben. O primeiro sorriso, o primeiro dente, os primeiros passos e a primeira palavra. Talco e canções de ninar.
-Não necessito seu dinheiro -balbuciou-. Eu gosto de minha casa, é acolhedora.
-Mas bem pitoresca. Está decrépita.
Ela apertou os lábios para reprimir as lágrimas. Claro que ele desprezava seus móveis de segunda mão.
No mundo do xeque ao-Assad, tudo era o melhor. Os carros mais luxuosos, os móveis mais elegantes, as jóias mais preciosas. Ela não podia permitir-se luxos. Apenas
se podia pagar o aluguel cada mês. Mas Ben estava são e era feliz e não trocaria sua segurança por todo o luxo do mundo.
-Eu não te convidei a entrar. Se não estar a gosto, parte. Já sabe onde está a porta.
-Sim? E me privar de ti? Ah, não. Fico - estava depravado, sonriendo-. Mas para ser do sul, sua hospitalidade deixa muito que desejar. Apropriado-o seria lhe oferecer
a seu convidado algum refresco.
Tinha uma hora justa para desfazer-se dele antes de que voltasse a senhora Taylor com o Ben.
-É tarde, Kahlil.
-Sim, uma taça de café estaria muito bem. Muito obrigado - Bryn sentia espetadas na cabeça.
Do que servia discutir com ele, se se fazia o surdo quando não queria ouvir e o cego quando não queria ver. Isso é o que os tinha separado na Tiva. Kahlil imerso
nos assuntos de palácio, Bryn perdida e sozinha. Tinha tentado falar com ele, mas não a tinha escutado. Quão mesmo estava fazendo nesse momento. Pôs a cafeteira
no fogo.
-Por muito acolhedora que te pareça sua casa, acredito que poderíamos melhorar sua situação. Necessita um lugar mais apropriado a sua categoria. Contratarei uma
donzela e um chofer. E um guarda-costas.
Ela nem sequer se voltou.
-Não necessito guarda-costas, nem chofer. Pode que seja pobre, mas sou uma excelente dona-de-casa. Ño poderá encontrar nenhuma bolinha de pó.
-Só queria te fazer a vida um pouco mais fácil.
-O divórcio me faria isso muito mais fácil. Uma donzela só me estorvaria.
-Não pense no dinheiro...
-Não penso -lhe interrompeu cortante. Estava preocupada com o Ben, vendo o perigo ao que o estava expondo-. Não pode me fazer isto. Não pode controlar minha vida.
-Preocupo-me com sua segurança.
O telefone voltou a soar. Bryn ficou tensa. Não queria responder, mas não podia deixá-lo soar. Kahlil adivinhou sua indecisão.
-Deixa-o soar -ordenou cortante-. Não é assunto nosso -de onde estava, Bryn podia cheirar a colônia do Kahlil. Uma fragrância feita de cítricos, cardamomo, canela
e outras especiarias. Fez que imagina ra nu sobre os lençóis de seda de sua opulenta cama. Tinha a figura de um deus. Fazia o amor como um deus. Ela o tinha adorado.
Mas a tinha deixado sozinha muito tempo, fazendo-a vulnerável aos perigosos jogos do Amin. O telefone voltou a soar, quatro, cinco vezes. dispunha-se a responder,
mas Kahlil a deteve lhe pondo as mãos sobre os ombros-. Deixa o telefone e escuta o que te estou dizendo.
-Não posso.
-Sim pode. E deve. Tiveste-me esperando três anos. Acredito que me deve dedicar ao menos cinco minutos de atenção.
Ela seguia ouvindo o telefone, cinco, seis, sete.
-Por favor, Kahlil.
-Não.
Bryn fechou os olhos. Tremia-lhe todo o corpo e seu coração logo que palpitava. Oito, nove. O telefone deixou de sonar.
consumia-se pensando nas areias ardentes e os véus que a haviam talher dos pés à cabeça.
-Não é meu dono, xeque ao-Assad, e não me voltará a encerrar em uma prisão -chiou raivosa, não só contra ele a não ser contra sua família, seus costumes, sua incapacidade
de vê-la se não era sozinho como uma extensão de si mesmo.
-O palácio nunca foi uma prisão.
-me parecia isso. Deixou-me ali sozinha, apanhada no harém.
-Você já sabia que as esposa s comem, dormem, e fazem sua vida social em seus aposentos. Educou-te no Oriente Médio e conhecia nossos costumes.
-Mas me casei contigo e esperava estar contigo.
-E o estava de noite. Eu fazia que lhe levassem a mim quase todas as noites, se não estava de viagem ou tinha convidados -alterado, respirou fundo - . Com independência
do que pense sobre o palácio, não podemos correr riscos com sua segurança. O problema de ser uma princesa que vale milhões de dólares é que todo tipo de gente quererá
aproximar-se de ti.
-Ninguém sabe que estamos casados.
-Saberão.
A segurança de sua voz a fazia tremer. Pensou que saberiam porque ele se encarregaria de que todos soubessem que lhe pertencia, de que ninguém como Sam a quisesse.
asseguraria-se de que ficasse na torre de marfim.
-Quer me fazer prisioneira em minha própria casa.
-É o preço que se paga por ser rico -ao Bryn lhe encheram os olhos de lágrimas-. A seus pais os assassinaram uns extremistas -continuou com mais suavidade-. Deveria
saber que o mundo é perigoso.
-E por isso escolhi viver sem medo -quando partiu do Zwar deixou de visitar lugares exóticos, de viajar. A instabilidade de seus pais tinha destruído à família.
Ela não queria fazer o mesmo ao Ben-. Não vou deixar de ser quem sou, solo por te agradar -acrescentou com brutalidade. Não queria recordar a explosão no mercado
e o horror da morte de seus pais. Tinha ido viver a Dallas com sua tia Rose quem tinha sido maravilhosa com ela.
-E eu não vou permitir que lhe danifiquem nem um cabelo da cabeça -murmurou ele, agarrando-a pelas costas e atraindo-a para ele. Beijou-a na nuca.
Ela se estremeceu. Sentiu que seus mamilos se endureciam, e seu ventre se enchia de calor. Solo um beijo e já o desejava. Com solo tocá-la, começava a derreter-se.
Tinha os nervos de ponta. Os olhos a ponto de chorar. Queria sentir suas mãos sobre os seios, o ventre, as coxas. Ele começou a lhe tirar as forquilhas-.
_ Nem um cabelo -repetiu, acariciando os dourados e sedosos cabelos-. Apesar de tudo, ainda te desejo. Ainda desejo amar seu corpo.
-Não -era uma negativa se desesperada. Sentia quebras de onda de calor por todo o corpo. "Resista. Resista ",pensou.
-Sim. E te perdôo -acrescentou, lhe beijando a nuca outra vez. De novo ela sentiu prazer, sensações ainda mais intensas-. Te perdôo e só desejo te voltar para ter
em casa.
Suas palavras lhe abriram velhas feridas, lhe recordando o segredo que tanto se esforçou em guardar. Tinha passado os três anos anteriores negando que tivesse nada
que ver com ele, negando que seu filho era o filho dele... Mas a casa dele nunca seria a sua. Não, depois do que Amin fazia. Não, depois do que ela tinha feito.
Os lábios do Kahlil lhe percorriam a nuca e Bryn fechou os olhos, arrastada pela crueldade de seus sentimentos. O desejo a queimava por dentro, necessitava que a
abraçassem, tocassem-na, amassem-na. Stan a queria, mas nunca tinha sentido o mesmo com ele. Nunca tinha tido tanta força, tanta paixão.
ouviu-se o assobio da bule. A água começava a ferver.
- Temos que seguir adiante -gaguejou Bryn. Recordava o dano que Amin lhe tinha feito. Kahlil nunca perdoaria sua traição, nunca entenderia por que tinha recorrido
a sua primo-. Preciso deixar atrás o passado. Preciso seguir adiante.
-Mas eu não posso.
-por que não? É um dos homens mais ricos e cultos do Oriente Médio. Tem títulos de Oxford e do Harvard.
Ele se aproximou da bule e a retirou do fogo.
-Pode que me tenha educado no ocidente, mas meu orgulho é árabe. Sou árabe. E meu orgulho exige que se faça justiça. Olho por olho, dente por dente...
-Humilhação por humilhação -acrescentou Bryn, girando-se indefesa para ele.
-Exatamente.
-Assim não serei livre a menos que vá contigo este fim de semana -ele não disse nada. Não fazia falta. Kahlil viu como os olhos dela se aumentavam, irados e desafiantes,
e seu azul se fez mais intenso, como safiras brilhantes, estranhos e apreciados-. Então, não me dá nenhuma alternativa, verdade?
Ele teve que controlar o sorriso que lhe aflorava nos lábios. Ela parecia a imagem da inocência ferida. Os olhos brilhantes, os lábios trementes. Ele recordava essa
expressão e tinha recordado essa mesma inflexão da voz milhares de vezes desde que ela o tinha abandonado.
Parecia-lhe irônico que ainda zangada fora tão bonita.
havia-se posto furioso quando Amin lhe contou que Bryn ia casar se. Não podia acreditar que se atrevesse a casar-se com outro homem. pôs-se tão furioso que temia
pelo que ia fazer quando a visse. Mas ficou desarmado quando lhe abriu a porta. Era tão bonita... Estava resolvido. Era dela, e voltaria com ele.
-Claro que tem alternativa. Pode ser minha, completamente durante quatro noites, ou pode ser minha legalmente para o resto de sua vida. Você pode escolher.
via-se em sua cara que as alternativas a horrorizavam, e por um momento quase sentiu pena por ela, até que recordou como o tinha abandonado, sem dizer nada, sem
tentar uma reconciliação. Tinha prometido amá-lo e em menos de um ano tinha quebrado suas promessas.
Já era hora de que aprendesse a importância de uma promessa. No Zwar, a vida de um podia depender de uma promessa.
Ela se apartou e preparou o café.
Aproximou-lhe uma taça procurando não roçá-lo.
-Como soube que ia casar me?
-Disse-me isso Amin -ela apertou os lábios-. O ódio que sente por minha primo é inaceitável e não o merece. Ninguém te apoiou tanto como ele.
-Posso imaginar o
-Dúvidas do que digo?
- Duvido dele -sua voz era vidriosa-. Como soube o das bodas?
Kahlil se encolheu de ombros.
-Viu o anúncio em internet, em um periódico de Dallas.
-Não crie que é muita coincidência? Amin lendo um periódico de Dallas em internet? por que foram interessar lhe as notícias de Dallas?
-Tenho investimentos aqui. Fabricantes, Refinarias de petróleo -viu como ela lutava por não ficar furiosa-. Despreza sua lealdade, mas ele me foi muito mais fiel
que você, meu jovem esposa - Bryn tinha na ponta da língua a verdade sobre o primo favorito do Kahlil, mas antes de que pudesse falar ouviu que um carro freava
frente à porta.
Lhe pôs a carne de galinha. Não podia ser que a senhora Taylor tivesse retornado. Saiu correndo para a porta. Ouvia a voz do Kahlil lhe perguntando se já tinha decidido,
mas não lhe respondeu. Consumia-a o pânico. Da porta espiono dentro do carro à senhora Taylor e ao Ben. Isso explicava a chamada de telefone. Tinha chamado para
avisar que voltaria logo com o Ben. E tinha chegado no pior dos momentos, para levar ao Ben direito aos braços de seu pai.
-Amigos? -perguntou Kahlil, detrás dela.
Bryn não podia lhe ver a cara mas sentia a tensão. Não pôde responder. abriu-se a porta do carro e ao vê-los sair, Bryn correu para eles. Sentia que o coração lhe
desfazia. Quando elevou em braços ao menino, soube que tinha perdido. Não podia fazer nada bem. Nem sequer sabia como proteger a seu filho quando mais o necessitava.
Começou a tremer de frio, sentiu que as pernas lhe afrouxavam e se desabou sobre a calçada. Tudo tinha terminado. Tinha terminado de esconder-se, de fugir, de fingir.
Abraçou ao Ben com todas suas forças. ouviram-se os passos do Kahlil. Bryn fechou os olhos, implorando um milagre, desaparecer com o Ben e evitar esse momento tão
terrível. Mas o milagre não ocorreu.
-Quereria me explicar? -perguntou-lhe Kahlil em um tom formal. Ao Bryn lhe encolheu o estômago e os dentes lhe tocavam castanholas. Ben, tão jovem, tão inocente,
elevou a vista fixando-a na cara furiosa do Kahlil.
-Mami, quem é esse homem?
Capítulo 4
A
OS poucos minutos de separar o avião, desapareceram as luzes do Texas e só ficou a escuridão da noite.
Bryn tinha os nervos a ponto de estalar, e abraçou ao Ben com mais força. Dava obrigado de que por fim o menino se dormiu e tivesse deixado de fazer suas mil perguntas
inocentes mas perturbadoras: "Onde vamos, mami?" "vamos dormir em um hotel?" "Poderemos ir nadar?"
"Poderemos ir nadar?"
Vá pergunta! Para ele era uma aventura que rompia a monotonia do dia a dia. Estava em um avião com sua mamãe, e lhe tinham dado um refresco. Que mais podia desejar
um menino de três anos?
Bryn fechou os olhos, sentindo um nó na garganta. Tudo pelo que tinha lutado durante os três anos anteriores estava perdido A segurança do Ben estava em perigo.
Tudo dependia do Kahlil. E Kahlil não havia dito nenhuma palavra desde que tinham subido a seu avião duas horas antes. Ela o conhecia bem e podia adivinhar seu estado
de ânimo. Pela dureza de suas facções sabia que logo que podia controlar sua ira. Estava muito zangado. Estava furioso.
Bryn tragou saliva. Sentia como que se afogava e estava cheia de temor e de pânico. Parecia-lhe que se estava voltando louca.
Ben se moveu, tratando de que ela afrouxasse o abraço. Bryn o balançou devagar até que voltou a relaxar-se. Sentia seu fôlego junto ao peito. O coração lhe doía
de tanto querê-lo. Haveriam sentido seus pais o mesmo por ela? E se assim fora, por que ela não o tinha notado?
Tinha passado tanto tempo sem eles como com eles, e sua lembrança se apagava. Recordava suas caras posto que as via nas fotos, mas suas vozes e as conversações que
tinham tido cada vez estavam mais difusas. Recordava o amor que sentiam por seu trabalho, sua paixão pelo deserto e pelos nômades do Oriente Médio, mas não as pequenas
coisas que falavam com ela, nem o que lhe diziam sobre seus interesses, suas necessidades e seus sonhos.
Mas nesse momento o que importava não era o que concernia a ela, a não ser ao Ben. Seus interesses. Suas necessidades. E ela jurava, como o tinha feito quando ele
nasceu, que teria segurança e que se sentiria amado.
Deu-lhe outro beijo na frente enquanto lhe apartava uma mecha de cabelo da cara. Era muito bonito, o cabelo negro como o azeviche, os olhos escuros e perfeitos.
parecia-se tanto ao Kahlil...
-Quando é seu aniversário, Bryn?
Kahlil sabia. Era óbvio que Ben era filho dele. Compartilhavam os mesmos olhos, o nariz, a formosa curva dos maçãs do rosto e do queixo. Embora ainda era pequeno,
podia intuir-se que tipo de homem seria.
As lágrimas alagaram os olhos dela.
-Em oito de maio.
Kabul não disse nada. Não precisava fazê-lo. Ela se precavia de que estava fazendo um cálculo rápido: as bodas, os meses que tinham vivido juntos, e o nascimento
do Ben. Tinha-o concebido depois da lua de mel, quando o único que ela desejava era estar nua e a sós com o Kahlil, pele sobre pele, dedos e lábios, corpos e desejo.
Ela o tinha desejado com paixão e desespero. Seu coração e seus sentidos tinham despertado. Nunca se havia sentido tão cheia de vida.
-Meu filho -disse Kahlil com o olhar perdido e os lábios apertados com dureza.
-Sim.
Kahlil ficou em pé e se aproximou até uma mesita perto dela e agarrou um fruto seco da bandeja de prata que estava sobre a mesa.
-cometeste um grave engano -lhe disse. Tinha a voz cheia de veneno e a ia fazer sofrer-. Está tão calada, princesa ao-Assad. Toda a noite protestando e agora, tão
calada...
Bryn não podia tirar a vista do damasco seco que ele esmagava entre os dedos, igual a desejava fazer com ela.
-Sinto muito.
-Quão único sente é que te tenha apanhado. Ela se perguntava se isso seria certo. Era sozinho por isso pelo que sentia tanta tristeza?
Voltou a pensar em seus pais, o muito que se amavam, o muito que amavam seu trabalho e o pouco espaço que reservaram a ela. Acaso tinha oculto ao Ben por puro egoísmo?
Tinha-o mantido em segredo para ter a alguém exclusivamente seu a quem querer? Não podia ser.
-Isso não é certo -se obrigou a dizer-. Tudo o que tenho feito foi para proteger ao Ben.
-Acaso crie que lhe faria mal a meu filho? -o tom do Kahlil era frio e cortante como o aço-. É esse o tipo de homem que crie que sou?
Não. Não acreditava, mas ele estava cego, ao menos no concernente a sua primo. Amin era o favorito do Kahlil. Sempre o tinha sido e sempre o seria.
Amin podia machucar ao Ben, pensou Bryn. Se a tinha atacado a ela, por que não ia atacar ao Ben?
-Seu silêncio o diz tudo -continuou Kahlil, cortante. Sua voz era depreciativa e suas facções estavam tensas.
-Estava pensando no Ben -replicou ela com suavidade, estreitando ao menino-. Todo vai trocar para ele.
-Como deve ser.
-Assustará-se.
-Estará bem. Agora me tem .
Kahlil não ia afastar a do Ben. Não ia ferir a ela nem ao Ben desse modo, ou sim? Uma dor intensa a invadiu e os olhos lhe encheram de lágrimas.
-Farei algo que me peça, mas sei amável com ele. É tão pequeno...
-Não precisa que me diga isso. E posso ver o muito que te quer. Nunca o machucaria, Bryn. Não vou machucar a minha própria carne.
Ela inclinou a cabeça tentando sossegar seus sentimentos.
-Estamos caminho do Zwar?
-Aterrissaremos em Ti vai em umas seis horas. Bryn se perguntava se Amin, estaria ali esperando-os.
-E sua família... sabe que vamos contigo?
-Meu pai morreu -disse Kahlil-. Faleceu faz quase dois anos.
-Sinto muito. Não sabia.
-Não os imprensa isso?
Bryn evitava mencionar Zwar, tentava não recordar sua antiga vida com o Kahlil.
-Sinto-o -repetiu indefesa.
-Minha prima Má, a que tem sua idade, está em Londres terminando seus estudos, ou seja que não estará no Zwar. O resto está espalhado por aí.
-E Amin?
Kahlil lhe lançou um olhar hostil.
-Vive no estrangeiro. Prefere a vida noturna de Monte Cario -Bryn se sentiu aliviada. Era a melhor noticia que tinha tido em vários dias. Kahlil se serve uma taça-.
Quer uma? - perguntou-lhe, elevando a garrafa.
-Não, obrigado.
-Habíame de meu filho -era certo. Ben era um estranho para o Kahlil. Bryn sentiu remorsos. Tinha-lhe feito algo terrível, mas não tinha tido eleição-. Eu gostaria
de conhecê-lo -acrescentou Kahlil com doçura, mas sua cara era inexpressiva. Bryn sentia ainda mais remorsos.
-Tem três anos, mas parece de oitenta -disse com cautela-. É o que eu chamo uma alma velha. Um desses meninos que nascem sabendo-o tudo. É muito doce e carinhoso.
Não tem nem um grama de maldade.
-A que gosta de jogar?
-Com carros, caminhões e a qualquer jogo de bola.
-O que pediu para os natais? -ao Bryn lhe fez um nó na garganta. Não porque não se lembrasse, mas sim porque a lembrança era muito doloroso.
Não podia esquecer como se sentou nos joelhos da Santa Claus e tinha pedido um papai. Não um carro novo, nem outro brinquedo, nem sequer um cachorrinho. Solo um
papai. O Santa Claus da loja a tinha cuidadoso com ironia por cima da cabeça do Ben e ela se havia sentido fracassada. Pior ainda, a manhã de Natal, Ben não podia
acreditar que Santa Claus se esqueceu da única coisa que queria, quão única tinha pedido e ficou a chorar cheio de desconsolo. As lágrimas do Ben a fizeram chorar.
Foi por isso que decidiu aceitar a proposição do Stan.
-O que pediu? -insistiu Kahlil.
-Uma família -respondeu Bryn, evitando olhá-lo.
-E por que não foi para mim? -ela moveu a cabeça, soluçando-. Não sei o que é o que me põe mais furioso. Se que ocultasse a meu filho, ou o que pretendesse dar-lhe
a outro homem -a dor que refletia a voz do Kahlil a desarmou. sentiu-se angustiada por ter ferido ao homem que tinha amado tanto. Não era sua intenção lhe dar seu
filho a ninguém, mas podia entender que o pensasse. Kahlil proferiu um som metade desprezo, metade desespero-. Pelo que vejo, não tem nenhuma desculpa.
-Nenhuma que você vás aceitar.
Ele se voltou a olhá-la.
-Uma família de verdade teríamos sido você e eu, Bryn, juntos. Essa era a família que Ben necessitava. Essa era a família que devia ter sido.
De novo lhe alagaram os olhos. Ela também queria uma família de verdade. Era o que nunca tinha tido, sobre tudo depois da morte de seus pais, e era seu desejo mais
fervente para o Ben. E era o que tinha desejado quando se casou com o Kahlil. Mas não tinha funcionado.
Kahlil juntou as mãos.
-Dou graças ao Alá por ter a meu filho. Farei que todo lhe seja propício, mas você... você é outra questão distinta -pouco antes de separar, tinha entrado no luxuoso
dormitório do avião e se trocou de roupa. Nesse momento levava um sweater negro de pescoço alto e uma jaqueta negra. Vestido de negro dos pés à cabeça, parecia um
capitalista e vingativo cavalheiro andante - . Tem medo, esposa? - murmurou com voz profunda, tocada de um pouco de curiosidade e sensualidade.
Sabia que inclusive estando encurralada, ela respondia a sua força, e que despertavam os sentidos e os sentimentos. Bryn se ruborizou e seu coração começou a pulsar
como louco. Enquanto isso, Kahlil a observava e ela sabia. Kahlil tinha estudado sociologia, antropologia e psicologia antes de tomar cursos avançados em leis e
negócios e tinha aperfeiçoado a arte de estudar às pessoas. Seus dotes de observação lhe eram muito úteis e sabia o que uma pessoa estava pensando antes de que se
desse conta. Conhecia os desejos dela, seus temores e seu sentimento de culpa. Sabia que a tinha arrancado de seu mundo e a arrastava para o seu.
Voltar para o Zwar era para ela como viajar na máquina do tempo para a idade Média. Os costumes do Zwar eram ainda feudais, inclusive bárbaras, sobre tudo no relativo
às mulheres. Mas Zwar era também um lugar sensual. Um lugar quente e cheio de paixão. Mágico e misterioso. Era o lugar que Bryn considerava como seu lar. E o tinha
sido até que deixou que sua insegurança e suas dúvidas lhe fizeram depositou sua confiança no homem equivocado: Amin. Se lhe tivesse contado ao Kahlil suas preocupações,
se tivesse tido mais paciência, se o tivesse necessitado menos... Confiar no Amin foi como colocar a cabeça na boca de um leão. Uma decisão estúpida e imatura. O
leão a mordeu. Isso era o que faziam os leões.
