BABY WANTED
CATHIE LINZ
Série Mavericks 10
Travis precisava impedir os planos mirabolantes de Lori, sua ex-mulher. Toda a cidade já estava comentando e, se ela não fosse convencida pela razão, Travis não
teria escolha a não ser apelar para a paixão. Afinal, se Lori queria tanto um bebê, não deveria sair à caça de um reprodutor quando havia alguém muito mais disposto
a ajudá-la a realizar seu sonho. Mesmo que ela não o quisesse como marido, Travis estava decidido a ser o homem a lhe dar um filho. Para o bem dela, é claro...
Digitalização: Ana Cris
Revisão: Crysty
Querida leitora,
Lori estava quase convencida de sua absoluta falta de sorte no amor. Já se casara uma vez, e havia sido um enorme fracasso. Todos os homens com quem se envolvera
nos últimos anos a haviam preterido, encontrando o verdadeiro amor e a felicidade com outras mulheres. Parecia que jamais realizaria seu sonho de ser mãe... Mas
ainda havia esperança, ao menos no que dependesse de Travis, seu ex-marido. Ele jamais conseguira superar o fim de seu casamento, e estava certo de que, se Lori
queria tanto alguém para lhe dar um filho, ele mesmo seria o mais apto para o serviço. Seus argumentos não pareciam convencê-la, mas ele sempre poderia apelar para
a paixão...
Equipe Editorial Harlequin Books
Sobre a autora:
O interesse de Cathie pela escrita começou aos 3 anos, quando seu irmão comprou uma máquina de escrever. Sabendo que ser escritora não seria uma carreira financeiramente
segura, Cathie foi para a faculdade e acabou como diretora de aquisições da biblioteca de uma faculdade de direito em Chicago.
Ao sofrer uma cirurgia de emergência, ela percebeu que a vida não duraria para sempre e, se quisesse escrever, precisava começar naquele momento. Enquanto ainda
se recuperava em casa, Cathie deu a si mesma um ano para ser publicada. Seu primeiro editor ligou duas semanas antes do fim do prazo.
Ela escreve em seu escritório, em casa, de frente para um pequeno riacho e um bosque. No inverno, às vezes uma rena ou outra passa por ali.
Seus passatempos incluem ler (sua biblioteca tem mais de 4000 livros), viajar (muitas de suas histórias se passam em lugares que visitou) e colecionar ursinhos de
pelúcia (após pesquisar para um livro em que a protagonista era designer de ursinhos, ela adquiriu o primeiro, e agora tem mais de 50). Cathie também é uma excelente
fotógrafa.
Ela vive perto de Chicago com sua família e dois gatos.
Tradução Ana Carolina Kapp
PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l.
Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte, por quaisquer meios.
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
Copyright (c) 1995 by Harlequin Books S.A.
Originalmente publicado em 1995 por Harlequin Books S.A.
Título original: BABY WANTED
Arte-final de capa: Isabelle Paiva
Editoração eletrônica:
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MAVERICS
OS INDOMÁVEIS
Bem-vindo a Whitehorn, Montana. Lar de homens indomáveis e mulheres ousadas, onde grandes paixões e aventuras se revelam sob o vasto céu azul. Parece que esse lugar
charmoso possui alguns grandes segredos. E todos estão muito curiosos a respeito de...
Winona Cobbs: Os casamentos não são a única previsão que a vidente faz para o futuro de Whitehorn. Há problemas também, e novos habitantes que os explicam. Incluindo...
Dr. Errol Straker: A cidade parece ser pequena demais para um homem com sua ambição. Mas, enquanto o doutor agita o hospital, deveria se cuidar, ou pode ser vítima
da charmosa...
Mary Jo Kincaid: Está ficando cada vez mais difícil para esta doce bibliotecária manter o sorriso no rosto. Ainda bem que o novo doutor a acolheu. Agora, só precisa
manter Errol a seu lado, enquanto dá um jeito em...
Dugin Kincaid: Foi uma pena o pobre Dugin ter ficado cego de amores por sua mulher, Mary Jo. Afinal, ela tem mais planos em mente do que fazer seu marido feliz como,
por exemplo, pedras preciosas, e até mesmo um assassinato...
Um
- Não acredito que fiz isso! - Lori Bains lamentou, querendo se esconder atrás do monte de feno mais próximo.
Quando Lori saiu de casa naquela manhã gelada de novembro, determinada a ir ao casamento de Kane Hunter, jamais sonhara acabar no porão da igreja, junto com o material
para decoração de Natal, rolando sobre o feno com...
- Nós dois fizemos isso - seu ex-marido, Travis, murmurou languidamente ao seu lado.
- Foi um erro - Lori declarou, com voz trêmula. Sentando, procurou fechar apressadamente os botões do vestido roxo que Travis havia aberto pouco antes.
Houve um momento de silêncio. Por fim Travis murmurou:
- Você está certa, foi mesmo um erro. - Esta frase curta foi acompanhada do som do zíper da calça sendo fechado por ele agressivamente. O barulho acrescentou um
ponto de exclamação a suas palavras. Reclamando baixinho, ele sentou e calçou as caríssimas botas de couro de cobra.
Ao olhá-lo, parecia que era a primeira vez que Lori o via, como se fosse um desconhecido sensual com quem acabara de perder a virgindade. O adolescente com quem
havia casado tornara-se um homem, e ela estava perplexa com o impacto que seu físico lhe causara: alto, forte e misterioso. O amante caubói que seria o sonho de
qualquer mulher. Seus músculos eram trabalhados em seu rancho, ao ar livre, e não na academia de ginástica.
Ficou chocada ao constatar que aquele homem, por ser seu ex-marido, não poderia fazer parte de suas fantasias.
- Pelo amor de Deus, somos divorciados... há cinco anos - Lori afirmou com o mesmo tom de voz racional que usava com seus pacientes.
- E seis meses, mas quem aqui está contando? - ele disse.
- Deve ter sido o casamento - Lori insistiu, retirando pedaços de feno de seu cabelo curto e louro. - E também o champanhe que serviram na festa.
- No qual você mal tocou.
- Mas você bebeu por nós dois - respondeu.
- Claro, ponha a culpa em mim. Você faz isso muito bem, Lori - Travis disse sarcasticamente.
Não queria admitir que estava animado ao brindar o casamento de Kane Hunter porque o médico estava casando com Moriah e não com Lori. Tinha plena consciência de
que Kane e Lori eram mais do que apenas colegas de trabalho - os dois estavam saindo juntos antes de Moriah retornar a Whitehorn. Na única vez que Travis pegou os
dois se beijando na varanda sentiu vontade de arrancar a língua de Hunter.
Lori ignorou as acusações de Travis. Como parteira profissional, tinha experiência em assistir novos começos, nova vida. Mas não queria um recomeço com o ex-marido.
Não havia vida nova a ser trazida ao relacionamento deles. Então, por que fizera amor com ele?, uma voz persistente a questionava.
- Foi apenas sexo - Lori murmurou.
