ENFERMEIRAS
DUAS MULHERES
ISABEL SALUENA
CAPITULO 1
��� Tudo bem, Gary?
��� Voc�� conseguiu o diploma de m��-
O homem alto, magro, de rosto agra-
dico e eu o de enfermeira. N��s nos for-
d��vel e simp��tico, moveu a cabe��a num
mamos quase ao mesmo tempo e, jun-
gesto afirmativo, respondendo �� pergun-
tos, nos unimos �� equipe do Dr. Ber-
ta feita pela enfermeira que, ao seu la-
nard, um dos mais c��lebres cirurgi��es
do, esperava que acabasse de se lavar na
de Londres. Depois, quando sua expe-
pia, para ajud��-lo a retirar a roupa usa-
ri��ncia lhe permitiu, voc�� montou sua
da na sala de opera����es.
pr��pria cl��nica, na qual sempre desem-
��� Sim, Susan, correu tudo bem. Mais
penhei um papel importante.
uma vez devo agradecer-lhe pela rapi-
��� E poderia ser diferente? Quando
dez com que executou minhas ordens.
seus pais morreram naquele tr��gico aci-
��� Creio que venho obedecendo-o des-
dente, minha m��e, que �� sua madrinha,
de quando tinha apenas cinco anos. J�� levou-a para morar conosco. Meu pai
naquela ��poca nos entend��amos com um
tamb��m j�� tinha falecido.
simples olhar. Lembra-se?
Os olhos escuros da enfermeira bri-
��� Tem raz��o. Sempre fomos muito lharam emocionados.
unidos. Gostos iguais, id��ias comparti-
��� Sua casa tem sido o meu lar des-
lhadas. .. At�� no momento de decidir-
de crian��a.
mos o nosso futuro, escolhemos a mes-
��� Todos sabem que para mim voc�� ��
ma profiss��o.
como se fosse uma irm��. E sinto-me or-
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gulhoso de t��-la trabalhando comigo,
��� Coisa grave, Gary? ��� perguntou,
pois �� a melhor enfermeira que um m��-
inquieta.
dico poderia ter.
��� Na idade dela, qualquer coisa po-
��� Meu Deus, quantos elogios!
de ser grave, Susan. Apliquei-lhe uma
��� Todos verdadeiros, Susan ��� decla-
inje����o, mas fico mais tranq��ilo saben-
rou um outro homem que havia entra-
do que voc�� est�� ao lado dela.
do na sala naquele instante. De esta-
��� Bem, nesse c a s o . . . �� bom eu n��o
tura mediana, cabelos louros e olhos me demorar.
azuis, Harry Taylor era o simp��tico as-
��� Quer que a leve?
sistente de Gary Burton. ��� Eu assina-
��� N��o, �� melhor voc�� ficar mais um
rei qualquer documento nesse sentido se
pouco. O paciente pode ter alguma rea-
algum dia decidir nos abandonar. Em-
����o imprevista. Eu irei de t��xi.
bora ache essa hip��tese pouco prov��vel,
Harry Taylor levantou-se.
n��o ��?
��� Vamos, Susan, eu a levo.
��� Pode ter certeza, Harry ��� respon-
��� Mas voc�� pode ser necess��rio aqui.
deu Susan.
��� Vou e volto em menos de meia ho-
��� Como est�� o paciente? ��� pergun-
ra. E, enquanto isso, Gary estar�� aqui
tou Gary ao seu assistente.
para qualquer emerg��ncia.
��� J�� est�� no quarto. Deixei o Mike
��� Ele tem raz��o, Susan ��� concordou
tomando conta dele ��� informou Har-
Gary Burton.
ry. ��� Que tal um cafezinho, Susan? Po-
deria servi-lo no gabinete do Sr. Dire-
A jovem enfermeira aceitou o ofereci-
tor. De acordo, Gary?
mento.
Este fez que sim com a cabe��a. ��s
Durante a viagem, Harry notou que
vezes, custava a acreditar que fosse ele Susan estava apreensiva.
o dono daquela pequena cl��nica que co-
��� Preocupada, enfermeira?
me��ava a se tornar conhecida na clas-
Ele perguntara sem desviar os olhos
se m��dica.
da rua.
��� O caf�� ser�� servido dentro de al-
��� Muito. Trata-se da Sra. Burton.
guns minutos ��� garantiu a enfermeira. Gosto dela como se fosse minha pr��-
��� Ent��o, vamos para a minha sala, pria m��e. Estou com ela h�� tanto tem-
Harry. Temos que completar a ficha do po e sempre me tratou com muito ca-
cliente.
rinho.
N��o havia transcorrido dez minutos
��� Compreendo. A Sra. Burton �� uma
que os dois tinham entrado no gabinete mulher excelente. Consagrou sua vida a
de Gary, quando Susan chegou com tr��s
voc�� e ao filho.
x��caras de caf�� numa bandeja.
��� E s�� agora est�� recebendo a com-
A sala era ampla e decorada com so-
pensa����o de toda a sua luta. Gary tem
briedade. A jovem colocou a bandeja sua pr��pria cl��nica e eu tamb��m conse-
sobre a escrivaninha, enquanto os dois gui um futuro promissor.
m��dicos anotavam as caracter��sticas da
��ltima opera����o.
��� Que n��o ser�� o definitivo, n��o ��?
��� O que quer dizer? ��� perguntou Su-
Depois de tomar o seu caf��, Gary dis-
se para Susan:
san, intrigada.
Harry Taylor tinha fama de brincalh��o
��� Pode ir para casa, querida. J�� �� e inconseq��ente. Mas, realmente, n��o o
tarde e voc�� teve um dia agitado.
era. Somente uma grande timidez era
��� Posso ficar olhando o doente, se respons��vel por sua aparente despre-
voc�� quiser ��� retrucou a enfermeira.
ocupa����o.
��� N��o, Helen far�� isso. Voc�� deve
��� Voc��s, mulheres, v��em no casamen-
descansar, e minha m��e deve estar es-
to a meta da sua exist��ncia.
perando-a. N��o lhe quis dizer nada, mas
depois que voc�� saiu de casa, hoje de
��� Talvez...
manh��, ela teve uma indisposi����o.
��� J�� pensou no homem ideal?
O rosto da jovem empalideceu repen-
��� N��o acredito muito nisso. A gente
tinamente.
pode ser conquistada por um homem
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que n��o se assemelhe, nem remotamen-
tar cedo para casa, por favor. Ele pre-
te, ao nosso ideal.
cisa dormir algumas horas.
��� �� poss��vel que tenha raz��o. Voc��
��� N��o se preocupe. Eu, ao contr��rio,
�� muito exigente? Quero dizer, pensa vou ficar de plant��o.
num homem alto, bonito, endinheirado?
��� Amanh��, quando chegar na cl��ni-
Ou se conformaria com outro menos ca, prepararei pessoalmente o seu caf��.
atraente, menos rico e . . . mais enamo-
Contente, Dr. Taylor?
rado?
O rosto simp��tico do rapaz se ilumi-
��� Acho que ainda n��o chegou o mo-
nou de alegria.
mento de decidir isso, Harry. Ou talvez
��� Voc�� �� minha fada-madrinha, Su-
o destino jamais me ofere��a essa opor-
san! Tenho certeza de que n��s dois...
tunidade.
Mas a mo��a impediu que prosseguisse,
talvez porque adivinhasse o que o ho-
��� Por que pensa assim?
mem pretendia dizer.
��� H�� muitas mulheres mais bonitas
��� At�� amanh��, Harry. Desejo-lhe um
do que eu, Harry. N��o sou moderna, n��o
bom plant��o.
gosto de freq��entar a sociedade, desco-
��� Obrigado, Susan. Bons sonhos!
nhe��o a maneira de como prender o in-
Quando ele se foi, Susan subiu as es-
teresse de um homem e, em certos as-
cadas de m��rmore e parou no amplo
pectos, sou bem antiquada.
vest��bulo do primeiro andar, abrindo a
��� Em quais? ��� quis saber Harry, in-
porta com sua pr��pria chave. Fez um
teressado.
leve ru��do, mas logo a figura uniformi-
��� Olhe, e u . . . bem, ainda dou impor-
zada de Ruth, a governanta dos Burton,
t��ncia a um beijo. Quero dizer que n��o apareceu.
permitirei ser beijada por qualquer com-
��� N��o fa��a barulho, menina. A se-
panheiro num dia de excurs��o, ou por nhora est�� descansando.
meu par, num baile. N��o fumo, n��o be-
Ruth servia ��quela casa desde que
bo, nem me agrada aparentar o que Gary tinha nascido. Era alta, esguia, e
n��o sou.
usava os cabelos presos num coque, na
��� E voc�� acha que isso pode ser um altura da nuca.
obst��culo para conseguir a aten����o de
��� Gary me disse que ela sofreu um
um homem?
novo ataque. Como est�� passando?
��� Em parte, sim. Voc��s, homens, gos-
��� Durante a tarde esteve um pouco
tam de mo��as divertidas, brilhantes, agi-
agitada, mas agora est�� calma. Quer
tadas. ..
jantar?
��� Mas tamb��m donas de muitas vir-
��� Eu irei at�� a cozinha e tomarei um
prato de sopa, n��o precisa incomodar-se.
tudes. N��o acredito que voc�� n��o saiba
o quanto vale, pequena. N��o h�� d��vida
��� Voc�� sabe muito bem que sempre
de que encontrar�� um homem capaz de os sirvo. Vamos para a cozinha ��� falou
Ruth.
faz��-la t��o feliz quanto merece.
��� N��o estou com muita fome. Tive
Susan Clark voltou a olh��-lo com gra-
um dia exaustivo e uma opera����o h��
tid��o.
duas horas atr��s.
��� Obrigada, Harry. Voc�� tamb��m en-
��� Com ��xito? ��� era quase uma afir-
contrar�� a mulher dos seus sonhos.
ma����o.
��� Susan, e u . . .
��� Sim, tudo saiu bem.
N��o terminou a frase. Chegavam ao
��� Gary �� muito competente ��� afir-
fim da viagem. O Dr. Taylor freou o mou Ruth, com certo orgulho. ��� N��o
carro em frente ao port��o da casa dos h�� outro cirurgi��o igual a ele em toda
Burton e perguntou:
a Inglaterra e nem no mundo inteiro!
Susan sorriu ao ouvir esas palavras.
��� Quer que eu entre com voc��?
Seria in��til dizer a ela que exagerava.
��� N��o �� preciso, Harry, obrigada. A fiel empregada gostava dos dois como
Prefiro que volte logo para a cl��nica, as-
se fossem seus filhos, e s�� via neles qua-
sim, Gary poder�� descansar. Fa��a-o vol-
lidades.
��� Sirva-me a sopa, por favor ��� pe-
��� N��o diga isso, por favor! ��� excla-
diu.
mou Susan.
Sentou-se �� mesa, e Ruth, depois de
��� A vida �� assim, querida. Por isso,
colocar um prato �� sua frente, disse:
Gary tem que come��ar a pensar em tra-
��� Coma, filha, voc�� est�� ficando s�� zer para essa casa uma esposa.
ossos! Bendita cl��nica!! Gary pode ga-
��� Voc�� sempre cuidou dela, Ruth.
nhar muito dinheiro nela, mas vai ma-
��� Eu sei, mas sou t��o velha quanto
tar os dois.
a senhora, apesar de n��o aparentar. J��
��� Tem que ser assim, Ruth. Ele ocupa
me sinto cansada. Algu��m tem que fi-
o cargo de maior responsabilidade. A car �� frente dessa casa. ��s vezes penso
que voc�� mesma...
cl��nica est�� conseguindo uma ��tima
reputa����o e devemos lutar para mant��-
Calou-se, um pouco confusa, mas Su-
san adivinhou seus pensamentos e sor-
la, compreende?
riu amargamente.
��� Compreendo, compreendo... Mas
��� N��o, Ruth, isso nunca se realizar��.
esse rapaz est�� deixando passar os me-
Gary s�� v�� em mim a irm�� que n��o
lhores anos de sua vida entre as pa-
teve.
redes daquelas salas que s�� cheiram a
��� Mas voc�� n��o �� irm�� dele. Certo?
��ter.
��� L��gico que n��o. Apenas uma gran-
��� E por acaso n��o �� essa a sua pro-
de amizade nos une.
fiss��o?
��� Ningu��m melhor do que voc�� para
��� L��gico! Mas todos os homens t��m ser mulher dele. As vezes tenho medo
seu trabalho e, n�� entanto, ocupam-se de que uma estranha se interponha em
com outras coisas. Seu pai, na idade nossas vidas. Se voc�� fosse sua esposa,
dele, j�� era pai. J�� est�� na hora de tudo continuaria igual. Somente have-
Gary procurar uma mulher jovem, bo-
ria uma mudan��a de quartos...
nita e bondosa e traz��-la para essa casa
��� Ruth! ��� o rosto da jovem ficou
o quanto antes.
vermelho.
Susan empalideceu, mas continuou co-
��� Ora, o que aconteceu? A senhora
mendo, voltada para o prato.
lhes cederia, com gosto, o quarto gran-
��� E por que essa pressa toda? ��� per-
de, ocupando um de voc��s. O outro fi-
guntou, dissimulando sua rea����o.
caria vago para quando a crian��a nas-
��� A senhora, minha filha... N��o cesse e . . .
pense que ela vai durar eternamente.
Susan levantou-se bruscamente. Aque-
Seu cora����o est�� cansado, sofreu muito. las palavras do��am-lhe. Obrigavam-na a
Amava profundamente seu marido e te-
pensar num futuro que jamais se reali-
ve que suportar a prova����o de per-
zaria e que ela sempre havia desejado.
d��-lo quando ainda tinha toda uma vida Gary nunca a trataria como a uma mu-
pela frente. Dedicou-se totalmente a seu
lher �� qual se pode amar, e sim como
filho e a voc��, Susan. N��o possu��a for-
a uma criatura por quem sentia afeto
tuna, sabe disso. Somente algumas ren-
fraternal, a quem estava acostumado a
das, as quais permitiram que viv��ssemos ver ao seu lado desde crian��a.
com muito sacrif��cio, at�� que Gary e vo-
��� Vou para o meu quarto, Ruth ���
c�� come��aram a ganhar algum dinhei-
disse. ��� Voc�� deve ir deitar tamb��m.
ro. Ela jamais se queixou, mas tudo isso Gary, com certeza, jantar�� na cl��nica.
foi minando sua sa��de e enfraquecendo Boa-noite.
seu cora����o. E agora... talvez n��o de-
��� Boa-noite, querida. Durma bem ���
moremos muito a ficar sem ela.
desejou-lhe a mulher.
CAPITULO 2
No dia seguinte, antes de ir para o velha, mas a sa��de prec��ria e a debili-
trabalho, Susan entrou no quarto de sua
dade de seu cora����o haviam-na trans-
madrinha. Claire Burton n��o era muito formado numa mulher vencida, que pas-
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sava quase que o dia inteiro naquele
��� Sim, madrinha ��� soou a voz emo-
quarto, ora na cama, ora num grande cionada de Susan. ��� E agora... devo
sof�� colocado junto �� janela, de onde deix��-la. Daqui a pouco come��a o meu
ela poderia olhar a rua.
turno.
��� Bom-dia, madrinha. Como est�� se
��� Voc�� veio com Gary, ontem?
sentindo hoje?
��� N��o, ele precisou ficar mais um
��� Um pouco melhor, querida, obriga-
pouco para assistir um paciente que aca-
da. Por que n��o veio me ver ontem �� bara de operar. Vim com Harry Taylor.
noite?
��� Bom rapaz! ��� exclamou a senho-
��� Era tarde e Ruth me disse que es-
ra. ��� �� muito sens��vel sob aquele as-
tava dormindo. Gary me falou que pas-
pecto brincalh��o e despreocupado. Sem-
sou mal depois que eu sa��da.
pre simpatizei com ele. Conhe��o-o des-
��� Meu velho cora����o, Susan. Um dia, de que estudava com meu filho. Nunca
quando menos se esperar, deixar�� de pensou que entre voc��s... ?
bater.
��� Por favor, madrinha, n��o falemos
��� N��o diga bobagens!
sobre isso.
Claire Burton, com o rosto p��lido e
��� Por qu��? Acho que j�� est�� na ida-
emoldurado pelos cabelos brancos, sor-
de de pensar... Voc�� �� doce, compreen-
riu tristemente.
siva e muito feminina, Susan. N��o pen-
��� Ningu��m melhor do que eu para sa-
se que sua profiss��o bastar�� para pre-
ber como me encontro, Susan. Mas n��o
encher a sua vida. Necessitar�� da com-
pense que tenho medo de morrer. Mi-
panhia de um homem para realizar os
nha miss��o est�� cumprida. Sinto-me or-
seus mais ��ntimos desejos.
gulhosa de voc��s dois.
