sexta-feira, 15 de novembro de 2019

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO: ESTRANHO CONVITE - CARLOS AQUINO - FORMATOS: EPUB, DOCX RTF, TXT E EPUB

L i v r o digitalizado p e l a Equipe Bons Amigos p a r a

a t e n d e r a o s deficientes visuais.



ESTRANHO CONVITE



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ESTRANHO CONVITE

Carlos A q u i n o





Cedi bra


Editora Brasileira Limitada


Copyright MCMLXXVII

CEDIBRA ��� Editora Brasileira Ltda.

Direitos exclusivos para o Brasil:

Rua Filomena Nunes, 162 ��� ZC-22

20.000 ��� Rio de Janeiro, Capital

Distribu��do por:

FERNANDO CHINAGLIA Distribuidora S/A

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Composto e impresso pela CIA. GRAFICA LUX

Estrada do Gabinal, 1.521 ��� Rio, RJ

O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em

parte, nem reproduzido, nem registrado, nem re-

transmitida, por qualquer meio mec��nico, sem a

expressa autoriza����o do detentor do copyright.

CAP��TULO 1

N O I T E V A Z I A

Mais uma noite vazia.

Sentado no sof��. com um copo de u��sque

na m��o, Gilberto olhava as pedras de gelo

misturadas com a bebida.

O que estaria acontecendo com ele? Ce-

libat��rio convicto, estava sentindo h�� v��-

rios dias o amargo sabor da solid��o.

5

Teria sido melhor ter casado? E as res-

ponsabilidades, os filhos, a falta de liber-

dade? Por que aquela fossa estava durando

h�� mais de dez dias? Seria tudo aquilo- ape-

nas por ter sido abandonado por Irene? Ou

seria alguma coisa mais profunda?

Na semana seguinte faria trinta e cinco

anos.

Ser�� que tudo era decorrente da idade

que estava chegando? Seria o medo de fi-

car velho e s��?

Sentia-se meio perdido dentro de sua ge-

ra����o.

Todos os seus amigos j�� tinham casado

e se estabilizado na vida. Quase n��o os pro-

curava porque n��o havia mais di��logo en-

tre eles.

Mas tamb��m n��o conseguia estabelecer

di��logo c o m a turma jovem. A grande pro-

va disso tinha sido Irene. Lembrava-se per-

feitamente do ��ltimo encontro que tivera

com ela. Naquela mesma s a l a . . . P��g 6

��� N��o d�� mais.

��� O que �� que n��o d�� mais, Irene?

��� Este nosso caso.

��� Voc�� n��o gosta mais de mim?

Irene olhou para Gilberto, encarou-o e

disse com extrema franqueza (ou seria

crueldade?):

��� N��o quero mais transar contigo, Gil-

berto. N��o estou a fim de vir ao seu apar-

tamento outra vez.

O rapaz continuou encarando-a, mas Ire-

ne nem pestanejou. Demonstrava uma se-

guran��a que ele n��o tinha. Desviou os

olhos:

��� Voc�� est�� querendo dizer que n��o

quer mais nada comigo?

��� Eu n��o estou querendo dizer, Gilber-

to. Eu estou dizendo!

Por que os jovens costumavam ser t��o

cru��is?

Naquele momento, Gilberto sentiu uma P��g 7

esp��cie de pavor. Era como se sua pr��pria

mocidade estivesse lhe escapando das m��os.

Precisava reter Irene de qualquer manei-

ra, custasse o que custasse:

��� Mas por qu��? N��o estou entenden-

d o . . .

��� N��s n��o temos nada em comum. Os

programas que voc�� gosta eu n��o consigo

curtir. N��o se pode fugir da realidade, Gil-

berto. Eu estou com dezessete anos, voc��

com trinta e cinco. Mais do que o dobro de

minha i d a d e . . .

��� Ent��o, �� i s s o . . .

��� Claro que �� isso, O que poderia ser?

Ele levantou-se e andou pela sala. Irene

acendeu um c i g a n o

O rapaz n��o queria se dar por vencido:

��� Por que a gente n��o tenta durante

mais algum tempo? Vamos fazer um acor-

do: de hoje em diante voc�� �� quem escolhe

os programas. Eu fa��o tudo que voc�� qui-

ser.

8

��� N��o adianta for��ar a barra. O fato ��

que eu estou em outra. E depois, j�� esta-

mos transando h�� tr��s meses. N��o acha que

�� muito tempo?

Tr��s meses. Apenas tr��s meses. E Irene

achava que era muito tempo.

Conhecera-a na praia. Ela estava com co-

legas de sua idade. Os amigos afastaram-se

e Irene come��ara a paquer��-lo.

Naquela mesma manh��, ela fora para o

seu apartamento e transara com ele com

a maior facilidade.

Atribu��ra tudo a seu charme irresist��vel

e pensara que tinha prendido a garota com

a sua masculinidade.

Ficara extasiado com o corpo extrema-

mente jovem de Irene. Quase uma menina.

Os seios pequenos, as pernas longas.

Olhou novamente para ela e desejou-a

mais do que nunca. Precisava possu��-la

mais uma vez, pelo menos mais uma vez.

Aproximou sua boca e tentou beij��-la.

9

��� N��o ��� disse Irene procurando afas-

t��-lo.

��� Por que n��o?

��� J�� est�� tarde. Tenho que ir embora.

��� Se �� a ��ltima vez que vem aqui, con-

forme est�� dizendo, eu quero aproveitar o

m��ximo. N �� o custa transar comigo outra

vez.

Apertou Irene e beijou-a. Suas m��os se-

guraram-lhe os seios e deitou-a no sof��.

A garota n��o fez obje����es. Agora, que sa-

bia que ia perd��-ia, achava-a mais desej��-

vel do que nunca.

A garota n��o demonstrou nenhuma sa-

tisfa����o. Parecia estar muito longe dali.

Gilberto esfor��ou-se para que ela sentis-

se prazer, mas viu que seu esfor��o estava

sendo-in��til.

Pelo menos, ela demonstrava a mais com-

pleta frieza. Mesmo assim, continuou em

cima de Irene at�� que atingiu o c l �� m a x . . .





10


��� Voc�� acha que algum dos namoradi-

nhos de sua idade �� t��o homem quanto eu?

��� Estou cansada do seu machismo. N��o

pense que �� com isso que voc�� pode me

prender.

Irene levantou-se calmamente. Quinze

minutos depois sa��a do apartamento.

Sozinho, Gilberto tranq��ilizou-se ao pen-

sar que ela voltaria no dia seguinte, ou pe-

lo menos dois dias d e p o i s . . .

# # *

Mas j�� havia decorrido mais de uma se-

mana e Irene n��o voltara. N��o tinha con-

tado com isso. Pensava que a garota retor-

nasse a qualquer momento.

No trabalho, esperava ansiosamente que

ela lhe telefonasse. Depois, voltava para ca-

sa e tomava um u��sque atr��s outro. Sem-

pre na esperan��a de que a qualquer mo-

mento o telefone tocasse.

Agora j�� n��o tinha esperan��as. Sabia

que Irene n��o voltaria.





11


Essa constata����o aumentava sua fossa.

Tinha que esquecer a garota e procurar

outra. Havia muita mulher no mundo. E

muitas delas j�� tinham lhe p e r t e n c i d o . . .

Sorriu ao pensar na quantidade de mu-

lheres que havia possu��do ao longo de sua

vida. Certamente poucos homens teriam ti-

do tantas.

Sempre fora um grande conquistador e

tinha a maior facilidade em levar para a

cama todas as mulheres que desejava.

Mas, de todas elas, poucas lhe haviam

marcado. De muitas n��o lembrava mais do

nome. Nem do rosto.

De repente, veio-lhe uma id��ia, que a

princ��pio lhe pareceu absurda, mas depois

achou divertida.

Na semana seguinte completaria trinta-

e cinco anos. Por que n��o dar uma festa e

convid��-las?

Seria uma grande curti����o: ter todas ao

mesmo tempo em sua casa numa s�� noite.

12

O ideal para um homem, pensou, seria

ter muitas mulheres, todas habitando paci-

ficamente a mesma casa.

Empolgou-se com a id��ia da festa. Iria

ser uma esp��cie de sess��o nostalgia, onde

ele veria desfilar diante de seus olhos toda

a sua vida amorosa.

Cada uma lhe recordaria uma determi-

nada fase de sua vida.

�� claro que n��o iria chamar todas com

quem havia transado. Seu apartamento era

pequeno; seria preciso um edif��cio inteiro.

Convidaria apenas as que tivesse amado.

Tinha muita vontade de v��-las como es-

tavam agora.

Quantas j�� estariam casadas?

Quais as que n��o se lembrariam mais

dele?

Como localiz��-las, uma vez que provavel-

mente algumas j�� teriam se mudado?

Levantou-se e serviu-se de mais uma do-

se de u��sque. Colocou um disco qualquer

na eletrola e voltou a recostar-se no sof��.





13


Antes de mais nada, teria que fazer uma

sele����o rigorosa.

N��o poderia convidar cinq��enta mulhe-

res. Reduziria o n��mero ao m��nimo poss��-

vel.

Chamaria apenas aquelas que amara de

verdade num determinado per��odo de sua

exist��ncia. Ou, pelo menos, que pensara

amar.

N��o deveria convidar mais do que dez, de-

cidiu. Para facilitar a escolha, resolveu p��r

em ordem os pensamentos e come��ar por-

ordem cronol��gica.

Qual teria sido seu primeiro amor?

Cec��lia foi o nome que lhe apareceu de

imediato.

Fora realmente seu primeiro amor? Ou

existira outro antes?

Sorriu ao lembrar-se de Isabel. Sim, Isa-

bel fora a primeira mulher que o impres-

sionara muito.

S�� que ela nunca soubera disso, simples-

mente porque ele tinha apenas quatorze

anos de idade e Isabel era sua professora.





14


Naquela ��poca Isabel deveria ter 27 ou

28 anos. Estaria portanto agora com quase

cinq��enta. Gostaria de poder rev��-la.

Mas como encontr��-la, mais de vinte

anos depois?

Quando vira a professora pela primeira

vez, ficara excitad��ssimo.

Isabel tinha as coxas grossas, a cintura

fina e uns quadris volumosos. O famoso ti-

po "viol��o" da d��cada de 50.

Imaginava-a nua, oferecendo-se a ele com

toda a sua abund��ncia de carnes.

Depois, quando a via na aula, ficava pen-

sando o que ela diria se soubesse das coi-

sas que fazia em sua i n t e n �� �� o . . .

Seria uma boa convid��-la. Para onde

mandaria o convite?

S��. havia uma op����o: para o col��gio onde

tinha estudado. Talvez Isabel continuasse

lecionando l��.

Lembrava-se perfeitamente das aulas que

ela dava. Isabel ensinava ingl��s e quando

colocava a l��ngua entre os dentes para ex-

plicar a pron��ncia de determinadas pala-





15


vras, Gilberto achava a coisa mais sensual

do mundo.

Ser�� que Isabel alguma vez desconfiara

da paix��o que lhe inspirara? Certamente

n��o. Agora deveria ser uma senhora bas-

tante gorda, possivelmente feia.

Procurou um bloco de papel e uma cane-

ta, sentou-se junto �� mesa e come��ou a es-

crever.

16

CAP��TULO 2

O C O N V I T E

A primeira coisa a fazer era colocar os

nomes deles, em seguida procuraria os en-

dere��os.

Escreveu dois nomes: Isabel e Cec��lia.

Cec��lia tinha sido sua primeira namora- P��g 17

da s��ria. Encontrara-a urna vez, h�� algum

tempo, e ela lhe dissera que tinha casado.

Mas estaria ainda com o marido?

Os nomes que lhe vieram em seguida ��

cabe��a foram: Edna, que fora sua amante

h�� uns dez anos; Eunice, com quem tivera

um caso mais ou menos recente; Jussara

e Lia. Al��m, evidentemente, de Irene, a ga-

rota com quem terminara na semana an-

terior.

Ficou em d��vida se deveria convidar I r e -

ne ou n��o.

Temia que ela ficasse pensando que ele

n��o a esquecera e que estava tentando re-

conquist��-la, o que, de resto, era verdade.

N��o queria dar este gosto �� garota, mas

tamb��m n��o podia negar seu desejo de con-

vid��-la.

Olhou a lista e viu que tinha apenas sete

nomes.

De todas as mulheres que possu��ra, e ha-

viam sido in��meras, gostara apenas de se-





18


te, contando com a professora? N��o deixa-

va de ser decepcionante.