Kahlil observava os sentimentos que refletia a cara do Bryn. Esperança, ira, medo, desespero. Ele a tinha preocupada. Melhor. Deveria estar preocupada. Muito preocupada.
O que é o que se propunha ao lhe ocultar a seu filho? Acaso desejava morrer? O se tinha apaixonado por sua beleza, sua risada, sua inteligência, mas acaso tinham
sido sozinho iluda? Talvez era formosa mas não tinha substância. Tragou saliva, e se retorceu as mãos, tratando de controlar sua fúria. Era como um caldeirão fervendo
que ia transbordar se e queimá-lo tudo. ficou olhando-a. Tinha a cabeça inclinada para o menino que dormia apoiado em seu peito e os dourados cabelos lhe caíam sobre
a cara. Teria querido ser de novo um menino, amado e protegido contra a dura realidade da vida. Sentiu por um instante a dor de uma lembrança: uma larga e negra
cabeleira e uns belos olhos escuros cheios de lágrimas, e um grito dilacerador quando o arrancavam dos braços de sua mãe. "Mamãe! Quero estar com minha mamãe!" Odiava
essa lembrança e o separou de sua mente apagando todo vestígio de um passado que já não importava.
Tinha perdido a sua mãe e tinha sobrevivido. Pensou que Ben também sobreviveria, se isso era o que o destino decretava. Mas ao ver juntos ao Bryn e ao Ben, ao ver
o carinho e a confiança do menino e a devoção da mãe, sentiu-se estremecer. Se se interpunha entre eles os destruiria aos dois. Destruiria a sua própria família,
e isso era algo que tinha jurado que nunca faria. Mas já não era o homem que se casou com o Bryn. Já não era um homem que amava. Desejava vingança. Desejava castigar.
Desejava aniquilar o espírito independente de sua mulher. Não tinha por que ter sido assim, mas isso era o que ela tinha eleito.
-Houve outro homem no Zwar? - inquiriu de repente, apartando a vista. Ela tinha que pagar. O faria pagar.
-Não -sussurrou Bryn, nervosa.
Não tinha respondido com firmeza. Ele escutou a resposta e acreditou detectar alguma coisa de culpabilidade. girou-se devagar e deu um passo para ela.
-Não parece muito segura de ti mesma: Quer pensar um pouco mais antes de responder?
-Não preciso pensar. Sempre fui fiel.
-Sexualmente?
-Sim -sua voz se endureceu, mas as bochechas lhe acenderam, ressaltando o azul dos olhos e sua palidez. Parecia um quadro do Rubens com o brilho avermelhado de suas
bochechas em contraste com o alabastro de sua pele e o brilho de safira de seus olhos.
-Está segura?
-Por completo.
-E emocionalmente?
-Por Deus, Kahlil, que tipo de perguntas são essas? Se suspeitas que cometi adultério, diga-o, mas não penso jogar às adivinhações contigo. Dei-te minha resposta
e fui sincera. Nunca me deitei com outro homem enquanto estive casada contigo, e nunca quis estar com outro homem -o rubor de suas bochechas desapareceu e os lábios
lhe tremeram de emoção-. Só queria a ti.
Então, por que o tinha abandonado? Sua mente fria e analítica queria diseccionar suas palavras. Estava mentindo. Ou estava escondendo algo. Em qualquer caso o tinha
enganado e quase lhe tinha quebrado o coração.
Por fortuna se recuperou a tempo. Rifaat, sua ajuda de câmara, empenhou-se nisso, lhe recordando ao Kahlil seus deveres e obrigações. A perda de seu pai ajudou a
que se centrasse. Enquanto Zwar chorava a seu rei Kahlil, conseguiu antepor seu país a sua crise pessoal. O trabalho o ajudou muito. Até que soube que Bryn ia casar
se de novo. Isso reavivou toda a antiga dor. A traição, a fúria, o shock. "Eu te amava. Como pôde me abandonar?" Era o pranto de um menino abandonado.
Kahlil desprezava essa debilidade dela. A necessidade de amar e ser amado. Não queria sentir necessidade de ninguém. Seu pai não havia tornado a casar-se depois
de que sua mãe partisse. por que ele não podia ser igual de forte?
-O que faço contigo aqui? -exclamou-. O que estaria pensando?
Ela se endireitou e sua expressão se alegrou.
-Pode fazer que o avião dê a volta. Não é muito tarde. Nem sequer cruzamos o Atlântico.
ficou furioso ao ver quanto desejava partir. Quem era ela para tomar as decisões? Ela se tinha ido. Tinha-o abandonado. Possivelmente o tinha traído.
-Se lhe envio de volta, enviarei-te sozinha.
sentiu-se confundida, mas de repente o entendeu.
-E Ben?
Kahlil se sentia frio, duro, forte.
-Ben é o príncipe herdeiro. Algum dia herdará meu título e meu posto como líder de minha gente. É obvio que ele fica comigo.
Bryn se estremeceu de pânico.
-Irei ao embaixador...
-E que esperas que faça o embaixador? O filho é meu. Como pai, tenho meus direitos. Nem sequer o governo dos Estados Unidos pode discutir isso.
-Não permitirão que me tire isso.
-Claro que não. Não tenho intenção de te separar do menino. Terá liberdade de ir e vir e de nos visitar quando quiser, mas Ben ficará em palácio, na Tiva.
-Sem mim?
-É jovem e se adaptará -notou a dureza de sua própria voz, mas não lhe importou. Ela o tinha privado dos primeiros três anos da vida do menino e se merecia algo.
-Romperá-lhe o coração.
-Os corações se curam. Feridas se fecham. Sei.
- E sabendo o que sabe, feriria-o desse modo?
-Não está em situação de me dar sermões. Não foste deixar que eu formasse parte de sua vida. Queria ficar o para ti sozinha. Em pouco tempo, Zwar será seu lar e
minha gente, sua gente. Ao Ben gostará como uma aventura, e terá riquezas, e uma boa situação.
- Não pode comprá-lo, nem tampouco seu afeto! Ele se encolheu de ombros. Tinha dado no branco.
-Quero chamar o embaixador -exigiu-. Agora.
-Sinto muito. O telefone não funciona.
-Isso não é certo. Antes fez umas chamadas.
-Isso foi antes. Agora não funciona.
-Kahlil, não tem direito...
- Tenho todo o direito!
Sua voz era ensurdecedora e despertou ao Ben. Bryn tentou embalar ao menino para que voltasse a dormir, mas estava acordado por completo.
-chegamos já? -perguntou bocejando e com cara de preocupação.
-Não, ainda não -lhe deu um beijo na frente enquanto amaldiçoava em silencio ao Kahlil por despertá-lo em meio de uma discussão. Era disso do que queria proteger
ao Ben.
-por que está gritando? -disse olhando ao Bryn à cara.
Esteve a ponto de lhe dizer que tinha sido Kahlil, mas não o fez. Não podia deixar que seus sentimentos influenciassem ao Ben. Teria que estabelecer sua própria
relação com o Kahlil, sem que ela o condicionasse.
-Estava gritando? -murmurou, tratando de modular sua voz e acalmar-se.
-Sim. Estava-lhe gritando a esse homem.
Esse homem. Seu pai.
Elevou a vista para o Kahlil. Resultava imponente vestido de negro. Suas facções eram duras e sua expressão depreciativa.
-Sinto-o -respondeu-. Não deveria gritar. Faz mal aos ouvidos da gente, verdade?
-Sim -conveio Ben, endireitando-se e pondo seus deditos sobre a mão de sua mãe-. Quem é esse homem? por que está conosco?
Bryn sentiu uma grande dor de coração. Não podia lhe mentir, nem tampouco, evitar a pergunta. Bryn pensou que Ben devia conhecer a verdade e que se não a diziam
nesse momento, saberia assim que aterrissassem. Era melhor que a dissesse ela.
-Ben, este é você... -elevou a vista para o Kahlil. Sua expressão era fria e dura, sem compaixão em seus olhos dourados. Voltou a olhar ao Ben-. Ben, este homem
é seu..., é seu...
-Papai.
Kahlil completou a frase, sua voz cheia de ira.
Não era a forma em que ela queria que soubesse. Não com tanta força e aborrecimento. Não com tanta arrogância.
- Sim -conveio em seguida, tratando de suavizar, de diminuir a tensão-. Ele é seu papai. Casamo-nos faz muito tempo e vivemos em um deserto muito bonito.
-Um deserto muito bonito? -Ben olhou ao Kahlil-. Em uma loja? Com camelos?
-Em um palácio -respondeu Kahlil-. Mas sim temos camelos.
Ben se incorporou ainda mais.
-Eu gosto dos camelos -estava sério, com uma expressão igual a do Kahlil-. Me chamo Ben - disse com Esse firmeza é meu nome. Qual é o teu?
-Xeque Kahlil Hasim ao-Assad.
-Isso são muitos nomes.
-Não tantos. Logo você também terá um nome como o meu.
-Vale.
Vale. Isso era tudo. Ben o aceitava, aceitava ao novo pai, o novo lar, assim sem mais. Ben olhou ao Bryn,
-De verdade que é meu papai? -sussurrou-lhe.
-Sim.
-que eu queria ter?
-que você queria, meu menino.
Ninguém falou. O pulso do Bryn se acelerou. Podia sentir a confusão e as dúvidas do Ben. Tudo tinha trocado para ele em um momento. de repente, Ben tendeu a mão
ao Kahlil.
-Eu sou Ben, papai.
As facções do Kahlil se endureceram. Por um momento não se moveu e pareceu entristecer-se. Estirou sua mão devagar e estreitou a de seu filho.
-Me alegro de te conhecer, Ben. É bom que por fim estejamos juntos.
Ben respondeu solenemente:
-foi muito tempo.
O olhar do Kahlil se posou em Bryn.
-foi muito, muito tempo.
Capítulo 5
E
L avião aterrissou com suavidade na pista de asfalto e aos poucos minutos se deteve diante de um edifício muito iluminado.
antes de que se abrisse a portinhola, Kahlil saiu do dormitório cobrindo sua roupa com uma chilaba e a cabeça com um turbante.
Ao Bryn lhe fez um nó na garganta.
O xeque Kahlil ao-Assad em pessoa.
Ele a olhou, inspecionando seu cabelo e seu vestido.
-Deve te cobrir.
-Ao Ben parecerá muito estranho -respondeu. depois de uns instantes de tenso silêncio, ele replicou:
-Mais estranho lhe vai parecer que tenha que te obrigar.
Kahlil não entendia nada. Embora Ben fora médio árabe, nunca tinha tido contato com os costumes do Oriente Médio. Não sabia nada de sua língua nem de sua cultura.
-Só deixa que o eu explique primeiro. Kahlil a olhou despectivamente.
- Acredito que devo ser eu quem o explique. depois de tudo, levar chilaba e turbante são "meus" costumes. Entendo-o muito melhor que você -em trinta segundos lhe
explicou que a túnica e o véu faziam que as mulheres fossem muito especiais e que protegiam às mulheres muito bonitas e faziam que se convertessem em princesas -
Você gostaria que sua mamãe fora uma princesa?
Ben sorriu com acanhamento e assentiu.
-Ponha os mamãe. Eu quero que seja uma princesa.
Kahlil a tinha apanhado uma vez mais. Bryn se ficou imóvel enquanto Kahlil desdobrava uma túnica e um véu e os colocava. Sentiu o roce de seus dedos nas têmporas
e logo na boca.
Lhe saltaram as lágrimas. Desejava-o, mas não desse modo. Desejava-o como quando se amavam e confiavam o um no outro.
de repente, ele se inclinou para ela e a beijou na boca através do fino véu.
-Já estamos em casa -disse devagar, vitorioso-. Recorda onde está agora e quem é.
Ela não podia falar. O temor, a ansiedade e a fadiga a afligiam. sentia-se rasgada entre suas próprias ânsias e as necessidades do Ben, dando-se conta de que não
eram as mesmas nem poderiam sê-lo nunca mais.
Ben deu um puxão da túnica negra para que ela se voltasse e poder inspecioná-la.
-Não parece uma princesa -disse, desiludido, inclusive com um pouco de desagrado-. As princesas não vão vestidas assim.
Bryn lhe tinha lido muitos contos, muitas versões fantásticas de Cinzenta, Blancanieves, A Bela Adormecido. Ele sabia que as princesas eram criaturas suaves e mágicas,
nada que ver com a túnica negra que vestia sua mãe.
Se a situação não fora tão séria, Bryn se teria rido. Abraçou-o.
-Não se preocupe -lhe esclareceu túnica é para ajudar a mamãe. É um disfarce, um pouco divertido e novo.
-Mas -respondeu o menino-, papai disse que seria uma princesa e eu quero que pareça uma princesa. Tire lhe insistiu isso, atirando da túnica-. Por favor, mami, tire-lhe
isso agora.
-Não pode -disse Kahlil com voz suave mas firme, agachando-se frente a Ben-. Sua mamãe sabe e não está preocupada. Ela sabe por que precisa levá-la posta.
-por que? -as lágrimas apareciam nos olhos do Ben.
-Porque estamos em meu país e é um país diferente com regras distintas. Tratamos a nossas mulheres como um pouco muito especial e nós gostamos das proteger. Se sua
mamãe levar essa túnica estará segura.
-É mágica? Como um encantamento? -Kahlil tinha despertado de novo a imaginação do Ben.
-Um pouco parecido. E não a levará posta sempre. Solo até que cheguemos ao palácio.
-Mas é de uma cor muito feia. Deveria ser de uma cor bonita como o rosa ou o azul. Mamãe está muito bonita com o rosa e o azul.
-Então, quando chegarmos a palácio, vamos escolher lhe um vestido bonito. Olharemos todos os vestidos bonitos e você me dirá quais ficarão bem a sua linda mamãe
-Kahlil ficou em pé e lhe deu a mão-. Venha, vamos ver o palácio.
Estavam atravessando a pista em direção ao edifício iluminado quando se ouviram gritos e um pelotão de soldados saiu rodeando o perímetro do aeroporto.
-O que acontece? -inquiriu Bryn, voltando-se para o Kahlil.
-Não sei -respondeu, agarrando ao Ben em braços.
Bryn queria ter ao Ben entre seus braços, mas os soldados se aproximavam com seus enormes e aterradores fuzis.
Um soldado se aproximou do Kahlil, e lhe fez uma reverência, murmurando algo em árabe.
Kahlil assentiu, acelerou o passo e sujeitou ao Ben com mais força. Dirigiu um olhar inexpressivo ao Bryn, mas não disse nada.
Estavam quase correndo. Ela se precaveu de que os soldados tinham formado um cerco protetor ao redor deles e que a luz de um foco estava varrendo toda a pista.
Dentro do edifício, a porta se fechou de repente e os soldados separaram ao Bryn do Kahlil.
- Ben! -gritou tratando de agarrá-lo, mas os soldados lhe aproximaram, separando-a ainda mais do Kahlil e de seu filho.
Sentia a boca como se a tivesse cheia de serrín, e se deu conta de que não podia tragar devido ao medo. O que acontecia? Aonde a levavam? Onde foram Kahlil e Ben?
Não se deu conta de que tinha formulado as perguntas em voz alta até que uma voz cortante lhe respondeu em um inglês quase perfeito.
-Não lhe acontecerá nada. Por favor, tenha paciência, senhora. Todas suas perguntas terão resposta ao seu devido tempo.
Ter paciência? Como? levaram-se ao Ben e os soldados eram implacáveis, sem tocá-la, mas sempre forçando-a a seguir na direção que eles marcavam, até que atravessaram
uma porta e saíram à escuridão.
Um luxuoso carro negro esperava e se abriu a porta traseira. Não teve mais remedeio que entrar e o carro arrancou.
-Aonde vamos? -perguntou-lhe ao condutor. Este a olhou pelo retrovisor, mas não lhe respondeu. Em realidade ela não esperava resposta. No Zwar, os homens não falavam
com mulheres desconhecidas, sobre tudo se eram ocidentais-. O que aconteceu o aeroporto? -insistiu-. por que havia tantos soldados?
O condutor nem sequer a olhou e continuou conduzindo.
Bryn se recostou no assento cheia de temor e de indignação. Como podia lhe fazer isso Kahlil? E menos mal que levava ao Ben em braços. Ninguém teria ousado tocá-lo
estando em seus braços. E Kahlil o protegeria. Talvez a odiava, mas ao Ben estava claro que já o queria.
Uns portões enormes se abriram para que entrasse a limusine e se fecharam imediatamente. Bryn se tranqüilizou quando por fim chegaram a palácio. Solo queria voltar
a ver o Ben, saber que estava são e salvo.
Uma vez dentro de palácio, os guardas a entregaram a dois serventes. Bryn reconheceu a um deles como ao Rifaat, assistente pessoal do Kahlil, metade mordomo e metade
secretário. Rifaat ao Surakh levava os assuntos privados do Kahlil, das reservas de viagem até as reuniões políticas.
Bryn se sentiu aliviada ao ver seu antigo amigo.
-Rifaat, como está?
-Bem, obrigado, senhora -respondeu fazendo uma reverência. Filho de um diplomático, tinha estudado na prestigiosa Georgetown University de Washington, antes de retornar
ao Zwar para servir no corpo diplomático.
Inteligente, sofisticado, moderno, Rifaat sempre tinha sido amigo dele.
-Rifaat, me ajude por favor. No aeroporto, os soldados se levaram a meu filho. Está aqui? O que ocorreu?
Rifaat voltou a inclinar-se.
-Acompanharei-a a suas habitações, senhora.
-Não. Não quero ir a minhas habitações. Devo ver o Kahlil. Ele tem a meu filho. Estão aqui? chegaram já?
O segundo servente se retirou em silêncio, deixando sozinhos ao Bryn e ao Rifaat.
-Devo acompanhá-la às habitações das mulheres. Ali está esperando-a sua donzela.
-Tenho que ver o Kahlil -repetiu com firmeza-. Por favor, Rifaat, meu filho... -ele desviou o olhar e não respondeu nada. Não voltou a olhá-la. Não tinha intenção
de lhe falar-. Rifaat, por favor...
-Sua habitação já está preparada -replicou evitando olhá-la-. Espero que a encontre a seu gosto.
Bryn empalideceu, como se lhe tivessem jogado um jarro de água fria. deu-se conta de que ele não pensava lhe dizer nada. Inclusive se sabia onde estavam Kahlil e
Ben, não ia dizer lhe nada. Pode que fora amigo dele, cinco anos atrás, mas já não o era.
Rifaat se deu a volta e começou a andar pelo vestíbulo de mármore. Sem outra alternativa, ela o seguiu, pensando que ninguém teria trato com ela até que Kahlil desse
a ordem.
Ao entrar nesta asa, onde viviam as mulheres, uma donzela coberta com um véu a saudou com uma reverência, e Rifaat se afastou sem olhá-la sequer.
Tinha completo com seu dever, pensou Bryn com amargura. Tinha-a escoltado até o harém, e a tinha tratado igual a Kahlil, com aborrecimento e com desprezo.
Só uma coisa podia piorar a situação, pensou. A volta do Amin.
A donzela se apresentou como Lalia e lhe anunciou que seria seu assistente pessoal, e que a ajudaria a vestir-se, pentear-se e divertir-se. Bryn esteve a ponto de
sorrir ante a descrição de seus serviços. Como se a vida fora tão fácil. Mas não sorriu.
-Para você, minha senhora -disse Lalia, lhe mostrando a suíte privada. Seu acento em inglês era muito marcado-. Gosta, minha senhora?
-Lalia -disse Bryn com voz suave e persuasiva-. Meu marido, o xeque. Devo vê-lo. Tem a meu filho e tenho medo.
-Não tema -replicou Lalia-. Aqui tudo é muito bonito, tal como gosta a você, sim?
-Meu filho...
-Esta quarto é muito bonita, sim? -Lalia tampouco lhe disse nada.
A jovem, nem sequer se dava por inteirada da dor do Bryn. Devagar, esta percorreu a estadia, sua antiga quarto, quão mesma tinha três anos atrás. fixou-se no precioso
e antigo tapete que fazia mais de setecentos anos tinham tecido para uma rainha persa, a mulher mais bela do oriente, conforme diziam. Kahlil a tinha comprado para
ela. Queria que tudo fora perfeito para sua esposa, a futura reina. Mas não tinha saído bem. Seu olhar se posou no elegante cofrecillo de madeira que estava sobre
a mesita de noite. Seu joalheiro.
Amin. A briga. Sua última noite em palácio três anos atrás. O coração lhe encolheu com a lembrança. Oxalá pudesse esquecer do passado. Abriu o cofre. Havia diamantes,
safiras, esmeraldas... Não podia ser. Ela tinha metido todas as jóias que Kahlil lhe tinha agradável dentro de sua bolsa antes de deixar o palácio. Tinha-as utilizado
para conseguir sair do Zwar, camuflada em um vôo charter a Nova Iorque. Mas as jóias estavam ali. Todas. Possivelmente, eram sozinho copia. Doía-lhe o coração de
tanta tristeza... Kahlil tinha acreditado e crédulo no Amin e não nela. Fechou o joalheiro e se sentou no bordo da cama, tocando a colcha de seda. Doeu-lhe recordar
sua última noite em palácio, nessa mesma quarto. Amin a tinha apanhado ali, lhe tampando a boca com a mão para que não gritasse. Tinha um sabor azedo a tabaco e
álcool e com seu peso tinha conseguido imobilizaria na cama.
-Minha senhora, esta é sua antiga quarto, sim? Gosta de seu quarto, sim?
Bryn se estremeceu, obrigando-se a sair do passado e centrar-se na Lalia. Sim, era sua antiga quarto. Uma habitação que lhe tinha produzido pesadelos durante anos.
Bryn ficou em pé e cruzou os braços. sentia-se enojada e furiosa de que houvessem a apanhando de novo nessa quarto e nessa vida.
-Sinto muito, mas não posso ficar aqui. Terá que lhe dizer a sua Alteza que esta habitação não me serve -Lalia ficou boquiaberta, e antes de que pudesse dizer nada,
Bryn se dirigiu à porta-. Não se preocupe. O direi eu mesma -mas Bryn não chegou a nenhuma parte. Os guardiães da porta não a deixaram acontecer-. Não me façam gritar!
-como os guardas nem se alteraram, gritou com todas suas forças, como se a estivessem matando, mas ninguém se aproximou. E os soldados nem se moveram. Solo Lalia
se tornou a seus pés, soluçando.
-Por favor, senhora, por favor...
-Lalia, basta!
- Princesa, meterá-me em uma confusão. Castigarão-me por não agradá-la.
A garota beijava os pés ao Bryn.
- Lalia! -mas a garota continuou suplicando, soltando frases incoerentes em árabe-. Lalia, ninguém vai castigar te.
-O senhor xeque me castigará.
-Isso não é certo.
Lalia olhou temerosa aos guardiães.
