A VIDA
Querida leitora,
Anne Mather escreve romances h��
muitos anos. Quando os Romances Nova
Cultural foram lan��ados, h�� mais de
vinte anos, ela j�� era uma escritora
consagrada. �� uma das minhas autoras
preferidas. As hist��rias dela s��o
fant��sticas, muito rom��nticas... Ela
descreve como ningu��m as emo����es de
uma mulher apaixonada, e os enredos que
ela cria s��o ricos e interessantes. As
paisagens, ent��o, nem se fala! Esta
hist��ria se passa numa ilha do Caribe!
Voc�� pode imaginar um lugar mais
maravilhoso para viver uma grande
paix��o?
Patr��cia Garcez
Editora
Anne Mather
PARA TODA
A VIDA
Copyright �� 2000 by Anne Mather
Originalmente publicado em 2000
pela Harlequin Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra.
Todos os direitos reservados, inclusive o direito de
reprodu����o total ou parcial, sob qualquer forma.
Esta edi����o �� publicada atrav��s de contrato com a
Harlequin Mills & Boon Ltd.
Esta edi����o �� publicada por acordo com a
Harlequin Mills & Boon Ltd.
Todos os personagens desta obra s��o fict��cios.
Qualquer semelhan��a com pessoas vivas ou mortas
ter�� sido mera coincid��ncia.
T��tulo original: Ali Night Long
Tradu����o: S��lvia L��cia Sardo
Editor: Janice Florido
Chefe de Arte: Ana Suely S. Dob��n
Paginador: Nair Fernandes da Silva
EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.
Rua Paes Leme, 524 - 10s andar
CEP: 05424-010 - S��o Paulo - Brasil
Copyright para a l��ngua portuguesa: 2001
EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.
Fotocomposi����o: Editora Nova Cultural Ltda.
Impress��o e acabamento: Gr��fica C��rculo
CAP��TULO I
homem estava olhando para ela...
Alline remexeu-se na banqueta do bar e des-
viou a aten����o para o copo alto �� sua frente. Embora tivesse
ido at�� ali com a inten����o confessa de flertar com o primeiro
homem atraente que aparecesse, a realidade era mais cons-
trangedora do que imaginara. Ele olhava na dire����o dela, sim,
mas poderia estar observando alguma coisa por sobre seu om-
bro. Ou podia estar simplesmente com o olhar perdido no es-
pa��o! Rapazes como ele n��o perdiam tempo com mulheres di-
vorciadas de meia-idade, principalmente quando a mulher em
quest��o parecia t��o pouco �� vontade.
Suspirando, Alline permitiu-se outro olhar furtivo. Dessa
vez os olhares se encontraram e, sentindo o rosto arder, ela
desviou rapidamente o seu.
Meu Deus, pensou, bebendo um gole refor��ado da vodca com
t��nica. Ele estava olhando para ela! Mas por qu��? Estaria
pensando que era uma turista rica? N��o com as roupas e bi-
juterias simples que estava usando.
Alline respirou fundo. O problema era que n��o estava acos-
tumada ��quele tipo de coisa. Fazia vinte anos que deixara de
ser um membro ativo do clube das solteiras e n��o tinha mais a
menor id��ia de como se comportar numa situa����o como aquela.
A bem da verdade, ficara satisfeita com sua apar��ncia, ao mirar-se
no espelho, no hall dos elevadores. Mas n��o tinha ilus��es. Os
cabelos castanhos curtos real��ados com luzes douradas e o corpo
que fugia aos padr��es atuais de top-model n��o eram fonte de
inspira����o de fantasias er��ticas para nenhum homem. Ela era,
ou melhor, fora, esposa e m��e por tanto tempo que era dif��cil, e
estranho, ver-se como uma mulher livre e atraente, outra vez.
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PARA T O D A A V I D A
Contudo, era por isso que estava l��. Por isso, passaria a
noite naquele hotel luxuoso, no Aeroporto Heathrow. Na manh��
seguinte seguiria para Nassau, e depois para a pequena ilha
de San Cristobal. As f��rias seriam a oportunidade de fugir,
pelo menos por algumas semanas, do sofrimento e da humi-
lha����o que enfrentara no ano anterior.
�� por uma noite, num hotel de luxo, onde n��o conhecia
ningu��m e onde ningu��m a conhecia, Alline decidira fazer algo
que nunca fizera antes.
Ent��o, por que tanta timidez diante do aparente interesse
de um homem, de um estranho? Ela nunca mais o veria, depois daquela noite. Al��m do mais, o rapaz era bem mais jovem do
que ela. Talvez estivesse apenas curioso. Alline se sentia ex-
tremamente deslocada, e com certeza ele percebera isso e per-
guntava-se o que ela fazia sozinha, num bar.
��� �� sua?
Alline se assustou.
Era ele. Absorta, tentando encontrar raz��es pelas quais o
rapaz n��o devia estar interessado nela, n��o notara que ele se levantara e ocupara a banqueta a seu lado. Sorriu timidamente.
��� Est�� esperando seu marido?
Marido! Alline conteve a vontade de rir. Teria sido uma risada hist��rica, e ela n��o tinha inten����o de expor-se diante
de um homem atraente e sofisticado como aquele.
��� N��o ��� respondeu num tom de voz que esperava que
fosse firme e convincente. ��� N��o estou esperando meu marido.
��� Ent��o, posso oferecer-lhe um drinque? ��� Com a cabe��a,
ele apontou o copo quase vazio. ��� Vodca?
Alline conteve-se para n��o arregalar os olhos de espanto.
��� Eu... por que... n��o... ��� balbuciou. ��� Bem, �� muita gen-
tileza, mas...
��� Mas voc�� n��o me conhece ��� ele a socorreu num tom suave.
��� Bem, isso �� f��cil de ser remediado. Meu nome �� Raul. E o seu?
Alline hesitou. Raul. Era um nome bonito. M��sculo.
��� Hum... Diana ��� disse ela, escolhendo um nome ao acaso.
��� Diana... Morrison.
��� Ol��, Diana. ��� Os l��bios dele se curvaram num sorriso
encantador. ��� E ent��o? Aceita um drinque, Diana?
A espontaneidade dele cativou-a. Inclinando levemente a
cabe��a, ela esbo��ou um sorriso.
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P A R A T O D A A V I D A
��� Por que n��o? Obrigada.
Com um gesto discreto, ele chamou o gar��om e pediu mais
uma vodca com t��nica e um u��sque com gelo. Prestando aten����o
no sotaque do rapaz, Alline tentava descobrir a nacionalidade dele.
N��o era ingl��s, com certeza. Mas tamb��m n��o parecia americano.
Sotaque atraente, ela pensou. Mas n��o era s�� o sotaque. Ele tamb��m era muito charmoso. Um dos homens mais charmosos
que ela j�� conhecera. A pele morena e as fei����es aquilinas lhe
emprestavam um leve ar de severidade. Mas as Unhas da boca
n��o eram severas. Tinham, ao contr��rio, tra��os bem-humorados
e sensuais, e os cabelos pretos sugeriam uma poss��vel ascen-
d��ncia latina.
De repente, Alline sentiu uma ponta de remorso por ter
permitido que ele lhe oferecesse uma bebida. Nem se lembrava
mais da ��ltima vez que outro homem que n��o fosse Jeff lhe
oferecera um drinque. Ela n��o sabia o que despertara o inte-
resse do rapaz, mas a verdade era que ele n��o disfar��ava esse
interesse, e isso a preocupava. Temia ser inexperiente demais
para saber como lidar com a situa����o.
O que sabia a respeito dos homens, afinal? Muito pouco.
Assim que terminara o colegial, ela se casara com Jeff e, du-
rante dezoito anos, dedicara-se exclusivamente ao lar e aos
filhos g��meos, sempre incentivando o marido, primeiro nos tem-
pos de estudante, depois como professor universit��rio. Nunca
tivera tempo para mais nada.
O barman voltara com as bebidas, e Raul empurrou o copo na dire����o dela.
��� Seu drinque ��� disse ele.
Alline levou o copo aos l��bios. Talvez, depois de mais duas
ou tr��s doses, ela se sentisse menos nervosa. Os olhares se
encontraram por sobre a borda do copo, e ela obrigou-se a n��o
desviar o seu.
Mas por pouco tempo.
��� Espero que esteja do seu gosto.
O coment��rio aparentemente banal despertou-a. Sem per-
ceber, estremecera ao beber quase todo o drinque de um s��
gole. Rapidamente, pousou o copo no balc��o.
��� Est�� ��timo. ��� Seus dedos nervosos brincaram com o
porta-copos.
��� Que bom. ��� Ele tamb��m deixou o copo, os olhos negros
fixos nela. Alline corou. ��� Eu a deixo nervosa?
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PARA T O D A A V I D A
Ela respirou com dificuldade.
��� Por que deixaria? ��� A indigna����o emprestava-lhe um
tom mais confiante.
Raul encolheu os ombros.
��� Talvez porque eu tenha a impress��o de que voc�� n��o
est�� acostumada a... bem, a fazer isso.
��� A conversar com homens em bares? ��� Alline conteve o
impulso de confirmar as suspeitas dele e afastar-se rapida-
mente. ��� N��o, n��o estou. E voc��?
��� Acostumado a conversar com homens em bares? ��� ele
repetiu com ar inocente. ��� Decididamente, n��o.
��� Voc�� entendeu. Acho voc�� est�� ca��oando de mim!
��� N��o, n��o estou. ��� Vendo o olhar incr��dulo dela, acres-
centou: ��� Bem, pode ser. S�� um pouco. ��� Ele sorriu meio
arrependido, enquanto pegava o copo. ��� S�� estava tentando
faz��-la relaxar.
��� Perguntando se estou nervosa? J�� estou bem consciente,
sem que me fa��a sentir-me pior.
Depois de beber mais um gole, Raul tornou a deixar o copo
sobre o balc��o. Com o movimento, o punho de sua jaqueta de
couro ro��ou sensualmente no bra��o de Alline. O toque invo-
lunt��rio provocou nela um arrepio na espinha. A jaqueta era
de couro preto, como os cabelos dele, e por baixo, a camiseta
tamb��m preta delineava os m��sculos r��gidos do abd��men.
Alline prendeu a respira����o. Jeff jamais sonharia em vestir
roupas t��o casuais, �� noite. Escolheria um terno escuro, pro-
vavelmente Armani, e um sobretudo de tweed Harris, de prefer��ncia. De repente, ela se deu conta de que, nos ��ltimos
tempos, o ex-marido s�� se vestia com roupas degriffes famosas.
Suspirando, tratou de afastar tais pensamentos. N��o queria
se aborrecer, nem estragar a noite.
De qualquer forma, Raul estava muito elegante de jeans e
jaqueta de couro, muito mais do que Jeff com suas roupas de
griffe. E, sem d��vida, as roupas dele tamb��m eram de boa
qualidade.
��� Diga-me... Voc�� j�� est�� bem consciente do qu��? ��� ele
perguntou, arrancando-a do exame meticuloso sobre a apar��n-
cia dele. ��� N��o h�� nada para voc�� se conscientizar.
��� N��o? ��� A voz saiu quase estridente. ��� Bem, como voc��
mesmo notou, n��o estou acostumada a esta... esta cena.
P A R A T O D A A V I D A
��� Que cena?
��� Esta. ��� Alline permitiu-se fit��-lo por um momento, depois
estendeu o olhar, abrangendo todo o sal��o. ��� Sozinha em um
bar, aceitando um drinque de um estranho.
��� N��o somos totalmente estranhos. ��� A express��o dele
era s��ria, mas Alline juraria que ele estava se divertindo. ���
J�� nos apresentamos.
��� Sim, n��s mesmos nos apresentamos. N��o �� a mesma coisa.
��� Tudo bem, pode n��o ser a mesma coisa, mas �� uma rea-
lidade. Voc�� n��o pode fingir que n��o nos conhecemos, depois
de ter bebido metade do drinque que lhe ofereci!
Alline franziu a testa.
��� O que est�� querendo dizer?
��� Nada. Olhe, desculpe se a deixei constrangida, sim? N��o foi
minha inten����o. Eu s�� queria conhec��-la melhor, e foi tolice minha
acreditar que seria mais f��cil se brincasse um pouco com voc��.
��� Ele ergueu as m��os espalmadas. ��� �� ��bvio que me enganei.
Alline sentiu uma ponta de remorso. Ela n��o quisera ofend��-lo,
e a culpa n��o era dele se ela perdera o jeito para lidar com o
sexo oposto. A culpa era toda dela. Dedicara-se tanto, e por tanto
tempo, a Jeff, inclusive permitindo que ele controlasse sua vida,
que se esquecera de como era divertir-se descontraidamente.
��� Desculpe-me ��� ela murmurou, um pouco surpresa por
Raul ainda n��o ter desistido. Certamente n��o faltariam mu-
lheres mais jovens e desacompanhadas, no bar. Lan��ando um
r��pido olhar ao redor, Alline juraria que todos comentavam o
fato de um homem como Raul ter se engra��ado com ela. ���
Acho que sou muito velha para isso.
Raul estreitou os olhos escuros.
��� Voc�� n��o �� velha. ��� Ele sorriu ante a express��o de in-
credulidade dela. ��� �� s��rio. Voc�� pode ter o qu��? Trinta e
dois, trinta e tr��s? N��o �� velha, acredite.
Alline torceu o nariz.
��� Que maneira mais sutil de perguntar a minha idade!
Mas n��o se preocupe, n��o tenho vergonha de dizer. Tenho
trinta e oito anos. Quase trinta e nove. J�� estou na meia-idade.
Ele balan��ou a cabe��a num gesto de reprova����o.
��� Por que insiste em desvalorizar-se? Eu n��o estava exa-
gerando. Voc�� n��o aparenta a sua idade, por mais que queira
acreditar nisso.
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PARA T O D A A V I D A
��� Mesmo?
��� Mesmo. ��� Raul contemplou-a com um olhar extrema-
mente sensual. ��� Quem falou que voc�� est�� na meia-idade?
��� Foi Sam, minha filha. Acho que ela quis me fazer um elogio.
��� Voc�� tem uma filha?
Raul era gentil, mas cauteloso, e Alline preparou-se para ouvi-lo
perguntar sobre seu marido. Mas ele n��o tocou no assunto.
��� Bem, ��s vezes, as crian��as s��o muito... muito...
��� Sinceras? ��� ela sugeriu.
��� N��o. ��� De novo, o sorriso sedutor. ��� Eu ia dizer cru��is.
E t��m vis��o curta. S�� enxergam o que querem enxergar. Qual
a idade de Sam?
Tarde demais, Alline percebeu que mencionara o nome ver-
dadeiro da filha.
��� Vinte anos ��� revelou, um pouco relutante. Mas como
aquela conversa acabaria ali mesmo, naquele bar de hotel,
acrescentou: ��� Ela vai se casar no pr��ximo ano. Creio que j��
est�� me vendo como av��. ��� Sua express��o tornou-se mais
melanc��lica. ��� Suponho que ela esteja pensando que eu n��o
tenho mais nada para esperar da vida.
Novamente, ele balan��ou enfaticamente a cabe��a.
��� Essa �� a opini��o que voc�� mesma tem a seu respeito?
��� Ap��s uma breve pausa, ele perguntou: ��� Seu marido con-
corda com ela?
Alline comprimiu os l��bios.
��� O pai dela e eu estamos divorciados.
��� Ah!
A resposta t��pica! De repente, Alline sentiu-se tomada pela
mesma determina����o que a fizera comprar as passagem para
San Cristobal.
��� O que voc�� quer dizer com "Ah!"? ��� ela indagou num
tom alterado. ��� O fato de eu ser divorciada explica tudo? ��
o que voc�� estava pensando? Uma mulher desprezada, desilu-
dida e outras coisas do g��nero? Bem, deixe-me esclarecer. Estou
contente porque meu casamento acabou.
��� Se voc�� est�� dizendo...
��� Estou dizendo, sim. ��� Alline ressentia-se por ter de defen-
der-se diante de um desconhecido. ��� Agora, se me der licen��a...
Ela se levantou, por��m Raul a deteve.
��� Espere!
10
PARA T O D A A V I D A
Ele segurou-a pelo pulso e o cora����o dela disparou.
��� N��o v�� ainda ��� ele pediu, os olhos negros ardentes e su-
plicantes. ��� Desculpe-me se a ofendi. N��o era minha inten����o.
��� Posso perguntar qual era a sua inten����o ao aproximar-se
de mim? ��� Alline investiu com firmeza. Percebendo que a
breve alterca����o provocava olhares curiosos, baixou o tom de
voz. ��� Por favor, solte-me. Tenho reserva no restaurante.
Raul suspirou.
��� Eu tamb��m.
Alline n��o se impressionou.
��� E da��?
Os dedos dele pressionavam intensamente as veias no lado
interno do pulso dela.
��� Podemos jantar juntos...
��� N��o.
��� Por que n��o? ��� Apesar da resist��ncia de Alline, ele con-
tinuava segurando-a pelo bra��o. ��� Estamos ambos sozinhos,
n��o estamos? Ent��o, por que n��o dividirmos a mesa?
��� N��o basta estar sozinha, �� preciso tamb��m ter vontade
��� Alline retrucou irritada. ��� E como sabe que estou sozinha?
Posso estar com... com outra pessoa. S�� porque sou divorciada...
��� Voc�� est�� com outra pessoa?
Havia ansiedade na voz dele, e ao encontrar aquele olhar
desconcertante, Alline sentiu sua resist��ncia abalar-se.
��� Eu... poderia estar.
��� Mas est��? ��� ele insistiu.
Alline respirou fundo e expirou ruidosamente.
��� N��o.
��� E ent��o? ��� Os dedos dele se afrouxaram ao redor do
pulso. ��� Posso convid��-la para jantar?
Alline encolheu os ombros.
��� N��o entendo o motivo de sua insist��ncia.
Raul sorriu.
��� Jogue na conta de minha idiossincrasia ��� ele disse, le-
vantando-se da banqueta. ��� Vamos?
11
CAP��TULO II
Depois de cancelarem uma das reservas, Alline
e Raul foram conduzidos a uma mesa de can-
to, que lhes proporcionava uma certa privacidade.
Alline ainda n��o se sentia �� vontade, mas, olhando ao redor,
percebia que ningu��m estava interessado neles. Tentando acal-
mar-se, ela esfregou as m��os ��midas na saia.
��� Pare de olhar para os lados, como se estivesse com
medo de alguma coisa ��� Raul sussurrou, depois que o gar��om
colocou os card��pios sobre a mesa. ��� Voc�� est�� me deixando
complexado.
Alline revirou os olhos.
��� Est�� bem.
��� Desculpe, mas eu tinha que falar. N��o costumo impor
minha companhia ��s mulheres por quem me sinto atra��do.
Alline sentiu a boca seca. O galanteio inesperado descon-
certou-a, mas ela preferiu n��o demonstrar.
��� Aposto que n��o. ��� Ela tentava agir com mais esponta-
neidade. ��� Eu nunca estive aqui antes.
��� Onde? No aeroporto ou aqui no restaurante?
��� No restaurante ��� ela explicou. ��� Eu j�� embarquei em
Heathrow antes. N��s... isto ��... a fam��lia ��� emendou. ��� Fomos
para as ilhas gregas e para a Fl��rida.
��� Disneyworld?
Alline sorriu.
��� Sim. Ryan e Sam adoraram.
Ele franziu as sobrancelhas.
��� Ryan? Seria seu...
��� Meu filho ��� Alline apressou-se em esclarecer. ��� Ryan
e Sam s��o g��meos.
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PARA T O D A A V I D A
��� Entendo. ��� Ele se calou por um instante. ��� Ent��o, voc��
tem um casal de filhos?
��� Sim. ��� Ela mordeu o l��bio inferior. ��� Agora, voc�� j��
sabe tudo a meu respeito.
��� Nem tanto ��� ele murmurou, pensativo.
Alline n��o respondeu. Era imposs��vel n��o pensar que o fato
de ter dois filhos poderia torn��-la menos atraente aos olhos dele.
Que rid��culo, ela pensou. Afinal, por mais que Raul afirmasse o contr��rio, ela n��o acreditava que ele estivesse realmente
atra��do. Ela era uma novidade, s�� isso.
O gar��om se aproximou com a carta de vinhos. Depois, foi
a vez da escolha dos pratos. Tudo isso deu a Alline tempo para
organizar os pensamentos.
Ela percorreu os olhos pelo card��pio. N��o sabia o que es-
colher. Ultimamente andava sem apetite e s�� comia mesmo
para n��o preocupar Sam. Por fim, decidiu-se por sopa de as-
pargos e abacate com molho holand��s.
��� Voc�� �� vegetariana? ��� Raul n��o conteve a curiosidade.
��� N��o.
��� Mas prefere comida vegetariana.
��� �� que n��o estou com muita fome. ��� Suspirando, ela colocou
o card��pio fechado sobre a mesa. ��� O que voc�� vai comer?
��� Coisa simples. Salada e bife.
O gar��om serviu o vinho e anotou os pedidos. Alline tentava
relaxar, e com um copo de Chardonnay era bem mais f��cil. Depois
do segundo gole, teve coragem para fazer algumas perguntas.
��� Voc�� n��o �� ingl��s, ��?
��� Por que acha que n��o sou ingl��s?
��� Bem... ��� Alline n��o ousou mencionar a pele bronzeada
dele. Era pessoal demais. ��� Seu sotaque. N��o me parece brit��nico.
Raul sorriu. Os dentes alvos contrastavam com a pele morena.
��� Essa n��o! Eu pensava que meu ingl��s fosse perfeito!
��� Mas ��! S�� que, ��s vezes... ��� Ela se calou, depois deu de
ombros. ��� Desculpe. N��o �� da minha conta.
��� Por que n��o? ��� O olhar de Raul fixo em seus l��bios
provocaram p��nico em Alline. ��� N��o escondo de ningu��m que
moro no Caribe e que meus pais s��o hispano-americanos.
��� Ah, sim. ��� Alline bebeu um gole de vinho. ��� Estou indo
para o Caribe tamb��m. Amanh�� cedo. Para Nassau. N��o sei
se fica exatamente no Caribe.
13
PARA T O D A A V I D A
��� N��o exatamente. Mas muito perto. ��� Ele tamb��m sorveu
um gole de vinho. ��� Voc�� est�� de f��rias?
Alline apertou os l��bios, arrependida de ter falado demais.
Mas era tarde.
��� Sim ��� admitiu meio a contragosto. De repente, sentiu ne-
cessidade de explicar que ela n��o era uma dessas pessoas tristes,
que passam f��rias sozinhas. ��� Vou ficar com uns amigos.
��� Em Nassau?
N��o, San Cristobal.
Mas ela n��o contestou.
��� Sim, Nassau ��� mentiu, olhando para o copo. ��� Voc�� j��
esteve l��?
��� Oh, sim. ��� Ele foi lac��nico. ��� Conhe��o todas as ilhas
do Caribe. Minha... isto ��, a empresa onde trabalho, aluga
barcos para viagens comerciais e particulares. Eu costumava
passar as f��rias trabalhando em escunas e veleiros.
��� Parece divertido.
��� �� divertido, sim ��� concordou Raul. ��� Embora ��rduo
tamb��m, principalmente quando enfrentamos mau tempo.
Alline arregalou os olhos.
��� Furac��es, voc�� quer dizer?
��� N��o. Nunca sa��mos quando as previs��es n��o s��o favor��-
veis. Mas se somos surpreendidos, e se tivermos turistas inex-
perientes a bordo, ent��o tratamos de atracar no primeiro peda��o
de terra que avistamos.
��� Entendo. ��� Alline sentiu-se rid��cula.
��� Isso n��o significa que n��o nos deparamos com uma tem-
pestade, esporadicamente. At�� mesmo no Caribe chove de vez
em quando.
Alline riu.
��� N��o muito, espero.
��� N��o. ��� Ele balan��ou negativamente a cabe��a. ��� Prin-
cipalmente nesta ��poca do ano. Acho que voc�� vai gostar de
deixar o inverno para tr��s.
��� Hum. ��� Ela relaxou de novo, antecipando o prazer de
passar janeiro e parte de fevereiro num clima quente. ��� Nunca
estive no Caribe.
��� Voc�� vai adorar ��� garantiu Raul, enquanto o gar��om
chegava com o jantar. ��� Muito sol, praias maravilhosas, mares
quentes e os melhores pratos de frutos do mar do mundo.
14
P A R A T O D A A V I D A
Ela sorriu, servindo-se de sopa.
��� Ent��o, os vegetarianos n��o t��m vez!
��� N��o! ��� Os olhos dele brilhavam divertidos. ��� Voc�� acha
que estou exagerando?
��� N��o. Por que estaria?
��� �� mesmo. ��� Ele pegou uma garfada de salada verde.
��� Eu admito, n��o conseguiria viver em nenhum outro lugar.
Alline secou os l��bios com o guardanapo.
��� Voc�� estava passando f��rias na Inglaterra? ��� Ela se
surpreendeu com a facilidade com que as palavras flu��am. E
da��? Afinal, nunca mais o veria, e era muito agrad��vel con-
versar com ele.
��� Na verdade, vim a Londres a neg��cios. ��� Raul n��o parecia
ofendido com a pergunta. ��� Vim visitar o Sal��o de Barcos,
em Earl's Court. Voc�� conhece?
��� Conhe��o Earl's Court, mas nunca estive no Sal��o de Barcos.
Eu n��o moro em Londres ��� Alline explicou. ��� Moro no norte
da Inglaterra. Por isso, vou passar a noite aqui. N��o quis correr
o risco de chegar atrasada e perder o avi��o, amanh�� cedo.
��� Ah, sei. Ent��o, suas f��rias come��aram um dia antes.
��� Digamos que sim. ��� Surpresa, Alline percebeu que to-
mara toda a sopa. Conversando com Raul, esquecera-se de
todos os problemas que enfrentava com a falta de apetite. De
repente, at�� se arrependeu por n��o ter pedido um bife tamb��m.
Pousou a colher e bebeu um gole de vinho.
��� Tudo bem? ��� ele perguntou.
��� Tudo ��timo.
��� Que bom que voc�� est�� gostando.
��� Estou, sim. ��� Mais expansiva, acrescentou: ��� Para ser
sincera, eu n��o tenho tido muito apetite ultimamente. Desde...
desde... bem, desde toda essa confus��o.
Raul fitou-a com express��o compreensiva.
��� Desde o div��rcio? ��� ele arriscou num tom gentil, e Alline
confirmou com um gesto de cabe��a.
��� Foi t��o... horr��vel ��� afirmou ela, estremecendo, sem per-
ceber que o vinho a estava deixando mais descontra��da. ��� Ti-
vemos que vender a casa e mudar para outra menor. Sam e
Ryan est��o na faculdade, e eu tive que providenciar tudo sozinha.
��� Dif��cil, n��o? Seu ex-marido n��o poderia ter dado uma m��o?
��� Jeff? ��� Alline sorriu. ��� Ele foi para o Canad�� antes
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P A R A T O D A A V I D A
mesmo de assinarmos o div��rcio. Ele sempre quis viajar e se...
quando se casar com Kelly, provavelmente conseguir�� o pas-
saporte canadense.
Raul franziu o cenho.
��� O que seu marido faz?
��� Ele �� professor de biologia.
��� E essa mulher que voc�� mencionou �� professora tamb��m?
��� N��o... ela foi estudar na escola onde Jeff lecionava por
conta desse esquema de interc��mbio de alunos. Segundo ele,
foi amor �� primeira vista.
��� Voc�� n��o acredita?
��� Claro que acredito! ��� Ela o fitou com os olhos bem aber-
tos. ��� Ela �� bonita, loira, corpo bem-feito, o tipo de garota
que os homens acham irresist��vel. Pelo menos, os homens de
uma certa idade.
��� Eu n��o ��� Raul respondeu de imediato.
��� Voc�� n��o tem a idade de Jeff.
��� N��o preciso. ��� Raul observava-a com desconcertante in-
tensidade. ��� Eu jamais deixaria voc�� por mulher nenhuma.
Inclinando levemente a cabe��a para o lado, Alline riu.
��� Voc�� faz um bem incr��vel para o meu ego, sabia?
��� N��o estou falando nenhuma mentira.
��� Ah, n��o? ��� O rosto dela ficou rubro. ��� Agora sim, acho
que voc�� est�� exagerando.
Dessa vez, foi Raul quem revirou os olhos.
��� Voc�� est�� me criticando? Nunca que lhe disseram que
voc�� �� uma mulher muito atraente?
��� Recentemente, n��o ��� Alline admitiu com franqueza. ���
Quem �� voc��? Algum anjo guardi��o encarregado de confortar
mulheres solit��rias?
��� Meu nome �� Raul, n��o Gabriel ��� ele a lembrou, tornando
a encher os copos com vinho. ��� Acredite ou n��o, �� a primeira
vez que convido uma mulher a quem n��o conhecia, para jantar.
E estou adorando.
��� Eu tamb��m. ��� Alline baixou os olhos para o copo, sur-
presa com a pr��pria aud��cia. ��� Estou contente por voc�� ter
me convidado para jantar.
��� Eu tamb��m ��� afirmou ele, batendo levemente o copo no
dela. ��� A n��s.
��� A n��s ��� ela repetiu, intimamente lamentando terem
16
PARA T O D A A V I D A
apenas aquela noite para se conhecerem melhor e sentindo o
olhar intenso dele em seu rosto.
Os pratos principais tamb��m estavam deliciosos, embora Alline
mal percebesse o que estava comendo. No final, tudo de que se
lembrava era de Raul oferecendo-lhe um peda��o de bife. A inti-
midade de dividir a comida com ele dissipara toda a apreens��o.
Alline nunca se sentira t��o descontra��da ao lado de um ho-
mem. Nem mesmo com Jeff, que normalmente dominava a
conversa falando do trabalho dele, dos problemas dele. Olhando para tr��s, era obrigada a reconhecer que, apesar de sempre
ter acreditado que o casamento deles era perfeito, nunca exis-
tira a parceria, a cumplicidade que deveria existir entre um
casal. Durante anos, fora Jeff quem tomara todas as decis��es,
e como ela raramente protestava, ele acabara por acreditar
que ela n��o tinha opini��o pr��pria.
E Alline nem podia culp��-lo inteiramente por isso...
Ela dispensou a sobremesa e, em vez de continuarem ��
mesa, preferiram tomar caf�� na sala de estar. O gar��om mos-
trou uma mesa junto de um vaso com plantas tropicais. Ao
lado, havia duas poltronas e um sof��. Alline escolheu o sof��,
imaginando que Raul se sentaria em uma das poltronas.
Puro engano.
��� Importa-se? ��� perguntou Raul, sentando-se ao lado dela,
as pernas se ro��ando.
Ela conseguiu disfar��ar o constrangimento.
��� Absolutamente. ��� Era imposs��vel ignorar o impacto da
proximidade dele, ou a press��o de seu corpo sobre as almofadas.
��� Imagino que esteja hospedado no hotel tamb��m ��� ela
se apressou em dizer, para desviar a aten����o das pernas de
Raul, cruzadas sob a mesa.
Raul esperou at�� que o gar��om lhes servisse caf�� para responder:
��� D��cimo-quarto andar. E voc��?
��� Oh, eu estou aqui.
��� Sei disso. ��� Pelo olhar, ele deixava bem claro que ela
n��o o enganaria com subterf��gios. ��� Em que andar?
��� No primeiro... acho.
��� Voc�� n��o tem certeza?
Alline tinha. E n��o era no primeiro andar.
Fingindo-se de indignada, ela exclamou:
��� Claro que tenho!
17
P A R A T O D A A V I D A
Os olhos de Raul transmitiam perspic��cia.
��� Acontece que no primeiro andar ficam os escrit��rios, as
salas de confer��ncias, os sal��es de festa... ��� ele observou. ���
Se n��o quiser me dizer o n��mero do seu quarto, n��o faz mal.
Mas n��o precisa mentir, Diana.
Diana!
Alline sentiu remorso.
��� Eu... meu nome n��o �� Diana ��� ela confessou num fio
de voz. ��� �� Alline. Alline Sloan.
��� Sem brincadeira?
Raul n��o parecia surpreso com a revela����o, e ela o fitou
meio cautelosa.
��� Voc�� sabia?
��� Bem, se voc�� pretendia mentir sobre o andar...
��� Eu n��o estava exatamente mentindo.
��� N��o, claro que n��o. ��� Ele ergueu as sobrancelhas. ��� N��o
me diga que voc�� est�� acomodada em um dos sal��es de festa.
��� Tamb��m n��o precisa ser t��o sarc��stico! Se eu fosse melhor
nisso, n��o teria escolhido esse andar.
��� Voc�� preferia ser melhor na arte de mentir ��s pessoas?
��� A voz grave era simplesmente irresist��vel. ��� Eu lhe dei
motivos para suspeitar de mim?
��� N��o. ��� Com a ponta da l��ngua, ela umedeceu os l��bios,
num gesto involunt��rio de provoca����o. ��� Mas eu n��o sabia
disso quando voc�� se aproximou de mim, no bar.
Os olhos de Raul escureceram ainda mais.
��� E agora voc�� acha que me conhece melhor?
Ela estremeceu.
��� Bem... sim.
O sorriso dele confundiu-a, e antes que ela tivesse chance
de respirar, sentiu a m��o de Raul cobrindo a sua, no colo,
dispersando todos os seus pensamentos.
��� Fico feliz.
Alline estava consciente demais do toque da m��o dele em
sua perna, provocando ondas de calor que se espalhavam pelo
corpo todo.
��� N��o precisa ter medo de mim, Alline.
��� Eu n��o tenho.
As palavras sa��ram automaticamente, e ela n��o tinha tanta
certeza de acreditar nelas. Alguma coisa a prevenia de que
1 8
PARA T O D A A V I D A
Raul tamb��m n��o estava sendo completamente sincero. Mesmo
levando em conta sua imagina����o fantasiosa, era muito dif��cil
encontrar justificativa para tanta aten����o. Ela simplesmente n��o
era o tipo de mulher capaz de atrair um homem como ele, um
rapaz t��o jovem, e n��o tinha certeza do que ele esperava dela.
Sim, Raul era atraente, e a m��o dele em seu colo era forte e
m��scula. Fazia muito tempo que n��o sentia a m��o de um homem
em seu corpo. De repente, perguntou-se o que Raul diria se ela
confessasse que dormira apenas com um homem, em toda sua
vida. Os tempos eram outros, tudo mudara, e ela estava total-
mente desatualizada na quest��o de comportamento homem-mu-
lher. Apesar dos esfor��os da filha para reeduc��-la, nem mesmo
Sam imaginaria encontrar a m��e numa situa����o como aquela.