Fez um modelo da carta-convite que man-

daria :

" N o pr��ximo dia 19 completo 35 anos de

idade. Vai haver um pequena festa em mi-

nha casa e pe��o que compare��a, a fim de

recordar os velhos tempos.

Atenciosamente,

Gilberto."

Releu-a algumas vezes. Deveria fazer

uma carta diferente para cada uma ou

mandar todas iguais? O estilo n��o estaria

muito seco? N��o deveria entrar em deta-

lhes que tivessem algum significado para

cada uma? E se alguma ou algumas delas

n��o se lembrassem mais dele?

Claro que, excetuando a professora, as

outras lembrariam, disso n��o tinha d��vi-

das.





19


Mas provavelmente iriam achar muito es-

tranho o convite.

Depois de alguns minutos de d��vida, re-

solveu n��o esquentar muito a cabe��a e fa-

zer todas as cartas-convites iguais.

Escreveu as sete cartas, pegou os envelo-

pes e procurou velhas cadernetas de ende-

re��os que n��o tinha jogado fora.

Achou melhor n��o preocupar-se se iriam

receber o convite ou n��o, se viriam ou n��o

�� festa.

O excitante era justamente isso: a sur-

presa no dia do anivers��rio, quem viria e

quem n��o viria.

Enderegou a carta de Isabel para o co-

l��gio onde tinha estudado.

A de Cec��lia para a casa dos pais dela,

pois n��o sabia onde residia depois que ca-

sara.

De novo voltou-lhe a d��vida de que ela

20

n��o estivesse mais com o marido. Tinha

quase certeza de que Cec��lia compareceria

�� festa, se o convite chegasse ��s suas m��os.

Edna fora sua amante h�� uns dez anos.

Era uma mulher muito louca, haviam tido

um romance tempestuoso de seis meses, en-

tre brigas violenta e reconcilia����es. Fora

uma de suas paix��es mais alucinantes.

Jussara estava em lua-de-mel quando co-

me��ara a transar com ele. Incrivelmente

sensual, parecia am��-lo, mas atormentava-

se demais porque tra��a o marido.

Talvez pegasse o convite e o rasgasse em'

pedacinhos para n��o reviver o passado, nem

ter problemas de consci��ncia.

Lia tentara casar com ele a todo custo.

Quando acabaram o caso, ela dissera que

n��o o perdoaria nunca. Mas agora, alguns

anos depois, n��o deveria guardar ressenti-

mentos. P��g21





21


Eunice fora um de seus amores mais re-

centes. T i n h a pouco mais de um ano que

haviam deixado de se encontrar.

Ele lembrava-se dela de vez em quando

e, ��s vezes, pensava em procur��-la de novo.

A ��ltima carta-convite era a de Irene.

Pensou na rea����o que teria ao receb��-la.

No m��nimo iria mostr��-la aos amiguinhos

e debochar dele. (Quem seria seu atual na-

morado? Talvez aquele surfista louro e quei-

mad��ssimo de praia com quem a vira uma

vez em Ipanema.)

Teve raiva de si mesmo ao se surpreen-

der com ci��mes da garota.

Ainda iria demorar muito para ficar

completamente curado daquela ��ltima pai-

x��o.

Depois de terminado o trabalho, juntou

os envelopes e guardou-os em uma pasta.

No dia seguinte, colocaria no correio.

22

Foi deitar-se menos angustiado, ante a

perspectiva do que aconteceria na festa de

seu anivers��rio.

Alguns minutos depois, levantou-se e vol-

tou a acender a luz.

Achou que cometera um erro em fazer

todas as cartas iguais.

Pelo menos a da professora deveria es-

clarecer alguma coisa, pois era absoluta-

mente imposs��vel que ela soubesse de quem

se tratava, apenas pelo nome.

Teria que dar uma pista, dizer pelo me-

nos que havia sido aluno dela.

Tirou da pasta o envelope endere��ado a

Isabel e redigiu outra carta, na qual dizia

que fora seu aluno h�� mais de vinte anos.

De qualquer maneira, sentiu que estava

tendo um trabalho in��til, porque Isabel se-

ria a ��ltima pessoa a comparecer �� festa.

Iria achar muito engra��ado o estranho con-

vite e n��o tomaria conhecimento dele.

23

Quando acabou de redigir a nova carta,

n��o ficou satisfeito com o resultado, mas

mesmo assim colocou-a no envelope e vol-

tou a se deitar.

24

CAPITULO 3

A P R O F E S S O R A

Isabel entrou em seu carro. Viu sua pr��-

pria imagem refletida no retrovisor.

As rugas em volta dos olhos estavam mais

pronunciadas do que nunca. A maquilagem

n��o disfar��ava mais sua idade. Tamb��m,

com a vida que l e v a v a . . .

25

Fizera 48 anos, tinha tr��s filhos adoles-

centes. O relacionamento com o marido ia

de mal a pior. A situa����o financeira tam-

b��m n��o era das melhores.

Passava o dia inteiro na rua, dando au-

las em v��rios lugares, a fim de aumentar

o or��amento dom��stico.

Sua vida tinha sido toda de trabalho e

ren��ncia. Apaixonara-se por Cust��dio e ca-

sara com ele, deixando de lado v��rios ou-

tros pretendentes que poderiam ter-lhe pro-

porcionado uma exist��ncia melhor.

A fam��lia fora contra, ningu��m queria o

casamento.

Mas ela teimara, talvez condicionada pe-

la oposi����o de todos. S�� muito depois �� que

se questionara: teria sido mesmo amor ou

pura teimosia?

Fora uma mulher bonita nos seus ��ureos

tempos. Muito alegre e comunicativa, ti-

nha consci��ncia do desejo que despertava

nos homens.

Usava vestidos muito justos, que lhe real-

��avam as formas protuberantes e gostava

dos olhares que despertava.

26

Adorava imitar as estrelas famosas de ci-

nema da ��poca e muitos diziam que se pa-

recia com Jane Russel, com uma ��nica di-

feren��a: enquanto a atriz norte-americana

tinha excesso de busto, Isabel tinha de qua-

dris.

Alta, cabelos pretos compridos, um olhar

de morma��o e uma sensualidade que sa��a

pelos poros. Estas as caracter��sticas de Isa-

bel em seus tempos de mocidade.

Agora, sabia que nada mais lhe restava

daquele esplendor.

As protuber��ncias que tanto excitavam

os homens tinham se transformado em gor-

duras abomin��veis. Envelhecera precoce-

mente de rosto e de corpo. A boca ficara

amarga, os olhos contornados por muitas

rugas.

Uma vez, vendo um antigo filme de Jane

Russel na televis��o, comentou com um dos

filhos adolescentes que, quando jovem, to-

dos a achavam parecida com ela.

O garoto quase morreu de rir e n��o acre-

ditou.

Realmente, vendo-a atualmente, era real-

27

mente inacredit��vel que um dia tivesse si-

do bonita. Mas a vida e o tempo t��m uma

incr��vel capacidade de destrui����o.

Estava casada com Cust��dio h�� vinte e

dois anos. No come��o at�� que as coisas ha-

viam corrido mais ou menos bem.

Depois, aos poucos, os filhos, o aumento

das despesas, as dificuldades cada vez maio-

res, o car��ter fraco do marido, foram des-

truindo o casamento.

Desiludida, vendo que a realidade n��o ti-

nha nada a ver com os filmes a��ucarados

e multicoloridos de Hollywood a que gostava

de assistir, ela ainda permaneceu fiel du-

rante muito tempo.

Mas terminou arranjando um amante.

J�� estava com mais de trinta anos e ainda

queria ter a ilus��o de que era desej��vel.

Apegou-se a ele como se fosse uma t��bua

de salva����o.

No entanto, mais uma vez, n��o teve sor-

te. Benjamin, o amante, n��o passava de um

cafajeste. A liga����o durou alguns meses,

at�� que um dia ele desapareceu.

N �� o quis mais saber de ningu��m. Sua vi-

28

da sexual a partir da�� passou a ser quase

nula, uma ou outra rela����o eventual com

o marido, que vez por outra se lembrava de

que ela ainda era uma mulher.

Tivera mais uns dois ou tr��s amantes ca-

suais. Depois acomodara-se e aceitara o

tempo que passava e a velhice que se apro-

ximava, inexor��vel.

Absorvida em seus pensamentos, Isabel

nem notou que j�� estava perto do col��gio

onde daria as primeiras aulas do dia.

Chegou dez minutos mais cedo, como

sempre. Talvez devido �� sua vida comple-

tamente frustrada, acostumara-se a uma

disciplina r��gida.

j a m a i s faltava ao trabalho nem chegava

atrasada. Apegava-se a essas pequenas cdi-

sas quase como uma obsess��o, talvez para

n��o ter tempo para pensar.

Ficou curiosa quando lhe entregaram

uma carta antes de entrar na sala de aulas.

Ainda perguntou ao cont��nuo:

��� Tem certeza que �� para mim?

��� Est�� endere��ada �� senhora.

29

Isabel pegou a carta com ansiedade.

Quem lhe teria escrito?

Olhou o remetente: Gilberto Figueiredo.

N��o se lembrava de ningu��m com este no-

me. Quem seria?

Abriu o envelope e come��ou a ler. Sua

surpresa aumentava �� medida que lia.

Gilberto explicava que tinha sido seu alu-

no h�� mais de vinte anos e estava lhe con-

vidando para sua festa de anivers��rio.

Sorriu, achando interessante o neg��cio,

apesar de absurdo.

Ela, por mais esfor��o de mem��ria que fi-

zesse, n��o se lembrava dele de jeito ne-

nhum. Tivera milhares de alunos ao longo

de sua carreira de magist��rio, dezenas de

Gilbertos haviam estudado com ela.

Dobrou a carta, colocou-a de novo no en-

velope e guardou-o na bolsa.

De qualquer maneira era gratificante re-

ceber o convite. Um aluno seu, duas d��ca-

das depois, lembrava-se de escrever-lhe con-

vidando-a para seu anivers��rio.

Por um motivo ou outro (e tinha vonta-

30

de de saber qual o v e r d a d e i r o ) , ele n��o a esquecera.

Entrou na sala de aula e durante todo

o tempo n��o conseguia deixar de pensar no

convite.

Por acaso, entre seus alunos atuais, ha-

via um Gilberto. Ser�� que ele se recordaria

dela daqui a vinte anos?

Um pensamento sinistro a perturbou:

"Estaria viva daqui a vinte anos?" Se esti-

vesse, seria uma velhinha de quase setenta.

A id��ia a deprimiu.

Concentrou-se na aula e esqueceu a carta.

Sua incr��vel autodisciplina era a ��nica

aliada com que contava. T i n h a que cum-

prir suas obriga����es, dar aulas uma atr��s

da outra, sair de um col��gio para outro e

no fim do dia voltar para casa, exausta.

N��o poderia se permitir um tempo pa-

ra pensar. O ideal era manter-se sempre

ocupada, f��sica e mentalmente.

�� noite, cansada, o sono viria com mais

facilidade e na manh�� seguinte, outras

obriga����es a esperavam.





31


Mas, em algum ponto do seu subcons-

ciente, o convite permaneceu.

Ao deitar-se, deixou que ele voltasse a ser

o centro de seus pensamentos.

Era um convite muito estranho, sem d��-

vida. Provavelmente, Gilberto n��o esperava

que comparecesse. Ela tamb��m, a princ��pio,

n��o pensara em ir nem por um momento.

No entanto, agora, estava disposta a mu-

dar de opini��o. Talvez fosse interessante ir

�� festa. S�� assim poderia descobrir o mo-

tivo por que ele a convidara.

Mesmo sabendo ser in��til querer dialogar

com o marido, falou:

��� Hoje recebi um convite para uma

festa.

Cust��dio nem se deu ao trabalho de per-

guntar que festa era aquela.

Apesar do sil��ncio do marido e de sua

total falta de interesse, ela continuou:

��� Um ex-aluno, que estudou comigo h��

mais de vinte anos, me mandou um con-

vite para o seu anivers��rio.

��� E voc�� vai?

��� Talvez.

32

Como ela esperava, o di��logo n��o levou

a nada. Cust��dio apenas olhou-a com indi-

feren��a e poucos minutos depois estava ron-

cando.

33

CAP��TULO 4

M A N H �� DE SOL

Irene saiu do quarto correndo. J�� estava

muito atrasada. Marcara com Danilo na

praia ��s nove horas e eram quase dez.

A m��e gritou quando ela passou como

um raio pela sala:





34


��� J�� vai sair?