-Minha senhora -balbuciou soluçando, abraçada ainda aos pés do Bryn-, a sua última donzela a enviaram a um sítio muito mau. Por favor, senhora, não faça que me enviem
também.
Bryn sentiu remorsos. Seria certo? Tinham castigado a Adjia, sua antiga donzela?
-Tenho que ver sua Alteza. Tenho que vê-lo.
-E o verá. Sua Alteza a chamará. Sei. Estou segura. Agora, tome-se um pouco de chá.
Tão só três horas depois de sua chegada, Kahlil recebeu uma chamada do Amin.
Pendurou devagar o auricular e ficou olhando a fotografia que tinha sobre a mesa de despacho e que Amin lhe tinha agradável. Tinham-na tomado depois de um partido
de pólo e estavam os dois, Kahlil rendo-se de algo que Amin havia dito. Pareciam ser dois excelentes amigos.
Durante um tempo, Kahlil o tinha considerado seu melhor amigo, ou ao menos, um dos melhores.
Mas isso tinha trocado fazia muito tempo, antes de que se fizessem adultos com deveres e responsabilidades. Kahlil se perguntava quando a amizade se converteu em
inveja e o afeto em manipulação. depois dos vinte anos seguiam saindo algumas vezes e compartilhando algumas risadas, mas se notava a tensão entre eles. E o sentimento
de culpa. Kahlil não necessitava que lhe recordassem que o destino os tinha tratado de forma distinta. Kahlil, o príncipe herdeiro, e Amin, o parente pobre.
Amin tinha chamado porque queria voltar para o Zvvar de visita. Em três anos e meio, solo tinha retornado uma vez, ao funeral do pai do Kahlil. Nem sequer tinham
falado. comportou-se como se o funeral fora somente uma formalidade oficial.
"por que quererá voltar para a Tiva agora?", perguntou-se Kahlil. "por que não faz seis meses, ou seis semanas?"
"E se for por causa do Bryn?"
Possivelmente era o momento de esclarecer coisas, e de sossegar os rumores. Se havia algo entre o Bryn e Amin, devia averiguá-lo.
Agarrou o telefone e marcou o número do Amin em Monte Cario. Amin respondeu em seguida.
-Estive-o pensado -disse com frieza-. Tem razão. Faz muito tempo que não nos vemos. Vêem a Tiva. nos ponhamos ao dia.
Bryn olhava como a donzela desempacotava sua pequena mala. Colocou a roupa interior em uma gaveta, mas quando viu os vestidos e as calças, disse:
-Esta não é roupa de princesa.
"Eu não quero ser princesa", pensou Bryn. Ela sozinho queria ser Bryn, uma mãe de vinte e quatro anos com um reduzido mas sincero grupo de amigos. aberto-se caminho
no Texas, e embora não tinha muito dinheiro, as arrumava e estava satisfeita. Lalia pendurou os vestidos do Bryn com desagrado. Abriu o outro lado do armário para
lhe mostrar o arco íris de cores das túnicas de seda, gaze, veludo, algumas com incrustações e bordados.
-Para a senhora -disse-. Gosta? -era incrível.
Quanto tempo levariam esses vestidos pendurados no armário? Quanto tinha investido Kahlil enquanto esperava a que ela voltasse? O joalheiro estava cheio. O guarda-roupa
também. Tudo era igual a antes. Tudo tinha trocado, mas nada era diferente. Incrível. Desesperador. Bryn se atormentava sentindo-se culpado, dando-se conta de quão
duro teria sido para o Kahlil. deu-se conta de que ele nunca tinha dado por terminado o matrimônio. Solo lhe tinha dado tempo. Queria que retornasse. Lalia fechou
o armário e se voltou para o Bryn.
-Tudo está preparado, senhora. Venha e lhe prepararei o banho.
Ao despir-se no banheiro de mármore, Bryn se viu no espelho. Estava horrível, com o cabelo despenteado, e umas olheiras descomunais.
-Minha senhora, o banho está quente. Por favor, sente-se -disse Lalia lhe indicando a banheira de mármore branco com grifos de ouro. Ouro maciço. Uma banheira apta
para uma rainha. A água despedia uma agradável fragrância e estava adornada com pétalas de flores.
Bryn se tirou a toalha, resignada à falta de intimidade de palácio. As donzelas estavam muito bem treinadas, muito temerosas de não cumprir com seus deveres. Seu
trabalho era servir, ajudar e fazer agradável a vida da princesa.
de repente a voz do Kahlil, rompeu o silêncio.
-nos deixe -disse à donzela-. Desejo falar com minha esposa. A sós.
Lalia se afastou fazendo reverências, murmurando palavras de adoração.
O primeiro impulso do Bryn foi sair da banheira e agarrar a toalha, mas não pôde fazê-lo. Estava como paralisada.
-O que está fazendo aqui? Onde está Ben?
-Qual das duas perguntas quer que responda primeiro?
Sentiu que o sangue lhe fervia.
-Por favor..., onde está Ben? E o que foi o que aconteceu o aeroporto?
-Não é nada de sua incumbência.
-Não há uma ameaça real, verdade? Não quero expor ao Ben a distúrbios ou a instabilidade.
-De novo sua imaginação pode contigo. Não eram mais que medidas de amparo. Nada mais.
-Eu não gosto de estar separada do Ben e quero que me devolva isso.
Ele olhou para a porta.
-Sinto-o mas não lhe vou devolver isso.
- Kahlil!
-Sinto-o mas essa é a verdade. Terei-o afastado de ti até que saiba o que é o que vou fazer.
-Sobre o que? -exigiu-lhe, ficando furiosa.
-Como príncipe herdeiro, o menino necessitará uma educação muito especial. Terá que seguir cursos especiais, estudar idiomas e estar exposto às culturas européias
e orientais.
- Mas se solo tem três anos! Ainda é um bebê!
-enviaram a Inglaterra quando não era muito maior que ele. Será melhor que comecemos a prepará-lo para suas obrigações quanto antes.
- Não! -o protesto lhe saiu da alma-. Nunca o enviarei ao estrangeiro. Não quero que uns estranhos eduquem a meu filho.
O se deu a volta e se enfrentou a ela. Seus olhos dourados, cercados por negras pestanas a olharam. fixou-se em seus joelhos, as coxas nuas, o ventre, os seios.
-Este assunto está fora de seu controle. Estamos no Zwar e aqui sua opinião não conta para nada.
Ela se endireitou, furiosa.
-Se crie que vou fazer reverências e te adular como Lalia, vai fresco, xeque ao-Assad. Pode que estejamos na Tiva, mas eu já não sou a garota frágil e dependente
com a que te casou faz uns anos. Agora sou mais forte e tenho voz.
Kahlil se tinha banhado e trocado, deixando atrás a roupa ocidental. Com a túnica tradicional, via-se distante, indiferente.
-Se tivesse voz, crie que não a ouviria? Confundida, teve que parar-se a pensar antes de responder.
-Sim.
-Então, por que não te ouvi antes quando gritou? -claro que a tinha ouvido gritar essa tarde, mas a tinha ignorado. Bryn sentiu uma dor imensa que a queimava. Tomou
água entre as mãos e a lançou uma e outra vez, salpicando-o. Kahlil se inclinou para ela e a elevou, tirando a da banheira e deixando-a sobre o frio chão de mármore-.
Agora sim que a tem feito!
Ao Bryn lhe pôs a carne de galinha.
-te zangue comigo mas não me separe do Ben. Não sei a que tipo de jogo está jogando, mas não é justo e não está bem.
Kahlil atirou dela para ele, quadril contra quadril, coxas contra coxas, os corpos semi apertados.
-Isto não é um jogo. Os jogos se terminaram. Agora começam as conseqüências.
Quente, fria, ela se sentia doente, como com febre.
-Não é justo que castigue ao Ben.
-Não estou castigando ao Ben. Estou-te castigando a ti. Você me mentiu, traiu-me, roubou-me...
Bryn tremia de medo.
-Se referir às jóias...
-Refiro a meu filho. É meu, não é certo?
-Claro que é teu. Não tem mais que olhá-lo. Tem seus olhos, seu nariz, sua boca. É igualito a ti.
-Então meus atos estão justificados -salvando a muito pequeno distancia que ainda havia entre eles, apertou o corpo nu do Bryn contra o seu e lhe cobriu a boca com
a sua. Foi um beijo profundo, como se queria lhe tirar a alma, como se se bebesse tudo seus protestos. Beijou-a até que as pernas dela se dobraram. Estava tremendo,
cega, arranca-rabo a sua túnica, e percebia o acelerado palpitar do coração do Kahlil-. O sinto -murmurou, elevando a cabeça, os olhos cheios de uma indecifrável
dor que não podia articular-. Tenho que fazer isto por meu país e por minha gente. Não há outro caminho.
Tinha o corpo morno, musculoso. Bryn sentia seu calor e sua força junto a ela, e recordou como era quando se deitava com ele e o amava e ele a amava.
-Se tenta apartar o de mim -balbuciou- lutarei contra ti, cada segundo de cada hora de cada dia.
-E perderá.
-Minha única opção é lutar. Ele é toda minha esperança. Toda minha vida.
-Também a minha.
Capítulo 6
B
RYN não podia deixar de passear por seu quarto, revivendo uma e outra vez a cena do banho, embora tratava de esquecer a carícia de seus lábios contra os sua e a
força de seu corpo. Tinha-a beijado para castigá-la, mas seu beijo tinha sido tudo menos duro, suas carícias, tudo menos frite. Ela havia sentido como seu desejo
se acendia. Ainda a desejava, mas solo para vingar-se.
estremeceu-se, sobressaltada pela resposta de seu corpo ao dele, e pelo fato de que pudesse sentir tal atração por um homem que tirava a seu filho. Mas Kahlil não
era qualquer homem. Era seu marido, o pai do Ben.
O pai do Ben.
O que era o que tinha feito? Como tinha podido pensar que poderia ocultar o parentesco do Ben? Kahlil era um dos homens mais ricos e capitalistas do mundo. cedo
ou tarde o descobriria. Possivelmente não ao princípio, mas quando Ben fora maior, quereria saber algo sobre seu pai. Os filhos querem saber essas coisas, e têm
direito ou seja as.
Bryn se sentia culpado e preocupada. Estava segura de que Kahlil nunca faria mal ao Ben, pelo menos não intencionadamente. Mas poderia fazê-lo inconscientemente,
sem dar-se conta?
Sempre tinha sido difícil discutir com o Kahlil. Era inteligente, rápido, eloqüente. Esmagava as palavras dela, dava-lhe a volta a seus argumentos até que obtinha
que se contradissera e perdesse o fio.
Naquele momento, nem sequer queria discutir. Dava suas opiniões como feitos verdadeiros e esperava que ela se rendesse. Mas já não era a Idade Média, nem ela era
uma mulher educada em um harém.
Entendia o aborrecimento e a frustração do Kahlil. dava-se conta de que ele necessitava tempo para esclarecer seus sentimentos, mas não estava disposta a permitir
que lhe roubasse seus direitos.
Ben era o filho de ambos. Solo tinha três anos e embora era um menino preparado e aventureiro, também era muito sensível. Seguro que se perguntava onde estava sua
mãe e que estaria ansioso por vê-la.
Pensou que se Kahlil não lhe levava ao Ben, ela iria buscá-lo.
O palácio estava escuro. Silenciosa, e serena, Bryn passou nas pontas dos pés junto à cama da Lalia e saiu ao hall.
Deixou a zona das mulheres, passou sigilosamente pela sala de recepções e conseguiu chegar até a zona de convidados. Estava segura de que Kahlil tinha enviado ali
ao Ben. Não havia muitas possibilidades. A zona dos homens, a das mulheres, a dos convidados e a suíte privada do xeque.
Abriu com cuidado a primeira porta e olhou em uma quarto iluminada pela lua. A cama estava vazia. Fechou a porta sem fazer ruído e se dirigiu a seguinte. Repetiu
a operação. Quarto vazio e cama vazia.
Ao chegar à terceira porta sentiu um calafrio. Estava alerta e decidida, mas perambular às escondidas por palácio a assustava muito mais do que tinha pensado e por
um momento acreditou que a seguiam.
Ridículo. Todos dormiam. Ninguém se movia.
Bryn se armou de valor e abriu a porta. A quarto estava cheia de sombras, mas pôde discernir um vulto. Sentiu um movimento e seu instinto lhe disse que devia fugir.
acenderam-se umas luzes cegadoras e alguém a agarrou e a elevou por detrás.
- me solte! -começou a sacudir pés e mãos tratando de escapar-. me Deixe!
-te esteja aquieta Bryn, solo consegue piorar as coisas.
Sentiu que o estômago caía aos pés. Era a voz do Kahlil.
-Como... o que...?
-Detectores de movimento -lhe disse, interpretando o que ela balbuciava e arrastando-a por diante de um grupo de guardas apostados junto à porta-. Um sistema de
segurança muito avançado. Assim que saiu de seu quarto, minha câmara de vigilância ficou em marcha.
sentia-se humilhada. Ele a tinha visto ir nas pontas dos pés pelo palácio. Tinha-a vigiado enquanto olhava nas habitações.
- É um voyeurl
-E você vai por aí às escondidas -replicou contrariado. Bryn se fixou em que a túnica branca que levava estava entreabierta e se sentiu incomoda.
Seu aspecto era primitivo e muito masculino. Isso era precisamente o que a tinha atraído anos atrás.
- Não teria que ir às escondidas se me deixasse ver meu filho!
-Em toda minha vida não tinha conhecido a uma mulher tão desobediente.
-Lamento que tenha estado tão protegido, mas devo te dizer que há centenas, milhares, de mulheres muito mais difíceis que eu -Bryn deu um puxão tratando de escapar-.
Deixe ir!
-Nem pensar -a balançou entre seus braços e a estreitou com firmeza contra seu peito-. Não poderia dormir contigo passeando por palácio e meus guardas não poderão
descansar se te deixo em sua habitação. Ficará comigo esta noite, e te prometo que não irá a nenhuma parte.
Kahlil fechou a porta com o pé e as velas da estadia piscaram com o ar. Ela se estremeceu. Parecia-lhe que tinha retrocedido no tempo.
-Velas?
-Dão mais tranqüilidade -a deixou cair sobre a cama, enrugando a colcha de veludo azul.
Bryn pensou que estava metida em uma boa confusão. Kahlil nunca lhe faria mal, podia lhe confiar sua vida, mas estar a sós com ele era muito perigoso. Não poderia
resistir seu calor, nem sua força. Bryn tragou saliva.
-O que pensa fazer?
-te encerrar.
O coração lhe deu um tombo de dor.
-Digo-o a sério.
-Eu também -a olhou de forma estranha enquanto tirava do armário uma caixa de madeira lavrada-. As esposa s fugitivas são muitos malotes para a reputação.
Ela olhou a caixa e logo a ele. Era óbvio que estava assustada.
-O que é isso?
-Instrumentos de meu prazer.
-Muito gracioso -olhava fixamente os estranhos desenhos lavrados na tampa da caixa: serpentes ao redor de uma árvore, pombas em uma parra, os membros de um homem
e uma mulher enlaçados... Não era uma caixa inocente. Não era um homem inocente.
-Crie que estou brincando?
Talvez não. Ele não era muito dado às brincadeiras. Abriu a caixa, revelando o conteúdo.
Ouro reluzente sobre veludo vermelho.
Bryn piscou. Via umas bandas douradas e uns braceletes. Alarmada, o coração lhe deu um tombo. O que era o que via? Quais eram os planos do Kahlil?
Quando ele se inclinou para tirar o conteúdo da caixa, sua túnica se abriu revelando a dureza de seu peito, os músculos tensos sob a brilhante pele. Ao Bryn chegou
o aroma de sândalo, exótico, forte, erótico que ele despedia. Sentiu que o sangue lhe ardia, seu corpo ansioso pelo dele.
Mas o desejo que sentia se apagou assim que Kahlil abriu um dos braceletes de ouro e o fechou ao redor da boneca.
-Está-me pondo esposa s? -indignada, elevou o tom de sua voz.
-Faço o que devo fazer.
-Isto é inaceitável, Kahlil, inclusive provindo de ti -tentou escapar do bracelete, mas estava bem apertado, o suficiente para lhe recordar que estava apanhada.
Estava furiosa. Voltou a sacudir o braço. A maldita esposa devia pesar ao redor de um quilograma.
-Tinha que frear suas vontades de vagar por aí.
- Só queria ver o Ben.
-E eu já te disse que não. Que parte de "não" é a que não entende?-sem nenhum remorso, abriu a outra esposa.
Ao Bryn lhe saltaram as lágrimas, lágrimas de vergonha e de raiva.
-A parte em que você me diz que salte e esperas que te obedeça - estirou com força da cadeia mas não conseguiu tirar a Desfruta humilhando às mulheres?
-Claro que não, mas eu gosto de estar tranqüilo, e você, mulher, não me deixa -fechou a segunda esposa em sua própria boneca.
Bryn ficou surpreendida. Esperava que a atasse à cama, mas não a ele. ficou olhando a cadeia de ouro de um metro que os unia. Atada, apanhada, prisioneira dele.
Poderia haver um castigo pior?
- Não irás deixar me passar a noite atada como se fora um criminoso!
-Tem sorte de que não te fizesse prender. Várias vezes estive a ponto de fazê-lo.
-Não infringi nenhuma lei.
-Nenhuma? Ao menos meia dúzia. E nossos juizes, lhe teriam tratado com dureza. Não são muito amáveis com as mulheres rebeldes.
- Pois me mande ao cárcere e depois explícaselo ao Ben!
-Não teria por que lhe dizer ao Ben que estava prisioneira. lhe dizendo que tinha decidido partir... Queria ir a casa e o fez...
-Deixando-o aqui, sem mim?
Kahlil se encolheu de ombros, apertou a segunda esposa e atirou da pesada cadeia. Bryn caiu de bruces, a mercê de qualquer capricho do Kahlil.
-As mamas são humano e cometem enganos. Trocam de opinião. Sempre fogem de suas responsabilidades.
-Eu não.
Ele voltou a encolher-se de ombros.
-Para falar a verdade, Bryn, não me importa nada. Não dormi durante quarenta e oito horas, cruzei o Atlântico duas vezes, salvei-te que um matrimônio imprudente,
tenho descoberto a meu filho. Estou muito cansado e só quero dormir.
- Eu preferiria que jogassem a um poço cheio de víboras!
Kahlil arqueou as sobrancelhas.
-Que melodramático, inclusive provindo de ti. Ela tentou trocar de estratégia e pôs uma voz mais doce. Tinha que fazê-lo raciocinar.
-Kahlil, sabe que tenho o sonho ligeiro. Assim, como vou poder descansar?
-Isso é teu problema e não meu. Deveria ter pensado nas conseqüências antes de escapar do harém. Mas o fato, feito está e agora vamos deitar nos.
-Não vou deitar me contigo.
-Bryn, está acabando com minha paciência. Não vê que estou fazendo todo o possível para te cuidar? Ela atirou com fúria da cadeia que os atava.
-Crie seriamente que assim me está cuidando? Não é apto para ser pai!
A expressão dele se obscureceu, suas facções se fizeram mais duras e frite. Bryn havia meio doido um ponto sensível!
-Se quer viver para ver o dia de amanhã, eu de ti me deitaria e ficaria muito, muito calada. Estou cansado de que te burle de mim. Eu preciso dormir. Você necessita
que lhe vigiem. Sinto muito lombriga obrigado a te tratar como se fosse um animal de granja, mas esta é a única solução que me ocorre.
- Um animal de granja! Mostrarei-te um animal de granja... -deu um estirão muito forte da cadeia mas o braço dele nem se moveu. Ele nem sequer se alterou. Ela estirou
de novo, com todas suas forças, tratando de lhe fazer perder o equilíbrio, mas Kahlil ficou imóvel, com uma sonrisita zombadora. Malditas sua estatura e suas largas
costas. Malditas suas sólidas coxas e seus músculos, sua pele, e esse incrível aroma a especiarias-. Odeio!
Ele sorriu.
-É um sentimento recíproco, querida. Ou seja que te deite e assim evitaremos outra escenita -apartou a colcha de veludo e virtualmente a lançou sobre os lençóis
de cetim dourado.
Então se despiu. despiu-se! tirou-se as calças brancas de algodão e a túnica deixando ver a estreiteza de seu quadril.
A cadeia de ouro que os unia tilintou quando se tendeu ao lado do Bryn.
-Tem que dormir nu? -repreendeu Bryn tentando apagar de sua mente a imagem do corpo que ^acía junto a ela.
Ele se deu a volta e o lençol o desentupiu até a cintura fazendo ressaltar o peito e os ombros.
-Estamos casados. Isto é quão mínimo vai haver quanto a sexo se refere.
A ela lhe acenderam as bochechas.
-E as velas? Não pensa as apagar?
-Esta noite não. vou necessitar as para te manter vigiada. Além disso, acabarão-se apagando sozinhas. Perto do amanhecer -estirou uma mão e lhe acariciou uma mecha
de cabelo-. Ah, Bryn, não poderá romper a cadeia, ou seja que não o tente. Solo conseguirá esbanjar suas energias.
Ainda surpreendida e indignada de que a tivesse esposa do, Bryn olhou a cadeia, pensando em que tipo de homem era capaz de esposa r a uma mulher. Solo um homem da
Idade Média. Kahlil era esse tipo de homem. Um homem sem nada de pudor. Como era capaz de meter-se na cama nu? O lençol de cetim mostrava muito mais do que escondia.
-Se for assim como cria que vais conquistar me de novo, está muito equivocado.
Ele elevou os ombros com indiferença.
-Não preciso te conquistar. Já sou seu dono -a voltou a tocar, deixando que a ponta de um dedo escorregasse por seu ombro quente. Bryn sentiu como o desejo se apoderava
dela e uma quebra de onda de calor lhe subiu entre as coxas-. Três anos. Esperei-te três anos -continuou-. Não pensará que agora vou deixar te escapar?
-O amar a alguém não tem nada que ver sendo seu dono.
A ponta de seu dedo alcançou um de seus seios e lhe rodeou o mamilo.
-Quem falou que amor? Eu sozinho penso na desforra -lhe beliscou o mamilo e ela gemeu-. Agora, durma. Estou cansado. Fez que este dia fora muito comprido -assim
que disse isso, deu-se meia volta e fechou os olhos. Em poucos minutos, estava dormido de verdade.
Bryn estirou as pernas. Tinha o corpo dolorido e tremente. Cada um de seus músculos estava tenso e insatisfeito. Havia um inferno especial para os homens como Kahlil,
e Bryn desejou que seu marido fora ali.
Mais tarde, invadiu-a um calor delicioso e pecador. Não queria perder-se esse prazer, por isso não se moveu. sentia-se muito bem, e tinha o corpo vivo e sensível.
"Dormir ou sonhar?" perguntou-se enquanto cedia ao calor e ao prazer, sem querer abrir os olhos por temor de que se desvanecesse.
Sentiu que umas mãos acariciavam sua cintura, logo seus seios e um joelho que lhe separava as coxas. Não era um sonho. Recordou imediatamente onde estava e com quem
estava e abrindo os olhos tropeçou com o olhar dourado do Kahlil.