Sem d��vida, Sam ficaria chocada se a visse naquele mo-
mento. Uma coisa era discorrer sobre as conquistas sexuais
das mulheres modernas. Outra bem diferente era encarar o
fato de que a pr��pria m��e estava sexualmente envolvida
com outro homem, e mais jovem. Sam n��o aprovava o com-
portamento do pai, mas isso n��o significava que perdoaria
as transgress��es da m��e, ainda que em circunst��ncias to-
talmente diferentes.
Desvencilhando-se de Raul, Alline segurou a x��cara de caf��
com as duas m��os. Quase entornou o l��quido quando ele aca-
riciou-lhe a coxa. Ela sentiu o corpo mole e, de repente, uma
sensa����o de prazer invadiu-a.
Santo Deus!, ela pensou. Ser�� que esse homem sabe o que
est�� fazendo comigo? Ser�� que percebeu o quanto me sinto emo-
cionalmente carente?
��� Aceita outro drinque?
Para al��vio de Alline, Raul parou de acarici��-la, contentan-
do-se em apenas olh��-la. Os joelhos ainda se tocavam, e ela
se esfor��ou ao m��ximo para n��o afastar-se. Talvez outro drin-
que n��o fosse uma m�� id��ia. Ajudaria a acalmar os nervos
tensos e as batidas fren��ticas de seu cora����o.
��� Por que n��o? ��� Prometeu a si mesma que seria o ��ltimo
e que depois se despediria dele. Queria estar bem-disposta
pela manh��. Depois de todos os esfor��os de Suzanne, a ��ltima
coisa que queria era perder o v��o.
Raul chamou o gar��om e fez os pedidos de sempre. U��sque
para ele; vodca com t��nica para Alline. Ela suspirou desani-
1 9
PARA T O D A A V I D A
mada. At�� mesmo o drinque que ela escolhera era um clich��.
Por que n��o pedira champanhe ou spritzer?
Raul estendera o bra��o no encosto do sof��, e ela gostaria de
ter coragem para recostar-se, s�� para ver o que iria acontecer.
Mas continuou na beirada do assento, com os joelhos juntos.
O gar��om voltou com as bebidas. Alline pegou seu copo e sorveu
um longo gole. Certamente, um ��nico drinque n��o seria suficiente
para faz��-la relaxar. Estava tensa demais, consciente demais da
proximidade de Raul e da tenta����o que ele representava.
��� Como decidiu vir para as Bahamas? ��� ele perguntou,
bebericando um gole de u��sque.
��� Ah... voc�� sabe. ��� Alline encolheu os ombros, reorgani-
zando os pensamentos. ��� Sam achou que seria bom eu tirar
alguns dias de f��rias.
��� Sua filha?
��� Hum... ��� Ela sorriu. ��� Como eu disse, ela p��s na cabe��a
que deve cuidar de mim.
��� N��o me surpreendo. Voc�� passa isso para as pessoas.
��� Oh, n��o creio...
Para seu desespero, ela sentiu os dedos de Raul em sua nuca.
��� �� s��rio. Voc�� �� muito atraente, Alline. Realmente, �� uma
grande novidade encontrar uma mulher que insiste em depreciar-se.
Alline corou.
��� Voc�� est�� querendo me deixar sem gra��a ��� ela o acusou,
corando ainda mais. De novo, recorreu �� bebida. ��� Assim que
terminar meu drinque, vou me despedir.
Raul verificou a hora no rel��gio de pulso.
��� Ainda �� cedo.
��� Para voc��, talvez.
20
CAP��TULO III
Passava do meio-dia quando o avi��o pousou em
Nassau, no dia seguinte. Fazia muito calor, e
enquanto esperava a libera����o das bagagens, Alline tentava
manter o mesmo otimismo que sentira ao sair de Newcastle,
no dia anterior. Estava quase chegando ao destino. Segundo
Suzanne, o v��o de New Previdence a San Cristobal, onde ela
e o marido tinham um pequeno hotel, durava apenas alguns
minutos. Suzanne prometera mandar algu��m esper��-la no aero-
porto e conduzi-la at�� o avi��o que faria a ��ltima etapa da
viagem. Fora aquela sensa����o desagrad��vel, tudo estava cor-
rendo conforme os planos.
Tudo, n��o. Nada acontecera como o planejado desde que ela
permitira que Raul, se era esse realmente o nome dele, se
aproximasse dela no bar do hotel, na noite anterior. Suspirando,
lutava contra a terr��vel suspeita de que, afinal, aquelas f��rias
n��o tinham sido uma boa id��ia.
Pessimista, talvez, mas era assim que ela se sentia. Comporta-
ra-se de um modo totalmente irrespons��vel, totalmente imprudente,
e pela manh��, tudo o que desejara fora pegar o primeiro trem de
volta para casa. Ela n��o era o tipo de mulher que agia levianamente
sem o menor problema de consci��ncia. Esse comportamento fugia
completamente dos padr��es e do car��ter dela. Tremia s�� de pensar
na rea����o de Sam, se ela soubesse do acontecido.
N��o havia como Sam descobrir, e certamente, quando as
f��rias terminassem e ela voltasse para casa, o epis��dio j�� es-
taria esquecido. E se contasse a Suzanne, certamente a amiga
n��o a censuraria. Suzanne era uma mulher moderna, enquanto
Sam podia ser incrivelmente antiquada quando se tratava de
pessoas pr��ximas.
21
PARA T O D A A V I D A
��� Sra. Sloan?
Alline se voltou, deparando-se com um homem bronzeado, de
camisa de mangas curtas e short caqui. Mechas de cabelos brancos
escapavam sob o bon��, e o sorriso franco revelava dentes alvos.
��� Sim, sou a sra. Sloan.
��� Foi o que pensei. Suzy me disse para procurar uma mulher
alta e bonita, e ela n��o se enganou. ��� O homem tirou o bon��
e estendeu-lhe a m��o. ��� Mike Mclean ao seu dispor, sra. Sloan.
Estou aqui para lev��-la at�� Saint Chris.
��� Saint Chris? ��� Alline perguntou, apertando a m��o estendida.
��� San Cristobal ��� ele esclareceu. ��� Vamos pegar suas
malas para seguirmos viagem.
��� Minhas malas? ��� Ela se voltou para a esteira rolante
das bagagens. ��� Oh... sim. ��� Balan��ou a cabe��a, meio confusa.
��� Eu pensei... isto ��... Bem, eu pensei que o senhor estaria
me esperando l�� fora.
��� Com esse calor? ��� Mclean sorriu. ��� N��o. Al��m disso,
se passarmos juntos pela alf��ndega, ser�� muito mais r��pido.
��� Ele a viu inclinar-se em dire����o ��s malas. ��� S��o estas?
Mclean acomodou a bagagem num carrinho, e minutos de-
pois j�� estavam novamente na pista.
��� Por aqui ��� indicou ele. ��� Fez boa viagem?
��� Muito boa. ��� Alline n��o revelou que dormira quase todo
o tempo.
��� M��quinas maravilhosas, esses jatos modernos, n��o? Fazem
com que o meu pequeno Piper pare��a um brinquedo de crian��a.
��� Sempre sorrindo, ele a olhou rapidamente. ��� E por falar em
crian��as, Suzy me contou que a senhora tem duas.
��� N��o s��o mais propriamente crian��as ��� ela murmurou.
��� E o senhor tem filhos, sr. McLean?
��� Meu nome �� Mike ��� ele a lembrou. ��� N��o, n��o tive
essa alegria. Sou o que Suzy chama de um solteir��o velho e
enxerido. Mas eu n��o ligo.
Alline sorriu.
��� Que exagero! E por favor, chame-me de Alline. Sra. Sloan
lembra minha sogra. Isto ��, minha ex-sogra. Sou divorciada.
��� Eu sei. Suzy me contou ��� confessou Mike num tom de
voz solid��rio. ��� Olhe, voc�� fez muito bem em vir para c��.
Smuggler's Cove �� um lugar muito bonito.
��� Suzy garantiu que sim. Estou ansiosa para chegar, para
conhecer a ilha inteira. �� muito grande?
22
PARA T O D A A V I D A
��� N��o. Cerca de treze quil��metros de extens��o por oito de
largura. Suzy deve ter comentado a respeito da fam��lia Rami-
rez, propriet��ria de quase toda a ilha.
Alline lan��ou-lhe um olhar intrigado.
��� Por que ela comentaria sobre a fam��lia... Qual �� mesmo
o nome?
��� Ramirez. �� que J��lia vai se casar com o herdeiro dessa
fam��lia ��� Mike explicou com simplicidade, referindo-se �� filha
de Suzanne. Depois, ele apontou para o monomotor parado na
pista. ��� Eis meu orgulho e minha alegria. E n��o se preocupe.
Temos gelo a bordo. Aposto como voc�� est�� sonhando com uma
bebida gelada.
Mike correu na frente, e quando Alline parou ao lado do
pequeno Cherokee, ele j�� acomodara as malas no avi��o.
��� Seja bem-vinda ��� ele disse, ajudando-a a subir os poucos
degraus at�� a cabine. ��� Voc�� se sentir�� melhor depois que
decolarmos.
Era o que Alline esperava. A cal��a jeans e a camisa de
mangas compridas, finas demais para o frio de Londres, agora
estavam ��midas, grudadas �� pele. Tirara o casaco que usara
durante a viagem, mas ainda sentia calor. Deveria ter colocado
uma muda de roupa na bagagem de m��o, mas pela manh��
estivera ocupada demais para pensar em coisas t��o prosaicas.
Pela manh��...
Afastando o pensamento, sentou-se ao lado de Mike, beberi-
cando um refrigerante enquanto ele ajustava os fones de ouvido
e se preparava para a decolagem. Alline ouviu as instru����es vindas
da torre de controle, autorizando-o a taxiar para a pista.
��� Falta pouco ��� informou ele e, cobrindo o bocal com a
m��o, acrescentou: ��� Esse pessoal �� muito eficiente.
Alline concordou com um gesto de cabe��a. Nunca voara em
um avi��o t��o pequeno, e quanto Mike come��ou a taxiar em
dire����o �� cabeceira da pista, ela sentiu um frio no est��mago.
A velocidade foi aumentando e logo estavam no ar, rumo ao
azul do c��u. Nassau e a ilha New Previdence foram ficando para
tr��s, e o temores desapareceram. Mike estava absolutamente ��
vontade nos controles, e seu entusiasmo era contagiante.
��� Ali j�� �� San Cristobal? ��� Alline perguntou, minutos de-
pois, ao avistar uma ilha no horizonte.
��� N��o. Aquela �� Andros. �� a maior ilha do arquip��lago.
23
P A R A T O D A A V I D A
San Cristobal �� a menor. ��� Mike indicou um ponto abaixo,
no mar. ��� Est�� vendo aqueles recifes que contornam a ilha?
Vem gente do mundo inteiro para mergulhar aqui.
��� �� mesmo? ��� Encantada com a vista, Alline esqueceu as
preocupa����es. Eram dezenas de ilhas e embarca����es de todos
os tipos e tamanhos, espalhados como p��rolas pelo oceano.
Sentiu um calafrio na espinha. Talvez um daqueles barcos
pertencesse �� empresa para a qual Raul trabalhava. Ele dissera
que alugavam iates em toda a extens��o do Caribe. Estava arre-
pendida por n��o ter perguntado o nome da companhia, embora,
certamente, ele n��o o tivesse revelado. Um homem que dormia
com uma mulher e sa��a sorrateiramente antes do amanhecer
dificilmente teria a gentileza de deixar um cart��o de visita.
Alline apertou os l��bios. A culpa era toda sua. N��o havia o menor
motivo para culpar Raul. Permitira que ele lhe pagasse um drinque,
aceitara o convite para jantar. Depois, ela o convidara para um
ultimo drinque, precipitando os acontecimentos seguintes...
Estremeceu. Agora, era dif��cil acreditar no que acontecera.
Ela fizera todas aquelas coisas e muito mais. E de nada adian-
tava arrepender-se. Deveria ter pensado duas vezes.
Certo, fora uma tola, mas tamb��m estava incrivelmente vul-
ner��vel. Talvez Raul tivesse percebido que suas defesas eram
fr��geis demais para tanto charme. Apesar de mais jovem, ele
era muito mais experiente do que ela. E, de certa forma, ela o
encorajara. N��o intencionalmente, pensou, disfar��ando um sorriso.
Para ser absolutamente sincera, apesar de tudo, a experi��n-
cia fora boa. Na verdade, talvez por ter sido incrivelmente
gratificante, Alline se sentia agora t��o magoada, t��o confusa.
Mas o que ela esperava? Que acontecesse mais alguma coisa?
Que Raul jurasse amor eterno, alicer��ado em apenas uma boa
noite de sexo? Ora, Alline, n��o seja ing��nua!, recriminou-se em pensamento. Cres��a!
Mas ela n��o conseguia bloquear as lembran��as iniciadas no
momento em que chegaram �� porta do quarto, quando cometera
o erro de convid��-lo a entrar.
��� Eu... eu quero lhe agradecer novamente ��� ela come��ou,
enquanto procurava pelo cart��o-chave em sua bolsa. ��� Voc��
me salvou de uma longa noite de ansiedade. N��o estou acos-
tumada a viajar sozinha e estava um pouco apreensiva.
24
PARA T O D A A V I D A
��� Foi um prazer. ��� Raul tirou o cart��o magn��tico da m��o
dela, introduzindo-o na fechadura. A luz verde acendeu, e ele
sorriu. ��� Voc�� est�� entregue.
��� Obrigada. ��� Alline girou a ma��aneta e abriu a porta. Entrou
no quarto e olhou-o por sobre o ombro. ��� Hum... boa noite.
��� N��o esqueceu nada?
Alline estremeceu. Raul esperava um convite para entrar.
Por isso, oferecera-se para acompanh��-la. E convid��-lo para
um ��ltimo drinque seria a atitude mais natural do mundo.
Isso se ela tivesse mais autoconfian��a.
Mesmo assim...
��� Desculpe ��� murmurou sem olh��-lo, fingindo estar ocu-
pada em fechar a bolsa. ��� Eu... bem, eu deveria ter lhe per-
guntado. Aceita um drinque?
Rezando para ele n��o aceitar, obrigou-se a levantar a cabe��a
e encar��-lo. Enrubescendo, notou o cart��o magn��tico ainda na
m��o dele.
��� Um drinque? ��� ele repetiu, entregando-lhe o cart��o. Apa-
rentemente, n��o pretendia invadir a privacidade de Alline. ���
Bem, eu...
��� N��o precisa aceitar, se n��o quiser ��� ela se apressou em
interromp��-lo. Logo, por��m, percebeu que dissera a coisa er-
rada. Parecia que entenderia a recusa como uma ofensa. Como
se endossasse tal pensamento, Raul inclinou a cabe��a.
��� Por que n��o? ��� Os l��bios dele se curvaram. ��� Devemos
terminar a noite como come��amos. Aceito, sim.
Na penumbra, o quarto parecia ainda mais confort��vel e
aconchegante. A tens��o de Alline aumentou com aquele clima
de intimidade.
Raul entrou e fechou a porta. Lan��ando-lhe um olhar cheio
de p��nico, Alline jogou a bolsa sobre a cama e praticamente
correu at�� o frigobar. O ar gelado foi um b��lsamo para o rosto
ardente. Depois de um exame r��pido, encontrou o que procurava.
��� U��sque? ��� perguntou, retirando uma garrafa individual
da bebida. Fechou a porta da geladeira e encostou-se nela. ���
Infelizmente, parece que n��o temos cubos de gelo.
Parado no meio do quarto, Raul fitava-a com olhos brilhantes
e perscrutadores.
��� N��o, obrigada. Honestamente, creio que j�� bebi mais do
que devia. ��� Ele ergueu os ombros. ��� Mesmo assim, agrade��o
pelo convite.
25
P A R A T O D A A V I D A
Alline balan��ou a cabe��a. Agora que ele recusava a bebida,
ela se sentia estranhamente decepcionada.
��� Tudo bem.
Raul hesitou.
��� Se voc�� insiste...
��� Vou buscar o copo. ��� Mais uma fez, ela ficou na defensiva.
��� Com licen��a.
Havia copos no banheiro, lembrou-se com uma ponta de
al��vio. Passando por ele, e sem causar embara��os ou estragos,
chegou ao banheiro e acendeu a luz. Apesar do nervosismo,
conseguiu abrir a garrafa e dosar ��gua e u��sque no copo, sem
derramar uma gota.
Alline relutava em deixar a luminosidade impessoal do ba-
nheiro para voltar ao quarto discretamente iluminado. Parando
na porta, disse:
��� Aqui est��. ��� Estendeu o copo, obrigando Raul a aproxi-
mar-se da claridade vinda do banheiro, para peg��-lo. Imprimiu
uma nota de interesse na voz. ��� Espero que esteja de seu gosto.
��� Tenho certeza que est��. ��� Raul sorveu um gole e con-
firmou com um gesto de cabe��a. ��� Est�� ��timo. ��� Depois de
uma breve pausa, perguntou: ��� Voc�� est�� bem?
��� Por que n��o estaria? ��� Alline cruzou os bra��os. ��� Oh...
�� por eu n��o estar bebendo? Bem, eu tamb��m bebi mais do
que estou acostumada. Al��m disso, vou viajar amanh�� bem
cedo e n��o gostaria de perder a hora. Talvez seja melhor eu
pedir para me acordarem...
Era mais um murm��rio do que uma conversa, e Alline nem
chegou a surpreender-se quando Raul interrompeu-a.
��� �� melhor eu ir. Vejo que a deixo nervosa, e al��m disso,
�� tarde.
��� Oh, mas... ��� Ela umedeceu os l��bios. ��� Voc��... voc��
ainda n��o terminou o drinque.
��� N��o tem import��ncia.
��� Tem. ��� Nos olhos arredondados de Alline havia um brilho
de incerteza.
Raul contraiu os maxilares.
��� N��o. N��o me olhe assim. ��� Ele come��ou a andar em
dire����o �� porta. ��� Boa noite. Durma bem.
��� Espere! ��� Alline foi atr��s dele. ��� Eu n��o queria... isto
��, sinto muito se estraguei a noite.
26
PARA T O D A A V I D A
��� Voc�� n��o estragou. ��� Ele quase gritou as palavras. De-
pois, fitou-a com olhar atormentado. ��� Deixe-me ir, Alline
Sloan ou poderei fazer algo de que ambos nos arrependeremos.
��� Ele acariciou-lhe o rosto. ��� Voc�� �� muito doce, sabia? E
eu tenho idade suficiente para n��o perder a cabe��a.
Alline emitiu um murm��rio sentido.
��� Ah... Voc�� est�� insinuando que o convidei para... para...
��� N��o estou insinuando nada ��� murmurou Raul com voz
enrouquecida. E com um gemido abafado, inclinou a cabe��a e
ro��ou os l��bios nos dela.
��� Olhe! J�� podemos avistar San Cristobal!
A voz de Mike Mclean trouxe Alline de volta ao presente.
Suspirando, olhou para onde o piloto apontava.
��� Veja! �� aquela ilha em forma de rabo de peixe, a oeste
de Marlin Cay!
Alline n��o tinha a menor id��ia do que poderia ser Marlin Cay,
mas pela descri����o de Mike, reconheceu a ilha de San Cristobal.
��� Ah, sim! ��� exclamou, tentando demonstrar entusiasmo.
��� Quanto tempo falta para chegarmos?
��� Quinze minutos ��� informou ele com um sorriso largo.
��� Aposto que est�� ansiosa para rever Suzy. Ela disse que
voc��s se conhecem h�� muito tempo.
��� Isso mesmo.
��� Por que n��o veio visit��-la antes?
��� Bem... ��� Alline hesitou. ��� N��o foi poss��vel.
Ela omitiu o fato de Suzanne e Peter nunca terem simpatizado
muito com Jeff. Eles sempre o consideraram um aproveitador e
achavam que, no passado, ele a negligenciara. Claro que Alline
sempre defendera o marido. Se ela pudesse adivinhar...
Mike olhou-a com o canto dos olhos.
��� Entendo. Bem, tenho certeza de que suas f��rias ser��o
maravilhosas. Se precisar de um guia, pode contar comigo.
Alline sorriu agradecida.
��� Voc�� �� muito gentil.
��� Gentil, n��o. Estou apenas tirando proveito da situa����o. Se
bem conhe��o Suzy, ela lhe arranjar�� companhia antes mesmo
que voc�� se d�� conta disso. Estou apenas garantindo meus direitos.
O sorriso de Alline murchou. N��o queria saber de Suzanne,
nem de qualquer outra pessoa, "arranjando-lhe companhia".
27
P A R A T O D A A V I D A
N��o queria companhia. Depois dos acontecimentos da noite
anterior, t��o cedo n��o permitiria a aproxima����o de nenhum
outro homem. Deus, como aquilo pudera acontecer? Como pu-
dera ser t��o ing��nua?
Sua pele ardia s�� de lembrar do que sentira quando Raul
a beijara. A sensa����o de formigamento come��ara no momento
em que os l��bios dele tocaram os seus, espalhando-se pelo
corpo inteiro. Por alguns segundos, ela ficara paralisada, in-
capaz de mover-se, de falar, de pensar. Incapaz de tudo, na
verdade, consciente apenas do calor das m��os dele em seu
rosto e dos l��bios nos seus.
Alline deixou escapar um longo suspiro. Sim, deveria t��-lo afas-
tado, mas ficara t��o chocada com os pr��prios sentimentos que
bloqueara a mente para qualquer tentativa de rea����o. Queria que
ele continuasse. Queria que a beijasse. Queria que introduzisse a
l��ngua em sua boca e que se apossasse de todos os seus sentidos.
Rendera-se com muita facilidade, reconhecia agoniada. Sempre
recriminara mulheres que se aventuravam com homens mais
novos. E ela, que sempre se considerara imune a esse tipo de
tenta����o, incorrera no mesmo erro. Mesmo quando Jeff a deixara
por uma mulher bem mais jovem, sentira desprezo por aquilo
que encarava como uma tentativa de reconquistar a juventude
perdida. Nunca imaginara que cairia na mesma armadilha. Nunca
acreditara que ela pr��pria agiria da mesma forma.
Enquanto Mike contatava o aeroporto de San Cristobal, pe-
dindo instru����es para o pouso, Alline lutava para entender
como Raul conseguira, em t��o pouco tempo, faz��-la esquecer
a mulher que sempre acreditara ser para transformar-se numa
criatura ardente, governada pelos desejos e emo����es.
Comprimiu fortemente os l��bios. N��o podia fingir que n��o
sabia o que estava fazendo. Tamb��m n��o podia culp��-lo. Ela
se jogara com avidez nos bra��os dele, procurando por uma
louca satisfa����o que, instintivamente, sabia que somente ele
lhe proporcionaria.
C��us! O que Raul pensara dela? Quando a beijara, quando
segurara-lhe o queixo para olhar bem dentro de seus olhos? E o
que ele vira nas profundezas de seu olhar? Uma mulher t��mida
e assustada que, de repente, estava �� merc�� dos pr��prios sentidos,
ou uma fogosa mulher de programa, sem moral e sem pudor?
Alline balan��ou enfaticamente a cabe��a. Independente da
28
PARA T O D A A V I D A
conclus��o dele, ficara estupefata demais para tomar qualquer
atitude. Apenas deixara-se arrastar pelo fogo e pela intensidade
daquela atra����o sexual. Enfraquecida e impotente, vira suas
resist��ncias sendo tragadas pela for��a do desejo e das emo����es.
Lembrava-se de Raul ter mencionado alguma coisa como
"isto n��o deveria estar acontecendo". Mas com o dedo dele contornando seus l��bios, ela n��o fizera nenhuma tentativa para
descobrir o significado daquelas palavras. E como Raul n��o as
repetira, ficara por isso mesmo. Os l��bios dele foram persua-
sivos demais, tra��ando um caminho sensual pelo pesco��o, pela
curva do ombro, enquanto murmurava seu nome, muitas e
muitas vezes, com desesperada urg��ncia.
Talvez por esse motivo, Alline n��o tentara cont��-lo. Talvez,
a conscientiza����o de que aquele homem atraente estava t��o
embriagado pelas pr��prias emo����es quanto ela impedira-a de
recuar a tempo.
Por um instante, Alline sentiu um tremor nas pernas, o
mesmo que sentira naquele momento. A sensa����o de que os
ossos estavam se dissolvendo, de que as pernas estavam se
transformando em gel��ia. Com as m��os, Raul a acariciara no
pesco��o, deslizando depois pelo colo, sob o decote do vestido,
expondo a pele alva dos ombros.
Quase nem percebera quando, devagar, ele come��ara a abrir
o z��per, nas costas. De repente, o vestido preto ca��a num c��rculo,
ao redor de seus tornozelos. O mais curioso era que ela n��o
ficara embara��ada, s�� de calcinha e suti��, enquanto Raul con-
tinuava completamente vestido.
Alline passou a m��o pela testa coberta de pingos de suor.
Agora, sim, estava constrangida. Sem d��vida, bebera demais
na noite anterior. N��o encontrava outra explica����o para um
comportamento que ia totalmente contra seus princ��pios. N��o,
simplesmente n��o era esse tipo de mulher. At�� ent��o, sempre
vivera uma vida decente. Fazer sexo com um estranho, poucas
horas depois de conhec��-lo, era coisa de novela, de livros ro-
m��nticos, ou de uma mulher sem princ��pios. Ah, mas quando
Raul a tocara, quando a puxara de encontro ao corpo musculoso,
encantando-a com a boca sensual, ela perdera totalmente o
controle de sua vontade, de seus atos.
Alline n��o se conformava. Comportara-se como se estivesse
desesperada para fazer amor!
29
P A R A T O D A A V I D A
E Raul, por sua vez, n��o oferecera a menor obje����o. Pelo con-
tr��rio, parecia ter achado sua inexperi��ncia, sua ingenuidade,
seu... desespero... excitante. Diferentemente de Jeff, ele a levara consigo em cada passo do caminho. N��o poderia enganar-se, dizendo que pensara no ex-marido enquanto estava nos bra��os de
Raul. N��o havia a m��nima compara����o entre ambos.
Na verdade, Alline nunca vibrara tanto, nunca experimen-
tara tanto poder, tanta ternura, tanta paix��o. Sentira-se or-
gulhosa e assustada, ao mesmo tempo.
De novo, a voz de Mike sacudiu-a. Ele estava recebendo
autoriza����o para iniciar o pouso. Alline olhou pela janela. Tinha
que parar de pensar em Raul e em tudo o que acontecera na
noite anterior. Tinha de pensar apenas nos dias, nas semanas
inteiras, que teria para relaxar e fazer o que bem entendesse.
E agora que conseguira tirar Jeff de sua rotina, n��o poderia
permitir que um epis��dio imprudente lhe estragasse as f��rias.
Entretanto, as imagens dela e Raul juntos recusavam-se a
ser expulsas de sua mente. Eles tinham feito coisas que ela e
Jeff nem sequer tinham pensado em fazer, nem mesmo quando
eram rec��m-casados.
Nada disso, por��m, justificava seu comportamento da noite
anterior, pensou Alline com um suspiro. Fora para a cama
com Raul, arrebatada pelo desejo incontrol��vel. Dormira com
ele porque quisera, porque quisera agrad��-lo, satisfaz��-lo. E
esse era o ponto triste da hist��ria.
Ainda sob o encanto das emo����es desconhecidas, at�� ent��o
n��o se preocupara em refletir sobre o que era certo ou errado.
Quando Raul tirara a jaqueta e a gravata, ela se surpreendera
abrindo os bot��es da camisa dele, ��vida para despi-lo e toc��-lo.
E Raul n��o lhe dera tempo para d��vidas. Com a l��ngua,
tra��ara um caminho sensual que ia do queixo at�� a curva dos
seios. Depois, livrando-a do suti��, acariciou os mamilos enri-
jecidos, antes de mordisc��-los e sug��-los.
Alline n��o conseguia lembrar-se muito bem da seq����ncia,
mas de repente, estavam na cama, e ela o ajudava a tirar os
sapatos e a cal��a. Entretanto, lembrava-se perfeitamente que
Raul usava cueca branca de cetim, incapaz de disfar��ar a im-
pressionante pot��ncia de sua ere����o.
Tremeu s�� de lembrar da coragem que tivera ao baixar a
cueca, expondo o sexo dele aos seus olhos intoxicados.
30
PARA T O D A A V I D A
Intoxicados!
Alline levou a m��o �� boca para esconder o sorriso. Ela fora
intoxicada, sim. Intoxicada em v��rios sentidos.
E Raul, tamb��m fora intoxicado? Aparentemente sim, embora
Alline desconfiasse que ele n��o tinha plena consci��ncia dos seus
atos. Ainda podia senti-lo acariciando suas coxas e tirando-lhe a
calcinha. Depois disso, parecia que ambos tinham enlouquecido.
Ela conteve um gemido. Com uma ponta de amargura, n��o
p��de evitar de perguntar-se se os homens sentiam os mesmos
arrependimentos que as mulheres. Certamente, n��o. Afinal,
ele n��o confessara que nunca se sentira daquele modo, antes...
3 1
CAP��TULO IV
Oavi��o balan��ou levemente e Alline teve um
sobressalto.
��� Sinto muito ��� desculpou-se Mike. ��� Mas eu teria que
acord��-la de qualquer modo. Estamos quase aterrissando.
��� Eu n��o estava dormindo.
��� N��o? ��� Mike sorriu, n��o muito convencido. ��� �� que
voc�� estava com os olhos fechados...
��� Estou um pouco cansada. Acordei muito cedo.
S�� para descobrir que Raul partira. Tolamente, Alline es-
perara encontr��-lo a seu lado, ao acordar. Depois de terem
passado quase a noite inteira fazendo amor, ela imaginara
que, no m��nimo, ele teria alguma coisa para dizer-lhe. Nem
que fosse um simples adeus.
Enganara-se. Raul sa��ra enquanto ela dormia, deixando-a
com uma incr��vel sensa����o de vazio e abandono. Pensando
bem, n��o havia mais nada para ser dito, e Raul, certamente,
poupara a ambos o constrangimento de uma troca de palavras
sem muito sentido.
Apesar de tudo, ainda se perguntava para onde ele teria ido.
Chegara mesmo a acalentar a id��ia de que poderiam viajar no
mesmo avi��o. Por��m, n��o havia sinal de Raul no port��o de embarque.
Tentando afastar tais pensamentos, Alline se concentrou na
paisagem que ia se revelando, �� medida que o avi��o se aproximava
mais e mais da pista de pouso. Avistou uma faixa de asfalto com
um cinto de vegeta����o de um lado, e do outro, a praia de areia
branca inclinando-se em dire����o ao azul-esverdeado do mar.
Alline estava t��o encantada com a vista que s�� percebeu
que o avi��o j�� tocara o solo quando ouviu a voz de Mike.
��� Bem-vinda a San Cristobal ��� ele disse, saindo da pista
32
PARA T O D A A V I D A
e taxeando o avi��o. ��� Tenho certeza de que voc�� vai adorar
suas f��rias.
��� Assim espero. ��� Os olhos dela brilhavam admirados. ���
�� t��o bonito! Nem acredito que estou aqui.
��� Voc�� se acostuma. ��� Mike apontou para algumas pessoas
reunidas ao redor de um carro esporte convers��vel e de um
buggy. ��� Parece que voc�� tem um comit�� de recep����o. Aquele
�� o buggy de Suzy e carro pertence a Finisterre. Parece que o jovem Ramirez tamb��m chega hoje.
��� Finisterre? ��� Alline repetiu.
��� Sim. Finisterre. ��� Finalmente, ele estacionou o mono-
motor. ��� �� o nome com que Rodrigo Ramirez batizou sua
propriedade, h�� uns cem anos, mais ou menos. Pelo que se
conta, esse Rodrigo foi uma esp��cie de vil��o. Parece que n��o
tinha muito escr��pulos em estender as m��os a qualquer coisa
que lhe rendesse um bom dinheiro.
Alline ergueu as sobrancelhas, pensando no nome do lugar.
Smuggler's Cove, Enseada do Contrabandista.
��� Contrabando?
��� Entre outras coisas ��� confidenciou Mike. ��� Veja, a��
vem Suzy. Vou abrir a porta.
Removendo os fones de ouvido, ele desafivelou o cinto de se-
guran��a e foi para a parte traseira do avi��o. Alline fez o mesmo.
��� Ally! ��� Suzanne gritou, esperando impacientemente os
degraus baixarem. ��� Oh, Ally! Apare��a. Quero abra����-la.
Alline sentiu os olhos ��midos quando abra��ou a amiga. Pelo
menos, Suzanne n��o mudara. Continuava t��o calorosa e exu-
berante como sempre, embora estranhando v��-la de short, ca-
miseta e pele bronzeada. At�� mesmo os cabelos castanhos es-
tavam diferentes, com reflexos dourados, que emprestavam-lhe
um ar descontraidamente sofisticado.
��� Que bom rev��-la, Ally! J�� faz seis anos que estive na
Inglaterra.
��� Sete ��� Alline corrigiu-a, sorrindo entre l��grimas. ��� Oh,
Suzanne, senti tanto sua falta!
��� E eu a sua. ��� Suzanne voltou-se para a garota que se juntara
a elas. ��� J��lia, voc�� se lembra da minha amiga Alline, n��o?
��� Claro.
J��lia sorriu, mas sem olh��-las. Mantinha os olhos fixos no
horizonte. Suzanne fez uma careta.
33
P A R A T O D A A V I D A
��� N��o repare, Ally. Ela est�� esperando o namorado que
tamb��m est�� vindo da Inglaterra. Eu lhe contei que J��lia j��
est�� pensando em casar-se?
��� Bem...
Suzanne n��o lhe deu tempo para responder.
��� Voc�� n��o o encontrou, n��o ��? Eu pedi a ele para procur��-la
no aeroporto, mas suponho que foi loucura minha imaginar
que ele a encontraria naquela multid��o.
��� Eu... ��� Alline balan��ou a cabe��a. ��� N��o, eu... eu acho
que n��o. ��� N��o mesmo? Uma estranha intui����o apossou-se
dela. ��� Qual... qual �� o nome dele?
��� �� ele!
Ao grito de J��lia, todos olharam para o c��u, e Suzanne
apertou os ombros da filha.
��� Eu sabia que ele n��o ia demorar. ��� Em seguida, voltou-se
para Alline. ��� J��lia e Carlos, o filho mais novo dos Ramirez,
j�� est��o aqui esperando h�� mais de uma hora. O namorado
dela ficou dez dias fora, e como voc�� pode imaginar, J��lia est��
ansiosa para rev��-lo.
��� Entendo. ��� Alline percebeu o olhar impaciente de J��lia
para a m��e. ��� Mas voc�� n��o me disse o nome dele.
��� Vou ajud��-la com as malas ��� Mike interveio. ��� Posso
lev��-las para o buggy, Suzy?