��� Vou �� praia.

��� Chegou uma carta pra voc��.

��� Pra mim?

��� Sim.

��� De quem ��?

��� N��o est�� escrito o remetente.

A garota aproximou-se da m��e e tomou-

lhe o envelope. Abriu a porta e esperou o

elevador. Enquanto isso, tirou a carta do

envelope e olhou a assinatura.

Gilberto.

Em vez de procur��-la pessoalmente, Gil-

berto resolvera se comunicar atrav��s de bi-

lhetes? Leu o que estava escrito e n��o p��de

conter um riso de deboche.

O elevador chegou e ela desceu. Gilber-

to era mesmo um cara muito rid��culo. Que

coisa mais careta essa hist��ria de comemo-

rar anivers��rio e convid��-la! . . .

Claro que aquele convite era uma tenta-

tiva de reconcilia����o.

Ali��s, estranhara que durante aquelas

quase duas semanas ele n��o a tivesse pro-

curado.

35

Sentia-se at�� aliviada, pensando que es-

tava livre dele, quando de repente recebia

aquela carta.

Atirou-a na cal��ada e seguiu apressada

para a praia. N��o notou um carro que vi-

nha em alta velocidade e quase a atrope-

lou. Ouviu s�� o grito, enquanto dava um

salto:

��� Est�� querendo morrer, gatinha?

Morrer na sua idade? Nem pensar. Prin-

cipalmente numa manh�� de sol como aque-

la. Estava no auge de seus dezessete anos,

aproveitando intensamente a juventude.

Voltou a pensar em Gilberto. N��o sabia

mesmo por que tivera aquele caso com ele

durante tr��s meses.

Realmente, n��o era uma boa manter re-

la����es sexuais com caras muito mais ve-

lhos.

O neg��cio era curtir a vida junto com o

pessoal de sua idade.

Felizmente j�� se livrara daquele cara e

come��ara a namorar Danilo, que conhecera

praticando surf no Castelinho. Os cabelos

36

louros e compridos de Danilo a tinham

atra��do.

Desceu a cal��ada e andou pela areia, pro-

curando avistar o namorado. Mas n��o viu

Danilo pelas imedia����es.

Ser�� que fora embora e n��o esperara por

ela?

Olhou para o mar e sorriu ao ver que Da-

nilo estava sobre sua prancha de surf,

equilibrando-se em cima das ondas.

Tirou a sa��da de praia que cobria seu

min��sculo biqu��ni e estirou-se ao sol. Da-

nilo avistou-a e saiu do mar, vindo em sua

dire����o:

��� Oi!

��� Oi! .

��� Que foi que houve?

��� Dormi demais, s�� isso.

��� Voc�� vai perder toda a sua vida dor-

mindo.

��� Esse neg��cio de despertador n��o fun-

ciona comigo. N��o adianta que n��o consi-

go ouvir. Quando durmo, pare��o uma pe-

dra.

37

Riram. Ele jogou os cabelos molhados pa-

ra tr��s:

��� Voc�� t�� com uma cara esquisita!

��� Eu?!

��� ��. Parece que ainda n��o acordou.

��� Vou me atirar na ��gua pra ver se o

sono vai embora de vez.

Os dois sa��ram correndo em dire����o ao

mar e mergulharam.

A ��gua fria reanimou Irene. Uma onda

mais forte fez com que desequilibrasse. Da-

nilo riu. Ela saiu debaixo da onda com os

cabelos pingando.

��� Acho que agora acordei.

Ele abra��ou-a e beijou-a ali mesmo, den-

tro d'��gua. O gosto de sal dos seus l��bios

lhe pareceu delicioso:

��� Voc�� �� um barato!

Voltaram para a areia.

��� Hoje recebi uma carta. Adivinhe de

quem?

��� Como �� que vou saber? ��� respondeu

Danilo com outra pergunta.

��� Fa��a um esfor��o.





38


��� Deixe de frescura e diga logo de quem

foi.

��� Do Gilberto.

��� Quem?!

��� Gilberto.

��� Aquele coroa que namorou contigo?

��� Ele mesmo.

��� N��o est�� morando mais no Rio?

��� Est��.

��� E por que te escreveu, em vez de te-

lefonar?

��� Falta de coragem.

��� O que ele est�� querendo?

��� Que eu v�� �� sua festa de anivers��rio.

Danilo deu uma gargalhada:

��� Essa n��o!

��� Verdade! Juro.

��� E voc�� vai?

��� Claro que n��o.

��� Ser�� que esse cara n��o se -manca?

��� Ele ainda n��o se convenceu de que

quem gosta de velho �� museu.

��� A culpa �� sua. Quem manda transar

com gente da idade dele? Agora n��o vai ter

sossego o resto da vida. Ele vai continuar

39

encarnando em voc�� por muito tempo

ainda.

��� Quem transa comigo n��o me esquece

nunca.

��� S�� se for um bolha como ele.

��� Quer dizer que se eu acabar contigo,

voc�� vai me esquecer depressa?

��� Sem essa, Irene! N��o v�� me dizer que

voc�� pegou os v��cios do cara. �� nisso que

d�� conviver com coroa. Comigo n��o tem

disso de acabar com uma garota e ficar

curtindo dor-de-cotovelo. Enquanto a gen-

te t�� numa boa, tudo bem. Quando acabar,

acabou. Saio pra outra.

O olhar de Irene percorreu Danilo de ci-

ma a baixo.

Teve vontade de transar com ele ali mes-

mo, na praia.

Danilo n��o entendeu a maneira como o

olhava e perguntou:

��� Qual �� o grilo? Ficou com raiva com

o que eu disse?

��� N��o.

��� Ent��o, o que ��?

40

��� T i v e uma vontade s��bita de transar

contigo agora.

��� Aqui na praia?

��� Seria muito legal, se a gente pu-

desse . ..

��� N��s ficamos a noite toda transando.

N��o ficou satisfeita?

��� Isso foi ontem �� n o i t e . . .

��� N��o sei como o coroa ag��entava

Quantas ele dava por noite?

��� No m��ximo, duas.

��� E como �� que voc�� se arranjava

��� Por isso que acabei com ele.

Danilo deu uma gargalhada e come��ou

a passar a m��o pela barriga de Irene. Ela

beijou-o, dando-se uma leve mordida no

rosto.

��� Voc�� s�� pensa em sexo?

��� S��.

��� Ent��o vamos at�� l�� em casa.

��� E seus pais?

��� Eles sa��ram. /

Irene colocou de novo a sa��da de praia e

Danilo pegou sua prancha.

Atravessaram a rua e se dirigiram para

41

o apartamento do rapaz. Ao entrarem, de-

pararam com o irm��o mais novo de Danilo.

��� J�� voltaram da praia? ��� perguntou

Durval.

N��o deram a menor aten����o �� pergunta

e se encaminharam direto para o quarto.

��� O que �� que voc��s v��o fazer a��? ���

tornou a perguntar Durval.

��� Adivinhe! ��� respondeu Danilo em

tom de deboche.

Fecharam, a porta do quarto. Irene tirou

o biqu��ni, enquanto Danilo jogava sua sun-

ga no ch��o.

Atiraram-se um para o outro. Danilo em-

purrou-a para a cama e deitou-se por cima

dela. procurando abrir caminho entre suas

coxas. L o g o estava dentro da garota, que se

contorcia de prazer.

Vinte minutos depois sa��am do quarto.

��� J�� terminaram? ��� perguntou Durval,

sorrindo.

��� Por que voc�� n��o vai tratar de sua

vida?

Danilo pegou sua prancha e junto com

Irene tomou novamente a dire����o da praia.

42

��� Voc�� vai para a tal festa de anivers��-

rio?

��� Que id��ia! Ainda est�� pensando nis-

so? N��o me diga que est�� com ci��mes. N��o

j�� falei que n��o vou?

43

CAP��TULO 5

A P R I M E I R A P A I X �� O

Dona Alice, uma senhora de cinq��enta e

poucos anos, muito elegante, olhou a cor-

respond��ncia que havia chegado.

Um aviso do banco, algumas contas para

pagar e uma carta. Viu que estava dirigida

a Cec��lia, sua filha.

44

Quem teria escrito �� filha mandando a

carta para seu endere��o?

Ser�� que n��o sabia que Cec��lia estava ca-

sada h�� v��rios anos e n��o morava mais ali?

Olhou o remetente e viu o nome de Gil-

berto. Lembrou-se do rapaz, um dos pri-

meiros namorados de Cec��lia.

Achou curioso e discou o telefone.

��� Al��, Cec��lia?!

��� Oi, mam��e!

��� Recebi uma carta pra voc��.

��� Pra mim?

��� Exatamente. �� do Gilberto.

��� Que Gilberto?

��� S�� pode ser aquele seu antigo namo-

rado.

��� Por que ele me escreveu?

��� Sei l��! Voc�� pode vir aqui apanhar a

carta?

��� Agora n��o. Estou de sa��da. Vou ao co-

45

l��gio dos meninos. T e m uma reuni��o com

os pais dos alunos. S�� posso ir a�� �� tarde.

��� Eu tenho que fazer umas compras l o -

go mais. Por que a gente n��o se encontra

na rua?

��� Combinado.

Mais ou menos ��s tr��s e meia da tarde,

Cec��lia encontrou-se com a m��e na Confei-

taria Colombo. Sentaram-se em uma das

mesas e enquanto esperavam que o gar��om

trouxesse o lanche pedido, Cec��lia pergun-

tou:

��� Onde est�� a carta?

Dona Alice abriu a bolsa e entregou-a ��

filha. Cec��lia rasgou o envelope, sem con-

seguir esconder sua curiosidade.

��� Esse cara ainda se lembra de voc��?

��� Claro. Est�� me convidando para seu

anivers��rio no dia 19.

��� Se n��o estou enganada, ele foi a sua

grande paix��o.

��� Mas isso j�� tem muito tempo.

46

��� Voc�� vai �� festa?

��� Vou.

��� E seu marido?

��� In��cio n��o precisa saber.

Cec��lia transportou-se para dezoito anos

antes.

Tinha apenas dezesseis, quando conhece-

ra Gilberto. Ele fora seu primeiro homem.

Tivera loucura por ele e pensara que se-

ria para toda a vida.

Mas durara apenas alguns meses. Logo

o rapaz se cansara dela, e terminaram o

caso.

Durante muito tempo ficara pensando

nele e julgando que nunca mais se interes-

saria por homem nenhum.

No entanto, com o tempo, tivera outras

paix��es, conhecera outros homens e termi-

nara se casando com In��cio.

��� Voc�� gosta de seu marido? ��� per-

guntou Dona Alice, como se adivinhasse os

pensamentos da filha.





47


��� Esse neg��cio de gostar �� muito rela-

tivo.

��� Relativo como?

Cec��lia acompanhou a m��e nas compras

que ela queria fazer e s�� ��s seis horas vol-

tou para casa. A carta de Gilberto lhe tra-

zia muitas recorda����es. . .

Lembrava-se perfeitamente da primeira

vez que tinham ido para a cama.

Haviam acabado de assistir ao filme "Os

Homens Preferem as Louras", com Marilyn

Monroe.

Quando sa��am do cinema, Gilberto falou:

��� N��o posso ver filme da Marilyn.

��� Por qu��?

��� Fico muito excitado.

Durante toda a proje����o, ele ficara aca-

riciandc-lhe os seios, enquanto ela pega-

va-lhe na perna, sem coragem de avan��ar

mais do que isso.

48

��� Vamos para um hotel?

Levou um susto quando ouviu a propos-

ta de Gilberto. Ficou ofendida:

��� T e m coragem de me propor uma coi-

sa destas?

��� O que �� que tem? N �� o vejo nada de-

mais. A gente j�� se conhece h�� bastante

tempo.

��� Nunca fui a nenhum hotel com ho-

mem nenhum.

��� Tudo na vida tem uma primeira vez.

��� Quem voc�� pensa que eu sou?

��� Que voc�� se chama Cec��lia, �� linda,

eu te amo e n��o vejo nenhum problema da

gente ficar sozinho num quarto de hotel.

��� Voc�� me ama mesmo?

��� Ainda duvida?

Ele colocou o bra��o pelas suas costas,

apertando-a contra si. Beijou-a ali mesmo

na rua. Ela o empurrou delicadamente.

��� As pessoas est��o olhando.

. 49

��� Se a gente estivesse sozinho n��o ti-

nha este problema.

Cec��lia n��o podia negar a si mesma que

tamb��m desejava Gilberto ardentemente.