As velas estavam quase extintas e apenas se distinguia a cara do Kahlil entre as sombras. Apertou-lhe um seio, lhe roçando o mamilo e ela abriu os lábios, primeiro
para protestar, mas logo, para suspirar. Indefesa, arqueou as costas e seu corpo despertou. ficou olhando a boca dele, desejando que a beijasse, desejando a pressão
de seus lábios contra os dela. Kahlil trocou de postura e apartou o lençol de uma patada, colocando sua coxa, nu e forte, entre as pernas dela, as separando e movendo-se
entre suas coxas. A camisola lhe enredou na cintura. Não desejava outra coisa que lhe rodear o pescoço com seus braços e beijá-lo. Ansiava sua boca, sua língua,
seu tato. Mas em lugar de beijá-la na boca, procurou as partes sensitivas de seu pescoço, lugares que solo lhe respondiam. Com a língua, fez-lhe círculos ao redor
da orelha e o pescoço, e ela começou a respirar muito mais depressa. A cabeça lhe dava voltas de prazer. Bryn conseguiu lhe rodear os ombros com os braços. Eram
uns ombros fortes e largos e se agarrou a eles como se estivesse afogando-se. depois de tanto tempo sem fazer o amor, o estar perto dele desencadeou uns sentimentos
tão fortes que não eram sozinho fruto do desejo físico. Necessitava-o, precisava ser parte dele, ser amada por ele da forma que solo ele podia amá-la.
-Está ardendo -lhe sussurrou.
-Necessito-te -ele não necessitou mais.
Impaciente, arrancou-lhe a roupa interior e deslizou a palma da mão pelo interior de suas coxas, despertando mil sensações. Cada lugar que ele tocava se incendiava,
e a pele do Bryn alternava entre um calor e um frio intenso. Tremia esperando sentir suas mãos, sabendo que a acariciaria no mais íntimo e que quando o fizesse,
seria algo muito intenso. Por fim seus dedos lhe apertaram o púbis antes de abri-la para sentir sua úmida suavidade. Bryn, nervosa, tinha o corpo tenso. Estava tão
excitada que a suavidade das carícias lhe parecia uma deliciosa tortura.
-Por favor..., por favor... -implorou, sem poder articular outras palavras. Estava ofuscada e não podia pensar. Tudo o que sabia era que teria esperado uma eternidade
com tal de estar com ele, que tinha sonhado com ele e com o que estava acontecendo, noite detrás noite, ano detrás ano. E, nesse momento, estava com ele e não era
ainda parte dele.
-Kahlil...
-Tenha paciência -lhe respondeu, soltando-a e apertando-a uma e outra vez.
Bryn o abraçava, tratava de alcançar sua boca, como se fora a derreter-se, fundir-se com ele. Sentiu que ele se endurecia, cada vez mais ardente e que seu corpo
ficava tenso. Sorriu para seus adentros, sentindo sua pequena parcela de poder, e o beijou no peito, logo em um mamilo, fazendo-o rabiar com a língua. Sentiu a fragrância
que despedia sua pele. Seguiu lhe sugando o mamilo até que o ouviu gemer. E ao ver que ele se consumia de paixão, e que ansiava unir-se a ela, sentiu-se feliz.
O prazer dele nutria ao dela, lhe disparando sensações que percorriam todo seu corpo, do peito até o ventre. Necessitava que ele estivesse dentro dela. Bryn o agarrou
pelos ombros e o atraiu para si. Sentia seu membro ereto junto às dobras mais íntimas.
-Agora, Kahlil, por favor...
Ele se moveu lhe separando mais as coxas. A cadeia de ouro não cessava de tilintar lhes recordando os laços amargos que existiam entre eles.
Kahlil ficou sério e entrecerró os olhos e a boca. Bryn podia sentir a tensão do corpo dele, mas também se dava conta de que ele tomaria, mas que não a amava.
Mesmo assim, desejava-o.
Agarrou-a por detrás e lhe elevou os quadris antes de penetrá-la. Isso não era fazer o amor por amor, a não ser uma demonstração de posse. Com cada empurrão a estava
marcando como dela. Enchia-a por completo, tinha o corpo tenro, brando, preparado para recebê-lo. sentia-se como se fora virgem, sem experiência, afligida pelo vigor
e a paixão dele.
Não podia tomar fôlego, nem lhe sujeitar os ombros, nem lhe beijar os lábios. Estava-a tomando a sua maneira, enchendo-a, dominando-a e ela se estremecia cada vez
que balançava os quadris contra ela, cada empurrão lhe parecia mais cru, intenso, e poderoso que o anterior. sentia-se viva, possivelmente muito. A pele, os ossos,
os músculos se apertavam, concentravam-se. de repente foi muito forte para ela, muito real. A emoção que sentia era muito forte e se abandonou por completo.
Kahlil se arqueou dentro dela, esforçando-se. Com o último impulso perdeu o controle. Teria gritado se Kahlil não lhe tivesse abafado a boca com a sua, lhe absorvendo
toda a doçura e o prazer.
Estava perdida por completo, atravessava-a um calafrio atrás de outro, os olhos lhe enchiam de lágrimas. Tinha-o desejado, tinha-o necessitado..., pensou que sempre
o necessitaria e que nunca poderia lhe negar nada, nem sequer o coração.
Kahlil suspirou com um suspiro de exasperação enquanto a rodeava com seus braços. Não pronunciou nenhuma palavra nem tampouco a voltou a acariciar.
Ao Bryn, as lágrimas lhe queimavam os olhos e smordió os lábios tratando de conservar o pouco que ficava de seu orgulho. Antes, faziam o amor muitas vezes, mas nunca
se havia sentido tão vazia depois, nem tão nua, nem tão se desesperada.
Lhe teria gostado de atirar do lençol e tampar-se, ou esconder-se em um rincão, mas a algema lhe machucava a boneca e lhe recordava que estava atada a ele.
CAPITULO 7
L
Ou de ontem à noite foi um equívoco -de costas a ela, Kahlil nem sequer a olhava-. Não pode acontecer outra vez não acontecerá. a partir de agora dormirá nas habitações
do harém, embora tenha que te encadear ao suelo.Haber feito o amor só tinha servido para aumentar a tensão entre eles. Ele estava que jogava faíscas de raiva.
-Não tem que me encadear ao chão. Tem ao Ben. Não irei a nenhuma parte.
-Como se pudesse confiar no que você diz...
Bryn passou por cima seu desprezo, controlando no possível seus próprios sentimentos. Tinha sido doloroso estar na cama
do Kahlil a noite passada. deu-se conta muito tarde de que seu coração não se endureceu o suficiente, e sentia um grande vazio. Se isso era amor, podia viver sem
ele
-Não confia em mim, mas faz o amor comigo.
-me desculpe, perdi o controle. Farei o possível para que não volte a acontecer.
Se tentava feri-la, estava-o conseguindo. Não tinha tido bastante encadeando-a. Tinha que rebaixá-la, humilhá-la, depois de compartilhar o ato mais íntimo de todos.
Sentia uma grande dor no coração. O ódio que ele sentia era muito profundo.
-Pois eu não vou desculpar me. O que ocorreu entre nós foi muito belo.
-Só foi sexo.
As bochechas lhe ardiam, o coração lhe afundava. Não ia retroceder. Não ia deixar que ele convertesse o amor da noite passada em algo feio e sórdido. Ela tinha participado
de boa vontade e ele também.
-Então foi bom sexo, muito bom sexo. Ele a olhou por cima do ombro, fazendo uma careta.
-Fala em meu nome ou só no teu? sentiu-se avermelhar. "Manten firme", pensou, "não lhe acurruques e te deixe morrer".
-por que não? Diz que ainda estamos casados, por que então não podemos nos entreter o um com o outro?
-Não encontro distração em me deitar contigo, só alívio.
Ela se tinha prometido não chorar e estava decidida a cumprir, mas lhe doía a dureza dele. Doía-lhe a mudança dele. Não podia deixar congeladas suas emoções. Não
depois de que lhe tivesse feito recordar como tinham sido as coisas no passado.
Anos atrás, quando faziam o amor, lhe sussurrava coisas carinhosas em seu idioma. "Doce flor do jardim, a estrela mais bela da noite, tesouro do deserto..." Já não.
Seu ódio era evidente.
Se não fora pelo Ben, teria fugido de sua ira. Mas não podia. Tinha que ganhá-la confiança do Kahlil e a custódia do Ben. Ben necessitava a seu papai, e ela também
necessitava ao Kahlil.
Bryn passou da dor à ação. Pensou que faria o que tinha que fazer. Seu matrimônio ia funcionar, passasse o que pasara.Sin remorsos. Sem volta atrás.
-me diga o que é o que quer de mim. Farei o que deseje. Serei tal como queira que seja.
-Vá mudança de atitude...
-Estou convencida.
-Faz-o por mim?
-E por meu filho.
-Ah, seu filho... -seu sorriso era zombador, seus olhos de gelo-. Me perguntava quando foste tirar o tema de novo. Isso que diz não é por mim, verdade? É por ti,
por te sair com a tua.
-Eu sozinho quero ver o Ben, embora solo seja por uns minutos.
-Não está em situação de exigir.
-Sei. Estou preparada para negociar.
-Negociar ou implorar?
-Ambas as coisas -respondeu cansada-. Farei algo por vê-lo.
-Algo?
A frieza de sua voz fez que ficasse sem fôlego, mas se manteve firme. Sabia que ele ia empurrar a até o abismo.
-Algo -se agarrava a sua decisão. Era tudo o que ficava-. Aceitarei qualquer castigo que queira me dar e te servirei em algo que deseje, sempre que me
deixe ver meu filho. Logo.
-Já veremos.
-Quer dizer que poderei vê-lo hoje, ou esta noite?
-Quero dizer que o estou pensando.
-Preciso me assegurar de que está bem.
-Está perfeito.
-Não sei o que quer dizer "perfeito".
-Pois eu sim, e te digo que está perfeito.
- Não é suficiente!
-Isso é tudo o que vais conseguir te assegurar.
Ela se estremeceu, doída. Ele não tinha conhecido ao Ben durante o tempo suficiente para saber a necessidade intensa e se desesperada que se tem de amar e proteger
a um filho. Todo o corpo do Bryn clamava por ver e estreitar ao Ben entre seus braços. Era um instinto primitivo, mas mais verdadeiro que nenhum outro.
-me diga o que quer que faça, Kahlil, e o farei.
-Não há nada que possa fazer.
-Não diga isso. Tem que haver alguma tarefa... me diga uma, pensemos em uma.
- Baraka! Para.
Bryn sentiu que perdia o controle, que seus sentimentos foram trair a.
-me deixe que o demonstre. me deixe te demonstrar que pode confiar em mim -se fincou de joelhos e juntou as mãos, implorando-. Te servirei e te obedecerei...
Kahlil a elevou e a pôs em pé, com tremendo desprezo nos olhos.
-Como posso te respeitar se insistir em te comportar como uma louca? Não me casei contigo para isso. Não quero uma mulher que não se possa controlar...
- É você quem rebaixou a isto! A rogar, implorar, mendigar... Sou tua. Não sou melhor que as donzelas de seu harém. Farei o que tenha que fazer para te agradar.
me lhe deixe demonstrar isso
Ele fez um gesto e tirou uns papéis de um bolso interior da túnica.
-Então assina isto e acabemos de uma vez. Ela apertou os punhos. Não se atrevia a tocar os papéis.
-O que são esses papéis?
-Documentos de divórcio. Sua voz a fez estremecer. O tom era frio e sem sentimento.
-Meu gabinete me aconselhou que siga adiante com o divórcio -continuou-. perdi a consideração de minha gente. Meus empregados e serventes sabem que não posso te
controlar. correu o rumor de sua deslealdade e já não há sítio aqui para ti -ela não respondeu porque tinha medo do que pudesse dizer. depois da noite passada, da
paixão desenfreada, saía com essas?
Ele se aproximou dela, movendo os papéis.
-É obvio que te passarei dinheiro.
Geada da cabeça aos pés, Bryn perguntou:
-E Ben? -sua voz soava como um sussurro de asas de mariposa.
-ficará comigo, claro. Assina-os -continuou Kahlil implacável- e pela tarde estará em um avião, caminho de sua casa. Livre.
Bryn sentiu que a cabeça lhe dava voltas.
-Não assinarei isso. Nunca.
-É o que mais te interessa.
-Não. É o que mais interessa a "ti". Que classe de mãe crie que sou? Crie que posso lhe dar as costas a meu filho?
-Arrumaríamos um regime de visitas.
-Não posso aceitar.
-Muitas mães o aceitam.
-Esta não. Nunca.
-O menino se adaptaria muito melhor do que você crie.
- "O menino" -ia explorar da raiva que sentia, das vontades de pegá-lo, física e mentalmente-. Não é "o menino". É Ben. Seu filho, meu filho, nosso filho. Não irei
daqui sem o Ben.
-E eu não o deixarei ir.
-Então, eu fico -tremente, agarrou os papéis de sua mão e os rompeu em mil pedaços antes de que ele pudesse detê-la-. Nunca me divorciarei de ti. Se quiser que fique,
terá que ficar comigo também. Formamos um só pacote, Kahlil. Ben e eu ficaremos juntos. Sempre.
Ela o tinha deixado sem fala. Era o melhor, porque algo que houvesse dito a teria feito saltar ao vazio.
Houve um comprido silencio. Quando Kahlil falou por fim, sua voz era tranqüila, quase pensativa.
-Sempre?
-Sim.
-Faria isso por seu filho?
Que pouco sabia sobre o poder do amor. Os papéis voaram pelo chão e quando ela elevou a cabeça, a luz do sol a cegou. Não podia vê-lo com claridade, mas sentia sua
presença, grande e poderosa.
-Morreria por ele. Sem pensá-lo.
-Tal que assim?
- Sem lugar a dúvidas. É isso o que quer que faça? Fazer o último sacrifício?
- Não, Por Deus! -Kahlil retrocedia, sua expressão se abrandava. Girou a cabeça para olhar para o jardim-. Terá que ver o que fomos e ao que chegamos! -sua voz era
sozinho um murmúrio e se abriu caminho até o coração do Bryn. "Terá que ver o que fomos e ao que chegamos!", repetiu ela para si O que ouvia eram remorsos? Era tristeza
o que via em seus olhos?
Lhe fez um nó na garganta e lhe saltaram as lágrimas. Kahlil lhe deu as costas.
-Acredito que será melhor que volte para suas habitações. Falaremos mais tarde, prometo-lhe isso.
O encontro não tinha resultado como ele o tinha planejado. Esperava lágrimas, acusações, mas não que ela implorasse. Que mendigasse a seus pés, ajoelhasse-se ante
ele e se oferecesse em sacrifício!
Ao Kahlil ardia o ventre, os olhos, o coração... Sentia fogo no peito e na cabeça. Em todas partes. Custava-lhe tragar e tinha um sabor azedo na boca. Não sentia
prazer por sua vitória, nem se alegrava pelo poder que tinha, sobre tudo depois do que tinha passado entre eles a noite antes. Ele a tinha desejado, precisava tocá-la,
saboreá-la, mas seu desejo lhe dava raiva.
Como podia querer a uma mulher em quem não podia confiar? Como podia desejá-la quando o tinha traído tanto em privado como em público e tinha quebrado todas as promessas
sagradas?
Essa manhã, tinha querido castigá-la, obrigá-la a render-se, mas solo tinha conseguido ficar ainda mais furioso. Mas sua fúria era contra si mesmo.
Bryn não era como as outras mulheres com as que tinha feito o amor. Desde o começo foi diferente, excitante, inocente, apaixonada, atrevida. Queria comer o mundo
e ele tinha tentado dar-lhe Mas tinha falhado.
Bateram na porta de sua habitação. Kahlil sabia que era Rifaat, sua ajuda de câmara, e o fez entrar.
-Os novos documentos -disse Rifaat, levando os papéis até o escritório do Kahlil-. Solo falta sua assinatura.
Perplexo, Kahlil olhou a pasta. Sabia o que tinham sugerido seus conselheiros, mas não estava seguro de poder levá-lo a cabo.
-Suponho que poderia obrigá-la a assinar.
Outra vez a força. Forçá-la a render-se, forçá-la a deitar-se com ele, forçá-la a romper. O uso e abuso de sua situação o enojava. por que a vingança não era mais
doce? por que não desfrutava de seu poder?
-Não deixará ao Ben -o ajuda de câmara não respondeu e Kahlil se aproximou da mesa para ler os documentos-. É melhor como mãe que como esposa - Rifaat continuou
mudo e Kahlil soltou os papéis sobre a mesa-. chegou já meu primo?
-Não.
-me avise quando chegar. boa noite.
-boa noite, meu Senhor.
Kahlil se acurrucó junto à canuta do quarto dos meninos e apartou os lençóis. O menino se moveu, colocando a manila debaixo de sua bochecha e acomodando-se sobre
o travesseiro.
"Pequeno, meu pequeno", pensou. As coisas não podiam continuar assim. Deveria haver um santuário para meninos, onde preservar sua inocência e sua ternura.
Possivelmente, se o tivessem protegido quando menino, teria sido um homem diferente, um líder distinto. Posou a mão sobre a cabeça de seu filho. O cabelo parecia
de seda, a pele morna. Podia sentir como respirava e a força inata que tinha.
"Proteger ao menino. Proteger sua vida", pensou.
Já mais acalmado, elevou ao menino entre seus braços. O menino pesava pouco mas significava muito.
ouviram-se passos na habitação do Bryn e ela levantou a cabeça esquadrinhando a escuridão, enquanto o coração lhe acelerava. Alguém se encaminhava para ela.
sentou-se na cama e se esfregou os olhos. Cheia de medo, lembrou-se de outra noite e de outro intruso.
-Bryn... -era Kahlil. A voz profunda de seu marido, em um inglês talhado e formal retumbava na escuridão-. Está acordada?
-Sim. O que acontece?
-Nada. Silêncio. Ainda está dormido. Não desperte.
De repente, deu-se conta. Kahlil lhe tinha levado ao Ben!
Kahlil o recostou sobre a cama junto a ela e o tampou com a colcha. Sem dizer nada, Bryn acariciou a morna bochecha do Ben. Era real. Estava ali.
encheu-se de ternura. Uma esperança turbadora.
-Muito obrigado -balbuciou, sem saber o que dizer-. Muitas, muito obrigado -sem dizer nada, Kahlil fez um gesto e se dirigiu para a porta-. Kahlil, isso o que quer
dizer? Sua voz o deteve.
-Não sei -ele vacilou e sua expressão se tornou reservada e sombria-. Talvez seja que acordemos uma trégua. Que não haja mais brigas. Ao menos, não por nosso filho.
Nunca mais.
-Nunca mais -assentiu ela-. Kahlil, dou-te de novo as obrigado. De verdade, de todo coração.
-Sei -ficou parado junto ao marco da porta, e a luz do corredor iluminava sua figura, alta e forte, e fazia reluzir o dourado de sua pele. Parecia o príncipe de
um conto medieval, tão formoso e tão sozinho. Bryn pensou que ele não tinha a ninguém desde que ela o tinha deixado-. boa noite, Bryn, desejo que durma bem.
-Agora sim poderei.
-Eu também.
Bryn acomodou ao Ben junto a ela mas demorou mais de uma hora em dormir. Mas seu sonho não foi tranqüilo porque não podia deixar de pensar no Kahlil. Ele não tinha
deixado de afetar cada instante de sua vida do momento em que seus automóveis se chocaram em Dallas, vários anos atrás.
Quando Kahlil desceu de seu carro de luxo, pronunciou palavras que ela não pôde captar, porque solo podia concentrar-se em sua cara e não no que dizia. Era como
se o conhecesse de antes, de uma vida anterior. Não podia deixar de olhá-lo, enfeitiçada pela simetria de sua frente, a curva dos maçãs do rosto, seu nariz aquilino...
Era o homem mais alucinante que tinha visto em toda sua vida. Parecia-lhe perfeito, como Valentino, o ator dos filmes antigos.
Kahlil estava assombrado de que ela, não só soubesse onde estava Tiva, mas sim de que tivesse passado os primeiros treze anos de sua vida no Oriente Médio, e a maior
parte, no deserto do Zwar. foram tomar se um café e o café se converteu em uma conversação de toda a noite.
Com uma sinceridade encantadora, lhe disse que não era como a maioria das mulheres de seu país. Bryn pensou que era um completo, mas logo soube que não. Suas diferenças
culturais os podiam levar a desastre, se ela não o impedia.
Kahlil a necessitava, mas nunca o diria. Não depois de que o tivesse traído. E o tinha traído, fazendo-se muito amiga do Amin, um homem árabe, nada menos que o primo
irmão do Kahlil! sentia-se insegura, não lhe bastava com que Kahlil a amasse. Necessitava provas constantes de seu amor.
Bryn atribuía sua insegurança à morte de seus pais na explosão do mercado, e ao shock cultural que sofreu ao mudar-se a casa de sua tia Rose no Texas. Mas a verdade
era que se havia sentido insegura toda sua vida. Nunca se sentiu bem com o estilo de vida nômade de seus pais, nem com sua capacidade para viver sem amigos e sem
pertences. Sempre quis ter um dormitório próprio, pintado de rosa, com cortinas, muitos bonecos e brinquedos e um armário cheio de sapatos e vestidos.
Em lugar disso, solo teve uma mochila, meia dúzia de vestidos estragados e um urso de peluche. Seus pais acreditavam que lhe inculcavam uns bons valores, fazendo-a
ver que as coisas materiais não importavam e que solo eram ataduras. Mas Bryn desejava essas ataduras e sentia falta da estabilidade de uma casa de verdade e de
uma escola, e o prazer de jogar na rua com outros meninos.
Seus pais riam de suas fantasias, lhe dizendo que era precisamente do que eles fugiam. Não desejavam uma vida normal.
Bryn tinha passado a maior parte de sua vida tratando de ser normal. Kahlil não o era, mas desejava quão mesmo ela: estabilidade, segurança, tradição e uma família.
Os dois desejavam ter filhos.
Bryn beijou ao Ben com ternura, cuidando de não despertá-lo. Estava agradecida de poder abraçá-lo de novo e se sentia aliviada por sua presença, mas não podia dormir.
Não, posto que não deixava de pensar no Kahlil.
Essa noite, pela primeira vez em muitos anos, tinha descoberto uma fissura na armadura do Kahlil, e em lugar de aproveitar-se para feri-lo, tinha desejado protegê-lo.
Proteger ao homem que tinha amado e que ainda amava.
Sentiu um torvelinho de emoções, uma mescla de ternura, indulgência e remorsos. Ela e Kahlil tinham estado tão unidos, tão cheios de amor e de esperança... perguntou-se
se alguma vez poderiam está-lo de novo.
Bryn se deslizou fora da cama, deixando ao Ben aninhado entre os travesseiros e chamou a sua donzela. Explicou-lhe que necessitava que a levasse ante o Kahlil imediatamente.
Ele estava na cama, dormido. Rifaat lhe abriu a porta, lhe permitindo acessar aonde foram negar se o tudo.
Bryn não se parou a pensar. Solo tinha seguido um impulso que a levava até a quarto dele.
Kahlil se incorporou e o coração dela se acelerou ao ver que o lençol lhe caía até a cintura. Estava muito atrativo e sensual. Muito masculino e viril.
Não era como Stan.