- Sexo sensacional, maravilhoso! - Travis retrucou.
Ela não pôde negar.
- Além disso, foi você que começou tudo quando chorou - relembrou-lhe.
- Não é culpa minha - disse ela, defendendo-se por ter descido até o porão com lágrimas nos olhos, enquanto os outros convidados saíram rapidamente com o casal em
direção à recepção que ocorreria em outro local. Todos os outros convidados, menos Travis.
- Sempre choro em casamentos - ela acrescentou, embora tenha chorado mais naquele. Afinal, as bodas de Kane enterravam de vez seus sonhos de casar e constituir uma
família com ele. No fundo, Lori tinha consciência de que estava chorando mais pela perda do sonho do que por Kane, cujo coração sabia pertencer a Moriah, seu primeiro
amor.
Mas era extremamente difícil ser sensata e se manter calma ao ver a onda da realidade derrubar o castelo de areia que fora construído. O futuro que desejava se esvaiu.
Estava sozinha novamente. Até Travis tomá-la nos braços, confortá-la, beijá-la e... ter feito amor com ela.
- Você não chorou no nosso casamento - relembrou-lhe.
As palavras dele fizeram Lori olhá-lo hesitantemente. A única iluminação no porão entulhado vinha de um letreiro de "saída de emergência" sobre a porta e de uma
janela, coberta de gelo, no alto da parede.
A luz do inverno que entrava por aquela janela transformou o rosto de Travis em um contorno de ângulos e sombras. O maxilar dele era firme como uma montanha de gelo.
O cabelo, recentemente aparado, se acomodava por trás da orelha, chegando quase a encostar no colarinho da camisa, na parte de trás. No verão, seu cabelo ganhava
mechas louras naturais, ficando dourado, mas com a chegada do inverno, tinha escurecido. Quando criança, era louro-pálido - sabia disso porque o pai lhe mostrara
caixas e mais caixas de fotos.
Um raio de luz repousou sobre a mão de Travis enquanto ele procurava o casaco de couro. Lori conhecia aquela mão como se fosse sua. A cicatriz entre o dedão e o
indicador ocorreu aos 6 anos de idade, quando ele tentou laçar um bezerro pela primeira vez. Aqueles dedos longos foram os primeiros a tocá-la intimamente.
Olhando para as costas largas de Travis, Lori se perguntou onde foi que erraram. Namoraram desde o colegial. Sentaram perto um do outro no primeiro dia da aula de
inglês e, quando viu aqueles olhos azuis maravilhosos, ficou caída por ele. Para surpresa de Lori, a paixão foi recíproca.
Namoraram firme até a formatura e casaram em agosto. Parecia destino.
Travis estava completamente certo - Lori não chorara em seu próprio casamento, que acontecera naquela mesma igreja, porque estava muito eufórica. O sonho dela estava
se concretizando. Foi o dia mais feliz de toda sua vida.
Menos de seis anos depois, o conto de fadas havia terminado, corroído pela realidade, não pela infidelidade ou por qualquer outro acontecimento repentino. Não, ocorreu
por causa de sobrecarga de trabalho, falta de dinheiro e de tempo juntos. Acabaram se afastando um do outro.
Lori sempre detestara essa frase, pois acreditava que era possível consertar as coisas. Mas como ajeitar algo tão vago, tão etéreo em que nem dava para pôr as mãos?
Apenas sabia que o amor que compartilharam derretera como a neve do inverno no começo da primavera, deixando apenas um vazio.
Logo após o divórcio, Lori se mudou de sua cidade natal, Whitehorn, para uma maior, Great Falls, em Montana, onde continuou trabalhando como parteira num dos maiores
hospitais da região, ao mesmo tempo que continuava a estudar para se especializar ainda mais. Permanecera em Great Falls por quase três anos e, quando se mudou,
já possuía um certificado de uma respeitada maternidade da cidade.
Há cerca de três anos retornara a Whitehorn para se juntar à equipe de obstetras do Centro Médico de Whitehorn. Além disso, uma vez por semana trabalhava com o dr.
Kane Hunter em sua clínica médica. Retornara à cidade natal porque se sentia necessária por lá.
Sabia, entretanto, que encontraria Travis, mas até então não tinha tido maiores problemas quanto a isso. Agora saíra demais do trilho. Nem mesmo usaram proteção.
O rosto dela enrubesceu ao pensar nisso. Depois de todos os discursos que fizera para as moças, depois de entregar tantos panfletos explicativos...
- Não acredito que tenha feito isso - ela repetiu, ainda mais desesperada desta vez.
- Nós fizemos, e sobre que parte você está falando? - Travis retrucou. - Sobre quando você se derreteu em meus braços ou quando se pressionou contra meu corpo e
pediu mais?
- Sobre não termos usado camisinha - respondeu furiosa.
- Não precisávamos quando éramos casados.
Verdade, ambos eram virgens quando casaram, e a ameaça da Aids não os preocupava ainda. Para não engravidar, Lori tomava pílula anticoncepcional naquela época.
- Não somos mais casados - ela fez questão de relembrar.
- Não vim aqui esperando que fosse acontecer isso - ele resmungou.
- Devíamos ter parado.
Lori desviou o olhar ao sentir a intensidade dos olhos azuis dele, que lhe trouxeram muitas lembranças com as quais não queria lidar agora, como a do momento de
intimidade que acabaram de compartilhar. As coisas entre eles se incendiaram rápido demais.
- Arrependimento tardio não resolve nada - Travis declarou. - E se você está preocupado com doenças contagiosas, saiba que estou saudável porque acabei de doar sangue
para a campanha do hospital.
- Eu também - disse ela.
- E não estou em categoria de risco - acrescentou objetivamente.
- Nem eu - ela continuou.
- Quer dizer que você e Kane não...
- Não vou falar sobre isso com você - disse ela.
- Você dá aula de orientação sexual para metade da população deste país - ele a relembrou.
- Mas você não está pedindo informação factual, e sim informação pessoal.
- Acabamos de fazer amor, Lori. Acho que isso me dá o direito de falar sobre assuntos pessoais...
- Pois se enganou - ela o interrompeu. - Como sempre - ela rebateu com raiva. As emoções dela estavam repletas de contradições para serem compreendidas naquele momento.
Apenas sabia que não tinha como voltar atrás. Em primeiro lugar, sentiu necessidade de se proteger, de diminuir sua vulnerabilidade.
- Tenho minha própria vida agora. Meus sonhos. E nenhum deles inclui você.
Com um olhar incandescente capaz de incendiar o prédio todo, Travis pegou seu chapéu preto de caubói, deu meia-volta sobre suas botas feitas sob medida e se retirou.
Duas semanas depois, Lori chegava ao hospital de Whitehorn com a cara amarrada. Havia ficado menstruada, sentia cólicas e estava com os nervos à flor da pele.