��� N��o h�� necessidade ��� protestou Alline.
Acenando para um dos carregadores que conversava com o
jovem de pele bronzeada, provavelmente o futuro cunhado de
J��lia, Suzanne refor��ou as palavras de Alline.
��� Obrigada, Mike. Voc�� foi muito gentil.
��� Foi mesmo ��� Alline confirmou. ��� E a viagem foi muito
agrad��vel.
��� Bem, tenho certeza de que voc�� ter�� oportunidade de
agradecer-lhe novamente, Ally ��� Suzanne observou alegre-
mente. ��� Mike vir�� jantar conosco uma noite destas. N��o ��
mesmo, querido?
��� Ser�� um prazer ��� respondeu Mike.
Notando o olhar significativo trocado entre ambos, Alline
lembrou-se do coment��rio dele sobre as inten����es de Suzanne
para aproxim��-los. Alline esperava n��o precisar ferir os sen-
timentos de ningu��m, nos dias vindouros.
O brilho do sol se refletia na pintura dourada do avi��o que
34
P A R A T O D A A V I D A
se aproximava da ilha. Alline teve medo, pressentindo um perigo
iminente e imediato. Seus olhos pareciam grudados no aparelho,
e sua boca secou ante a perspectiva de estar certa. N��o, n��o podia
ser verdade. O homem com quem estivera por t��o pouco tempo,
mas a quem conhecera t��o intimamente, n��o poderia ser o futuro
genro de Suzanne. A vida n��o poderia ser assim t��o cruel.
��� Vamos deixar os pombinhos sozinhos. ��� Suzanne pegou
no bra��o da amiga. ��� Em breve, voc�� o conhecer��. Amanh��,
talvez. Os Ramirez nos convidaram para jantar. A propriedade
deles fica do outro lado da ilha.
De bra��o dado, elas caminharam at�� o buggy. Os outros
carregadores que conversavam com Carlos Ramirez sorriram
quando Alline subiu no ve��culo. Carlos, mais interessado no
avi��o que estava quase pousando, limitou-se a acenar distrai-
damente para as duas mulheres.
��� S��o pessoas hospitaleiras ��� Suzanne comentou, empur-
rando a m��o de Alline, que pretendia dar uma gorjeta ao car-
regador. ��� J�� cuidei de tudo ��� insistiu ela, ligando o motor
do buggy. ��� Trate de relaxar e aproveitar o passeio.
Depois de acenar em despedida para a filha, Suzanne pegou
o caminho rodeado por palmeiras, passou pelo pr��dio do aero-
porto, e seguiu por uma estrada estreita.
Tentando n��o pensar no homem que estava sendo esperado
no aeroporto, Alline observou a paisagem. As cores estavam
presentes nos m��nimos detalhes daquele cen��rio maravilhoso,
numa combina����o perfeita.
��� Que maravilha! ��� exclamou ela. E virando-se para a
amiga, acrescentou: ��� Voc�� adora este lugar, n��o? Quer saber
de uma coisa? Eu cheguei a sentir inveja de voc��. Deixar a
Inglaterra e come��ar de novo...
��� Bem, nada impedia que Jeff e voc�� fizessem a mesma
coisa ��� Suzanne respondeu objetivamente. ��� Mesmo Jeff sen-
do professor, isso seria poss��vel. Os professores sempre s��o
muito requisitados.
Alline encolheu os ombros.
��� Talvez por isso ele tenha ido trabalhar no Canad��.
��� Oh, Ally! ��� Suzanne deixou escapar um som desolado.
��� Desculpe-me. Que falta de tato! Eu n��o devia ter tocado
nesse assunto.
��� Tudo bem. Esque��a.
35
P A R A T O D A A V I D A
O tom de voz n��o convenceu Suzanne, que lan��ou-lhe um
olhar de d��vida.
��� Voc�� n��o est�� mais apaixonada por ele, est��? Pelo amor
de Deus, Ally! Faz quase dois anos! Voc�� ainda tem esperan��as
de que ele volte?
��� N��o, claro que n��o.
E era verdade. Depois de Raul, era como se a lembran��a e
a imagem de Jeff tivessem se dissipado de sua mente. Mas
n��o podia comentar nada com Suzanne, n��o agora que suas
suspeitas eram quase uma certeza.
N��o, n��o, ela n��o tinha certeza de nada. Era apenas o ter-
r��vel complexo de culpa atormentando-a, assustando-a.
��� Fico feliz por ouvir isso ��� Suzanne declarou. ��� Quero
que voc�� encare estas f��rias como o in��cio de uma vida nova.
Felizmente, voc�� e Jeff nunca estiveram aqui juntos, de modo
que n��o h�� motivos para associa����es inconvenientes. Peter e
eu aguard��vamos ansiosos sua visita. H�� muito quer��amos que
voc�� conhecesse nosso hotel.
��� Eu sei. ��� Alline respirou fundo. ��� E eu queria muito
visit��-los. Eu estava realmente sonhando com estas f��rias.
Como voc�� disse, �� exatamente o que eu precisava.
Estavam se aproximando de uma pequena cidade, e Suzanne
concentrou-se no tr��nsito. Autom��veis, micro-��nibus, bicicletas,
carro��as e outros tipos de ve��culos cortavam as ruas estreitas,
por entre pedestres que n��o pareciam nem um pouco preocu-
pados com a seguran��a.
��� Est�� �� a cidade de San Cristobal ��� explicou Suzanne. ���
Est�� cada dia mais dif��cil dirigir por aqui. ��� Entre buzinadas e
impreca����es, conseguiram contornar barracas de frutas, legumes,
pratos t��picos, roupas e outras mercadorias. ��� Na verdade, n��o
�� sempre assim. Hoje �� dia de feira e as pessoas v��m de todas
as partes da ilha para fazer compras. Temos muitos turistas, tam-
b��m, por��m a maior parte dessa gente trabalha para os Ramirez.
Alline respirou fundo, decidindo que seria agora ou nunca.
��� Hum... como �� mesmo que se chama o namorado de J��lia?
��� Rafael. Rafael Ramirez. Voc�� vai gostar dele, Ally. Rafael
�� um amor de pessoa. Ele e J��lia se conhecem h�� anos.
Alline soltou o ar que estivera segurando.
��� Rafael? N��o �� um nome comum, pelo menos para n��s,
ingleses.
36
PARA T O D A A V I D A
��� �� mesmo... ��� Suzanne refletiu por alguns momentos,
antes de completar: ��� Com exce����o dos pais, ningu��m o chama
de Rafael, mas sim, de Raul.
Por muito tempo, Alline ficou no terra��o, observando a paisa-
gem. O quarto que Suzanne lhe reservara dava para a enseada
que tinha o mesmo nome do hotel. Do terra��o, um caminho estreito,
todo gramado, levava diretamente para um plat��, e dali para a
praia de areias brancas; a oeste, uma rocha formava uma barreira
natural; ao sul, como ela notara do avi��o, a terra fazia uma curva,
protegendo a enseada do oceano. Era o local perfeito para nadar,
e Alline prometeu a si mesma que passaria muitas horas testando
suas habilidades de nadadora, naquelas ��guas calmas.
Se tivesse coragem de sair do quarto, claro!
Ela balan��ou enfaticamente a cabe��a. Ainda n��o acreditava
em sua tremenda falta de sorte. Depois da noite anterior, acha-
ra que nada pior poderia lhe acontecer, mas enganara-se. Com
tantos homens para conhecer, por que tivera de encontrar jus-
tamente Raul Ramirez? Tinha que ser ele? Sim, porque ela
n��o tinha d��vidas. O Raul com quem partilhara uma mara-
vilhosa noite de paix��o era o mesmo Raul Ramirez, namorado
da filha de sua amiga e anfitri��. Mas se ele tinha namorada,
por que, ent��o, insistira tanto em conquistar a aten����o dela?
Suspirando, Alline virou-se de costas para a praia, e encos-
tou-se no parapeito de ferro trabalhado. Ela n��o se iludia,
pensando que fora sua apar��ncia f��sica que atra��ra Raul. In-
dependentemente de qualquer coisa, havia a diferen��a de idade.
Talvez, o hobby dele fosse seduzir mulheres mais velhas e
imaturas. Sim, talvez, ele tivesse sentido pena dela. Afinal,
ela estivera ostensivamente fora de seu estado normal.
A menos que... Alline franziu as sobrancelhas. Suzanne pe-
dira para Raul procur��-la no aeroporto. No aeroporto, n��o no
hotel. Al��m disso, ela se apresentara como Diana. Pelo menos,
no come��o. Quando a convidara para jantar, ele n��o tinha a
menor id��ia de quem ela era.
Mais tarde, por��m... Ela sentiu o rosto arder. Mais tarde, ele
j�� sabia quem era ela. Ela mesma contara. Isso significava que
Raul sabia perfeitamente que estava se deitando com Alline Sloan.
Isso tornava a situa����o ainda pior, mais s��rdida. Como Raul
pudera fazer isso? Como pudera fazer amor com uma mulher,
37
PARA T O D A A V I D A
sabendo que ela ficaria hospedada com os pais da namorada
dele? C��us, que complica����o!
Alline voltou para o quarto com l��grimas nos olhos.
Suzanne e o marido estavam fazendo tudo para deix��-la ��
vontade. Tinham lhe reservado um dos melhores quartos do
hotel e, naquele momento, ela deveria estar se deliciando com
um banho refrescante, para depois descansar por algumas ho-
ras, antes do jantar. Mas como poderia relaxar? Como poderia
continuar ali, desfrutando da hospitalidade dos amigos, depois
de trair a confian��a deles?
Poderia at�� argumentar que n��o sabia quem era Raul, quando
se encontraram, em Londres. Poderia explicar que se apresentara
com nome falso e que somente bem mais tarde revelara sua
verdadeira identidade. Mas isso n��o remediaria o mal. A confian��a
de J��lia no namorado j�� estaria irremediavelmente destru��da.
Ela passou a m��o nervosamente pelos cabelos. Decidida-
mente, n��o poderia ficar com os amigos. Teria de encontrar
uma desculpa para ir embora. Era terr��vel, mas teria de tele-
fonar para Sam e pedir-lhe para retornar a liga����o, com um
bom motivo para ela interromper as f��rias que mal tinham
come��ado, e voltar imediatamente �� Inglaterra. N��o precisava
contar-lhe a verdade. Diria apenas que as coisas n��o tinham
transcorrido como planejara e que ansiava voltar para casa.
Com a decis��o tomada, sentiu-se extremamente deprimida.
Sonhara tanto com aquela viagem, e de repente precisava partir
de uma maneira covarde e indigna. Isso causaria um abalo
em seu relacionamento com Suzanne, por mais convincente
que fosse sua justificativa. E sempre haveria a possibilidade
de Raul confessar tudo �� namorada, destruindo, assim, o pouco
de credibilidade que Alline deixara para tr��s.
38
CAP��TULO V
Alline retirou o excesso de ��gua dos cabelos e
jogou a toalha nas costas. A ��gua estava de-
liciosa ��quela hora, mas o calor estava forte demais para ficar
mais tempo na praia. Era seu segundo dia ao sol, e n��o queria
correr o risco de queimar-se demais.
Amarrando a canga estampada ao redor da cintura, cal��ou
as sand��lias e come��ou a caminhar pela areia. Cruzou com
dois ou tr��s h��spedes do hotel que a cumprimentaram alegre-
mente. Em outras circunst��ncias, teria se considerado felizarda
por estar ali. Todos eram muitos simp��ticos, calorosos, e seria
f��cil iludir-se, pensando que talvez nem precisasse voltar para
casa antes do tempo.
Desde que chegara, Alline ainda n��o vira Raul. Talvez ele
estivesse envergonhado e, por isso, tentando evitar um encontro
constrangedor. Felizmente, at�� mesmo o convite para jantar
em Finisterre tinha sido cancelado, aparentemente, por motivo
de sa��de da sra. Ramirez.
��� Voltando t��o cedo?
Alline quase trope��ou no degrau de pedra que levava ao
hotel. Voltando-se rapidamente, deparou-se com outro h��spede,
subindo logo atr��s. N��o sabia o nome dele, mas vira-o no sagu��o
do hotel, pela manh��. Era alto, tinha corpo atl��tico, cabelos
castanhos e aparentava ter cerca de cinq��enta anos.
��� Sim ��� Alline respondeu, for��ando um sorriso e indicando
os ombros avermelhados. ��� Est�� quente demais para mim.
��� Para mim tamb��m ��� disse ele. ��� Nunca vou ficar bron-
zeado, nem que fique o dia inteiro exposto ao sol. Voc�� �� como
eu. Sua pele �� clara demais para um calor como esse. Preci-
samos ir com calma, n��o �� mesmo?
39
P A R A T O D A A V I D A
Alline ia dizer que tinha esperan��a de ficar com a pele bron-
zeada, mas mudou de id��ia. Duvidava que o homem estivesse
realmente interessado. Por isso, disse simplesmente:
��� Ah, n��o estou me queixando. Aqui �� t��o bonito, e perto
do frio que enfrentaremos quando voltarmos para casa...
��� �� verdade. ��� O homem subiu os degraus ao lado dela,
os bra��os se ro��ando. ��� Meu nome �� Tom Adams e cheguei
ontem �� tarde.
��� Prazer ��� Alline respondeu, fingindo n��o perceber que
ele for��ava o contato f��sico. ��� Alline Sloan ��� apresentou-se
com uma certa desconfian��a. Depois, exagerando no entusias-
mo, perguntou: ��� Est�� em f��rias com sua esposa, sr. Adams?
��� Sou vi��vo. Faz sete meses que minha mulher morreu.
C��ncer. Ela s�� tinha quarenta e nove anos.
��� Oh, eu sinto muito... ��� Alline arrependeu-se de desconfiar
das inten����es do homem. Obviamente, ele s�� queria conversar.
��� Imagino que sejam suas primeiras f��rias sem ela. Quanto
tempo ficaram casados?
��� Vinte e oito anos. ��� Ele segurou o cotovelo de Alline
enquanto subiam os tr��s degraus para entrar no hotel. ��� Muito
tempo, sra. Sloan. Voc�� tamb��m �� vi��va?
Desvencilhando-se, Alline tentou n��o se irritar com tanta
familiaridade.
��� Sou divorciada. Agora, se me der licen��a, vou subir para
tomar banho. A ��gua salgada sempre incomoda, n��o?
Tom Adams cruzou os bra��os.
��� Eu n��o me animei para nadar sozinho. ��� Depois, colocou
as m��os nos bolsos do short. ��� Talvez possamos tomar um
drinque, mais tarde. ��� Ele sorriu timidamente. ��� Claro, ima-
gino que tenha outros compromissos. Mas, �� noite, talvez?
��� Bem, eu...
Alline desviou o olhar. Como recusar o convite sem ofend��-lo?
De repente, percebeu que a algu��m os observava do outro lado
do sagu��o. Meio oculto pelas folhagens tropicais plantadas em
vasos espalhados ao p�� da escada que levava ao mezanino,
havia um homem apoiado no bala��stre.
Era Raul.
Por um momento, Alline emudeceu. A boca ficou seca, as
m��os ��midas. Certamente, tamb��m ficara p��lida, pois, num
gesto instintivo, Tom Adams segurou-a pelo bra��o.
40
PARA T O D A A V I D A
��� Tudo bem, sra. Sloan... Alline? Ser�� que voc�� tomou sol
demais?
��� N��o, n��o. Eu estou bem.
Felizmente, a voz voltara. Num gesto quase brusco, ela se
livrou da m��o de Tom. C��us! N��o podia ser pior! Raul, ali
parado, e ela, aparentemente, t��o ��ntima de outro homem! N��o
que se importasse com a opini��o dele, mas odiaria a id��ia de
dar motivos que justificassem o comportamento dele.
��� Tem certeza? ��� Tom Adams n��o desistiu, e quando Alline
se moveu, ele a seguiu. ��� Vou acompanh��-la at�� seu quarto.
Alline conteve um sorriso ir��nico. Afinal, a hist��ria se repetia.
��� Agrade��o, mas n��o �� preciso. Eu estou bem.
��� Voc�� est�� tremendo.
Alline fechou os olhos, contendo o impulso de empurr��-lo.
��� Estou cansada, s�� isso.
Finalmente, Tom Adams percebeu que tanta insist��ncia s��
iria prejudic��-lo.
��� Se voc�� tem certeza... ��� ele murmurou.
Alline respirou aliviada. Felizmente, os elevadores ficavam
ao lado do sagu��o, o que significava que poderia ir at�� l�� sem
cruzar com Raul Ramirez. Mais do que nunca, teria de encon-
trar uma desculpa convincente para Sam exigir sua volta ��
Inglaterra. Imediatamente.
Ela pressionou o bot��o, chamando o elevador. Tom Adams
correu na dire����o dela.
��� E quanto a hoje �� noite? ��� perguntou, para desespero
de Alline. ��� Sei que n��o �� momento... mas se me der o n��mero
do seu quarto... posso ligar mais tarde.
��� Sra. Sloan?
A voz era inconfund��vel. Grave, rica, macia, com uma leve
ponta de rispidez. Alline ficou arrepiada, n��o s�� pelo impacto,
mas tamb��m pelas lembran��as que a voz despertava. Lem-
bran��as das m��os dele em sua pele, em seu corpo nu. Lem-
bran��as da l��ngua dele umedecendo seus mamilos enrijecidos
e de seu corpo poderoso penetrando no dela...
Esse rompante de apetite sexual era totalmente novo para
ela. Jeff nunca a fizera sentir-se assim. O mais assustador, por��m, era o poder que Raul exercia sobre seus sentidos, provocando
aquela dor desesperadamente aguda que abalava todo seu ser.
��� Oh... Raul ��� ela murmurou, piscando nervosamente. ���
Est�� esperando por J��lia?
41
PARA T O D A A V I D A
Tom Adams ergueu as sobrancelhas interrogativamente.
��� Voc��s j�� se conhecem? ��� perguntou ele.
Foi Raul quem respondeu num tom irritado.
��� Voc�� e a sra. Sloan s��o amigos?
E antes que Tom tivesse tempo de dizer alguma coisa, Alline
interveio:
��� N��o, n��o somos amigos. Na verdade, acabamos de nos co-
nhecer na praia ��� ela disse, desprezando-se pela repentina ne-
cessidade de dar essa explica����o a Raul. Mas precisava defender
sua reputa����o. O elevador chegou e ela entrou. ��� Com licen��a.
A porta j�� estava quase fechada quando, num movimento
r��pido, Raul entrou, surpreendendo a todos. A porta se fechou
e ele se colocou diante do painel, impedindo que Alline tentasse
pressionar o bot��o para abri-la.
��� Que loucura �� essa? ��� ela perguntou.
Ignorando-a, Raul pressionou o bot��o que parava o elevador,
e depois voltou-se para encar��-la.
O cora����o de Alline disparou. Deu um passo para tr��s e
encostou-se na parede. N��o tinha como escapar. Raul apoiou
as m��os na parede, aprisionando-a.
��� Vou gritar ��� ela avisou, mas a amea��a n��o surtiu o
menor efeito.
Inclinando-se, ele a beijou. Com a l��ngua, for��ou-a a entrea-
brir os l��bios, invadindo a cavidade macia com voracidade.
Encostou o corpo no dela, e Alline p��de sentir a rea����o que o
beijo estava provocando. Depois, ele entreabriu a canga que
ela usava, introduzindo uma perna entre as dela.
Alline pensou que iria desmaiar. Naqueles poucos dias, co-
me��ara a acreditar que Raul estava envergonhado demais para
aparecer no hotel. �� tamb��m que, se ela conseguisse esqui-
var-se dos convites para ir �� casa dele, poderia at�� salvar
alguma coisa daquelas f��rias. Mas estava enganada. S�� de
v��-lo no sagu��o do hotel, ficara abalada. E agora, com os quadris
dele pressionando os seus, com o desejo dele latejando contra
seu abd��men, ela comprovava que Raul n��o tinha escr��pulos.
Teria de tomar uma atitude dr��stica.
��� Por favor, n��o fa��a isso!
��� Por que n��o? ��� Raul cobriu a m��o dela de beijos, descendo
depois para o pesco��o. ��� Voc�� me quer. ��� Os dedos dele to-
caram a bainha do mai��, alojando-se, depois, entre as pernas
dela. ��� Voc�� est�� ��mida.
42
PARA T O D A A V I D A
��� Eu... estava nadando.
��� Quente e ��mida ��� continuou ele loucamente, acariciando
o ��mago da feminilidade dela. ��� Eu conhe��o a diferen��a.
Alline deixou escapar um solu��o.
��� Por favor, Raul, solte-me... Voc�� est�� sendo inconveniente!
��� Existe um velho ditado em seu pa��s... ��� ele come��ou,
mas Allin�� n��o o deixou terminar.
��� Solte-me! ��� ela gritou, o rosto desfigurado pela emo����o.
Como se tocado pelo desespero dela, Raul soltou-a abruptamente.
Passado o momento de choque, Alline esticou o bra��o para
pressionar o bot��o que colocaria o elevador em movimento. De
novo, ele se colocou entre ela e o painel.
��� Espere!
Ela tremia descontroladamente, mal ag��entando-se em p��.
Se conseguisse sair daquele elevador, nunca mais ficaria a s��s
com Raul.
��� N��o temos mais nada para dizer. ��� A voz dela foi pouco
mais do que um murm��rio.
��� N��o �� verdade.
��� ��, sim. ��� Alline tentava pensar racionalmente. ��� Voc��...
voc�� me decepcionou. Eu me decepcionei. Se eu estivesse no
meu ju��zo perfeito, nunca mais olharia para voc��.
Raul lan��ou-lhe um olhar angustiado.
��� �� mesmo?
��� ��! ��� Alline apertou o n�� da canga ao redor da cintura. ���
Como voc�� pode agir dessa maneira, debaixo do nariz da sua
namorada? Ser�� que n��o se importa com nada, nem com ningu��m?
��� Eu disse que n��o me importo? Eu disse que n��o estou
envergonhado do que fiz?
��� N��o me diga que est��! ��� ironizou ela.
Raul parecia arrasado. E furioso.
��� Por quem voc�� me toma? Acha que eu ajo daquela maneira
todo dia, toda hora? Por acaso, est�� pensando que sou algum
man��aco sexual, um garanh��o? Que n��o posso ver uma mulher
na minha frente que saio atacando, feito um tarado?
Alline estremeceu.
��� Ent��o, por que voc��...
��� N��o sei! ��� ele esbravejou. ��� N��o sei. ��� Ele voltou
atr��s. ��� Sim, eu sei. ��� Respirou fundo. ��� Eu n��o pude evitar.
Se isso servir para lustrar seu ego, saiba que fiz amor com
43
P A R A T O D A A V I D A
voc�� porque, depois de beij��-la, depois de toc��-la, n��o podia
simplesmente deix��-la ir embora.
Alline balan��ou a cabe��a, incr��dula.
��� N��o acredito.
Raul apertou os l��bios.
��� Por qu��?
��� Porque n��o sou nenhuma mulher fatal. N��o sou bonita,
nem glamourosa. N��o sou uma mulher interessante. Tenho quase
quarenta anos e estou acima do meu peso. E meus p��s s��o grandes
demais. Os homens n��o... bem, at�� conhecer voc��, eu nunca tinha
dormido com outro homem, al��m de meu marido.
��� Isso prova o qu��, exatamente?
��� Prova que, al��m do fato de eu ser bem mais velha que
voc��, n��o sou o tipo de mulher que... por quem um homem pode...
��� Ela se calou, depois continuou, com menos emo����o: ��� N��o
sou como Suzanne ou... ou como sua m��e, provavelmente. N��o
sou brilhante, nem din��mica, nem sofisticada, nem...
��� Pare de falar bobagens! ��� Raul interrompeu-a com im-
paci��ncia. Alline tentou escapar, mas ele a segurou pelo bra��o,
obrigando-a a encarar a imagem refletida no espelho, ao fundo
do elevador. ��� Olhe para voc��! ��� ordenou. ��� O que est��
vendo? N��o essa mulher sem gra��a que insiste em descrever.
Seja honesta com voc�� mesma, Ally. Voc�� �� uma mulher ado-
r��vel e ardente. A idade n��o conta. Voc�� est�� vivendo em todo
seu esplendor! Aceite isso. Aproveite.
Alline relutou, por��m n��o conseguiu ignorar a imagem que
a desafiava. Era verdade. N��o se parecia muito com a mulher
que estava acostumada a ver no espelho do banheiro de sua
casa, em Newcastle. Mas isso devia-se, em parte, aos olhos
brilhantes e aos l��bios inchados pelos beijos de Raul. O rosto,
normalmente p��lido, estava corado. At�� mesmo os cabelos ��mi-
dos exalavam sexualidade. Ela parecia... libertina. E n��o era
absolutamente essa a id��ia que fazia de si mesma. Raul trans-
formara-a nessa mulher, e deveria odi��-lo por isso.
Ele a soltou e Alline encostou-se na parede do elevador,
ofegando.
��� E como eu deveria aproveitar, hein? ��� Os olhos dela
eram acusadores. ��� Tendo um caso com voc��?
��� N��o! ��� Raul bateu de leve os punhos fechados na porta
do elevador, depois voltou-se novamente para ela. ��� N��o! N��o
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P A R A T O D A A V I D A
foi isso que eu quis dizer. Pelo amor de Deus, Alline, eu tamb��m
n��o estou gostando nada desta situa����o. Realmente, eu n��o
tinha inten����o de envolver-me com ningu��m.
Apesar de tudo, as palavras dele magoaram-na.
��� Ent��o, por que se aproximou de mim?
��� J�� me fiz essa pergunta milh��es de vezes! ��� Raul passou
os dedos pelos cabelos. ��� Eu n��o deveria ter entrado no seu
quarto, essa �� a verdade. Os sinais de alerta eram vis��veis demais, mas preferi ignor��-los. Sempre me considerei t��o frio, t��o con-trolado, t��o senhor das minhas emo����es... mas enganei-me.
Alline fez um gesto evasivo com as m��os.
��� Eu n��o entendo...
��� Nem vai entender. ��� Depois de uma breve pausa, ele
continuou: ��� Voc�� n��o estranhou o fato de eu estar hospedado
no hotel do aeroporto? Isto ��, eu disse que fui a Londres para
visitar o Sal��o de Barcos. Fui mesmo. Mas voc�� achou que eu
fiquei hospedado naquele hotel o tempo todo?
Os l��bios de Alline se curvaram.
��� N��o sei... Nem pensei nisso.
��� Nem eu. Durante minha estada em Londres me hospedei
em outro hotel. S�� passei aquela noite no hotel do aeroporto.
Exatamente como voc��.
��� Aonde voc�� quer chegar? ��� Alline estava apreensiva.
��� Voc�� quer a verdade?
��� Claro.
Ele a fitou por um longo momento. Depois, balan��ou afir-
mativamente a cabe��a.
��� Pois bem. Suzanne falou-me sobre a grande e querida
amiga que viria visit��-la. Comentou sobre as dificuldades que
voc�� enfrentou e que ela e Peter fariam tudo para que suas
f��rias fossem perfeitas.
��� N��o entendo...
Raul interrompeu-a.
��� Senti pena de voc�� ��� ele falou com brutalidade, e Alline
cobriu a boca com a m��o. ��� Sim, senti pena e pensei, "A�� est��
uma pobre mulher, abandonada pelo marido, passando uma
noite solit��ria num hotel, antes de enfrentar uma longa viagem.
Ora, n��o me custa nada atender ao pedido de Suzanne!"
��� Obrigada pela gentileza ��� ela disse num tom sarc��s-
tico. ��� Voc�� n��o precisava ter se sacrificado tanto por uma...
pobre-coitada!
45
PARA T O D A A V I D A
Raul abriu os bra��os num gesto desesperado.
��� N��o �� nada disso. Eu disse que foi por esse motivo que
passei a noite no Heathrow! Eu n��o disse que foi por esse motivo
que tudo aconteceu. N��o foi. E voc�� sabe muito bem disso, Alline.
��� Sei? ��� ela o desafiou.
��� Deveria saber. ��� Raul enfiou as m��os nos bolsos do short.
��� Ah, Deus! Nada saiu como eu planejei. Quando eu a vi...
Quando vi aquela mulher atraente no balc��o do bar, n��o imaginei
que era a amiga de Suzanne. E voc�� se apresentou como Diana...
Ela sentiu o rosto queimar.
��� Mas depois eu contei a verdade.
��� Tarde demais.
��� Tarde demais? ��� ela repetiu, confusa.
��� Sim. ��� Ele suspirou. ��� Eu me senti muito atra��do por
Diana e n��o pensei mais na amiga de Suzanne.
��� N��o acredito em voc��.
��� Acredite ou n��o, essa �� a verdade. Quando voc�� come��ou
a falar sobre sua fam��lia, desconfiei que voc�� poderia ser a tal
mulher. ��� Ele a olhou com ar desolado. ��� Deu para perceber
como a confus��o come��ou?
��� Assim que descobriu quem eu era, voc�� deveria...
��� O que eu deveria ter feito? A essa altura, eu n��o queria
mais contar a verdade.
��� Voc�� preferiu aproveitar-se da situa����o ��� Alline o acusou.
��� Voc�� sabe muito bem que n��o foi nada disso.
��� Eu n��o sei de nada.
��� Droga, Ally! Eu n��o entrei �� for��a em seu quarto!
��� Mas tamb��m n��o recusou o convite.
��� N��o recusei ��� admitiu Raul. ��� Por��m, voc�� tem de
reconhecer que tudo que aconteceu em seguida n��o foi unica-
mente por minha culpa.
Alline desviou o olhar.
��� N��o quero falar sobre isso.
��� Eu quero. ��� Aparentemente, Raul n��o tinha pressa para
sair do elevador. ��� Por que acha que eu a deixei sem despe-
dir-me? O que eu fiz foi imperdo��vel, e eu n��o podia encar��-la
�� luz do dia.
��� Ent��o, saiu sorrateiramente, de madrugada, como um ladr��o.
��� N��o estou nada orgulhoso do que fiz, Alline. Por isso,
quero que saiba...
46
P A R A T O D A A V I D A
��� Creio que j�� nos dissemos tudo, Raul ��� ela o interrompeu
com firmeza. J�� ouvira demais e n��o suportaria aquela situa����o
por muito mais tempo. Virando o rosto, procurou o bot��o que
faria o elevador subir novamente. ��� �� este o bot��o.
��� Alline!
��� N��o se preocupe ��� ela disse num tom estranhamente
calmo. ��� Pretendo ir embora dentro de dois ou tr��s dias. N��o
quero prolongar ainda mais esta situa����o embara��osa. ��� For-
��ou um sorriso. ��� Seu pequeno segredo estar�� a salvo comigo.
Raul praguejou, mas Alline n��o o ouviu. Ela pressionou o
bot��o, e dessa vez ele n��o tentou impedi-la. As portas se abri-
ram no terceiro andar, e Raul n��o se moveu. Alline saiu sem
olhar para tr��s. Dois casais entraram e um dos homens co-
mentou alguma coisa sobre a precariedade dos elevadores em
hot��is. Alline n��o ouviu a resposta de Raul. Apreensiva, seguiu
em dire����o ao quarto. Abriu a porta, entrou e, com uma incr��vel
sensa����o de al��vio, tornou a fech��-la.
47
CAP��TULO VI
Alline estava almo��ando no terra��o quando Su-
zanne se aproximou, ofegante e nervosa. Sen-
tiu uma contra����o no est��mago. Esperava que o estado da
amiga n��o tivesse nada a ver com seu encontro com Raul.
Uma conversa descontra��da com a recepcionista rendera-lhe
a informa����o de que o senhor Ramirez deixara o hotel uma hora atr��s. Lu��sa n��o precisara de muito est��mulo para discorrer
sobre as qualidades do namorado da filha dos patr��es.
Mas Alline n��o queria pensar em Raul. J�� tentara falar
com Sam, mas n��o a encontrara em casa. Al��m de estudar na
faculdade, Sam trabalhava meio per��odo num restaurante fast food. ��, considerando que na Inglaterra o hor��rio estava cinco horas adiante de Nassau, Sam ainda n��o teria chegado em
casa. Tentaria mais tarde.
Sorriu para Suzanne, sentada �� sua frente.
��� Tudo bem? ��� perguntou Alline. ��� Voc�� parece nervosa.
��� Voc�� n��o vai querer se aborrecer com meus problemas,
n��o ��? ��� Com um aceno, Suzanne chamou o gar��om e pediu
um caf��. ��� Eu a vi indo para a praia, logo cedo. Divertiu-se?
A contra����o no est��mago repetiu-se. Suzanne a teria visto
voltando tamb��m?
��� Muito. A ��gua estava uma del��cia.
O gar��om chegou com o caf�� e Suzanne agradeceu.
��� Isto aqui �� uma maravilha, n��o ��? Realmente, somos pri-
vilegiados por morarmos num lugar lindo como este. ��� Suzanne
parou para ajeitar os cabelos atr��s das orelhas. ��� N��o sei o que
far��amos se tiv��ssemos que deixar a ilha. S�� de pensar em voltar
�� Inglaterra... ��� Ela suspirou. ��� Ah, n��o sei o que seria de n��s.
Alline estranhou o coment��rio da amiga.
48
P A R A T O D A A V I D A
��� Isso est�� totalmente fora de cogita����o, n��o est��? ��� Com
um gesto, ela indicou o cen��rio a sua volta. ��� O hotel parece
estar indo bem. Est�� lotado e...
��� N��o se iluda pelas apar��ncias ��� Suzanne interrompeu-a.
��� Temos uma vida agrad��vel, n��o posso negar. Pelo menos,
na alta temporada. Mas o hotel n��o est�� sempre assim lotado.
Quando chegamos aqui, tivemos de lutar para sobreviver.
��� Isso foi h�� muitos anos. Agora, acho que voc�� j�� pode
sentar e respirar aliviada.
��� �� o que voc�� pensa, n��o? ��� Os l��bios de Suzanne estavam
apertados. Depois, com um gesto impaciente, descartou o as-
sunto. ��� Vamos falar de outra coisa.
Alline franziu o cenho.
��� Suzanne, se voc�� e Peter estiverem em dificuldades...
��� N��o estamos. ��� O sorriso de Suzanne era brilhante,
quase convincente. ��� Estou apenas um pouco desanimada.
Nada grave. Acontece, de vez em quando. N��o ligue.
Alline n��o podia ignor��-la. Apesar da quase certeza de n��o
ser a causa da crise da amiga, ela precisava sond��-la.
��� Suzy, somos amigas. Nos conhecemos h�� trinta anos.
Pode se abrir comigo e...
��� N��o �� nada, juro. ��� Os dedos de Suzanne apertavam a
x��cara. ��� Agora, me diga. O que vai fazer �� tarde?