Não era como nenhum outro homem dos que tinha conhecido.
Os olhos dourados do Kahlil se encontraram com os dela.
-Sim? -quando seus olhares se cruzaram, deu-lhe um tombo o coração. Seus olhos a desarmaram. Solo queria ir para ele, lhe rogar que a perdoasse, lhe rogar que a
amasse. Mas ficou imóvel ao sentir o abismo que os separava, um abismo de secretos, desconfiança, enganos e temor-. O que quer?
-A ti -Kahlil franziu o cenho, mas separou os lençóis, lhe fazendo um oco junto a ele. Era o mesmo que ela tinha feito antes para o Ben. precipitou-se sobre a cama
e se afundou entre seus braços-. Kahlil!
Ele a fez calar com seus lábios.
-Não -sussurrou-, não fale. Não confio nas palavras.
Beijou-a na boca e lhe aproximou, lhe roçando a ponta dos seios e apertando seu quadril contra o ventre dela. O corpo dela se converteu em puro fogo e ânsia. Solo
um nome podia acalmar esse ardor febril, e esse homem era seu primeiro e último amor. Kahlil.
Capítulo 8
CON a pele úmida ainda, saciada, por fim, Bryn elevou a vista para o Kahlil, esperando que lhe falasse. Por seu olhar e a tensão em sua boca, sabia que estava pensando
em algo.
Não ia insistir. Era melhor lhe dar tempo. E se sentia tão relaxada...
Kahlil estirou a mão e lhe aconteceu a palma por cima do ventre, percorrendo costela a costela até alcançar um de seus seios.
-O que disse ontem sobre ficar, dizia-o a sério? -ela olhou a mão dele sobre seu peito, e sentiu de novo ressurgir o ardor em seu ventre e entre suas coxas, mas
de uma vez sentiu temor pelas palavras do Kahlil-.Bryn?
Ele ainda desejava mandá-la a casa. Inclusive depois do ato mais íntimo que um homem e uma mulher podem fazer juntos.
Ela fechou os olhos.
-Não irei, se for isso o que me pergunta.
-É isso o que te pergunto? -apartou o lençol com o pé deixando ambos os corpos à vista. Seu corpo era duro por toda parte, o peito forte, os quadris estreitos e
as pernas muito musculosas. Era tão forte... Bryn podia reconhecer nele ao soldado. Tinha servido durante seis anos no exército do Zwar. Todos os homens serviam
a seu país. Ben também teria que fazê-lo.
-Acaso não o é? -replicou ela, sem dar-se conta de que ficava à defensiva, negando o desejo que sentia por senti-lo de novo, por gostar de seu sabor e fazer o amor
uma vez mais.
Ele a fazia sentir muito delicada e adorava sua destreza ao fazer o amor. Mas essa não era a questão. perguntava-se como podia ter pensado no Kahlil de outro modo
que não fora como adversário. Uma trégua, claro! Ele estava tentando lhe tirar a custódia do Ben.
-Ben e eu ficamos juntos. Sempre.
-Não há divórcio?
-Nem pensar.
Bruscamente, Kahlil se inclinou sobre ela e lhe sugou um mamilo. Ela sentiu como se a percorressem mil flechas e gemeu protestando.
Kahlil levantou a cabeça e sorriu satisfeito. Desfrutava ao ver o poder que exercia sobre ela.
-Ou seja que não tem nenhum inconveniente em renovar nossas promessas?
"Renovar promessas". Bryn se sobressaltou, e atirou do lençol para proteger-se.
-Renovar promessas... como casar-se de novo?
Lhe apartou a mão do lençol.
-Deixa-a. Eu gosto de verte assim.
-Nua não posso pensar.
-Claro que pode. te concentre -seu olhar se fez pensativa-. Nos casamos em um tribunal americano. Agora o faremos aqui. Uma cerimônia árabe tradicional.
Casar-se com o Kahlil outra vez?, pensou ela. A cabeça lhe dava voltas e o corpo lhe pesava.
Voltar a ter o amor do Kahlil, sentir a força e ânsia de sua paixão, não uma vez, a não ser uma e outra vez, voltar para seu coração, a seus braços, seu...
Mas não lhe estava declarando seu amor. Ela não voltaria a ser a amada esposa , a não ser um objeto de sua propriedade. Isso era parte de seu domínio, de sua necessidade
de controlar.
E o que? Uma vocecita a desafiava desde seu interior. O que importava? Estaria com ele, seriam uma família. Ben teria o que queria e Bryn estaria de novo com o Kahlil.
Acaso não era isso o que ela ansiava?
Não havia razão para que não pudesse voltar a funcionar. Tinha sido maravilhoso ao princípio. Igual a estar no céu, mas logo... tinha sido um inferno.
ouviu-se soar um relógio e ela sentiu o peso do tempo passado. Os últimos três anos tinham sido tão largos, tão difíceis... Não podia imaginar-se voltando para esse
tipo de vida uma vez mais.
-Se alguma vez estivemos divorciados, por que temos que renovar nossas promessas?
Ele agarrou um cabelo solto de seu ombro e o deixou passar entre os dedos.
-Seria como uma amostra de fé.
Um roce tão íntimo, a facilidade com que a tocava, criavam um desejo enorme dentro do Bryn. Pensou que se lhe voltasse a tocar a bochecha, um seio, o ventre, ou
as coxas, derreteria-se. Tomou fôlego, aniquilada pela intensidade de seu desejo.
-É pelo bem do Ben? -perguntou, derretendo-se por dentro.
-Do Ben e de meu povo -seu povo, mas não ela. Nunca ela.
Doía-lhe, mas era melhor que fora sincero e não lhe criasse falsas ilusões. Desse modo sabia qual era sua situação. Essa vez não era porque a amasse, mas sim por
obrigação. Não era a jóia de sua coroa, a não ser a mãe de seu filho.
Kahlil lhe elevou o queixo, obrigando-a a olhá-lo.
-Tem algo contra te voltar para casar comigo?
-Não -só podia ver a cara do Kahlil. Seus olhares se encontraram e ficou hipnotizada pela determinação que via em seus olhos. Despedia intensidade e convicção. Fascinava
a sua mente e ofuscava seu coração.
-Tem que estar segura por completo, Bryn. Não posso tolerar outra vez que minha esposa me abandone - lhe roçou os lábios com os sua e ela se estremeceu-. O que diz?
-murmurou, lhe pondo a palma da mão na garganta. Ela apertou seus lábios trementes contra os dele. Sua mente não podia reter as palavras. Seu cérebro tinha cedido
por completo ao desejo.
A boca dele, firme e controlada, roçou-lhe os lábios, mas se separou um pouco.
-Necessito uma resposta, Bryn.
Ela fechou os olhos e se aproximou dele.
-Sim.
-Casará-te comigo outra vez?
-Sim.
Quando voltaram a fazer o amor, foi com tal veemência e paixão, que quase arderam vivos. Nada importava, pensou Bryn, nada exceto eles e esse momento que viviam.
Ela retornou a seu quarto pouco antes do amanhecer, com os sentidos saciados e o coração ao vermelho vivo. Ao abrir a porta e ver o Ben dormido, pensou que estava
equivocada e que havia coisas mais importantes que fazer o amor com o Kahlil.
Por exemplo, Ben.
E recuperar o amor do Kahlil.
Todo o amor do mundo não era suficiente para apagar a solidão que sentia. Kahlil a havia meio doido, saboreado, tomado apaixonadamente, mas a indiferença de sua
expressão não tinha feito mais que acrescentar o vazio que sentia Bryn em seu coração.
Se ele tivesse pronunciado uma só palavra de afeto, se tivesse dado uma só amostra de sentimentos mais profundos..., mas mantinha ocultas suas emoções e só compartilhava
com ela a pele.
O corpo dele. O corpo dela. Ele fazia todo o possível para reduzir a relação a puro sexo.
Bryn fechou os olhos e se apoiou contra a porta. Suspirou fundo. Queria ao Kahlil, mas tinha que ser como antes. Queria que Kahlil a amasse. E ele não a amava.
Temia cada vez mais que ele não voltasse a amá-la nunca. Mas não ia deixar se levar pelo pânico. Não ia deixar que nem Ben nem ela caíssem em um caos emocional.
Tinha fugido uma vez de seus temores, mas não o voltaria a fazer.
Quando Ben despertou, Bryn já se banhou e vestido. Não pôde menos que chorar ao ver a alegria do menino ao vê-la. Ele se agarrou a seu pescoço e se abraçaram, em
um abraço tão apertado que Bryn quase não podia respirar.
-Quero a meu mami. Mami, quero-te.
-Eu a ti também e te joguei muito de menos -o beijou na frente, a boca, a ponta do nariz-. Como está? O que estiveste fazendo?
Ele relatou todas suas atividades, conversando sem parar enquanto o vestia e durante o café da manhã. Contou-lhe que tinha visto perritos, trens em miniatura, primos,
futebol e jogos de cartas. Que tinha comido muito. Tinha visto filmes em vídeo, e inclusive tinha montado em um poni negro precioso.
-Fez todo isso em só dois dias? -perguntou Bryn, desfrutando de cada coisa que lhe dizia.
entretiveram-se muito momento no pátio até que se ouviram passos no corredor. Bryn pensou que seria Laila com o café, mas resultou ser um homem moreno e bonito como
Kahlil, mas menos alto, vestido com um elegante traje cinza, camisa e gravata. deteve-se frente a Bryn e a saudou. Era Amin.
-Olá, preciosa.
Bryn ficou sem forças. Tentou levantar-se, mas não pôde.
-O que está fazendo aqui?
-É essa a bem-vinda que me dá depois de tantos anos?
Amin se meteu a mão no bolso, inclinando a cabeça. Seu cabelo, negro e curto acentuava sua beleza varonil. Tinha as facções perfeitas como os artistas de cinema.
Era mais bonito que Kahlil. Mas sua elegância e esmero repeliam ao Bryn. Seu belo aspecto escondia o coração de uma serpente.
-Não tem por que estar aqui.
-Mas vivo aqui -sorriu com um sorriso duro e inexpressivo.
-Não nesta parte do palácio. Estas são minhas habitações privadas, uma parte da zona das mulheres -mas isso não o tinha detido a vez anterior.
A cara do Amin se enrugou em um gesto. Levantou uma mão assinalando ao sol e ao céu.
-Estamos no exterior e tudo isto pertence ao Alá.
Bryn conseguiu reunir forças para ficar em pé e olhando para o Ben que perseguia um bichito debaixo da mesa, replicou:
-Então iremos dentro.
-Surpreende-me que não fique mais contente de lombriga. Temos... assuntos pendentes.
Ela ficou tensa, fixando o olhar no Ben.
-Não há nenhum assunto pendente entre nós, e não permitirei que me arruíne a vida outra vez.
Amin olhou para onde ela olhava e se fixou no Ben.
-Um menino muito formoso. parece-se comigo. Bryn perdeu a respiração. Não podia acreditar que Amin tivesse a desfarçatez de dizer isso.
-Eu não vejo o parecido.
Mas Amin tinha agarrado ao Ben pelos ombros e o tinha posto de pé. O coração do Bryn deu um tombo. Lhe punha a carne de galinha ao ver que Amin punha as mãos sobre
seu filho.
-O parecido está nos olhos -disse Amin lhe elevando a cara ao menino com brutalidade-. O nariz e a boca são como as minhas. Poderia ser meu, verdade?
"Contra o fogo se luta com fogo", pensou Bryn, resistindo o impulso de agarrar ao Ben e sair correndo.
-É natural que veja parecidos -agarrou ao Ben e o atraiu para si, separando o do Amin e protegendo-o com seus braços-. Como primo irmano do xeque ao-Assad, tem muitas
das características familiares.
-Sim, sua primo irmano -os olhos do Amin brilharam como o gelo-. Que afortunados somos de nos ter o um ao outro.
-Mais afortunado do que te merece.
-Não deveria usar esse tom comigo -balbuciou, sentando-se frente à cadeira que ela acabava de deixar. Estirou as pernas e cruzou os braços detrás da cabeça, ensinando
seu relógio de ouro-. Deduzo que nunca lhe falou de nós.
-Não há nenhum "nós" -respondeu ela, cortante. E nunca o houve.
-Querida Bryn, como pode dizer isso? Estivemos muito unidos -franziu a boca e arqueou as sobrancelhas sugerentemente-. "Muito, muito" unidos.
-Nem tanto.
-Convidou a seu quarto.
Tinha-o feito, mas não desse modo. Não era como ele o estava sugiriendo. Com mão tremente alcançou ao Ben. Precisava tocá-lo para encontrar forças.
-Você sabe que solo queria falar.
-Sei?
Bryn se sentiu doente, pensando que esse pesadelo nunca terminaria. Amin era malvado, muito malvado, e ela não sabia como lutar contra ele.
-vou levar a meu filho dentro -agarrou a mão do Ben e a apertou muito forte, temendo por ele, pelo Kahlil e por ela, e pensando que se não punha remédio, Amin o
destruiria tudo uma vez mais.
-Querida, pode correr, mas não pode te esconder -o acento inglês perfeito da voz do Amin a perseguia-. retornei e estou à espera.
Bryn entrou em seu quarto com o Ben e fechou a porta com chave, antes de se desabar no chão e tampá-la cara com as mãos. Sentia frio e calor, sentia-se terrivelmente
doente. "Por favor, Deus, não deixe que me volte a fazer o mesmo", pensou.
Umas manitas lhe apartaram as mãos da cara.
-Mami...
Bryn ouviu sua voz e viu sua cara mas sentia tal pânico que solo pôde esboçar um muito pequeno sorriso.
-Não passa nada, nenê.
Mas sim passava, e passava muito.
-Não pode entrar agora...
Bryn passou por diante do Rifaat, empurrando as portas da zona de palácio onde estavam os escritórios. Ordenadores, monitores em cor, telefones, faxes, arquivos,
câmaras de segurança. O escritório estava à última em equipamento.
Duas secretárias se assustaram e elevaram as cabeças, cobertas pelo chador, do teclado. Um terceiro empregado saiu de um despacho interior. Todos olhavam ao Bryn.
Não lhe importava.
-Onde está? -exigiu, passeando o olhar pelo tapete persa vermelho e as paredes e fixando-se em um quadro que descrevia a um guerreiro saqueando uma cidade ante o
pavor dos cidadãos.
-Tem uma conferência -respondeu Rifaat secamente, interpondo seu corpo entre ela e uma porta semiabierta. Foi desnecessário porque Kahlil, vestido a ocidental, apareceu
imediatamente.
-O que acontece? -perguntou com impaciência. Levava um telefone sem fio na mão.
-Bonito quadro -soprou furiosa contra Amin, Rifaat e Kahlil, todos eles. Tinha esquecido a política de palácio, a impossibilidade total de conseguir nada sendo mulher.
-interrompeste uma conferência da OPEC para falar do quadro?
-Não -respirou fundo, lhe fraquejando as forças-. Sua primo Amin tornou.
-Sim, sei, e me disse que te tinha visto no jardim esta manhã. Disse que conversaram uns minutos e que apresentou ao Ben. Há algum problema?
Da forma em que o descrevia, o encontro entre o Amin e ela parecia amistoso. Ele queria que parecesse amistoso. depois de tudo era sua primo, um de seus familiares
mais próximos.
-Não -ela vacilou-. Não estava segura de que soubesse que havia tornado.
- Então está contente? Ele me recordou que antes tinham sido muito bons amigos.
Ela se sentia doente. Amin já estava plantando sementes venenosas. Tentou pensar em algo que não o incriminasse. Não estava preparada para lhe falar com o Kahlil
sobre o ataque de que tinha sido vítima por parte do Amin. Precisava pensar em alguma maneira de compartilhar com o Kahlil suas próprias debilidades.
-Sim. Sempre é um prazer ver sua família. Solo que me tivesse gostado que fosse você quem apresentasse ao Ben.
-Jantaremos juntos esta noite e me assegurarei de que ele venha. Ben também. Então me cuidarei de apresentá-lo formalmente.
Voltou a soar a voz de alarme na cabeça do Bryn. Não queria expor ao Ben à presença do Amin. Podia dirigir ao Amin sempre que Ben não estivesse presente, submetido
aos jogos cruéis do Amin.
-Sei que você gosta de jantar tarde, muito tarde para um menino pequeno. O que te parece se solo jantamos os três? Melhor ainda, possivelmente você e Amin preferiria
jantar sozinhos.
-Os três -disse Kahlil com firmeza-. Sem ti, não seria uma celebração.
-O que vamos celebrar? -a ansiedade a tinha uma confusão feita.
-O estar juntos de novo. Como nos velhos tempos.
Lalia a penteou formando uma coroa com seus cachos dourados. ficou um vestido de seda branco apertado com um decote muito atrevido e a saia bordada com centenas
de miçangas.
-Parece uma rainha -disse Lalia com admiração, lhe entregando um espelho.
Mas na imagem, Bryn não viu uma rainha a não ser sua preocupação, suas olheiras, o cenho franzido e os lábios apertados.
Tinha meia hora até o momento de encontrar-se com o Kahlil em seu comilão, mas queria falar com ele antes de que aparecesse Amin.
Bryn se apresentou no dormitório do Kahlil sem avisar. Ao vê-la, ele se surpreendeu, mas não a fez sair. Entretanto, seu rosto se escureceu quando ela mencionou
que preferiria um jantar tranqüilo com ele, sem que Amin estivesse presente.
-Opõe-te a que esteja minha primo? -perguntou cortante, enquanto se apertava o cinturão.
-Estou muito mais cômoda contigo a sós -se envergonhava de não poder dizer as coisas claras. Queria lhe contar o do Amin, mas tinha que enfocar o assunto com cuidado.
Necessitava primeiro a confiança do Kahlil, e fortalecer o vínculo entre eles.
-Mas já o hei convidado. Seria de má educação tornar-se atrás. A menos, claro, que haja uma razão para que não venha -Kahlil ficou calado uns instantes-. Bryn?
Parecia uma espécie de prova. O que era o que Kahlil queria que dissesse?
-Só é que não me sinto muito sociável esta noite.
-Mas está preciosa.
O completo tinha segundas. Nervosa, Bryn tragou saliva. Algo não ia bem. Kahlil não parecia o mesmo homem. Ao menos não o mesmo com quem se despertou essa manhã.
-Amin estará já em caminho para o comilão. O que posso lhe dizer? -insistiu Kahlil-. Que troquei que opinião? Que preferiria um jantar íntimo com minha esposa em
lugar de jantar com ele?
-Você é o xeque -sussurrou ela. Ele não respondeu imediatamente e a olhou com a mesma desconfiança de antes.
-De acordo. Farei que lhe digam que você e eu vamos jantar sozinhos, mas não posso escapar por completo. Convidarei-o para dentro de uma hora, para que tome a sobremesa
e o café conosco.
Bryn pensou que isso era melhor que nada, e que possivelmente, durante essa hora poderia lhe contar ao Kahlil o que tinha passado fazia uns anos.
Cordeiro assado, pimientos e arroz com açafrão. A comida foi muito simples, mas deliciosa. Estavam sentados sobre almofadões, um frente ao outro, diante de uma mesa
baixa. Kahlil estava depravado, falava e contava anedotas, e preenchia uma e outra vez as taças com vinho tinjo de borgoña.
-Não mais -protestou ela rendo, quando ele se dispunha a lhe servir outra vez-, ou me verá fazendo tolices.
-Parece interessante -respondeu ele meio jogado sobre as almofadas-. Posso te sugerir alguma? Estou-me acordando de uma dança muito erótica que dançou para mim faz
tempo. Se lembrança bem, tinha que te tirar a roupa pouco a pouco.
Ela se ruborizou.
-Não acredito que seja muito boa idéia, sobre tudo posto que virá sua primo -para ouvir o nome do Amin, o humor do Kahlil trocou por completo, e ao querer incorporar-se,
quase verteu a taça de vinho.
-Não é muito boa idéia -disse cortante enquanto se transladava a uma poltrona.
Bryn se levantou recolher os pratos.
-Deixa isso -lhe ordenou, sentando-se em uma das poltronas, com uma expressão indecifrável-. O farão os serventes. Vêem te sentar aqui comigo.
Ela se limpou as mãos em um guardanapo úmido e se dirigiu devagar para ele. Kahlil já não estava de bom humor. via-se zangado, logo que controlando-se. O que havia
dito ela? O que tinha feito?
Bryn se alisou a saia para sentar-se em uma das cadeiras de couro.
-Aí não. Aqui.
-Onde?
-Aqui -repetiu, assinalando o tapete-. A meus pés.
-De joelhos?
- Sim -Bryn se sentiu humilhada e lhe acenderam as bochechas. Não se moveu. Não podia. ficou como ancorada no sítio, tremendo de vergonha e de raiva. Depois de uns
segundos muito compridos sem que ela se movesse, Kahlil voltou a assinalar o tapete. Tirando forças de fraqueza, Bryn conseguiu caminhar para ele e se situou no
chão-. Mais perto -ordenou Kahlil. Ela titubeou, indignada pelo tom autoritário dele. Ele esperava. Ela titubeava-. O que acontece, você molesta fazer o que eu te
peço? -perguntou-lhe com suavidade.
-Não sei por que quer que me sente no chão quando convida a sua primo a que esteja conosco. Não crie que uma cadeira seria mais apropriada?
-Parece-me que está mais interessada em agradar ao Amin, que em me agradar a mim.
-Isso não é certo -se calou para ouvir uns passos sobre o mármore do corredor. Amin tinha chegado e Kahlil lhe fez um gesto para que se aproximasse-. Por favor,
deixa que me levante -lhe implorou baixinho.
- Não -Kahlil lhe dirigiu um olhar vazio-. Fique onde está.
-É injusto.
- Uma palavra mais e te utilizarei como repousa-pies! -vermelha de ira, ela se deixou cair devagar-. Mais perto... -Bryn se aproximou de joelhos. Kahlil lhe assinalou
uma almofada azul com pompons de ouro que estava a seus pés-. Aqui, -indignada, ela vacilou ao olhar o travesseiro.
Não estava a seus pés, a não ser entre seus pés, como um cão. Kahlil estava exagerando seu papel de rei. Ele tinha notado que ela titubeava e agachando-se deu dois
golpecitos sobre a almofada. Uma ordem sem palavras. Tudo diante do Amin. Era como jogar sal em uma ferida recente.
Os olhos azuis do Bryn se encontraram com os do Kahlil e ele levantou as espessas e escuras sobrancelhas. "Estou esperando", parecia dizer. Ela se sentia mortificada.
Não podia acreditar que Kahlil a obrigasse a render-se em presença do Amin. Tortura, isso era. Tortura. Logo que podia controlar sua irritação, mas se arrastou para
diante até que ficou de joelhos entre suas pernas, com as mãos juntas sobre a saia de seda.
-Isso está melhor.
-Para quem? -resmungou.
-Shh -replicou lhe pondo um dedo sobre os lábios-. Não quererá que leve a cabo minha ameaça, verdade? Porque estou seguro, Lace-a, de que estaria muito menos elegante
como reposapies.
Amin riu . Riu a gargalhadas.
Ela fechou os olhos, e rezou para que a terra se abrisse e a tragasse.
Mas não se abriu.