Por quê? Completava 30 anos naquele dia, mas não era essa a razão de seu estado emocional, e sim o fato de que não estava grávida. Havia grande chance de estar depois
do que houve com Travis. Só agora percebia o quanto secretamente acalentara a idéia de ser mãe, saboreando essa possibilidade desde o momento que fizera amor com
Travis. Não desejava saber das suas chances com o ex-marido, tinha bom senso, mas queria muito ter um filho... esse desejo vinha crescendo em seu coração. Desde
que se tornara parteira, Lori ajudou mais de duzentas mães a dar à luz bebês saudáveis. Vira o milagre do nascimento de perto, em primeira mão. Mas nunca o experimentou.
Sempre teve de entregar os bebês às mães. Nunca pôde ficar com nenhum deles. Não teve a chance de amamentar. E queria muito tudo isso, intensamente.
Evitando as lágrimas, Lori respirou fundo antes de entrar na sala dos funcionários do hospital. Uma xícara de chá bem quente cairia como uma luva naquele momento...
- Surpresa! - uma dúzia de pessoas gritou ao mesmo tempo, formando um círculo ao redor de Lori.
- Feliz aniversário!
Lori sabia que seu rosto expressava a surpresa que sentia. A sala dos funcionários estava completamente decorada para uma festa de aniversário.
Molly, uma enfermeira que trabalhava com Lori, correu para junto dela e perguntou:
- Você deve ter achado que tínhamos esquecido o seu aniversário, hein?
- Eu gostaria que esquecessem meu aniversário de 30 anos - alguém no grupo acrescentou espirituosamente.
- Queríamos fazer uma surpresa - Molly continuou com entusiasmo.
- Certamente conseguiram - Lori disse com um sorriso.
Os próximos 15 minutos foram preenchidos com risos, o que era comum entre os que trabalham na área de saúde. O que se refletiu nos presentes comprados para Lori:
um par de óculos com lentes bifocais, uma camiseta em que se lia: "Trinta não é velha... para uma árvore!" e uma guirlanda de funeral com o dizer: "Que sua juventude
descanse em paz, Lori!".
O dr. Errol Straker estragou um pouco a celebração quando apareceu. Ele carregava o peso da responsabilidade naquele hospital e nunca deixava Lori se esquecer disso.
Além do mais, era contra parteiras e fazia comentários nada sutis e diretos que relembravam-na de que sua batalha por eqüidade não chegara nem perto do fim.
Alguns poderiam até considerar o dr. Straker, com seu cabelo grisalho e olhos castanhos, um homem razoavelmente distinto, embora com um certo ar de superioridade.
Tinha uns 45 de idade e gostava tanto do poder que parecia carregá-lo no paletó branco.
- Ouvi falar que as meninas estavam fazendo uma festa aqui atrás - o dr. Straker observou com um tom amigável que Lori sabia ser falso. Sempre usava aquele tom quando
se preparava para dar uma bronca. Marchou com firmeza em direção ao bolo e se serviu de um pedaço, depois se virou e perguntou:
- Então, quem é a aniversariante?
- Lori - alguém respondeu.
O olhar de Straker repousou sobre ela, com uma expressão condescendente.
- Ah, a nossa pequena parteira rebelde. Bem, aproveite as coisas enquanto pode, Lori - disse ao dar tapinhas nos ombros dela. - O futuro é sempre cheio de incertezas,
não é? - Sorriu novamente, dessa vez um sorriso de raposa, e depois, para o alívio do grupo, foi embora. Levando consigo o pedaço de bolo roubado.
- Nunca ia imaginar uma aparição do Straker por aqui - uma das enfermeiras murmurou.
- Talvez ele quisesse respirar um pouco do ar que nós, trabalhadores braçais, respiramos.
- Sem falar que queria experimentar o bolo - a secretária da recepção acrescentou.
Às gargalhadas, as pessoas correram para provar o delicioso bolo trazido por Molly, que tinha uma queda por doces. A casinha feita com biscoitos de gengibre, tradicionais
naquela época de festas de fim de ano, era outra de suas criações.
- Você me parece triste... - Molly notou ao se aproximar de Lori num canto mais calmo da sala. - Espero que os presentes não a tenham deixado chateada. Sabe como
as pessoas são...
Lori balançou a cabeça e respondeu:
- Não é isso.
- Então, o que é?
- Sei que soa como um clichê, mas estou começando a sentir meu relógio biológico batendo como se fosse uma bomba prestes a explodir - Lori disse pesarosa, enquanto
limpava um pedaço de bolo do jaleco. - Já tenho 30 anos. A maioria das minhas pacientes já tem dois ou mais filhos quando chegam à minha idade.
- E aparentam ter o dobro da sua idade. Você pode ter 30 anos, mas parece que acabou de sair da faculdade.
- Mas na minha profissão isso não é nenhuma vantagem. É difícil inspirar confiança quando minhas pacientes ficam me perguntando quantos anos eu tenho - Lori acrescentou.
- Por esse motivo, pensei que ficaria feliz de chegar a essa idade, que é um marco.
- Estou feliz. Quer dizer, mais ou menos, apenas pensava que já teria uma família. Veja Kane, é apenas cinco anos mais velho que eu e já tem uma filha adolescente.
- Sobre a qual nem ele mesmo sabia até recentemente. Está triste por ele ter casado com Moriah? - Molly perguntou.
- Não pelas razões que você pensaria - Lori respondeu. - O momento não era ideal para mim e Kane. Estávamos prontos para dar um passo à frente na nossa relação quando
Moriah voltou. Agora somos apenas amigos, nada mais. Mas confesso que gostava da idéia de constituir família e o invejo por isso.
- Se você não se importar com a pergunta, por que você e Travis não tiveram filhos?
Lori se encolheu.
- Acho que a gente pensou que teria bastante tempo para isso depois. Tínhamos apenas 19 anos e vivíamos no rancho da família dele. Travis trabalhava muito para manter
a fazenda depois que o pai teve um derrame. Eu também trabalhava e estava me esforçando para entrar na faculdade. Queríamos esperar até nosso futuro estar mais garantido
antes de trazer uma nova vida ao mundo.
- Essa foi uma decisão sábia da parte de vocês - Molly disse. - A separação é dura para as crianças.
Também é difícil para os adultos, Lori quis dizer, mas não o fez.
- E bom que você não tenha ficado amarga com a separação a ponto de desistir de vez do casamento - Molly acrescentou.
- Quem disse que não fiquei?
- Bem... você disse que quer um bebê.
- Você é uma enfermeira, Molly. E sabe que não é necessário casar para ter filhos. Há várias outras opções que dependem das escolhas de cada um.
- Você está falando de inseminação artificial?
- Que discussão fascinante - Danette comentou do outro lado da sala.
Lori xingou baixinho ao perceber que uma das pessoas de quem menos gostava naquele hospital ouvira o que tinha dito.
- Então você quer um bebê e está considerando inseminação artificial? - Danette continuou. - Esse é um passo drástico, mas posso entender, considerando que Kane
a abandonou para casar com seu amor verdadeiro.
- Kane não a abandonou - Molly a defendeu.
- Só você acredita nisso - Danette disse com um sorriso sarcástico e se retirou.