��� Esse momento ainda demorar�� a
��� De Gary, pode estar, madrinha. Ele
chegar.
conseguiu, com ��xito, atingir a meta a
que se prop��s. Em troca, e u . . . n��o pas-
Mentia. E continuaria assim. Ningu��m
so de uma simples enfermeira enamo-
deveria descobrir o seu segredo. Um dia,
rada do meu trabalho.
inesperadamente, notou que n��o via em
Gary o amigo querido, fiel, quase um
��� E n��o lhe parece suficiente? A ta-
irm��o, e sim o homem, o companheiro
refa dos m��dicos �� elogi��vel, minha que-
junto ao qual poderia realizar todos
rida. Da sua intelig��ncia e compet��ncia seus sonhos e converter em realidade
dependem muitas vidas, mas nada fa-
suas esperan��as. Mas era obrigada a su-
riam se n��o contassem com a colabora-
portar a completa indiferen��a do m��-
����o de mulheres como voc��, dispostas ao dico e seu carinho fraternal que, agora, sacrif��cio, �� ren��ncia e �� vig��lia em fa-se lhe apresentava como um dif��cil obs-
vor dos pacientes sob seus cuidados.
t��culo aos seus objetivos de mulher apai-
��� A senhora, como sempre, levanta o xonada.
meu moral, madrinha ��� retrucou a jo-
��� Harry Taylor seria um bom mari-
vem, sorrindo. ��� Lembra-se? Desde do ��� declarou a senhora, tirando-a dos
crian��a encontrava as palavras exatas seus pensamentos. ��� Al��m disso, sendo
para me animar, quando pensava que m��dico, voc�� n��o ficaria �� margem do
as outras garotas eram mais inteligen-
seu trabalho, o que �� muito importante
tes do que eu.
para que exista uma verdadeira com-
��� Voc�� sempre teve um vontade f��r-
preens��o entre o casal. Chega uma ��po-
rea que a ajudou a superar todas as di-
ca em que somente o amor n��o �� sufi-
ficuldades. Por isso, quero que aprenda ciente, compreendeu? Ent��o, existem ou-
a confiar em si mesma. Fa��a sempre o
tros interesses, outras afinidades, que
que sua cabe��a lhe ordenar. Voc�� sabe-
os unem e os ligam profundamente.
r�� encontrar o melhor caminho a se-
guir. N��o se esquecer�� dessas minhas
��� Para mim, Harry �� um companhei-
palavras?
ro excelente. Um homem nobre e sin-
Olharam-se carinhosamente. Entre as cero. Mas nunca pensei em chegar a
duas sempre existira uma grande con-
am��-lo.
fian��a, um afeto profundo.
��� Por que n��o tenta, garota?
5
Susan mordeu os l��bios. Para que pre-
��� Mas quem disse isso? ��� defendeu-
ocupar sua madrinha com seus senti-
se Susan, cada vez mais confusa diante
mentos? Para que dizer-lhe que j�� es-
do olhar interessado de Gary.
tava apaixonada por um homem que s��
��� Na verdade, eu jamais havia ima-
via diante de si seu trabalho, seus 1i-
ginado algo assim ��� declarou o homem.
cros, seus doentes?
��� Harry �� um excelente rapaz, e n��o
��� Pense bem, querida ��� insistiu me importaria, em absoluto, que Susan
Claire Burton. ��� Eu me sentiria mais se casasse com ele.
contente se a visse casada. Morreria
Aquelas palavras enfureceram a jovem.
mais tranq��ila.
Ela estava convencida de que Gary n��o
��� N��o fale em morrer, madrinha. via nela nada mais do que a irm�� e
Deus a conservar�� por muitos anos ao amiga a quem estimava profundamente.
nosso lado. Todos precisamos da se-
Mas aquela declara����o dele veio confir-
nhora.
mar, mais uma vez, a certeza dolorosa
A Sra. Burton moveu a cabe��a nega-
que j�� possu��a, destruindo qualquer es-
tivamente, sorrindo.
peran��a que pudesse vir a ter. Levan-
Naquela mesma noite, durante o jan-
tou-se bruscamente, enquanto que, com
tar, no qual dificilmente todos compar-
um gesto zangado, jogava o guardanapo
tilhavam juntos, devido ��s chamadas sobre a mesa.
imprevistas para Gary ou os plant��es
��� Acho que tenho o direito de dis-
de Susan, Claire Burton falou novamen-
por da minha vida, n��o �� verdade?
te sobre o assunto que conversara com
��� Susan! ��� exclamou Gary.
a mo��a em seu quarto.
Sentiu sobre si o olhar perplexo das
��� Gary, n��o �� verdade que Harry tr��s pessoas, mas n��o lhe importou feri-
Taylor seria um ��timo marido para Su-
las com seu comportamento. Ela tam-
san?
b��m estava ferida, tendo de admitir, de-
A pergunta, feita inesperadamente, finitivamente, que seus sonhos jamais
deixou o m��dico um pouco surpreendi-
seriam realizados. Seus olhos negros
do, enquanto a jovem, sentada em fren-
faiscaram, cheios de rebeldia, enquanto
te a ele, enrubescia, envergonhada.
seus l��bios faziam um trejeito de nojo.
��� Vamos, responda! Picou mudo, meu
��� N��o desejo me casar! Harry Tay-
filho?
lor n��o me agrada como marido! E n��o
��� N��o, somente... chocado. A senho-
penso permitir que me manejem como
ra p��s �� minha frente uma possibilida-
se fosse um boneco. Sei o que quero e
de que me obriga a admitir que todos me basto se quiser consegui-lo. E, ago-
estamos ficando velhos. Susan, casada! ra, se me d��o licen��a, vou me retirar.
Ainda me lembro dela com suas tran-
Estou com uma forte dor de cabe��a.
��as, seu corpo magrinho e os livros de-
Beijou D. Claire, que correspondeu ��
baixo do bra��o.
car��cia, e saiu da sala de jantar, segui-
��� Voc�� deve estar cego, filho! ��� in-
da pelos olhares dos tr��s, que permane-
terveio Ruth, enquanto colocava sobre ciam ali, mudos.
a mesa um prato de salada. ��� Paz mui-
��� O que est�� acontecendo com essa
to tempo que ela deixou para tr��s essa menina? ��� perguntou a senhora, de-
figura rid��cula e se converteu numa mu-
pois de um longo sil��ncio.
lher bastante aceit��vel.
��� Tem trabalhado muito nesses ��lti-
��� Ruth, por favor! ��� pediu Susan, mos dias, mam��e ��� explicou Gary. ���
encabulada.
Farei com que tire umas f��rias.
��� N��o estou exagerando, menina ���
��� Ela sempre foi muito forte. O ser-
retrucou prontamente a governanta. ��� vi��o nunca a estafou ��� murmurou Ruth,
Voc�� tem uma pele maravilhosa, seus enquanto come��ava a retirar a mesa. ���
olhos s��o grandes e expressivos e, no N��o, n��o se trata disso, conhe��o-a bem.
conjunto, �� uma mo��a muito agrad��vel. Est�� preocupada, ou melhor, triste.
��� Voc�� ganhou uma f��, n��o ��, Su-
��� Triste? N��o h�� raz��o para isso ���
san? ��� brincou Gary.
retrucou Claire Burton. ��� �� jovem, in-
��� Cale-se, falador! Estou dizendo a teligente, tem sa��de, um trabalho do
verdade. E n��o �� �� toa que o Dr. Taylor
qual gosta e bem remunerado... N��o
anda arrastando a asa para o lado dela.
creio que lhe possa faltar nada.
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��� N��s j�� estamos muito longe da ju-
��� Por qu��?
ventude, senhora. Por isso, talvez nos
��� Na idade em que os rapazes pro-
custe admitir que Susan possa se sentir curavam noiva, eu estava estudando, ba-
infeliz, apesar da vida lhe sorrir apa-
talhando para conseguir meu diploma.
rentemente,
Agora... �� minha cl��nica que reclama
��� N��o a entendo, Ruth ��� declarou todas as minhas aten����es e meus esfor-
a Sra. Burton. ��� ��s vezes suas id��ias ��os. Preciso firmar seu nome, mam��e.
v��o t��o longe que eu n��o consigo alcan-
Faz��-la conhecida por sua perfei����o, seu
����-las.
��timo quadro de m��dicos, pela efici��n-
��� Susan j�� n��o �� uma garota, nem cia dos seus funcion��rios...
ao menos uma adolescente. �� uma mu-
��� Tudo isso est�� certo, filho, mas os
lher e deve ter desejos que ningu��m, a anos n��o passam �� toa. E u . . . morrerei n��o ser ela, sabe definir. Ou talvez... a qualquer dia.
nem ela mesma.
��� N��o diga isso, mam��e ��� protestou
��� M a s . . .
o m��dico.
Ruth n��o deu mais explica����es. Saiu
A Sra. Burton sorriu tristemente.
da sala de jantar carregando a lou��a
��� Por que tenta enganar-se a si mes-
para a cozinha.
mo, querido? Conhece muito bem a gra-
M��e e filho ficaram a s��s, preocupa-
vidade do meu estado de sa��de. Meu co-
dos, como se enfrentassem um novo pro-
ra����o est�� cansado. Espero a morte sem
blema.
tristeza e agrade��o a Deus por ter permi-
��� Gary, ela age de maneira estranha
tido que eu cumprisse com a minha t a -
na cl��nica? ��� quis saber a senhora.
refa: fazer de voc�� um homem ��til, e
��� N��o. �� a mesma de sempre ��� res-
que Susan obtivesse uma profiss��o que
pondeu o m��dico.
garantisse o seu futuro. Mas gostaria de
��� Voltando a Harry Taylor... Posso -v��-lo casado, antes de ir.
dizer que me agradaria se ela se inte-
��� Voc�� viver�� muitos anos, mam��e ���
ressasse por ele.
garantiu o m��dico. ��� E a respeito do
��� A senhora sempre foi um pouco casamento, custa-me muito pensar nu-
casamenteira, mam��e ��� falou Gary. ��� ma vida diferente, aprender a dizer coi-
Deve deixar que seja a pr��pria Susan sas bonitas a uma mulher e viver su-
quem escolha por si s��. Ela vale muito. jeito a seus caprichos... Acho que n��o
O homem que chegar a conquist��-la se-
sirvo para isso.
r�� um verdadeiro felizardo.
��� Ver�� como ser�� extremamente f��cil
��� Eu penso como voc��, filho, e espe-
quando se encontrar diante da mulher
ro que nunca a desampare. Sinto-me ve-
certa. O amor, quando nos surpreende,
lha, cansada. Gostaria de v��-lo casado, chega a anular a nossa vontade, e en-
que tivesse uma esposa carinhosa e que
t��o tudo que at�� agora foi primordial
lhe desse filhos, mas quero tamb��m que para voc�� se converter�� em secund��rio.
esse lar perten��a a Susan. Compreendeu
Um sorriso zombeteiro se desenhou nos
agora? Voc�� sempre gostou dela como l��bios do m��dico.
uma irm��, e deve fazer com que sua
��� N��o posso acreditar nisso, mam��e.
mulher a considere assim.
��� Talvez aprenda a li����o muito an-
��� Gosto muito de Susan, para n��o tes do que possa pensar. E ent��o com-
me preocupar com ela. E quanto aos preender�� como o poder dos sentimen-
seus planos de casamento, mam��e, ain-
tos �� mais forte do que qualquer outra
da n��o pensei nisso.
coisa.
CAP��TULO 3
Susan entrou no gabinete de Gary encontrou-o sentado �� mesa de traba-
Burton logo depois de sua ronda pelos lho, estudando o hist��rico do ��ltimo
quartos dos pacientes. Como esperava, doente internado na cl��nica.
��� Devemos providenciar os exames de
��� Sei o que pensa. Sou uma mo��a
laborat��rio do paciente do quarto n��me-
sem atrativos. Levando-me com voc��, se
ro cinco, Susan. Encarregue-se para que sentir�� mais seguro. Obrigada, Gary, pe-
amanh�� de manh�� sejam realizados. lo papel pouco gentil que me faria re-
N��o posso diagnosticar at�� conhecer os presentar.
resultados das an��lises.
��� Sabe de uma coisa? Penso como
��� N��o se preocupe, providenciarei Ruth: voc�� tem id��ias e rea����es que ja-
tudo.
mais conseguirei entender.
��� Como v��o os nossos doentes?
Susan j�� estava junto �� porta. Abriu-a,
��� A Sra. Carraro est�� um pouco fe-
mas antes de sair, virou-se, murmuran-
bril, mas isso sempre acontece quando do num ��ltimo desabafo:
recebe muitas visitas. Teremos que con-
��� A esse respeito, Dr. Burton, n��o
trolar isso. Quanto aos outros, tudo bem.
precisa estender. Nunca o fez!
Vim lembrar-lhe que deve ir �� festa em
Fechou a porta com viol��ncia, e Gary
homenagem ao Dr. Valerie, o cirurgi��o perguntou-se o que a levava a agir da-
franc��s que tanto se distinguiu no cam-
quela maneira. N��o a compreendia...
po da Medicina, em seu pa��s.
Encolheu os ombros, enquanto voltava
��� Uma festa! ��� exclamou Gary, con-
sua aten����o para o hist��rico que estava
trafeito. ��� Voc�� sabe que n��o gosto de estudando.
participar delas.
��� Ter�� que ir. Sua aus��ncia ser�� no-
* * *
tada. Al��m disso, o Dr. Valerie �� seu
amigo. J�� avisei a Ruth para preparar
��� R��pido, Harry, acaba de dar entra-
o seu smoking. Tem que estar pronto ��s da um caso urgente.
seis horas.
��� De que se trata? ��� quis saber o
m��dico.
��� Susan, voc�� �� uma verdadeira ti-
��� Um acidente na estrada. Um�� mu-
rana. ..
Iher estava ao volante e inspira cuida-
��� H�� muitos anos que me ocupo de dos. Seu companheiro saiu praticamen-
tudo quanto lhe diz respeito, Gary. Vive te ileso. Mandei preparar a sala de ope-t��o distante da realidade, t��o aprofun-
ra����es.
dado em seus estudos e no trabalho, que
��� Onde est�� Gary?
se n��o fosse assim at�� se esqueceria de
��� Obriguei-o a ir �� festa em home-
respirar.
nagem ao Dr. Valerie. Quer que o cha-
��� Bem, talvez tenha raz��o ��� e mu-
me?
dando de tom: ��� Por que voc�� n��o vai
��� Vamos ver primeiro a mulher. De-
comigo? Pelo menos n��o serei obrigado pois, se for preciso...
a suportar a curiosidade das mulheres,
Caminhavam na dire����o da ala de ci-
que parecem estar em todo o lugar onde
rurgia e, chegando l��, Harry fez um r��-
vou.
pido exame na paciente.
��� Ent��o �� isso? Estando ao seu lado,
��� N��o ser�� necess��ria nenhuma in-
lhe servirei de escudo, n��o ��?
terven����o dif��cil, Susan. Posso faz��-la
��� Bem, em p a r t e . . . Por que me olha sozinho. Uma disten����o muscular, um
desse jeito?
bra��o quebrado e escoria����es generaliza-
��� Tenho trabalho aqui e sabe que d a s . . . Deixaremos que o nosso jovem
sempre fico na clinica quando voc�� n��o diretor continue se aborrecendo na festa.
est��. Assim, posso localiz��-lo rapidamen-
��� Como quiser, Harry.
te, se sua presen��a for necess��ria. Pre-
��� �� uma mulher muito bonita, n��o?
firo cumprir meus deveres profissionais, ��� perguntou o Dr. Taylor, referindo-se
em vez de representar o papel de c��o �� acidentada. ��� E seu rosto me farece
de guarda, para livr��-lo do ass��dio das
familiar. Voc�� a conhece?
suas admiradoras.
��� N��o ��� respondeu Susan, observan-
��� Susan! ��� os olhos do homem bri-
do o rosto p��lido, de cabelos louros ema-
lharam estranhamente ao se fixarem no
ranhados e sujos de poeira e sangue.
rosto da jovem. ��� Eu jamais disse...
Apesar do seu estado, era ineg��vel a sua
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beleza. Era alta, de corpo perfeito, e
��� Por acaso n��o a reconheceu, enfer-
suas roupas eram o refinado produto da
meira?
inspira����o de algum costureiro parisien-
��� Na verdade, n��o, embora seu rosto
se.
me seja algo familiar. Tanto para mim
��� Tenho a impress��o de j�� a ter visto quanto para o m��dico que a atendeu.
��� insistiu o m��dico. ��� N��o lhe acon-
��� Trata-se ae Tina Rosetti, a grande
tece o mesmo, Susan?
cantora italiana, a diva famosa, aplau-
��� Talvez. V
dida em todos os continentes.
��� Bem, cuidaremos dela e a faremos
��� Oh, �� mesmo! J�� a vi em muitas
voltar a si. Quem est�� com ela?
fotografias.
��� Somente um homem que est�� sen-
Sim, era ela, com seu belo rosto, sua
do medicado por Helen. Sofreu apenas longa cabeleira loura, seus olhos azuis
alguns arranh��es.
e aquele corpo escultural.