Sentia uma curiosidade muito grande em

v��-lo despido e sabia que, se tivesse que se

entregar a um homem, este homem s�� po-

dia ser Gilberto.

��� Est�� bem. ��� disse quase num sus-

surro.

��� Est�� bem o qu��?

��� Se voc�� est�� querendo tanto i r . . .

Ele exultou de alegria. Chamou um t��xi

que ia passando e levou-a para um hotel.

Cec��lia passou pela portaria encabulad��s-

sima e teve ��mpetos de sair correndo. Mas

alguma coisa mais forte a impedia de fugir.

Assim que se viram no quarto, ele come-

��ou a tirar-lhe a roupa. Ela sentia vergo-

nha, mas o desejo falava mais alto.

Quando viu os seios de Cec��lia, nus, Gil-

berto encostou a boca e come��ou a beij��-los.

50

Um estremecimento percorreu todo o cor-

po da mo��a, que compreendeu que n��o po-

dia mais recuar. Agora tinha de ir at�� o

f i m . . .

Cec��lia olhou com ansiedade para o cor-

po nu do namorado. A vontade de ser pos-

su��da por ele aumentou. Queria ser sua mu-

lher agora e para s e m p r e . . .

Gilberto abra��ou-a, alisando-lhe depois

cs seios, as n��degas, o sexo.

Por um momento, ela teve medo. Sentiu

uma dor profunda, quando ele come��ou a

penetrar-lhe na carne. Seu del��rio aumen-

tou. A dor misturou-se com o prazer e ela

soltou um pequeno g r i t o . . .

* * *

Depois daquela primeira vez, voltaram a

fazer sexo com assiduidade. Como ela tinha

receio de ficar gr��vida, resolveram tomar

as precau����es necess��rias.

��� Voc�� n��o gostaria de casar comigo,

Gilberto?

51

��� A gente �� muito j o v e m ainda pra pen-

sar nisso.

Nunca mais voltaram a falar no assun-

to. Depois, ela notou que o interesse de Gil-

berto estava diminuindo progressivamente.

A t �� que um dia encontrou-o com outra

na Avenida Copacabana. Foi para casa e

chorou muito, recusando-se a v��-lo de novo.

Ela estava muito ofendida, mas Gilberto

a procurou:

��� Por que est�� com raiva de mim?

��� Eu te vi com outra.

��� Deixe de bobagem.

��� Voc�� acha bobagem?

��� Por que n��o fazemos as pazes e n��o

vamos para um hotel?

��� Por que n��o leva a garota que estava

contigo?

��� Ela n��o �� d i s s o . . .

��� A h , ent��o quer dizer que e u . . .





52


Cec��lia n��o terminou a frase. Deixou Gil-

berto na rua e voltou para casa.

Trancou-se no quarto e come��ou a cho-

rar convulsivamente. Depois disso s�� o viu

poucas vezes, por acaso.

A ��ltima vez que o encontrara, j�� estava

casada. N �� o guardava mais nenhum ressen-

timento. Lembrava-se dele apenas como o

primeiro homem de sua vida, principalmen-

te pelo fato de que n��o sentira por nenhum

outro uma paix��o t��o grande.

Agora, recebia aquela carta-convite. Se

ela n��o a tivesse amado, certamente que

n��o se recordaria mais d e l a . . .

Iria �� festa. O ��nico problema era conse-

guir driblar a vigil��ncia do marido.

N��o poderia dizer-lhe que pretendia com-

parecer ao anivers��rio de um ex-amante.

Teria que inventar uma mentira qualquer.

Por incr��vel que pudesse parecer, In��cio

continuava ciument��ssimo, apesar de j�� es-

tarem casados h�� quase dez anos.





53


Mas deveria haver um jeito de ir �� festa,

sem que o marido desconfiasse. Para isso

contaria com a cumplicidade de sua m �� e . . .



* * *

In��cio n��o podia acreditar no que esta-

va vendo. Vermelho de raiva, saiu do quar-

to sem acabar de vestir-se e entrou na sala

com o envelope na m �� o :

��� Que carta �� esta?

Cec��lia, que estava tranq��ilamente lendo

um livro, olhou.para o marido, assustada

com a pergunta que ele lhe fizera quase aos

gritos.

��� Que carta?

A mulher compreendeu que dificilmente

poderia conter a tempestade que se aproxi-

mava.

O marido havia encontrado o convite de

Gilberto e, ciumento como era, iria fazer o

maior barulho.

��� Quem �� esse tal Gilberto?

54

��� Um velho conhecido ��� respondeu Ce-

c��lia, continuando a aparentar uma calma

que na verdade n��o sentia.

��� Exijo que me explique isso direito.

��� Mas explicar o que, In��cio?

��� Quem �� esse cara?

��� J�� disse que �� um velho conhecido

que n��o vejo h�� muito tempo.

��� E por que ele a convidou para seu ani-

vers��rio?

��� Sei l �� . . .

��� Voc�� nunca me falou que conhecia ne-

nhum Gilberto.

��� Est�� bem, In��cio. Vou contar tudo.

N��o estou querendo brigar. Gilberto foi um

namorado que tive antes de casar contigo.

��� N��o sabia que voc�� recebia convites

de amores antigos.

��� A prova de que n��o liguei nenhuma





55


import��ncia �� que deixei o convite jogado

por a��.

��� Ele n��o estava jogado por a��. Eu o en-

contrei em sua bolsa, no arm��rio.

Ela pensou em reclamar o fato de In��cio

viver revistando suas coisas, mas preferiu

n��o provoc��-lo:

��� Esqueci l��, s�� isso.

In��cio amassou o envelope e jogou-o na

cesta de pap��is:

��� Voc�� n��o vai a essa festa, n��o �� mes-

mo?

��� Claro que n��o.

��� De qualquer modo devia ter me con-

tado que tinha recebido esta carta.

Cec��lia voltou a ler e In��cio n��o tocou

mais no assunto.

Ela arrependia-se amargamente de n��o

ter destru��do o convite.

56

A g o r a de nada lhe adiantava a cumplici-

dade da m��e nem inventar nenhuma men-

tira, a fim de comparecer �� festa.

Como pudera ter sido t��o descuidada?

57

CAP��TULO 6

U M R O M A N C E M U I T O LOUCO

Ademar tocou a campainha e Edna veio

abrir a porta.

��� Oi!

Edna beijou o amante e se encaminhou

para a sala, sem notar que no ch��o havia

um envelope.

58

Ademar, no entanto, viu a carta e a apa-

nhou.

��� N �� o viu esta carta que colocaram por

baixo da porta?

��� N��o.

A mulher abriu o envelope sem o menor

interessa

Leu e releu v��rias vezes. A l g u �� m a esta-

va convidando para uma festa de aniver-

s��rio, mas ela n��o conseguia lembrar quem

era Gilberto.

��� �� alguma coisa importante? ��� per-

guntou Ademar.

��� N��o. Um convite para uma festa de

anivers��rio. O ��nico problema �� que n��o

sei quem est�� me convidando.

��� Esta eu n��o entendi.

��� N e m eu.

Ademar pegou a carta e leu:

��� Voc�� n��o conhece nenhum Gilberto?

��� Que eu me lembre, n��o.

59

Mas o cara deve te conhecer, pois sabe

seu nome e endere��o.

Edna passou a m��o pelos cabelos desgre-

nhados:

��� Deve ser algu��m com quem eu j�� tran-

sei.

��� Voc�� esquece das pessoas assim com

facilidade?

De repente, ela lembrou-se:

��� A h , j�� sei quem ��! T i v e um caso com

ele h�� mais de dez a n o s . . .

��� E nunca mais o viu?

��� N��o.

��� Ele deve ter uma mem��ria muito boa.



***

Aos poucos, Edna foi recordando o ro-

mance que tivera com Gilberto.

Naquela ��poca, antes de completar vinte

anos de idade, ela era t��o vol��vel quanto

atualmente. N��o mudara quase nada.

60

Pensara que com o tempo conseguisse

uma certa estabilidade emocional, mas ago-

ra, j�� passando dos trinta, continuava pas-

sando de um homem para outro, sem se

fixar em nenhum.

At�� quando ia permanecer assim? E

quando chegasse a velhice e n��o tivesse

mais facilidade em arranjar um amante?

Preferiu n��o pensar no futuro e se con-

centrar no passado.

Conhecera Gilberto numa fila de cinema.

Era a ��poca ��urea da chamada "gera����o

Paissandu", em que a moda entre os jovens

da Zona Sul era ir ao cinema Paissandu

assistir filmes de Jean-Luc Godard.

Foi o per��odo em que tamb��m se alas-

trou o movimento "hippie" no Brasil e Ed-

na, sempre pronta para as novidades que

apareciam aderiu �� moda.

Como a fila do cinema estava muito

grande, ela procurou ver se encontrava al-

gum amigo para lhe comprar a entrada.

61

Como n��o visse nenhum, decidiu abor-

dar um desconhecido qualquer:

��� Ser�� que voc�� podia comprar um in-

gresso pra mim?

Ela entregou o dinheiro ao rapaz e ficou

ao seu lado, enquanto a fila andava vaga-

rosamente.

Entraram no cinema juntos. N��o conse-

guiram mais nenhuma poltrona vazia e

sentaram-se mesmo no ch��o.

Durante a proje����o, comentaram o que

se passava na tela e ao sa��rem do cinema

j�� pareciam se conhecer h�� tempos.

��� Que tal um chopinho?

Sentaram-se no bar ao lado do cinema.

Entre um gole e outro, discutiram sobre os

diretores da "nouvelle-vague" que j�� esta-

vam ultrapassados, abordaram diversos as-

suntos e terminaram falando em sexo.

��� Quer ir at�� o meu apartamento? ���

o convite partiu de Edna.

Ainda sem se refazer da surpresa, Gilber-

62

to concordou. T o m a r a m um ��nibus e se

ram para Copacabana.

��� Voc�� mora sozinha?

��� Com uma amiga.

��� E ela n��o est�� l�� agora?

��� Se estiver, tem alguma import��ncia?

��� N��o.

Apesar da negativa, Gilberto temia que a

companheira de Edna estivesse no aparta-

mento. N��o costumava ter rela����es sexuais

com uma pessoa na presen��a de outra.

Por sorte, a amiga n��o estava e os dois

puderam ir para a cama com tranq��ili-

dade.

��� Helena �� uma louca.

��� Quem �� Helena?

��� A minha amiga que mora aqui. �� mui-

to dif��cil passar uma noite em casa. N��o

sei mesmo por que ela divide este aparta-

mento comigo. Quase n��o aparece em ca-

s a . . .

63

Gilberto nunca conhecera antes uma

mo��a t��o liberta de preconceitos.

Edna topou todas as paradas e deixou-se

possuir de todas as maneiras poss��veis.

Plenamente saciado, Gilberto s�� foi em-

bora quase ao amanhecer, marcando en-

contro para dois dias depois.

Apesar de ter outros amantes. Edna co-

me��ou a preferir a companhia de Gilberto.

Al��m de satisfaz��-la melhor na cama, acha-

va-o um rapaz inteligente, com quem podia

estabelecer um di��logo interessante.

Mas, algum tempo depois, ela conheceu

Ver��nica, que veio morar com ela quando

Helena foi viver com um rapaz por quem

se apaixonara.

Ver��nica revelou suas verdadeiras inten-

����es pouco depois que se mudara.

Edna estava dormindo, quando sentiu a

m��o que a acariciava. Abriu os olhos e viu

que era sua nova companheira de aparta-

mento.

64

No in��cio ficou meio chocada e evitou o

contato. Mas Ver��nica insistiu.

Ent��o deixou que ela lhe acariciasse o

bra��o e depois os seios. Em seguida, sentiu

sua boca vindo de encontro �� s u a . . .

Sempre �� procura de novas emo����es, per-

mitiu que Ver��nica seguisse adiante em

oUu.. investidas amorosas. Era uma sensa-

����o diferente de todas as que experimen-

tara at�� aquele momento. Em pouco tem-

po, as duas mulheres estavam nuas e abra-

��adas na c a m a . . .

* * *

��� S�� lhe pe��o uma coisa, Ver��nica.

��� O que ��?

��� Que voc�� n��o se meta em minha vida.

��� Por que iria me meter?

��� Talvez voc�� queira impedir que eu te-

nha rela����es com homens. Eu tamb��m gos-

to deles. E n��o vou deix��-los por sua causa.

��� N��o estou te pedindo isso.

6 5

��� Mas �� que voc�� morando a q u i . . .