Capítulo 9
UM servente serve o café e passou os postres,mientras Bryn permanecia sentada sobre a almofada durante a aborrecida conversação. Amin se entreteve contando sua vida
em Monte Carlo: chicas,coches, jogo nos cassinos. Por fim a conversação se foi apagando e Kahlil se despediu do Amin.
Quando a porta se fechou detrás do Amin, Bryn ficou em pé. Doíam-lhe os joelhos e tinha as pernas anquilosadas.
- Foi impressionante! Amin deveu ficar maravilhado de seu domínio.
-Domínio do que?
-De mim -soprou Bryn. Kahlil se recostou na poltrona.
-Tenho domínio sobre ti?
-Isso não é o que...
-Mas eu sim -a interrompeu-. Me prometeu que trocaria, assegurou-me sua lealdade. Esta noite era uma prova. Queria ver como te foste comportar diante do Amin.
-E passei a prova?
-Sim. Estupendamente.
-A próxima vez me avise de suas intenções. Pode ser que consiga encher suas aspirações imperiais.
-por que lhe dizer isso Para que jogue a um de seus jogos e finja obedecer, Lace-a! Não quero ficções. Quero a realidade.
-Obediência.
-Entrega.
Ela se encolheu de ombros com impaciência.
-Dei-te meu corpo. aceitei renovar nossas promessas. Que mais quer? O que outra prova necessita?
-Mas está zangada.
-Sim, estou zangada. Estou zangada porque tenha um conceito tão desço de mim que necessite que me sente aí a seus pés como um cão.
O dourado dos olhos dele se fez mais brilhante, embora sua expressão permanecia neutro.
-Ninguém teria suspeitado que lhe incomodavam minhas cuidados.
-Sua "falta" de cuidados, dirá -o interrompeu-. Eu não formava parte da conversação. Não me olhou nenhuma só vez.
Lhe agarrou uma mão e a levou a boca para lhe beijar a suave pele da boneca.
-Estou-te emprestando atenção, agora.
- Não quero sua atenção agora!
-Embora te pareça estranho, querida, seu comportamento me faz pensar outra coisa. Está ruborizada, sua respiração está acelerada, seus lindos lábios estão entreabiertos.
Na verdade, parece excitada -na verdade estava esgotada.
Estava dividida entre a excitação e a fúria. Sua pele, sensível ao tato da dele, os nervos tensos. Solo sentir seus lábios sobre a boneca a tinha feito sentir calafrios.
E como sempre, sentir que a roçava a fazia derreter-se, lhe ofuscava a mente e o corpo lhe enchia de vida. Elevou a vista e seus olhares se encontraram. A ele, os
olhos, de cor âmbar e cheias de faíscas douradas, brilhavam-lhe. Ela imaginava ver o fogo que estava detrás, a paixão que lhe bulia por dentro. O lhe tinha ensinado
tudo o que sabia sobre fazer o amor e tinha convertido seu corpo em um instrumento de prazer para ele e para ela. ruborizou-se ainda mais. Ele voltou a lhe beijar
a boneca, antes de enlaçar seus dedos com os dela.
-Casaremo-nos -lhe disse com doçura-. Tentaremos de novo fazer que nosso matrimônio funcione. Mas antes, acredito que devemos discutir algumas costure, arejar nossas
ofensas, fazer borrão e conta nova. Comecemos por ti. por que me deixou faz três anos?
Era necessário fazer isso nesse momento? Era perto de meia-noite e ela estava muito cansada e só desejava meter-se na cama.
-Não podemos esperar, Kahlil? Estou exausta. Não dormi bem faz dias.
-Não podemos começar um matrimônio com fantasmas voando em cima de nossas cabeças.
-Estou de acordo em que devemos falar, mas não esta noite, tão tarde e depois de dois dias inter- minables, e não depois de que sua primo se passou duas horas vangloriando-se
de suas dívidas de jogo -ela sentia que lhe ardiam as bochechas e que seu gênio estava a ponto de estalar-. por que o agüenta? É como uma sanguessuga, Kahlil. Nem
sequer trabalha.
Kahlil apertou os dentes.
-Vive da renda de um fundo. É dele e faz o que lhe parece.
-Você lhe estabeleceu o fundo. Não foi seu pai. Foi tua coisa.
-E o que?
Muito enfrascada em seus próprios sentimentos, Bryn não se precaveu do tom azedo e da inflexão da voz do Kahlil. Se os tivesse notado, teria se dado conta de que
estava entrando em um terreno muito perigoso.
-Kahlil, entendo que o sangue chama, mas ele não é bom para ti. Não te é leal.
-Disse-me que diria isso. Apostou-me mil libras esterlinas a que atacaria sua lealdade e sua integridade. As devo.
Bryn tragou saliva.
-Quando disse isso?
-Em meu escritório, antes de que fora a me trocar para jantar.
Ou seja que Amin tinha deslocado a falar com o Kahlil em privado, quando ela não estivesse. Que serpente tão venenosa.
-É um mentiroso, Kahlil. Kahlil se incorporou um pouco.
-me diga, passou algo entre vós dois? Algo desagradável, algo reprochable?
Bryn se sentiu geada até a medula. O que seria o que Amin lhe tinha contado ao Kahlil?
- Não! Não o agüento. Põe-me os cabelos de ponta.
-Duas mentiras, Bryn. Duas mentiras esta noite. Como posso confiar em ti?
Bryn estava aniquilada. Não sabia o que pensar nem o que dizer.
-Não sei quais são essas mentiras.
-Mentira número um: Antes te perguntei se tinha algum problema com o Amin e me disse que não. Mentira número dois: Perguntei-te faz um momento se tinha passado algo
entre minha primo e você e me disse que não - seus olhos estavam cravados nela, e sua expressão era implacável-. Amin me contou sua pequeno teimosia. passaram três
anos, o suficiente para que possamos falar disso.
Ela se aproximou dele, ajoelhou-se e lhe pôs as mãos sobre os joelhos.
-Kahlil, vou dizer te por que eu não gosto de Amin. Destrói às pessoas, destrói a verdade. Nunca conheci a ninguém que tergiverse a verdade como ele. Eu acreditava
que era meu amigo, mas não o é. Confiei nele e passei alguns momentos com ele, mas não houve nenhuma relação de outro tipo.
-Nenhum beijo?
-Não, nunca -ela se ajoelhou mais perto, implorando que escutasse, que compreendesse-. Ele não me atraía. Eu tinha a ti. Mas isso o zangou e quer nos castigar aos
dois.
-por que ia fazer isso? -espetou Kahlil. Com toda doçura, lhe acariciou o queixo. sentiu-se doída ao ver como rechaçava seu roce, mas não tirou a mão e continuou
lhe acariciando o queixo e a boca.
-Talvez porque inveja nossa felicidade.
Kahlil lhe agarrou a mão para que se estivesse quieta e lhe atravessou os olhos com o olhar, tratando de encontrar a verdade.
-Se me traiu, quero sabê-lo. Se se aproveitou de ti, será castigado. Há algo mais que eu devesse saber?
Do que ia acusar ao Amin? De assalto? De violação? Lhe tinha enviado uma nota lhe pedindo que se encontrassem. Ele foi a sua habitação porque ela o havia convidado.
Como podia explicar o comportamento do Amin, e justificar o seu próprio?
Não podia.
-Não -disse depois de uma larga pausa, sentando-se sobre os talões-. Não há nada mais.
-Não quero que você e Amin estejam a sós nunca mais. Não mais confidências. Não mais taças de chá ou o que fora. Minha esposa deve estar por cima de toda recriminação.
Minha esposa deve comportar-se de uma maneira apropriada para uma princesa. Entende-o?
-Sim.
-dentro de uma semana pronunciaremos nossas promessas -disse Kahlil, devagar, silabando com claridade-. E esta vez não haverá segredos, nem mentiras, nem esposa
s fugitivas...
A semana transcorreu muito depressa. Bryn passava os dias com o Ben e as noites com o Kahlil, e quase não viu o Amin. Inclusive, depois de não vê-lo durante três
dias, acreditou que teria retornado a Monte Carlo. Sorriu pensando: "Não mais Amin, não mais ameaça, não mais preocupações a respeito de suas retorcidas intenções".
Kahlil era objeto de todos seus pensamentos. Era como se lhe tivesse absorvido a vida. Tinha-a feito transladar de modo permanente a seu quarto para as noites, e
ao Ben, a uma suíte próxima. Comia quase sempre com o Bryn e muitas vezes também com o Ben.
De noite, Kahlil desfrutava despindo-a, seduzindo-a e saboreando-a. Faziam o amor com tanta intensidade que, quando por fim dormiam, ela o fazia de forma profunda
e nem sequer sonhava. Algumas vezes ele despertava porque a desejava outra vez. Mas pela manhã, ele se vestia e partia a seu escritório a dirigir seus assuntos.
Uma vez ouviu que Kahlil se desculpava por telefone por não poder assistir a uma reunião, dizendo que nesse momento não podia abandonar Tiva.
Ela intuiu que não queria deixá-la sozinha. Não confiava nela.
Durante o jantar, perguntou-lhe sobre a reunião, lhe assegurando que se tinha que ir que não se preocupasse, que tudo iria bem em palácio. Ele quase a tinha mordido.
- Não vou deixar te aqui, sozinha!
-Não estaria sozinha -lhe respondeu com voz suave-. Estão Rifaat, Lalia, os guardas, Ben.
-Não penso ir. Fim do tema.
Essa noite não a tocou na cama e Bryn dormiu, acurrucada como uma bola, sentindo-se como uma estranha que dormia na cama do Kahlil, mas não em seu coração.
perguntava-se se as coisas poderiam voltar a ser como antes.
A seguinte vez que lhe fez o amor, foi com tanta intensidade que a deixou enjoada e sem fôlego. Era como se a reclamasse, marcasse-a, recordasse-lhe que a possuía.
Ela era dela. Lhe pertencia. Mas não a amava.
Quando chegou a manhã das bodas, Lalia preparou o banho ao Bryn e a secou com supremo cuidado antes de lubrificá-la com azeite perfumado.
Lalia cantava enquanto a ajudava a vestir-se e seus negros olhos brilhavam de entusiasmo.
-Este é um dia feliz, sim? casa-se com o xeque ao-Assad, uma bonita cerimônia tradicional, e todos serão muito felizes.
Todos menos Bryn. Ela queria que Kahlil lhe desse alguma amostra de afeto, algum indício de que albergava algum sentimento mais profundo, mas ele o ocultava tudo.
Suas conversações era superficiais e o único momento em que estavam unidos era de noite na cama. O resto do dia eram como estranhos, distantes e indiferentes.
Bateram na porta e Lalia foi abrir. Voltou com uma folha de papel dobrada.
Bryn olhou o papel, curiosa e cheia de ansiedade. Solo uma pessoa mandava notas em palácio. Solo uma pessoa se teria atrevido a lhe enviar uma nota à zona das mulheres.
Desdobrou a folha devagar: Tenho que verte imediatamente. Sem nome, mas não fazia falta. Reconhecia a letra. Amin.
Perdeu a respiração durante uns instantes e quando se recuperou, enrugou a nota com raiva. Não ia responder, não se merecia uma resposta. Nem sequer deveria estar
ali. O que estava fazendo em palácio o dia de suas bodas? Não deveria estar em Monte Carlo, jogando e divertindo-se?
Bryn esteve tentada de chamar o Kahlil e confessá-lo tudo de uma vez. Pensou que seria melhor esclarecer o episódio com o Amin antes de renovar as promessas. Mas
duvidou. Compreenderia-o Kahlil se o dizia? Poderia entender por que ela se permitiu confiar em um homem como Amin?
Não. Kahlil não necessitava a ninguém. Desagradava-lhe a debilidade em outras pessoas e a detestava em si mesmo. Dissesse o que lhe dissesse sobre o Amin, o fato
era que eles tinham sido inseparáveis, quase como irmãos.
Amin a tinha encurralada e sabia. Mas não ia render se. Essas eram de novo sua casa e sua família. Possivelmente não podia falar contra Amin, mas não tinha por que
lhe seguir o jogo.
O vestido de noiva era de um tom pálido de ouro encravado com pedras preciosas. atia-se com elegância a sua figura esbelta, refletindo a luz enquanto ela se movia
entre os candelabros e os espelhos. Estavam-na esperando fora e Lalia a guiava, cheia de alegria. de repente uma mão a agarrou pelo braço e a deteve.
-Como é essa expressão? Pode fugir mas não pode te esconder?
Bryn viu como Lalia seguia andando. Tinha o coração muito acelerado.
-Viu muitas filmes, Amin. Deixe ir.
-Temos que falar.
-Não há nada do que falar -mas ele não fez conta, arrastando a à força pelo corredor, até uma porta dissimulada entre os espelhos.
Amin a empurrou a um armário da limpeza e fechou a porta atrás dele.
-Posso fazer de sua vida um inferno se me propuser isso.
-Só crie que pode -estava furiosa de que ele tentasse algo assim antes da cerimônia. Não tinha medo, mas estava muito zangada. por que Kahlil não podia dar-se conta
de que Amin era um traidor? Como podia tolerar a uma pessoa assim em sua vida?-. É um hipócrita e um farsante e se continua me ameaçando contarei ao Kahlil todo.
-Não me empurre, Miss a América.
-E você não me empurre . Já não sou a noiva ingênua de faz uns anos e já me fartei que seus sujos jogos. Aquela noite me atacou em minha habitação e foste violar
me...
Ele a agarrou pelo braço, fincando seus dedos na carne e lhe fazendo muito dano.
-Você o desejava. Desejava-me .
-te desejar, eu? Desprezo-te. E se não me solta gritarei como se me estivesse matando.
Ela tentou agarrar o cabo da porta mas ele a deteve apertando seu corpo contra o dela. Com uma mão lhe tampou a boca e com o outro braço lhe rodeou a garganta.
-Eu que você não gritaria, nem tampouco diria nada ao Kahlil porque não o entenderia. Ele é um xeque, um homem do oriente com mentalidade do oriente. Não perdoaria
a traição de uma esposa e não te perdoará nunca.
Bryn lhe mordeu a mão e escapou de debaixo do braço.
- Manten longe de mim! -gritou, conseguindo abrir a porta.
As pernas lhe tremiam enquanto atravessava o salão para a porta que dava à estadia onde todos estavam reunidos. Não podia pensar com claridade, e os olhos lhe ardiam
porque estava a ponto de chorar.
Amin enredava a verdade e as mentiras melhor que ninguém. Também sabia quais eram os temores do Bryn, e isso lhe dava um enorme poder sobre ela. Sabia seu medo de
ser abandonada e, sobre tudo, de que a expulsassem e a separassem de seu adorado Ben.
Com mão tremente se alisou a blusa e se ajustou a tiara. Seu coração seguia acelerado e não deixava de ouvir as palavras do Amin. "Kahlil é um xeque, um homem do
oriente com mentalidade do oriente..."
Bryn se amaldiçoou por ter compartilhado confidências com o Amin. Ele sabia que antes ela era uma pessoa insegura de si mesmo e provavelmente acreditava que ainda
era assim. Era fácil perder a confiança na gente mesmo. As palavras exatas, as acusações precisas...
"Não!", pensou. Não deixaria que Amin lhes fizesse o mesmo outra vez. Já se havia interposto entre o Kahlil e ela e tinha destruído seu matrimônio, mas não ia permitir
que o fizesse de novo. Essa segunda vez era mais forte. Tinha mais segurança. Sabia o que queria. Queria ao Kahlil.
Era o dia de suas bodas e não ia deixar que ninguém, e muito menos Amin, o danificasse.
Fora luzia o sol e a gente ria. Bryn respirou fundo e se sentiu mais acalmada. Todo mundo estava contente e ela também devia está-lo. Era o começo de uma nova vida
para ela e para o Ben.
Rifaat e Lalia a esperavam junto à porta.
-Algum problema? -perguntou Rifaat, olhando ao longe para o salão.
Bryn forçou um sorriso. Tinha o corpo transido, mas já não tremia.
-Tudo está bem. Rifaat pestanejou.
-Pareceu-me ver a primo de sua Alteza...
-Sim, viu-o. Passei diante dele no salão. dirigia-se para seu quarto.
Rifaat dirigiu outro olhar para o salão antes de voltar a olhá-la, lhe esquadrinhando a cara e posou os olhos em seu pescoço. Bryn se levou a mão para o ponto que
Rifaat estava olhando. A pele estava sensível. Possivelmente Amin a tinha machucado. O estômago lhe dava tombos, mas não podia fazer nada. Esse era um dia feliz,
um dia que tinha esperado muito tempo, e Amin não o ia danificar.
-Está tudo preparado? -perguntou.
-Sim, senhora -respondeu Lalia, lhe cobrindo o nariz e a boca com um véu-. É hora de ir. Sua Alteza está esperando.
Encontrou ao Kahlil à porta do palácio, e se sentiu feliz, em lugar de temerosa. sentia-se como uma noiva de verdade, nervosa e ansiosa, feliz e com vontades de
chorar. Converter-se na esposa do Kahlil, no país do Kahlil. Casar-se pelo rito dele. Fazer as promessas em seu idioma.
sentia-se bem. Tudo era perfeito. Exceto... sentiu um aroma de camelo e se deu conta de que esse ia ser o modo de transporte.
-Um camelo, Kahlil?
-É o costume -lhe respondeu, tomando a mão na sua e lhe beijando os dedos.
-Já sabe o que penso sobre os camelos...
-Teve uma má experiência, Lace-a -e añadio, com a sombra de um sorriso-. Este não mordeu a ninguém em muitos meses.
Bryn .ficou olhando ao Kahlil, recriminando-o. Estavam recém casados quando montaram em camelo por última vez. O camelo do Kahlil se comportou muito bem, mas o dela
a atirou ao chão. Caiu sentada, e o camelo aproveitou para mordê-la.
Pela expressão do Kahlil viu que ele também o recordava. Tinha escolhido ir em camelo a propósito, para enlaçar esse dia com o passado.
-Com tal de que não cuspa também. Não quisesse que danificasse meu penteado. Lalia se passou duas horas me fazendo isso
-Por minha honra, não deixarei que este cuspa. Ela fez uma careta.
-Pode influir nos preços do petróleo, xeque ao-Assad, mas nem sequer você pode controlar a um camelo.
ficou olhando-o, vestido com a tradicional chilaba de bodas e o turbante na cabeça. Nunca o tinha visto tão feroz, nem tão árabe, nem tão sensual. Para falar a verdade,
teria montado sob a barriga do camelo, se ele o tivesse pedido.
Mas por fortuna, ele não o pediu. Sorriu-lhe, olhando-a fixamente aos olhos.
-Está preciosa. Não lhe havia isso dito ainda, verdade?
Bryn se ruborizou e sentiu que a pele lhe ardia.
-Não.
-Em toda minha vida conheci uma mulher mais formosa. Sinto-me honrado de que tenha mimado em ser minha esposa.
Por um momento, ela não pôde falar, nem sequer tragar saliva. O coração lhe dava golpes no peito, seu peito cheio de amor e de ternura. Nunca tinha amado a ninguém
tanto como a ele. A fazia sentir-se real, completa.
-Quero te fazer feliz -sussurrou.
-Já o tem feito.
E por um segundo acreditaram que eram os dois únicos seres viventes, quão únicos respiravam, pensavam, sentiam. Ao Bryn parecia que o mundo a envolvia, vivido e
perfeito. "Oxalá pudesse ser sempre assim", pensou.
-Vêem -lhe disse Kahlil, tomando a da mão-. Seu camelo espera, e também nosso filho. Minha prima Má veio de Londres com seus filhos. levou-se ao Ben à cerimônia
e suponho que estarão esperando impaciente.
Bryn montou sobre o camelo ajoelhado e Lalia correu a lhe ajustar o vestido. Os serventes aclamaram ao Kahlil quando montou no seu. Logo começou a soar uma música
muito bela e lhes lançaram pétalas de flores. Quando os camelos se elevaram, Bryn levantou a mão, para saudar a multidão. Tinha o coração acelerado. Em silêncio
jurou que essa vez, Kahlil e ela durariam para sempre.
Capítulo 10
A cena parecia de cinema. Uma enorme carpa branca, camelos arreados, luxuosos tapetes persas. Música e palmeiras que se balançavam com a brisa da tarde. estava-se
pondo o sol e pintava as dunas de areia de vermelho e ouro.
A cerimônia foi muito formosa, cheia de rezas, bênções e enlace de mãos. Quando terminou. Kahlil a guiou para o helicóptero que acabava de aterrissar. Guiava-a com
a mão apoiada no quadril dela, e o calor que despedia lhe revolucionava os sentidos.
-Onde vamos? -perguntou ela grampeando o cinturão do assento e olhando pelo guichê para ver se podia despedir-se de seu filho. Kahlil já lhe havia dito que Ben ficaria
em palácio enquanto eles estivessem fora e que o cuidariam a babá de palácio e Má, a prima do Kahlii que tinha dois filhos.
Embora Ben estava encantado de ficar e poder jogar com outros meninos, ao Bryn se o fazia duro deixá-lo.
Ben a viu e, sonriendo, disse-lhe adeus com a mão. Ao menos não ficava preocupado por que ela se fora com o Kahlil. Ao igual a seu pai, tinha tanta segurança em
si mesmo...
Olhou ao Kahlil e seus olhos se encontraram.
-Vamos a um sítio muito especial que eu sei -lhe disse-. Um lugar onde nunca estiveste.
-Está longe? -Kahlil a olhou com um sorriso zombador. Sua expressão era infantil e cheia de alegria. Parecia que lhe tivessem tirado um grande peso de cima.
-Não, a menos que fôssemos em camelo.
Quando chegaram a seu destino, já tinha escurecido. Além das estrelas, solo se viam uns poucos pontos de luz, e não havia indícios de civilização. Ao aterrissar,
Bryn viu que os pequenos pontos de luz eram tochas que formavam um círculo ao redor do helicóptero.
-Onde estamos? -murmurou Bryn.
-Em meu esconderijo -a tirou da mão e agachando-se sob os sinais de multiplicação correram através de uns antigos arcos de pedra até entrar em uma fortaleza que
devia ser milenaria.
-Isto é teu? -disse-lhe Bryn, ainda sem fôlego pela carreira. No último momento, Kahlil a tinha tomado em braços antes de entrar em um dormitório com almofadões
de seda pulverizados pelo chão e iluminado por várias velas-. Ah! Mais vela. Não sabia que você gostasse tão da luz das velas.
-Não há eletricidade -lhe respondeu arrastando-a consigo para uma cama baixa-. Não tive eleição. Se não tivéssemos velas, não poderia verte, e me acredite, quero
verte!
Ela sentiu que lhe acendiam as bochechas e as pernas lhe tremiam.
-Quer lombriga? Ele se reclinou.
-Sim, muito. Estou morrendo por verte nua. te dispa -acrescentou com voz rouca e sensual.
-O que?
-Quero olhar como lhe nuas e logo inspecionar a minha esposa -ela o olhou sobressaltada e de uma vez excitada-. Disse que me obedeceria -brincou com doçura, lhe
recordando suas promessas - . Disse que teríamos uma relação verdadeira.
-Sim, mas...
Ele ficou olhando-a.