��� Fale com ele. Diga-lhe o resultado
��� Eu sou Paul Simons, seu empres��-
do exame e pergunte se deseja que a le-
rio, agente de publicidade, secret��rio,
vemos �� sua casa, ou se prefere que fi-
acompanhante e homem de confian��a
que na cl��nica at�� que se restabele��a.
ao mesmo tempo.
��� Pois n��o, agora mesmo ��� declarou
��� Prazer em conhec��-lo, Sr. Simons.
Susan, com a efici��ncia de sempre.
Vinha comunciar-ihe que, felizmente, o
��� J�� lhe disse que a considero a mu-
acidente n��o teve conseq����ncias graves.
lher mais admir��vel do mundo, enfer-
A Srta. Rosetti est�� com um bra��o que-
meira? ��� falou Harry Taylor, deixan-
brado, algumas escoria����es e um abalo
do transparecer em seus olhos claros um
nervoso. Mas tudo f��cil de curar. Como
grande carinho.
seu estado n��o �� delicado, podemos, se
��� Muitas. E advirto-o de que este mo-
o senhor desejar, transport��-la �� sua
mento n��o �� prop��cio para recome��ar resid��ncia.
com seus elogios... Ser�� melhor tratar
Paul Simons n��o vacilou em tomar
desse bra��o quebrado, antes que ela vol-
uma decis��o. Aquilo convenceu Susan de
te a si.
como ele possu��a amplos poderes para
Susan deixou a sala de opera����es e se escolher o que melhor lhe parecesse,
dirigiu ao local onde o acompanhante sem consultar a famosa cantora.
da acidentada aguardava, para saber do
��� N��o temos casa em Londres, enfer-
seu estado.
meira. Viemos como turistas, mas sem
��� Desculpe, senhor, venho dar-lhe no-
desprezar a possibilidade de atuar para
t��cias sobre a s u a . . . esposa, talvez.
o p��blico londrino, se algum empres��rio
Enquanto falava, Susan observava estiver disposto a pagar a elevada quan-
atentamente o homem que se levantara
tia que Tina pede por suas apresenta-
quando ela entrou na sala de espera da ����es. T��nhamos reservado quartos num
cl��nica. Era alto, n��o muito jovem, mas
hotel mas, devido ao seu estado, acho
parecia muito seguro de si. Em seus ca-
melhor que fique aqui na cl��nica, se for
belos negros podia-se notar alguns fios poss��vel.
brancos, embora o seu bem cuidado bi-
��� Pois n��o, Sr. Simons. A cl��nica es-
gode n��o apresentasse aquelas marcas t�� praticamente lotada, mas arranjare-
que indicavam a aproxima����o da velhi-
mos um quarto adequado para a Srta.
ce. Seu terno, mesmo um pouco sujo, Rosetti.
era elegante e caro.
��� Quero o melhor, enfermeira! ��� ex-
��� N��o, n��o �� minha esposa ��� escla-
clamou o homem, com superioridade. ���
receu o homem. ��� Tina n��o se sente O quarto mais bem colocado, onde pos-
muito inclinada a perder sua liberdade. sa ser melhor atendida, e que esteja de
Isso a faria cair no conceito dos seus acordo com sua pessoa.
admiradores. Ela est�� consagrada a seu
��� Desculpe-me, senhor, todos os nos-
p��blico, ao mundo inteiro...
sos pacientes desfrutam das mesmas
Ao notar a express��o de estranheza aten����es. Uma vez transposta a porta
no rosto da enfermeira, pareceu real-
dessa casa, s��o em geral doentes, preci-
mente surpreendido.
sando de nossos cuidados, e aos quais
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dispensamos toda a aten����o necess��ria, de admitir que sua nova paciente n��o sem fazer distin����o de fortuna, catego-
�� como os demais.
ria social ou o que seja.
��� Para mim ��, Sr. Simons. Nosso de-
Aquela resposta franca, dada em tom ver �� atender a todos com paci��ncia e
firme, fez com que os olhos escuros do simpatia, mas sem deixar que seja al-
homem brilhassem de forma interessa-
terada a boa conduta do estabeleci-
da. Desde aquele momento, compreen-
mento.
deu que a enfermeira de rosto doce e
��� Sempre cumpre com seu dever, en-
expressivo, bonitos olhos negros e corpo
fermeira?
bem feito, n��o era mera figura decora-
tiva, e sim uma profissional competen-
��� Sim, Sr. Simons. E agora, fa��a o
te, que imporia as normas estabele-
favor de me acompanhar. Vou mostrar-
cidas na clinica, sem alter��-las pela lhe o quarto que podemos oferecer ��
"grande honra" de ter Tina Rosetti a Srta. Rosetti. Se o achar de acordo com seus cuidados.
seus desejos... ser�� transportada da sa-
��� De acordo, enfermeira. Compreendo
la de opera����es para ele.
suas palavras. Mas, apesar de tudo, tem
��� Como quiser, enfermeira.
CAPITULO 4
��� Preparei tudo para ��s cinco horas,
Al��m do significado de suas palavras
Gary. Acha que est�� bem assim?
um tanto ir��nicas, foi o estranho tom
O m��dico, de p��, em frente a um dos de Gary que surpreendeu a quem o
fich��rios do seu gabinete, virou-se para escutava. Nunca, at�� aquele momento,
Susan.
havia querido impor sua superioridade
��� Est�� muito bem. Acabaremos antes sobre seu campanheiro. Jamais fizera
das sete. E ainda terei tempo p a r a . . .
uma alus��o t��o clara �� sua compet��n-
Calou-se bruscamente. E quando Su-
cia profissional. Mas Harry, sem querer
san ia perguntar-lhe o significado, a en-
demonstrar aborrecimento, sorriu for��a-
trada de Harry Taylor impediu-a de fa-
damente.
z��-lo.
��� Bom-dia, pombinhos. Como v��o as
��� Por favor, amigo! Eu sei quanto
coisas?
me falta para possuir sua per��cia pro-
��� Bem, a doente do oito est�� espe-
fissional, m a s . . . no dia que essa pa-
rando-o Harry. Afirma que voc�� �� a ciente chegou �� cl��nica, voc�� n��o estava
��nica pessoa que entende das suas do-
e eu me fiz respons��vel por seu caso.
res g��stricas ��� informou a enfermeira. Sempre foi norma da casa que o m��dico
��� Irei v��-la e depois continuarei a que se encarregar de um doente deve se
minha ronda.
ocupar do mesmo at�� dar-lhe alta. N��o
��� N��o precisa passar pelo quarto da �� assim?
Srta. Rosetti, Harry. Eu a visitei hoje
��� Sim, mas espero que, como diretor-
de manh�� ��� declarou Gary Burton.
propriet��rio da cl��nica, voc�� me permita
Susan, ao ouvir aquelas palavras, vi-
alterar essas normas no momento em
rou-se rapidamente para o jovem dire-
que eu achar oportuno. N��o acha, Har-
tor, mas ele permanecia de costas para ry?
ela, examinando algumas fichas.
Dessa vez, as fei����es do Dr. Taylor
��� Mas hoje �� o dia de tirar-lhe o se contra��ram.
gesso, Gary. E como fui eu quem o co-
��� Desculpe-me, Gary, jamais tentei
locou, creio que seja mais conveniente atribuir-me poderes que n��o me perten-
que eu mesmo o retire.
cem. N��o fazia mais do que seguir as
��� Acha que n��o estou capacitado pa-
normas que voc�� tra��ou, quando me con-
ra acabar algum de seus trabalhos, Har-
vidou para trabalhar ao seu lado. Se
ry?
n��o est�� contente com meus servi��os,
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sempre estamos em tempo de nos se-
��� Machuquei-a?
parar.
Olhou o rosto maravilhoso, onde as
Havia tal gravidade naquelas palavras
pupilas azuis eram semelhantes a dois
que Gary Burton compreendeu ter se ex-
lagos calmos, cuja profundidade agu��a-
cedido com sua atitude.
va o desejo de conhec��-los. Os l��bios
��� �� voc�� quem deve me desculpar, sensuais da cantora abriram-se num lin-
Harry, e esquecer essa id��ia de nos se-
do sorriso.
parar. Ajudou-me muito quando come-
��� Oh, n��o, absolutamente! O senhor
cei e n��o desejo, de modo algum, pres-
tem m��os de anjo, doutor. Sou muito
cindir de sua colabora����o. M a s . . . ser�� sens��vel e tinha medo de que fosse doer melhor deixar o caso da Srta. Rosetti, quando retirasse o gesso. Mas, gra��as ��
enquanto durar sua estada nessa casa.
sua per��cia, esse receio desapareceu.
Depois, compreendendo que deveria
��� �� uma paciente maravilhosa...
justificar aquela ordem, esclareceu:
Ele mesmo se surpreendeu com seu
��� Foi ela mesma quem demonstrou comportamento. Era a primeira vez que
desejos de que fosse eu a atend��-la. E de seus l��bios sa��am semelhantes pala-
creio que lembrar�� tamb��m que outra vras. E admirou-se mais ainda, ao no-
das normas impostas por mim foi con-
tar que as pronunciara de uma manei-
cordar com o paciente sempre que pos-
s��vel.
ra simples, espont��nea.
O belo rosto da mulher iluminou-se,
��� Est�� bem, Gary, eu estou disposto
a cumprir sempre as suas ordens. Visi-
enquanto seus olhos o observavam, numa
tarei todos os pacientes, menos a Srta. vis��vel admira����o.
Rosetti.
��� Obrigada. Agrade��o-lhe por ter
Saiu da sala rapidamente. E ao ficar atendido ao meu pedido. O Dr. Taylor
sozinha com Gary, Susan n��o p��de se �� um rapaz muito simp��tico, agrad��vel,
conter, e comentou:
mas ao mesmo tempo... d��-me a im-
��� Voc�� foi injusto com ele. Harry press��o de n��o ter experi��ncia em tra-
sempre cumpriu bem seus deveres. E na tar as mulheres. Em compensa����o, o se-
verdade... a Srta. Rosetti era sua pa-
nhor. ..
ciente. Agora...
Deixou a frase incompleta. Apesar do
��� Procurei dar a entender n��o admi-
rosto ing��nuo, o sorriso cativante e a
tir discuss��o a respeito de minhas or-
express��o de expectativa nos olhos
dens ��� interrompeu-a Gary. ��� Pensei azuis, era muito habilidosa em mat��ria
que tivesse entendido, Susan.
de saber conquistar o sexo oposto.
A moca mordeu os l��bios e umas l��-
Durante aqueles dias na cl��nica, Tina
grimas rebeldes quase brotaram em seus Rosetti se privara das companhias mas-
olhos. Era a primeira vez que Gary a culinas, das festas, e isso a aborrecera
tratava daquela maneira, e a ��nica em muito. O temperamento sisudo de Har-
que n��o parecia admitir um erro. Algu-
ma coisa havia mudado nele.
ry Taylor n��o lhe dava margem para
tentar qualquer flerte com ele. Mas, na
��� Desculpe-me. Eu tamb��m havia es-
tarde em que conheceu o Dr. Burton,
quecido que voc�� �� o diretor, e n��s, sim-
pensou que o panorama tinha mudado
ples subordinados. Asseguro-lhe que n��o
ter�� oportunidade de voltar a "me lem-
bastante.
brar essa realidade ��� afirmou em tom
Gary Burton era um homem interes-
altivo, dirigindo-se para a porta.
sante, apesar do seu aspecto um pouco
Antes de fech��-la atr��s de si, chegou grave. N��o lhe foi dif��cil adivinhar que
at�� ela a voz de Gary.
n��o possu��a experi��ncia amorosa. Per-
��� Susan, espere!!
cebeu logo que era um homem em-
Ela, entretanto, n��o o obedeceu. Saiu penhado em conquistar prest��gio, renun-
para o corredor, afastando-se com rapi-
ciando aos prazeres da vida, para se
dez na dire����o do laborat��rio.
dedicar exclusivamente ao seu trabalho.
Isso a incentivou, pois se sentia um
* * *
pouco cansada dos homens experientes,
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libertinos, cujos sentimentos e moral es-
��� Obrigada, Gary. Desde que estou
tavam multo abaixo de uma conduta aqui, sinto-me diferente. Dou-lhe minha
digna.
palavra. Vinha cansada do ass��dio dos
��� Creio que est�� enganada, Srta. Ro-
jornalistas e do p��blico t��o voltado pa-
setti. N��o lidei com muitas, a n��o ser ra a minha pessoa. Come��ava a n��o me
no campo profissional. E mesmo nes-
sentir mais real, humana, e sim uma
t e . . . jamais encontrei uma criatura com esp��cie de deusa, como uma lenda que acabaria por apagar quem eu sou real-a sua classe.
mente.
��� Por acaso acha que perten��o a al-
guma em especial, doutor?
��� Eu a compreendo, Tina. Fico feliz
Mal��cia, ingenuidade, falso rubor... por ter encontrado em minha cl��nica
toda a t��tica de uma mulher h��bil, em-
um refugio, mas n��o permanecer�� igno-
penhada na conquista de um homem rada. Seu rosto �� multo conhecido.
simples e at�� certo ponto ing��nuo, foi Quando for para o hotel, novamente vol-
posta em pr��tica.
tar��o a publicidade, as entrevistas e os
aplausos.
��� Sim, quando a vi pela primeira
��� Gostaria de me afastar do palco,
vez... Bem, pensei que n��o existissem Gary. Por isso, decidi alugar uma casa
mulheres assim. �� verdade que a vemos nos arredores de Londres, mas no cam-
nas capas das revistas e nas telas dos po, longe da curiosidade alheia, onde
cinemas, mas d��o sempre a impress��o possa me sentir �� vontade, como aqui.
de serem irreais. Entretanto, a senhorita
N��o conhe��o a cidade, preciso de al-
�� viva, real, posso ouvir sua voz mara-
gu��m que me ajude a encontrar esse
vilhosa e ver o seu sorriso encantador. ref��gio. Posso contar com voc��?
��� Do. *or, se continuar assim, n��o vou
��� L��gico! ��� exclamou o m��dico, fe-
acreditar na sua falta de experi��ncia liz. ��� Tenho um amigo que tem uma
amorosa. Suas palavras s��o muito elo-
casa muito bem situada, decorada com
giosas e . . . muito importantes para mim. gosto, confort��vel e de f��cil acesso. Pro-
��� Por que, Srta. Rosetti?
blemas familiares o impedem de morar
��� Oh, por favor. Deixemos de tanta l�� durante algum tempo. Se eu lhe pe-
cerim��nia. Meu nome �� Tina.
dir, acho que a alugar��.
��� O meu, Gary. Mas, por que minhas
��� Fa��a isso, ent��o, Gary, por favor
palavras s��o importantes para voc��, ��� a s��plica parecia quase um murm��-
Tina?
rio em seus l��bios ador��veis. ��� Jamais
A express��o da mulher se fez mais poderei esquecer o que lhe devo. Sem-
prometedora.
pre e a todo momento agradecerei sua
ajuda. E para lhe demonstrar Isso...
��� Talvez... por vir de voc��.
Aceitar�� ser meu h��spede durante os
��� Mas voc�� est�� acostumada a ser fins de semana, Gary?
elogiada por homens ricos, importantes,
Havia levantado o rosto para ele com
famosos. Eu n��o sou mais do que um uma express��o ansiosa, que despertou a
m��dico que luta para vencer e come��a a vaidade do homem. Parecia t��o sincera!
vislumbrar perspectivas de vit��ria.
��� Gostaria de lhe prometer, Tina, mas
��� �� algo al��m disso, Gary. �� um ho-
n��o �� poss��vel. Minha profiss��o me es-
mem nobre e sincero. E essas qualida-
craviza muito. Sou necess��rio aos meus
des n��o encontrei em nenhum dos meus
doentes, �� cl��nica...
conhecidos. Acredita em mim, n��o ��?
��� Mas, mesmo assim... promete me
��� Como n��o vou acreditar, se seus visitar sempre que lhe for poss��vel?
olhos confirmam suas palavras?
Estendeu as m��os finas, bem cuida-
Tina sentiu-se vitoriosa. O jogo era das, usando-as num gesto t��mido, pa-
bem f��cil e divertido. O Dr. Burton po-
recendo involunt��rio, para segurar a
deria ser uma sumidade na sua profis-
m��o forte e sens��vel do homem.
s��o, mas em assuntos amorosos n��o pas-
Gary Burton, ante o inesperado con-
sava de um ing��nuo, um principiante tato, sentiu-se estremecer, notando uma
cujas rea����es a divertiam.
profunda sensa����o que alterava a sua
12
serenidade, quebrando aquela indiferen-
��� Por qu��? N��o me importo que re-
��a at�� ent��o mantida na presen��a de pita seu jogo, mas, ao mesmo tempo,
qualquer mulher.
gosto de pensar no futuro. Vai se deci-
��� Tina, e u . . .
dir a cantar aqui?
��� N��o admito recusas. Voc�� ir��?