- Não fique triste por causa dela - Molly disse rapidamente.
- Estou triste comigo mesmo por deixá-la nós ouvir.
O bip de Lori disparou naquele momento. Certamente outro bebê estava para nascer e precisavam dela para ajudar no parto. Mais um filho que não seria dela...
Domingo à tarde, Travis parou no Hip Hop Café para comer um pedaço de torta de cereja que, coincidentemente, acabara de sair do forno. Mal sentara no banquinho do
balcão quando Virgil, o cozinheiro e "faz-tudo" da lanchonete, veio lhe perguntar:
- Então, já ouviu a notícia?
- Que notícia? - Travis respondeu ao retirar as luvas para esquentar as mãos na xícara de café que Virgil lhe serviu. O atendente, apesar de ser recém-contratado,
era um morador antigo de Whitehorn.
- A notícia sobre Lori e o bebê - Virgil respondeu.
- De qual bebê ela fez o parto desta vez? - Travis perguntou antes de dar um gole na bebida.
- Não estou falando de bebês que Lori pôs no mundo, mas de um filho que ela quer ter.
Travis engasgou ao queimar a boca com o café.
- Sobre o que você está falando?
- Andam comentando que Lori está interessada em... reproduzir - Virgil disse, levantando sugestivamente uma das sobrancelhas.
- Reproduzir? - Travis sussurrou.
- Isso mesmo, cara. Os hormônios dela estão fazendo hora extra. Está ficando velha, sabe? Percebo direitinho como essas moças ficam quando vem o chamado da mãe natureza.
São mordidas pela praga de querer ter um filho e nada pode impedir. Sei como é, foi assim que minha segunda esposa me prendeu.
Virgil estava se divorciando novamente, indo para o quarto casamento.
- O que o faz pensar que Lori quer um filho? - Travis perguntou.
- A notícia está correndo a cidade. Ela acabou de ter uma festa de aniversário, sabia?
Travis sempre se lembrava da data e sabia que aquele aniversário tinha sido um marco. Virgil continuou:
- Ela anunciou que queria um bebê. Dizem que está procurando um candidato. Eu ouvi isso da Lily Mae, que ouviu da Sally, que ouviu...
- Esta cidade tem fofoca demais! - Travis o interrompeu, deixando o dinheiro sobre o balcão e retirando-se tempestivamente do café.
Ao chegar do lado de fora, abriu a porta de sua caminhonete com mais força do que o necessário e bateu a porta depois de entrar. Deu partida no carro e ligou o rádio
e o aquecedor no máximo e, assim, seguiu a viagem de quarenta minutos até o rancho, com esperança de que a música mantivesse sua mente afastada da notícia perturbadora
que acabara de saber.
Lori... querendo um filho? Não podia ser verdade. Seria? Mas certamente explicaria seu comportamento no casamento. Será que foi por isso que fizera amor com ele?
E se já estivesse grávida?
Não, se estivesse não anunciaria o desejo de engravidar na frente de todos, não é? Mas só Deus sabia do que Lori era capaz hoje em dia. Não conseguia entendê-la.
Nem mesmo compreendia por que a perdeu. Apenas sabia que a perdera.
Depois, ela veio chorar em seus braços no casamento de Kane, e então... que diabos! Travis pensou que talvez tivesse uma chance de voltarem. Ela ainda causava um
impacto enorme sobre ele. Mas o que aconteceu entre os dois, sobre o feno, não foi nada sério. A não ser que houvesse um bebê envolvido. Não usara camisinha e não
sabia se Lori ainda tomava pílula.
Ao passar com o carro por baixo da placa de madeira que indicava o Rancho Três M, seu lar, ainda estava longe de achar respostas para suas perguntas, o que o incomodava.
Cinco anos e seis meses após a separação e não conseguira tirar Lori de sua cabeça. Resmungando baixinho, entrou como um furacão em casa. Tex McClintock desviou
o olhar da comida que cozinhava para o jantar e perguntou:
- Nossa, quem pôs uma abelha no seu chapéu?
- Ninguém.
- Conheço-o bem, Travis, sei que está mentindo.
Tex era o mais próximo que tinha de uma mãe, já que a sua morrera quando ainda era bebê. Ela tomava conta da casa, enquanto seu marido, Slim, era o caseiro da fazenda.
- Você acha que uma mulher pode querer tanto um filho a ponto de fazer uma besteira? - ele perguntou.
- Depende da mulher - Tex respondeu depois de provar a comida.
- Digamos que eu esteja falando de Lori.
- Bem, o desejo de ter filhos é muito forte. É a forma de a mãe natureza dar continuidade à espécie. E depois de ajudar no parto de tantos bebês, não ficaria surpresa
se Lori quisesse o seu.
- Mas eu ficaria surpreso - Travis declarou raivosamente. - O que ela estaria pensando? O que há de errado com ela?
- Os hormônios são poderosos... Ei, aonde vai? - perguntou ao vê-lo sair da cozinha com a mesma pressa que entrou.
- Vou ver se ponho algum juízo na cabeça de Lori.
Lori estava no banheiro, sentada sobre a tampa do vaso, trocando sua cortina por uma nova. Quando viu uma foto da peça no catálogo da loja, percebeu que aquela estampa
de flores rosa-choque sobre fundo branco ficaria perfeita no seu banheiro antigo, com banheira de ferro. Estava terminando de colocar o último prendedor quando ouviu
a batida na porta.
Franziu as sobrancelhas. As pacientes costumavam contatá-la pelo bip e não pessoalmente. Em geral era assim, mas as coisas por ali nem sempre eram normais.
- Estou indo - gritou, ao se dirigir apressada à porta. - Já vou... espere um pouquinho... - Sua voz baixou ao abrir a porta, receber uma golfada de ar gelado no
rosto e ver Travis queimando de raiva na sua frente.
- Que história ridícula é essa sobre você e seus hormônios estarem querendo um bebê? - perguntou.
Dois
Lori olhou para Travis como se estivesse diante de um maluco, mas só até perceber que ele a olhava da mesma forma.
- Sobre o que está falando?
- Então não é verdade? - Ele deu um suspiro de alívio ao entrar e fechar a porta. - Sabia que Virgil devia estar exagerando. Ainda comentei com Tex que você não
faria nenhuma loucura desse tipo, com ou sem hormônios.
- Você andou bebendo? - Lori perguntou, desconfiada.
- Não, mas você é capaz de levar um homem a esse ponto - respondeu ele. - Quer dizer que os rumores não são verdadeiros?
- Depende.
- Há vários por aí, todos sobre você, seus hormônios e um bebê.
Lori fechou os olhos e mentalizou a si própria esganando Danette porque, com certeza, as fofocas saíram dela. E, como num jogo de telefone sem fio, quando o que
ela disse percorreu Whitehorn já não se parecia em nada com a verdade.
Ao abrir os olhos novamente, estava pronta para explicar como as coisas ficaram tão fora de proporção, mas Travis falou primeiro:
- Você está agindo de forma tão louca porque está grávida? - perguntou. - Quero dizer, não usamos camisinha quando fizemos amor. Você está grávida?