��� N��o se preocupe, minha querida. Eu

tamb��m tenho meus outros programas, que

n��o vou deixar. N �� o gosto de exclusivi-

dades.

Mas as coisas n��o correram t��o tranq��i-

las assim. Ver��nica come��ou a se introme-

ter no romance de Edna com Gilberto.

Este, nem de longe desconfiava das ver-

dadeira rela����es entre as duas mulheres.

Mas, de vez em quando, Edna, talvez

atormentada por n��o saber exatamente o

que queria, provocava brigas sem o menor

motivo.

Sentindo que estava se prendendo cada

vez mais a Ver��nica, julgou que isso fosse

talvez uma decorr��ncia do fato de estar can-

sada de Gilberto e procurou satisfazer-se

com outros homens.

Depois de uma semana sem ver Edna,

Gilberto, ap��s tomar um pileque. foi ao seu

apartamento e tocou a campainha.

66

Como vira luz acesa na janela, come��ou

a bater na porta com for��a, atraindo a

aten����o dos vizinhos.

A mo��a finalmente atendeu, com receio

de que o rapaz fizesse um esc��ndalo.

��� O que veio fazer aqui?

��� Voc�� est�� com outro a�� dentro.

��� N��o tenho que lhe dar satisfa����es.

��� Deixe entrar no apartamento.

��� N��o.

��� Quero ver quem est�� a�� ��� berrou Gil-

berto.

��� Se voc�� n��o for embora logo, eu cha-

mo a radiopatrulha ��� disse Edna, baten-

do a porta.

Mas no dia seguinte fizeram as pazes. No

entanto, uma semana depois Gilberto en-

controu Ver��nica sozinha.

��� Onde est�� Edna?

67

��� N��o sei.

��� Ela vai demorar?

��� T.amb��m n��o sei.

��� Eu tenho que encontrar com ela hoje

de qualquer maneira. Vou esperar.

Ver��nica, diabolicamente, resolveu abrir

o j o g o :

��� Por que n��o deixa Edna em paz?

��� Isso �� um assunto que s�� diz respeito

a mim e a ela.

��� E a m i m tamb��m.

Completamente aturdido, Gilberto ouviu

Ver��nica contar em detalhes o tipo de

"amizade" que mantinha com Edna.

Saiu do apartamento disposto a n��o vol-

tar a procurar a amante, mas n��o cumpriu

seu prop��sito.

Ao tornar a ver Edna falou abertamente:

68

��� Ver��nica me contou tudo.

��� A respeito de qu��?

____ Ela me disse o que existe entre voc��s .

duas.

��� E da��?

��� E da�� que n��o admito isso. Se voc��

estivesse de caso com outro homem, eu sa-

bia como agir. Mas com uma mulher, Ed-

na?! N��o sabia que voc�� era d i s s o . . .

��� Ent��o por que voc�� n��o some de mi-

nha vida?

T i v e r a m mais uma violenta discuss��o,

mas ainda n��o foi desta vez que termina- -

ram o romance que continuou durante mais

alguns meses, at�� que Gilberto resolveu

acabar definitivamente com tudo.

Agora, dez anos depois, Edna j�� o h a v i a

esquecido. Fora para a cama com tantos

homens! De Ver��nica ainda se lembrava,

69

pois. s�� mantivera rela����es ��ntimas com

mais duas m u l h e r e s . . .



***

��� Voc�� mora neste apartamento h�� mais

de dez anos? ��� perguntou Ademar.

��� Por que est�� me perguntando isso?

��� Porque se esse cara n��o te v�� desde

aquela ��poca e sabe o seu endere��o, �� por-

que voc�� j�� morava aqui.

��� N��o gosto de mudar de resid��ncia. A

mesma coisa n��o posso dizer com rela����o

aos homens ��� disse Edna, rindo.

Ademar tamb��m achou engra��ado. Afi-

nal de contas, o que os unia n��o era pro-

priamente amor.

Edna ainda era uma mulher desej��vel e

que tinha um apartamento onde podiam

transar. Como ele ganhava muito pouco e

n��o tinha condi����es para freq��entar ho-

t��is, mantinha o caso com Edna por como-

didade.

70

Achava-a meio louca, com aqueles cabe-

los eternamente despenteados e um g��nio

imprevis��vel. ��s vezes se cansava de suas'

brigas sem motivo, suas manias, mas pro-,

curava passar por cima. Dos males o me-

nor. Muito pior seria ficar sem mulher.

��� Voc�� gosta de mim?

O rapaz estranhou a pergunta da aman-

te:

��� Por que est�� querendo saber isso

agora?

��� Me deu vontade de saber.

��� Voc�� nunca quis saber antes.

��� Mas agora quero.

��� Se n��o gostasse, n��o vinha aqui todas

as vezes que voc�� me chama.

��� Isso n��o significa nada.

��� Que foi que deu em voc��? Ficou ro-

m��ntica de repente, depois que recebeu esta

carta?

71

Edna- compreendeu que o romantismo

n��o lhe ficava nada bem e chegou perto de

Ademar, come��ando a beijar-lhe os cabelos

do t��rax. Com a m��o abriu-lhe o fecho da

braguilha e levou-o para a cama.

72

CAP��TULO 7

A M O R A T O R M E N T A D O

Jussara sentiu que suas m��os tremiam,

quando leu o nome do remetente. Gilberto

fora o ��nico homem com quem tivera rela-

����es sexuais al��m do marido.

Sacudiu a cabe��a como se quisesse afu-

gentar os pensamentos. Mas n��o conseguiu





73


deixar de lembrar-se da loucura que fizera

quando ainda estava em lua-de-mel com

Fabiano.

Como fora t��o louca ao ponto de se tor-

nar amante de Gilberto? Depois dele, ape-

sar de todas as tenta����es, n��o tivera ne-

nhuma rela����o extraconjugal.

Criada dentro dos mais r��gidos princ��-

pios religiosos achava que a mulher devia

ser fiel ao marido custasse o que custasse.

A ��nica vez que infringira seu c��digo mo-

ral fora com Gilberto.

Com apenas quinze dias de casada com

Fabiano, sentia-se deprimida. O marido n��o

a satisfazia e o ato sexual por que tanto

esperara n��o passara de uma decep����o.

Ser�� que todos os homens seriam iguais

e ela nunca conseguiria sentir prazer na

cama?

Houve ent��o uma festa na casa de uma

amiga, �� qual comparecera com o marido.

Mas durante todo o tempo, ele n��o lhe

prestou a m��nima aten����o, preferindo fi-

car discutindo futebol com alguns conhe-

cidos.

74

Chateada, retirou-se para um canto do

jardim. (A amiga era uma das poucas pes-

soas privilegiadas no R i o de Janeiro que

ainda podiam morar numa casa ampla, com

jardim e tudo.)

��� O que est�� fazendo a�� sozinha?

Olhou em dire����o �� voz que lhe fizera a

pergunta.

N��o conhecia o rec��m-chegado e n��o gos-

tou da intimidade com que lhe falara.

Ao mesmo tempo examinou-o dos p��s ��

cabe��a.

Via �� sua frente um homem de trinta

anos mais ou menos, forte, bonito. Jussara

comparou-o com o marido e teve certeza de

que este sa��a perdendo. T e v e medo de que

o desconhecido descobrisse seus pensamen-

tos. O rapaz tornou a falar:

��� Desculpe te abordar assim, sem te co-

nhecer. Mas como sou amigo dos donos da

casa e estamos na mesma festa, n��o vi ne-

nhum mal em me dirigir a voc��. Para fa-

cilitar as coisas �� melhor dar alguns dados

a meu respeito. Meu nome �� Gilberto, te- P��g 75

nho trinta anos, um bom emprego, sa��de

perfeita e sou s o l t e i r o . . .

O jeito brincalh��o e descontra��do com

que ele falou fez com que Jussara se sen-

tisse mais �� vontade;

��� Eu me chamo Jussara, estou com vin-

te e dois anos e sou casada.

��� O que �� uma p e n a . . .

Jussara desta vez n��o gostou da maneira

como ele falara. Talvez porque no fundo

concordava com o que Gilberto acabara de

dizer. T a m b �� m achava uma pena que esti-

vesse casada, principalmente com Fabiano.

Seu casamento fora um erro, um grande

erro. N��o o amava, via isso agora clara-

mente.

Mas era tarde para qualquer arrependi-

mento. O erro era irrepar��vel. Estava irre-

mediavelmente presa a Fabiano para o res-

to da vida.

Gilberto continuou conversando. Jussara

n��o viu nenhum mal em permanecer ali

batendo papo com um desconhecido.

Afinal, n��o era nada demais. No m��xi-

mo, tratava-se de uma pequena vingan��a

76

inocente para com o marido, que falava so-

bre futebol com os amigos, completamen-

te esquecido da exist��ncia dela.

Outras pessoas se aproximaram, a con-

versa continuou normalmente e Jussara

pensou que todos os seus temores tinham

sido infundados.

Sem d��vida Gilberto n��o tinha segundas

inten����es (a constata����o deixou-a meio

frustrada).

No entanto, pouco antes de ir embora,

Gilberto deu um jeito de ficar novamente

a s��s com ela e entregou-lhe um cart��o:

��� A�� est�� meu telefone.

��� Pr�� qu��?

Jussara compreendeu que fizera uma

pergunta est��pida. Baixou os olhos enver-

gonhada.

Gilberto respondeu claramente:

��� Talvez voc�� queira se comunicar co-

migo qualquer dia.

Ela pegou o cart��o e teve a impress��o de

que ele queimava as pontas dos dedos.Ra

pidamente guardou-o na bolsa.

77

Durante alguns dias evitou abrir a bol-

sa onde guardara o cart��o. N �� o queria ce-

der �� tenta����o de ligar para Gilberto, mas

sabia que era isso a ��nica coisa que dese-

java na vida.

Cada vez mais odiava a hora em que Fa-

biano a procurava na cama. Submetia-se ��s

investidas do marido quase com asco.

Mas esfor��ava-se ao m��ximo para que ele

n��o desconfiasse de que n��o sentia nenhum

prazer.

N��o conseguia dormir direito, tinha pe-

sadelos e assustava-se �� toa.

- Finalmente resolveu dar fim ao cart��o.

Abriu a bolsa e quando o teve nas m��os

n��o resistiu ao impulso de dirigir-se ao te-

lefone.

N �� o havia ningu��m em casa. Era tudo

t��o simples. Bastava estirar o bra��o, pegar

o telefone e discar o n �� m e r o . . .

Fez tudo automaticamente. Ouviu o te-

lefone chamando do outro lado da linha e

pouco depois uma v o z :

��� Al��!





78


Jussara ficou em sil��ncio, absolutamen-

te incapaz de articular uma ��nica palavra.

��� A l �� ! A l �� ! ��� a voz repetia.

Ela criou coragem:

��� A l �� ! O Sr. Gilberto est��?

��� �� ele mesmo quem est�� falando.

O cora����o de Jussara parecia que ia sal-

tar :

��� Aqui �� Jussara.

��� Quem?

Ser�� que ele n��o se lembrava mais dela?

��� pensou, decepcionada:

��� Aquela mo��a da festa. . ,

��� Oi, como vai? Pensei que n��o ia ligar

mais. Por que demorou tanto em telefonar?

��� �� . . . �� que eu andei muito ocupada.

De repente, os dois n��o sabiam o que di-

zer. O sil��ncio durou alguns segundos.

Gilberto foi direto ao que interessava:

��� Quando a gente pode se encontrar?

��� B e m . . .

��� A m a n h �� eu vou sair do emprego mais

cedo. L�� pelas tr��s horas. Onde �� que pos-

so te apanhar?





79


Novamente Jussara n��o sabia o que fa-

lar:

��� E u . . .

��� Voc�� mora em Copacabana?

��� Moro.

��� Eu te apanho em frente ao cinema

Caruso, t�� legal?

��� ��s tr��s horas?

��� Est�� bom pra voc��?

��� Est��.

Quando Jussara desligou o telefone, tre-

mia dos p��s �� cabe��a.

Para ela tinha sido o m �� x i m o de ousa-

dia. Havia dado o passo mais ousado de to-

da a sua vida.

Gilberto estaria pensando que ela era

uma mulher f��cil? Por que fizera aquilo?

Passou o resto da tarde martirizando-se.

Estava verdadeiramente arrependida de ter

telefonado. T e v e receio de que o marido ao

chegar descobrisse em seu rosto a marca

da trai����o.