��� H�� tempo para tudo, querido. Por
��� Prometo-lhe.
enquanto, quero apenas descansar. Pen-
so em alugar uma casa de campo e pas-
Nesse momento, a porta se abriu re-
sar uma temporada por aqui. O Dr. Bur-
pentinamente e a figura de Paul Si-
ton prometeu-me uma.
mons surgiu. Ao notar a proximidade
de ambos e suas m��os unidas, sorriu
��� Compreendo! O c��o de fila est��
ironicamente. Tina, ao v��-lo, afastou-se disposto a obedecer �� sua dona, n��o ��
um pouco de Gary, enquanto o recebia isso?
efusivamente.
��� N��o zombe, Paul. Ele �� um homem
��� Paul, chegou tarde, meu querido! diferente de todos os que conheci. Ne-
Olhe, j�� tirei o gesso. O Dr. Burton tra-
le, tudo �� sincero, simples... Voc�� co-
balhou com tanta habilidade que n��o nhece a minha vida e sabe que tenho
senti a m��nima dor.
raz��es para desprezar todos os homens
de quem me aproximei.
��� N��o h�� d��vida de que o Dr. Bur-
ton possui raras qualidades, Tina. E vo-
��� Sinto-me emocionado, querida! ���
c��, sempre h��bil, soube descobri-las a exclamou Paul, ir��nico. ��� Mas meus
tempo. Estou enganado?
bolsos est��o vazios e n��o gosto dessa
Os olhos do empres��rio procuraram perspectiva. Precisamente para evitar
as pupilas da atriz num mudo desafio. isso, encarreguei-me de voc��, de sua car-
E esta respondeu-lhe com seguran��a:
reira, tirando-a daquele "inferninho" de
N��poles, convertendo-a na cantora mais
��� N��o, meu amigo, est�� completa-
famosa da atualidade.
mente certo. Gra��as �� minha intui����o,
estou apta a evitar muitas coisas desa-
��� N��o precisa me lembrar o passado.
grad��veis ��� e depois disse, virando-se
��� Mas em certas ocasi��es, querida...
para o m��dico: ��� Gary, n��o se esque��a
�� necess��rio. N��o gostaria de desfazer
do meu pedido, por favor.
nossa sociedade nem, tampouco, trazer
��� Cuidarei disso hoje mesmo. J�� sabe
�� tona certas coisas que todos ignoram
que qualquer um dos seus desejos �� uma
e que acabariam com a sua carreira em
ordem para mim. E agora, se me permi-
poucos meses, se eu quisesse.
tem, vou deix��-los. Preciso visitar os
��� Paul!
outros pacientes.
��� Est�� avisada, querida. Sou condes-
��� V��, doutor, v�� cumprir sua obri-
cendente, mas com algumas restri����es.
ga����o. Agora que cheguei, nossa queri-
Ser�� melhor n��o esquecer. Falarei com
da doente n��o se sentir�� sozinha ��� dis-
alguns empres��rios interessados na sua
se Paul Simons em tom levemente ir��-
apresenta����o aqui em Londres. Estipu-
nico.
larei um prazo razo��vel. Durante esse
Quando o m��dico saiu do quarto, Ti-
tempo, poder�� descansar na sua casa de
na, com um gesto de t��dio, pegou uma campo, deixar louco esse pobre imbecil
das revistas que havia sobre a mesinha. que a considera uma garota ing��nua, e
��� Uma nova divers��o, querida? ��� satisfazer sua vaidade de mulher famo-
perguntou Paul.
sa. Mas depois... A realidade se imp��e,
��� N��o o compreendo.
Tina. Ser�� obrigada a aceit��-la.
��� Claro que me compreende. Esse po-
A cantora n��o protestou. H�� cinco
bre homem parecia fascinado por voc�� anos ele monopolizava a sua exist��ncia,
como um passarinho diante de uma co-
convertendo-a numa esp��cie de escra-
bra. Um raro exemplar que voc�� n��o va, coberta de j��ias, adulada e aplau-
podia deixar fugir sem tentar acrescen-
dida, �� qual permitia certas liberdades,
t��-lo �� sua lista de conquistas.
mas sem que jamais sa��sse da linha de
��� Cale-se, Paul!
conduta por ele tra��ada.
13
CAPITULO 5
Naquele domingo, quando Ruth serviu
resse por Tina Rosetti, mas n��o acre-
o caf�� da manh��. Susan estranhou a dito que haja raz��o para se inquietar.
aus��ncia de Gary. Geralmente tomavam Gary �� inteligente. Deve ser algo pas-
o desjejum juntos e sa��am de autom��-
sageiro. Ela, por sua vez, n��o conhece
vel, indo at�� a cl��nica, onde visitavam Londres e deve ter lhe pedido para
os doentes.
acompanh��-la a algum lugar.
��� Ruth, voc�� n��o acordou Gary? ���
��� N��o tente justific��-lo, Harry. Acho
perguntou.
que Gary est�� apaixonado por essa mu-
��� Ele saiu de casa muito cedo, filha. lher.
Pediu para dizer-lhe que telefonasse pa-
��� Bobagens! Nunca ser�� a esposa
ra o Dr. Taylor e que ambos passassem ideal para ele. E Gary n��o est�� pen-
na cl��nica e dessem uma olhada nos sando em casamento. S�� v�� a cl��nica na
doentes.
sua frente.
��� Quer dizer que ele n��o pretende
��� Isso foi at�� agora. Essa mulher
ir l��?
tem um encanto especial, e acho que
��� N��o me deu explica����es, Susan. Gary n��o saber�� fugir dele.
Disse que passaria o dia inteiro fora.
��� Esque��a-o e trate de se divertir ���
��� Compreendo.
fez um gesto pesaroso. ��� L��gico, ao
N��o. n��o compreendia. Nem ao me-
meu lado, jamais conseguir�� isso. Nun-
nos podia imaginar a raz��o daquela au-
ca fui um companheiro muito animado,
s��ncia, mas sem saber por que, uniu-a apesar da minha desenvoltura e joviali-
�� lembran��a de Tina Rosetti, que havia dade.
deixado a cl��nica h�� poucos dias atr��s.
Susan, impulsivamente, pousou sua
Mas sempre preocupada com seu dever, m��o sobre o bra��o do jovem m��dico.
acabou de tomar seu caf��, ��s pressas,
��� Por favor, Harry, n��o diga isso.
e ligou para o Dr. Harry Taylor.
Sempre o apreciei muito, voc�� sabe.
��� Daqui �� meia hora estarei a��, Su-
��� Sim, uma amizade que jamais se
san ��� disse, sem fazer a menor obje-
converter�� num sentimento mais profun-
����o. ��� Depois, poderemos tomar um do, n��o �� verdade?
aperitivo. O que acha da id��ia?
��� N��o me obrigue a responder.
Quase rejeitou o convite, mas pensou
que n��o deveria menosprezar daquela
Harry sorriu tristemente.
maneira o amigo.
��� Tamb��m n��o �� preciso, querida. Sei
como �� dif��cil conquistar uma mulher
��� Est�� bem, Harry.
que j�� est�� apaixonada por outro ho-
mem.
��� Harry!
Harry observou-a em sil��ncio. Estava
Taylor sustentou o olhar suplicante
mais bonita do que nunca, com aquela de Susan.
express��o triste num rosto sem maqui-
��� N��o se preocupe, n��o me agrada
lagem. Fumava um cigarro, enquanto sair por a�� contando segredos.
esperavam o aperitivo.
��� Gary �� para m i m . . . como um ir-
��� Preocupada, Susan?
m��o.
��� Um pouco.
��� N��o �� preocupa����o fraterna o que
��� Por causa de Gary?
voc�� est�� sentindo, Susan. Mas n��o vol-
tarei a tocar nesse assunto se lhe desa-
N��o quis negar. Para qu��? Harry a grada. Somente quero que me diga uma
conhecia o suficiente para adivinhar" coisa: poderia ter esperan��as em caso
seus pensamentos.
contr��rio?
��� Sim.
Seus olhares se encontraram. Ansioso
��� Sei no que est�� pensando. Bem, e amargo, o do homem; compreensivo
n��o vou dizer que n��o notei o seu inte-
e cheio de afeto, o da mo��a.
14
��� Sim, Harry, acho que sim. Gosto
��� N��o �� preciso se dar ao trabalho.
muito de voc��, valorizo suas qualidades J�� jantei.
e tenho certeza de que saber�� fazer fe-
��� Nesse caso... por que n��o avisou
liz a mulher com quem se casar, m a s . . .
que ia demorar?
Taylor interrompeu-a, segurando-a no
��� N��o sou um garoto, para viver dan-
bra��o:
do conta dos meus atos, n��o acha?
��� Isso �� suficiente, Susan. Obrigado
��� A mim, pelo menos, n��o ��� foi a
por ser t��o sincera. E agora, se quiser, resposta dada num tom meio violento.
eu a levarei para casa.
��� Mas deveria pensar em sua m��e, em
��� Sim, por favor. Lamento muito a sua sa��de delicada e em seu cora����o.
sua desilus��o.
Qualquer pequeno desgosto pode lhe ser
fatal.
* * *
Aquelas palavras eram t��o acertadas,
t��o razo��veis, que Gary foi obrigado a
N��o voltou a tempo para o jantar. A admiti-las sem protesto.
Sra. Claire Burton sentia-se inquieta, e
��� Tem raz��o. Deveria ter avisado,
Ruth, aborrecida, j�� que a comida teria
mas as horas passaram sem que eu as
que ser esquentada.
sentisse.
��� J�� passou da hora dele chegar. O
��� Ao lado de Tina Rosetti?
pur�� engrossar�� e a carne ficar�� seca
Seus olhos se encontraram. E Susan
se demorar muito.
p��de ver nas pupilas do homem um bri-
��� A comida �� o de menos, Ramona. lho apaixonado, cheio de ilus��o e es-
O que me intranquiliza �� sua aus��ncia. peran��a.
E nem ao menos sabemos onde est��.
��� Sim. Ela alugou uma casa de cam-
��� Por favor, madrinha, pense que po, por meu interm��dio. Tina n��o co-
Gary j�� n��o �� um garoto e sim um ho-
nhece ningu��m em Londres e eu faci-
mem.
litei-lhe a procura.
��� Mas n��o est�� livre de um aciden-
Aquela confirma����o de suas suspeitas
t e . . .
era dolorosa. Mas precisava esconder
��� As m��s not��cias correm, depressa, sua rea����o.
n��o se preocupe. Deve ter tido um com-
��� N��o precisa de nada, Gary?
promisso inesperado. V�� deitar, e voc��
��� N��o.
tamb��m Ramona. Eu servirei o jantar
��� Nesse c a s o . . . Vou-me deitar. Ia me
para ele.
esquecendo. Ruth deu-me o seu recado.
��� Por favor, querida, pe��a-lhe para ir
Eu e Harry fomos �� cl��nica. Est�� tudo
ao meu quarto, quando chegar.
bem l��.
��� Pode deixar, madrinha, falarei com
��� Obrigado por ter executado uma
ele.
tarefa que me correspondia. Espere, n��o
J�� passava da meia-noite quando, na v�� ainda. Tenho uma coisa para lhe di-
sala onde estava, tentando se distrair zer. Vou beber um u��sque. Quer me fa-
com um livro, soou o ru��do da chave na
zer companhia?
fechadura. Ouviu os passos firmes no
��� Est�� bem.
vest��bulo, dirigindo-se ao corredor.
Gary se dirigiu ao bar e serviu dois
��� O que est�� fazendo a��? ��� pergun-
copos. Depois de dar um deles a Susan,
tou Gary.
sentou-se numa poltrona diante dela e
��� Esperando-o. A madrinha n��o que-
declarou:
ria se deitar antes de voc�� chegar, e s��
��� Quero que seja a primeira a saber:
o fez porque lhe prometi que ficaria estou apaixonado!
aqui at�� a sua volta. Vou servir-lhe o
Ela j�� esperava por aquilo. Mas, mes-
jantar.
mo assim, sentiu-se profundamente in-
J�� estava ao seu lado, disposta a ir �� feliz ao escutar aquela revela����o.
cozinha, quando Gary a deteve.
��� N��o me pergunta quem �� ela?
15
��� Acho que j�� adivinhei. Tina Ro-
��� Voc��s pensam em se casar logo?
setti. Acertei?
��� Tina quer deixar sua profiss��o.
��� Sim. Passei o dia na casa de campo
Afirma que depois que me conheceu s��
dela. Durante essas horas juntos, des-
o meu amor importa para ela.
cobrimos ter muitas afinidades. Seremos
Susan o ouvia, quieta, com a cabe��a
felizes nos unindo para sempre. E u . . . inclinada, admitindo aqueles planos que jamais suspeitei de que o amor fosse destru��am sua felicidade.
algo t��o intenso, t��o maravilhoso, capaz
de transformar a vida �� as id��ias. Pela
��� S�� me interessa que seja feliz, Ga-
primeira vez, enquanto contemplava o ry ��� disse, depois de alguns segundos.
rosto maravilhoso de Tina, cheguei a me
��� Deus queira que encontre a felicida-
esquecer dos meus doentes, do meu tra-
de ao lado dessa mulher.
balho, da cl��nica. E isso me convenceu
��� Por que duvida?
de que o sentimento que sinto por ela
��� Ela �� internacionalmente famosa.
�� bastante forte e real.
Est�� acostumada a ser considerada co-
��� Compreendo, Gary.
mo uma estrela. Casando-se com voc��...
dever�� renunciar a tudo isso.
��� N��o, querida, n��o pode compreen-
der. S�� quem j�� viveu essa maravilhosa
��� Conhe��o Tina h�� pouco tempo, mas
experi��ncia pode entender. Eu mesmo sei que ela �� corajosa, sincera, decidida
me, sentia incapaz de amar, e agora sin-
Enfim, meu amor ser�� sempre seu. Te-
to vontade de sair por a�� gritando a nho certeza de que lhe ser�� f��cil renun-
minha felicidade, contagiar a todos os ciar a tudo quanto teve at�� agora.
seres humanos com a minha alegria.
��� Que voc�� consiga realizar esses so-
Quando voc�� estiver apaixonada, Susan, nhos, Gary. Desejo de todo o cora����o.
poder�� compreender como mudamos
E n��o mentia. A felicidade do homem
profundamente.
amado estava acima da sua pr��pria ven-
A mo��a bebeu o seu u��sque. Desviou tura. Sentia-se triste, vencida, mas n��o
os olhos, tentando ouvi-lo com apar��n-
culpava ningu��m disso.
cia serena e indiferente. Seu segredo
��� Olhe, preciso lhe pedir um favor.
permaneceria sendo seu somente.
Conte �� minha m��e sobre os meus pla-
��� Ela tamb��m o ama sinceramente, nos, S u s a n . . . Bem, ela deve ter forma-
Gary? ��� perguntou.
do suas pr��prias id��ias a respeito da
Ele virou-se bruscamente, procurando mulher que deveria ser minha esposa.
Todas as m��es fazem isso. N��o quero
seu olhar.
que tenha preven����o contra o fato de
��� O que quer dizer?
Tina ser estrangeira, artista e comple-
��� �� uma artista famosa, acostumada tamente desconhecida para ela. Fa��a-a
a receber galanteios e declara����es de compreender que eu a amo. Posso con-
muitos homens ao mesmo tempo. Voc�� tar com voc��, garota?
pretende ser o ��nico na vida dela?
Era uma pergunta que havia escuta-
��� Claro! ��� afirmou em tom orgu-
do muitas vezes. Como sempre, a res-
lhoso. ��� Tina, apesar da sua fama e posta obtida foi fruto do cora����o gene-
personalidade, n��o passa de uma garota
roso e da nobreza de car��ter da mo��a:
ing��nua, afetuosa, obrigada a se escudar
��� Sim, Gary. Pode contar comigo. Eu
na sua popularidade, fingindo um ca-
sempre estarei ao seu lado, ajudando-o
r��ter falso, uma maneira de agir opos-
a conseguir a sua felicidade, que �� t��o
ta �� verdadeira.
importante para mim.
CAP��TULO 6
��� Voc�� se encarregar�� do paciente, rar a roupa usada na sala de opera����es,
n��o ��, Harry? quando Gary Burton, pronto para sair,
O Dr. Taylor estava acabando de ti- explicou-lhe:
16
��� Eu tinha combinado que passaria
Horas depois que Gary havia deixado
o fim de semana com Tina, e n��o quero a cl��nica, Susan, vestida com o uniforme
decepcion��-la.
de enfermeira, entrou na sala onde se
��� A opera����o foi delicada e o estado
achava o Dr. Taylor, carregando uma
geral do paciente n��o �� muito bom, voc�� bandeja com duas x��caras de caf��.
sabe.
��� Vamos, Harry, beba. Isso lhe far��
��� Considero-o suficientemente capa-
bem.
citado para poder superar qualquer si-
��� Tentei tudo e foi in��til, Susan! De
tua����o de emerg��ncia, Harry ��� afirmou nada serviu a luta travada durante os
o Dr. Burton. ��� Al��m disso, Susan es-
��ltimos minutos, administrando-lhe to-
tar�� aqui, e �� uma auxiliar maravilhosa dos os rem��dios e recursos que a ci��n-
nos momentos dif��ceis.
cia p��s ao meu alcance.