��� Oh... ��� Alline surpreendeu-se com a resist��ncia da amiga.
��� N��o pensei ainda.
��� Pois deveria. Voc�� j�� passeou pela ilha?
��� N��o. Isto ��, s�� conhe��o o caminho do aeroporto para c��.
��� Peter a levar�� �� cidade, na pr��xima vez que for ao mercado
��� Suzanne ofereceu. ��� Eu poderia emprestar-lhe o buggy,
mas ele �� meio temperamental e eu n��o gostaria que a deixasse
no meio da estrada.
��� Eu posso alugar um carro. ��� Alline duvidava que teria
tempo para conhecer a ilha, mas Suzanne n��o precisava saber
de suas inten����es.
��� Acho uma boa id��ia ��� Suzanne concordou meio distra��da.
��� J�� se acostumou com a diferen��a de fuso hor��rio?
��� Quase. ��� Fora o fato de acordar muito cedo pela manh��,
Alline n��o sofrera nenhum efeito negativo. Tamb��m, com tan-
tas coisas mais importantes em sua mente... ��� Hum... onde
est�� J��lia? ��� perguntou quase impulsivamente.
49
PARA T O D A A V I D A
A express��o de Suzanne mudou.
��� N��o me pergunte.
��� Por qu��? ��� Alline estava ansiosa. ��� Ela est�� bem, n��o est��?
Suzanne olhou-a por um longo tempo, antes de responder
num tom impaciente.
��� Oh, sim, creio que sim. Prefiro n��o falar sobre J��lia.
O est��mago de Alline deu uma reviravolta.
��� N��o... n��o estou entendendo.
��� Nem precisa. ��� Suzanne terminou o caf�� e levantou-se.
��� Tenho que ir, Ally. Sabe como ��... coisas para fazer, pessoas
para contatar.
��� Claro.
Mas Alline queria mesmo era saber o que provocara o olhar
cauteloso e resignado no rosto da amiga.
Oh, Deus, tomara que n��o tenha nada a ver com Raul Ra-
mirez... e comigo!
Naquela noite, Alline jantou com Suzanne e Peter, no terra��o
do apartamento deles.
Durante quase todo o dia ela tentara falar com Sam, sem
sucesso. Pensara at�� em telefonar para Ryan. Mas Ryan mo-
rava com a namorada, em Durham, onde ambos cursavam a
faculdade, enquanto Sam morava e estudava em Newcastle.
Assim, ele dificilmente saberia dos passos da irm��. Decidiu
esperar at�� a manh�� seguinte. Se n��o conseguisse falar com
a filha, telefonaria para Mark, o namorado dela.
Para surpresa de Alline, J��lia jantou com eles. Pelo que en-
tendera, aquela era a primeira noite em que a garota jantava
com os pais. Sentada na amurada do terra��o, e bebericando um
coquetel, J��lia lan��ava olhares desafiadores aos pais. Sua expres-
s��o se suavizou ao ver Alline. Apontando para o parapeito, disse:
��� Oi, tia Ally. Sente-se aqui comigo. Desde que voc�� chegou,
ainda n��o tivemos chance de conversar.
Alline tentou mostrar-se calma e descontra��da.
��� �� verdade. ��� Depois de trocar um olhar de d��vida com
Suzanne, ela se sentou ao lado de J��lia. ��� Voc�� est�� bem?
��� Melhor de sa��de do que de humor, como diz meu pai ���
J��lia respondeu com um sorriso radiante. ��� E voc��? Est��
aproveitando as f��rias?
��� Muito. ��� Alline aceitou o mart��ni que Peter lhe ofereceu.
50
P A R A T O D A A V I D A
Depois, acrescentou: ��� Era do que eu precisada no meio de
um inverno ingl��s.
��� N��o duvido. ��� J��lia olhou-a com ar avaliador. ��� Vejo
que j�� andou tomando sol. Est�� com uma cor bonita.
��� Obrigada. ��� Alline sorriu. ��� Falta muito para competir
com voc�� ou com sua m��e.
��� Hum... ��� O olhar de J��lia para a m��e foi de reprova����o.
��� Se mam��e est�� bronzeada, certamente n��o �� de tomar sol.
Ela nunca relaxa, nunca descansa. Est�� sempre ocupada, ocu-
pada, ocupada...
��� Eu sou assim mesmo ��� Suzanne se defendeu. ��� Voc��
n��o teria as oportunidades que tem se seu pai e eu n��o nos
mat��ssemos de trabalhar.
��� Ora, m��e...
��� Suzanne! ��� soou a voz de Peter. ��� Ally n��o est�� inte-
ressada nos nossos problemas! ��� E for��ando um sorriso, acres-
centou: ��� Est�� bom assim, querida?
Alline provou o drinque.
��� Humm... delicioso. Obrigada ��� murmurou ela, fingindo
n��o notar o olhar ressentido de Suzanne para o marido. Ela
n��o gostaria de ser motivo para uma desaven��a familiar. ���
Est�� tudo maravilhoso.
��� Est��, n��o? ��� Peter Davis sentou-se no parapeito, ao lado
dela, olhando para a praia iluminada pelo luar. ��� Temos sorte
por morarmos num lugar assim.
��� Enquanto durar... ��� Suzanne murmurou num fio de voz,
mas todos ouviram.
J��lia virou-se furiosa para a m��e.
��� Voc�� n��o d�� folga, n��o ��? ��� zangou-se. ��� Nem por uma
noite? Como o papai disse, tia Ally n��o quer ouvir o quanto
eu decepcionei voc��! Ela veio para c�� para relaxar. N��o �� mes-
mo, tia Ally?
��� Por favor...
Alline n��o queria envolver-se, e mais uma vez, Peter interveio:
��� Chega, J��lia. N��o quero que seja insolente com sua m��e,
nem que envolva nossa h��spede.
��� Mas ela...
��� Sua m��e s�� quer o melhor para voc��.
��� O melhor para voc��s, voc�� quer dizer ��� J��lia retrucou,
descendo da amurada. Algumas gotas do coquetel espirraram
no vestido. ��� Pronto, estragou o vestido. Por causa de voc��s.
51
P A R A T O D A A V I D A
��� N��o pense que vai comprar outro com a mesma facilidade
com que comprou este ��� a m��e avisou-a num tom ferino, e
Alline apertou os l��bios, preocupada.
A situa����o era mais cr��tica do que ela imaginara. Por mais
que tentasse convencer-se do contr��rio, ela seria capaz de jurar
que a culpa era de Raul.
��� Por que n��o? ��� a garota desafiou a m��e. ��� Eu n��o
disse que n��o vou casar com Raul, disse? N��o tenho culpa se
Carlos gosta de mim.
��� Voc�� n��o deveria t��-lo encorajado. ��� Suzanne estava
furiosa. ��� Confiei em voc��, J��lia. S�� Deus sabe o que voc��s
dois andaram aprontando enquanto Raul estava fora.
J��lia suspirou e revirou os olhos.
��� N��o andamos aprontando nada. Somos amigos. Um con-
ceito que voc�� e papai s��o incapazes de compreender.
��� J�� chega, J��lia! ��� Peter fitou Alline com olhar desolado.
��� Desculpe pela cena desagrad��vel, Ally, mas n��o vou permitir
que J��lia aborre��a a m��e dela. ��� E virando-se para a filha,
advertiu: ��� Se n��o consegue comportar-se de maneira civili-
zada, sugiro que pe��a a Maria para servir seu jantar no quarto.
J��lia fez uma careta, parecendo lutar contra as l��grimas.
Era apenas alguns anos mais velha do que Sam, e Alline con-
teve-se para n��o pedir a Suzanne e Peter para agirem com
mais compreens��o.
��� Eu n��o aborreci mam��e. ��� A voz de J��lia soou tr��mula.
��� Foi Raul. Eu n��o sabia que ele estava de mau humor. Como
eu poderia saber? Quase n��o nos vimos desde que ele voltou
da Inglaterra. Tamb��m n��o sei por que ele estava t��o sarc��s-
tico, t��o irritante...
��� Ele estava brincando ��� Suzanne interrompeu-a, impa-
ciente. ��� Voc�� n��o o conhece o suficiente para perceber quando
deve lev��-lo a s��rio ou n��o?
��� Brincando? ��� J��lia indignou-se. ��� Ele estava fazendo
pouco de mim, mam��e. Ele disse que sou mimada, que eu n��o
tenho a menor id��ia do que �� a realidade do mundo.
��� Voc�� n��o estava sendo nada razo��vel, essa �� que �� a verdade
��� Suzanne observou num tom irritado. ��� Raul tem responsa-
bilidades, J��lia. Ele n��o pode passar o tempo todo ao seu lado.
��� Eu pensei que ele tivesse vindo ao hotel por minha causa
��� J��lia respondeu. ��� Se queria apenas falar com o papai,
por que n��o telefonou, em vez de atravessar a ilha inteira?
52
PARA T O D A A V I D A
��� Parece que ele tinha neg��cios em San Cristobal. ��� Su-
zanne insistia em tentar justificar Raul. ��� Desde que a sra.
Ramirez adoeceu, o pai tem jogado cada vez mais responsabi-
lidades nos ombros do filho. Voc�� devia lembrar-se disso.
��� N��o entendo o porqu�� da confus��o toda ��� J��lia resmun-
gou. ��� Eu n��o podia me defender? Ora, eu s�� falei que... que...
��� J��lia hesitou.
��� Que, ��s vezes, voc�� preferia estar namorando o Carlos
e n��o ele ��� Suzanne completou a frase. ��� N��o sei como Raul
n��o disse que estava cansado de voc�� e de suas queixas.
��� Que exagero, mam��e!
��� Ent��o, por que n��o est�� jantando com ele, agora, em vez
de entediar-se na companhia de seus pais? ��� Suzanne desafiou.
Depois, torcendo os l��bios e o nariz, virou-se para Alline. ���
Desculpe, Ally. Eu me expressei mal. Nada a ver com voc��,
hein? �� que... ��� Ela olhou para o marido em busca de apoio.
��� J��lia sabe que n��o podemos ofender os Ramirez.
��� N��o ofendemos ningu��m, mam��e. Voc�� est�� exagerando.
At�� parece que o hotel pertence ao pai de Raul. Tudo bem, os
Ramirez s��o pessoas importantes, mas a maioria dos nossos
h��spedes nunca ouviu falar nessa gente.
Percebendo o olhar significativo trocado entre Suzanne e
Peter, Alline desconfiou que havia muito mais coisas que, pro-
vavelmente, nem J��lia sabia.
��� Bem... bem... ��� Suzanne for��ou um sorriso, sentindo que
o jantar corria o risco de n��o se realizar. ��� Ally... vou lhe
servir outro drinque.
��� N��o. ��� Alline mostrou o copo ainda pela metade. ���
Obrigada. ��� Respirou fundo. ��� Que cheiro agrad��vel!
��� Oh, sim! ��� Por sobre o ombro, Suzanne deu uma olhada
para a sala de jantar. ��� Maria �� uma excelente cozinheira. N��o
sei o que far��amos sem ela. ��� Sentando-se na cadeira de vime
ao lado de Alline, acariciou o bra��o da amiga. ��� Voc�� est�� muito
bonita. Vai se encontrar com o sr. Adams no bar, mais tarde?
��� N��o. ��� Alline sentiu o rubor cobrindo-lhe o rosto e pro-
curou ref��gio no mart��ni. O vestido preto era bem simples, e
ela o complementara com uma �� charpe em tons de creme e bronze, que acentuavam os reflexos dourados dos cabelos. Umedeceu os l��bios. ��� Como sabe que eu conheci Tom?
��� Oh, j�� �� Tom, hein? ��� Suzanne brincou. ��� Voc�� n��o perdeu
53
PARA T O D A A V I D A
tempo! ��� E percebendo o constrangimento da amiga, acrescentou:
��� Relaxe, Ally. Ele me perguntou sobre voc��, hoje �� tarde.
Alline continuava apreensiva. Gostaria de saber se Tom co-
mentara alguma coisa a respeito do incidente com Raul no
sagu��o do hotel. Ao mesmo tempo, queria desviar a aten����o
de Suzanne para outro assunto qualquer. Mas n��o foi preciso.
O interesse da amiga j�� desaparecera.
Suzanne observava J��lia e Peter abra��ados, caminhando
em dire����o �� sala de jantar. Certamente, ela esperava que o
marido fosse bem-sucedido onde ela falhara.
Alline tocou no bra��o da amiga.
��� Tudo vai dar certo. Voc�� sabe como s��o os jovens. Metade
do tempo, eles n��o querem dizer aquilo que est��o dizendo.
��� O qu��? ��� Suzanne olhou-a com express��o distante. Logo,
por��m, compreendeu que Alline estava tentando confort��-la.
��� Eu sei. ��� Ela suspirou. ��� N��o �� a primeira vez que Raul
e J��lia trocam palavras ��speras. Acho que espera que ele esteja
sempre por perto, sempre pronto a atender aos chamados dela.
S�� que Raul n��o �� bobo. ��� De repente, como que lembrando-se
que Alline ainda n��o o conhecia, emendou num tom de des-
culpas: ��� Assim que Isabel Ramirez se restabelecer, tenho
certeza de que eles nos convidar��o para jantar em Finisterre, e ent��o voc�� conhecer�� Raul e Carlos.
��� Bem, na verdade... ��� Alline come��ou, imaginando que,
talvez, aquela seria a grande oportunidade de aventar a hip��-
tese de n��o poder ficar na ilha pelo tempo que planejara.
Mas Suzanne interrompeu-a:
��� O problema �� que J��lia n��o entende. Ela ama Raul,
claro, mas pensa que n��s apoiamos o casamento s�� por ele ser
quem ��, pelas vantagens que ela ter��, com o casamento.
��� E n��o �� isso? ��� Alline ergueu uma sobrancelha,
interrogativamente.
��� N��o. Antes fosse. ��� Suzanne fez uma pausa, lan��ando
um olhar angustiado �� amiga. ��� Se fosse, que eu lhe diria.
S�� Deus sabe como eu preciso desabafar. ��� Ela respirou fundo.
��� Estamos endividados, Ally. Devemos uma quantia conside-
r��vel ao pai de Raul. Se J��lia, n��o se casar com ele, n��o sei
o que vai acontecer.
Alline arregalou os olhos.
��� Suzanne! Acho que voc�� est�� exagerando.
54
P A R A T O D A A V I D A
��� Voc�� est�� parecendo J��lia! Acredite, Ally, n��o estou exa-
gerando. A situa����o �� seria, e sem casamento, certamente,
teremos de vender o hotel.
��� O que aconteceu? Voc�� sempre disse que os neg��cios
iam bem.
Suzanne balan��ou a cabe��a.
��� N��o, as coisas n��o iam t��o bem como proclam��vamos ���
Suzanne admitiu. ��� Quando chegamos aqui, o hotel era bem
mais simples do que agora. N��s quisemos increment��-lo com ins-
tala����es mais modernas, como piscina, sauna, jet skis e outros entretenimentos para os h��spedes... Parece que nunca termina!
��� Obviamente, voc��s n��o compraram tudo de uma vez!
��� N��o, claro que n��o. Fomos fazendo aos poucos, de acordo
com nossas possibilidades. Fizemos um empr��stimo no banco
e... bem, voc�� sabe o que acontece nesses casos, n��o? Mas com
dificuldade, est��vamos saldando a d��vida. De repente, aconte-
ceu o inc��ndio.
��� Inc��ndio... ��� Alline repetiu. ��� No hotel?
��� S�� na cozinha, felizmente. E n��s, que t��nhamos investido
uma pequena fortuna em equipamentos modernos, perdemos
tudo. Foi tudo destru��do.
��� Oh, Suzanne!
��� O pior n��o �� isso. Como a companhia seguradora n��o
aprovou a reforma que t��nhamos feito na cozinha, n��o recebe-
mos indeniza����o pelo preju��zo.
Alline estava surpresa com o relato da amiga.
��� Eu n��o fazia id��ia...
��� Nem podia. Isso n��o �� coisa para se contar vantagem.
Foi terr��vel ter que cancelar reservas e ficar com o hotel fechado
durante cinco meses. Chegamos a pensar seriamente em vender
tudo, e quando j�� est��vamos no limite de nossa toler��ncia,
Juan Ramirez nos ofereceu ajuda.
Alline umedeceu os l��bios com a ponta da l��ngua.
��� Entendo.
Suzanne balan��ou os ombros.
��� Como eu j�� lhe contei, J��lia e os meninos se conhecem
desde crian��as, e apesar de n��o podermos chamar Juan e Isabel
exatamente de amigos, nos aproximamos mais, nos ��ltimos anos.
Principalmente depois que Raul e J��lia come��aram a namorar.
��� Entendo.
55
PARA T O D A A V I D A
��� Duvido que voc�� entenda. As fam��lia espanholas geral-
mente s��o muito tradicionais, voc�� sabe. Isto ��, embora Peter
e eu tenhamos jantado em Finisterre pelo menos meia d��zia de vezes, no ano passado, n��o acho que estou mais ��ntima de
Isabel do que... h�� dezoito meses.
��� Voc�� acha que �� por causa do empr��stimo?
��� N��o, acho que n��o. As coisas iam bem at�� Raul come��ar
a viajar a neg��cios com o pai. Juan chegou a insinuar que,
assim que Raul e J��lia se casassem, a d��vida seria cancelada,
e receio que Peter e eu estejamos contando demais com isso.
��� Oh, Suzanne!
��� N��o diga nada, Ally. Eu sei. At�� Raul come��ar a passar
cada vez mais tempo trabalhando com o pai, J��lia e ele pare-
ciam muito felizes juntos.
��� Foi quando Carlos entrou em cena, suponho.
��� Isso mesmo. ��� Suzanne emitiu um som impaciente. ���
Carlos ficou fora por dois ou tr��s anos, completando os estudos
nos Estados Unidos, como Raul fizera antes. Carlos �� cinco
anos mais novo que o irm��o e um ano mais velho que J��lia,
e antes de ele ir embora J��lia n��o tinha tempo para ele.
��� Voc�� disse que eles se conhecem h�� muitos anos? ���
Alline arriscou.
��� Sim. H�� uns dez anos, talvez. Desde que J��lia foi con-
vidada para brincar com Sofia, irm�� de Raul.
��� Ele tem uma irm��? ��� Alline tentava n��o demonstrar
muito interesse.
��� Sim. Os quatro sempre foram muito amigos.
De novo, Alline umedeceu os l��bios.
��� Quantos anos Raul tem agora?
��� Raul? ��� Suzanne apertou levemente os olhos. ��� Deixe-
me ver... J��lia tem vinte e dois... imagino que Raul tenha uns
vinte e oito. ��� Ela refletiu um pouco, depois corrigiu-se: ���
N��o, vinte e nove, ele fez anivers��rio h�� pouco tempo. Quisera
eu ter vinte e nove anos! A vida era muito mais simples.
Alline for��ou um sorriso. Raul tinha exatamente dez anos me-
nos que ela. Tinha apenas nove quando ela dera �� luz os g��meos.
56
CAP��TULO VII
Na manh�� seguinte, Alline acordou com o toque
do telefone. Atendeu com voz sonolenta.
��� Al��?
��� M��e?
A voz de Sam parecia cansada, e Alline ficou tensa.
��� Sam! Tudo bem? Onde voc�� estava? Eu liguei ontem,
n��o sei quantas vezes!
��� Desculpe, se a deixei preocupada. Mas... bem, aconteceu
algo e...
��� O qu��? ��� Alline interrompeu-a apreensiva. ��� Aconteceu
alguma coisa com voc�� e Mark? Ou Ryan? Pelo amor de Deus,
Sam, diga logo!
��� Calma, m��e. N��o �� nada disso. Ali��s, n��o �� nada com
que voc�� deva se preocupar. ��� Ela soltou ruidosamente a res-
pira����o. ��� E a��, mam��e? Est�� se divertindo? Que inveja! Tia
Suzanne est�� bem? J�� mataram a saudade?
��� Sam, aqui est�� tudo bem, e eu estava me divertindo
muito at�� voc�� ligar.
��� Ora, m��e!
��� Por favor, Sam. Estou imaginando o pior. Fale logo,
por favor!
Houve um breve sil��ncio do outro lado da linha. Depois,
Sam suspirou.
��� �� o papai ��� disse ela em voz baixa. ��� Ele voltou.
Alline ficou boquiaberta.
��� Voltou? Como, voltou? Est�� dizendo que ele e Kelly vol-
taram �� Inglaterra?
��� N��o, m��e. Papai voltou sozinho. Ele e Kelly romperam. Pelo
menos, �� o que ele diz. Por isso voc�� n��o me encontrou, ontem.
Passei praticamente o dia inteiro no hotel, conversando com ele.
57
PARA T O D A A V I D A
Alline estava perplexa. N��o acreditava no que estava ou-
vindo. O relacionamento entre Jeff e Kelly parecia firme como
uma rocha. Mas ela tamb��m acreditara que o casamento deles
tamb��m fosse firme como uma rocha, e no entanto terminara.
��� Ele diz que acabou ��� continuou Sam. ��� Pelo que entendi,
os problemas come��aram assim que papai foi para Toronto. Se-
gundo ele, o sistema de ensino deles �� diferente do nosso e, mesmo
sendo chefe de departamento aqui, l�� ele era simplesmente um
professor a mais. Acredito que o pomo da disc��rdia tenha sido o
fato de Kelly ocupar uma posi����o mais elevada que ele. Voc�� sabe
como o papai ��. Ele precisa sentir sempre que �� o chefe supremo.
E como Alline sabia! Jeff sempre falara mais alto nas poucas
ocasi��es em que ela tentara fazer valer sua vontade. Como
quando os g��meos entraram na escola e ela manifestara inte-
resse em cursar uma faculdade. Jeff n��o permitira, alegando
que ela j�� tinha muitos afazeres, cuidando da casa e da fam��lia.
Por isso, depois da separa����o, Alline s�� conseguira um emprego
de auxiliar de escrit��rio.
��� �� inacredit��vel ��� murmurou, sentando-se na cama. ���
Ele disse o que pretende fazer agora?
��� Bem... ele... ��� Sam estava relutante. Ap��s uma breve
pausa, suspirou. ��� Ele disse que quer colocar uma pedra no
passado e come��ar de novo. Estou contente por voc�� estar a��,
mam��e. Voc�� n��o imagina como papai ficou contrariado quando
soube que voc�� estava viajando. Acho que ele esperava encon-
tr��-la em casa, choramingando pelos cantos. Quando eu disse
onde voc�� estava, o homem nem disfar��ou a indigna����o.
��� Sam! Ele �� seu pai. Voc�� fala como se ele fosse um estranho!
��� Para mim, ��! Ele n��o pensou em n��s quando decidiu ir
para o Canad�� atr��s daquela fulana, pensou? Ele sabia muito
bem como seria dif��cil para mim e para Ryan, que est��vamos
come��ando a faculdade. Mesmo assim, n��o se importou conosco.
��� Sam...
��� �� verdade, m��e, e voc�� sabe disso. Ele s�� pensava em
Kelly e em come��ar uma nova vida com ela. Bem, a culpa n��o
�� nossa se as coisas n��o deram certo, e n��o tenho remorso por
estar sentindo uma ponta de satisfa����o pelo que aconteceu.
��� Sam...
��� N��o fique repetindo "Sam" com essa voz, mam��e! N��o
me diga que voc�� n��o sente a mesma coisa! ��� Ela se calou,
58
P A R A T O D A A V I D A
e como Alline n��o disse nada, acrescentou com incredulidade:
��� M��e, voc�� n��o est�� com pena dele, est��?
��� N��o. ��� A palavra escapou, mas Alline n��o sabia exata-
mente como se sentia em rela����o �� novidade. N��o estava feliz,
mas tamb��m n��o lamentava. ��� Ele... pretende ficar na Ingla-
terra? ��� perguntou ap��s um breve sil��ncio, e Sam deixou es-
capar um som impaciente.
��� N��o s�� na Inglaterra, mas em Newcastle. Voc�� acredita?
Como eu disse, acho que ele est�� pensando que pode retomar as
coisas do ponto em que deixou. Por isso estou contente por voc��
estar bem longe daqui. E se Deus quiser, quando voc�� voltar, ele
ter�� se cansado de ficar nos rodeando e j�� estar�� em outro lugar.
Quanto mais longe melhor. ��� Sam n��o escondia a revolta. ���
Eu at�� disse que ser�� muito dif��cil encontrar um cargo �� altura
dele, aqui nas redondezas. Mas ele afirmou que, enquanto n��o
conversar com voc��, n��o tomar�� nenhuma decis��o.
Alline passou a m��o pelos cabelos num gesto nervoso.
��� Por qu��?
��� O que voc�� acha? Ele a quer de volta, mam��e. A verdade
�� uma s��: papai �� um ego��sta! Durante anos, ele fez voc�� de
gato e sapato e deve estar pensando que basta estalar os dedos
para voc�� se jogar ao p��s dele.
��� N��o �� bem assim ��� Alline protestou. N��o queria que a
filha, e provavelmente o filho, a tratassem como v��tima.
��� Como n��o? ��� Sam retrucou de imediato. ��� Para voc��,
a vontade dele era lei. S�� que Kelly �� diferente. Ela n��o �� do
tipo de fazer as vontades de homem nenhum, principalmente
de algu��m como papai.
Alline franziu as sobrancelhas.
��� Por que voc�� diz isso?
��� Ora, mam��e... Ele n��o �� nenhum gal�� de cinema. Tudo
bem, tamb��m n��o �� de se jogar fora, mas j�� tem mais de
quarenta, e Kelly s�� tem vinte e oito anos!
��� Do jeito que voc�� fala, parece que seu pai �� um velho decr��pito.
Alline sentiu um aperto no est��mago s�� de imaginar a rea����o
de Sam se soubesse que a pr��pria m��e se envolvera com um
homem dez anos mais jovem! Ficou apreensiva tamb��m com
a perspectiva de rever o ex-marido. Imaginara que nunca mais
o veria, principalmente naquelas circunst��ncias. Talvez Sam
estivesse certa. Jeff a dominara durante muitos anos, e jamais
59
PARA T O D A A V I D A
passaria pela cabe��a dele que ela poderia tomar outra atitude
que n��o aceit��-lo de volta.
Mas ela estava mudada. N��o o queria de volta. Na noite
que passara com Raul, Alline compreendera, entre outras coi-
sas, que seu relacionamento com Jeff n��o era aquela maravilha
que sempre acreditara que fosse. A seu modo, ela o amara,
mas amara principalmente a seguran��a que Jeff representava.
Destruindo esse elemento do casamento, ele destru��ra tudo.
S�� que Alline n��o percebera nada disso, antes.
��� N��o estou dizendo que um homem de quarenta anos seja
velho ��� Sam explicou, e Alline tentou concentrar-se nas pa-
lavras da filha. ��� Mas, admita, mam��e, tamb��m n��o �� jovem!
��� Eu sei...
Alline tentava raciocinar. Sam apresentara a desculpa per-
feita para interromper suas f��rias. Provavelmente, Suzanne
faria mil obje����es, mas acabaria entendendo se ela insistisse
em voltar para casa.
��� Estou feliz que voc�� esteja se divertindo, mam��e ��� con-
tinuou Sam. ��� Aposto que tia Suzanne ficou contente por
rev��-la. Isso �� uma coisa que voc�� jamais faria se ainda esti-
vesse casada com papai. Ele nunca encorajou suas amizades.
Tinha medo de dividir seu afeto com quem quer que fosse.
��� Ah, voc�� est�� exagerando, Sam. ��� Alline n��o podia per-
mitir que a filha continuasse massacrando Jeff. ��� Seu pai era
apenas um pouco... possessivo.
��� Um pouco!? Ah, voc�� �� generosa demais, mam��e! ��� Depois,
talvez, percebendo que suas palavras haviam surtido um efeito
contr��rio, ela recuou. ��� Tudo bem, mam��e. Tem algum recado
para ele? Algo como... "Desapare��a!"... ou "V�� para o inferno!'?
��� Chega, Sam! Se eu tiver alguma coisa para dizer a seu
pai, direi pessoalmente.
��� Quando?
��� Quando em voltar, claro.
Sam ficou alerta.
��� Se ele ainda estiver por aqui, n��o ��?
��� Ele ainda estar�� por a��. ��� Alline respirou fundo. ��� Acho
melhor pegar o primeiro v��o para Londres.
��� Nem pensar! ��� Sam gritou com voz estridente.
��� Por que n��o?
��� Porque eu disse a ele que voc�� s�� voltaria no final de
60
P A R A T O D A A V I D A
fevereiro. Se voltar agora, ele vai achar que est�� desesperada
para voltar ��s boas com ele!
Foi com o corpo pesado e o cora����o apertado que Alline
desceu para tomar o caf�� da manh��. Acabara prometendo a
Sam que n��o tomaria nenhuma decis��o precipitada antes de
tornar a falar com ela. Sua situa����o na ilha n��o ficara menos
ou mais delicada s�� porque o ex-marido decidira voltar para
casa. N��o entendia por que estava t��o hesitante, por que per-
mitira que as palavras de Sam a influenciassem. N��o era uma
desculpa convincente que ela queria? Pois ent��o, j�� tinha um
pretexto para interromper suas f��rias. Mentiria a Suzanne,
dizendo que, pelos filhos, sentia-se na obriga����o de conversar
com Jeff e ouvir o que ele pretendia fazer. Suzanne n��o apro-
varia, mas tamb��m n��o poderia impedi-la.
Por outro lado, n��o queria que Jeff interpretasse mal sua
volta antecipada. Ele sempre se aproveitara de suas fraquezas
e, como Sam dissera, iria mesmo pensar que ela estava ansiosa
para reatar o relacionamento. E, certamente, seria dif��cil con-
venc��-lo de que a coisa n��o era bem assim.
Alline sorriu ao pensar no que Jeff diria se soubesse o verda-
deiro motivo pelo qual ela queria deixar a ilha. N��o acreditaria.
Jamais passaria pela cabe��a dele que algum outro homem, prin-
cipalmente um mais jovem, pudesse sentir-se irresistivelmente
atra��do por ela. O mais prov��vel era que a acusasse de estar
apenas querendo vingar-se por ele t��-la trocado por outra mulher.
Mais uma vez, Alline era obrigada a concordar com Sam.
Jeff era ego��sta. E preconceituoso.
��� Sra. Sloan? Alline...
A voz masculina era vagamente familiar. Voltando-se, Alline
deparou-se com Tom Adams. Suspirou. A ��ltima coisa que que-
ria era mais problemas em sua vida. E o fato de Tom Adams
t��-la visto com Raul era uma complica����o a mais.
��� Bom dia ��� ela o cumprimentou, parando na entrada do
restaurante ao ar livre.
Tom Adams sorriu.
��� Vai tomar o caf�� da manh�� sozinha?
��� �� o jeito. ��� Ela relanceou os olhos pelo p��tio ensolarado.
��� Imagino que voc�� j�� tenha tomado caf��.
��� Infelizmente. ��� Tom pareceu encantado com o convite
velado. ��� Mas seria um prazer se...
6 1
PARA T O D A A V I D A
��� Tia Ally! Tia Ally, espere!
O chamado de J��lia fez com que ambos se voltassem. Alline
quase desfaleceu ao ver Raul e J��lia indo ao encontro deles.
De cal��a preta e camisa caqui, Raul estava irresistivelmente
atraente, e Alline olhou assustada para Tom Adams. S�� faltava
ele comentar que ela e o namorado de J��lia j�� se conheciam!
Mas antes que o casal se aproximasse, Tom Adams j�� se
despedia.
��� Vejo que j�� tem companhia para o caf�� ��� murmurou ele
num tom quase inaud��vel. ��� Talvez, possamos nos encontrar
mais tarde. Na praia?
Alline ficou aliviada. Afinal, Tom Adams n��o lhe causaria
problemas.
��� Na praia? ��� Com um sorriso agradecido, pousou a m��o
no bra��o dele. ��� Sim, na praia.
Tom sorriu satisfeito e afastou-se antes da chegada de Raul
e J��lia. Pelo olhar fulminante de Raul, Alline percebeu que
ele notara a troca de gentilezas.
��� Tia Ally, quero que conhe��a Raul. ��� J��lia fez as apre-
senta����es. ��� Raul, esta �� Alline Sloan. �� a amiga da minha
m��e que veio da Inglaterra e que voc�� deveria ter procurado
no aeroporto, lembra-se? Acho que ela n��o se importa se voc��
a chamar de tia Ally, tamb��m.
Alline ficou r��gida. Felizmente, Raul salvou-a.
��� N��o acho que a sra. Sloan tenha idade para ser sua tia,
e muito menos minha ��� ele ponderou, estendendo a m��o para
Alline, que n��o teve escolha sen��o apert��-la. Depois, com um
cinismo inacredit��vel, acrescentou: ��� Acho que j�� nos vimos
antes, sra. Sloan. Se n��o me engano, subimos juntos no ele-
vador, ontem de manh��.
Alline empalideceu e J��lia olhou-o surpresa.
��� Voc�� n��o me disse nada.
Raul deu de ombros.
��� Eu a vi, mas n��o sabia que era a sra. Sloan ��� explicou.
��� Foi quando fui ao escrit��rio para conversar com seu pai. ���
E virando-se para Alline, acrescentou: ��� O mundo �� pequeno.
��� �� mesmo. ��� Alline sentiu o sangue voltar-lhe ao rosto
e, com determina����o, retirou a m��o que Raul ainda segurava.
��� Prazer em rev��-lo.
Aparentemente, J��lia n��o percebera nada de anormal.
��� Vamos indo? ��� Ela pegou na m��o do namorado. ��� Vamos
62
PARA T O D A A V I D A
passear de barco, tia Ally. Raul dirige a empresa de aluguel
de barcos do pai.
Alline for��ou um sorriso. V��-los juntos era mais doloroso do
que imaginara.
��� Ent��o, tenham um bom dia e divirtam-se.
��� Por que n��o vem conosco, sra. Sloan?
O convite de Raul pegou-a completamente de surpresa. Ten-
tou pensar rapidamente numa recusa, mas J��lia antecipou-se.
��� Voc�� n��o est�� falando s��rio?! ��� exclamou a garota, evi-
dentemente n��o pretendendo ofender Alline. ��� Tia Ally n��o
entende nada de barcos. Duvido que ela tenha entrado em
alguma coisa maior do que um barco a motor.
��� Mais uma raz��o para ela ir! ��� Raul argumentou num
tom calmo, e J��lia mal disfar��ava a contrariedade.
��� Por que voc�� insiste em... ��� J��lia come��ou, mas Alline
interveio com firmeza.
��� Obrigada, mas prometi ir �� praia com o sr. Adams, depois
do caf��. ��� Ela sorriu com dificuldade.
��� Num outro dia, talvez ��� Raul murmurou, ignorando a agi-
ta����o da namorada. ��� Parece que voc�� vai ficar algumas semanas.