Mas que trai����o? Ela ainda n��o fizera

nada. Apenas dera um telefonema. E mar-

cara um encontro. Mas podia perfeitamen-





80


te n��o ir. Sim, era isso que faria. N��o iria

ao encontro.

Seu nervosismo foi aumentando �� medi-

da que as horas passavam. �� noite dormiu

muito mal. Tinha vontade de adormecer e

n��o acordar nunca. N �� o queria que o dia

seguinte chegasse.

Mas este chegou e as horas continuaram

a passar.

Fabiano foi para o trabalho, como sem-

pre. Ao meio-dia, ele almo��ou. ��s duas co-

me��ou a se vestir. Apesar de n��o querer ir

ao encontro, alguma for��a maior a impe-

l i a . . .

Gilberto encostou o carro na cal��ada:

��� Pensei que n��o viesse.

Jussara n��o respondeu nada e entrou no

carro, olhando para os lados, visivelmente

atemorizada de que algu��m a visse.

��� Para onde quer ir?

81

A mulher conseguiu responder:

��� Qualquer lugar.

Ele deu sa��da no autom��vel:

���- A que horas voc�� tem que voltar para

casa?

��� ��s seis.

Gilberto compreendeu que o di��logo ia

ser dif��cil.

Preferiu n��o dizer nada e conduzir o car-

ro diretamente para seu apartamento.

Ao chegar ao edif��cio onde morava, en-

trou na garagem e os dois desceram do au-

tom��vel.

Parecia que haviam feito um pacto de si-

l��ncio. Dirigiram-se �� portaria e tomaram

o elevador.

Ele notou que Jussara continuava com o

olhar assustado e sorriu divertido.

Entraram no apartamento e Gilberto, an-

tes de mais nada, ofereceu uma dose de u��s-

que �� mulher:

82

��� Nada melhor do que a bebi

desinibir um pouco.

��� Voc�� n��o trabalha o dia todo?

��� Trabalho. Mas o chefe �� camarada.

De vez em quando dou um jeito de sair

mais cedo. Mas somente em ocasi��es muito

especiais. N �� o goste de abusar.

E esta �� uma ocasi��o especial?

Ele encostou seu rosto no da mulher. Jus-

sara sentiu um calor invadir-lhe o corpo.

Procurou a boca de Gilberto e beijou-o com

sofreguid��o.

Toda a sua f��ria reprimida soltou-se com

viol��ncia. Agarrou-se ao rapaz e suas m��os

pareciam garras.

Depois afastou-se e pegou novamente o

copo de u��sque:

��� Eu n��o devia estar a q u i . . .

��� N��o quer beber mais um pouco?

Sem esperar resposta, Gilberto tornou, a

encher o copo da mulher.

��� Nunca fui para a cama com outro ho-

mem al��m do meu marido.

83

��� H�� quanto tempo voc��s est��o casados?

Jussara pensou em n��o responder, mas

disse:

��� H�� quase um m��s.

A revela����o pegou-o de surpresa. Ent��o

ela casara h�� t��o pouco tempo e j�� estava

sendo infiel?

��� Voc�� deve estar pensando o pior de

mim. Mas �� q u e . . . o meu casamento foi

um erro. Eu n��o c o n s i g o . . . quero d i z e r . . .

��� N��o precisa falar nada, Jussara. V o -

c�� est�� muito nervosa. Vamos, descontraia.

Beba mais um p o u c o . . .

As m��os do rapaz come��aram a acari-

ciar-lhe os cabelos.

Gilberto passou a l��ngua pela coxa bem

torneada de Jussara.

Aproximou o rosto de seu sexo e beiiou-o

com prazer. A mulher julgou que tivesse

sido tocada por uma corrente el��trica e se-

gurou-lhe os cabelos com for��a. P��g 84

No entanto, quando Gilberto procurou

penetr��-la. quis recuar:

��� N �� o . . .

Ele n��o lhe deu ouvidos. Agora n��o po-

dia mais refrear. T i n h a que possuir Jussa-

ra de qualquer maneira.

Ela o sentiu dentro de si com toda a sua

pot��ncia. O orgasmo n��o demorou a che-

gar.

Realmente, nem todos os homens eram

como seu marido e o prazer que sentiu foi

muito maior do que podia imaginar.

��� O que aconteceu hoje n��o vai se re-

petir.

Jussara estava realmente arrependida do

que fizera. Seu prop��sito de nunca mais

ver Gilberto �� sua frente era aut��ntico.

Enquanto pintava os l��bios com um ba-.

tom vermelho vivo, olhava-se no espelho e

se odiava.

��� Se quiser me encontrar de novo, j��

sabe, �� s�� telefonar ��� disse Gilberto, com

cinismo.





85


A mulher acabou de se maquilar. Gilber-

to permanecia deitado na cama sem nenhu-

ma roupa.

Sabia que Jussara n��o resistiria e volta-

ria ainda muitas vezes ao apartamento.

E foi o que na verdade aconteceu. Por

mais que lutasse consigo mesma, Jussara

continuou a encontr��-lo.

Mas a cada dia se atormentava mais. Ao

fim de um m��s, decidiu n��o tornar a v��-lo

e depois disso nunca mais traiu o marido.

Era evidente que n��o esquecera Gilber-

to. Lembrava-se daquele per��odo em que ti-

nha sido sua amante, como se fosse um pe-

sadelo. Nunca mais iria deixar-se vencer

pela lux��ria.

P o r que ele resolvera lhe tentar outra

vez depois de quase cinco anos?

Rasgou a carta-convite em mil pedaci-

nhos e atirou-os pela janela. Ficou olhan-

do-os durante algum tempo com express��o

angustiada.

O pior �� que mesmo tendo jogado fora

aquele maldito convite, ela sabia a data da

festa e o endere��o de Gilberto.





86


Seria preciso reunir toda a sua for��a de

vontade para resistir �� tenta����o.

Mas n��o podia fraquejar. Ela nunca mais

iria trair Fabiano. Se fosse �� festa, todos

aqueles anos de luta ��ntima teriam sido em

v��o.





87


CAPITULO 8

O I N �� C I O DA F E S T A

Gilberto estava nervoso, T i n h a comprado

bastante bebida e encomendado diversos

tipos de doces e salgadinhos.

Voltara do trabalho mais cedo e estava

impaciente para saber quais seriam as mu-

lheres que viriam �� festa.





88


Olhou o rel��gio. Oito horas da noite. Ain-

da estava cedo.

J�� havia bebido duas doses de u��sque e

encheu de novo o copo.

De repente, a campainha tocou e ele teve

um sobressalto. Qual seria a primeira a che-

gar?

Edna? Irene? Cec��lia?

Ao abrir a porta deparou-se com uma se-

nhora de seus cinq��enta anos.

Pela idade, compreendeu que s�� podia

ser Isabel, sua antiga professora de ingl��s.

Ficou um instante parado, olhando-a.

Como tinha mudado! N e m parecia a

mesma pessoa. Se passasse por ela na rua,

n��o a reconheceria.

Isabel notou sua perturba����o:

��� N �� o est�� me reconhecendo?

��� Claro que estou. A senhora �� . . .

��� Isabel. E voc�� deve ser meu antigo

aluno, Gilberto.

8 9

��� Fa��a o favor de entrar.

A mulher acompanhou Gilberto at�� 0 in-

terior do apartamento.

��� Voc�� era um garoto quando estudou

comigo. Sabe que fiquei muito espantada

quando recebi o convite?

��� No m��nimo pensou que eu era ma-

luco, n��o?

��� N��o. Apenas achei muito curioso. Que

motivos levariam uma pessoa a convidar

uma velha professora para uma festa, de-

pois de tantos anos?

Gilberto riu e perguntou se Isabel que-

ria comer ou beber alguma coisa.

Enquanto a servia, observava disfar��ada-

mente os estragos que o tempo lhe fizera.

Nada mais restava da professora bonita

que lhe despertara tanto desejo.

As rugas do rosto, o excesso de gordura,

a express��o de c a n s a �� o . . .

��� Sei que cheguei um pouco cedo para

a festa ��� justificou-se Isabel. ��� Mas �� que

acordo todos os dias ��s seis da manh�� e

90

preciso voltar logo pra casa. V i m apenas

porque tive vontade de ver um antigo alu-

no que n��o me esquecera.

��� A senhora lembrou-se de m i m quan-,

do recebeu o convite?

��� Posso ser sincera?

��� Mas claro!

��� Ensinando h�� mais de vinte anos e

tendo passado por m i m milhares de alunos,

�� l��gico que n��o podia saber quem era vo-

c��. Mas pode ficar certo que fiquei muito

gratificada com o convite. Na vida da gen-

te acontece t��o poucas coisas agrad��veis!

�� sempre bom saber que de uma maneira

ou de outra a gente �� lembrada por . al-.

gu��m.

Gilberto sentiu que sua mania de chocar

as pessoas era mais forte do que seu bom-

senso:

��� Sabe por que ainda me lembrava da

senhora, quando praticamente esqueci to-

dos os meus ex-professores?

91

Isabel voltou-se para ele, com vis��vel

curiosidade:

��� N��o tenho a m��nima id��ia.

��� Agora vou lhe fazer a mesma pergun-

ta qu�� me fez h�� pouco: posso ser absolu-

tamente sincero?

��� Claro que pode.

��� N��o vai ficar chocada?

A mulher riu:

��� Atualmente nada mais me choca.

��� Nem aborrecida?

��� Por que n��o fala logo de uma vez?

��� Pois bem: naquela ��poca eu tinha

quatorze anos e. . .

Gilberto hesitou. Isabel procurou dar-lhe

coragem:

��� N��o vai continuar?

��� Eu me apaixonei pela senhora perdi-

damente.

��� N��o brinca!

��� Achava-a muito bonita e sua presen-

��a alimentava minhas fantasias er��ticas.

��� Como eu n��o tinha pensado nisso an-

tes?! Afinal de contas, �� muito comum o

aluno se apaixonar pela p r o f e s s o r a . . .





92


O inesperado da revela����o, apesar de re-

conhecer que era um fato comum, fez com

que Isabel se sentisse feliz.

Em sua vida t��o cheia de trabalho e ..

amargura, aquilo n��o deixava de ser uma

recompensa.

��� Eu resolvi fazer uma brincadeira ho-

je, quando estou completando trinta e cin-

co anos ��� disse Gilberto. ��� Convidei to-

das as mulheres que mais me impressiona-

ram na vida. Afinal, estou na metade do

caminho. Se tiver sorte, posso chegar aos

setenta. Vi que estava na hora de fazer uma

revis��o e as reuni aqui em casa.

��� Ser�� que todas v��o comparecer?

��� Creio que n��o. Algumas n��o devem

nem ter recebido o convite.

��� S��o muitas?

��� Fiz uma sele����o rigorosa e convidei

apenas algumas.

��� Fico muito honrada em pertencer ao

grupo ��� disse Isabel, bem-humorada.

Realmente, n��o estava nem um pouco

arrependida de ter vindo.

93

Pensava, a princ��pio, em n��o demorar,

mas sentiu vontade de ficar at�� que che-

gassem as outras convidadas.

Gostaria de conhecer as mulheres que

haviam sido amadas por seu ex-aluno.

94

CAP��TULO 9

O F I M D A F E S T A

O tempo passava e nenhuma outra convi-

dada aparecia.

Gilberto j�� estava come��ando a ficar in-

tranq��ilo. Ser�� que sua festa ficaria limi-

tada apenas �� presen��a de Isabel?





95


De repente, sentiu o rid��culo da situa����o.

Ali estava ele sentado na sala, conver-

sando com uma velha ex-professora. N �� o

deixava de ser melanc��lico para um homem

que se julgava um grande conquistador.

O que teria acontecido com as outras?

Ser�� que nenhuma recebera o convite? Ou

n��o ligaram a m��nima import��ncia?

J�� estava ficando embara��ado diante de

Isabel.

E se ela pensasse que a festa n��o passa-

va de uma mentira de sua parte? Que aqui-

lo fora um pretexto para ficar a s��s com

ela?

N��o, Isabel nunca poderia pensar uma

coisa destas. Que interesse teria em ficar

sozinho com uma mulher de meia-idade, j��

beirando a velhice?

: D e repente , um a outr a id��i a diab��lic a

lhe ocorreu.

Sempre deve-se tirar proveito de todas as

situa����es, por piores que sejam, pensou.

96

E se enchesse a cara e fizesse com que

Isabel tomasse um pileque? Depois a leva-

ria para a cama e realizaria, com muitos

anos de atraso, o sonho de adolesc��ncia.