Dessa vez, ao fechar os olhos, Lori se imaginou enforcando Travis em vez de Danette. Contou até dez antes de abrir os olhos e encará-lo.
- Você tem bastante coragem, sabia? Para vir até aqui sem ser convidado, bater na minha porta como um maníaco e depois me fazer essas perguntas incoerentes...
- Perdoe-me se estou um pouco desatualizado sobre etiqueta - Travis respondeu sarcasticamente. - Não estou acostumado a lidar com mulheres e seus hormônios.
- Isso está bastante claro.
- Sou um fazendeiro e não um vidente. Apenas responda. Você está grávida?
- Não, não estou. - Lori observou bem a reação dele. Será que vira um sinal de alívio em seus olhos? - Isso o agrada, não é? Afinal, um filho seria um empecilho
a seus planos grandiosos para o rancho. Mas cuidado, Travis, depois de dedicar a vida inteira àquele pedaço de terra, pode terminar um velho moribundo sem ninguém
para herdá-lo, porque ficou tão ocupado cuidando dos negócios que se esqueceu de viver a vida!
- Um homem pode ter filhos até depois dos 60 anos de idade, já as mulheres não têm tanta sorte.
Essa afirmação pôs o dedo na ferida.
- Mulheres com 50 anos de idade estão engravidando - respondeu. - Até mesmo tendo gêmeos. Mas não planejo esperar tanto tempo.
- O que você quer dizer com isso?
- Que estou pronta para ter um filho logo.
- Neste minuto?
A gracinha que ele fez a irritou profundamente.
- Escute, será que preciso relembrá-lo mais uma vez que não somos mais casados? Sou livre para fazer o que quiser.
- Inclusive se fazer de idiota na frente da cidade toda?
- Até desfilar pelada pela avenida central se eu tiver vontade.
- Certo, vá em frente e seja presa por atentado ao pudor.
Ao perceber o olhar beligerante de Lori, Travis silenciosamente se culpou por não ter conseguido lidar com a situação de forma melhor. Tentando consertar as coisas,
disse baixinho:
- Isso não está nos levando a lugar algum.
- Concordo, talvez seja melhor você ir embora.
- Não vou a lugar nenhum. Se você está tão a fim de ter um filho, pode ter um meu.
- Não venha me oferecer favores - Lori respondeu imediatamente.
Franzindo as sobrancelhas, Travis reparou que mais uma vez as palavras lhe fugiam, como um cavalo arredio derrubando-o da sela. E notar isso não melhorou seu ânimo.
- Ainda há algo entre nós - ele murmurou. - Você não pode negar, não depois do que houve na igreja há duas semanas.
- Foi um erro, um momento de insanidade.
- Certo - ele zombou -, como se seu plano atual não fosse completamente insano... Uma mulher solteira tendo um filho?
- Quem disse que ficaria solteira? - Lori respondeu calmamente.
Travis pareceu levar uma martelada.
- Quer dizer que está pensando em casar?
- Estou dizendo que quero considerar todas as minhas opções.
- Que tipo de opções?
- Não é da sua...
- Conta. Sei, já ouvi isso antes - disse.
- Talvez tenha escutado, mas não compreendeu bem. Um problema recorrente seu - comentou ela, mordaz.
Ele ignorou o último comentário ela, continuando:
- Então, quais são essas opções? Casamento?
Ela fez que sim com a cabeça.
- E o que mais? - ele pressionou. - Intervenções médicas? Bebês de proveta?
- Chama-se fertilização intra-uterina.
- Não acredito. - Seus olhos faiscaram.
- A medicina moderna está fazendo avanços incríveis - ela concordou, fingindo que não o entendera.
- Não é sobre isso que estou falando e você sabe. E então, vai começar a entrevistar os garotões para a vaga de doador de sêmen?
- Talvez. Você não tem nada a ver com isso. Não somos mais casados, então nada de ficar me dando ordens.
- Alguém tem que colocar algum juízo na sua cabeça.
- Não, não tem - ela disse calmamente.
- Seus hormônios lhe subiram à cabeça.
- Mesmo? E o que você sabe sobre hormônios?
- Sei que as mulheres fazem loucuras por conta deles - Travis declarou.
- Continue, dr. Bains - ela o instigou ironicamente.
- Está fascinante.
- Pare com o sarcasmo - disse ele de forma ríspida.
- Paro, assim que você terminar de falar abobrinha. "Seus hormônios lhe subiram à cabeça" - imitou-o antes de revirar os olhos. - Por favor!
Desconfortável, Travis murmurou:
- Você é a pessoa com o conhecimento médico, não eu.
- Bem, pode ir para casa com a certeza de que meus hormônios estão muito bem.
- E com a certeza de que você desistiu dessa idéia louca de ter um bebê sozinha, certo?
- Errado.
- E o que vai fazer você ver que essa idéia é ridícula? - perguntou exasperado.
- Por que é ridícula? - ela indagou.
- Porque são necessárias duas pessoas para fazer um filho.
- Ah, não brinca - Lori zombou com uma expressão irônica de choque.
Ele lhe deu um olhar raivoso.
- Sei que são necessárias duas pessoas, Travis - disse ela. - Muito obrigada por se preocupar tanto comigo. - Deu uns tapinhas sobre o jaqueta de couro dele. - Você
já pode ir.
- Não vou mesmo, não antes de colocar juízo na sua cabeça.
- Tenho bastante juízo.
- É, claro que tem. Então, o que vai fazer? Colocar um anúncio... "Mulher enlouquecida por hormônios procura bons genes"?
- Pode ser - disse com firmeza.
- Só acredito vendo. - Travis afundou o chapéu na cabeça e quase arrancou a porta ao sair.
Travis viu, mas o anúncio pessoal no Whitehorn Journal era bem discreto. Não tinha o nome de Lori, embora soubesse que se tratava dela. As palavras ficaram gravadas
em sua mente: "Procura-se homem. MBD, com senso de humor e formação médica, que queira constituir família urgentemente. Se for um não-fumante saudável interessado
no mesmo, por favor, entre em contato".
- A terceira guerra mundial começou? - Tex perguntou secamente, colocando a cabeça na porta.
- O quê? - Travis murmurou com o olhar ausente. Entrando na sala, ela disse:
- Você está lendo o jornal tão de perto que pensei que uma catástrofe aconteceu. Nada menos que a terceira guerra mundial poderia tê-lo feito não descer para jantar
depois de eu avisá-lo que a comida estava na mesa.
- Já estava indo - Travis disse.
- Isso foi o que disse dez minutos atrás. A comida está esfriando. - Vendo-o dobrar cuidadosamente o jornal, Tex ergueu as sobrancelhas. - Desde quando você lê os
anúncios pessoais?
- Desde que Lori pôs um anúncio.