��� N��o sei ainda at�� quando...
��� N��o? ��� interrompeu Raul. ��� Certamente, n��o est�� pen-
sando em reduzir suas f��rias.
Alline estremeceu, obrigando-se a fit��-lo para n��o levantar
as suspeitas de J��lia.
��� Talvez eu tenha necessidade de voltar �� Inglaterra antes
do previsto.
Raul sorriu.
��� Espero que n��o. ��� A determina����o dele era quase as-
sustadora. ��� J��lia esqueceu de dizer que eu trouxe o convite
dos meus pais para um jantar em Finisterre, depois de amanh��.
Minha m��e est�� ansiosa para conhec��-la.
��� Bem, eu...
��� N��o ligue para ele, tia Ally. Ele gosta de brincar com as
pessoas. Mas eu tamb��m acho que voc�� n��o deve em ir embora.
Imagine, depois de esperar sabe-se l�� quanto anos para vir
nos visitar! E mam��e jamais a perdoar��, se preferir enfrentar
o inverno ingl��s em vez de ficar aqui conosco.
Alline sentiu-se encurralada. N��o tinha a menor id��ia do
que Raul pretendia, mas sabia que ele n��o estava brincando.
O que ele pretendia, ent��o? Atorment��-la? Chantage��-la?
Ou simplesmente queria que ela ficasse?
63
CAP��TULO VIII
Naquela noite Alline dormiu mal e, na manh��
seguinte, acordou cansada, com os nervos en-
rijecidos e sensa����o de n��usea.
Entrou debaixo do chuveiro e deixou a ��gua quente escorrer
por seu corpo, numa tentativa de aliviar a tens��o dos m��sculos
dos ombros e pesco��o.
Enquanto se enxugava, fez um r��pido balan��o da situa����o
em que se encontrava. Antes, ela temia ofender Suzanne e
Peter com a antecipa����o de sua volta. Agora, Raul tamb��m
resolvera defender a n��o-interrup����o de suas f��rias. E, acima
de tudo, estava Sam, pedindo-lhe para n��o estragar as f��rias,
para n��o alimentar o ego��smo de Jeff.
E havia, ainda, Tom Adams. Passara horas agrad��veis com
ele na praia, no dia anterior, por��m n��o pretendia passar as
f��rias inteiras ao lado dele. Tom era gentil, mas era muito
parecido com Jeff, em certos aspectos, e Alline n��o queria ali-
mentar esperan��as.
Estava saindo do quarto para ir tomar o caf�� da manh�� quando
o telefone tocou. Voltou correndo para atender. Devia ser Sam.
��� Al��?
��� Bom dia, Alline.
O cora����o dela deu um pulo. Era Raul.
��� O que voc�� quer?
��� Falar com voc��, ora! O que mais? ��� A voz dele tinha
um tom divertido. ��� E ent��o? Divertiu-se ontem? Eu a vi na
praia com aquele senhor. Diga-me uma coisa. Ele se autopro-
clamou seu protetor contra sujeitos indesej��veis, como eu?
Alline soltou um suspiro impaciente.
��� Que absurdo! E Tom n��o �� um senhor, pelo menos n��o
64
PARA T O D A A V I D A
no sentido pejorativo. E est�� mais de acordo com a minha
idade do que voc��.
��� N��o concordo. ��� A voz de Raul perdeu um pouco do
senso de humor. ��� Afinal, a diferen��a de idade entre n��s ��
de apenas alguns anos. ��� Ele se calou por um instante, depois
concluiu: ��� Se �� que voc�� considera importante cont��-los.
��� A diferen��a �� de dez anos, exatamente ��� afirmou Alline.
E mesmo sabendo que se odiaria por isso, perguntou: ��� Como
voc�� me viu na praia? Voc�� e J��lia n��o sa��ram de barco?
��� Sa��mos. O tempo n��o estava favor��vel e tivemos de voltar.
Mas estou surpreso com o seu interesse em descobrir a minha
idade. Isso me deixa contente. Muito contente.
Um arrepio percorreu a espinha de Alline. Ela refletiu por
alguns instantes e achou melhor ignorar o coment��rio a respeito
da idade.
��� Voc�� disse que o tempo n��o estava favor��vel? Como n��o?
Estava maravilhoso! Ensolarado e com uma brisa suave...
��� Voc�� est�� insinuando que houve outra raz��o para voltarmos?
��� N��o estou insinuando nada ��� ela disse, arrependida.
A voz sensual enrouqueceu:
��� Talvez esteja pensando que voltei s�� para v��-la.
��� N��o. ��� Alline umedeceu os l��bios com a ponta da l��ngua.
��� Eu jamais pensaria uma coisa dessas.
��� Talvez n��o. Mas n��o telefonei para discutir o que acon-
teceu ontem. Quero saber quais s��o seus planos para hoje.
��� Ho... Hoje? ��� Alline gostaria de ter uma resposta. ���
Eu... n��o tenho certeza...
��� Obviamente n��o tem nada planejado ��� Raul interrompeu
com rispidez. ��� Vou busc��-la dentro de... digamos, uma hora?
��� Voc�� n��o pode.
��� Por que n��o?
��� N��o quero ir a lugar nenhum com voc��.
��� N��o? ��� ele a desafiou.
��� N��o. J��lia...
��� J��lia vai passar o dia no sal��o de beleza ��� ele informou.
��� Parece que quer ficar bonita para o jantar de amanh��.
��� Talvez, ent��o, seja melhor eu marcar uma hora para
mim tamb��m... j�� que voc�� insiste que eu v��. ��� Ela respirou
fundo. ��� Por que fez isso comigo? N��o imaginou que eu me
sentiria mal?
65
PARA T O D A A V I D A
��� Imaginei, sim. ��� Depois, Raul completou num tom mais
incisivo: ��� N��o quero que voc�� volte �� Inglaterra. Quero que
fique aqui.
Alline come��ou a tremer.
��� Por qu��? Por qu��?
��� Depois eu conto. Leve um chap��u. O sol �� inclemente,
na ��gua.
��� Eu n��o posso...
��� Esteja no port��o ��s nove horas ��� ordenou Raul, ignorando
os protestos dela. ��� N��o me deixe esperando.
Ele desligou e Alline n��o teve tempo de dizer que n��o queria
ir. Tamb��m n��o podia telefonar desmarcando, pois n��o tinha
a menor id��ia de onde ele estava.
Ela gemeu, consternada. Aquilo n��o podia estar acontecendo!
Com um suspiro, olhou-se no espelho e decidiu que precisava
trocar de roupa. A camiseta creme e o short branco, definiti-
vamente, j�� tinham visto melhores dias. Tamb��m sempre tivera
consci��ncia de seus quadris generosos. Mas as pernas eram
bonitas. Talvez elas desviassem a aten����o dele dos...
Calma!
Ela balan��ou freneticamente a cabe��a. Estava delirando!
N��o, n��o iria ao encontro de Raul. Era del��rio, sim, porque
ficaria bem quieta no quarto at�� a hora do almo��o. At�� que
n��o tivesse mais probabilidade de encontr��-lo.
Passou a m��o pela nuca. Estava ��mida. S�� de falar ao te-
lefone com ele, o corpo dela reagia dessa maneira. Raul a re-
duzira a um ser sem vontade pr��pria, incapaz de controlar-se.
Isso tinha de acabar.
Arrancando a roupa, Alline entrou no chuveiro novamente.
Abriu a torneira de ��gua fria e ficou parada, at�� come��ar a
tremer. Depois de enxugar-se, vestiu uma camiseta regata e
saia de algod��o estampado.
O telefone tocou de novo.
Ela encostou-se na cama, olhando para o aparelho quase com
m��rbida fascina����o. S�� porque poderia ser Sam, ela atendeu.
��� Alline?
Tom!
Alline reprimiu um grito de frustra����o.
��� Ol��, Tom ��� conseguiu dizer. ��� Desculpe, mas n��o posso
falar agora. Estou entrando no banho.
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PARA T O D A A V I D A
��� Oh, n��o quero atrapalhar. ��� Ele era irritantemente com-
preensivo. ��� Eu tamb��m n��o tomei banho ainda. Dormi demais.
��� Eu...
��� S�� liguei para saber se poder��amos fazer alguma coisa
hoje. Ainda n��o conhe��o a ilha, e parece que voc�� tamb��m
n��o. Pensei em alugar um carro...
��� N��o posso. ��� Alline sabia que se arrependeria, mas a
��ltima coisa que queria era passar um dia inteiro com Tom
Adams. Fingindo n��o ouvir a voz da consci��ncia, acrescentou
imprudentemente: ��� Eu j�� assumi um compromisso e vou sair
com outra pessoa.
��� �� mesmo? ��� A voz dele n��o disfar��ava o desapontamento.
��� Algu��m que eu conhe��a?
Alline apertou os l��bios. Realmente, Tom era muito parecido
com Jeff.
��� Eu... N��o. Eu preciso desligar.
��� Claro... bem... divirta-se.
Soltando um longo suspiro, ela desligou o telefone. A situa����o
agravara-se. Agora, tinha dois homens para evitar, e de novo
via-se encurralada.
Tr��s, com Jeff, pensou, desolada. Sem falar na necessidade de fazer malabarismos para esconder tudo de Suzanne.
Que enrascada! Uma coisa era certa. N��o poderia passar
uma manh�� inteira a s��s com o futuro marido de J��lia.
Suspirando, saiu para o terra��o e contemplou o cen��rio des-
lumbrante que se descortinava �� sua frente. Era magn��fico!
Apertou os l��bios. Estava mesmo decidida a passar um dia
inteiro trancada no quarto, s�� porque era t��mida e insegura
demais para enfrentar uma situa����o dif��cil?
N��o!
Voltando para o quarto, pegou a bolsa e os ��culos escuros
e saiu. Tomaria o caf�� da manh��, depois decidiria o que fazer.
Com passos decididos, entrou no elevador, mas quando a
porta se abriu no sagu��o, j�� n��o se sentia mais t��o segura.
��� Ally!
A voz de Suzanne sobressaltou-a, mas ela conseguiu voltar-
se para a amiga com express��o menos assustada.
��� Bom dia, Suzanne.
��� Bom dia. Voc�� est�� ��tima e j�� est�� ficando bronzeada.
��� Parece que sim ��� respondeu Alline, percebendo a an-
siedade de Suzanne. ��� Aconteceu alguma coisa?
67
P A R A T O D A A V I D A
��� N��o, nada. ��� Suzanne for��ou um sorriso. ��� Na verdade,
eu ia justamente pegar o elevador para ir ao seu quarto. Quero
pedir-lhe um favor.
Alline sentiu uma contra����o no est��mago.
��� Claro... Do que se trata?
��� Ou��a primeiro, antes de comprometer-se ��� aconselhou
Suzanne, pousando a m��o no bra��o de Alline. ��� O que acha
de passar a manh�� com Raul?
��� Com Raul?
Um pouco da consterna����o que sentia devia ter se refletido
em seu rosto, pois Suzanne apressou-se em explicar:
��� Eu sei. Parece estranho, mas Raul acredita que voc�� vai adorar
o passeio. J��lia deveria ir junto, mas ela j�� estava com hora marcada no cabeleireiro, e eu e Peter estamos lotados de trabalho.
Alline umedeceu os l��bios entreabertos. Era s�� o que faltava!
��� Foi Raul quem lhe pediu para falar comigo?
Suzanne hesitou por um instante, depois confirmou com um
gesto de cabe��a.
��� N��o podia ser diferente, n��o? Ele mal a conhece. J��lia
me contou que voc��s conversaram rapidamente no elevador,
um dia destes. E que ontem voc��s se encontraram aqui no
sagu��o, quando eles sa��am para o passeio de barco. ��� De
novo, ela hesitou. ��� Bem... voc�� sabe como �� a fam��lia dele...
Tudo deve ser feito formalmente.
Alline n��o sabia o que dizer. Ou melhor, sabia, mas n��o
podia. Decididamente, ela subestimara Raul.
��� Olhe, querida, Raul �� um amor de pessoa ��� Suzanne
prosseguiu, evidentemente acreditando que Alline precisava
de um pouco de encorajamento. ��� Tenho certeza de que voc��
vai adorar conhecer a ilha. E estar�� me fazendo um favor. Eu
n��o gostaria de ofend��-lo.
��� N��o. ��� A voz de Alline soou seca. Depois de tudo que
Suzanne lhe contara, n��o estava nem um pouco surpresa. ���
Sim, eu entendo.
��� Eu sabia que voc�� entenderia. ��� Suzanne afagou o bra��o
da amiga. ��� Veja o lado positivo da situa����o. Muitas mulheres
ficariam lisonjeadas com a aten����o de um jovem bonito e char-
moso como Raul. Afinal, voc�� �� apenas a tia da namorada dele!
Eu n��o sou tia da namorada dele!, Alline teve vontade de
gritar. E voc�� n��o sabe de nada! Se soubesse, jamais pensaria em sugerir uma coisa dessas!
68
PARA T O D A A V I D A
��� O que voc�� me diz?
Suzanne a olhava ansiosamente, e Alline n��o sabia como re-
cusar. Tamb��m n��o sabia se queria recusar. N��o sabia mais nada.
��� Eu... ��� Ela verificou as horas no rel��gio de pulso. J��
passava de oito e meia. ��� Eu ainda n��o tomei caf��.
��� Sem problema. ��� Enla��ando-a pela cintura, Suzanne
conduziu-a at�� o restaurante ao ar livre. ��� Vou pedir para
Martin servi-la imediatamente. O que voc�� quer? Ovos com
bacon? Panquecas?
��� Torradas, apenas ��� respondeu Alline, num fio de voz.
Tacitamente, ela acabara de aceitar o convite de Raul. E com
isso, mais uma vez, ele conseguira seu intento.
C��us, e pensar que apenas uma semana atr��s, seu maior
problema era decidir que roupa usar na viagem! Desde ent��o,
parecia que embarcara numa montanha-russa sem fim...
Alline terminava de comer a torrada com gel��ia quando
avistou Raul entrando no restaurante. De camiseta regata e
short azuis, ele parecia confortavelmente familiar, e Alline sen-
tiu a garganta seca.
Um furtivo olhar ao rel��gio comprovou a pontualidade dele.
Nove horas em ponto.
��� Ol�� ��� ele a cumprimentou, puxando uma cadeira e sen-
tando-se. ��� Est�� pronta?
A chegada de Raul atraiu olhares curiosos. Embara��ada,
Alline olhou ao redor.
��� E n��o deveria estar? ��� respondeu com impaci��ncia. ��� Diga-
me, voc�� costuma recorrer a terceiros para arrumar-lhe encontros?
Raul sorriu maliciosamente.
��� Este nosso passeio �� um encontro?
Alline corou. Lamentava n��o ter mais experi��ncia com o
sexo oposto.
��� Estou pronta. Vamos.
��� Vamos. ��� Ele se levantou. ��� Gosto de mulheres que
sabem o que querem e correm atr��s desse objetivo.
Alline lan��ou-lhe um olhar furioso.
Sabendo que jamais levaria vantagem sobre ele, levantou-se
sem nenhum coment��rio. Furiosa, saiu do restaurante.
O convers��vel creme que vira com Carlos no aeroporto estava
estacionado na frente do hotel. Evidentemente, depois de re-
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P A R A T O D A A V I D A
ceber o aval de Suzanne para passear com a "tia da namorada", Raul n��o precisava deixar o carro nos port��es laterais.
��� �� seu? ��� ela apontou para o carro.
��� N��o. �� do Carlos. ��� Ele abriu a porta do passageiro. ���
Voc�� gosta?
Alline deu de ombros e n��o respondeu, fazendo quest��o de
n��o disfar��ar o mau humor.
Raul conteve um sorriso.
��� Voc�� deveria ter vindo de short ��� comentou, dando a
volta para sentar-se ao volante. O bra��o dele ro��ou no dela.
��� Tudo bem. Talvez possamos achar algo mais adequado para
voc�� vestir.
��� N��o preciso de nada mais confort��vel. ��� Aonde vamos?
Raul ligou o motor do carro e desceu a pequena alameda
do hotel.
��� Voc�� deve imaginar. Eu disse para trazer um chap��u.
��� Talvez lhe interesse saber que eu n��o pretendia sair com
voc�� ��� Alline declarou quase com rispidez, rezando para que
seu cora����o n��o batesse com tanta for��a e para que suas m��os
parassem de suar. ��� E n��o vou usar chap��u.
Raul balan��ou os ombros.
��� Pois deveria. ��� Ele fez uma breve pausa. ��� E eu sabia
que voc�� n��o viria. Por isso, pedi para Suzanne falar com voc��.
��� Para chantagear-me? ��� Alline sabia que estava exage-
rando, mas n��o conseguia conter-se. ��� N��o se envergonha?
Raul suspirou profundamente.
��� Eu n��o sabia que voc�� reagiria assim. ��� Ele parou no
acostamento e olhou para ela. ��� Quer voltar?
��� N��o... n��o podemos.
��� Podemos, sim. E vou lev��-la de volta. ��� Ele comprimiu
os l��bios. ��� N��o quero que diga que precisei chantage��-la
para sair comigo.
Alline fechou os olhos.
��� Eu n��o disse isso.
��� Disse, sim.
��� Bem, n��o foi o que eu quis dizer. N��o literalmente. ���
Tornou a abrir os olhos. ��� E se voltarmos, Suzanne ter�� raz��o
em pensar que eu o ofendi.
��� E ofendeu. Mas eu arranjo uma desculpa, se �� o que
voc�� quer.
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PARA T O D A A V I D A
Alline apertava a al��a da bolsa.
��� Ora, voc�� sabe muito bem o que eu quis dizer... o que
eu estava tentando dizer. Eu n��o quis ofend��-lo... mas n��o
dever��amos estar fazendo isto.
Os olhos de Raul escureceram.
��� Isso significa que voc�� n��o quer voltar?
��� N��o. Sim. ��� Alline fitou-o, a express��o franca e vulne-
r��vel. ��� Oh, acho que voc�� pensa que sou idiota!
��� N��o. Apenas... incrivelmente sexy. E inocente demais.
Sexy! Alline desviou o olhar, e encarando o sil��ncio dela
como consentimento, Raul voltou para a estrada.
Por mais imprudente que fosse seu comportamento, Alline
estava decidida a aproveitar aquela manh�� ao lado de Raul.
Se n��o estivesse t��o empenhada na luta contra as pr��prias
emo����es, teria adorado o trajeto at�� a marina. L�� estavam
ancorados muitos dos barcos da empresa do pai de Raul, ex-
plicou ele. Era a primeira vez que Alline sa��a do hotel desde
que chegara �� ilha, e estava encantada com tanta beleza. In-
felizmente, por��m, a ansiedade com rela����o ao que estava fa-
zendo sufocava todo o encantamento.
Apesar da aprova����o de Suzanne, ela n��o conseguia relaxar.
E para piorar, de repente arrependeu-se por n��o ter ligado
para Sam antes de deixar o hotel. Embora ainda sem nenhuma
decis��o tomada, sentia-se na obriga����o de manter-se em contato
constante com a filha.
��� Em que voc�� est�� pensando?
A pergunta de Raul arrancou-a do devaneio.
��� Em nada.
Raul lan��ou-lhe um olhar enviesado.
��� Tem certeza de que n��o quer voltar?
��� Tenho. ��� Alline devolveu-lhe um olhar indignado. ��� Eu
n��o penso em mais nada, al��m de voc�� ��� ironizou.
Raul sorriu.
��� Fico feliz por saber.
��� Convencido! ��� Ela for��ou um sorriso. ��� Na verdade, eu
estava pensando em Jeff.
��� Seu ex-marido? ��� Ele lembrava de tudo. ��� Por que n��o
me sinto lisonjeado?
��� N��o seja sarc��stico! N��o estou pensando nele da maneira
que voc�� est�� imaginando.
71
P A R A T O D A A V I D A
��� Que maneira acha que estou imaginando?
��� Oh, esque��a! ��� Depois, compreendendo que, de certa
forma, devia-lhe um esclarecimento, disse: ��� Ele voltou.
��� Voltou?
A estrada come��ava a ficar mais estreita, descendo em cur-
vas para o n��vel do mar, onde uma pequena marina abrigava
diversos barcos, de diferentes tamanhos. Havia algumas pes-
soas no cais, mas a maioria dos ancoradouros estava vazia.
��� Voltou? ��� Raul repetiu, depois de estacionar o carro. ���
Como voc�� sabe?
��� Sam me telefonou. Minha filha, lembra-se?
��� Claro que me lembro. Quando ela telefonou?
��� Ontem de manh��. N��o que isso seja de seu interesse,
mas voc�� perguntou em que eu estava pensando, e eu respondi.
Os l��bios de Raul se curvaram.
��� Posso perguntar se voc�� sabia que ele ia voltar?
��� N��o, eu n��o sabia de nada. Nem imaginava. O relacio-
namento dele com Kelly era muito s��lido.
��� O seu relacionamento com ele tamb��m era ��� Raul re-
bateu e Alline prendeu a respira����o.
��� N��o, n��o era. ��� Ela hesitou. ��� Eu tinha apenas dezoito
anos quando me casei.
��� Mas voc�� deve ter acreditado que o casamento seria
s��lido. Ou...
��� Eu estava gr��vida ��� Alline declarou com o rosto corado
e os olhos brilhando de constrangimento. ��� Certamente, voc��
vai reavaliar sua opini��o a meu respeito.
Raul lan��ou-lhe um olhar impaciente e tirou a chave da igni����o.
��� Vamos ��� disse ele, abrindo a porta do carro e saindo
para abrir o porta-malas.
Alline viu-o pegar uma cesta de piquenique.
��� Venha comigo.
Alline seguiu-o em sil��ncio. Atravessaram o pequeno cais,
caminhando sobre ripas de madeira. Ela caminhava com cui-
dado, lamentando n��o ter cal��ado t��nis em vez de sand��lias
de tiras e saltinho, que lhe escapavam dos p��s.
Parou para ajustar as tiras, e quando levantou a cabe��a
Raul tinha desaparecido. Parecia que tinha se evaporado! Alline
olhou ao redor, confusa, sem saber que dire����o seguir.
��� Alline!
72
P A R A T O D A A V I D A
O som da voz assustou-a. Girou nos calcanhares, incerta de
onde vinha o chamado. Ent��o, avistou-o. Ele estava no conv��s
de um veleiro luxuoso, cujos mastros pareciam grandes demais
para uma pessoa manejar sozinha.
Entretanto, ao girar o corpo, o salto de uma das sand��lias
ficou preso entre as ripas, e ela perdeu o equil��brio. Raul soltou
um improp��rio, e com agilidade correu para o cais e segurou-a
firmemente, impedindo-a de cair na ��gua.
��� Que loucura! ��� ele exclamou e, erguendo-a nos bra��os,
levou-a para o barco.
Em choque, Alline n��o protestou. No conv��s, Raul colocou-a
no ch��o, mas ela ainda tremia.
��� Que id��ia, usar sand��lias de salto! ��� Tocando-lhe o quei-
xo, ele a obrigou a encar��-lo.
��� Eu n��o sabia que teria de caminhar na corda bamba. ���
A culpa n��o foi minha.
��� Ora, Alline! At�� uma crian��a sabe andar em um p��er de
madeira!
��� Ent��o, obviamente, a minha intelig��ncia n��o me permite
tal fa��anha ��� ela protestou, sentindo o conv��s movendo-se sob
seus p��s. ��� Al��m do mais, eu n��o sabia que ir��amos sair de barco.
��� Maluca! ��� ele resmungou baixinho, ro��ando os l��bios
nos dela.
��� N��o... ��� Ela tentou empurr��-lo, mas a l��ngua de Raul
j�� buscava a vulnerabilidade de sua boca.
Os sentidos de Alline mergulharam numa nebulosa. Era
inevit��vel. Ainda n��o recuperado do susto, seu cora����o dispa-
rou, as batidas ecoando nos ouvidos, o sangue latejando, fer-
vilhando, queimando-lhe a pele sens��vel.
Ela precisava cont��-lo, bater os punhos fechados no peito dele,
defender-se daquela investida totalmente inadequada. Mas n��o
fez nada. Absolutamente nada. N��o podia. Num momento de
rara honestidade, no tocante ��quele homem, era obrigada a re-
conhecer sua pouca ou nenhuma capacidade de resist��ncia.
Enquanto a l��ngua explorava-lhe a boca, as m��os percor-
riam-lhe avidamente as costas, tocando em cada ponto sens��vel
de sua espinha, acariciando-lhe as n��degas, puxando-a de en-
contro ao corpo r��gido.
A excita����o de Raul era evidente. Rendendo-se, amoldou o
corpo ao dele e, por alguns momentos, perdeu completamente
73
PARA T O D A A V I D A
o controle. O modo como ele a beijava, como a acariciava, como
pressionava os quadris contra os seus, expulsava todos os pen-
samentos da cabe��a de Alline. S�� queria que Raul continuasse
provando que ela era ainda era uma mulher desej��vel. Mas
quando Raul introduziu a m��o sob sua saia, ela se deu conta
de que estavam no conv��s do iate, �� vista de quem passasse
pelo cais. Como que despertando de um sonho, ela o empurrou.
��� Pelo amor de Deus! ��� Com m��os tr��mulas, ajeitou a
saia, e pelo olhar espantado de Raul, percebeu que ele tamb��m
se esquecera de onde estavam.
��� Desculpe-me ��� ele murmurou, dando-lhe as costas. ���
Voc�� deve pensar que sou um animal.
Alline estremeceu.
��� N��o... n��o... ��� apressou-se Alline em dizer com voz enron-
quecida. Depois, apoiou-se no balaustre. ��� Quer que eu v�� embora?
��� Voc�� sabe o que eu quero e n��o �� nada disso. ��� Ent��o,
como se n��o suportasse continuar com a conversa, respirou
fundo e disse num tom descontra��do: ��� Bem-vinda a bordo do
Isabella. Foi minha m��e quem escolheu o nome. ��� Ap��s uma
breve pausa, acrescentou: ��� Vou levantar ��ncora. Estamos
perdendo a melhor hora do dia.
Alline observava todos os movimentos de Raul, que com
precis��o e habilidade cuidava dos preparativos para iniciar o
passeio. Com o cora����o aos saltos, ela o olhava enlevada, fas-
cinada. N��o! N��o posso estar apaixonada por ele!, pensou es-tarrecida. Isso, sim, seria uma grande estupidez!
Passava das duas horas quando Raul atracou o Isabella no cais.
O passeio demorara muito mais do que Alline imaginara. Depois
do incidente no p��er e da cena do beijo, fora como se, de repente,
um clima de crua realidade pairasse sobre eles. Raul comportara-se
como se nada tivesse acontecido. N��o fizera nenhum coment��rio
sobre o epis��dio no conv��s, e Alline ficara com a sensa����o de que
apenas imaginara o desejo contido nos beijos e na voz dele.
N��o fosse isso, o dia teria sido perfeito. Raul pilotara o iate
com maestria, provando que n��o exagerara ao dizer que cos-
tumava passar os ver��es como ajudante nos barcos do pai.
Para algu��m que nunca pisara numa embarca����o antes, Alline
portara-se maravilhosamente bem. Encantara-se com as aves ma-
r��timas e os peixes em seus ambientes naturais. Raul era um
74
P A R A T O D A A V I D A
guia perfeito. Passara o tempo todo apontando lugares pitorescos
ao longo da costa, chamando-Ihe a aten����o para as diversas for-
ma����es rochosas, discutindo as possibilidades de encontrarem na-
vios naufragados entre as rochas e os recifes de coral.
Almo��aram �� uma hora, ancorados numa caverna deserta,
que parecia intocada. E quando Raul sugeriu que mergulhas-
sem, ela quase sucumbiu �� tenta����o. Segundo ele, havia alguns
mai��s no iate, justamente para tais eventualidades. Mas, ou-
vindo a voz da raz��o, ela decidiu recusar o convite.
E ao ouvir o som caracter��stico na ��gua, quando Raul pulou,
resistiu ao impulso de apoiar-se no bala��stre para v��-lo nadar
naquelas ��guas calmas e l��mpidas.
Aparentemente, tudo estava bem, mas sob o clima de ca-
maradagem, alguma coisa mudara entre ambos.
Agora, por��m, estavam de volta �� marina, e nada ficara
esclarecido. Antes assim, pensou Alline. N��o havia futuro para o relacionamento deles e, provavelmente, Raul tamb��m chegara
a essa conclus��o.
75
CAP��TULO IX
Alline estava no passadi��o quando Raul voltou a
bordo, depois de amarrar as cordas no ancora-
douro. Estava descal��a. N��o queria correr riscos desnecess��rios.
��� J�� est�� pronto? ��� ela perguntou, meio ofegante.
��� Como sempre. E voc��?
��� Eu? ��� A voz dela subiu uma oitava, e ela fez um esfor��o
para control��-la. ��� Claro. Por que n��o estaria?
��� Voc�� me perdoa pelo embara��o que lhe causei?
��� Embara��o? ��� Alline entortou os l��bios, denotando d��vida.
��� Acho que n��o entendi.
��� Acho que entendeu, sim. ��� As narinas de Raul se dila-
taram. ��� Apesar do que deve estar pensando a meu respeito,
n��o tenho o h��bito de tentar seduzir minhas... amigas, acom-
panhantes... d�� o nome que quiser... sob as vistas de quem
tiver o trabalho de olhar.
Alline balan��ou a cabe��a.
��� N��o tem import��ncia...
��� Tem, sim ��� ele interrompeu. E quando Alline tentou
passar, bloqueou-lhe a passagem. ��� N��o finja que n��o enten-
deu. Por que me tratou como se eu fosse um estranho, durante
as horas que passamos juntos?
Alline arregalou os olhos.
��� Eu o tratei como a um estranho? Eu apenas o tratei
como voc�� me tratou.
��� Eu? ��� A surpresa de Raul parecia aut��ntica. ��� E como
eu deveria agir? ��� Ele passou a m��os pelos cabelos pretos.
��� Voc�� deixou bem claro, em v��rias ocasi��es, que meu com-
portamento a desagrada. E hoje, desagradou a mim tamb��m.
Alline umedeceu os l��bios.
7 6
PARA T O D A A V I D A
��� Acho melhor irmos embora. Suzanne deve estar preocu-
pada. Mas... agrade��o pela oportunidade que voc�� me ofereceu.
��� Ela sorriu. ��� Foi a primeira vez que andei de barco. O
passeio foi maravilhoso.
��� Foi mesmo?
��� Para mim, foi.
��� Apesar de eu ter estragado tudo?
��� N��o havia nada para estragar ��� ela declarou com sur-
preendente seguran��a. Depois, passando por Raul, olhou-o por
sobre o ombro. ��� Vamos?
Ele pegou a cesta de piquenique e seguiu-a em dire����o ao
cais, e depois at�� o estacionamento.
O caminho de volta foi feito em sil��ncio. Raul parou o carro
na frente do hotel, e antes que Alline abrisse a porta, segurou-a
pelo bra��o.
��� Me perdoe. ��� A voz grave era quase t��o perturbadora
quanto o calor da m��o m��scula na pele dela. ��� N��o sei o que
me aconteceu. Se servir de consolo, saiba que voc�� desperta
os instintos mais primitivos em mim.
��� Ent��o... ent��o �� melhor n��o nos vermos mais. ��� Alline
pousou a m��o na dele, numa tentativa de afast��-la. Os olhares
se encontraram, o de Raul, sensual, o de Alline, desafiador.
��� Voc�� n��o pretende... repetir a ofensa, n��o ��?
��� Vamos nos ver de novo ��� Raul afirmou com determina����o.
��� Amanh�� �� noite, em minha casa. ��� Ele endireitou-se no
banco. ��� Espero voc��.
Como um aut��mato, Alline desceu do carro e subiu os de-
graus. Suas pernas estavam t��o tr��mulas que parecia que n��o
a sustentariam. A sensa����o do olhar de Raul em suas costas
era desconcertante. No sagu��o, deparou-se com J��lia.
��� Ei-los de volta! ��� exclamou a garota, visivelmente irritada.
A ��ltima coisa que Alline desejava era um confronto com
J��lia. Mas esta limitou-se a olhar em dire����o �� porta de entrada
e perguntar num tom de lam��ria:
��� Onde est�� Raul?
��� Eu... oh, ele foi embora... acho.
��� Foi embora? ��� J��lia encarou-a com olhos arregalados. ���
Ah, tia Ally, n��o me diga que voc�� n��o o convidou para entrar.
Alline abriu a boca para dizer alguma coisa, mas a chegada
de Suzanne salvou-a do constrangimento de n��o ter uma resposta.
77
P A R A T O D A A V I D A
��� Ally! ��� Suzanne sorriu. ��� Voc�� est�� com cara de quem
se divertiu bastante!
��� Estou? ��� Alline n��o tinha tanta certeza, mas achou me-
lhor concordar. ��� N��o vejo a hora de tomar um banho. ���
Abanou-se com um gesto teatral. ��� Est�� quente demais.
��� Estou vendo. ��� Suzanne j�� n��o parecia t��o entusiasmada.
��� Voc�� deveria ter levado chap��u.
��� Raul foi embora, mam��e ��� interveio J��lia num tom la-
c��nico, e imediatamente Suzanne olhou ao redor.
��� J�� foi embora? ��� ela perguntou ansiosa, e Alline percebeu
que era Suzanne, e n��o a filha, quem parecia mais preocupada.
��� Onde ele est��? Ele n��o a trouxe, Ally?
Alline sentiu vontade de gritar.
��� Trouxe, mas... imagino que ele tenha pensado que... j��
que vai ver voc��s amanh�� �� noite...
N��o concluiu a frase, esperando que m��e e filha entendessem
o que estava tentando dizer. Suzanne, por��m, n��o se conformava.
��� N��o �� pr��prio de Raul fazer isso. ��� O cenho franzido
refletia sua apreens��o. ��� Est�� tudo bem, n��o est��? Voc��s dis-
cutiram ou coisa parecida? Depois do que eu lhe disse...
��� Ora, mam��e! ��� J��lia fez um gesto impaciente. ��� Tia
Ally deve ter raz��o. Voc�� sabe como �� a m��e de Raul. Aposto
que pediu para ele voltar logo, s�� para ajud��-la. Afinal, o fi-
lhinho ficou longe dos olhos da mam��e mais de cinco horas!
��� Eu gostaria que voc�� n��o fosse t��o sarc��stica, J��lia! ���
Suzanne lan��ou �� filha um olhar de reprova����o. ��� N��o pode
criticar Isabel por ser t��o ligada ao filho. N��o se esque��a que
ela j�� enfrentou muitas dificuldades na vida.
��� Tem raz��o. ��� J��lia continuava ir��nica. ��� Realmente,
deve ter sido um tremendo sofrimento casar-se com um milio-
n��rio e viver em Finisterre durante todos este anos. Eu morro de pena dela, coitadinha!