Era verdade que Isabel n��o tinha nada

a ver com a mulher de vinte anos atr��s.

Mas o que importava isso?

Se ficasse bastante b��bado poderia ima-

ginar que ela ainda era t��o bonita quanto

a n t e s . . .

��� Ser�� que as outras n��o v��m? ��� per-

guntou a mulher com certa timidez, olhan-

do o rel��gio.

Gilberto n��o precisou responder, pois a

campainha tocou exatamente naquele mo-

mento.

Ele dirigiu-se �� porta e surpreendeu-se

ao ver Irene. De todas, achava que era a

menos prov��vel que aparecesse.

��� Oi!

��� N��o esperava que voc�� viesse. P��g 97

A garota olhou-o com um ar meio diver-

tido e entrou no apartamento.

Gilberto apresentou-a a Isabel. As duas

examinaram-se mutuamente.

A professora estava surpresa diante da

garota que acabava de chegar e que n��o

devia ter mais de dezessete anos.

Quanto a Irene, ficou imaginando quem

seria aquela senhora gorda e concluiu que

devia ser uma tia do ex-amante.

��� A festa ainda n��o come��ou? ��� per-

guntou Irene.

��� N��o �� propriamente uma festa ��� des-

culpou-se Gilberto. ��� Trata-se apenas de

uma pequena reuni��o. Convidei somente as

pessoas mais ��ntimas. Ainda n��o chegou

todo mundo.

O rapaz foi at��- a eletrola e mudou o dis-

co, colocando outro de m��sica jovem, a fim

de agradar Irene.

A situa����o estava mais embara��osa do

que antes. P��g 98

Felizmente, a campainha voltou a tocar

e Gilberto foi atender com a esperan��a re-

novada.

Edna atirou-se c m seus bra��os quando ele

abriu a porta:

��� Gilberto, quanto tempo!

Ele notou que E d n a pouco m u d a r a .

Estava um tanto mais velha, sem d��vi-

da, mas sua apar��ncia era quase a mesma.

Os cabelos despenteados, um vestido super-

colorido e o mesmo jeito espalhafatoso e

descontra��do.

��� Voc�� n��o mudou nada.

��� E voc�� est�� mais bonito ainda do que

naquela ��poca.

Gilberto levou-a" at�� a sala e apresen-

tou-a ��s outras duas.

Edna sentou-se no sof�� e s�� ent��o lem-

brou-se de entregar-lhe o embrulho que ti-

nha na m �� o :

��� Meu Deus, eu sou mesmo muito lou-

99

ca! T o m e seu presente. J�� ia me esquecen-do de entregar. Era capaz de voltar para

casa com ele.

O rapaz desembrulhou o presente. Tra-

tava-se de um disco de Roberto Carlos.

Isabel e Irene ficaram meio encabuladas

porque n��o haviam trazido nada.

A primeira porque n��o podia fazer gas-

tos sup��rfluos e a segunda porque simples-

mente n��o se lembrara de comprar. Desde

o in��cio pensara que o convite n��o passava

de um pretexto para uma reconcilia����o.

Com a presen��a de Edna, o ambiente tor-

nou-se mais animado. Ela falava sem pa-

rar, sem dar a palavra a ningu��m.

N��o se importou nem um pouco, com a

presen��a das outras duas e dizia tudo que

lhe vinha �� cabe��a.

Relembrou in��meros epis��dios ��ntimos

que tivera com Gilberto e relatou tudo que

lhe havia acontecido durante aquele tem-

po que ficara sem v��-lo.

Mais ou menos ��s nove e meia, vendo que

talvez n��o chegasse mais ningu��m, Isabel

despediu-se:





100


��� Est�� na hora de ir embora.

��� J��? ��� protestou Gilberto.

��� Como te disse, tenho que acordar mui-

to cedo todos os dias e moro longe.

��� N��o quer ficar at�� o fim? Depois eu

posso te levar em casa.

��� N��o �� preciso. Estou de carro. Eu te-

nho um velho Fusca. �� o ��nico luxo que

at�� hoje consegui me permitir.

Isabel falou com as outras mulheres e

Gilberto foi lev��-la at�� a porta:

��� Agora que j�� sabe o caminho, pode

aparecer quando quiser.

Gilberto voltou para a sala.

Edna conversava com Irene que j�� n��o

conseguia disfar��ar seu mau-humor: viera

certa de que n��o ia encontrar mais nin-

gu��m e que Gilberto iria lhe suplicar que

voltasse para ele.

Observando-a, o rapaz achou que n��o

custava nada procurar vingar-se de Irene.

Aproximou-se de Edna e come��ou a dan-

��ar com ela, beij ando-a e fazendo-lhe di-

versas car��cias.





101


Irene foi at�� a janela e odiou-se por ter

comparecido.

Afinal de contas, o que estava fazendo

ali? N��o conseguiu conter a raiva:

��� Por que voc�� me convidou para vir

aqui hoje?

Gilberto parou de dan��ar:

��� Voc�� n��o est�� se divertindo?

��� Claro que n��o. O melhor mesmo �� ir

embora. N �� o sei por que fui t��o idiota em

ter v i n d o . . .

Edna olhou-a com vontade de rir:

��� Por que est�� t��o nervosa, minha que-

rida?

Irene n��o deu resposta e saiu intempes-

tivamente do apartamento sem despedir-se.

��� O que deu na menina? ��� quis saber

Edna.

��� Deve ter ficado com ci��mes de voc��.

��� De mim?

��� Sim. Eu tive um caso com ela. Aca-

bamos h�� duas semanas. Sem d��vida pen-

sou que eu estava querendo fazer as pazes.

102

Gilberto ent��o contou a Edna que resol-

vera dar aquela festa convidando todas as

mulheres que j�� tinha amado.

��� E s�� vieram tr��s? ��� perguntou Edna

espantada.

��� Pra voc�� ver. As outras n��o tomaram

conhecimento.

��� Talvez tenha sido melhor assim. Po-

demos aproveitar o fato de estarmos sozi-

nhos . . .

Naquela mesma noite dormiram juntos.

Foram se deitar de pileque, mas mesmo

assim Gilberto possuiu Edna duas vezes se-

guidas, como nos velhos tempos.

No dia seguinte Gilberto n��o foi traba-

lhar. Acordou com uma dor-de-cabe��a mui-

to forte, devido ao excesso de bebida que

misturara na noite anterior.

Depois que Edna foi embora, vestiu um

cal����o e foi �� praia curar a ressaca.

De certo modo, sua festa de anivers��rio

tinha sido um grande fracasso.





103


Onde andariam as outras mulheres que

convidara? Por que n��o haviam compare-

cido?

O que teria sido feito de Cec��lia, Lia, Jus-

sara e Eunice? Jussara, ele sabia que n��o

teria comparecido mesmo.

Mas as outras tr��s? N��o era poss��vel que

todas tivessem se mudado.

Pelo menos Eunice, tinha certeza de que

continuava morando no mesmo lugar.

Provavelmente, mesmo que ainda se re-

cordassem dele, tinham agora outros inte-

resses.

Que import��ncia teria para elas o ani-

vers��rio de um ex-amante?

E depois, o tempo passa, as coisas mu-

dam. Quase ningu��m se prende ao passado.

Ele era um dos poucos rom��nticos que

ainda restavam e que se lembravam de

amores perdidos.

Apesar dos comprimidos que havia toma-

do, a cabe��a continuava doendo.

Deu mais alguns mergulhos e voltou pa-

ra casa, a fim de dormir um pouco.

104

Da dor-de-cabe��a poderia melhorar, mas

aquela ang��stia que estava sentindo sabia

que ainda ia permanecer por muito tempo...

105

CAPITULO 10

V I S I T A I N E S P E R A D A

A campainha tocou v��rias vezes com in-

sist��ncia. Gilberto acordou meio atordoa-

do. Quem seria?

Viu que ainda n��o eram seis horas da

tarde.





106


Como estava nu, enrolou uma toalha na

cintura e foi abrir a porta.

Quase perdeu os sentidos, quando viu Ce-

c��lia :

��� Voc��!?

��� Por que tanto espanto?

��� Era a ��ltima pessoa que eu podia es-





perar.


��� Desculpe n��o ter podido vir ontem.





A mulher entrou no apartamento.


��� Quer dizer que voc�� recebeu o con-

vite?

��� Recebi, mas n��o deu pra vir.

��� Por qu��?

��� Voc�� sabe que estou casada. In��cio,

meu marido, encontrou sua carta e fez uma

cena de ci��mes. Ontem voltou para casa

mais cedo e eu n��o pude escapar. Hoje re-

solvi dar um pulo at�� aqui. Pensei que tal-

vez a esta hora voc�� j�� tivesse voltado do

trabalho. Tive s o r t e . . .

��� Hoje n��o fui trabalhar. A ressaca n��o





deixou.


Cec��lia abriu a bolsa e entregou-lhe um





pequeno embrulho.


107


��� O que �� isso?

��� Um presente pra voc��.

��� Que id��ia!

��� N��o quer?

Gilberto apanhou o presente. Era uma

pulseira com seu nome gravado:

��� Pensei que n��o quisesse mais me ver.

��� Por qu��?

��� Talvez tivesse raiva de mim.

��� Que b o b a g e m ! . . .

��� Bem, podemos fazer uma pequena

festa particular. Sobrou muita comida e be-

bida de ontem.

��� Eu n��o tenho muito tempo. Devo vol-

tar ��s sete horas. Lembre-se que estou sob

vigil��ncia. N �� o conv��m que In��cio n��o me

encontre ao chegar em casa.

�� evidente que Gilberto logo pensou que

Cec��lia o procurara porque queria voltar a

fazer sexo com ele.

Achou inclusive muito bom que n��o ti-

vesse comparecido �� festa. Agora estavam

sozinhos e tudo seria melhor.

Aproximou-se da mulher e tentou bei-

j��-la. Ela, por��m, recuou:

108

��� N��o, Gilberto.

��� N��o !?

��� �� perigoso.

��� Voc�� mesmo n��o disse que basta che-

gar em casa ��s sete? Ainda temos quase

uma hora. Por que n��o aproveitar?

��� As coisas n��o s��o t��o simples assim.

��� Seu marido n��o vai desconfiar de na-

da ��� insistiu o rapaz.

��� O problema n��o �� propriamente este.

Acontece que eu te amei muito. Voc�� sabe

disso. T e n h o medo de ter rela����es contigo

de novo. Queria apenas te ver, saber como.

voc�� est��, mais nada.

��� T e m certeza disso?

��� Tenho. Eu estou bem casada. In��cio

me ama. J�� passei da idade de me deixar

levar por aventuras que n��o conduzem a

nada.

Gilberto n��o insistiu mais. Compreendeu

que precisava respeitar os sentimentos de

Cec��lia.

Contentou-se em conversar com a mu-

lher durante mais de meia hora, apenas co-

mo bons amigos.

109

Depois que Cec��lia foi embora, novamen-

te sentiu-se s��.

Sua visita viera apenas confirmar o que

pensara naquela manh��: cada uma de suas

antigas amantes tinha constru��do sua pr��-

pria vida e n��o havia mais lugar para ele.





110


CAP��TULO 11

V O L T A D A S F �� R I A S

Eunice voltou de suas f��rias na Bahia

muito bem disposta e queimada de praia.

Sua m��e foi esper��-la no aeroporto e

ficou feliz com a apar��ncia saud��vel da

filha.





111


Mais uma vez teve certeza de que agira

corretamente n��o enviando-lhe a carta-

convite que Gilberto endere��ara a ela.

��� Voc�� est�� com uma cor linda!

��� As praias de Salvador s��o sensacio-

nais ��� disse Eunice com entusiasmo.

Durante o trajeto para casa, Eunice con-

tou como haviam sido as f��rias. N �� o espe-

rara que fosse se divertir tanto.

Quando chegaram em casa, Dona Teresa

entregou-lhe a carta, dizendo que n��o ti-

nha enviado para a filha, a fim de n��o per-

turbar seu descanso.

Eunice abriu o envelope e viu que a car-

ta estava datada de vinte dias antes. De-

pois mostrou-se �� m��e, que estava curiosa

de saber do que se tratava.

��� Por que raz��o ele queria que voc�� fos-

se ao seu anivers��rio? Ser�� que estava que-

rendo uma reaproxima����o?

��� De qualquer jeito foi melhor assim ���

respondeu Eunice.

N��o pretendia mais tornar a encontrar-se

com Gilberto.

112

Durante muito tempo esperara que ele a





procurasse. Mas depois havia desistido.