��� Obrigado por sua confian��a. E
��� E quem duvida disso, Harry?
quanto a Susan, �� competente, boa, do-
��� Se Gary estivesse aqui, poderia t��-
c e . . . Por que me olha dessa maneira, lo salvo...
Gary?
��� Estava pensando em certas pala-
��� N��o, querido. Ele n��o poderia ter
feito mais do que voc�� fez. Quando o
vras da minha m��e. Voc�� e Susan... paciente foi operado, j�� n��o havia es-
Bem, j�� deve ter me entendido. Minha peran��a de salva����o.
m��e assegura que voc�� seria o marido
ideal para Susan e, ao ouvi-lo elogian-
��� Mas, talvez Gary tivesse achado
do-a, cheguei a me sentir convencido um meio...
de que ela tem raz��o.
��� Tire essas id��ias da cabe��a, Har-
��� Susan �� digna do amor de qual-
ry! ��� o tom da jovem era firme e sin-
quer homem, Gary. E aquele a quem cero. ��� Tenho muita experi��ncia des-
ela a m a r . . . perder�� um grande tesouro ses casos e sei como Gary age nessas se n��o souber corresponder a esse sen-circunst��ncias. Tenho certeza absoluta
timento.
de que nem ele conseguiria impedir a
morte do doente.
��� Eu jamais pensei em Susan dessa
��� Obrigado, Susan. Se voc�� diz isso
maneira. Desde garotos sempre gosta-
�� porque acredita sinceramente no que
mos um do outro como se f��ssemos est�� dizendo.
verdadeiros irm��os, mas me sentirei fe-
liz se ela encontrar um homem que lhe
��� �� claro que sim. Afaste essas id��ias
da cabe��a e deixe de se acusar injus-
d�� tudo que realmente merece.
tamente.
Harry Taylor esteve a ponto de con-
Susan sentou-se numa poltrona e co-
fessar-lhe a verdade e faz��-lo compre-
me��ou a beber o seu caf��. Seu rosto
ender que ele era o ��nico homem que demonstrava o cansa��o f��sico e o ani-
importava �� mo��a, mas calou-se a tem-
quilamento moral.
po. N��o tinha o direito de intervir na
vida deles.
��� ��, Susan, foram horas realmente
angustiosas. E agora, voc�� ter�� a triste
��� Gary, gostaria que falasse com Su-
obriga����o de falar com os familiares do
san e a instru��sse para o caso do pa-
doente.
ciente piorar. Um minuto pode ser pre-
��� Isso n��o me preocupa muito, Har-
cioso na vida de um ser humano e voc�� ry ��� retrucou a jovem. ��� Todos sa-
sabe disso.
biam que a opera����o era dif��cil e que
��� Eu sei, Harry ��� ambos se olha-
a ci��ncia tem suas limita����es. Penso em
ram gravemente. ��� Mas tamb��m tenho Gary. Em sua rea����o quando souber o
o direito de me ocupar da minha pr��-
que aconteceu. �� a primeira vez que se
pria vida, depois de lutar para salvar afastou da cl��nica depois de efetuar
a dos outros.
uma opera����o. Acho que se considerar��
��� Sim, tem raz��o ��� concordou o culpado por essa morte.
amigo. ��� Pode ir tranq��ilo. Parei o pos-
��� Mas n��o pode! A opera����o foi um
s��vel para substitu��-lo �� altura.
��xito completo. Foi o cora����o do pacien-
��� Obrigado, companheiro.
te que nos ludibriou.
17
��� Eu sei, mas ele se sentir�� respon-
��� Maravilhosamente, querida! Tina ��
s��vel. Pensar�� que deixou de cumprir uma mulher admir��vel. Quando estou
o seu dever. Tina Rosetti o enfeiti��ou, ao seu lado, esque��o-me de tudo. Sin-
Harry. �� a dona absoluta da sua von-
to-me o homem mais feliz do mundo.
tade, mas n��o me atrevo a censur��-la. Quero me casar logo.
Bia conquistou, em poucos dias, algo
��� E j�� lhe falou sobre isso? ��� per-
que n��o fui capaz de alcan��ar em tan-
guntou a mo��a.
tos anos.
��� Sim. Est�� de acordo comigo...
��� Ele est�� cego, Susan! Deveria ter mas acha que n��o devemos nos preci-
adivinhado o amor que voc�� sente por pitar. ..
ele.
��� Talvez, Gary. Pense que sua m��e
��� N��o somos donos dos nossos sen-
tamb��m tem o direito de conhecer os
timentos ��� retrucou a mo��a. ��� E n��s seus planos.
tr��s, melhor do que ningu��m, podemos
afirmar isso. Eu o amo, voc�� me ama
��� ��, tem raz��o. Falarei com ela hoje
e ele ama outra mulher. Seria engra��a-
mesmo sobre isso. E agora, tenho que
do se n��o fosse t��o triste. De qualquer comunicar aos parentes do morto a pe-
maneira... temo o instante em que nosa realidade...
Gary chegar aqui e souber a verdade.
��� N��o �� preciso, Gary. Eu j�� lhes
��� Sei que voc�� encontrar�� as pala-
falei h�� poucos minutos atr��s. Tentei
vras para aliviar seus temores, da mes-
fazer-lhes compreender tudo que fize-
ma maneira como o fez comigo. Voc�� mos sem conseguirmos nada. N��o t��m
�� admir��vel! Acredita que eu faria qual-
nada a reclamar. S��o pessoas compreen-
quer coisa para que voc�� fosse a mu-
sivas e sabem admitir que, em certos
lher mais feliz do mundo?
casos, a ci��ncia �� in��til.
A mo��a concordou com um gesto emo-
��� Obrigado, Susan, voc�� �� meu anjo
cionado.
bom ��� envolveu-a num profundo olhar
��� Sim, Harry. Talvez por sentir por agradecido e carinhoso. ��� N��o enten-
mim a mesma coisa que sinto por Gary.
deria a vida se voc�� n��o estivesse ao
me�� lado.
* * *
��� Gary!
Sabia que, naquele momento, era sin-
��� Se eu estivesse aqui...
cero. E convertia aquelas palavras na
Susan olhava o rosto p��lido, crispado, ��nica compensa����o que a vida poderia
e a express��o vencida daqueles olhos.
lhe oferecer.
��� Tudo seria igual, Gary. Esse pobre
��� Sempre a tive comigo, Susan. Nos
homem n��o tinha salva����o. Voc�� mes-
momentos dif��ceis, facilit��ndo-me o ca-
mo falou com seus familiares, propon-
minho, emprestando-me seu apoio ma-
do-lhes a opera����o como ��ltima possi-
terial ou moral. Nunca poderei prescin-
bilidade de ��xito.
dir de voc��.
��� Mas e u . . . deveria ter ficado na
��� N��o diga isso. Quando se casar,
cl��nica e ter tentado uma opera����o de tudo ser�� diferente entre n��s.
emerg��ncia.
Gary caminhou para junto dela, co-
��� O doente foi atendido como devia. locou as m��os sobre seus ombros e,
Harry portou-se maravilhosamente, lu-
fixando-se naqueles olhos negros e pro-
tando at�� o ��ltimo instante.
fundos, disse:
��� Eu sei e devo lhe agradecer pes-
��� Nada mudar�� entre n��s dois, Su-
soalmente. M a s . . . n��o consigo deixar san. Nem mesmo o amor que sinto por
de sentir remorsos.
Tina ser�� capaz de anular o sentimen-
��� Esque��a-se disso ��� e depois, num to de afeto, confian��a, f�� e gratid��o
admir��vel desejo de faz��-lo reagir, mu-
que voc�� me inspira. Qualquer que seja
dou repentinamente de assunto. ��� Co-
o rumo da minha vida, nunca me pa-
mo passou o dia?
recer�� completo se n��o puder contar
A express��o triste do rosto do m��dico
com a sua presen��a, com a sua ajuda
foi substitu��da por outra mais amena, e colabora����o. Por favor, diga-me que
mais conformada.
isso jamais me faltar��, garota.
18
Era sincera a s��plica de Gary, e cantora italiana, famosa no mundo in-
aquelas palavras pronunciadas em tom
teiro. Deve ter in��meros admiradores.
emocionado chegaram ao ��ntimo de Su-
�� como uma deusa, que todos adoram,
san, inundando-a de alegria e de uma n��o ��?
doce embriaguez, misturada �� amargu-
��� �� poss��vel, madrinha. Mas se gos-
ra da ren��ncia.
ta realmente de Gary, n��o lhe impor-
��� Sempre estarei ao seu lado, Gary. tar�� perder tudo isso. O amor, quando
J�� lhe disse isso muitas vezes. E u . . . �� sincero, profundo e real, �� suficiente eu tamb��m n��o entendo a vida longe para compensar qualquer coisa que sa-de voc��.
crifiquemos em seu benef��cio.
Talvez outro homem soubesse encon-
��� Susan, minha filha!
trar o real significado daquela frase.
Aquela impulsividade incontida da jo-
Mas para o Dr. Burton era apenas a vem despertou na mulher suspeitas, que
confirma����o natural de tantos anos de tentava, agora com seus olhos cansa-
conviv��ncia e camaradagem.
dos, descobrir no rosto da afilhada al-
��� Obrigado, Susan, obrigado por gum sinal que as confirmassem.
tudo.
Susan, pressentindo as id��ias de Clai-
re Burton, tentou dissimular com um
alegre sorriso.
��� Bem, suponho que deva ser assim.
Como todas as noites, Susan entrou Eu at�� agora n��o tive experi��ncia so-
no quarto de Claire Burton para dese-
bre isso, por��m... Tenho certeza de que
jar-lhe boa-noite. A senhora costuma-
Gary ser�� feliz a seu lado.
va deitar-se cedo, enquanto que ela e
��� N��o �� a esposa que eu desejaria
Gary ficavam na sala, conversando, para ele, Susan. Gary �� esquisito. At��
escutando m��sica, ou simplesmente len-
agora s�� viveu para o seu trabalho e ��
do.
vida de um m��dico est�� cheia de re-
��� Durma bem, madrinha.
n��ncias. N��o sei se essa mo��a poder��
��� Obrigada, filha, mas essa noite... apoi��-lo na sua sagrada profiss��o.
algo me diz que n��o ser�� muito f��cil.
��� Deixe de se preocupar, madrinha.
��� Por qu��?
Gary n��o �� nenhum garoto, e sim um
��� A revela����o de Gary foi t��o im-
homem inteligente. Suponho que se sen-
prevista, t��o inesperada...
te seguro dos sentimentos dessa mo��a.
��� Por qu��? ��� disse Susan, tentando Sendo assim, nada conseguiremos pre-
falar com naturalidade. ��� �� l��gico que
tendendo afast��-la da sua vida.
um homem na sua idade pense em ca-
��� Talvez esse casamento seja um
samento. A senhora mesma animou-o erro.
v��rias vezes a isso.
��� �� poss��vel, mas ter�� que se reali-
��� Susan, como �� essa mo��a? ��� per-
zar para que ele se conven��a disso. N��o
guntou a Sra. Burton, preocupada.
h�� ningu��m mais cego do que um apai-
A mo��a fugiu ao olhar agudo e in-
xonado.
quisitivo da sua madrinha.
Claire Burton teve que admitir que
��� �� muito bonita ��� respondeu. ��� sua afilhada tinha raz��o. De nada ser-
Uma dessas mulheres que fazem enlou-
vem os conselhos em problemas amo-
quecer os homens.
rosos. S�� a pr��pria convic����o chega a
��� Sim, foi essa a impress��o que as confirmar ou desmentir as previs��es
palavras de Gary me deram. Nunca o alheias, mesmo quando a verdade tenha
vira falar assim. Disse-me que �� uma sido conseguida atrav��s do sofrimento.
CAP��TULO 7
Longe da cidade, na bonita casa que mons que, diante dela, sentado numa
alugara na montanha, a cantora ouvia, poltrona e com um copo de u��sque na
de m�� vontade, as palavras de Paul Si-
m��o, olhava-a acusadoramente.
19
��� At�� quando vai durar a brincadei-
pretar um cap��tulo rom��ntico sem qual-
ra, mocinha?
quer import��ncia na sua vida.
��� N��o o entendo, Paul.
��� Est�� equivocado, Paul. Amo Gary,
��� Entende sim, Tina. Pensou que se-
sinceramente.
ria agrad��vel se refugiar aqui, passar
��� N��o me fa��a rir outra vez, Tina.
umas f��rias livre dos jornalistas, sem Voc�� jamais amou homem algum. So-
trabalhar e sem se preocupar com mente soube manej��-los �� sua vontade,
aproveitando-se das vantagens da sua
n a d a . . . Mas agora a realidade se im-, posi����o, do seu dinheiro ou poder, mas p��e. Os empres��rios aguardam uma res-sempre conservou sua liberdade pessoal.
posta. Anunciar��o a sua presen��a em
Londres com toda a publicidade poss��-
��� Agora �� diferente, meu amigo. Des-
sa vez n��o se trata de um jogo publi-
vel. Como sempre, voc�� deslumbrar�� a cit��rio. A prova disso est�� no fato de
plat��ia londrina.
querer me manter inc��gnita desde que
��� Ter�� que desistir de todos esses cheguei aqui. E, se no princ��pio o fiz
planos, Paul.
por comodidade, depois de conhecer Ga-
Os dedos do homem crisparam-se so-
ry foi unicamente por conveni��ncia.
bre o copo, enquanto seu olhar se fa-
��� Voc�� acha que esse homem a ama
zia perscrutador.
de verdade?
��� O que quer dizer? ��� perguntou.
A cantora permaneceu um instante
em sil��ncio, mas seus olhos azuis ilumi-
��� Vou deixar de trabalhar definitiva-
naram-se com uma express��o segura.
mente. Em outras palavras... Nenhu-
ma plat��ia mais ter�� a ocasi��o de me
��� Sim, Paul. Pela primeira vez sin-
ver pessoalmente.
to-me amada de uma maneira sincera,
pura e real. N��o se trata de uma pai-
��� Est�� falando s��rio?
x��o vulgar e nem de um desejo de se
Os olhos azuis da cantora sustenta-
exibir com uma mulher bonita e cobi-
ram com firmeza o olhar duro do seu ��ada. Eu sou para Gary... a vida in-
empres��rio.
teira!
��� Muito s��rio, mesmo.
Suas palavras soaram t��o firmes, t��o
��� Suponho que o Dr. Burton tem convincentes, que Paul Simons, pela pri-
uma estreita rela����o com esses planos meira vez, come��ou a divisar um pe-
absurdos, n��o ��?
rigo maior do que pensara. E preparou-
��� Tem uma rela����o total, Paul. se para a luta, disposto a empregar to-
Amo-o e vou me casar com ele.
das as armas, por mais indignas que
fossem.
Paul Simons desatou a rir. E suas gar-
galhadas ir��nicas e ferinas foram como
��� Nesse caso, querida, lhe ser�� muito
dardos penetrantes ferindo a sensibili-
mais doloroso renunciar a ele. Mas ter��
dade da mulher.
que faz��-lo!
��� Por que est�� rindo dessa maneira?
��� Fale claro, Paul!
��� Sua ingenuidade me diverte, que-
��� Sup��e que vou aceitar isso sem lu-
rida. Parece-lhe muito f��cil se trans-
tar, Tina? Lembre-se que a converti
formar numa Julieta, disposta a se en-
numa cantora famosa e que a encon-
tregar ao seu Romeu, sem medir os trei humilhada, com uma linda voz, ��
verdade, mas que ningu��m se preocupa-
obst��culos que precisa vencer.
va em ouvir. Estou mentindo?
��� Obst��culos? Gary me ama e eu
correspondo a esse amor.
��� N��o, mas ao longo de minha car-
reira paguei-lhe com juros sua ajuda
��� E acha isso suficiente, Tina?
naquela ��poca. Voc�� fez-se meu empre-
��� Claro que sim.
s��rio, administrador, homem de con-
��� Engana-se, querida. Voc�� n��o per-
fian��a. Jamais lhe pedi contas, nunca
tence a si mesma e sim ao seu p��blico. quis investigar, para saber se era ho-
�� uma deusa, garota, e n��o pode renun-
nesto na administra����o dos meus bens.
ciar �� gl��ria, ao dinheiro, para inter-
Mas agora... quero a minha liberdade
20
para poder me dedicar exclusivamente berei pagar-lhe com o meu carinho, a a Gary.
minha dedica����o.
��� Mas deve reconhecer que jamais
��� Bonitas palavras! Mas soam como
teria triunfado se n��o fosse eu. Seria paradoxos em seus l��bios, Tina Rosetti.
sempre uma desgra��ada, como o era Em Londres n��o a conhecem bem, mas
naquele cabar�� de N��poles, sendo obri-
em outros pa��ses, sim. Voc�� �� brilhan-
gada a suportar os atrevimentos dos te, bela, tentadora, audaciosa... De na-
fregueses b��bedos e as exig��ncias do da lhe servir�� tentar mudar sua perso-
nalidade. N��o �� f��cil destruir o passado.
dono.