��� J��lia! ��� esbravejou Suzanne. ��� N��o admito que fale
assim de sua futura sogra. Voc�� sabe muito bem que nestes
��ltimos meses ela tem passado mais tempo no hospital do que
em casa. Ela teve c��ncer, minha filha! Certamente, voc�� n��o
vai regular o tempo que ela passa com o filho!
��� Ela tem mais dois filhos, al��m de Raul. Nunca vejo Carlos
pendurado na saia da m��e.
��� Ocorre que Carlos �� t��o ego��sta quanto voc�� ��� acusou
78
PARA T O D A A V I D A
Suzanne j�� impaciente. ��� Agora, se n��o tiver nada melhor
para falar, sugiro que v�� ajudar seu pai. Ele est�� na adega
com Jos��, conferindo o estoque de vinhos.
J��lia bateu as m��os nos quadris, num gesto de revolta.
��� Ah! Eu acabei de sair do cabeleireiro!
��� E da��?
Suzanne encarou-a com express��o de poucos amigos, e J��lia
afastou-se resmungando. Alline fez men����o de segui-la, mas
Suzanne segurou-a pelo bra��o.
��� Eu gostaria de trocar duas palavras com voc��, Ally ���
disse ela, redespertando a apreens��o de Alline. ��� Acho que
voc�� tem alguma coisa para me contar. N��o tem?
Depois do jantar, Alline decidiu dar um passeio. N��o estava
disposta a ficar trancada no quarto, pensando em tudo que
acontecera pela manh��. Tampouco pretendia falar sobre o as-
sunto com quem quer que fosse, muito menos com Suzanne,
que se mostrava preocupada com rela����o a Jeff.
Jeff.
Alline respirou fundo e tirou as sand��lias assim que pisou
na areia. Era sobre Jeff que Suzanne queria conversar. Sam
telefonara enquanto ela estava fora com Raul, e a filha n��o
hesitara em relatar tudo o que estava acontecendo em casa.
Sam imaginara que a m��e j�� tivesse contado tudo �� amiga.
Da��, a preocupa����o de Suzanne.
Para que Suzanne n��o desconfiasse de nada sobre ela e
Raul; Alline fora mais do que eloq��ente a respeito de seus
sentimentos. No fim da conversa, Suzanne estava convencida
de que a amiga n��o pretendia reconciliar-se com o ex-marido.
E assim, n��o haveria mais chances de Alline usar Jeff como
desculpa para voltar �� Inglaterra.
Naturalmente, Suzanne apoiou a decis��o dela.
��� Esse homem �� um verme ��� dissera Suzanne, afagando
o bra��o de Alline. ��� Samantha concorda comigo. Acho que
voc�� deve ignorar tudo o que ele disser para as crian��as, para
que fiquem do lado dele. E agrade��a aos c��us por voc�� n��o
estar l�� para juntar os cacos.
Juntar os cacos.
As palavras de Suzanne voltaram �� mente de Alline. Apesar
de tudo que Jeff a fizera passar, n��o vibrava com o sofrimento
dele. Afinal, era o pai de Sam e Ryan.
79
PARA T O D A A V I D A
Ela deixou escapar um longo suspiro. N��o queria pensar em
Jeff. N��o naquele momento. Talvez, na manh�� seguinte, tivesse
��nimo para ponderar a situa����o com mais seriedade. Naquela
noite, por��m, queria fugir dos problemas, alguns dos quais pro-
vocados por ela mesma, e deliciar-se com o vento nos cabelos e
com o som relaxante das ondas quebrando na areia, sob seus p��s.
As luzes que iluminavam os degraus tinham ficado para
tr��s. Dando meia volta, ela decidiu retornar ao hotel. De re-
pente, teve a impress��o de que n��o estava sozinha. N��o que
tivesse ouvido alguma coisa, era mais a sensa����o da presen��a
de outra pessoa, de outra respira����o...
Sentiu medo. Talvez algu��m a tivesse visto saindo do hotel
e a seguira, mantendo dist��ncia at�� certificar-se de que esta-
riam isolados. Tudo era poss��vel.
S�� havia um jeito de descobrir. Tentando convencer-se de
que tudo n��o passava de imagina����o, ou que poderia ser um
outro h��spede, at�� mesmo Tom Adams, ela olhou apreensiva-
mente por sobre o ombro.
Seu cora����o deu um pulo. N��o era Tom. Respirando fundo,
voltou-se para encarar seu perseguidor.
��� O que est�� fazendo aqui?
��� Seguindo voc��. O que mais poderia ser? ��� Raul respondeu
num tom insolente. E colocando as m��os nos bolsos traseiros
da cal��a, aproximou-se. ��� Voc�� n��o deveria andar por a�� so-
zinha. N��o �� muito prudente.
��� Posso ser abordada? ��� Ela ergueu os ombros. ��� Tem
raz��o. Posso mesmo.
��� N��o precisa ter medo de mim. Pensei que tiv��ssemos
resolvido essa quest��o hoje de manh��. J�� pedi desculpas. Que
mais quer que eu fa��a?
��� Que tal ficar longe de mim? ��� Alline sugeriu, reconhe-
cendo que n��o estava sabendo lidar com o problema.
��� Voc�� sabe que n��o posso fazer isso. ��� Raul se voltou
para observar o horizonte mal iluminado pela lua, quase en-
coberta pelas nuvens. ��� Eu n��o pretendia vir aqui esta noite.
Sa�� de casa sem rumo certo.
��� E ent��o veio para c��.
��� Sim.
��� Para ver J��lia?
��� N��o. Para ver voc��. Ser�� que n��o entendeu ainda? Eu
8 0
PARA T O D A A V I D A
precisava v��-la. Eu n��o estava convencido do seu perd��o, da
sua compreens��o. Agora, vejo que estava certo.
Alline mordiscou o l��bio inferior. A tenta����o de olh��-lo sem
que ele percebesse era irresist��vel. E mesmo sabendo que era
loucura, n��o conseguia parar de fit��-lo.
Ele estava todo de preto. Camisa de seda e cal��a justa, que
real��ava as pernas musculosas.
Nervosa, obrigou-se a desviar o olhar. Tinha de voltar para
o hotel. Se ele a seguisse, paci��ncia. Mas n��o podia ficar mais
nenhum minuto ali. N��o queria correr riscos.
��� Voc�� facilitou as coisas para mim ��� Raul murmurou.
Ela, que ensaiava um primeiro passo para afastar-se, voltou
�� estaca zero.
��� Como assim?
��� Vindo para c�� ��� Raul explicou. ��� Isso mesmo, Alline.
Saindo para passear na praia, foi isto que eu quis dizer. E foi
realmente uma sorte v��-la saindo do hotel.
��� Sorte?
Ela tentava mostrar-se sarc��stica, mas n��o podia negar que
estava come��ando a assustar-se com o rumo dos acontecimen-
tos. Tentou se afastar, por��m Raul pediu:
��� N��o v��. Por favor.
Alline n��o se atrevia a olh��-lo.
��� Preciso ir.
��� Por qu��?
��� Voc�� sabe por qu�� ��� ela respondeu num murm��rio. ���
Voc�� nem deveria estar aqui.
��� Eu sei porque acha que deve ir, mas est�� enganada. N��o
estamos fazendo nada de errado. Eu n��o a estou tocando. Nem
for��ando-a a tocar-me.
��� Mas voc�� quer.
��� Sim, quero ��� ele confirmou. ��� N��s dois queremos. Ape-
nas voc�� n��o quer admitir.
��� N��o �� verdade.
��� Claro que �� verdade. ��� O sorriso dele era devastador.
��� N��s dois queremos ficar juntos. Voc�� me quer tanto quanto
eu a voc��, Ally. Quando vai reconhecer a verdade?
��� Nunca.
Tr��mula, Alline cruzou os bra��os, num gesto de autoprote-
����o, embora n��o existisse prote����o contra Raul. Sim, ela o
queria. Como n��o admitir? Era o homem que ela sempre...
8 1
PARA T O D A A V I D A
Alline bloqueou os pensamentos. Era tudo absurdo demais. N��o
podia am��-lo... N��o devia! Isso seria uma cat��strofe... para todos.
��� Vou voltar ��� afirmou, ainda evitando olh��-lo. ��� Est�� tarde.
Raul ergueu os ombros com indiferen��a.
��� Como queira. Eu vou nadar.
Ele desabotoou o cinto e Alline balan��ou a cabe��a, incr��dula.
��� Voc�� n��o pode... voc�� n��o pretende nadar de cueca...
��� N��o vou nadar de cueca. ��� Ele tirou a camisa, a cal��a e a
cueca, jogando-as na areia. Completamente nu, correu para a ��gua.
Alline engoliu a seco. Tinha que ir embora. O mais r��pido
poss��vel. Nunca tivera tanta certeza de uma coisa na vida, mas
n��o conseguiu dar nem um passo sequer. Tr��mula, mantinha o
olhar fixo no ponto onde Raul mergulhara. Pressionando os dedos
nos l��bios e com a respira����o suspensa, esperou ansiosa at�� ele
emergir por entre as ondas. S�� ent��o soltou o ar, aliviada.
Raul nadou em dire����o �� praia e gritou:
��� Venha nadar comigo!
Alline balan��ou a cabe��a.
��� N��o! ��� �� perigoso nadar no escuro. Acho que voc��
deveria sair.
��� Por qu��? N��o tenho nada melhor para fazer ��� ele a
provocou. ��� Voc�� n��o quer conversar comigo.
��� Tenho certeza de que J��lia ficar�� feliz em v��-lo.
��� A ��gua est�� uma del��cia! ��� exclamou ele, voltando para
a praia.
Quando Alline se deu conta, ele j�� a tomara nos bra��os,
encostando o corpo molhado ao dela.
��� Pare de lutar contra mim, Ally... Eu preciso de voc��. E
voc�� de mim.
��� N��o!
Com um grito desesperado, Alline recobrou os sentidos que,
momentaneamente, tinham se rendido aos encantos de Raul. Des-
vencilhou dele e saiu correndo pela praia, como se o pr��prio de-
m��nio, ou a tenta����o que ele oferecia, estivesse em seu encal��o.
Suzanne avisara Alline que um carro iria busc��-los ��s sete
horas da noite, para lev��-los a Finisterre.
Faltavam quinze minutos para o hor��rio marcado, e Alline
estava uma pilha de nervos. Passara praticamente a tarde
inteira examinando cada pe��a de seu limitado guarda-roupa.
82
PARA T O D A A V I D A
Por fim, decidira-se pelo vestido preto que usara no hotel em
Londres. O vestido despertava lembran��as, algumas indesej��-
veis. S�� esperava que Raul n��o pensasse que o escolhera apenas
para faz��-lo lembrar-se do primeiro encontro de ambos.
Ela comprimiu os l��bios. O mais prov��vel era que Raul n��o
pensasse nada disso. Talvez nem reparasse no vestido e nem
se lembrasse dele. Na verdade, duvidava que houvesse alguma
coisa nela que Raul considerasse inesquec��vel. Sentia-se se-
xualmente atra��do, apenas isso. Alline n��o tinha ilus��es. Raul
n��o queria mais nada, al��m de sexo.
Mas na noite anterior...
N��o, n��o queria pensar na noite anterior. Ela n��o entendia
o que acontecera. S�� sabia que passara o restante da noite e
o dia inteiro tentando expulsar as lembran��as de sua mente.
Raul n��o se importava com nada. Gostava de provoc��-la e
de fazer amor com ela, mas seria muita ingenuidade esperar
algo mais. Raul ia casar-se com J��lia.
Diante do espelho, deu os ��ltimos retoques na maquilagem.
De qualquer modo, n��o tinha mais tempo para pensar no re-
lacionamento com Raul. Deveria ter pensado melhor antes de
envolver-se, principalmente porque j�� passara por uma decep-
����o. Os anos vividos com Jeff deveriam ter-lhe servido de li����o.
Estava apenas construindo um castelo de problemas, permi-
tindo que o caso seguisse adiante.
Depois de um ��ltimo olhar ao espelho, pegou a bolsa e saiu
do quarto.
No t��rreo, Suzanne, Peter e J��lia esperavam por ela. De
repente, Alline se sentiu como a prima pobre da fam��lia. Era
imposs��vel n��o notar a eleg��ncia e a sofistica����o de m��e e
filha, vestidas com roupa de griffe. Certamente, aquela era
uma das ocasi��es em que o dinheiro n��o deveria ser encarado
como problema, e a palavra "economia" simplesmente n��o exis-
tia. Alline n��o p��de evitar de perguntar-se o que Suzanne pre-
tendia com tanta ostenta����o.
��� Voc�� est�� bonita ��� Suzanne declarou, pegando no bra��o
de Alline.
��� Voc�� tamb��m ��� ela respondeu, admirando o vestido azul
de tafet�� da amiga. ��� Esse tom de azul fica-lhe muito bem.
��� Voc�� acha? ��� Suzanne estava encantada com o elogio.
��� Bem, eu tinha que comprar uma roupa decente para usar
83
P A R A T O D A A V I D A
nesse jantar. ��� Ela baixou a voz. ��� N��o comente nada, mas
acho que J��lia espera que, esta noite, Raul fa��a o pedido t��o
esperado. N��o �� excitante?
��� Muito. ��� O cora����o de Alline se contraiu. Ela percorreu
nervosamente os olhos pelo sagu��o. ��� O carro j�� chegou?
��� Acabou de chegar ��� informou Peter, indicando o moto-
rista uniformizado que atravessava a porta girat��ria. ���Vamos,
meninas?
J��lia pegou no bra��o do pai e, seguidos por Suzanne e Alline,
desceram a escada em dire����o �� limusine preta que os aguar-
dava na porta do hotel. Minutos depois, seguiam em dire����o
a Finisterre, para o t��o esperado jantar.
��� Foi muita gentileza dos Ramirez mandar um chofer nos
buscar ��� observou Suzanne, toda alegre, alheia �� tens��o de
Alline. ��� Assim, Peter pode tomar alguns drinques a mais
sem ter que se preocupar em voltar dirigindo.
��� Acho que Raul poderia ter vindo pessoalmente ��� J��lia
protestou com petul��ncia. ��� Ou Carlos, pelo menos. J�� somos
quase da fam��lia, afinal.
��� "Quase", voc�� bem o disse. ��� Depois de lan��ar um olhar
preocupado na dire����o do motorista, Suzanne mudou de as-
sunto. ��� Voc�� gostou do vestido de J��lia, Ally? �� de um estilista
da moda.
��� Gostei. ��� Alline n��o teve alternativa sen��o olhar para o
vestido coral, drapeado no busto. ��� �� lindo. �� musseline de seda?
��� Do que mais poderia ser? Preciso acostumar-me com rou-
pas assim.
��� J��lia!
De novo, Suzanne fulminou a filha com um olhar de censura.
Alline virou o rosto para a janela, tentando n��o pensar em
J��lia como uma garota mercen��ria.
A estrada para Finisterre contornava a ilha iluminada pelo luar. A ��gua invadia a areia, quebrando em marolas de espuma
branca.
Alline tentava n��o ficar t��o apreensiva, mas era quase im-
poss��vel. Sentia-se deslocada, intrusa. Decididamente, n��o de-
veria estar naquele carro. N��o deveria ir ��quele jantar. N��o
deveria tomar parte naquela cena. Nada daquilo tinha a ver
com ela. Era uma simples dona de casa, n��o uma aspirante
a socialite, como Suzanne.
84
P A R A T O D A A V I D A
Entretanto, quando o carro entrou na propriedade dos Ra-
mirez, viu-se invadida por uma sensa����o de excitamento. Sabia
que a fam��lia de Raul era rica e tradicional, mas mesmo assim
n��o estava preparada para tanta beleza e suntuosidade.
��� Magn��fico, n��o? ��� Suzanne perguntou, evidentemente
satisfeita com a rea����o de Alline. ��� Espere at�� ver a casa.
De fato, a fachada era a imagem da eleg��ncia e riqueza.
A limusine parou diante de uma escadaria de m��rmore, e
o motorista abriu a porta para os convidados descerem. O mor-
domo esperava-os na varanda. Com o ru��do do mar ecoando
em seus ouvidos, Alline subiu os degraus, atravessou as portas
de madeira maci��a e entrou no hall. As luzes do lustre de
cristal que pendia do teto alto refletiam-se nas ��guas da fonte
que reinava absoluta no centro do amplo sagu��o.
��� O que eu lhe disse? ��� murmurou Suzanne.
Naquele instante, um homem alto e simp��tico emergiu de
uma passagem em arco. Ele parou, sorriu e depois foi ao en-
contro deles. Pelas fei����es aquilinas e os cabelos escuros, Alline
soube imediatamente que era o pai de Raul.
��� Suzanne, Peter, J��lia ��� ele disse polidamente, apertando
a m��o de Peter e erguendo a de Suzanne at�� os l��bios. Dando
um passo �� frente, J��lia beijou as faces do futuro sogro. Alline
teve a impress��o que Juan Ramirez teria preferido um cum-
primento mais formal. Entretanto, o tom de voz continuou gen-
til e caloroso. ��� Estou feliz por terem vindo.
��� �� uma honra para n��s ��� declarou Suzanne efusivamente,
e Peter endossou as palavras da esposa, inclinando levemente
a cabe��a. Depois, com um gesto de m��o, ela indicou Alline. ���
Permita que lhe apresente minha amiga Alline Sloan.
��� Sra. Sloan. ��� O pai de Raul voltou-se para ela com evidente
satisfa����o. ��� Encantado por conhec��-la, finalmente. ��� Tomando
a m��o dela entre as suas, segurou-a al��m do necess��rio. Ele a
estudava intensamente. ��� Minha esposa esteve doente. Por isso,
o convite anterior foi adiado. Espero que entenda.
��� Entendo. ��� Alline n��o sabia o que dizer, principalmente
porque sentia que os Davis assistiam �� cena com muita curio-
sidade. Havia tamb��m uma ponta de ressentimento, pelo menos
da parte de J��lia, ela tinha certeza. Retirando a m��o, ela mur-
murou: ��� Espero que a sra. Ramirez esteja melhor.
��� Ela est�� bem melhor, sim. ��� Juan soltou a m��o dela
8 5
PARA T O D A A V I D A
com certa relut��ncia. ��� Venham, por favor. Isabel est�� no
p��tio, �� nossa espera.
Alline mal reparou na elegante sala de jantar que atraves-
saram para chegar ao p��tio.
��� Onde est�� Raul? ��� J��lia perguntou num tom de voz alto
demais, obviamente para chamar a aten����o de Juan Ramirez.
Mas ele continuou imperturb��vel.
��� Rafael vir�� logo.
No p��tio havia cadeiras e espregui��adeiras de cana-da-��ndia
espalhadas sob um toldo. De l��, ouvia-se mais fortemente o
barulho do mar.
��� Nossos convidados chegaram, Isabel.
Uma mulher p��lida, de cabelos grisalhos, levantou-se com
dificuldade e sorriu para os rec��m-chegados.
��� Isabel! ��� Suzanne antecipou-se e segurou as m��os de
Isabel Ramirez entre as suas. ��� Que bom v��-la de novo! Como
est�� se sentindo? Est��vamos t��o preocupados com voc��!
Estavam mesmo? Alline lembrou-se que a doen��a de Isabel
fora mencionada de forma superficial, e durante uma discuss��o
entre m��e e filha.
��� Estou muito bem, asseguro. ��� Havia frieza na voz da
mulher. ��� Como vai, Suzanne? J��lia comentou que voc�� teve
umas crises de enxaqueca, tempos atr��s. Espero que n��o seja
nada s��rio. Voc�� procurou o dr. Carrington?
Suzanne trocou um r��pido olhar com a filha.
��� J��lia �� exagerada. Estou perfeitamente bem.
��� Isso �� bom.
��� Esta �� a sra. Sloan, querida ��� interveio Juan Ramirez
com admir��vel habilidade, causando a Alline um certo cons-
trangimento. ��� Rafael falou a respeito dela, lembra-se?
��� Oh, sim. Claro. ��� Isabel Ramirez estendeu-lhe a m��o.
��� Seja bem-vinda a Finisterre, sra. Sloan. Estou contente que tenha aceitado nosso convite.
��� Eu... ��� Aflita, Alline olhou para Suzanne, que a fitava
com indisfar����vel irrita����o. ��� Foi muita gentileza terem me
convidado. E, por favor, me chamem de Alline... Ally.
��� Sim... E gostaria que soubessem o quanto apreciamos a
aten����o de Raul... Rafael, para com Alline, levando-a para um
passeio de barco, ontem. ��� Suzanne n��o parecia disposta a
ser ignorada. ��� Realmente, foi muito nobre da parte dele.
86
PARA T O D A A V I D A
Os l��bios de Isabel se curvaram, e ela ergueu uma aristo-
cr��tica sobrancelha para o marido.
��� Duvido que Rafael tenha convidado a senhora... digo,
Ally, para velejar apenas por um ato de nobreza ��� ponderou
ela num tom quase r��spido.
Atenta ��s tentativas de Suzanne para que ela se sentisse
inferiorizada, Alline n��o foi a ��nica que daria tudo para en-
tender o significado das palavras da sra. Ramirez. Os olhos
de Isabel se moveram, passando pelos convidados, e um sorriso
iluminou o rosto de beleza cl��ssica.
��� Vejam, Rafael chegou. Por que n��o perguntamos a ele?
87
CAP��TULO X
Alline disfar��ou um bocejo e conteve a vontade
de colocar os cotovelos na mesa para apoiar
a cabe��a. Atribu��a a repentina enxaqueca �� quantidade de vi-
nho que ingerira. Al��m disso, as tentativas de Suzanne para
desmerec��-la aos olhos da fam��lia Ramirez contribu��ra para
agravar a dor. Esse era um lado da personalidade da amiga
que ela n��o conhecia, apesar dos longos anos de conviv��ncia.
Desde que Raul entrara no p��tio, J��lia o monopolizara. ��
assim que tem de ser, pensava ela, tentando ignorar o ci��me que incomodava tanto quanto a enxaqueca. Verdade que os pais dele
tinham sido muito gentis, mas da�� a acreditar que ela significava
alguma coisa para Raul era ir longe demais. Al��m disso, depois
do cumprimento formal, Raul mal falara com ela.
Teria sido mais f��cil se n��o estivesse sentada bem diante
dele, �� mesa do jantar. A comida estava excelente. Azeitonas
recheadas, anchovas marinadas, batatas saut��e e uma vers��o caribenha de paella. Tudo regado a vinho da melhor qualidade.
Mas Alline quase n��o tocou na comida. At�� mesmo as so-
bremesas ex��ticas, aparentemente apetitosas, foram delicada-
mente recusadas. N��o fossem todos aqueles conflitos emocio-
nais, certamente ela teria adorado experimentar aquela mis-
tura das cozinhas espanhola e caribenha. E se n��o tivesse
tomado tanto vinho, n��o estaria se sentindo t��o infeliz.
��� O que acham de tomarmos caf�� no p��tio? ��� sugeriu
Isabel, momentos depois.
Todos concordaram, e Alline apressou-se em levantar-se.
Apesar do ar-condicionado, ansiava por respirar ar fresco e,
antecipando-se ao outros, saiu para o p��tio.
O p��tio terminava num terra��o que dava para o jardim.
8 8
PARA T O D A A V I D A
Ela se apoiou no bala��stre e respirou fundo. A praia ficava a
poucos metros da casa.
��� Gosta da vista?
Fora Raul quem fizera a pergunta. Ele estava parado ao
lado dela, elegante e formal de terno preto e camisa cinza.
Parecia quase imposs��vel que, apenas vinte e quatro horas
antes, estivera nu diante dela. Como Raul poderia ser t��o frio
num instante e t��o apaixonado no outro? Como era dif��cil fingir
que eram apenas conhecidos, quando ambos sabiam que eram
bem mais que isso!
Ou talvez Alline estivesse apenas dando asas �� imagina����o
e ��s emo����es. Era dif��cil, mas precisava aceitar que o que
acontecera significara muito mais para ela do que para Raul.
��� �� muito bonita ��� respondeu sem olh��-lo.
��� Finisterre ��� ele murmurou, apoiando-se no parapeito.
��� Uma palavra latina que significa "fim da terra". Dizem que o nome foi dado por minha tatarav��, mas ningu��m sabe ao
certo. ��� Ele fez uma pausa. ��� N��s gostamos.
��� Eu tamb��m gosto. �� um nome bonito.
��� Obrigado ��� Raul agradeceu num tom ir��nico. ��� Comu-
nicarei sua aprova����o aos meus pais.
Alline olhou-o rapidamente, sem entender a inten����o dele.
Depois, dando de ombros, perguntou:
��� E sua noiva? Voc�� n��o deveria estar com ela?
��� N��o tenho noiva. E desde quando voc�� se importa comigo?
Ela o encarou por um longo momento.
��� Tem raz��o. Esse assunto n��o me diz respeito. N��o tenho o
direito de dar palpites em assuntos que n��o s��o da minha conta.
��� Desculpe. Eu n��o pretendia ser indelicado. Depois do que
aconteceu ontem �� noite... Ah, esque��a. ��� Ele balan��ou a ca-
be��a, denotando incredulidade. ��� Alline, passei o jantar inteiro
desejando ficar sozinho com voc��. E agora que temos a opor-
tunidade, estamos perdendo tempo discutindo bobagens.
��� N��o acredito que voc�� tenha tido tempo para pensar em
mim ��� protestou Alline, indignada. ��� As atitudes de J��lia
demonstraram o contr��rio.
��� N��o julgue meus sentimentos pelas a����es exageradas de
J��lia. Minha suposta noiva estava agindo levada, provavel-
mente, por duas raz��es. A primeira era provocar meu irm��o,
que �� louco por ela. Ocorre que ��s vezes penso que ela sente
89
P A R A T O D A A V I D A
a mesma coisa por mim tamb��m. A segunda raz��o foi que ela
percebeu que meus pais gostaram muito de voc��, e n��o quis
ser negligenciada.
Alline apertou os olhos.
��� N��o acredito.
��� �� verdade.
��� Mas J��lia ama voc��.
��� Ama? Acho que J��lia est�� de olho na melhor chance.
Voc�� sabe, Carlos n��o �� o primog��nito.
Ent��o ele sabia!
��� N��o diga uma coisa dessas ��� ela murmurou.
��� Por que n��o?
��� Ora, porque voc�� vai se casar com ela!
��� Vou? ��� Ele comprimiu os l��bios. ��� Um ano atr��s, minha
m��e descobriu que tinha um tumor no seio. Era trat��vel, mas
na ��poca, as chances n��o eram muitas, e os m��dicos nos pre-
veniram do pior. ��� Ela respirou fundo. ��� Felizmente, a ci-
rurgia e as sess��es de radioterapia operaram o milagre. Ela
ainda n��o est�� curada, mas os progn��sticos s��o muito mais
otimistas.
��� Entendo. ��� Alline s�� n��o entendia por que Raul estava
lhe contando aquilo.
��� N��o, n��o... Voc�� n��o entende ��� ele a contradisse. ���
Quando descobrimos a doen��a, ficamos desesperados e quer��a-
mos fazer de tudo para proporcionar-lhe alegria. O maior sonho
de minha m��e era me ver casado e com filhos. ��� Ele balan��ou
a cabe��a. ��� At�� ent��o, eu nunca havia considerado seriamente
a id��ia de casamento. Achava que tinha muito tempo para
pensar nisso. J��lia e eu sempre fomos amigos, e sempre a vi
assim como amiga, nada mais.
��� O que mudou, ent��o?
Raul emitiu um som parecido com uma risada abafada.
��� Eu digo que J��lia mudou, mas admito que a culpa foi
minha. Ela estava por perto, obviamente predisposta, e eu me
aproveitei da situa����o.
��� E voc��s come��aram a namorar?
��� Se �� que s�� pode chamar de namoro.
��� Seus pais aprovaram? ��� Alline arriscou.
��� Creio que, na ��poca, nenhum de n��s deu import��ncia ao
fato. Minha m��e estava muito doente, e eu queria apenas con-
90
PARA T O D A A V I D A
tent��-la. ��� Ele curvou os l��bios. ��� Como dizem, em meio a
tanto desespero, a id��ia parecia boa.
��� Ainda �� uma boa id��ia ��� Alline afirmou, lembrando-se
de tudo que Suzanne lhe contara. ��� Espero que voc��s sejam
muito felizes.
��� N��o, voc�� n��o est�� sendo sincera. ��� Os olhos de Raul
escureceram ainda mais. ��� Droga, Alline! Se eu soubesse que
iria conhec��-la, jamais teria me envolvido com J��lia. Passei
vinte e nove anos da minha vida fazendo somente o que me
agradava, e nunca me passou pela cabe��a a possibilidade de
ficar t��o impressionado por uma mulher.
��� Acho que n��o dever��amos estar conversando sobre esse
assunto.
��� Por que n��o? ��� Raul perguntou. ��� N��o me diga que
n��o sente nada por mim. Ou ser�� que a reca��da de seu marido
teve import��ncia para voc��? ��� Ele co��ou o queixo. ��� Estive
pensando sobre o que voc�� me falou. Por mais que insista que
est�� aliviada com o fim do casamento, eu me pergunto se isso
�� realmente verdade. Talvez, voc�� ainda ame seu marido.
��� O que quer que eu sinta por Jeff, garanto que' n��o vai
alterar em nada a nossa situa����o. Al��m do mais, Raul, voc��
j�� pensou na rea����o de sua m��e e de seu pai se soubessem o
que voc�� fez ontem �� noite? ��� O rosto de Alline ficou rubro.
��� Meu Deus, eles me expulsariam desta casa!
��� Por qu��? O que eu fiz? ��� Raul encarou-a com express��o s��ria.
��� Voc�� sabe. ��� Ela desviou o olhar. ��� O que existe entre
n��s, �� apenas... atra����o f��sica. Nada mais.
��� �� muito mais do que isso. Pelo menos, para mim.
��� Por favor, Raul. N��o brinque comigo. N��o sou a mulher
que sua fam��lia sonha para voc��. Sou muito mais velha que
voc��. N��o posso prometer os netos que sua m��e espera que
voc�� lhe d��. Meus filhos s��o adultos. Logo, eles tamb��m ter��o
a pr��pria fam��lia, filhos. J�� imaginou como v��o se sentir se
eu lhes disser que vou come��ar tudo de novo?
��� Ah, ent��o �� esse o ponto crucial? ��� indagou Raul com
uma ponta de amargura. ��� Apesar de tudo, eu acho que voc��
se preocupa mais com Jeff do que comigo.
N��o �� verdade!
As palavras tremularam nos l��bios de Alline, mas n��o foram
pronunciadas. Quase instintivamente, ela sentiu que n��o es-
9 1
PARA T O D A A V I D A
tavam mais sozinhos. Juan Ramirez aproximou-se da balaus-
trada, e Raul enfiou as m��os nos bolsos da cal��a.
��� Admirando a vista, sra. Sloan? ��� Juan perguntou poli-
damente. ��� Precisa ver �� luz do dia. �� algo de espetacular.
��� Acredito. ��� Alline sentiu a palma das m��os ��midas. ���
O mar parece t��o perto...
��� E est��. ��� Juan sorriu. ��� O que era muito conveniente aos
meus ancestrais. Aposto que algu��m j�� deve ter lhe contado que
Rodrigo Ramirez era o que hoje chamamos de cors��rio. �� uma
maneira elegante de dizer que ele era pirata. N��o �� mesmo, Rafael?
��� �� sim, pap��.
A voz de Raul soou meio abafada, e Alline percebeu o olhar
inquiridor de Juan.
��� Espero que voc�� n��o esteja entediando nossa convidada,
Rafael ��� observou Juan. ��� A sra. Sloan parece um pouco
apreensiva. O que estava dizendo a ela?
��� Nada importante, pap�� ��� Raul respondeu calmamente.
��� Se me derem licen��a...
Ele se afastou e Alline conteve o impulso de voltar-se para
olh��-lo. Mas teve medo de ser tra��da pelos olhos, pela express��o
de tristeza, de decep����o.
��� Meu filho parece... zangado, sra. Sloan. ��� Com o cenho
franzido, Juan observava o filho que se afastava. ��� Pe��o des-
culpas por ele. N��o sei o que aconteceu.
Alline respirou fundo.
��� Nem eu ��� ela mentiu. E para que Juan n��o insistisse
mais no assunto, murmurou: ��� Por favor, trate-me por Alline.
Sra. Sloan faz-me parecer t��o... ��� Ela ia dizer "velha", mas conteve-se a tempo ���, estranha.
��� E voc�� n��o �� estranha, n��o �� mesmo, sra. Sloan? ��� Para
constrangimento de Alline, Juan Ramirez insistiu em trat��-la
com mais formalidade. ��� Tenho a impress��o de que voc�� e
meu filho se conhecem muito bem. Ser�� que minha intui����o
est�� certa?
Alline umedeceu os l��bios.
��� Creio que deve perguntar a ele, se��or. ��� Sua voz revelava toda a ang��stia que a invadia.
��� Talvez, sim ��� ele concordou, observando-a atentamente.
��� Mas estou lhe perguntando. At�� que ponto conhece Rafael,
sra. Sloan? Muito mais do que imaginamos, acredito.
92
P A R A T O D A A V I D A
Alline n��o respondeu de imediato. Cruzou os bra��os, depois
descruzou-os rapidamente. Sentia-se terrivelmente desconfort��vel.
��� Eu ainda acho que deveria perguntar a ele ��� disse Alline,
por fim, com voz tr��mula. Ap��s uma breve hesita����o, acres-
centou: ��� Eu n��o deveria ter vindo. S�� agora percebi o erro.
Espero que me perdoe por... por abusar de sua hospitalidade.
Juan juntou as sobrancelhas grisalhas.
��� Como abusou da minha hospitalidade, sra. Sloan? Minha
esposa e eu a convidamos para vir �� nossa casa.
��� Sim, mas... ��� Num relance, Alline viu que, do outro lado
do p��tio, Suzanne os observava. N��o havia sinal de Raul, e
ela at�� podia imaginar o que a amiga estava pensando. ���
Parece que estou sempre no caminho de algu��m.
��� Voc�� n��o est�� no meu caminho, sra. Sloan. Nem no da
minha esposa. N��o posso responder pelos seus amigos, claro.
Mas no que diz respeito a Rafael, creio que ele quer muito
mais do que voc�� est�� preparada para oferecer.
O rosto dela ardia.
��� Se��or...
��� N��o se preocupe, sra. Sloan. Guardarei minhas observa-
����es para mim mesmo. E agora, se me der licen��a, tenho que
fazer companhia a meus outros convidados.
��� Claro...