- Está brincando. - Tex tentou olhar o jornal por cima do ombro dele, mas não funcionou por ser vinte centímetros mais baixa, teve de olhar pelo lado até que ele
lhe deu o jornal. - Então, qual é o dela? Tudo o que vejo são números, não há nomes. Ah, aqui tem um que assina "Howdy", que é mais amigável. Vamos ver o que mais
diz... "MBD"... que diabos é MBD?
- Mulher branca divorciada.
- ...procurando por vida simples - Tex continuou -, amo ficar abraçada na frente da lareira em noites frias...
- Este não é o anúncio de Lori. Tex tentou novamente:
- Procurando um caubói, gosto de esportes aquáticos...
- Não, também não é esse. - Ele apontou o anúncio com tanta força que quase derrubou o jornal.
- Como você sabe?
- Por causa das palavras. Quem mais no mundo escreveria um anúncio dessa forma?
- Então acredito que isso significa que não conseguiu demovê-la da idéia na sua visita, hã?
- É bem pior que isso - ele murmurou.
- Vocês pularam um no pescoço do outro novamente - Tex deduziu.
- Ela é uma mulher teimosa.
- Vamos jantar ou apenas deixar a comida enfeitando a mesa? - Slim perguntou da porta.
- Travis está triste porque Lori pôs um anúncio pessoal no jornal - Tex disse ao marido.
- Um anúncio para quê? - Slim perguntou.
- Um garanhão - Travis respondeu diretamente.
Franzindo as sobrancelhas, Slim perguntou:
- Lori está criando cavalos?
- Não, está querendo procriar... ter um bebê - Travis respondeu.
- Meu Deus! E pôs um anúncio no jornal para isso? - Slim passou a mão no pouco cabelo que tinha e balançou a cabeça em sinal de incredulidade. - Tempos modernos.
Eu não entendo.
- O que houve quando foi até lá falar com Lori? - Tex indagou ao levar os dois homens em direção à mesa de jantar na cozinha.
- Disse que nada que fizer é da minha conta porque somos separados, e se quisesse poderia até andar pelada na avenida central.
Slim quase engasgou com um pedaço de bife que acabara de engolir, enquanto Tex balançou a cabeça e comentou:
- Você a provocou, não foi?
- Sobre o que está falando?
- Você a desafiou a pôr um anúncio.
- Não fiz nada disso - Travis afirmou.
- Disse que ela não podia? - Tex indagou.
- Claro que sim.
Tex indicou com os ombros que era isso que queria dizer.
- É o mesmo que desafiá-la a fazê-lo.
Travis olhou para Slim como se procurasse apoio masculino.
- Não olhe para mim - Slim disse, balançando a cabeça. - As mulheres são imprevisíveis.
- Qual o problema? - Tex replicou. - Você faria o mesmo se alguém quisesse mandar em você.
- Não estava tentando mandar nela - Travis declarou.
- Você lhe disse que não poderia fazer isso. Parece que ela resolveu provar que estava errado. - Tex apontou com a cabeça o jornal que agora se encontrava ao lado
do prato de comida de Travis.
- Então, está me dizendo que ela colocou esse anúncio apenas para provar algo a mim?
- Pode ser.
Travis deu um suspiro de alívio.
- Isso significa que ela não está levando a sério esse assunto.
- Mas eu não iria tão longe. Parece que Lori está falando sério sobre querer um filho.
Mas Travis não estava mais escutando.
- E como não é sério, então devo provar que está blefando.
- Como vai fazer isso?
- Ela diz que está procurando bons homens, não é? Vou provar que é um blefe ao mandar-lhe alguns candidatos.
Vendo a expressão de surpresa no rosto de Tex, Travis acrescentou:
- Não são candidatos sérios, claro. Apenas alguns caras para fazê-la ver o quanto está agindo errado.
- Não é bom se convencer de que uma má idéia é boa - Tex declarou, dando um conselho que ela mesma inventara. - Agora coma.
- Lori, não a vimos no ensaio - Virgil lhe disse, ao encontrá-la comendo uma refeição rápida no Hip Hop Café durante o intervalo de trabalho da clínica de obstetrícia.
Parecia que Lily Mae estava a ponto de perder o posto de maior fofoqueira da cidade para Virgil, cuja posição de cozinheiro colocava-o a par de todos os acontecimentos,
do jeitinho que ele gostava. Agora, como diretor interino do coral, estava levando a tarefa muito a sério.
- Lily Mae... - chamou a mulher que bebia café ali perto - tem visto Lori nos ensaios?
Lily Mae fez que não com a cabeça.
Como diretora musical, Lily Mae batia no piano enquanto Virgil dirigia o coral que fazia as freiras desafinadas de Mudança de hábito parecer profissionais.
- Sobre que ensaio estão falando? - Lori perguntou, fingindo-se de boba, o que às vezes funcionava bem com Virgil e Lily Mae.
- Para o auto de Natal - Virgil respondeu. - Será daqui a duas semanas.
- Menos de duas semanas - Lily Mae veio corrigi-lo.
- E com a virose que está se espalhando, as pessoas estão caindo doentes como moscas mortas - Virgil declarou.
Lori se perguntou como as pobres almas do coral estariam agüentando Virgil e Lily Mae juntos.
- Sinto muito em ouvir isso - murmurou ela, compassiva.
Virgil agiu rapidamente, inclinando-se sobre a mesa de Lori como um urubu que avista sua presa.
- É aí que você entra, Lori. Precisamos de uma soprano e você é a pessoa certa.
- Não sou soprano, sou contralto.
- Mas está bem perto - Virgil disse. - O ensaio é às 19h.
- Vou trabalhar à noite - Lori protestou. - Tenho pacientes para atender.
- Certo - Virgil disse. - Venha amanhã à noite. Vamos ensaiar todas as noites até ficar perfeito.
Para isso, teriam de ensaiar até o fim dos dias, Lori observou silenciosamente.
- O coral é um ótimo lugar para procurar rapazes - Virgil afirmou, antes de Lily Mae lhe dar um tapa na sua barriga de Papai Noel.
- Ignore-o - a mulher mais velha disse a Lori. - Os homens podem ser tão... óbvios às vezes.
Lori tinha noção de que os métodos de Lily Mae eram mais discretos, mas igualmente eficientes. Quase nada naquela cidade acontecia sem que os dois soubessem. Lori
apenas rezava para que nenhum deles tivesse ido ao porão da igreja depois do casamento de Kane. Ninguém sabia... além dela e Travis. Claro. Desde aquele dia, Lori
não conseguia mais passar pela igreja sem corar.
Precisava compensar o que fizera e talvez essa fosse a oportunidade que Deus lhe dera de retribuir: fazendo-a cantar no coral. Se fosse isso, pagaria o preço e,
depois, poderia parar de se sentir culpada e prosseguir com sua vida.