N��o o �� . . . quando existe algu��m dis-
��� Cale-se, por favor. Esque��a-se dis-
posto a lembr��-lo sempre.
so!
Bruscamente, sem uma palavra de
Paul Simons sabia que no fato de despedida, saiu da sala, enquanto Tina,
evocar aquele passado estava toda a sua
dando-se conta do perigo que represen-
for��a. N��o sentia pena da palidez do tavam as palavras do homem, escondeu
belo rosto de Tina Rosetti.
seu belo rosto entre as m��os crispadas,
��� N��o �� f��cil romper com o passa-
vencida pela amargura daquela verdade
do e nem afastar de nosso caminho que Paul Simons reviveu em suas amea-
aqueles que sempre estiveram conosco. ��as.
Seu destino est�� tra��ado, criatura. Sua
vida n��o pode ser diferente da que for-
* * *
jou com minha ajuda.
��� Quero ser feliz, Paul! Por acaso
��� Bom-dia, Srta. Rosetti ��� cumpri-
mentou Susan, ao entrar na sala de es-
n��o posso aspirar a isso? ��� perguntou
pera, contemplando, admirada, a boni-
a mulher, alterada.
ta mulher vestindo um elegante vestido
��� Bobagem! Nunca poderia ser feliz de seda, que delineava seu corpo per-
ao lado de Gary. �� uma ilus��o, um en-
feito. ��� J�� est�� completamente resta-
tusiasmo passageiro. N��o est�� destina-
belecida?
da a se converter na esposa apagada e
��� Sim, totalmente. Os cuidados que
vulgar de um m��dico que luta para recebi nessa cl��nica foram t��o perfeitos
abrir caminho na vida.
que nem ao menos me ressenti das con-
��� De qualquer maneira... ningu��m, tus��es sofridas no acidente.
sen��o eu, deve decidir o meu futuro.
��� Fico muito feliz.
N��o acha, Paul?
Tina, enquanto isso, observava a enfer-
��� Quer dizer que est�� disposta a lu-
meira. Pensava que, embora n��o fosse
tar contra mim, Tina?
dona de uma beleza atraente, tinha um
��� N��o, contra voc�� n��o, Paul. Que-
suave encanto nos tra��os harmoniosos
ro somente l u t a r . . . para alcan��ar a fe-
do seu rosto, na express��o viva dos
licidade. N��o ser�� minha culpa se voc�� olhos, no desenho perfeito dos l��bios
se atravessar no meu caminho.
vermelhos, sem pintura.
��� E eu farei isso, Tina. N��o permi-
��� Suponho que deve estar estranhan-
tirei que se anule a si mesma, em troca do a minha presen��a aqui.
de uns sentimentos sem valor e de pla-
��� Pode ter vindo procurar G a r y . . .
nos sem significado. Nunca poder�� ser
feliz ao lado desse homem. Voc�� n��o ��
��� N��o, ele, inclusive, n��o sabe da mi-
igual a outra mo��a qualquer. Precisa nha visite. Sei que a esta hora est�� na
continuar triunfando no mundo.
faculdade, dando aula. Eu vim... falar
com voc��.
��� P a u l . . . Eu lhe darei todo o dinhei-
ro que possuo, renunciarei a tudo o que
��� Estou �� sua disposi����o, Srta. Ro-
tenho em seu favor. Mas n��o me obri-
setti.
gue a renunciar a Gary, nem me force
��� Voc�� me odeia, Susan?
a lutar contra voc��. Amo Gary e penso
A enfermeira encarou-a ao ouvir
que seu amor poder�� me redimir dessa aquela inesperada pergunta. E encon-
vida anterior que me reprova, e que sa-
trou-se com os belos olhos azuis da can-
21
tora, nos quais se via uma express��o an-
soa que deveria ser a futura esposa do
siosa.
Dr. Burton, o jovem cirurgi��o a quem
��� E por que deveria odi��-la?
est�� destinado um posto importante na
��� Sei que conhece as minhas rela-
sua profiss��o, n��o �� verdade?
����es com Gary, e sei tamb��m que so-
Susan deixou escapar um gesto de
freu com isso.
admira����o.
��� Por que pensa assim?
��� �� muito corajosa, Srta. Rosetti. Ou-
��� Foram criados como irm��os... Mas tra n��o falaria dessa maneira, mostran-
n��o o s��o. Foi f��cil para mim descobrir do os inconvenientes que sua pessoa po-
o tipo de sentimento que voc�� sente por deria me inspirar. De qualquer forma,
Gary, Susan. Acho que os notei quando foi Gary quem a escolheu. E eu n��o poi-
ainda estava aqui na cl��nica, e come-
so fazer outra coisa a n��o ser aceit��-la.
cei a admir��-lo atrav��s das suas pala-
��� i Mesmo suspeitando que n��o mere-
vras elogiosas com rela����o a ele. Quan-
��o o seu amor, Susan?
do o v i . . . me apaixonei por ele. E nem
Aquelas palavras soaram vacilantes
sequer me detive a pensar que esse nos l��bios da cantora. E Susan, ao ouvi-
amor pudese prejudic��-la, Susan, e a
seus futuros planos.
las, sentiu-se inquieta, confusa.
��� Por que diz isso?
��� Fale mais claro! ��� exigiu a en-
��� Gary n��o tem experi��ncias amo-
fermeira.
rosas. �� sincero, nobre, leal... e pensa
��� Fui ego��sta, menina. Pela primei-
que os outros tamb��m o s��o. Mas, no
ra vez me senti vencida pelos sentimen-
que me diz respeito, pode estar enga-
tos. E me senti feliz ao ver que Gary nada.
me correspondia.
��� Engano-me realmente, Srta. Ro-
��� Uma coisa muito natural. A senho-
setti.
rita �� uma mulher bonita.
Houve um sil��ncio durante o qual am-
��� Nunca me senti t��o agradecida �� bas olharam-se fixamente. Eram rivais,
minha beleza como naqueles momentos por��m n��o se sentiam em campos anta-
em que conquistei a aten����o de Gary, g��nicos. As duas mulheres possu��am
e pouco depois... seu amor: Esse amor senso suficiente para n��o menosprezar
que talvez chegasse a lhe pertencer al-
o valor alheio.
gum dia, Susan, se n��o fosse eu.
��� Por que n��o me fala francamente,
Falava claramente, com sinceridade, Susan?
sem afastar o olhar franco do rosto p��-
��� Nada sei do seu passado, de sua
lido da enfermeira. E Susan, por sua vida anterior. Seu nome �� sin��nimo de
vez, pensou em quanto era absurdo con-
fama, popularidade e riqueza. Nada dis-
tinuar dissimulando.
so �� importante para mim ou para Ga-
��� Gary jamais viu em mim nada ry. Quando a vi pela primeira vez n��o
al��m do que sua melhor amiga, sua co-
era nada al��m de uma mulher ferida,
laboradora, quase sua irm��, apesar de talvez em perigo de morte. Quando se
n��o haver la��os de sangue entre n��s. recuperou, todos n��s ficamos muito con-
Sempre fui isso para ele e jamais teria tentes. N��o por ser a famosa Tina Ro-
mudado, Srta. Rosetti. Por isso, n��o a setti, e sim porque era uma vida huma-
odeio, garanto-lhe. A senhorita ou outra
na que hav��amos salvado. Tamb��m, nes-
qualquer. O que importa? Eu nunca se-
se caso, desejo me esquecer da sua fa-
ria olhada por Gary como uma mulher ma para admitir somente os seus m��-
a quem se pode amar.
ritos morais. Pensarei que �� a esposa
��� Nunca lutou para conquist��-lo?
certa para Gary se tiver certeza de que
��� N��o sou mulher de conseguir as seu carinho por ele �� sincero.
coisas pela for��a, Srta. Rosetti. S�� aqui-
��� Compreendo. Como poderia de-
lo que nos �� oferecido voluntariamente monstrar-lhe isso?
pode nos trazer felicidade.
��� Fazendo-o feliz.
��� No entanto, talvez n��o me consi-
Tina olhou-a com admira����o. Nunca,
dere digna do amor de Gary.
at�� ent��o, havia enfrentado algu��m com
��� Por qu��?
t��o nobres sentimentos. Desde garota
��� Sou uma estrangeira e. al��m disso, viu-se obrigada a lutar contra a vida
artista. N��o me enquadro bem na pes-
e as pessoas. Ningu��m se dera ao tra-
22
balho de faz��-lo comprender que exis-
fian��a abriram-me as portas de uma
tiam afetos sinceros, aspira����es sublimes
nova vida. Amo-o profundamente. Mas,
e desprendimentos admir��veis.
se Paul reviver esse meu sujo passado,
��� Acho-a muito corajosa, Susan. E no qual me envolvi por for��a das cir-
Gaiy tamb��m perde algo de muito va-
cunst��ncias, Gary me far�� descer do
lor por n��o ter reparado em voc��. Mas pedestal onde me p��s e jamais ser�� ca-
amo-o sinceramente e estou disposta a paz de voltar a acreditar em mim nem
tudo para fazer realidade os seus so-
em ningu��m.
nhos de felicidade. A tudo! A t �� . . . p��r
��� Mas por que me conta tudo isso?
em suas m��os, Susan, as armas com as
��� Tinha que lhe dizer, Susan. Mes-
quais poderia vencer-me.
mo correndo o risco de que voc�� conte
��� O que quer dizer com isso?
a Gary. Se o fizer... talvez ele se volte
��� Desejo me casar com Gary, dedi-
para voc��.
car-lhe a minha vida inteira, mas n��o
��� Sabe que jamais faria isso, Tina.
vai ser f��cil. Algu��m, muito ligado a Gary a ama e eu sustentarei a firmeza
mim, est�� querendo lutar para impedir desse sentimento enquanto me for pos-
isso.
s��vel.
��� O Sr. Simons?
��� Obrigada. Vim porque tenho medo
��� Exatamente.
de Paul Simons. Conhe��o-o o bastante
��� O que ele pode fazer contra a se-
para saber que n��o ceder��. Diz que sou
nhorita?
uma obra sua e que n��o posso renun-
��� Por favor, para de me chamar as-
ciar ao ��xito, quando estou no auge da
sim. Vim procur��-la para que se con-
fama. Entende?
vertesse em minha aliada. Sei que a fe-
��� Sim, se voc�� se afastar da vida ar-
licidade de Gary �� muito importante t��stica, toda a sua obra cair�� por terra.
para voc��.
��� Exato. Tentar�� falar com Gary,
��� Realmente, Tina. Mas, por favor, contar-lhe o meu passado... Se voc��
fale claro.
estiver advertida, poder�� impedi-lo. Pre-
��� Paul conheceu-me h�� anos, num ciso da sua ajuda, Susan.
cabar�� de N��poles, onde eu cantava pa-
��� Pode ficar tranq��ila, farei tudo o
ra distrair os clientes. Um lugar sujo, que puder para ajud��-la.
desprez��vel. Minha vida, at�� o instante
Tina Rosetti olhou-a emocionada.
em que me uni a ele artisticamente, ha-
��� N��o vou lhe dizer palavras de agra-
via sido dura, dif��cil e . . . perigosa. En-
decimento, Susan. Sei o que espera de
tende?
mim, e se chegar a me casar com Gary,
��� Creio que sim.
prometo-lhe que jamais ter�� raz��es pa-
��� Sei que sou a primeira mulher na ra se arrepender de me ter ajudado.
vida de Gary, por isso me ama com tan-
Ele encontrar��, comigo, toda a felicida-
ta intensidade. Nem ao menos suspeita de que merece. Basta-lhe essa promessa?
de que no meu passado pudesse existir
��� Sim, Tina, �� suficiente. Farei o pos-
algo que me fizesse cair no seu concei-
s��vel para impedir que Paul Simons fa-
to. Por��m... se sentiria ferido se co-
le com Gary.
nhecesse a verdade.
A cantora se encaminhou para a por-
��� Sei o que quer dizer. Gary acha-a ta, seguida pela enfermeira. Quando
pura, ing��nua, sincera.
chegou na sa��da da cl��nica, virou-se e
��� E o sou, quando estou ao seu lado, lhe dirigiu um olhar de profunda gra-
Susan. Seu amor, sua devo����o e sua con-
tid��o.
CAP��TULO 8
Havia terminado de percorrer os ao dia ��� pela manh�� e ao entardecer
quartos dos doentes, tomando-lhes a ��� quando, ao sair no amplo corredor,
temperatura, coisa que fazia duas vezes pensou reconhecer a figura do homem
23
que, precedido por uma enfermeira, es-
lhor que o avise que desejo falar-lhe.
teva entrando no gabinete do Dr. Gary O assunto �� de suma import��ncia para
Burton.
o Dr. Burton.
Paul Simons! Susan empalideceu. Se
��� Lamento que n��o acredite em mim,
conseguisse falar com o "m��dico, seus Sr. Simons. Asseguro-lhe que n��o ser�� prop��sitos teriam ��xito. Precisava inter-f��cil se entrevistar com ele.
vir rapidamente. Apressou o passo e
��� Por que est�� contra mim? Conhe��o
quando chegou �� porta do gabinete, a as mulheres. E sei que algumas est��o
enfermeira sa��a.
sempre dispostas a defender causas per-
��� O Dr. Burton est�� a�� dentro, Lau-
didas, senten��as sem apela����o. Voc�� per-
reen? ��� perguntou ansiosamente.
tence a esse tipo. Se n��o fosse assim...
��� N��o. Vou procur��-lo ��� respondeu jamais teria ficado do lado de Tina Ro-
a enfermeira. ��� O empres��rio de Tina setti.
Rosetti est�� a�� e quer v��-lo.
��� N��o sei do que est�� falando, Sr.
��� Ele est�� na sala de opera����es, mas Simons.
n��o quero que venha at�� aqui. Com-
��� Claro que sabe! ��� exclamou o ho-
preende, Laureen? Eu atenderei a essa mem, com seu habitual cinismo. ��� No
visita.
seu lugar, eu n��o teria cruzado os bra-
��� Mas ele deseja falar com o Dr. ��os, enquanto uma estrangeira, uma
Burton ��� insistiu a enfermeira.
qualquer, lutava para conquistar algo a
��� Fa��a-me o favor de entreter o di-
que s�� voc�� tinha direito: o amor do
retor o maior tempo poss��vel. Diga-lhe Dr. Burton!
que o Dr. Taylor est�� chamando-o ou
��� N��o lhe dei raz��es para se intro-
e n t �� o . . . que o reclamam no quarto se-
meter na minha vida particular, Sr. Si-
te. Voc�� sabe, a doente dos ataques ner-
mons ��� declarou a enfermeira, alte-
vosos. Embora n��o lhe tenha chamado,
n��o perder�� a oportunidade de contar-
rada.
lhe todos os sintomas que sente.
��� Eu sei disso, mas creio ser conve-
niente que algu��m lhe abra os olhos. E
��� Est�� bem, querida. N��o entendi a eu vou faz��-lo. Pensa ser admir��vel,
sua atitude mas, como sempre, a obe-
consolador, renunciar �� sua pr��pria fe-
decerei.
licidade para servir de base �� felicida-
��� Obrigada, Laureen.
de do ser amado. Mas h�� uma coisa
Depois, procurando aparentar uma se-
que n��o sabe, enfermeira: seu sacrif��cio
renidade que n��o sentia, entrou no ga-
n��o vai valer de nada. Tina n��o �� mu-
binete.
lher de adaptar-se ao tipo de vida que
��� Boa-tarde, Sr. Simons. Deseja al-
o doutor poder�� lhe oferecer.
guma coisa?
O homem deixou transparecer em seu
��� Eu n��o sou a pessoa indicada para
rosto c��nico uma expres��o de mau hu-
julgar esse ponto. Nem o senhor, tam-
mor ao reconhecer a rec��m-chegada.
pouco. N��o temos outra alternativa a
��� Creio que expliquei claramente �� n��o ser assistirmos, como espectadores,
enfermeira que quero ver o Dr. Burton. ao desenrolar dos acontecimentos.
��� Sinto muito, mas �� imposs��vel.
��� Acha que vou me conformar com
��� Por qu��?
esse papel, enfermeira? ��� o olhar do
��� Ele est�� operando neste momento. homem se fez frio, amea��ador. ��� Ain-
A opera����o �� delicada e n��o acabar�� da n��o me conhece. Tina Rosetti deve-
em menos de duas horas.
r�� continuar existindo para o p��blico,
Os finos l��bios do homem abriram-se para a arte. N��o poder�� consagrar sua
num sorriso zombeteiro.
vida a um m��dico, por mais competen-
��� Acha que vou acreditar nessa his-
te que ele seja.
t��ria, enfermeira?
��� Ela o ama, Sr. Simons.