Acalorada, com dedos trementes alcançou a cremalheira de seu vestido. Kahlil, recostado sobre o colchão, observava-a. Com pequenos puxões, conseguiu abrir a cremalheira
e se tirou o vestido bordado. .
Logo, baixou-se os suspensórios de seda do prendedor e o deslizou até a cintura, descobrindo seus seios.
-Ah... -sentindo o intenso olhar que Kahlil dedicava a seus seios, Bryn se balançou. Tinha a pele arrepiada e os mamilos duros, e sentia um estranho ardor entre
as coxas-. O resto, por favor -sua voz soava indiferente, mas não o estava. estava-se concentrando. Com acanhamento, ela se baixou os panties de raso até os joelhos,
e logo até os tornozelos. Por fim esteve completamente nua, exceto pela coroa de ouro e pedras preciosas que ainda levava na cabeça. ruborizou-se da cabeça aos pés.
Sem dizer nada, Kahlil se levantou e a atraiu para si, estreitando toda sua nudez contra seu corpo. Ela sentiu a dureza de seu peito, de seu abdômen, de suas coxas...
Mas o que mais a avivou foi sentir sua ereção, sua própria ânsia palpitando junto ao púbis dela. Rodeou-a com seus braços e lhe acariciando os quadris nus, elevou-a
um pouco aproximando-a mais, e a apertou contra o centrou de seu desejo. A ela, se o agarrotaron as coxas e o ventre. sentia-se vazia-. Está tão quente -lhe murmurou
ele ao ouvido. Sua voz era doce e sedosa-. É como se estivesse no céu.
-Pois eu acredito que isto é um inferno -protestou ela, entre calafrio e calafrio, sentindo que o roce do peito dele contra seus mamilos a punha cada vez mais sensível.
-Só tem que aprender a ter paciência.
-Tento-o -Bryn ficou nas pontas dos pés e lhe rodeou o pescoço com um braço enquanto com o outro o aproximava mais. Tinha os seios esmagados pelo peito dele e todo
o corpo em tensão.
-Delicioso -sussurrou Kahlil, acariciando com os dedos a curva de sua coluna e percorrendo uma a uma todas suas vértebras.
Gostou ainda mais que pusesse as mãos sobre seus quadris, e seu membro sobre o púbis. Todo seu corpo o ansiava. Avivada, mordiscou-lhe o queixo e logo a boca.
-me beije -lhe implorou-. me Beije como estava acostumado a fazê-lo.
Como resposta, ele a elevou em braços e a levou a cama coberta de seda e raso. Bryn podia cheirar sua fragrância de sândalo e cítricos, e tomando sua cara entre
as mãos o beijou intensamente. Logo lhe tirou a túnica.
Não houve mais jogos eróticos e não demoraram muito antes de chegar os duas a mais alta topo do prazer. E pela primeira vez desde que retornou ao Zwar, ela sentiu
que se desmoronava a barreira invisível que se interpunha entre eles, e Kahlil a abraçou e a beijou, e a amou com profunda ternura.
Os olhos lhe ardiam pelo calor das lágrimas, mas eram lágrimas de felicidade e esperança. Sentiu que obteriam que o matrimônio funcionasse e que por fim encontrariam
a felicidade.
Bryn estava ainda tremente quando Kahlil a recostou a seu lado.
-É minha, entende-o? Minha, toda minha.
-Sim, meu dono.
Os olhos dele brilhavam e sonriendo lhe beijou as comissuras da boca e logo o lábio inferior, carnudo e palpitante ainda pela paixão.
-Eu gosto como soa o que há dito -sussurrou.
-Já sei.
-Está segura de que não o diz sozinho por me seguir a corrente?
-Poderia ser mais obediente ainda?
-Isso é diferente que entregar-se -mas ria, e sua voz era profunda e sensual-. Terei que acelerar seu treinamento.
Voltou a beijá-la, e sua risada encheu a boca dela de ternura e lhe roubou o fôlego. Sentia cosquilieos de prazer e de felicidade. Se Kahlil baixava o guarda para
rir, era que ela tinha reconquistado seu coração. Não lhe dizia com palavras que a amava, mas mostrava ternura. Solo era necessário lhe dar tempo. Tudo o que precisavam
eram tempo e amor.
Ele a beijou no pescoço e detrás da orelha. Bryn sentiu que o calor explorava dentro dela, que o desejo que sentia por ele era insaciável.
-Não comece nada que não esteja seguro de poder terminar -brincou, enlaçando as mãos detrás de seu pescoço e atraindo sua boca para a dela.
-OH, estou preparado -lhe respondeu acomodando-se sobre ela. Era evidente que o estava. Mordiscou-lhe os lábios, ansioso-. Sabe o que fiz armadilha para te recuperar?
Disse-te uma mentirijilla.
Bryn o soltou e o apartou com brutalidade.
-O que?
-Não é grande coisa. Em realidade foi uma mentira piedosa.
-E no que consistiu essa "mentira piedosa"? Ele voltou a beijá-la e embora ela tentava recusá-lo, rendeu-se derretendo-se baixo ele. Kahlil se sorriu.
-Paguei a certo oficial para que destruíra um papelito. O documento que nunca assinou. Foi por minha culpa. Assegurei-me de que nunca te chegasse.
-Kahlil!
Lhe agarrou a cara entre as mãos e a beijou com fúria.
-Não queria te perder. Nunca quis te perder -de repente, ouviram-se uns golpes na porta-. Vá-se! -gritou Kahlil, sonriendo travesso ao Bryn, enquanto deslizava a
mão por seu ventre para as coxas-. Estou ocupada.
-Desculpe-me, Alteza -respondeu a voz ao outro lado da porta-. Se trata de uma emergência. Kahlil saiu e retornou antes de cinco minutos.
-surgiu um problema na Tiva. É urgente. Devo voltar para palácio imediatamente -se estava vestindo com roupa ocidental. Tinha a frente franzida e sua expressão era
sombria-. Retornarei logo que possa.
Algo em sua expressão a sobressaltou e se sentou na cama.
-Que tipo de problema?
-Não lhe posso dizer isso ainda, mas te enviarei o helicóptero assim que possa.
-vais deixar me aqui, em meio de nenhuma parte?
-É um sítio seguro. É minha casa e quero que esteja aqui.
Seu tom não admitia discussão e sua expressão era das de te renda e te entregue.
-me diga ao menos o pouco que saiba.
-Bryn, oxalá pudesse, mas não tenho todos os dados.
-É algo no palácio? -em seguida pensou no Ben. O estava ali, sem ela-. houve uma revolta?
-Não, nada disso.
-Então, o que? Por Deus, Kahlil, o menino...
-Sei -a agarrou forte pelos ombros e a beijou na frente, lhe deixando o rastro de sua boca quente contra a pele-. Tenha paciência. Logo saberei algo mais.
Dezesseis horas mais tarde, Kahlil retornou.
- trata-se do Ben -disse Kahlil, cortante e sem preâmbulos. Tinha a pele opaca e umas olheiras profundas sob os olhos avermelhados-. Não está.
Ben, não estava. Impossível. Mas isso era o que Kahlil havia dito. sentia-se enjoada e angustiada e a cabeça lhe dava voltas.
-O que quer dizer com que não está?
-Não sabemos.
"Não sabe?" Uma voz irracional gritava dentro de sua cabeça. "Você é o xeque. O rei. Você deve sabê-lo".
-escapou?
-Não.
-Então, o que? Está-me dizendo que alguém o seqüestrou?
-Sim.
Ela retrocedeu, vacilante. Os olhos abertos, a boca seca, a língua morta. Não podia acreditá-lo.
-Quem? -sua voz era sozinho um murmúrio, sem fôlego, sem força.
-Amin -ela retrocedeu ainda mais e Kahlil fez um gesto que dizia mais que suas palavras-. Tenho a todos meus efetivos investigando, Bryn. Encontraremo-los. Prometo-lhe
isso.
Bryn se sentia como se se mergulhou em um lago gelado e seu corpo e seu coração se estivessem congelando.
Era culpa dela.
Não tinha protegido ao Ben. Não tinha crédulo seus temores ao Kahlil. havia-se sentido forte e imune ante o Amin. Inclusive o tinha desafiado, lhe dizendo que não
podia machucá-la, que não era o suficientemente forte. Por Deus, o que era o que tinha feito?
Estava desesperada. Sentia frio e um medo tremendo.
-O que é o que sabe até agora? Que pistas há?
-levou-se ao Ben ontem à noite depois da cerimônia. A donzela estava lhe preparando o banho e estava de costas enchendo a banheira. Quando se girou para agarrar
ao Ben, já não estava.
"Não estava". Essas duas palavras a aterravam. Não estava. Tinha-o perdido. Tinha o coração partido.
Esteve um bom momento sem poder articular palavra. O que podia dizer? Por fim balbuciou.
-Como sabe que o levou Amin? Como sabe que não se foi sozinho? Possivelmente viu a porta aberta e se foi vagando por aí...
-Temos provas.
-Que provas? -não queria convencer-se. Não se tratava das chaves de um carro, tratava-se de seu filho.
-Amin deixou uma nota -ficou ainda mais sério-. Bastante enigmática. Não tem muito sentido. Devemos ter paciência e deixar que meus homens continuem sua investigação.
Se sua intenção era acalmá-la, tinha fracassado. Suas palavras só a alarmaram mais. Tinha um nó no estômago.
-me diga Kahlil. Quero sabê-lo. Preciso sabê-lo.
-A nota é curta, e como já te disse, enigmática. Amin escreveu que se estava levando o que era dele. Isso é tudo.
Bryn sentiu um pouco de alívio.
-Ou seja que não sabemos se Amin tiver ao Ben. Faltam duas pessoas, mas não é seguro que estejam juntas.
-Sim sabemos. Está gravado em uma cinta de vídeo. Amin envolvendo ao Ben e levando-lhe do quarto dos meninos.
- Não! Assim não, não fez isso, Kahlil, me diga que não. Kahlil agarrou ao Bryn entre seus braços e a estreitou, embalando-a contra seu peito.
-Shh... Lace-a. Encontraremo-los. Logo teremos a nosso filho em casa, juro-lhe isso.
O helicóptero os levou de retorno a Tiva e aterrissaram no pátio de palácio.
O verde das palmeiras, batidas pelo vento das hélices, contrastava com a brancura das paredes. Bryn se fixou em um colibri verde esmeralda com o peitilho cor escarlate
que bicava entre as pétalas de uma flor de hybiscus em um dos macetones. Por um momento pensou que assim era ela com o Kahlil. Um beija-flor que não podia resistir
ao néctar.
E o que era o que seu desejo e seu amor intenso tinham conseguido? Secretos, mentiras e o seqüestro de um menino.
Kahlil lhe tocou as costas, empurrando-a com suavidade para a enorme porta. Acompanhou-a até suas habitações e se parou à entrada do harém. Deu-lhe um beijo nos
lábios e lhe prometeu:
-Mandarei-te notícias assim que saiba algo.
O contato com o corpo forte e o calor do Kahlil fizeram que Bryn sentisse um pouco de consolo. Com o Kahlil a seu lado, era mais fácil lhe plantar cara ao futuro.
-Não quero estar sozinha -implorou lhe agarrando a túnica-. Deixa que fique contigo.
-Este é um assunto de alta segurança. Terei que me reunir com meus conselheiros. Será melhor que fique aqui.
-Não será melhor para mim. Tenho medo.
-Bryn, confia em mim -lhe separou as mãos da túnica com um sorriso de fôlego, embora as linhas de seu rosto refletiam sua preocupação-. Te prometo que irei informando
de tudo o que vá acontecendo. Agora, trata de descansar. Necessita-o.
Lalia lhe levou uma bandeja com um jantar ligeiro, mas Bryn nem a tocou. Não queria comida. Queria que Ben estivesse em casa.
Os minutos lhe pareciam horas. A espera era insuportável. Duas horas. Três. Doíam-lhe as costas e a cabeça e tinha os olhos secos e pesados por falta de dormir.
Passaram quatro horas e Bryn começou a tremer. Muita ansiedade e falta de descanso. sentia-se como se lhe tivessem dado a volta do reverso.
-Deve dormir, minha senhora -a admoestou Lalia enquanto atenuava a luz do abajur de noite e abria a cama-. Deite-se e descanse -mas Bryn não podia dormir e se passou
a noite sentada com o olhar fixo no horizonte.
Amin era malvado, do pior, mas não machucaria ao Ben, ou sim? Tentou imaginar-se aonde o teria levado e se perguntava se seria um sítio escuro e se Ben teria medo.
Mas se esforçou em não pensar no pior. Seus pensamentos tinham que ser positivos, tinha que acreditar que Ben estava bem e que Amin seria amável com ele. A lua ia
percorrendo o céu e pouco a pouco a escuridão foi deixando passo às cores do amanhecer. Embora Bryn estava mais tranqüila, quando saiu o sol ainda estava sentada
sem dormir.
A donzela voltou a entrar. Ela também parecia cansada, como se não tivesse dormido.
-O café da manhã, senhora -lhe disse lhe aproximando uma bandeja com pãozinhos doces, fruta fresca e chá de hortelã.
-Não posso comer. Não até que Ben esteja em casa.
-O xeque o trará para casa. O xeque é muito capitalista - "muito poderoso... Se fosse certo!", pensou Bryn, enquanto se tomava o chá e não comia nada. ficou olhando
as rodelas de manga, amadurecido e suculento que havia sobre o prato. perguntou-se se Ben teria tomado o café da manhã. Esperava que Amin lhe tivesse dado café da
manhã. Se Ben estivesse vivo ainda...
"Não! Não pode pensar assim. Claro que está vivo. Amin é cruel e egoísta, mas não machucaria a um menino", pensou. Os olhos lhe alagaram de lágrimas e se mordeu
os nódulos, esforçando-se por não chorar. As lágrimas não foram ajudar ao Ben.
Ouviu passos e viu a Lalia na porta. Estava séria.
- Senhora, o xeque ao-Assad a espera na sala principal. Por favor, a visto rápido -Bryn estava nervosa enquanto Lalia lhe punha um vestido singelo-. Deve ser valente,
senhora -lhe disse, enquanto a penteava.
-Sou muito valente -respondeu Bryn com tristeza. Estava desejando estar com o Kahlil e saber o que lhe dizia. Rogava por que tivessem localizado ao Ben.
Rifaat a esperava à entrada da zona das mulheres.
-bom dia, princesa ao-Assad. Bryn se tinha acostumado tanto ao silêncio do Rifaat, que se sobressaltou para ouvi-lo.
-bom dia, Rifaat.
-Parece muito cansada. Não dormiu?
Como poderia ter dormido? Como poderia dormir alguém quando um menino de três anos estava em paradeiro desconhecido?
-houve alguma notícia?
-Isso eu não sei.
Bryn arqueou as sobrancelhas cheia de impaciência e frustração.
-Temos que jogar a estes jogos, Rifaat? Você sabe tudo o que ocorre em palácio. É os ouvidos secretos do Kahlil. se inteira de todos os fofoque dos serventes. Freqüentemente
sabe as coisas antes que Kahlil!
Rifaat estava a ponto de sorrir, mas a expressão de seus olhos era imensamente triste.
-É uma bênção e uma maldição, senhora. Às vezes, é melhor não saber -e com uma ligeira reverência a guiou através do lustroso vestíbulo de mármore e por um corredor
para a sala de recepções.
Bryn viu a silhueta do Kahlil no extremo da sala. Estava frente a uma janela aberta que dava a um pátio. A luz que entrava tinha reflexos de ouro e rosa.
Kahlil era a única pessoa que havia na sala. Devagar, voltou-se da janela e foi sentar se, também devagar, em uma enorme cadeira estofada em vermelho situada sobre
um estrado.
Não a olhou aos olhos. Nem sequer a olhou.
Ao Bryn lhe fechou o estômago. Era um mau sinal. Muito, muito má. Algo terrível lhe tinha acontecido ao Ben.
Capítulo 11
D
ÍMELO -balbuciou-. me Diga o que passou. -te aproxime mais. Ela estava geada, petrificada por temor ao que ia dizer lhe.
-diga-me isso primeiro. Acaba quanto antes. Ele elevou a escura cabeça e a olhou aos olhos. Os seus brilhavam de emoção.
-Não soube nada do Ben. Agora se trata de ti. Ela se adiantou um passo e logo outro. Muita tensão e cansaço lhe impediam de pensar com claridade.
-De mim?
-Sim, meu consciente esposa , de ti.
-O que ouviste? Do que se trata?
-O que ouviste? -ele repetiu suas palavras, pronunciando as sílabas como se fossem facas em sua garganta-. Ah..., soube muitas coisas e tenho lido bastante, também.
-Não entendo.
-Você engana, senhora -se levantou da cadeira e desceu do estrado. Estava descalço e levava a túnica aberta, revelando umas calças brancas e o bronzeado de seu torso
nu-. Sente-se.
Ela se deixou cair em um almofadão de seda bordado com fios de ouro.
-Confundiste-me por completo. Não tenho nem idéia do que está dizendo.
-Nenhuma?
Kahlil dava voltas ao redor dela, com as mãos detrás das costas. Não tinha sentido. Ela não tinha estado em nenhuma parte, não tinha ido a nenhum sítio. Como podia
havê-lo zangado?
-O que tem isso que ver com o Ben?
-Pergunta-a correta deveria ser: O que tem isso que ver com o Amin? -ela sentiu que se afundava. Era óbvio que Kahlil tinha ouvido algo, que sabia algo. Acaso tinha
ameaçado? Tinha contado algo? Do que a tinha acusado?-. E bem? -Kahlil se deteve frente a ela-. Não vais defender te?
Ao Bryn lhe encheu a frente de um suor frio.
-Não posso me defender se não saber do que me acusa.
-Quero que me conte o de sua aventura com o Amin.
-Não houve nenhuma aventura.
-Isso não é o que mostram as cintas de vídeo.
-Não pode haver cintas do Amin e eu juntos.
-Há muitas cintas de vós dois juntos...
-Mas não fazendo sexo.
-me diga, esteve ou não esteve em sua habitação? Como podia saber isso? Devia haver-lhe dito Amin.
-Sim, esteve, mas não passou nada do que diz.
-E entretanto, te fujais. Possivelmente porque se sentia culpado?
Bryn não podia acreditar que lhe fizesse isso. Não quando Ben estava desaparecido.
-Não tivemos nenhuma aventura. Nunca tivemos sexo. Olhe suas cintas de vídeo para comprová-lo.
-Não há câmaras de vigilância no harém. A câmara se detém na porta.
-Que prático.
-Mas não foi coisa de uma noite. Estiveram em-viándoos cartas de amor durante meses.
-Não eram cartas de amor. Eram sozinho nota. E muito infantis...
-Eu não acredito que fossem tão infantis -tirou uns quantos papéis de um bolso da túnica-. "Amin, estiveste maravilhoso. Não-sei o que faria sem ti". Desdobrou outra.
"Tenho que verte esta noite. Onde podemos nos ver?" E o que te parece esta outra? "É um anjo. Adoro-te" -Kahlil elevou a cara-. Te adoro. Que diabos quer dizer isso?
-Não quer dizer nada, não queria dizer nada. Eram notas de colegiala. Tinha dezoito anos!
-E estava casada comigo.
-Sei que parece algo mau...
-Parece algo mau? "É" algo mau. Que diabos fazia escrevendo cartas de amor?
-Não eram cartas de amor. Eram mensagens entre amigos. Amin me estava aconselhando...
-com certeza que sim.
Ela se sentiu morta de calor ante a ironia de sua voz.
-Não é isso Kahlil. Por favor tenta entendê-lo. Acabávamos de chegar ao Zwar e você te encerrou em seu trabalho. Eu me sentia sozinha e afligida. Completamente fora
de meu elemento.
-E te refugiou no Amin.
-Em busca de amizade, e só amizade. Foi muito amável comigo. Escutava-me, dava-me ânimos, me fazia acreditar que logo tudo melhoraria entre você e eu.
-Ou seja que foi por minha culpa? Era um marido péssimo?
-Não, Kahlil, me entenda, por favor. Quando saíamos antes de nos casar foi muito atento, fazia-me sentir especial e muito querida. Talvez me mimou muito.
-Talvez?
-De acordo, estava muito mimada e era imatura, mas o fato é que quando voltamos aqui te encerrou em seu trabalho e tinha muito pouco tempo para mim. Amin me brindou
sua amizade. deu-se conta de que me sentia muito sozinha'e muito insegura e me convenceu de que todo se arrumaria.
-Não diz a outro homem que se sente muito só e que está insegura. Me deveu dizer isso . Não deveu procurar consolo em outro homem. Deveu buscá-lo em mim.
O tom de sua voz era tão selvagem que a rasgava. Seu rosto estava distorcido e sua expressão era violenta, com uma amargura que ela não tinha visto nunca.
-Kahlil, por favor, me perdoe. Suplico-lhe isso.
-Não me importune com suas desculpas. Já é um pouco tarde para isso, não te parece?
-Nunca quis te ferir. Eu te amo. Sempre te amei.
-Amin diz que Ben é sua -sua voz a fustigava de novo-. Se for assim, Amin tem todo o direito a levar-se a menino. Eu não tenho razões legais nem morais para recuperá-lo
para ti.
-Não!
-interrompeu-se a busca. Bryn protestou, elevando a voz e abrindo as mãos.
-Por Deus, Kahlil, não pode dizê-lo a sério. Ben é muito pequeno. Deve estar morto de medo. Amin poderá consolá-lo.
-Amin não é o pai do Ben. "É você". E eu nunca estive com outro homem, ou seja, que embora esteja furioso, não castigue ao Ben. Nem sequer conhece o Amin!
-Isso já não é meu problema.
-Não é seu problema? É o xeque do Zwar. Sua primo seqüestrou a seu filho. E diz que não é seu problema? Quem manda neste maldito país?
Kahlil a agarrou pela boneca e a balançou contra seu peito.
-Sabe com quem está falando?
-Com meu marido -as lágrimas lhe saltaram-. Com meu arrogante, orgulhoso e teimoso marido. Sabe por que me refugiei no Amin faz uns anos? Porque você me excluiu.
Deixou de lombriga, de me escutar, de me falar. Sentia-me sozinha e não suportava a solidão, mas nunca me deitei com o Amin, e se for capaz de arriscar a segurança
de seu filho por orgulho, juro-te, Kahlil, que...
-O que é o que fará?
-Buscarei-o eu mesma. Não comerei, nem dormirei, nem descansarei até que os encontre.
-É uma mulher e está no Oriente Médio. Não tem dinheiro, nem transporte, nem amigos. Nunca os encontrará.
Ao Bryn lhe rompia o coração.
-por que me odeia tanto? É porque sou débil? Porque tenho necessidades?
-Suas necessidades lhe levaram aos braços de meu irmão -lhe soltou a boneca, mas seu tom hiriente lhe levantava ampolas-. Me dá asco.
Bryn não ouviu essa última frase, mas a primeira retumbava em sua cabeça. "Seu irmão?"
-Quererá dizer, os braços de sua primo.
-Amin é meu irmão -tragou saliva-. Meu meio irmano. O filho bastardo de minha mãe.
Aniquilada, Bryn conteve o fôlego. Podia sentir a negrume dos sentimentos do Kahlil, uma confissão que o enchia de dor e de ira.