Percebendo o olhar insistente de Lily Mae sobre ela, Lori agitadamente ajeitou o cabelo atrás da orelha, aproveitando para se certificar de que seu brinco de granada
ainda estava no lugar. Já tinha perdido um dos seus brincos favoritos, o de ametista, no porão da igreja naquela tarde fatídica com Travis. Passou na paróquia no
dia seguinte para saber se alguém havia encontrado, em vão. Anéis e pulseiras atrapalhavam no seu trabalho, portanto Lori só usava brincos, e os de ametista eram
seus preferidos.
- Você parece triste, querida - Lily Mae observou. - Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é?
Certo, Lori pensou, e assim que lhe contar, a cidade inteira saberá.
- Fiquei do seu lado naquela situação difícil com Kane, sabe - Lily Mae continuou. - Não me entenda mal, Moriah parece muito legal, mas secretamente torcia para
que você e Kane pudessem se acertar. Afinal, vocês dois têm tanto em comum, os dois trabalham na área médica.
- O lugar de Kane é com a mulher e a filha - Lori disse.
- Foi uma surpresa essa notícia, não foi? Sabe, achei fora do comum fazer a celebração antes da cerimônia com champanhe e tudo, mas depois percebi que Kane já tinha
sido pouco convencional ao ter uma filha 16 anos antes do casamento com a mãe.
- Kane não sabia do bebê - Lori o defendeu.
- Sei disso. Não estava dizendo nada de mal sobre Kane. Alguns na cidade fariam isso, devido à origem dele, sabe. Mas eu não sou assim.
Não, Lori tinha de dar esse crédito a Lily Mae: ela fazia fofoca sobre todos igualmente. O fato de Kane ser um ameríndio não o tornava um alvo maior para ela.
Lily Mae então mudou de assunto, sua tática favorita.
- Sabe, Lori, alguém me disse que viu seu lindo ex-marido batendo na sua porta alguns dias atrás.
- Verdade?
Lily Mae balançou a cabeça.
Lori percebeu que Virgil retornara à cozinha, certamente confiando que Lily Mae conseguiria todas as informações dela. Bem, ambos acabariam desapontados.
- Meu Deus, olha que horas são! - exclamou, olhando o relógio. - Tenho de voltar ao consultório. Tenho pacientes para atender. Ponha o jantar na minha conta, Virgil
- gritou.
- Ei, você não tem nenhuma conta aqui! - Virgil gritou de volta.
- Agora tenho - Lori disse com um sorriso.
- Apenas se for para o ensaio amanhã à noite!
- Combinado - Lori concordou.
Balançando a cabeça, decidiu sair logo dali. Travis já tinha deixado-a bastante confusa...
Três
- Vai pensar que sou louca - disse Sarah Sutton, a paciente de Lori que estava no oitavo mês de gestação.
- Não, não vou - Lori respondeu pondo a ficha dela sobre a mesa para lhe dar atenção total. - Escute, acabei de vir do Hip Hop Café, onde concordei em participar
do coral de Natal. Então, pode confiar em mim, nada que me disser vai me fazer pensar que é louca. Além disso, em todos os meus anos de prática, já ouvi de tudo.
- Tudo bem, sei que pode parecer bobagem, mas brinco de pega-pega com o bebê. Quando sinto o Júnior se mexer e me chutar aqui em baixo - Sarah bateu de leve na barriga
-, então suavemente eu empurro onde o bebê me chutou. É uma brincadeira nossa.
- Acho muito esperto da sua parte. Parece divertido - Lori disse, melancolicamente.
- Percebo que você não se importaria de ter um desses... - Sarah apontou a barriga.
- Tenho pensado nisso - Lori admitiu.
- Com certeza seria uma ótima mãe. Você tem tanta empatia e paciência.
- Obrigada, é muito bom ouvir isso.
- Não estou dizendo da boca para fora, realmente sinto isso. Fez muita diferença fazer o meu pré-natal com você. O dr. Straker fez o acompanhamento da minha primeira
gravidez, e posso lhe dizer que a diferença entre vocês é como noite e dia.
- Temos modos diferentes de tratar o paciente, certo?
- O dr. Straker nem mesmo tem modos. Ele não fica por muito tempo com o paciente. Quase não chegou à sala de parto a tempo de pegar Erica quando ela nasceu. E em
todas as consultas, nunca passou mais de cinco minutos comigo, enquanto você me responde milhares de questões e ainda não me faz me sentir idiota por perguntar.
- É porque não existem perguntas idiotas.
- Diga isso ao dr. Straker.
- Já disse - Lori afirmou com um sorriso -, mas não acho que ele tenha gostado de ouvir isso.
A verdade é que o dr. Straker não gostava da existência de Lori, e ponto final. Não era nada pessoal. Lori sabia que ele trataria mal qualquer parteira na cidade.
Quando Lori conseguira licença para trabalhar no hospital, Straker quase explodiu de raiva.
Até hoje ele não a aceitava. E ficava sempre tentando provocar briga ao dizer que mulheres que escolhem uma parteira para ter um filho estavam praticando violência
infantil.
Lori fazia bem em engolir o sapo, respondendo aos comentários absurdos com fatos que demonstravam que as parteiras de fato oferecem segurança. Até mesmo citou um
estudo importante, publicado no prestigioso Journal of Medicine de New England. Mas nada disso fez diferença.
Pessoalmente, Lori pensava que, além de ser um semideus autocrático, Straker a via como uma ameaça ao seu lucro, uma vez que ela invadiu seu território, fazendo
partos de bebês que lhe trariam dinheiro. Por isso, vingava-se dela de pequenas formas, como ao aparecer na sua festa de aniversário no hospital.
Mesmo assim, Lori não se deixava provocar pelas bobagens que ele dizia - embora tenha se deixado provocar por Travis. Talvez porque gastasse sua reserva de tato
no trabalho e sobrasse pouco para sua vida particular.
Lá estava Travis novamente, entrando em sua mente. Desligando-se dos pensamentos pessoais, Lori disse:
- Como disse, Sarah, não existem perguntas bobas.
- Obrigada. Gosto de ser atendida por você porque nunca me sinto apressada como se fosse a primeira de uma lista de pessoas esperando por um segundo do seu tempo.
- Mas você não é um número num quadro e eu não tenho uma sala de espera lotada - Lori respondeu com um sorriso. - Nem todo mundo se sente confortável com uma parteira.
E apenas aceito um número de pacientes que possa atender bem, o que significa que as consultas são agendadas para isso. Gosto de passar um tempo com minhas pacientes.
Na verdade, é necessário para ver como a gravidez está evoluindo. Falando nisso, que tal se deitar para que eu possa examinar o Júnior?
Sarah deitou no sofá grande e macio que fazia o consultório parecer mais com uma sala de estar.
- Já lhe disse que prefiro mil vezes o sofá confortável à maca fria? - comentou, ao levantar a blusa para que Lori pudesse medir seu abdome.
- Acho que já mencionou isso - Lori murmurou, anotando as medidas na ficha de Sarah e depois pondo a mão sobre a barriga para sentir o tamanho e a posição do feto.
- Gosto mais dessa capa de sofá florida do que a listrada que estava aqui no mês passado. De onde você tira essas idéias?