��� Por que duvida da veracidade das
��� N��o conseguir�� ir adiante nos seus
minhas palavras? Sabe muito bem que, planos. Bastar�� eu mostrar ao Dr. Bur-
quase todos os dias, o nosso diretor tem
ton certos documentos p a r a . . . ��� inter-
um caso urgente para tratar e . . .
rompeu-se bruscamente, pensando ser
��� E que voc�� sempre o acompanha absurdo descobrir seu jogo inutilmente.
nesses casos. Se fosse verdade, n��o es-
��� Bem, sei como me defender quando
taria aqui agora, enfermeira. Ser�� me-
sou atacado. E desta vez vou agir.
24
��� N��o se meta entre eles. Juntos, se-
��� N��o, n��o se trata de ningu��m da
r��o felizes!
sua cl��nica. E sim de uma pessoa muito
��� N��o sou t��o generoso quanto voc��, ligada ao senhor em outro setor. Al-
enfermeira. Tina �� uma mina de ouro gu��m em quem confia cegamente. Uma
e jamais renunciarei a continuar explo-
mulher. Sim, uma mulher que acredita
rando-a. Ao inv��s de ajud��-la, deveria sincera, ing��nua e digna da sua estima.
pensar em si mesma.
Tenho provas de que est�� enganado. Se
��� J�� pensei e tenho certeza de que se der ao trabalho de se encontrar co-
escolhi o melhor caminho. E agora, se migo, poderei lhe provar o que estou di-
me der licen��a, vou acompanh��-lo at�� zendo.
a porta. Meu tempo �� pouco e j�� perdi
Seu senso de lealdade levou-o a pro-
o bastante.
testar contra aquelas acusa����es an��ni-
Paul Simons n��o protestou. Dirigiu-se mas.
para a saida sem abandonar sua atitu-
��� N��o vai me convencer, senhor. Co-
de firme, um pouco desafiadora.
nhe��o todos os que me rodeiam e aque-
les que contam com a minha estima...
* * *
merecem-na.
��� Tem medo de descobrir que n��o ��
Caminhavam pelo corredor, quando bem assim? ��� perguntou a voz, com iro-
uma enfermeira aproximou-se do Dr. nia. ��� Seja corajoso e aceite a reali-
Burton.
dade. Venha visitar-me no Hotel Santa
Marta, quarto n��mero quinze. ��s oito
��� Telefone para o senhor. �� urgente. horas, est�� bem?
��� No meu gabinete? ��� perguntou.
��� N��o conte com isso, jamais dei va-
��� N��o, na mesa da telefonista. Segu-
lor a esse tipo de informa����o ��� re-
ramos a chamada, pois n��o sab��amos trucou Gary, irritado.
onde localiz��-lo.
��� Sei que vir��. Est�� em jogo o seu
��� Obrigado, enfermeira.
futuro, Dr. Burton. At�� logo mais!
Gary virou-se rapidamente para Tay-
Gary, nervoso, sentiu como o outro
lor que o acompanhava nas visitas aos cortava a liga����o. E ele tamb��m entre-
doentes.
gou o fone �� telefonista, com um gesto
��� Por favor, Harry, continue voc��. preocupado. N��o queria dar import��n-
Depois, me procure no meu gabinete. cia ��quele telefonema an��nimo.
Quero saber sua opini��o sobre o garoto
Mas, enquanto se dirigia a seu gabi-
do dezoito.
nete, as palavras do desconhecido mar-
��� Tudo bem, Gary. v�� tranq��ilo.
telavam-lhe o c��rebro com dolorosa in-
Saiu para o vest��bulo e se aproximou sist��ncia.
da mesa da telefonista, que lhe esten-
Quando entrou na sua sala, Harry
deu o receptor.
Taylor j�� se encontrava ali e percebeu
��� Al��.
a altera����o da fisionomia do amigo.
��� Dr. Burton?
��� Aconteceu alguma coisa? ��� per-
��� Sim, sou eu mesmo. O que deseja?
guntou.
��� Dar-lhe um aviso muito impor-
��� N��o, nada. M a s . . . por favor, ter��
tante.
de ficar hoje na cl��nica. Tenho que
��� Quem est�� falando?
comparecer a um encontro importante.
��� Podemos dizer... um amigo. N��o Poder�� fazer isso?
lhe direi meu nome. S�� quero adverti-lo
��� L��gico, n��o se preocupe.
de que certa pessoa de suas rela����es
Nem ao menos sabia porque havia se
n��o merece a confian��a que deposita decidido a ir. Custava-lhe muito imagi-
nela.
nar que aquela liga����o tivesse algum re-
lacionamento com Tina. Amava-a e ti-
Gary empalideceu ao ouvir aquelas nha certeza do seu amor, mas o homem
palavras. E sua m��o apertou violenta-
destilara o veneno da d��vida em seu
mente o fone.
��ntimo.
��� Explique-se, por favor. N��o lhe da-
rei o menor cr��dito se n��o explicar o
* * *
significado de suas palavras. A quem
tenta acusar? A algum dos meus cola-
��� N��o deve ir, Tina. Esse homem ��
boradores?
um canalha.
25
��� Eu sei. Por isso mesmo estou deci-
eu v�� ao seu quarto, no hotel onde est��
dida a ir. Preciso recuperar esses do-
hospedado. N��o sei quais ser��o as suas
cumentos. Se chegarem ��s m��os de Ga-
inten����es, mas darei minhas j��ias, todo
ry ioda confian��a que deposita em mim o meu dinheiro, em troca dessas cartas
ruir��. Ele desconhece a vida, Susan, n��o e dessas fotografias. �� ambicioso, talvez ser�� capaz de compreender como �� di-consiga tent��-lo.
f��cil enfrent��-la quando se �� nova, bo-
��� E se n��o conseguir? ��� quis saber
nita e miser��vel. Sim, naquela ��poca eu Susan.
fazia chantagens com os homens que se
Os olhos da bela cantora tiveram um
interessavam por mim. Por��m, dou-lhe brilho angustiado.
a minha palavra de honra que jamais
��� Nem quero pensar nisso, Susan. Se-
me entreguei a nenhum deles. Mas en-
ria o fim para mim.
contrava um profundo prazer de usar
a atra����o que sentiam por mim, para
��� Quer que eu v�� com voc��? ��� ofe-
esvaziar seus bolsos. Bastavam algumas receu-se a enfermeira.
fotografias um pouco comprometedoras
��� N��o, obrigada. Paul �� um inimigo
para eles, para que me oferecessem o perigoso. A prova disso �� que n��o se deu
dinheiro que pedia em troca das provas
por vencido, mesmo sabendo que voc��
da leviandade deles. Compreendeu?
est�� do meu lado, que impediu que ele
��� Sim.
se avistasse com Gary. Pe��a a Deus pa-
��� Quando Paul me conheceu, eu vi-
ra que tudo saia bem, Susan, do con-
via disso, Susan.
tr��rio . . .
��� Fa��a com que ele v�� �� casa da
Tina Rosetti despediu-se da amiga e
montanha ��� sugeriu Susan.
dirigiu-se para sua casa, disposta a es-
��� N��o far�� isso. Pretende lutar em perar a hora de s.'e encontrar com Paul
seu pr��prio terreno. Por isso quer que Simons.
CAPITULO 9
��� Aplique a inje����o no doente do no-
Estranhou n��o encontrar Gary no seu
ve, Mary. E n��o se esque��a de visitar gabinete. Pensou que pudesse estar no
o Sr. Adams, durante a noite. Seu es-
laborat��rio ou, talvez, no quarto de al-
tado �� delicado.
gum paciente. Deixou as fichas sobre
��� N��o se preocupe, Susan. Estarei a mesa dele e j�� sa��a, quando cruzou
tado �� delicado.
com Harry Taylor, que passava na di-
Havia tirado o uniforme branco e, em re����o da sala dos m��dicos.
frente ao espelho do quarto das enfer-
meiras, soltou os cabelos da pequena
��� Voc�� viu Gary, Harry? Pensei que
touca engomada. Usava um simples ves-
pud��ssemos voltar juntos para casa.
tido de l��, de corte elegante e discreto,
��� Saiu para assistir �� confer��ncia do
mas que salientava seu corpo esbelto.
Centro Cl��nico.
��� Vou ao gabinete do Dr. Burton.
��� Mas j�� devia estar de volta...
Preciso lhe entregar umas fichas, para
��� Ele n��o voltar�� aqui. Algu��m mar-
que as examine amanh��. N��o voltarei cou um encontro com ele para ��s oito
mais aqui, Mary. Talvez saiamos juntos horas. Pediu-me que ficasse aqui por
para casa.
mais duas horas.
��� Procure descansar, Susan. Soube
que amanh�� haver�� duas opera����es
Susan empalideceu ao ouvir essa ex-
muito delicadas. E como sempre, nosso plica����o. Uma suspeita angustiosa domi-
diretor n��o abrir�� m��o da sua mais efi-
nou-a. Adivinhou o que estava a ponto
ciente colaboradora.
de acontecer.
��� Creio que sim. Um bom plant��o pa-
��� Harry, voc�� me empresta o seu
ra voc��, Mary.
carro?
26
Havia tanta preocupa����o no seu tom goso. Mas o doutor n��o admirar�� sua de voz que o jovem m��dico olhou-a, aud��cia. Pensar�� que voc�� �� uma aven-surpreso.
tureira, uma mulher vulgar, sem es-
��� �� claro, Susan. Mas... aconteceu cr��pulos, capaz de lhe mentir s�� para
alguma coisa?
apoderar-se do seu nome honrado.
��� Devo chegar num determinado lu-
��� D��-me essas fotografias, Paul. Em
gar antes de Gary. Do contr��rio... De-
troca delas... ��� tirou da bolsa uma
pois lhe contarei tudo. D��-me as cha-
pequena caixa de j��ias, um ma��o de
ves do carro, por favor.
notas e um tal��o de cheques. ��� Olhe,
tudo ser�� seu! Voc�� sabe que minhas
Harry Taylor entregou-as. Susan, qua-
j��ias s��o valiosas. Aqui est��o tamb��m
se correndo, saiu na dire����o do vest��bulo
todo o dinheiro que possuo e meu tal��o
da cl��nica.
de cheques.
Tinha medo de chegar tarde. Paul Si-
Paul Simons pensou por alguns mo-
mons fazia um jogo duplo com Tina. mentos. Seria f��cil aceitar aquela ofer-
Atra��ra-a ao seu quarto no hotel com ta em troca das provas que possu��a. Os
a conversa das fotografias e cartas com-
minutos estavam passando rapidamen-
prometedoras, enquanto marcava en-
te e tinha certeza de que Gary Burton
contro com Gary, ao mesmo tempo. As-
logo bateria na porta do quarto. Entre-
sim, Tina n��o poderia negar a evid��n-
garia as fotografias e as cartas, pega-
cia dos fatos, demonstrando sua culpa-
ria o dinheiro e as j��ias e reteria a can-
bilidade diante do homem que amava.
tora ali, at�� a chegada do m��dico. Ela
jamais poderia negar as suas acusa-
����es, pois as provas estariam nas suas
m��os.
Paul Simons olhava para Tina com
��� Por favor, Paul, tente me enten-
uma express��o indefin��vel, entre zom-
der. Amo Gary, desejo ser feliz ao lado
beteira, compassiva e triunfal.
dele, ter um lar, filhos...
��� Est�� disposta a se humilhar dian-
O empres��rio sorriu ironicamente.
te de mim, n��o �� verdade, garota? Veio
��� Acho que conseguiu me convencer,
correndo, pois sabe que tenho sua sorte Tina. Em parte, custava muito travar
em minhas m��os.
uma luta contra voc��.
��� Por que voc�� �� assim, Paul? Por
Uma express��o emocionada se estam-
que tenta impedir a minha felicidade? pou no rosto angustiado da cantora.
Jamais houve nada entre n��s, mas eu...
��� Quer dizer que vai me entregar o
o apreciava, devotava-lhe uma profunda que lhe estou pedindo?
gratid��o. Pensava que gra��as a voc�� me
��� Sim, garota. Aqui est��!
havia afastado do sujo ambiente onde
Estendeu-lhe um envelope que Tina
me criei. E agora... est�� me obrigando
abriu com m��o tr��mula. Dentro dele
a odi��-lo.
estava todo o material que usava para
��� Isso n��o me interessa, mocinha. arrancar dinheiro dos homens que ten-
tavam conquist��-la, valendo-se da sua
Somente quero afast��-la desse homem. pobreza.
De todos os homens do mundo! N��o
��� Obrigada, Paul. Tome as j��ias, o
por que a queira para mim. N��s nos dinheiro e o meu tal��o de cheques... ��
conhecemos h�� muitos anos e eu sou muito o que lhe entrego, mas �� muito
incapaz de amar. Mas n��o quero que mais o que consigo em troca. Com Ga-
n i n g u �� m destrua a minha obra. O Dr. ry, come��arei uma vida nova, limpa, di-Burton jamais se casar�� com uma mu-
ferente, maravilhosa...
lher que foi chantagista.
Algu��m bateu na porta. E aquele ru��-
��� Voc�� sabe muito bem que jamais do fez aparecer um sorriso zombeteiro,
perdi minha honra! Que s�� me defen-
ir��nico, nos l��bios do c��nico empres��-
dia da dureza da vida! N��o queria se-
rio.
n��o viver, comer...
��� �� lament��vel que n��o possa ser
��� Sim, eu sei. Voc�� se defendeu va-
realidade tudo o que deseja, Tina.
lentemente num mundo ��spero e peri-
��� O que quer dizer?
27
��� Mediu mal minhas for��as. Ou, em
��� Destrua de uma vez tudo isso, Ti-
outras palavras: confiou demais em mi-
na.
nha ingenuidade ou em minha ambi����o.
A cantora obedeceu. Lenta, quase so-
Sim, agora tenho suas j��ias e seu di-
lenemente, rasgou em pedacinhos tudo
nheiro, mas o que comprou com tudo que se encontrava dentro do envelope,
isso n��o lhe valer�� de nada.
queimando-os depois.
��� Fale claro, Paul! ��� exigiu a mu-
Paul Simons, ainda surpreso, nada p��-
lher.
de fazer para impedir que as provas fos-
��� N��o poder�� destruir essas provas sem, definitivamente, destru��das.
sem que Gary as veja. �� ele quem est��
��� Agora, vamos embora. Tina. Deixe
batendo. Chamei-o aqui para que pre-
suas j��ias e seu dinheiro com esse "se-
senciasse essa comovente cena. Saber�� nhor" . . . Dessa maneira, salda a d��vida a verdade por meus pr��prios l��bios, encontra��da com ele, n��o por devolver-lhe
tende? E voc�� tem, em suas m��os, as esses pap��is desprez��veis, mas pela aju-
provas.
da que lhe prestou no passado. Quando
��� Canalha!
se afastar dele poder�� se sentir total-
Toda a sua alegria desaparecera. E as mente livre, dona de si e do seu futuro.
batidas na porta voltaram a se repetir.
��� Susan, como poderei agradecer-lhe
��� Sim, pode ser que eu o seja, mas o tudo que est�� fazendo por mim? ��� per-
mundo me agradecer�� por n��o se ver guntou Tina, emocionada.
privado de sua arte, Tina. N��o se po-
��� N��o permita jamais que a decep����o
deria converter na esposa apagada de ou a tristeza apare��am no rosto de
um m��dico, quando est�� acostumada �� Gary. Seja para ele o que eu desejo ���
fama e �� riqueza.
declarou, sorrindo tristemente.
��� Nada disso tinha valor para mim.
Novamente bateram �� porta. E, adi-
Voc�� sabia. E, no entanto, destruiu tu-
vinhando a identidade de quem ali es-
do. Voc�� me enoja, Paul! Oh, Senhor, tava, as duas mulheres empalideceram,
como o odeio!
enquanto Paul Simons pensou que o
Mas o homem, vitorioso, seguro de si
destino estava lhe oferecendo uma ��l-
mesmo, sem se sentir ferido pelas acu-
tima cartada naquele jogo.
sa����es da mulher, avan��ou na dire����o
��� Acho que se entreteram demais.
da porta, dizendo:
Agora vai ser dif��cil explicar ao Dr.
��� Entre, Dr. Burton! Esperava-o, sa-
Burton suas presen��as aqui.
bia q u e . . .
��� Por que acha que tudo sair�� como
As palavras cortaram-se bruscamente planejou, Sr. Simons?
em seus l��bios, enquanto seus olhos,
A pergunta de Susan, feita em tom
surpreendidos, furiosos, pousavam na firme, desconcertou o homem.
pessoa que estava �� sua frente.
A enfermeira pegou Tina por um bra-
��� Deixe-me entrar, Sr. Simons, ain-
��o e disse-lhe:
da que n��o seja a pessoa que esperava.
��� Saia pela porta que d��, para a es-
��� Enfermeira!
cada de inc��ndio. E deixe tudo por mi-
nha conta.
��� Susan!
��� Susan, n��o compreendo... ��� mur-
Eram duas exclama����es un��ssonas, murou a cantora, confusa, desorientada.
mas pronunciadas em tons diferentes.