Juan Ramirez inclinou levemente a cabe��a e atravessou o
p��tio, onde estavam todos reunidos. O caf�� estava sendo ser-
vido, e Alline sabia que deveria juntar-se a eles. Suzanne j��
estava ressentida pelo que acontecera logo na chegada a Fi-
nisterre. Ela n��o comentara nada, mas Alline sabia muito bem como interpretar a frieza com que a amiga a tratara durante
o jantar. E depois do jantar a situa����o de Alline se agravara
ainda mais. Al��m de arrancar Raul de suas obriga����es de noivo
de J��lia, ela ainda tivera a ousadia de "seq��estrar" Juan Ramirez. Decididamente, Suzanne n��o a perdoaria.
��� Aceita um caf��, Alline?
Aparentemente, Isabel Ramirez n��o via problema em cha-
m��-la pelo nome. Sorrindo, Alline sentou-se no lugar que Isabel
indicava.
��� Obrigada.
��� Estava admirando a vista? ��� Isabel perguntou.
��� Est��vamos come��ando a pensar que o balaustre estava gru-
93
PARA T O D A A V I D A
dado no seu vestido ��� alfinetou Suzanne num tom mordaz. ���
Pelo amor de Deus, Ally, o que voc�� e Raul estavam discutindo?
Alline quase engasgou com o caf��.
��� Discutindo?
Ela n��o imaginara que o teor de sua conversa com Raul
fosse assim t��o evidente. Mais uma vez, a h��bil interven����o
de Juan Ramirez foi prop��cia.
��� Rafael argumentava que nem sempre os filhos sabem o
que �� melhor para os pais ��� disse ele num tom casual. ���
Voc�� tem filhos, n��o tem, Ally? G��meos?
Como ele sabia?
Alline piscou e olhou-o confusa.
��� Eu... sim, tenho. Um casal.
��� Que maravilha! ��� exclamou Isabel. ��� Eles moram com voc��?
��� Sam... Samantha mora. ��� Alline estava consciente dos
olhares furiosos dos amigos. ��� Ryan faz faculdade em outra
cidade e divide o apartamento com... uma amiga.
��� Namorada ��� J��lia fez quest��o de corrigir. ��� N��o ��, tia Ally?
��� E sua filha? ��� Isabel continuou, ignorando o coment��rio
de J��lia. ��� O que ela faz?
��� Ela tamb��m estuda, e como a universidade fica em nossa
cidade mesmo, ela mora comigo. Est�� noiva e pretende casar-se
no ano que vem.
��� Sorte dela. ��� De novo, J��lia investiu com ironia. ��� Deve
ser bom sentir-se querida.
��� Voc�� �� querida ��� rebateu Carlos, pegando na m��o dela.
Depois sorriu, indiferente ao olhar de censura de Suzanne para
a filha. ��� Vamos dar um passeio na praia?
��� Est�� na hora de irmos andando ��� declarou Peter, deci-
frando o olhar da esposa. ��� Foi agrad��vel como sempre, Isabel.
Voc�� e Juan precisam aparecer no hotel para jantar conosco.
��� �� muita gentileza sua.
Isabel era cort��s, mas Alline sentia que o convite n��o seria
levado em considera����o. Como Suzanne dissera, havia uma
certa estranheza entre ela e a sra. Ramirez.
Suzanne levantou-se.
��� Voc�� est�� certo. ��� Ela sorriu para o marido. ��� N��o
devemos abusar da hospitalidade dos nossos amigos. Olhou ao
redor, como se de repente notasse a aus��ncia de Raul. ��� Oh...
onde est�� Rafael?
94
P A R A T O D A A V I D A
��� Quem sabe? ��� J��lia resmungou, olhando para Carlos.
��� N��o entendo por que ele me convida para vir aqui. Mal
falou comigo...
��� J��lia! ��� A reprova����o de Suzanne foi autom��tica. ���
Durante o jantar, Raul... Rafael dedicou-se totalmente a voc��.
��� Com um trejeito divertido, ela olhou para Juan e Isabel,
mas quando seu olhar encontrou o de Alline, havia uma ponta
de mal��cia na express��o dela. ��� Passou mais tempo com voc��
do que com os... outros... convidados dos pais dele, minha filha.
��� Talvez.
J��lia n��o parecia convencida. Alline, por��m, que j�� esperava
por algo semelhante, n��o ficou surpresa com a insinua����o da amiga.
Raul s�� reapareceu quando eles j�� estavam se despedindo.
Suzanne ficou mais aliviada depois de ouvir a confirma����o de
Raul de que procuraria por J��lia, logo.
Ele e Alline mal se olharam. Se ele queria acreditar que
ela ainda amava Jeff, tanto melhor. Todos seriam beneficiados
se eles n��o se vissem mais.
Alline disfar��ou um suspiro.
Talvez, afinal, tivesse encontrado a desculpa ideal para re-
solver o impasse.
95
CAP��TULO XI
No fim da semana, Alline j�� tomara sua deci-
s��o. Independentemente de qualquer coisa,
ela voltaria �� Inglaterra.
N��o que tivesse acontecido algo depois do jantar na casa
dos Ramirez. Ao contr��rio. Surpreendentemente, Suzanne n��o
fizera mais nenhum coment��rio. E Raul n��o a procurara mais.
Contudo, a cada dia que passava, ela se sentia mais cons-
trangida e tensa, temendo que seu segredo fosse descoberto.
Na verdade, estava preocupada com Sam. A garota telefo-
nara v��rias vezes, e Alline estava se sentindo culpada por Sam
ter assumido toda a responsabilidade de lidar com o pai.
Alline telefonara para Ryan, mas ele estava distante do
problema e alheio �� situa����o. E a bem da verdade, n��o estava
particularmente preocupado com o pai, onde ele vivia ou
com quem.
Apesar de n��o ter mais conversado com Raul, Alline o vira
uma vez no hotel. Estava sozinho, esperando o elevador. Alline
n��o sabia se ele continuava saindo com J��lia. A garota estava
sempre ausente, mas esse era um assunto que Alline conside-
rava tabu. Quando estava com Suzanne ou Peter, evitava as-
suntos controversos. Desse modo, conseguiam manter a cama-
radagem, apesar da dist��ncia que surgira entre eles.
Por��m, a decis��o final chegou na noite em que Mike Mclean
apareceu para jantar no hotel. Suzanne n��o desistira de en-
contrar uma companhia para a amiga. Com Tom Adams n��o
dera certo, ent��o, ela resolveu apostar no piloto.
Obviamente, Mike Mclean deduzira que Alline encorajara
a amiga a convid��-lo. Ele se desdobrava em gentilezas, e seria
dif��cil mostrar-se atenciosa sem causar uma impress��o errada.
96
PARA T O D A A V I D A
E para piorar, Suzanne insinuara que Alline estava pensando
em voltar para casa porque se sentia sozinha.
Quando Mike j�� estava se despedindo, o casal Davis tratou
de inventar alguma coisa para fazer, s�� para deix��-lo a s��s com
Alline. Mike convidou-a para passar o dia seguinte com ele, mas
Alline mentiu, dizendo que j�� tinha um compromisso. Ele partiu
meio decepcionado, mas prometendo telefonar nos pr��ximos dias.
Depois desse jantar, Alline n��o via alternativa. Seria mais
f��cil confrontar-se com Jeff do que inventar desculpas para
n��o explicar a Suzanne que ela n��o estava interessada em
conhecer seus amigos solteiros e dispon��veis.
Tentou conversar com Suzanne, na manh�� seguinte, mas a
amiga estava ocupada demais resolvendo problemas com o ar-
condicionado de um determinado quarto. No entanto, garantiu
que, na hora do almo��o, teria tempo para conversar.
Alline, ent��o, foi para a praia. Na volta, soube que os Davis
estavam reunidos com Raul e tratou de subir rapidamente
para o quarto.
Depois de tomar banho, sentou-se na terra��o, esperando pela
refei����o que pedira ao servi��o de copa. O toque do telefone
sobressaltou-a. Com o cora����o batendo forte, levantou-se para
atender. N��o havia raz��o para ficar t��o ansiosa s�� porque
Raul estava no hotel. Poderia ser Suzanne, afinal.
��� Al��?
��� Mam��e? Finalmente, consigo falar com voc��. Onde voc��
estava?
��� Na praia. Por qu��? O que aconteceu?
��� Oh, mam��e! ��� Sam emitiu um som de frustra����o, e
Alline sentiu uma contra����o no est��mago. ��� Ah, meu Deus!
Nem sei como dizer-lhe. Ele est�� chegando a��. Eu sei porque
telefonei para a companhia a��rea, perguntando sobre a chegada
do v��o em Nassau.
��� Ele quem? ��� Alline perguntou ansiosa, mesmo sabendo
de quem se tratava. ��� Seu pai?
��� Ah, mam��e... Eu tentei impedi-lo. Mas ele quer conversar
com voc��, a todo custo. Eu disse que ele deveria esperar voc��
voltar. Mas ele n��o me ouviu. Hoje cedo, quando eu telefonei para
o hotel, informaram-me que ele tinha ido embora. ��� Sam suspirou.
��� Eu deveria ter imaginado que estava planejando alguma coisa.
Alline respirou fundo.
97
PARA T O D A A V I D A
��� Seu pai chegou a dizer que queria vir para c��?
��� Ele falou sobre isso, sim. Mas eu achei que ele esperaria
at�� sua volta. Por isso, estou telefonando. Para preveni-la.
��� N��o. ��� Alline balan��ou enfaticamente a cabe��a. ��� Isso
n��o deveria acontecer. Na verdade, eu estava pensando em
voltar para casa.
��� Por causa do papai? Oh, mam��e! Que pena!
��� N��o, Sam. N��o �� por causa do seu pai. �� que... Suzanne
e eu... bem, parece que n��o est�� dando certo.
��� Por qu��? ��� Havia surpresa na voz de Sam. ��� Voc��s
sempre foram t��o amigas...
��� ��ramos. Somos ��� Alline se corrigiu, sem saber muito
bem como explicar �� filha. ��� Ocorre que... ela acha que eu
preciso... de companhia masculina.
��� E precisa mesmo! ��� Sam exclamou indignada. ��� N��o
me diga que tornou-se puritana nessa idade.
Alline comprimiu os l��bios. Seu Sam soubesse!
��� N��o tem nada a ver com puritanismo, minha filha. S��
n��o quero ningu��m arrumando encontros para mim.
��� Ah, ��? ��� Sam riu. ��� N��o me diga que voc�� est�� marcando
encontros sem o meu conhecimento!
��� E se eu estiver? Sou uma mulher livre, n��o sou? N��o preciso
da sua permiss��o para sair com algu��m que n��o seja seu pai.
��� Eu sei. ��� Sam parecia menos sarc��stica. ��� E ent��o? ���
Ela hesitou. ��� Algu��m que eu conhe��a?
��� O qu��? ��� Alline perguntou com impaci��ncia, percebendo
que falara demais. ��� N��o. Ningu��m que voc�� conhe��a. Quando
seu pai chega, afinal?
Ent��o, �� algu��m que voc�� conheceu durante as f��rias ���
a filha insistiu, evidentemente n��o querendo deixar o assunto
sem uma explica����o convincente. ��� Quem �� ele? �� bonito?
Ser�� que eu vou gostar dele? Ele tamb��m est�� de f��rias?
��� Sam! Estamos perdendo tempo. Voc�� sabe a que horas
seu pai vai chegar aqui?
��� Imagino que no mesmo hor��rio que voc�� chegou ��� Sam
respondeu num tom r��spido. ��� Ora, mam��e, se voc�� conheceu
algu��m, eu tenho o direito de saber!
Alline emitiu um som impaciente.
��� Sam, eu n��o conheci ningu��m. Ningu��m importante, pelo
menos. ��� Que bom se fosse verdade! ��� N��o sei como Suzanne
98
P A R A T O D A A V I D A
vai reagir quando seu pai chegar aqui. Ela poder�� at�� recu-
sar-se a receb��-lo no hotel.
��� O problema n��o �� seu, mam��e. O hotel da tia Suzanne n��o
deve ser o ��nico da ilha. Ele que procure outro lugar para ficar.
��� Vamos ver ��� resmungou Alline.
��� N��o permita que papai a intimidade, mam��e ��� continuou
Sam. ��� N��o esque��a que ele a trocou por outra mulher. Ele ��
meu pai, eu sei, e eu o amo, mas �� um tremendo de um ego��sta.
��� N��o se preocupe, querida ��� Alline tentou tranq��ilizar
a filha. ��� N��o esqueci de nada. Telefonarei assim que souber
o que vou fazer.
��� Est�� bem. ��� Sam parecia relutante em desligar o telefone.
��� Ah... m��e?
Alline ficou tensa. O que seria agora?
��� Seja ele quem for, espero que a fa��a mais feliz do que o
papai.
A refei����o que Alline pedira continuava intocada na bandeja.
Al��m de ter perdido a fome, precisava falar com Suzanne antes
que Jeff chegasse ao hotel. Raul j�� deveria ter ido embora, e
avisar a amiga era mais importante, naquele momento.
De short bege, camiseta regata, sand��lias baixas e cabelos
��midos, Alline saiu do quarto. Apertou o bot��o do elevador e
esperou. Quando a porta se abriu, seu cora����o disparou.
Raul era o ��nico ocupante, e ela teve uma incr��vel sensa����o
de d��j�� vu. Ele tamb��m estava de short, camiseta p��lo e sapato mocassim. Parecia cansado, e os olhos revelavam tristeza e
resigna����o.
Alline n��o sabia o que fazer. O mais natural seria entrar no
elevador, mas lembrando-se do que acontecera antes, hesitou.
��� Vai descer? ��� ele perguntou, recuando para dar-lhe
passagem.
Ela comprimiu os l��bios.
��� Sim. ��� No ent��o, permaneceu im��vel.
Uma express��o irritada passou rapidamente pelo rosto de Raul.
��� Ent��o, entre. ��� Ele pressionou o bot��o para manter a
porta aberta. ��� Ou prefere esperar o outro elevador?
Alline endireitou os ombros.
��� Seria tolice!
��� Tamb��m acho ��� ele concordou.
99
PARA T O D A A V I D A
Ainda relutante, ela entrou. Raul soltou o bot��o, e a porta
se fechou.
��� Mas parece-me que voc�� gosta de fazer tolices ��� acusou-a.
��� N��o h�� necessidade de ser agressivo comigo. ��� Ela evi-
tava olh��-lo. ��� Por acaso, sabe se Suzanne ainda est�� no
escrit��rio? Parece-me que ela e Peter tinham uma reuni��o...
��� Eu n��o me referia �� sua hesita����o em entrar no elevador
��� ele a interrompeu rispidamente. Depois de um olhar ava-
liador para o corpo dela, perguntou: ��� T��rreo?
��� Sim. ��� Alline tentava controlar a respira����o. ��� Obrigada.
Cruzando os bra��os, Raul apoiou-se contra a parede do elevador.
A atmosfera naquele espa��o min��sculo era tensa e constrangedora.
��� Como est�� sua m��e? ��� Alline perguntou, numa tentativa
de aliviar a tens��o.
��� Quer mesmo saber?
��� Claro que sim. Eu... eu gostei dela. E de seu pai tamb��m.
��� Ah, sim. Meu pai ��� observou Raul num tom sarc��stico.
��� Voc�� e ele ainda conversaram um pouco, depois que eu sa��.
��� N��s conversamos, sim.
��� Voc�� contou a ele sobre o que n��s conversamos?
��� N��o. ��� Alline ficou alerta.
��� Disse a ele dos meus sentimentos por voc��?
��� N��o! ��� Ela arregalou os olhos. Depois, suspirou profun-
damente. ��� N��o acho que voc�� saiba o que sente por mim.
��� O elevador parou no andar t��rreo. ��� Chegamos.
��� Espere! ��� Raul seguiu-a pelo sagu��o, e Alline se viu
for��ada a parar e encar��-lo, para n��o chamar a aten����o de
ningu��m. ��� Eu sei muito bem o que sinto por voc��. Quero
apenas saber o que voc�� sente por mim.
Alline olhou ao redor.
��� Raul...
��� Ally, por favor... ��� Os olhos dele eram s��plices. Pousou
a m��o na cintura dela e os dedos ro��aram no lado do seio. ���
Acabe com meu tormento. Diga que voc�� n��o ama aquele bas-
tardo que voltou �� Inglaterra.
��� Ally!
A voz era assustadoramente familiar. Voltando-se, Alline
deparou com o ex-marido caminhando ao seu encontro. Pensou
que iria desmaiar. De camisa de manga curta, cal��a de sarja
e jaqueta no bra��o, ele se aproximava, sorridente.
1 0 0
PARA T O D A A V I D A
��� Surpresa, surpresa! ��� exclamou Jeff, j�� n��o t��o confiante
ao reparar em Raul. ��� Aposto como n��o me esperava!
P��lida, Alline lan��ou um olhar desesperado para Raul.
��� N��o... ��� balbuciou. ��� Sam me disse que voc�� viria,
mas... eu n��o esperava que viesse t��o r��pido.
Raul retirou a m��o da cintura de Alline.
Jeff for��ou um sorriso.
��� N��o vai dizer que est�� feliz por rever-me? ��� Ele hesitou
por um momento, enquanto olhava de Alline para Raul e no-
vamente para Alline. ��� Fiz esta longa viagem s�� para v��-la.
Raul suspirou alto. Alline sentiu-o recuar, e seu cora����o de
contraiu. Sentiu tamb��m a imediata antipatia dele por Jeff e
teve ��mpetos de tranq��iliz��-lo. Queria dizer que n��o convidara
o ex-marido para ir at�� San Cristobal e que daria tudo para
evitar que isso acontecesse. Mas n��o tinha esse direito. Apesar
de tudo que Raul dissera pouco antes, no elevador, ela n��o
tinha o menor direito sobre ele. O que quer que pudesse existir
entre ambos seria derrotado pela diferen��a de idade e pelo
compromisso assumido por Raul.
Alline ficou furiosa. A intromiss��o de Jeff em suas f��rias
irritara-a profundamente. Ela n��o tinha obriga����o de ser sim-
p��tica com o ex-marido. Ele nunca demonstrara a menor con-
sidera����o por seus sentimentos, nunca se preocupara com nin-
gu��m, a n��o ser com ele pr��prio.
��� Sinto muito, Jeff, mas n��o estou feliz por rev��-lo ��� de-
clarou com firmeza, recuando quando ele se aproximou para
beij��-la no rosto. ��� N��o pedi para voc�� vir aqui. Na verdade,
nem sei por que veio.
Os olhos azuis de Jeff escureceram.
��� Voc�� sabe por que vim, Ally. Se Sam a avisou que eu
viria, deve ter lhe contado tamb��m como fiquei desapontado
por n��o encontr��-la em casa.
��� Esperando por voc��, n��o ��? ��� Alline ironizou. ��� N��o
importa o que Sam tenha me contado. O que voc�� faz ou deixa
de fazer n��o �� mais problema meu. Estamos divorciados, es-
queceu? Voc�� tem sua vida, e eu, a minha.
��� Com ele? ��� Os olhos azuis de Jeff correram de Alline
para Raul. ��� Ora, vamos, Ally. Quem �� ele? Um garoto de
praia? Algu��m empenhado em consolar uma mulher solit��ria?
1 0 1
PARA T O D A A V I D A
��� Retire o que disse!
Antes que Alline pudesse esbo��ar qualquer rea����o, Raul
avan��ou uns passos, praticamente empurrando-a para o lado.
Apesar de surpreso, Jeff ergueu desafiadoramente o queixo.
��� Algu��m falou alguma coisa?
��� Eu falei! ��� Raul aproximou-se mais. ��� N��o gostou do
que ouviu?
��� Por favor... ��� murmurou Alline, tentando apaziguar os
��nimos. ��� N��o h�� necessidade de nada disso.
��� H��, sim ��� Raul contrariou-a. ��� Esta... pessoa insultou
voc�� e a mim.
Jeff encolheu os ombros.
��� Voc�� �� muito sens��vel para algu��m que vive se aprovei-
tando de mulheres ing��nuas.
Com um movimento r��pido, Raul segurou-o pelo colarinho,
rasgando a camisa cara.
��� Repita, se tiver coragem ��� ordenou.
��� Ei... ��� Jeff protestou d��bilmente. ��� Voc�� tem id��ia do
pre��o desta camisa?
��� Muito mais do que voc�� vale ��� esbravejou Raul, aumen-
tando a press��o dos dedos.
��� Voc�� est�� me machucando ��� Jeff gritou, olhando para
Alline em busca de ajuda. ��� Pelo amor de Deus, Ally. Eu n��o
quero confus��o. Diga para ele me soltar.
��� Raul...
��� Eu ainda n��o ouvi seu pedido de desculpas ��� disse Raul,
ignorando-a. Jeff largara a jaqueta e, com as duas m��os, ten-
tava desvencilhar-se.
Outros h��spedes come��aram a agrupar-se, assistindo a tudo
com evidente curiosidade. Alline passou a m��o pelos cabelos.
S�� faltava Suzanne, ou Peter, ou mesmo J��lia, entrar no hall
e deparar-se com aquela cena.
��� Raul ��� ela repetiu num fio de voz, segurando no bra��o
dele. ��� Por favor, Raul, solte-o.
Raul fitou-a.
��� Este homem a ofendeu, Alline. Voc�� n��o se importa?
Desolada, Alline balan��ou a cabe��a, mais para clarear as
id��ias do que para responder a pergunta.
��� Eu...
��� Ei, cara! ��� Jeff interrompeu com arrog��ncia, imaginando
1 0 2
PARA T O D A A V I D A
que vencera a parada. ��� Alline �� minha mulher, ouviu bem?
Vamos, solte-me... Raul, n��o �� isso?
A contragosto, Raul finalmente o soltou.
Jeff inclinou-se para pegar a jaqueta, e Alline olhou para
Raul. Impressionou-se com a express��o dele. Dor, confus��o,
desprezo e, principalmente, decep����o.
Os curiosos come��aram a dispersar-se. Quando Alline pensava
que Raul n��o iria mais falar com ela, ele a tocou no bra��o.
��� N��o terminamos a nossa conversa ��� ele murmurou. ���
Posso telefonar mais tarde?
Alline n��o sabia o que responder. Jeff os observava, atento
a cada palavra. Quando ele descobrisse quem era Raul, com
quem ele iria se casar...
��� �� melhor voc�� ir, Raul ��� pediu ela, odiando-se por ma-
go��-lo ainda mais.
��� Voc�� ouviu ��� refor��ou Jeff, atrevido, agora que o perigo
passara.
��� Desculpe, Raul ��� Alline balbuciou, mas ele j�� se afastara
rapidamente em dire����o ��s portas de vidro.
��� Voc�� fez bem em livrar-se dele, Ally. ��� Jeff acompanhou
o olhar dela. ��� Eu percebi o tipo assim que o vi.
��� Voc�� n��o sabe de nada, Raul. Por mim, voc�� pode ir
embora tamb��m. Nunca mais quero v��-lo na minha frente.
��� Voc�� n��o est�� falando a s��rio, Ally.
��� N��o? Bem, se voc�� ficar por aqui, logo descobrir��. ��� Ela
come��ou a se afastar. ��� Agora, com licen��a. Preciso falar com
Suzanne.
Jeff olhou-a com express��o inocente.
��� N��o vai me dar chance de explicar por que estou aqui?
��� Eu sei por que voc�� veio, Jeff. N��o deu certo com Kelly,
ent��o voc�� voltou correndo para a Inglaterra, esperando que
eu enxugaria suas l��grimas. Enganou-se, Jeff.
��� Voc�� est�� sendo dura, Ally.
��� N��o. Apenas realista.
��� Voc�� ainda me ama.
Jeff n��o estava preparado para a rea����o de Alline, e ela
sentiu que precisava ser cautelosa. Do contr��rio, acabariam
discutindo novamente, e ela n��o queria mais confus��o. Com
um suspiro, apontou para o terra��o.
��� Vamos conversar l�� fora ��� sugeriu. ��� Ficaremos mais
�� vontade.
103
PARA T O D A A V I D A
��� Voc�� me ama, Ally ��� Jeff repetiu, j�� acomodado em uma
das mesas sob as palmeiras. ��� N��o adianta negar.
��� Est�� enganado, Jeff. Eu pensei que o amava, mas agora
vejo que n��o �� bem assim. Sinto muito se perdeu a viagem.
Eu n��o imaginava que voc�� viria, at�� Sam me avisar.
��� �� por causa dele? ��� Com o dedo, Jeff apontou em dire����o
ao hall, e Alline ficou apavorada s�� de pensar no estrago que
o ex-marido poderia provocar.
��� Claro que n��o. Raul �� apenas um amigo.
��� Ora, Ally! ��� Jeff riu com ironia. ��� Eu conhe��o um con-
quistador quando vejo um. O sujeito estava devorando voc�� com
os olhos. ��� Ele riu de novo. ��� Deve ser louco por coroas, n��o?
��� N��o �� nada disso!
��� Sei... ��� De alguma forma, Jeff detectara a verdade e
estava procurando um motivo para ridiculariz��-la. ��� N��o ��
todo dia que se tem oportunidade de fazer sexo com um garot��o
como ele. Por mais duvidosos que sejam os motivos.
��� Jeff, por favor! ��� Alline estava revoltada, mas quanto
mais protestava, mais Jeff se convencia de que ela escondia
alguma coisa.
��� Ora, quem sou eu para criticar? Se bem que �� diferente.
Kelly n��o �� uma mulher de meia-idade. Mas acredite-me. Eu
entendo perfeitamente a atra����o por uma carne jovem e fresca...
��� Voc�� est�� sendo inconveniente, Jeff! E extremamente
grosseiro. ��� A atitude dele era desprez��vel, e Alline ficava
doente s�� de pensar que ele poderia fazer tais insinua����es
diante de Suzanne ou de Peter. N��o, ela n��o poderia permitir
que Jeff se aproximasse dos Davis.
Como se adivinhasse seus pensamentos, ele continuou num
tom mais suave:
��� Ent��o, acertei? Voc�� e o garot��o... j�� dormiram juntos?
Nem se d�� ao trabalho de negar. Posso ver nos seus olhos.
Voc�� sempre foi t��o transparente...
Alline negou com um gesto de cabe��a.
��� Voc�� est�� falando bobagens.
��� Estou? ��� Jeff arqueou as sobrancelhas. ��� Talvez eu
deva perguntar a Suzanne. Sabendo que nunca gostou de mim,
tenho certeza de que ela far�� quest��o de jogar toda verdade
na minha cara.
��� N��o... voc�� n��o pode perguntar a Suzanne. ��� De novo,
104
PARA T O D A A V I D A
Alline se traiu e, desesperada, teve ��mpetos de gritar, maldi-
zendo a pr��pria insensatez.
��� Por que n��o? Ela n��o sabe sobre sua... aventurazinha?
��� Deixe Suzanne fora disso.
��� Ah, ent��o voc�� n��o contou nada? ��� Jeff sorriu malicio-
samente. ��� Interessante. ��� Ele franziu o cenho. ��� N��o! N��o
me diga que o garot��o �� filho dela!
��� Voc�� esqueceu que Suzanne s�� tem uma filha?
��� �� mesmo. Que pena!
��� Voc�� �� maldoso, Jeff. Julga todo mundo por voc�� mesmo,
pelos seus padr��es repulsivos.
��� Talvez. ��� Ele n��o pareceu se ofender. ��� Mas voc�� tem
de admitir que estou no caminho certo. Alguma coisa nesse
seu caso n��o est�� encaixando direito.
��� Voc�� est�� exagerando, como sempre.
��� Estou? Por que voc�� ficou t��o preocupada com a perspectiva
de eu falar com Suzanne? N��o pode ser s�� porque voc�� arrumou
um amante. Droga, Ally! No seu lugar, eu faria o mesmo.
Alline sorriu.
��� Ent��o, est�� me dando seu aval?
��� N��o. ��� Ele a olhou com express��o s��ria. ��� N��o seja
t��o precipitada em seu julgamento. Voc�� conhece essa hist��ria
de telhado de vidro, n��o? Na sua posi����o, eu teria muito cuidado
com as pedras.
��� Como assim?
��� Eu explico. Sou muito melhor como amigo do que como
inimigo.
Alline ficou alerta.
��� Por acaso, est�� me amea��ando, Jeff?
Ele encolheu os ombros.
��� D�� o nome que quiser, querida.
��� Por que voc�� faria isso?
��� O que voc�� acha? ��� Esticando o bra��o, Jeff segurou o
queixo da ex-esposa. ��� Quero que volte para mim. E se para
conseguir meu intento, eu tiver que recorrer a uma pequena...
chantagem... n��o me farei de rogado.
��� Voc�� �� desprez��vel. ��� Alline desvencilhou-se da m��o dele.
��� Voc�� �� quem vai decidir se Suzanne merece saber ou
n��o o que est�� acontecendo por aqui. ��� Ele olhou ao redor.
��� N��o me importo de ficar alguns dias neste para��so. Segundo
1 0 5
P A R A T O D A A V I D A
o agente de viagem em Newcastle, os Davis est��o com v��rios
quartos vagos.
��� Voc�� n��o pode ficar aqui.
��� Por que n��o?
��� Suzanne n��o permitir��.
��� Suzanne n��o tem motivos para recusar-se a acomodar-me.
N��o bebo muito. E n��o fumo. Portanto, n��o incomodarei os
outros h��spedes.
Alline levantou a cabe��a.
��� Eu n��o o quero aqui, Jeff.
��� J�� percebi. ��� Ele soltou uma gargalhada. ��� Azar o seu.
��� Voc�� n��o entendeu, Jeff. Vou embora hoje.
��� Vai embora? ��� Jeff olhou-a, incr��dulo. ��� Para onde?
��� Para onde voc�� acha?
��� Para a Inglaterra?
Alline concordou com um gesto de cabe��a.
Jeff apertou os olhos.
��� N��o acredito.
��� Acredite, porque �� verdade. Sam estava... muito preocu-
pada com voc��. ��� Alline rezava para a filha perdo��-la. ���
Prometi que voltaria hoje mesmo.
106
CAP��TULO XII
T elefone, sra. Sloan.
Alline levantou os olhos da folha de
pagamento que estava preparando e deparou-se com Jennifer
Morrei, a secret��ria da empresa Jedburgh Transport, onde ela trabalhava.
��� Telefone para mim? ��� Alline n��o escondeu a apreens��o.
��� Quem... quem ��?
��� Acho que �� sua filha. Eu n��o perguntei. Voc�� sabe que
o sr. Jedburgh n��o gosta de telefonemas particulares em hora
de expediente.
��� Eu sei.
A resposta de Alline foi em tom de desculpa, mas interiormente,
enfrentava d��vidas e frustra����es. Sentia-se assim desde que vol-
tara de San Cristobal. Nem mesmo o fato de, aparentemente, Jeff
compreender que ela n��o o queria de volta aliviava sua tens��o.
Conhecia o ex-marido muito bem, e apesar dos milhares de qui-
l��metros que separavam San Cristobal de Newcastle, ela n��o tinha
certeza absoluta de que Jeff desistira de contar tudo a Suzanne.
Claro que existia a possibilidade de Suzanne n��o querer
falar com ele. A amiga n��o aprovara a decis��o de Alline de
retornar �� Inglaterra e culpava Jeff por ter estragado as f��rias
longamente planejadas.
O que n��o era totalmente verdade, Alline admitia. Ela pr��-
pria arruinara suas f��rias, antes mesmo de chegar �� ilha.
Naquelas circunst��ncias, Alline n��o tivera outra op����o a
n��o ser voltar �� Inglaterra.
Felizmente, ela conseguira tirar Jeff do hotel antes que Su-
zanne ou Peter o vissem, evitando assim uma poss��vel cat��strofe.
Provocado, Jeff n��o teria escr��pulos em revelar tudo a Suzanne.
1 0 7
P A R A T O D A A V I D A
N��o fora f��cil, mas Alline conseguira tamb��m convenc��-lo
a esper��-la no aeroporto de San Cristobal. As dez horas da
noite, sairia um avi��o para Londres. Sem perder tempo, ela
telefonou para Mike Mclean e combinou com ele para lev��-los
at�� Nassau, no in��cio da noite.
Jeff resistira, logicamente. Acabara de chegar e queria co-
nhecer aquele para��so tropical. Alline mostrara-se irredut��vel.
Ou ele aceitava suas exig��ncias ou ela voltaria sozinha, frus-
trando as inten����es dele de desmascar��-la diante dos amigos.
Talvez por n��o acreditar que ela seria capaz de rejeit��-lo, Jeff
acabara concordando.
A conversa de Alline com Suzanne n��o fora nada agrad��vel.
Para come��ar, Suzanne estava de p��ssimo humor e n��o entendia
os motivos de Alline sentir qualquer tipo de obriga����o em rela����o
ao ex-marido. E por n��o saber que Jeff estava na ilha, ela con-
siderara a partida de Alline como tolice e ingratid��o.
E fora mesmo, Alline reconhecia.
��� Sra. Sloan? ��� A voz de Jennifer arrancou-a das divaga����es.
��� Desculpe. ��� Levantando-se, ela caminhou at�� a mesa
da secret��ria para atender o telefone.
Esperava que fosse Sam. Morria de medo que Suzanne lhe
telefonasse, perguntando por que ela n��o contara que Jeff es-
tava na ilha, por ocasi��o de sua partida. Com certeza, Mike
contara a Suzanne que ela n��o viajara sozinha e que o acom-
panhante tinha o sobrenome dela. Alline ainda n��o pensara
numa boa desculpa para explicar por que omitira esse fato.
��� Al��? �� voc��, Sam?
��� Sim, mam��e. Sou eu. Como vai?
��� Ora, Sam. Voc�� me viu hoje de manh��. Por que a pergunta?
��� Est�� sentada, m��e?
Com o canto dos olhos, Alline viu que Jennifer a fitava com
curiosidade.
��� N��o. ��� Ela respirou fundo. ��� O que aconteceu, Sam?
Voc�� est�� bem? E Ryan?
��� Mam��e, voc�� s�� pensa em trag��dias! N��o aconteceu nada.
Papai telefonou logo cedo s�� para contar que tem entrevista
marcada em uma escola de North Shields. E quanto a Ryan,
duvido que j�� esteja acordado. Afinal, ainda �� meio-dia!
��� Ent��o, o que...
��� Se voc�� parar de fazer perguntas, eu conto.
108
PARA T O D A A V I D A
Incapaz de suportar o olhar insistente de Jennifer, Alline
deu-lhe as costas.
��� Ent��o, conte, Sam. Fale logo, que eu estou trabalhando.
��� Certo. Voc�� teve uma visita. O nome Rafael Ramirez
significa alguma coisa para voc��?
��� Raf... Raul! ��� As pernas de Alline ficaram bambas, e sem importar-se com Jennifer, ela apoiou-se na beirada da
mesa. ��� Raul... esteve a��?