-Acreditava que sua mãe tinha morrido depois de que você nascesse.
-Não morreu até que cheguei à escola secundária. Quando meu pai descobriu que estava atada com seu melhor amigo, desterrou-a do Zwar -entrecerró os olhos-. Meu pai
era bondoso. Sob nossas leis, poderiam havê-la executado.
- Se seu pai tivesse sido na verdade bondoso, não te teria privado de sua mãe!
-Minha mãe escolheu romper suas promessas de matrimônio e pagou as conseqüências.
-Não. Você pagou as conseqüências! Ela cometeu um engano e você sofreu por isso. Igual a quer que Ben sofra por meus enganos. Não é justo.
-A vida não é justa, Bryn. Nunca foi justa. Talvez seja bom que Ben o aprenda agora.
-Não pode falar a sério.
-Sim, falo a sério. A vida está cheia de golpes duros. De menino, sentia-me sozinho e sofri muito, mas aqui estou, muito mais forte.
-Sabendo o que sofreu e recordando a dor, seria capaz de fazer o sentir a seu próprio filho?
-Nem sequer sei se for meu filho.
-Sim sabe. Ele é seu. É teu. Pode estar furioso comigo, mas não pode negar a seu próprio filho.
-Deitou-te com ele, Bryn?
Em um segundo tinha trocado de tema, trocado de enfoque, mas ela o seguiu e seus sentimentos passaram da raiva à lástima e a indefensión.
-Não, Kahlil, não. Amin não me atrai. Nunca me sentei atraída pelo Amin.
-Mas essas notas e a visita a sua habitação, mostram claramente que havia algo mais que amizade entre vós.
-Não por minha parte. Nunca o desejei, nunca imaginei nada mais. Agora me dou conta de que as notas podem interpretar-se mau, e de quão imatura era, mas de verdade,
Kahlil, não houve aventura, nem desejo, nem nenhuma relação física.
Abriu as pálpebras e suas negras pestanas permitiram ver a fragilidade que se escondia na profundidade de seus olhos cor âmbar.
-Só uma relação de amizade.
Não pensava ir, não pensava colaborar no resgate, mas quando soube que tinham localizado ao Amin, Kahlil não duvidou. Pode que estivesse furioso com o Bryn, mas
nunca faria que o menino sofresse. Sem trocar-se de roupa, correu para a limusine que o esperava e se sentou no assento de atrás. Não podia entender como Amin tinha
podido levar-se a um menino, não "seu" menino, a não ser "qualquer menino". Como podia cair tão baixo?
Enquanto a limusine atravessava a cidade a toda velocidade, Kahlil pensava que era hora de que houvesse um pouco de paz e de ordem em palácio. Fazia tempo que não
se sentia a gosto em sua própria casa. Bryn tinha que ir-se.
Kahlil fechou os olhos. Estava tenso e dolorido. Não podia controlar seus sentimentos.
Amava-a. Não cabia a menor duvida. Tempo atrás a tinha adorado, mas isso tinha sido antes de que ela destruíra sua confiança e seu coração.
Durante um momento não via nem ouvia nada, solo sentia uma dor raivosa, metade fúria, metade tristeza, como se fora um menino. Ardiam-lhe os olhos e se apertou as
pálpebras para não chorar. Não podia trocar o que tinha passado e a vida devia seguir adiante.
Seguir adiante.
"Segue adiante, Kahlil, segue adiante", pensou.
Logo olhou pelo guichê da limusine. Solo se viam dunas ao bordo da estrada. Queria gritar. Já tinha sofrido antes e sobreviveria embora perdesse ao Bryn. Sobreviveria
se os perdesse a todos. Era o xeque Kahlil ao-Assad e sua palavra era lei.
Em palácio, Lalia fazia o possível por acalmar à princesa lhe pondo panos úmidos nas têmporas.
-Shh, minha senhora, não deve chorar tanto. vai adoecer.
Bryn apartava a cabeça. Não queria os panos molhados, nem chá de hortelã, nem conversar, solo queria ao Kahlil e ao Ben. Solo queria que sua família estivesse junta
outra vez.
Bryn despertou sobressaltada. Fora se ouviam vozes e o motor demn automóvel.
dormiu-se quando ainda brilhava o sol, mas nesse momento já entardecia.
A porta de seu dormitório se abriu de repente e Kahlil, sujo e ensangüentado, aproximou-se da cama.
-lhe levante -lhe ordenou que-. vamos esclarecer coisas de uma vez por todas.
Tinha uma ferida escarlate na frente e a mandíbula torcida. Além disso, um corte em um dos maçãs do rosto.
- Está ferido! -ele não fez conta.
-Temos ao Ben. Parece que está bem, mas, no caso de, meu médico o vai examinar. dentro de pouco estará com ele.
-Graças a Deus -se lançou sobre o Kahlil, rodeou-lhe a cintura com os braços e o abraçou fortemente.
-Sabia que não o foste deixar de qualquer jeito. Sabia que o foste encontrar. Ele se manteve imóvel.
-Fiz-o por ele, não por ti.
Ela notava a rigidez dos músculos do Kahlil, a tensão de seu corpo. Ele suportava o abraço, mas lhe chiavam os dentes, de raiva e de irritação. Bryn se sentia morrer
por sua indiferença e pela repulsão que ele mostrava para ela. "E se alguma vez a perdoava? E se não pudesse perdoá-la? Como poderia viver sem ele?", pensou.
-Kahlil, amo-te. Sempre te amei Y... Ele a agarrou pelas bonecas e a apartou.
-Não quero ouvir nada disso.
-Mas tem que...
-NO.Ya é muito tarde.Demasiado tarde para isto -voltou a apartá-la-. Amin nos espera. Acabemos de uma vez.
O que Kahlil lhe pedia era uma loucura. Queria que confessasse que era culpado de adultério, traição ou delitos que não tinha cometido? Quão único Bryn aceitou confessar
foi que não tinha crédulo no Kahlil quando estava recém casado. O resto o negou verbalmente e com obstinadas sacudidas de cabeça.
Mas Amin, falava e sorria com ironia, culpando-a. Insistia em manter sua versão da história, e a exagerava mais e mais à medida que o tempo transcorria. Disse que
ela era ardorosa, apaixonada e insaciável.
Ao Bryn lhe punha a carne de galinha enquanto Amin desenvolvia suas mentiras e fazia que a inocência e a confiança que anos atrás ela tinha depositado nele parecessem
sórdidas e sujas.
Kahlil não olhava ao Bryn enquanto Amin falava. Permanecia de pé diante de sua cadeira, com os braços cruzados e o olhar vazio.
E Bryn, que sabia que sua mãe lhe tinha falhado, e que nunca se sentou seguro do carinho de seu pai, tinha-lhe falhado também. Se Kahlil tivesse querido torturá-la,
não podia ter achado melhor castigo.
De reojo, viu o Rifaat que olhava ao vazio, silencioso, quase invisível. estremeceu-se ao imaginar o que estaria pensando, o que sentiria para uma esposa desleal.
Tinha- falhado a todos.
Pensou que a próxima vez o faria de outra forma. Seria mais forte, mais valente. Diria o que sentia e perguntaria sem guardar rancores. Perdoaria e esqueceria...
Fechou os olhos tratando de que não lhe saltassem as lágrimas, mas não o obteve.
"Kahlil. Amo-te, Kahlil. me perdoe, Kahlil. É meu sol e minha lua, é tudo para mim..."
Kahlil estalou os dedos. Ela abriu os olhos e viu o Kahlil que se dirigia para o Amin.
- Basta! Já ouvi de sobra. A polícia espera fora. Suponho que o cárcere não será tão cômoda como seu apartamento de Monte Cario.
-Como se te importasse muito -resmungou Amin.
-Importava-me. É meu irmão. Leva meu sangue.
-Seu sangue? Desde quando? Não fui mais que uma obrigação para ti, seu ato de caridade.
-Compartilhei-o todo contigo. Bryn se estremeceu ante a dor da voz do Kahlil. Estava triste.
-Não compartilhou nada comigo. Levou-te a minha mãe...
-Eu também a perdi -interrompeu Kahlil-. Quando meu pai a desterrou do Zwar, também me machucou .
-Mas te recuperou, príncipe herdeiro do Zwar. Teve todas as oportunidades, todas as vantagens. Internados na Inglaterra, estudos de postgrado nos Estados Unidos.
Dinheiro, poder. Teve-o tudo. Eu sozinho queria minha parte.
-Minha esposa não era uma opção. de repente, Amin riu com uma risada aguda, histérica.
--Não o era?
Bryn se cobriu a cara com as mãos. Não podia suportá-lo. Ouviu como os guardas arrastavam ao Amin fora da sala, mas não olhou. Solo elevou a vista quando ouviu que
as pesadas comportam se fechavam. Amin não era o único que não estava. Kahlil também se foi.
Bryn seguiu sentada durante uns momentos angustiantes, alisando a seda de seu vestido. Rifaat seguia na sala, mas não lhe falava. Por fim, incapaz de resistir o
silêncio, soltou:
-Quando vai retornar? -Rifaat não respondeu imediatamente. Ela se girou e viu a expressão de sua cara-. Retornará, verdade?
-Não, minha senhora.
Ela não estava segura de se tinha ouvido bem.
-Mas me mandará a procurar mais tarde.
-Devo acompanhá-la a seu carro. Está esperando aí em frente.
-E Ben?
-Ele já está no carro. Suas coisas também. Sua donzela o empacotou tudo.
Bryn não compreendia. sentia-se estúpida por não compreender. Tanta agitação e o temor a perder a seu filho. Se Rifaat o explicasse de novo, mais devagar...
-por que está Ben no carro? Aonde vamos?
-A casa.
Mas se essa era sua casa. Kahlil e Bryn e Ben. Ali era onde pertenciam. Então, por que estava Ben no carro? por que tinha deixado Kahlil ao Ben solo no carro? Como
podia lhe fazer isso? Como podia ser tão cruel? ficou de pé de um salto. Tinha um nó na garganta.
-Onde está Kahlil?
-Sei que isto é difícil, princesa, mas possivelmente sua Alteza tem razão. Seria sensato resolver de uma vez. Estou seguro de que o príncipe herdeiro estará dormindo
na limusine e que quando estiver no avião, você também dormirá. Logo tudo isto não será mais que uma lembrança.
-Não. Não. E não -Kahlil não podia lhe fazer isso. Não tinha direito, depois de arrastá-los até o Zwar e lhes fazer passar por um inferno. Tinha-lhe despertado o
coração e revivido seu amor. Não devia rechaçá-la-. Preciso vê-lo.
-Não pode, senhora.
Bryn não esperou para ouvir o resto. Saiu da câmara real e correu pelos corredores. Suas pegadas ressonavam sobre o reluzente mármore. Passou diante de dois guardas,
muito surpreendidos para detê-la, e irrompeu no despacho do Kahlil. Estava escuro e não havia ninguém.
Ouviu que Rifaat a chamava ao longe, mas não fez caso e seguiu correndo por volta da quarto do Kahlil. A porta estava fechada com chave e saía uma luz tênue por
debaixo.
- Kahlil! -chamou-o, desesperada-se, dando golpes na porta e sentindo que Rifaat se aproximava-. me Escute. Entendo que esteja zangado, e tem toda a razão. Mas não
castigue ao menino. Luta contra mim, mas não contra ele. Ele te quer. Necessita-te. Eu te necessito -lhe doía a garganta e o coração e tremia-. Maldita seja, Kahlil,
como podemos fazer que isto funcione se não nos falamos? Abre a porta, por favor! -não ia deixar que Kahlil a voltasse a deixar fora de sua vida. Ela sabia que ele
a amava, no fundo de seu duro coração-. OH, Kahlil, me fale.
Não pode nos pôr ao menino e a mim em um avião e nem sequer nos dizer adeus. O que vamos fazer sem ti? Onde vamos? Como poderei educar ao Ben sem ti? Se for repudiar,
ao menos me ajude, me aconselhe. Kahlil, por favor!
Rifaat a alcançou e a agarrou pelos ombros tratando de apartar a da porta do xeque.
-Minha senhora, venha. Não me faça chamar os guardas.
Bryn se soltou e seguiu golpeando grosseiramente a porta.
-Kahlil, me ajude -a porta rangia sob seus punhos-. vão levar me. Você pode detê-los. Deve detê-los!
As mãos do Rifaat voltaram a posar-se em seus ombros, esta vez com suavidade.
-Por favor, Bryn -lhe falava com doçura, utilizando seu nome pela primeira vez desde que tinha retornado ao Zwar-, não quererá que a levem sem dignidade. O peço
por favor. Embora solo seja pelo Ben.
Mas ela o estava fazendo pelo Ben, e por eles dois. Kahlil os necessitava, tanto como ela e Ben o necessitavam a ele.
- Não irei! -gritou apertando a cabeça e as mãos contra a porta-. Não irei! Rifaat a agarrou com mais firmeza.
-Devo conduzi-la até o carro. Venha comigo, Bryn, não o faça mais duro do que é.
As lágrimas lhe rodavam pelas bochechas, manchando a porta.
-Kahlil -se afogava, derrubava-se. O pranto não a deixava falar. Notou uma sombra na luz de debaixo da porta. Sentiu renascer a esperança-. Kahlil, em toda minha
vida só amei a ti.
Intuía que Kahlil estava detrás da porta. imaginava que podia ouvir os batimentos do coração de seu coração e sentir seu calor e sua força. Mas também sentia sua
irritação, sua indecisão e seu orgulho. ajoelhou-se e colocou os dedos por debaixo da porta, implorando.
-Iria até o fim do mundo por ti, Kahlil. Daria de presente meu coração se me pedisse isso -a sombra desapareceu. estava-se separando dela. Física e emocionalmente.
estava-se fechando a ela. Sua vida seguia adiante.
Rifaat e um guarda a puseram em pé. Não tinha forças para resistir. A incredulidade a tinha deixado sem fôlego.
Tudo tinha terminado. Kahlil não a queria. Tinha tomado uma decisão e não ia trocar de opinião.
Fora, o condutor esperava na limusine. A porta de atrás estava aberta e Bryn pôde ver o Ben acurrucado debaixo de uma manta no assento e completamente dormido, abraçado
a um elefante de peluche.
Tremendo, agachou-se para acariciar ao Ben. Seu filho. O filho do Kahlil.
-Não posso acreditar que isto termine assim. Rifaat sujeitava a porta do carro e a olhava.
-Sinto muito, minha senhora. Bryn não podia falar.
-Eu sei o que fez o irmão do xeque, minha senhora. Eu estava ali a noite que ele a atacou em seu quarto -Bryn se incorporou, mas ainda não podia falar. Rifaat moveu
a cabeça, devagar-. As câmaras de vigilância gravaram que ele tinha entrado nas habitações das mulheres. Eu não sabia o que fazer, mas a ouvi gritar. Entrei em sua
habitação e você estava lutando, e tratando de agarrar o joalheiro.
De repente várias lembranças dessa noite encaixaram como em um quebra-cabeças. Sempre se tinha perguntado como tinha conseguido escapar.
-Eu não o deixei sem sentido. Foi você.
-Terei que fazê-lo.
-Então você arrastou ao Amin fora dali.
-Vi-a sair do palácio, mas não a detive - Rifaat se separou um pouco da porta-. Muitas vezes pensei que devia haver o contado a sua Alteza, mas você se foi e Amin
seguia perto. Como lhe dizer a um xeque que seu irmão é um traidor? - Bryn pensou que Kahlil sempre seria vulnerável. Todos esperavam algo dele. Sentiu que ele tinha
uma carga muito pesada-. Posso falar com ele agora, se você quiser.
-E o que? Fazer que se volte contra ti também? Acredito que é melhor que não. Amo-o muito para fazer que viva sem ao menos um amigo verdadeiro. E você Rifaat é seu
amigo.
-Se não o digo, perderá-o.
- Já o perdi -tentou sorrir-. lhe Diga ao Kahlil - se deteve olhar por última vez o palácio-. Não, nada. Melhor que vamos antes de que Ben desperte.
Capítulo 12
S
CHEIRO tinham transcorrido duas semanas desde que tinha estado sentada no suave assento de couro dentro da luxuosa cabine do avião, embalando ao Ben que dormia.
Estava de novo ali, caminho do Texas. Mas Dallas já não era sua casa. Sua casa estava com o Kahlil, onde estivessem os três juntos.
Com os motores acesos, o avião vibrava a ponto de decolar. ao longe, viam-se as luzes da pista. Bryn tinha os olhos cheios de lágrimas e lhe ardia a garganta.
Como podiam acabar assim? Havia sentido tanta esperança a noite de sua segunda lua de mel. Mas todo se desmoronou, e não sabia como poderia contar a verdade ao Kahlil,
como lhe explicar que seu amor por ele era muito maior que todos os defeitos que ela tinha, maior que nada no mundo. O amor verdadeiro não era sozinho paixão, a
não ser fé. Mas Kahlil não tinha fé nela. Nem confiava nela. O avião iniciou a manobra. Não era justo, tinha-o perdido não uma, a não ser duas vezes. Queria chorar,
mas sabia que se soltava uma só lágrima, perderia o controle:
-Se vai -ressonou uma voz profunda detrás da cabine- terá que me levar contigo.
-Kahlil?
Devagar, precavida, se por acaso solo era obra de sua imaginação, voltou-se a olhar.
Ali estava Kahlil, em jeans e camiseta, despenteado e com os olhos avermelhados.
-Não vá. Não vá sem mim -ela não podia falar. Tinha um nó enorme na garganta e as lágrimas lhe queimavam os olhos. Não podia acreditar que ele estivesse ali, no
avião, depois de tudo o que tinha passado-. Não posso fazê-lo. Não posso fazê-lo sem ti.
Ela entreabriu os lábios. A boca lhe tremia. Conseguiu balbuciar:
-Fazer o que?
-Governar Zwar, governar a meu povo -sua voz se cortou-. Não sei sequer se poderei viver, me sentindo assim. Não... Não sou melhor que meu pai. Ele dizia que sempre
atuava pelo bem de seu povo, mas não sei se isso era certo. Ele dizia que as regras, a ordem, sempre devem ser o primeiro. Mas eu tratei que viver segundo isso e
é insuportável. Minha vida é insuportável.
Ela tentou levantar-se e ir para ele, mas tinha ao Ben em seu regaço e não tinha forças para agüentar o peso dos dois.
-Não pode ser insuportável, quando o povo te quer tanto como nós.
Kahlil se aproximou.
-Então por que tenho que te ferir? por que tenho feito que acontecêssemos este inferno?
^No sei, mas seguro que há algum motivo.
-Não, nunca há uma razão para ser cruel a propósito -se deteve um palmo dela, com a expressão vazia e o dourado de seus olhos, turvo-. Não posso te machucar já mais.
Tenho que parar e tem que ser agora.
-Está aqui agora, e isso é o que conta -os sentimentos lhe amontoavam. Não sabia se estar feliz ou zangada porque Rifaat tinha quebrado sua palavra e lhe tinha contado
tudo ao Kahlil-. Então, Rifaat lhe disse isso? Pedi-lhe que não o fizesse.
Kahlil franziu o cenho.
-O que me ia dizer Rifaat? -estava confuso-. aconteceu algo? Aconteceu- algo ao Ben?
-Não, nada disso -ela titubeou, precavendo-se de que Kahlil não tinha nem idéia do que estava falando. Rifaat não tinha falado. Isso queria dizer que Kahlil tinha
ido por própria iniciativa. Por um momento não sabia o que pensar, nem o que sentir, até que se deu conta e uma sorte imensa lhe encheu o coração.
- Como vai? -perguntou Kahlil, assinalando ao Ben e aproximando-se para tomá-lo em seus braços.
-Bem, esteve dormindo quase todo o momento.
-Pobre hombrecito -Kahlil o balançou contra seu peito-. Sabe o que eu fiz? Sabe que te estava se separando de mim?
-despertou quando subíamos a bordo, mas não lhe disse aonde íamos. Solo que íamos dar uma volta.
-Não sei no que estaria pensando. Não sei como pude te fazer partir. Estava ao outro lado da porta, te escutando chorar -a olhou aos olhos-. Senti sua mão sobre
a porta, senti o calor e a dor, mas em vez de abrir, ignorei-te. Fingi que não existia - fez um gesto de desgosto-. Me dou asco. Como pude te fazer isso? Como pude
lhe fazer isso a minha família?
-Certamente por algum reflexo que ficou de sua infância -lhe respondeu.
-Isso não o faz melhor. Sinto-o muito. me perdoe.
-Não há nada que perdoar.
-Há muito. Nós os ao-Assad somos muito duros com nossas mulheres.
Os olhos do Bryn se alagaram de lágrimas. Estirou uma mão para lhe tocar a cara.
-Amo-te.
-Sei. E sei que não passou nada entre você e meu irmão. Não é esse tipo de mulher. Seu coração é muito puro. Além disso, conheço meu irmão. aconteceu-se a vida me
manipulando, jogando comigo. Posso imaginar o inferno que te tem feito passar.
-Já passou. Ben volta a estar conosco e eu tenho a ti.
Kahlil olhou para outro lado e sua boca se esticou.
-Esta noite, quando gritou meu nome, fez-o igual a minha mãe quando a levavam. Então eu não sabia por que a levavam. Solo sabia que algo horrível tinha acontecido.
Nunca a voltei a ver - tomou fôlego e suspirou-. Uma vez, quando era adolescente e estava de visita nos Estados Unidos, tive oportunidade de vê-la. Mas me neguei.
Morreu antes de um ano. De câncer.
-Você não sabia.
-me negar a vê-la foi um de meus maiores enganos. Mas esta noite estive a ponto de cometer o pior -a olhou fixamente-. Seu lar está na Tiva e quero que esteja aqui
comigo. Se isso for o que você quer também.
-Sim o quero -sussurrou ela, lutando contra as lágrimas.
-Não posso voltar a te perder.
-Nunca quis ir.
-A vida é muito dura...
-Sei. E quero passá-la sempre contigo. Quero que estejamos juntos, pelo Ben e pelos dois.
-Melhor. Porque não quero que Ben se separe de nós. Não poderia suportar que acontecesse quão mesmo passei eu. Fez-me me voltar cruel. Por favor, me ame ainda.
-OH, Kahlil, juro-te que te amo.
-Nunca mais, quartos separadas, não mais harém e habitações das mulheres. Quero que esteja comigo.
-Como um casal de verdade? Ele assentiu, muito sério e decidido.
-Um casal normal para que possamos fazer todo o possível para lhe dar ao Ben uma família normal. É o que se merece, o que qualquer menino se merece, e é o que eu
mais desejo.
O coração de lhe doía de alegria.
-Amo-te.
-Eu a ti mais.
- Não pode!
-Sim posso. Sou o xeque Kahlil Hasim ao-Assad, soberano do Zwar, guia de meu povo. O que eu diga é lei -e inclinando-se para ela, estreitando ainda ao Ben contra
seu peito, beijou-a com ternura. Adorando-a- . Não vale a pena que discuta, carinho. Não vais ganhar.
Essas foram as palavras mais doces do mundo. Sonriendo entre muito lágrimas, Bryn levantou as mãos.
-De acordo. Entrego-me!
Fim.
Escaneado e corrigido por tamarisk8.Bjos!
 
Edilma
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