Gilberto brincara demais com seus sen-





timentos.


No entanto, durante o resto do dia n��o





pensou em outra coisa.


Por mais que se recusasse a reconhecer,





ainda o amava.


Lembrava-se perfeitamente da ��ltima vez

que o vira h�� pouco mais de um a n o . . .



* * *

Gilberto sentou-se na cama e acendeu um

cigarro. Eunice cobriu seu corpo nu com

um len��ol.

Apesar de ser amante do rapaz h�� v��rios

meses, ainda tinha um certo pudor.

��� Tenho pensado muito na nossa situa-

����o, Gilberto.

��� Que situa����o.

��� Eu n��o nasci pra isso.

��� N��o estou entendendo o que quer di-





zer.


��� Sempre tive vontade de casar, ter fi-

lhos, levar uma vida normal.





113


Ele levantou-se, visivelmente irritado:

��� Por que voc��s mulheres t��m essa id��ia

fixa de casamento? Ser�� que n��o sabem

pensar em outra coisa? �� engra��ado: vo-

c��s falam tanto em liberdade sexual, n��o

querem ser objetos, lutam para serem iguais

aos homens em tudo, mas no fim o que de-

sejam mesmo �� serem sustentadas por al-

gum bobo que termina caindo em suas ar-

madilhas.

��� N��o precisa ser grosseiro.

��� Eu n��o vou casar nunca. Acho isso

uma grande tolice. O casamento �� uma ins-

titui����o falida.

��� N��o concordo contigo.

��� Certa vez eu gostei muito de uma

garota. Lia era parecida contigo. Eu tinha

as melhores inten����es e pretendia at�� ca-

sar. Mas espontaneamente, de livre vonta-

de. Nunca for��ado. Acontece que ela resol-

veu fazer jogo sujo. Como era virgem, disse

que eu s�� a teria se casasse. A eterna chan-

tagem. Sabe o que fiz? Simplesmente deixei

de encontr��-la.





114


Eunice saiu da cama e come��ou a se ves-

tir.

Estava determinada a nunca mais voltar

��quele apartamento. Sentiu que n��o signi-

ficava absolutamente nada para Gilberto.

Precisava refazer sua vida, esquec��-lo.

N��o queria continuar sendo apenas, mais

uma amante do rapaz.

��� J�� vai embora?

��� Vou.

��� Ficou aborrecida comigo?

��� Bem, Gilberto, a verdade �� que n��o

posso continuar nesta situa����o. N �� o sou

uma garota de programa, que voc�� chama

pra vir dormir contigo quando est�� com

vontade. Eu sou exclusivista, ciumenta, e

quero algu��m que goste s�� de mim, o que

n��o �� o seu caso, evidentemente.

Ela acabou de se arrumar e acrescentou,

antes de sair:

��� N �� o me telefone mais.

��� Est�� falando s��rio?

��� Estou. Tchau!

��� Tchau!





115


Eunice deixou o apartamento de Gilber-

to prestes a chorar.

Mas conteve-se. Era melhor assim. Se

continuasse, iria sofrer muito mais.

J�� haviam brigado v��rias vezes, quase

sempre pelo mesmo motivo e ela sempre

voltava.

Mas agora estava determinada a n��o v��-

lo outra vez.

Apesar de tudo, esperou que ele a pro-

curasse, mas isso n��o aconteceu. Esquecer

Gilberto foi muito mais dif��cil do que es-

perava . . .

L o g o depois pediu f��rias no emprego e

viajou para a Bahia.

Tinha alguns parentes l�� e achou que as-

sim poderia deixar de pensar em Gilberto.

Em Salvador, come��ou a namorar um pri-

mo, mas o caso n��o foi adiante. Achou-o

enfadonho e provinciano demais. O oposto

de Gilberto. Viu que tamb��m n��o era aqui-

lo que queria.

De volta ao R i o , continuou se correspon-

dendo com o primo, mas depois soube que

ele noivara com outra em sua cidade.

116

Agora tornara a ir passar as f��rias na

Bahia, aliviada por estar livre de qualquer

compromisso com o tal primo.

J�� n��o tinha esperan��a de voltar a gos-

tar de algu��m como gostara de Gilberto.

-117

CAP��TULO 12

U M A LEVE ESPERAN��A

Era um s��bado �� tarde. Gilbertou sen-

tou-se num bar qualquer da Avenida Atl��n-





tica.


Pediu um chopinho e ficou observando

as garotas que passavam.





118


N��o sabia o que estava acontecendo com ;

ele, mas parecia que tinha perdido a sorte

com as mulheres.

Entediado, pagou a conta e saiu do bar.

Andou pela Avenida Copacabana sem sa-

ber para onde ir.

Avistou uma garota bonita num ponto

de ��nibus e parou ao seu lado.

A mo��a permaneceu s��ria, ignorando sua

presen��a.

Quando ia abord��-la, ela fez sinal p��ra

um ��nibus e tomou a condu����o.

O rapaz ainda ficou algum tempo para-

do e depois recome��ou a andar.

Viu a multid��o que sa��a de um cinema.

Estava olhando distraidamente as pes-

soas, quando de repente avistou um rosto

conhecido. Eunice n��o o vira, mas ele ten-

tou alcan����-la.

��� Eunice! ��� gritou.

A mo��a virou-se:

��� Gilberto!

Ela n��o gostou de sua pr��pria rea����o.

Sem querer, havia demonstrado a maior

alegria em v��-lo.





119


��� Como �� que voc�� vai? No m��s passa-

do lhe mandei um convite, mas creio que

voc�� n��o recebeu.

��� Recebi, sim. S�� que com algumas se-

manas de atraso.

��� Pensei que os servi��os dos Correios ti-

vessem melhorado.

��� N��o culpe os Correios. A carta chegou

pontualmente. Eu �� que n��o estava no R i o .

Passei as f��rias na Bahia e s�� quando che-

guei �� que recebi a carta.

��� Pra onde vai agora?

��� Pra casa.

��� N��o quer tomar alguma coisa comigo

num bar? Ou tem algum compromisso?

Eunice pensou em n��o aceitar. Mas esta-

va t��o contente em ver Gilberto de novo!

Afinal, n��o se pode guardar rancor de

uma pessoa pelo resto da vida.

��� N��o tenho nenhum compromisso.

��� Ent��o aceita meu convite?

��� Claro.

Entraram no primeiro bar que encontra-

ram.

120

Gilberto examinava-a cuidadosamente:

Eunice estava mais bonita do que nunca.

Os olhos l��mpidos, brilhantes, o decote mos-

trando-lhe parte dos seios. A pele queimada

de praia.

��� Voc�� est�� cada vez mais bonita.

��� Bondade sua.

��� Ainda guarda algum ressentimento de

mim?

Ela n��o respondeu l o g o :

��� B e m . . . eu te amei, Gilberto. Foi mui-

to dif��cil te esquecer. Mas n��o tenho raiva

de voc��.

��� Eu sei que por baixo de minha capa

de bom mo��o, n��o passo de um cafajeste.

��� N��o precisa ser t��o rigoroso c o m i g o

mesmo.

��� Nunca me preocupei com os sentimen-

tos das outras pessoas. Mas de algum tem-

po pra c�� tenho a impress��o de que estou

mudando.

Eunice viu renascer uma leve esperan��a.

Olhando-o agora, bem de perto, compreen-

deu que continuava a am��-lo.





121


Durante aquele tempo em que passara

sem v��-lo, fizera todos os esfor��os para es-

quec��-lo. Mas nenhum outro homem con-

seguiu inspirar-lhe nada.

O rapaz teve vontade de convid��-la para

ir ao seu apartamento, mas n��o teve cora-

gem de faz��-lo. N��o podia se dar o direito

de ferir Eunice novamente.

No entanto, durante a conversa, colocou

sua m��o sobre a dela e Eunice d e i x o u . . .

122

EP��LOGO

"EU T E A M O A S S I M M E S M O

Eunice entrou no apartamento onde ju-

rara nunca mais, p��r os p��s.

Sua atra����o por Gilberto era maior do

que nunca. Havia tamb��m agora a espe-

ran��a de que ele tivesse se modificado.

123

O rapaz segurou-lhe o rosto com carinho

e beijou-lhe a boca.

Eunice sentiu que estava irremediavel-

mente presa a ele.

Deixou-se levar para a cama sem a me-

nor relut��ncia.

H�� quanto tempo esperava voltar a ser

possu��da por Gilberto!

Ele tirou-lhe a roupa pe��a por pe��a e bei-

java cada parte de seu corpo, �� medida que

ia sendo descoberta.

Depois, alisou os p��los ��midos de seu

sexo. Eunice puxou-o para si com for��a, fa-

zendo-o com que ele a penetrasse:

��� Eu te a m o . . .

Ent��o, pela primeira vez, ouviu-o mur-

murar :

��� Eu tamb��m te amo, Eunice.



* * *

124

Os dois ficaram na cama abra��ados. Os

corpos saciados, experimentavam uma paz

que h�� muito n��o tinham.

��� Voc�� teve algum outro homem duran-

te esse tempo?

��� N��o, Gilberto.

��� N��o precisa mentir. Pode dizer a ver-

dade. Afinal de contas, n��s j�� t��nhamos

acabado.

��� N��o estou mentindo. N��o tive nin-

gu��m.

Ele tornou a beij��-la:

��� Sabe que voc�� vai terminar conse-

guindo o que sempre quis?

��� N��o v�� me dizer que est�� com inten-

����o de. . .

��� Estou sim. Sinto que estou precisan-

do arranjar uma companheira para o resto

da vida. Ando cansado de aventuras. A

maioria das mulheres me causa um t��dio

125

insuport��vel. V a i ver estou come��ando a ficar velho.

Gilberto deitou-se por cima de Eunice,

disposto a possu��-la outra v e z . . .

* * *

Danilo parou a motocicleta em frente ao

edif��cio e Irene saltou.

��� N��o quer mesmo me encontrar logo

mais? ��� perguntou o rapaz.

��� N��o.

��� Ent��o amanh�� na praia ��s dez, t�� le-

gal?

Danilo disparou em sua moto e quase na

esquina ainda se virou para acenar para a

garota.

Irene correspondeu e, em vez de entrar

no pr��dio onde morava, andou em dire����o

contr��ria �� do namorado.

H�� v��rios dias que sentia um desejo

imenso de tornar a procurar Gilberto.

126

Pegou um t��xi e foi direto ao apartamen-

to dele.

J�� estava cansada de Danilo. Fizera pou-

co de Gilberto, debochara de sua idade, mas

na verdade achava-o muito mais homem do

que os garot��es com quem costumava tran-

sar.

* * *

��� Est�� esperando algu��m? ��� perguntou

Eunice ao ouvir a campainha tocar.

��� N��o.

��� N��o vai atender?

��� Pra qu��?

��� Pode ser alguma coisa importante.

Gilberto levantou-se da cama a contra-

gosto e foi ver quem era.

��� Oi, Gilberto, tudo bem?

Ele olhou para Irene, contrariado:

��� Estou ocupado, gatinha. V�� procurar

seu garot��o surfista.

127

��� Eu n��o quero mais nada com ele. Eu

quero voc��.

Eunice veio at�� a sala.

Irene, ao v��-la, compreendeu que a ��nica

coisa que tinha a fazer era dar o fora.

Assim que ela foi embora, Gilberto fe-

chou a porta e Eunice perguntou:

��� Quem �� a menina?

��� Uma de minhas ex-amantes. N��o se

conforma porque n��o quero mais nada com

ela.

��� Voc�� n��o p r e s t a . . .

Gilberto julgou que Eunice fosse come-

��ar a brigar. No entanto, teve uma surpre-

sa ao ouvi-la acrescentar:

��� Mas eu te amo assim mesmo.

F I M

128.



ESTE LIVRO FOI DIGITALIZADO EM 2019 POR

LEANDRO MEDEIROS PARA ATENDER AOS

DEFICIENTES VISUAIS.











O Grupo Bons Amigos  tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais  .

Estranho Convite - Carlos Aquino

 Livro doado e digitalizado por Leandro Medeiros 

Sinopse:

Gilberto é um solteirão. Ele mora na zona sul do Rio. Ele já teve várias garotas durante sua vida.

             Hoje ele está completando trinta e cinco anos. Acabou um romance com uma jovem de dezessete anos.

        Sentado em sua poltrona ele decide fazer um estranho convite.



Lançamento  :

a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses

b)http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br

Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos. 

É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras










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Livros:

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Áudios diversos:

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