��� Esteve ��� Sam confirmou, aparentemente satisfeita com
a rea����o da m��e. ��� Ele �� um tremendo de um gato, hein?
Alline ignorou a ��ltima observa����o da filha.
��� O que ele queria? ��� perguntou, enquanto sua mente
rejeitava todas as poss��veis raz��es pelas quais Raul estaria no
norte da Inglaterra.
��� Voc�� n��o sabe?
Como n��o podia discutir o assunto por telefone, principal-
mente com uma testemunha, Alline consultou o rel��gio de pulso
e tomou uma decis��o.
��� Est�� quase na minha hora de almo��o. Vou sair j��. Logo
estarei a��.
Felizmente, Andy Jedburgh n��o estava no escrit��rio, e ela
poderia sair alguns minutos antes do hor��rio.
��� Preciso ir at�� minha casa ��� explicou a Jennifer. ���
At�� mais.
Alline praticamente voou at�� o estacionamento. Poucos mi-
nutos depois, parava o carro diante de sua casa, em Penrose
Terrace. Sam abriu a porta imediatamente.
��� Oi, m��e. Desculpe pelo susto. ��� Ela percebeu a express��o
preocupada de Alline. ��� Achei que voc�� gostaria de saber que
ele esteve aqui.
Alline foi para a cozinha, encheu a chaleira de ��gua e levou-a
ao fogo. S�� depois, quando se sentia mais segura para encarar
Sam sem trair os verdadeiros sentimentos, virou-se e falou
pausadamente:
��� O que ele queria? Disse por que veio? ��� E com menos
firmeza: ��� Ele vai voltar?
Sam n��o escondia a ansiedade.
��� M��e, acho melhor voc�� se sentar e tomar uma x��cara de
ch�� primeiro. Voc�� est�� p��lida.
��� Estou bem.
��� N��o est��, n��o ��� insistiu Sam. ��� N��o quer me contar
o que est�� acontecendo?
109
PARA T O D A A V I D A
��� N��o sei o que... ��� Alline come��ou, pensando numa des-
culpa qualquer, mas uma vez que Raul estivera l��, Sam merecia
saber, pelo menos, uma parte da verdade. ��� Sinceramente,
Sam, nunca imaginei que veria Raul de novo.
��� Raul? ��� A garota olhou-a meio intrigada. Ele disse que
se chamava Rafael.
��� Somente os pais dele o chamam de Rafael.
��� Uau! Voc�� conheceu os pais dele?
��� Conheci. Mas n��o �� nada do que voc�� est�� pensando. Eu
os conheci porque s��o amigos de Suzanne e Peter.
��� Foi tia Suzanne quem apresentou voc��s?
��� N��o. ��� Alline mordiscou o l��bio inferior, tentando en-
contrar uma resposta apropriada. ��� Eu... n��s... nos conhecemos
no hotel, em Londres, antes de eu embarcar para Nassau.
��� Entendo... Ent��o, era com ele que voc�� estava se encon-
trando, l�� na ilha? ��� Sam franziu a testa. ��� Por que fez
tanto mist��rio?
��� Ora... ele �� muito mais novo do que eu...
��� Mam��e, que bobagem! A idade n��o tem nada a ver. Hoje
em dia, ningu��m mais liga para isso. E quantos anos ele pode
ter a menos? Tr��s, quatro?
��� Dez ��� Alline revelou, constrangida.
��� Ora, mam��e. ��� Sam remexeu-se na cadeira. ��� E qual
�� o problema? Voc�� n��o aparenta a idade que tem. �� atraente.
Assim, bronzeada, seus olhos parecem ainda mais verdes. As
luzes em seus cabelos... voc�� deveria ter feito essa mudan��a
no visual h�� muito tempo.
Para fugir ao olhar ansioso da filha, Alline tirou duas x��caras
do arm��rio e um pacote de leite da geladeira.
��� O que ele disse?
Sam encolheu os ombros.
��� Bem, ele queria v��-la. Perguntou onde voc�� estava, e eu
disse que voc�� estava trabalhando.
��� Foi assim? Ent��o, um estranho bate �� nossa porta, per-
gunta onde estou e voc�� informa?
��� N��o, n��o foi assim ��� Sam defendeu-se. ��� Ele sabia
quem eu era. Quando abri a porta, ele disse: "Voc�� deve ser
a Sam". Ora, m��e, ele me desarmou!
��� Ele desarma, mesmo. ��� Alline escolheu os sach��s de
ch��. ��� E depois?
1 1 0
P A R A T O D A A V I D A
��� Ele me pediu para dizer a voc�� que ele est�� na Inglaterra, e
que se voc�� quiser conversar com ele pode encontr��-lo no Post House.
��� Post House? Foi o que ele disse?
��� Sim. ��� Sam umedeceu os l��bios. ��� Voc��... vai procur��-lo?
��� N��o sei.
Sam colocou as m��os na cintura.
��� Como n��o sabe? Ou voc�� vai ou n��o vai. ��� Ela franziu
o cenho. ��� O papai sabe a respeito dele?
��� Por que voc�� pergunta?
��� Foi alguma coisa que ele disse.
Alline ficou apreensiva.
��� O que seu pai disse?
��� N��o me lembro bem. Na hora, eu n��o dei muita impor-
t��ncia. Pensei que ele estivesse apenas despeitado porque voc��
se recusou a aceit��-lo de volta.
��� Como, despeitado?
��� Ele falou alguma coisa sobre voc�� o estar fazendo de
bobo. Que ele at�� acreditou quando voc�� garantiu que n��o
estava envolvida com ningu��m.
Alline apoiou as duas m��os na mesa. De novo, o frio no
est��mago, o medo, a apreens��o.
��� Por que voc�� n��o me contou antes?
��� Ora, mam��e! ��� A garota revirou os olhos, impaciente. ���
O que havia para contar? Ele n��o mencionou nomes. Apenas
comentou que gostaria de revelar a tia Suzanne que voc�� era
mentirosa. Eu n��o podia lhe contar isso, podia? N��o quis abor-
rec��-la ainda mais. Mas eu o preveni para n��o fazer essas acu-
sa����es a seu respeito. Eu n��o sabia que voc�� estava namorando.
��� E n��o estou! ��� protestou Alline. ��� Oh, Sam, voc�� acha
que ele telefonou para Suzanne?
��� E se tiver telefonado? Qual o problema? Tia Suzanne
n��o tem nada a ver com isso!
��� Tem, sim! Oh, Sam, Raul �� namorado da J��lia. Suzanne
e Peter sonham com o casamento deles.
Sam ficou boquiaberta.
��� Voc�� est�� brincando!
��� N��o, minha filha. N��o estou.
��� Mas ele deve ser muito mais velho do que J��lia.
��� N��o muito. A diferen��a de idade entre eles �� menor do
que entre mim e ele. Ele tem s�� vinte e nove anos, Sam.
1 1 1
PARA T O D A A V I D A
Sam observou atentamente o rosto da m��e.
��� Isso a incomoda, n��o ��? Quer dizer que existe mesmo
alguma coisa entre voc��s...
Alline balan��ou a cabe��a.
��� N��o sei mais o que pensar.
Sam tentou entender o significado das palavras de Alline.
��� Me diga uma coisa... Como o papai sabe? Se �� que real-
mente sabe?
��� Seu pai nos viu juntos. Eu estava justamente �� procura
de Suzanne para comunicar minha decis��o de voltar e cruzei
com Raul no sagu��o.
��� E da��? Voc��s estavam se beijando ou...
��� N��o! ��� Alline a interrompeu, corando. ��� Est��vamos
apenas conversando.
Os bra��os de Sam ca��ram ao longo do corpo.
��� E o papai deduziu que voc�� e esse tal Raul estavam
tendo um caso. ��� Ela fez um gesto evasivo com as m��os. ���
N��o acredito.
��� Tudo bem. ��� Mesmo relutante, Alline relatou �� filha os
acontecimentos que precipitaram a discuss��o entre Jeff e Raul.
��� Agora voc�� v�� que n��o �� o que parece.
��� Ah, mam��e! ��� Sam n��o conteve uma risada maliciosa.
��� E eu que pensei que voc�� estava levando uma vida cheia
de t��dio. Aposto que papai n��o gostou nada!
��� N��o gostou, mesmo. Por isso, decidi tirar seu pai daquele
hotel, imediatamente. Se ele contasse a Suzanne...
��� Voc�� acha que ele contou? ��� Sam perguntou com ex-
press��o s��ria. ��� Ser�� que foi por isso que Raul veio aqui?
Ser�� que ele terminou o namoro com a J��lia?
Alline n��o queria acreditar, mas tudo era poss��vel.
��� Espero que n��o ��� disse, ignorando o fio de esperan��a
que se alojara em seu cora����o, naquela tarde, no hotel.
Chegara a acreditar que Raul preferia contar a verdade a
J��lia do que deix��-la partir. Era tolice, Alline reconhecia com
uma ponta de tristeza. Fazia tr��s semanas que voltara da ilha.
Tempo demais para alimentar ilus��es.
��� O que voc�� quer dizer com "espero que n��o"? Corrija-me
se eu estiver errada, mam��e, mas tenho a n��tida impress��o
que voc��... est�� gostando de Raul. Voc�� n��o se importa se ele
se casar com outra?
1 1 2
PARA T O D A A V I D A
��� Esse assunto n��o me diz respeito. ��� Alline recusava-se
a discutir os problemas dos Davis com a filha.
��� Ser��? ��� Sam n��o parecia convencida. ��� Voc�� est�� irritada
porque acha que o papai andou fazendo fofocas com a tia Suzanne?
Era mais f��cil deixar que Sam acreditasse nisso.
��� Talvez. ��� Alline surpreendeu-se com a firmeza das pr��prias
m��os, ao preparar o ch��. Arrumou as x��caras, o bule de ��gua
fervente e o leite numa bandeja, e levou-a para a sala de visitas.
��� Vamos tomar nosso ch��. Tenho que voltar ao trabalho.
��� Mas... ��� Sam olhava-a incr��dula ���, voc�� n��o vai tele-
fonar para Raul?
��� Acho que n��o ��� Alline respondeu, passando pela filha,
em dire����o �� sala. ��� N��o me olhe assim, Sam. Sei o que estou
fazendo. Independentemente da diferen��a de idade, n��o tenha
tanta certeza de que homens como Raul Ramirez est��o dis-
postos a envolver-se seriamente com mulheres como eu.
Nunca o tempo demorara tanto para passar quanto naquela
tarde. Finalmente, ��s cinco horas, aliviada, Alline levantou-se
e deixou o escrit��rio.
N��o conseguira concentrar-se no trabalho, s�� pensando em
Raul e no fato de ele estar em Newcastle, t��o perto dela. N��o
acreditava que Raul viajara milhares de quil��metros s�� para v��-la.
De qualquer forma, independentemente do motivo que o levara
�� Inglaterra, seria muito bom rev��-lo. A despeito do que dissera
a Sam, a tenta����o de procur��-lo era quase irresist��vel.
Ao chegar em casa, encontrou um bilhete de Sam, infor-
mando que ficaria trabalhando at�� ��s sete e depois iria jantar
com o noivo. Pedia para a m��e n��o esper��-la acordada, pois
n��o sabia a que horas voltaria.
Alline suspirou. Sam tinha sorte. Estava absolutamente se-
gura em rela����o ao futuro. N��o corria o risco de uma gravidez
n��o planejada, nem de um casamento alicer��ado em necessi-
dade em vez de amor.
Deixou o recado sobre a mesa e tirou o casaco, pendurando-o
no encosto da cadeira. Estava desapontada. Esperava que Sam
voltasse para casa, depois do expediente. Queria conversar com
a filha, perguntar mais sobre Raul, se tivesse coragem. Mas
Sam tinha a vida dela.
De repente, a imagem de Raul jantando sozinho no Post
1 1 3
PARA T O D A A V I D A
House Hotel surgiu em sua mente. Perguntava-se o que ele
estaria fazendo naquele momento. Talvez conhecendo a cidade,
ou sentado no quarto, esperando pelo telefonema dela.
N��o tinha coragem de telefonar. Como poderia simplesmente
ligar e conversar, como se a presen��a dele em Newcastle fosse
a coisa mais natural do mundo? Al��m do mais, Raul deveria
saber que ela era pr��tica demais, velha demais, para tomar decis��es arrojadas, envolvendo a vida de outras pessoas.
Mas ele estava l��.
Tentou sufocar o pensamento. N��o queria cometer a tolice de
acreditar que ele fora at�� Newcastle s�� para v��-la. N��o era poss��vel.
Ent��o, por que ele estava l��?
Decidida a n��o pensar mais no assunto, subiu a escada.
N��o queria destruir aquele pequeno o��sis de tranq��ilidade que
constru��ra, em meio a l��grimas, saudade e melancolia. No quar-
to, parou diante do espelho. C��us, estava horr��vel! P��lida, aba-
tida, as luzes dos cabelos, assim como o bronzeado da pele,
come��avam a perder o brilho. Se n��o tomasse cuidado, logo
seria a mulher que era antes de ir para San Cristobal.
Balan��ando a cabe��a, afastou-se do espelho e entrou no ba-
nheiro. Abriu as torneiras para encher a banheira e voltou ��
cozinha. Tirou uma garrafa de vinho branco da geladeira, abriu-
a e, depois de pegar um copo, voltou ao banheiro.
Tirou a roupa e mergulhou na banheira. Queria ficar b��bada.
S�� assim, n��o ouviria o clamor de vozes em sua cabe��a, avi-
sando-a de que aquela poderia ser sua ��ltima chance.
Estava no terceiro copo de vinho quando a campainha tocou.
Determinada a ignor��-la, aninhou-se mais na ��gua morna.
O toque se repetiu, com mais insist��ncia. N��o poderia ser Sam,
nem Ryan. Ambos tinham a chave de casa.
Alline hesitou antes de pousar o copo na borda da banheira,
e sair. Enrolando uma toalha no corpo, aproximou-se da janela
do quarto, que dava para a rua.
Seu cora����o quase parou.
Era Raul!
��� Ally! Sei que voc�� est�� a��. Seu carro est�� aqui na porta.
Alline piscou. Como Raul sabia que aquele era o carro dela?
A menos... A menos que Sam...
Ela bateu com as m��os nos quadris.
��� Sam! Sam!
1 1 4
PARA T O D A A V I D A
De repente, o recado da filha ficou absolutamente claro.
Errara ao pensar que Sam aceitara sua decis��o. A filha, que
a conhecia muito bem, n��o hesitara em fazer o que ela pr��pria
n��o tivera coragem de fazer: telefonar para Raul.
Reconhecendo que n��o poderia mais fingir, Alline apareceu
na janela.
��� Um momento! J�� vou abrir.
Ofegante, parou no meio do quarto, sem saber direito por
onde come��ar. Com uma toalha seca, enxugou os cabelos. Co-
locou um robe felpudo e prendeu os cabelos molhados num
coque no alto da cabe��a. E ent��o, sem se dar tempo para mudar
de id��ia, desceu a escada e abriu a porta.
Um sopro de vento frio envolveu-a, e ela estremeceu. Mas
o arrepio era provocado mais pela presen��a do homem parado
no degrau. Ela nunca o vira de casaco por cima do su��ter cinza
e da cal��a de l�� da mesma cor.
��� Raul... ��� ela murmurou. ��� Entre.
��� Obrigado.
Ela o conduziu at�� a sala de visitas.
��� Fique �� vontade. Vou trocar de roupa e...
��� N��o ��� ele a interrompeu. ��� N��o precisa. Por favor.
Gosto de voc�� assim.
Ela o fitou meio confusa, sem saber como lidar com a situa����o.
��� Eu... Por que voc�� veio, Raul?
Os olhos de Raul brilharam, iluminando o rosto mais magro,
p��lido.
��� Voc�� n��o sabe, Ally?
��� N��o. ��� Ela cruzou os bra��os. ��� Voc�� veio sozinho?
��� Com quem eu poderia vir? ��� Raul fechou os olhos por
um momento, depois abriu-os lentamente. Esticando os bra��os,
ele a segurou pelos ombros. ��� Venha c�� e eu lhe conto.
Alline estremeceu, incapaz de disfar��ar o efeito que o calor
das m��os dele lhe provocavam.
��� Oh, Ally! ��� ele murmurou, puxando-a de encontro ao peito.
��� Ally, voc�� n��o imagina o tormento em que tenho vivido. ���
Ele tamb��m estava tremendo. O corpo musculoso estremeceu
quando ele entreabriu as pernas para traz��-la para mais perto.
��� Meu Deus, Ally... ��� A voz dele soou enrouquecida, o h��lito
quente em seu rosto. ��� Por que me deixou acreditar que estava
voltando para Jeff? Eu padeci as penas do inferno, pensando que
voc�� e aquele bastardo estavam juntos de novo.
1 1 5
PARA T O D A A V I D A
Alline prendeu a respira����o ao sentir a m��o dele introdu-
zindo-se pela abertura do robe e tocar o mamilo enrijecido.
Por um instante, emudeceu, e aproveitando-se, Raul desamar-
rou o cinto do robe.
��� Voc��... sabe por qu�� ��� Alline conseguiu falar. ��� Voc��
e J��lia iam casar e...
��� Eu tinha dito a Suzanne que n��o pretendia me casar com
J��lia ��� Raul explicou, olhando fascinado para o tri��ngulo de
p��los castanho-dourados no meio das coxas de Alline. Depois,
obrigou-se a olh��-la de novo. ��� Esse foi o motivo de minha reuni��o
com os Davis... naquele dia em que Jeff apareceu no hotel.
Alline soltou um gemido abafado.
��� Oh, Raul, voc�� n��o devia ter terminado o namoro.
��� Ora, Ally! Voc�� queria que eu me casasse com J��lia?
Preferia manter um romance clandestino, sem a responsabili-
dade do casamento?
Alline arregalou os olhos.
��� Como voc�� pode pensar uma coisa dessas? ��� Desvenci-
lhando-se, ela tornou a fechar o robe, amarrando-o firmemente
ao redor da cintura. ��� Voc�� est�� me ofendendo!
��� Calma, Ally! ��� Raul tirou o casaco e largou-o no sof��.
��� Que eu saiba, a parte ofendida aqui sou eu. Como teve
coragem de ir embora, sabendo o quanto eu a amava?
Alline balan��ou a cabe��a.
��� J�� falamos sobre isso, Raul. Pensei que voc�� ia se casar
com J��lia...
��� Suzanne deveria ter lhe contado que n��o haveria casa-
mento. ��� Ele abriu os bra��os, num gesto desolado. ��� Eu tinha
certeza que ela ia lhe contar.
��� Ela n��o me contou nada. Eu n��o sou mentirosa.
��� Nem eu. Eu a amo, Ally.
��� Mas Suzanne dependia de voc�� ��� Alline observou num
tom distra��do.
Raul franziu o cenho.
��� Como assim?
Alline ergueu os ombros.
��� Voc�� sabe. N��o me obrigue a repetir.
��� Ah! Voc�� est�� se referindo ao empr��stimo?
Alline concordou com um gesto de cabe��a.
��� Ent��o, Suzanne confiou-lhe os problemas financeiros, mas
depois de resolvidos, ela n��o comentou nada, n��o �� mesmo?
1 1 6
PARA T O D A A V I D A
��� N��o estou entendendo nada.
��� Claro que n��o. ��� Raul aproximou-se dela. ��� Eu achei
que voc�� seria a primeira a saber.
��� Que seu pai ia cobrar o empr��stimo que fez aos Davis,
logo no in��cio de seu namoro com J��lia?
��� N��o. ��� Raul suspirou. ��� Que meu pai concordou em
perdoar o empr��stimo, em troca de uma participa����o no hotel.
Foi exatamente a proposta que os Davis apresentaram quando
procuraram meu pai para pedir um empr��stimo. Ocorre que,
na ��poca, meu pai n��o quis envolver-se nos neg��cios deles.
��� Eles procuraram seu pai? ��� Alline estava perplexa. A
hist��ria que Suzanne lhe contara era bem diferente. ��� Eu
n��o sabia.
��� Acredito em voc��. ��� Com o dedo, ele contornava o rosto
dela, os l��bios. ��� Sinto muito. Eu imaginei que eles tivessem
lhe contado.
��� O que aconteceu para seu pai mudar de id��ia? ��� Alline
perguntou.
��� Meu pai �� um homem que enxerga longe. Carlos est��
apaixonado por J��lia, e ela �� filha ��nica. Ent��o, meu pai re-
solveu investir no futuro de Carlos, entende?
��� E voc�� n��o se importa?
��� Eu? ��� Raul sorriu. ��� Pelo contr��rio. Apoiei a decis��o
do meu pai. Eu j�� lhe disse como foi que me envolvi com J��lia.
Na noite do jantar, em Finisterre, lembra-se? Na mesma noite em que voc�� afirmou que n��o estava interessada em mim.
��� N��o �� verdade. Voc�� sabe muito bem por que agi daquela
maneira. Mas... ainda n��o sei o que voc�� quer de mim.
��� Ah, sabe, sim. ��� Raul tirara os grampos que prendiam
os cabelos dela, que, ��midos, ca��ram sobre os ombros. ��� Eu
quero voc��, Ally. E voc�� tamb��m me quer. S�� que o orgulho
a impede de confessar.
��� N��o �� orgulho.
��� Seja l�� o que for, quero ouvir de voc��. ��� Ele lhe mor-
discava a orelha. ��� Quero ouvi-la dizer que me quer, tanto
quanto eu a quero.
��� Sim, Raul. Eu quero voc��. Quero que fa��a amor comigo.
Quero fazer amor com voc��. Quero...
As palavras de Alline foram tragadas pelos l��bios de Raul,
e Alline entregou-se inteiramente ao beijo.
1 1 7
PARA T O D A A V I D A
Ambos estavam famintos, ��vidos, e na sala silenciosa, tudo o
que se ouvia era a respira����o ofegante de ambos. Desesperada-
mente, Alline introduziu a m��os sob o su��ter dele, sentindo a
pele morna, macia. Depois, as m��os desceram pelo c��s da cal��a,
e ela se arrepiou ao sentir o membro pulsante entre seus dedos.
��� Ah, Ally! ��� Raul gemeu, mas quando Alline tentou abrir
o z��per da cal��a, ele a impediu. ��� Ainda n��o. ��� Ele se sentou
no sof��, fazendo-a sentar-se em seu colo.
O robe felpudo j�� estava esquecido no ch��o, e Alline n��o
esperou para ajud��-lo a tirar o su��ter e a camiseta. Fascinada,
acariciou o peito r��gido, acompanhando os p��los macios que
desciam pelo abd��men. Cavalgando-o, ela desabotoou o cinto
e, ent��o, abriu o z��per da cal��a. Raul gemeu quando ela puxou
a cal��a, junto com a cueca. A seguir, ela acariciou o membro
enrijecido, primeiro com a m��o, depois com a l��ngua.
��� Espere! ��� ele murmurou, invertendo facilmente as po-
si����es. Agora, era ele quem a cavalgava. ��� Sou humano, Ally.
E preciso de voc��... muito... muito.
Alline queria dizer que sentia a mesma coisa, mas os l��bios
dele tinham capturado os dela novamente, a l��ngua exploran-
do-lhe a boca. Raul arqueou o corpo para sugar-lhe os seios
dela, e Alline tentou segurar o membro em riste, mas com um
gemido, ele afastou-lhe a m��o.
��� Quero penetr��-la. Quero satisfazer-me dentro de voc�� ���
ele sussurrou, acariciando-lhe o abd��men, at�� tocar os carac��is
��midos e macios que encobriam o centro da feminilidade dela.
��� Voc�� quer?
Alline se contorcia, sentindo os dedos dele brincando, provo-
cando, explorando-a. Ela, que acreditara ter controle sobre seu
corpo, de repente era sacudida pela for��a de um orgasmo. Gemendo,
puxou a m��o dele, exigindo que ele tomasse o lugar dos dedos.
��� Droga! Esqueci os preservativos no bolso do casaco ���
Raul resmungou, mas Alline n��o permitiu que ele se afastasse.
��� N��o faz mal. Eu quero voc��. Quero senti-lo dentro de mim...
Raul olhou-a surpreso.
��� Tem certeza?
��� Desde que voc�� tamb��m queira.
��� Eu quero, sim. ��� E com um gemido de satisfa����o, ele a
invadiu...
118
PARA T O D A A V I D A
J�� era quase meia-noite quando Alline e Raul finalmente
adormeceram. Fazer amor no sof�� da sala de visitas fora apenas
o in��cio de uma deliciosa noite de paix��o e prazer. Houve outras
vezes, outros lugares, surpreendendo, saciando, inebriando Al-
line, em todos os aspectos.
Raul parecia insaci��vel. A banheira foi novamente prepa-
rada, e l�� tamb��m acabaram fazendo amor. E foi ali, entre
beijos e car��cias, que Raul a pediu em casamento.
��� Voc�� quer mesmo casar comigo? ��� Alline custava a acre-
ditar que aquilo estivesse realmente acontecendo. ��� E sua
m��e? Acho que ela gostaria que voc�� se casasse com uma mu-
lher mais jovem.
Raul mordiscou-lhe a orelha.
��� Meus pais sabem de tudo e aprovam minha decis��o. Eu
contei tudo, antes mesmo de sua visita a Finisterre.
Alline arregalou os olhos.
��� N��o acredito!
��� Voc�� n��o desconfiou? Por que acha que eles estavam t��o
ansiosos para conhec��-la?
��� Voc�� �� maluco mesmo! ��� Alline exclamou.
��� E ent��o? Vai se casar comigo? Ou ser�� que tenho que
fazer como meus antepassados? Rapt��-la?
��� Acho que voc�� me raptou naquela noite, em Londres ���
ela admitiu com simplicidade. ��� Desde ent��o, s�� tenho pensado
em voc��.
��� Por que n��o me disse isso logo, em vez de me deixar
acreditar que voc�� e Jeff iam se reconciliar?
Alline enla��ou-o pelo pesco��o.
��� Como voc�� descobriu que eu e Jeff n��o est��vamos juntos?
��� J��lia me contou. Parece que voc�� escreveu para Suzanne,
agradecendo a hospitalidade, e na carta, voc�� deve ter men-
cionado alguma coisa sobre n��o pretender refazer a vida com
seu ex-marido.
��� �� verdade. ��� Ela escrevera mesmo para Suzanne, mas
nunca recebera resposta. Ela mordiscou o l��bio. ��� Ent��o, J��lia
sabe sobre n��s?
Acho que sim. Carlos n��o �� muito bom na arte de
guardar segredos, e como ele ficou sabendo, provavelmente
acabou contando.
Alline segurou o rosto dele entre nas m��os.
1 1 9
P A R A T O D A A V I D A
��� Eu o amo, sabia?
��� E eu a amo ��� Raul repetiu. ��� E n��o vejo a hora de
lev��-la para San Cristobal.
��� Suzanne n��o vai gostar nada disso ��� Alline comentou.
��� E da��? Depois de chorar as m��goas em seu ombro, ela
tinha a obriga����o de contar-lhe quando os problemas financei-
ros da fam��lia foram resolvidos.
��� Eu entendo a situa����o de Suzanne. Ela estava t��o orgu-
lhosa com a perspectiva do casamento da filha com voc��! Pre-
feria morrer a revelar-me que n��o haveria mais casamento.
Raul encolheu os ombros e sorriu maliciosamente.
��� �� voc�� quem est�� dizendo.
��� �� verdade. Voc�� �� um homem muito atraente.
��� Ent��o, logo serei um atraente homem casado? ��� ele
indagou ansioso, e Alline confirmou.
��� Sim, logo voc�� ser�� um atraente homem casado.
E Raul cobriu os l��bios dela com os seus.
Alline ligou para Sam, antes de se deitar. Sam n��o ficou
surpresa com as novidades.
��� Ele est�� a��? ��� a garota perguntou curiosa. Depois de ouvir
a resposta da m��e, ela continuou: ��� Voc�� vai se casar com ele?
��� Como voc�� sabe?
��� Eu perguntei quais eram as inten����es dele, claro ��� Sam
nem se preocupou em esconder que ligara para Raul, no Post
House Hotel. ��� A prop��sito, mam��e, eu telefonei para Ryan,
tamb��m. Ele disse que voc�� tem a b��n����o dele.
��� Oh, Sam, como voc�� p��de... ��� Alline mudou o tom da
conversa. ��� Voc��s n��o se importam?
��� Ora, mam��e. �� a melhor coisa que poderia lhe acontecer.
Por que dever��amos nos importar?
Mais tarde, na cama, Alline comentou com Raul a rea����o
de Sam.
��� Ela �� uma boa menina. Ally. Espero que ela e Ryan
compreendam que encontrar��o sempre um lar em nossa casa,
seja qual for o caminho que escolherem.
��� Oh, Raul! ��� Alline se aninhou nos bra��os dele. ��� Parece
um sonho. Tenho medo de dormir, acordar e...
Ele a interrompeu com um beijo.
��� N��o �� sonho, Ally. Mas se voc�� n��o estiver com sono,
acho que poderemos nos distrair um pouco...
1 2 0
EP��LOGO
Alline descansava no p��tio de Finisterre. Ao ver
o marido e o sogro, levantou-se para receb��-los.
Raul acompanhara o pai nas visitas �� marina.
��� Ally, minha querida. ��� Juan Ramirez beijou-a no rosto
antes que Raul a enla��asse pela cintura. ��� Desculpe-nos pela
demora. Isabel n��o est�� abusando de sua hospitalidade?
��� Isabel nunca abusa de minha hospitalidade ��� respondeu
ela com firmeza. Ela olhou para onde a sogra e os outros h��s-
pedes estavam reunidos para o churrasco. ��� Isabel est�� sendo
muito simp��tica com Sam e Ryan. Ela os trata como se fossem
da fam��lia.
��� Eles fazem parte da nossa fam��lia, Ally ��� afirmou Juan
com express��o s��ria. ��� S��o seus filhos, n��o s��o? N��s gostamos
muito de voc��, querida. Como n��o ir��amos gostar dos seus filhos?
Com os olhos ��midos, Alline voltou-se para Raul.
��� Voc��s s��o maravilhosos e me fazem muito feliz.
��� Voc�� tamb��m me faz muito feliz, meu amor. O que eles
est��o fazendo?
��� Parece que sua m��e est�� ensinando aos jovens como assar
o peixe que Maria comprou hoje cedo ��� Juan explicou, afas-
tando-se em dire����o ao local onde Sam e o marido Mark, Ryan
e a namorada Penny, estavam reunidos, ao redor de Isabel.
��� Hola ��� ele gritou. ��� Esse peixe j�� est�� pronto?
Raul abra��ou Alline e murmurou ao ouvido dela:
��� Voc�� est�� feliz de verdade?
��� Pare de buscar elogios. ��� Alline sabia que ele estava
brincando. Depois de um ano de casada, aprendera a conhecer
o marido, e ainda estava maravilhada com a felicidade que
desfrutavam. ��� Voc�� viu Carlos?
1 2 1
P A R A T O D A A V I D A
��� Sim. Ele e J��lia vir��o mais tarde. Vai depender de como
J��lia estiver se sentindo. Voc�� sabe minto bem como s��o os
primeiros meses de gravidez.
Alline concordou.
��� Se sei! ��� Ela riu. ��� Mas vale a pena.
��� �� mesmo? ��� Raul acariciou-lhe o rosto.
��� Eu acho. ��� Percebendo que estavam come��ando a es-
quecer-se dos convidados, ela desviou o olhar e perguntou. ���
Voc�� acha que sua m��e est�� bem?
��� Muito bem. Sem esta casa imensa para administrar, ela
parece menos cansada. A id��ia de papai de construir uma casa
menor dentro da propriedade foi excelente.
��� Ser�� que ela sente falta desta casa?
��� Acho que n��o. Mesmo porque ela est�� sempre aqui co-
nosco. ��� Ao som de passos que se aproximavam, ambos de
voltaram. ��� Eis a raz��o pela qual mam��e n��o consegue ficar
longe daqui. ��� Raul olhou para os seios de Alline, volumosos
sob a blusa de seda bege. ��� Ele j�� mamou?
Alline riu, sabendo o quanto Raul gostava de v��-la alimentar
o pequeno Manuel, de apenas tr��s meses. Ela pegou o filho
dos bra��os da bab��.
��� J��. ��� Olhou para o rosto sorridente do beb��. ��� Veja, o
sorriso dele �� igual ao seu.
��� �� assim que eu sorrio quando voc�� me satisfaz?
��� Exatamente assim. ��� Ela ro��ou os l��bios nos de Raul.
��� Segure seu filho. Ele sentiu sua falta.
Raul obedeceu. Pegou o filho nos bra��os e come��ou a em-
bal��-lo carinhosamente.
��� Ei, veja quem est�� aqui!
Ao ver o irm��ozinho nos bra��os de Raul, Sam correra para
v��-lo. Apesar de ter garantido �� m��e que n��o pretendia ter
filhos nos primeiros cinco anos de casada, os olhos de Sam
brilhavam ansiosos enquanto acariciava o beb��.
��� Quer segur��-lo um pouco? ��� Raul perguntou, e Sam
desmanchou-se num sorriso maravilhado.
Isabel tamb��m se aproximou.
��� Ah, o ni��o! ��� exclamou, ao ver o neto.
Logo todos estavam rodeando Sam e o pequeno Manuel.
Ryan, Penny, Mark e os av��s, todos falavam ao mesmo tempo.
Raul inclinou-se para murmurar ao ouvido de Alline:
122
P A R A T O D A A V I D A
��� Voc�� acha que sentir��o nossa falta?
Ela riu.
��� Voc�� �� incorrig��vel! ��� resmungou, sentindo o dedo dele
em seu seio.
Raul suspirou.
��� Sou apenas um homem apaixonado. Mas creio que posso
esperar. Terei o resto da minha vida para demonstrar-lhe todo
o meu amor...
ANNE MATHER come��ou a escrever ainda
menina, passando pelas hist��rias rom��nticas da
adolesc��ncia at�� chegar aos romances adultos, os
quais tanto aprecia. �� casada, tem dois filhos e
mora no norte da Inglaterra. Al��m de escrever,
gosta de ler, dirigir e viajar para lugares dife-
rentes, onde encontra inspira����o para seus ro-
mances. Considera-se uma pessoa privilegiada,
pois al��m de fazer algo de que realmente gosta,
ainda ganha dinheiro pelo seu trabalho!
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O Grupo Bons Amigos tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais .
Para Toda Vida - Anne Mather
Livro doado por Neilza e digitalizado por Fernando Santos
Sinopse:
Aline nunca imaginara que depois de tantos anos de casamento e uma separação traumática, se interessaria outra vez por um homem.
Lançamento :
a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses
b)http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br
Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos.
Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras
Livros:
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