��� N��o tenho tempo para explicar
Susan, aproveitando a perplexidade agora. Mas volte para a sua casa. Gary
de Paul, entrou, fechando a porta atr��s vai querer encontr��-la �� sua espera.
de si.
��� M a s . . .
��� Susan, como soube... ? ��� pergun-
��� Depressa! Ainda poderemos salvar
tou Tina, com alegria.
tudo se fizer o que estou lhe dizendo.
��� O Dr. Taylor me disse que Gary
Paul Simons, compreendendo a sua
tinha um encontro hoje, ��s oito da noi-
id��ia, tentou impedir a sa��da de Tina.
te. Suspeitei logo que o Sr. Simons pre-
Susan, com decis��o, afastou-o da porta
tendia levar sua aud��cia ��s ��ltimas con-
que se comunicava com a escada de in-
seq����ncias. Conseguiu as provas, Tina?
c��ndio, empurando a cantora naquela
��� Sim, est��o aqui. Paguei por elas dire����o e fechando a sa��da.
um alto pre��o. Agora s�� tenho o amor
��� V�� atender, Sr. Simons! Agora,
de Gary.
Gary j�� pode entrar aqui. Como lhe dis-
28
se, poder�� encontrar uma mulher em sou no rosto do empres��rio de Tina Ro-seu quarto.
setti. Sabia que ele poderia destruir seu
��� M a s . . .
jogo com uma simples declara����o. Mas,
��� Eu mesma abrirei a porta, j�� que como se os milagres ainda fossem pos-
o senhor se obstina a deix��-lo esperan-
s��veis no mundo, as palavras de Simons
do no corredor.
n��o fizeram outra coisa que n��o fosse
Avan��ou com firmeza e abriu-a, sus-
acabar com as d��vidas do Dr. Burton
tentando, com coragem o olhar sur-
quanto �� cantora.
preendido de Gary Burton.
��� Sim, fui eu. Estava com raiva de
��� Susan! Voc��!?
Susan. Discutimos num outro dia e pen-
Ela sorriu ironicamente, representan-
sei ser uma boa vingan��a mostrar ao
do, com perfei����o, o seu papel.
senhor quem �� ela, realmente ��� decla-
��� Sim. Por que se surpreende? N��o rou com seguran��a.
�� a primeira vez que venho aqui.
��� Compreendo.
��� E u . . . recebi um telefonema... al-
Frieza, afastamento, o desaparecimen-
gu��m me disse q u e . . . Bem, pensei em to daquele olhar afetuoso no homem a
Tina. E me senti muito infeliz.
quem amava. O doloroso resultado da-
��� O que tem ela a ver com tudo isso?
quela luta, cujo fim era conseguir a fe-
Tenho direito a viver a minha vida, n��o
licidade dele pr��prio.
��? Paul �� um ��timo companheiro para
Susan, firme, desafiante, mantinha
algumas horas de distra����o. N��o poderia
em seus l��bios aquele sorriso c��nico e
viver eternamente voltada exclusiva-
doloroso para seu velho amigo.
mente para os doentes e suas opera-
��� Sinto muito, Gary. Todos temos
����es . . .
nossos segredos ��ntimos. Talvez tenha
Viu a decep����o nos olhos de Gary. me enganado ao fazer amizade com
Compreendeu que com suas palavras e Paul mas, de qualquer maneira... ele
sua fr��vola atitude estava destruindo o �� mais divertido do que Harry Taylor
bom conceito que sempre tivera dela, ou qualquer outro homem que conhe��o.
mas n��o se importou. Precisava livrar
��� Vamos embora daqui ��� ordenou
Tina de toda e qualquer suspeita. E ela secamente.
era a ��nica pessoa capaz disso.
��� M a s . . .
��� Nunca pensei que pudesse ser vo-
��� Eu a levarei para casa. Tem idade
c�� ��� murmurou o m��dico, perplexo. ��� suficiente para agir por conta pr��pria,
Sentia-me t��o seguro da sua retid��o, da
mas quero lembrar-lhe que, enquanto
sua seriedade, seu alto conceito da vida viver na minha casa, tem obriga����o de
e da conduta humana.
agir com dignidade. Suas visitas a esse
��� A vida �� diferente de como voc�� homem n��o encaixam bem com as id��ias
imagina, Gary. E, ��s vezes, as pessoas que, at�� agora, pensava que comparti-
tamb��m.
lhasse comigo. Pode mudar se deseja
Paul, diante deles, ouvia-os sem inter-
assim, mas depois que n��o estiver mais
ferir. Naquele momento, ele poderia des-
sob a tutela de minha m��e.
cobrir toda a mentira, mas algo o im-
Em sil��ncio, Susan disp��s-se a segui-
pediu de fazer isso. A corajosa atitude lo. Gary saiu para o corredor e a mo��a
de Susan, sua generosidade, seu altru��s-
ainda teve tempo de virar-se para Paul
mo pareciam selar seus l��bios, como se Simons que, apoiado no umbral da por-
um impulso interior, digno e incr��vel, o ta, os observava.
impedisse de destruir a grande obra que
a mo��a estava construindo com suas
��� Por que fez isso, Paul? Poderia des-
mentiras.
truir minha farsa com algumas pala-
��� De qualquer maneira... n��o com-
vras. Por que n��o o fez?
preendo bem por que me fez vir at��
O homem encolheu os ombros, num
aqui, Sr. Simons. Pois agora tenho cer-
gesto indefinido.
teza de que foi o senhor quem me tele-
��� Nem eu mesmo sei ��� respondeu.
fonou.
��� De repente... pensei que voc�� era
Susan esperou ansiosamente a respos-
admir��vel, garota. E achei que seria
ta do homem. Seu olhar suplicante pou-
uma canalhice destruir tudo. Pela pri-
29
meira vez em minha vida segui seu
��� Tem todo o direito de se sentir as-
exemplo e senti um impulso nobre e sim. Obrigada por seu sil��ncio. Guarde
respeit��vel. Talvez, mais tarde me ar-
o dinheiro e as j��ias de Tina. Dessa
rependa, mas agora... quase me sinto vez ganhou-os realmente!
orgulhoso de mim mesmo.
Depois, levantando a m��o num gesto
O olhar da enfermeira tornou-se com-
de despedida, afastou-se dele para se-
preensivo, quase afetuoso.
guir Gary.
CAP��TULO 10
��� Sinto-me decepcionado, Susan. j a -
sei. Mas isso n��o �� obst��culo para se
mais poderia pensar que a mulher fosse
preocupar com meu futuro. Meu encon-
voc��. Eu me esfor��ava para destruir to-
tro com Paul Simons foi muito provei-
da a suspetia que estava sentindo com toso. Eu compreendia a vida erradamen-
rela����o a Tina e compreendi que s�� vin-
te. Jamais pensara que poderia agradar
do ao encontro desse homem poderia me
os homens. Agora sei que posso. E apro-
sentir tranq��ilo.
veitarei esse conhecimento no futuro.
��� Bem, voc�� j�� sabe de tudo. Sua
��� N��o quero que mude, Susan!
noiva est�� �� margem desse assunto. De
A moca sorriu zombeteira, desprezan-
minha parte, come��o a pensar que a do aquele pedido.
vida �� algo mais do que deveres, traba-
��� Todos o fazemos insensivelmente,
lho e luta. Os homens como Paul me querido. Pense em voc�� mesmo... Mu-
agradam. Ele pareceu se interessar por dou quando conheceu Tina e esta o con-
mim durante a perman��ncia de Tina quistou com sua extraordin��ria beleza.
na cl��nica e, mesmo resistindo a prin-
Voc�� vai ser muito feliz ao lado dela ���
c��pio, acabei por ceder..
sua voz tremeu um pouco. ��� Eu me sen-
��� O que ganhou com isso?
tirei contente por isso.
N��o a olhava, mas em sua voz havia
��� M a s . . .
um acento ferido, decepcionado.
��� Olhe! J�� chegamos. Lar, doce lar!
��� Saber-me admirada por ele. Es-
Dentro de pouco tempo terei um s�� pa-
cutar palavras elogiosas de seus l��bios ra mim, onde poderei receber minhas
e freq��entar lugares divertidos... Da-
amizades sem ter que suportar sua en-
qui por diante n��o serei a mesma, Ga-
furecida presen��a e suas palavras de
ry. Viverei m a i s . . . intensamente, se �� censura.
essa a palavra.
��� Susan!
��� Cale-se, por favor! ��� nem ao me-
A mo��a desceu do carro e olhou-o ma-
nos se explicava porque tudo aquilo lhe liciosamente.
do��a tanto. Deveria estar contente por
��� Mudei muito, Dr. Burton. Sofri uma
saber que Tina nada tinha a ver com transforma����o completa. Sou uma nova
aquele assunto.
mulher. Diferente!
��� Devo me preocupar comigo mesma,
E o s��rio e reflexivo Dr. Burton pen-
querido. Voc�� vai se casar. Tina ocupa-
sou, enquanto a olhava surpreendido,
r�� o lugar que lhe pertence em seu lar que, na verdade, ela lhe estava pare-
e eu me sentirei deslocada.
cendo uma pessoa desconhecida, inte-
��� N��o fale assim! Sabe muito bem ressante e... perigosa.
que nada mudaria para voc��, mesmo eu
me casando. Minha m��e a ama como se
* * *
fosse sua filha e e u . . .
Interrompeu-se. Pela primeira vez
Tudo prosseguia no seu ritmo normal.
aquelas palavras sempre repetidas "co-
Susan trabalhava na cl��nica com sua
mo se fosse minha irm��" negaram-se a costumeira efici��ncia. O Dr. Taylor con-sair dos seus l��bios. Mas foram os de tinuava olhando-a com aquela expres-
Susan que pronunciaram ironicamente: s��o apaixonada e vencida, enquanto Ga-
��� Sou uma irm�� para voc��, Gary, eu ry observava-a furtivamente, querendo
3 0
encontrar nela a criatura alegre, fr��vo-
"N��o sou a esposa ideal para voc��,
la e desembara��ada que havia conhe-
Gary. Ignora fatos da minha vida
cido no quarto de hotel de Paul Simons.
que me fazem indigna do seu amor.
O dia do seu casamento com Tina se
�� Susan quem tem direito ao seu no-
aproximava. A mo��a o recebia com o
me, a n��o perder jamais esse impor-
carinho de sempre, mas algo havia mu-
tante lugar que sempre teve em sua
dado nele. Uma transforma����o sutil,"
exist��ncia e ao qual renunciara em
quase indefin��vel, que a cantora havia
meu favor. Ela poder�� explicar-lhe
captado com essa maravilhosa intui����o
muitas coisas a respeito do meu pas-
dos apaixonados.
sado. Para evitar que as conhecesse,
E um dia, quando estavam juntos na
encontrou-a, naquele dia, no quarto
casa da montanha, Tina tentou desco-
de hotel de Paul Simons. Se depois
brir a causa:
de saber a verdade ainda achar que
��� Alguma coisa n��o vai bem na cl��-
o meu amor lhe �� indispens��vel...
nica, querido?
procure-me de novo. Caso contr��rio,
��� Oh, n��o. H�� sempre mais clientes
deixe-me continuar minha vida. Irei
do que podemos atender e meus colabo-
ao encontro de Paul e renascer�� uma
radores trabalham muito bem. Mas...
Tina Rosetti que pensar�� ter sonha-
��� Diga-me o que o est�� preocupando,
do, quando lembrar suas palavras de
por favor.
carinho e os momentos passados ao
seu lado. Obrigue Susan a ser since-
��� Estou pensando em Susan... j�� co-
ra com voc��. Pergunte-lhe a raz��o da
nhece o caso. Tenho medo de que sua
sua presen��a ao lado de Paul. E pro-
inexperi��ncia possa lev��-la a cometer
cure no seu ��ntimo um sentimento
uma loucura.
que corresponda ao amor que ela lhe
��� Por qu��? Ela tem idade suficiente
dedica, muito mais valioso que o meu,
para governar sua vida. Talvez encon-
pois foi capaz de se sacrificar em
tre um homem de quem goste e se case
favor da nossa poss��vel felicidade.
com ele. At�� agora, sempre esteve liga-
da a voc��, mas um dia ter��o que se se-
parar. Isso lhe seria doloroso?
Tina."
Esperou ansiosamente a resposta. Na-
Ainda confuso, tentando ver claramen-
quele momento sabia que estava deci-
te em seu interior, o m��dico saiu do ga-
dindo o seu futuro, sua felicidade. Das binete. Sabia muito bem onde encontra-
palavras de Gary dependia o seu com-
portamento, a obriga����o quase sagrada ria a sua enfermeira: na sala de ope-
de se afastar a tempo de um caminho ra����es.
errado. E a resposta veio emocionada,
Quando entrou, viu-a ao lado da me-
sincera:
sa dos instrumentos cir��rgicos, prepa-
rando tudo para a pr��xima interven����o.
��� Sim, Tina, muito doloroso. At�� ago-
A jovem, ao v��-lo, sorriu-lhe tranqui-
ra n��o tinha reparado em quanto Su-
lizadora.
san significa para mim. Pensei que tudo
��� Est�� tudo pronto, Gary, n��o se pre-
seria igual depois do nosso casamento. ocupe. Como de costume, a opera����o se-
Mas ela n��o deseja assim. Quer que vo-
c�� seja a ��nica mulher no meu lar. A r�� um novo ��xito para voc��.
rainha absoluta dele.
��� Deixe as opera����es para l�� e os
triunfos profissionais tamb��m! ��� excla-
��� Susan �� generosa e admir��vel... mou. ��� Agora, tenho algo muito mais
mas talvez eu tamb��m possa vir a s��-lo. importante. Tome, leia, �� de Tina. E di-
Gary n��o foi capaz de desvendar o
mist��rio que aquelas palavras encerra-
ga-me, por favor, o que h�� de verdade
vam. N��o podia saber que Tina seria em tudo o que me fala a respeito dos
capaz de sacrificar sua pr��pria felici-
seus sentimentos com rela����o a mim,
dade pela dos dois seres que mais ama-
Susan.
va.
��� Gary, e u . . . eu n��o compreendo na-
Na manh�� seguinte, ao entrar no seu
da do que voc�� est�� falando ��� retrucou
gabinete, encontrou um envelope sobre a enfermeira, embara��ada. ��� Tina ��
sua mesa. Abriu-o, retirou do seu inte-
sua noiva e se casar�� com voc�� dentro
rior uma folha de papel e leu-a:
de poucos dias. Voc��s ser��o muito feli-
31
zes. Eu somente s o u . . . uma irm�� para separar. Estou enganado? Diga a ver-
voc��, n��o �� verdade?
dade, por Deus! Tina e voc�� s��o obri-
De repente, tudo surgiu muito claro gadas a ser sinceras. Ela o foi e voc��
diante de seus olhos. E aquele sentimen-
deve seguir o seu exemplo. Voc�� me
to, que sempre considerara fraternal, ama, Susan, de maneira diferente da
transformou-se em algo c��lido, incon-
que sempre imaginei?
tido como um rio transbordando. E o
Os l��bios da mo��a n��o responderam.
amor sincero, o amor descoberto, pode-
Mas seus olhos expressivos, maravilho-
roso e triunfante converteu em pala-
sos, enviaram-lhe uma mensagem de
vras a perplexidade, a maravilhosa ale-
adora����o infinita, que o homem admi-
gria do homem:
tiu como um dom inesperado e raro.
��� N��o, Susan, n��o �� assim. Agora
��� E n t �� o . . . �� verdade, Susan? Oh,
n��o! Agora n��o! No dia em que a en-
minha vida! Agora tudo mudou para
contrei ao lado de Paul Simons senti-
n��s dois. Estou pensando...
me desgra��ado, creio que muito mais in-
Mas n��o continuou falando. Para
feliz do que se houvesse sido Tina quem
qu��? Apertou-a entre seus bra��os, pro-
estivesse ali. Sua carta me fez com-
curou seus l��bios e, assim, as bocas uni-
preender que voc�� desempenhou uma das, ambos chegaram a se convencer da
farsa, e fez isso para evitar que eu co-
sinceridade e firmeza de seus senti-
nhecesse esse passado que poderia nos mentos.
FIM
M��DICOS E ENFERMEIRAS �� uma publica����o mensal da Cedibra ��� Edltora BrasUelra Ltda.
Rua Filomena Nunes, 162 ��� CEP 21.021 Rio de Janeiro, RJ. Distribui����o para todo o Brasil: Fernando Cbinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da SUva, 907 ��� Rio de Janeiro, RJ.
Copyright �� MCMLXXXI by Isabel Saluefla. Copyright �� MCMLXXXI by Cedlbra ��� Editora Brasileira Ltda., que se reserva os direitos da presente edi����o, ficando proibida a sua reprodu����o total ou parcial. Composto e Impresso na Gr��fica Lux Ltda. ��� Estrada do Oabl-nal, 1S21 ��� Freguesia ��� Jacarepagu�� ��� Rio de Janeiro, RJ.
32
De: Bons Amigos lançamentos <
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Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos e Só livros com sinopses para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais
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