- Dos catálogos. - Usando um fetoscópio, Lori ouviu o, coração do bebê.
- Gostei da batida! Um ótimo ritmo, bom para dançar - brincou. - Quer ouvir?
- Do jeito que o bebê tem se mexido, é capaz de eu ouvir um jogo de futebol aí dentro.
Sarah optou por não saber o sexo da criança. Como a gravidez progredia bem, Lori preferiu não pedir mais testes que o necessário.
- Sabe, gosto muito do seu método... como se fala... holístico - Sarah continuou ao arrumar a roupa e sentar novamente. - Quero dizer, a maneira como você une a
minha condição física e meu estado emocional. A abordagem de Straker era completamente diferente. Ele me tratava como se eu não fosse nada além de uma barriga e
não tivesse emoções.
- E então, como estão as emoções, Sarah? - Lori perguntou sorrindo.
- Ainda me sinto feia às vezes. Quer dizer, freqüentemente. Sinto-me uma baleia todas as vezes que sento e não fico confortável em nenhuma posição, nem mesmo na
cama. E falando sobre cama, meu marido continua me tratando como se eu fosse de cristal.
- Vocês tentaram dormir juntos na posição que sugeri da última vez?
- Quem consegue dormir abraçado com uma baleia? - Seus olhos marejaram.
- Um amante de baleias - Lori respondeu, sentando ao lado dela no sofá e lhe passando lenços de papel. - E seu marido é certamente um.
Sarah sorriu e se esqueceu da tristeza.
- Meu estado emocional ainda está uma confusão. Isso é normal?
- Perfeitamente normal - Lori garantiu. - Por que não traz seu marido na próxima consulta?
- Ele ficaria envergonhado de falar sobre não estarmos fazendo amor.
- Não terá de falar sobre isso, eu falarei - Lori disse. - Não se preocupe, vou tocar no assunto delicadamente, assim como fiz quando ele estava preocupado no começo
da gravidez. Funcionou bem, não foi?
Sarah acenou com a cabeça.
- Certo, está combinado.
Ainda conversaram mais alguns minutos antes de Sarah ir embora.
- Lembre-se de escrever um diário sobre seus sentimentos e os movimentos do bebê. .
- Jamais me esqueço - Sarah retrucou. - É minha parte favorita do dia.
Aquela era sua última paciente do dia. Depois de terminar suas anotações, Lori olhou o relógio. Eram quase 21 h. Ainda dava tempo de ver Mary Red Deer. Kane teve
de se esforçar muito para transferi-la do Hospital de Indígenas para o Hospital Municipal.
- O que faz aqui? - Danette perguntou agressivamente assim que Lori saiu do elevador. Ela era uma defensora das regras do hospital e adorava repeti-las. Seu apreço
pela burocracia, preenchendo no mínimo três cópias de cada papel, era uma das coisas que irritavam Lori.
- Vim ver Mary Red Deer.
- Ela não é sua paciente, há um médico cuidando dela.
- Fique fria, Danette - Lori disse com um sorriso. - A hipertensão pode encurtar sua vida.
Com um aceno, encaminhou-se ao quarto de Mary.
- Vou colocar isso no meu relatório - Danette gritou.
- Vá em frente.
Apesar de Lori ter vindo visitá-la de manhã, Mary ficou bastante feliz em vê-la.
- E então, quando serei liberada? - a índia perguntou ao amamentar a recém-nascida, Kate.
Lori deu uma olhada na ficha ao lado da cama.
- Amanhã está bem para você?
- Mesmo?
- Acho que é isso que o dr. Hunter vai lhe dizer. Kane deixara Lori se envolver naquele caso desde o começo, percebendo que Mary, aos 16 anos de idade, precisaria
de um apoio psicológico extra. Por causa da sua saúde precária, Lori recomendou-lhe acompanhamento médico, mas a adolescente criara um vínculo com ela desde o começo
do pré-natal, ainda na reserva indígena.
Elas tinham uma afinidade, mesmo com histórias tão diferentes. Aos 16 anos, Lori era estudante do ensino médio - uma animadora de torcida que namorava Travis, o
melhor jogador do time de futebol. Como filha única, tinha vários mimos.
Já Mary era uma entre oito filhos. Morava com a mãe, a avó e os irmãos num trailer apertado onde cabia metade desse número de pessoas. Saíra da escola ao descobrir-se
grávida, embora Lori a tenha encorajado a continuar estudando e a prestar vestibular.
- Para quê? - Mary questionou. - Não há empregos para pessoas como eu.
Enquanto certas pessoas se esquivavam de perceber as condições na reserva, Lori não. Apenas desejava poder fazer mais do que apenas dar assistência a Kane uma vez
por semana numa clínica de pré-natal. Era bom-dizer às mulheres que comessem muitas frutas e verduras para ter uma dieta saudável, mas esse tipo de alimento era
escasso na região, ao menos no inverno rigoroso de Montana.
Lori não fazia trabalho voluntário sozinha na reserva. Mary Jo Kincaid também trabalhava com as crianças, além de contar histórias na biblioteca pública. E Melissa
North, a dona do Hip Hop Café, doava cestas de alimentos regularmente. Jackson e Maggie Hawk realizaram grandes avanços nos últimos anos, mas ainda havia muito por
fazer. As condições não eram tão ruins quanto na reserva de Laughing Horse, onde o desemprego atingia noventa por cento da população, mas eram bem ruins.
"Você não consegue resolver todos os problemas do mundo", a mãe de Lori costumava dizer, sempre que ligava de Fênix, no Arizona, para onde se mudara com o pai, pouco
antes da separação de Lori.
"Talvez não, mas posso tentar consertar as coisas na minha pequena parte do mundo", Lori respondia.
Entretanto, não conseguira consertar as coisas com Travis...
Lori cerrou os olhos. Lá estava ele, entrando sorrateiramente em seus pensamentos mais uma vez! Relembrou que não poderia se tornar vulnerável a ele novamente. Ainda
não tinha entendido suas razões para fazerem amor. Sendo honesta consigo mesma, admitiu que estava se esforçando para não pensar nele. Mas não o suficiente.
A profissional entrou em cena.
- Como está indo a amamentação? - Lori perguntou a Mary. Como uma profissional de saúde, Lori se interessava por todos os aspectos, da gestação ao nascimento, inclusive
encorajava as mães a amamentar imediatamente após o parto. Como mulher, Lori ansiava por experimentar a ligação entre mãe e filho.
- Bem, estava preocupada que fosse doer, mas não dói. Posiciono o bebê da maneira que você me ensinou. Ela mama muito! E com freqüência também. Obrigada por ter
me ensinado tudo isso.
- Não precisa agradecer. Um dos maiores mitos sobre amamentação é que as pessoas pensam que vai ocorrer naturalmente com a mãe, e não é assim, então é necessário
fazer perguntas. E, lembre-se, quanto mais Kate mamar, mais leite você vai produzir. Se tiver alguma dúvida, pode me ligar.
- Sabe, já há tantas crianças na minha casa... - Mary suspirou. - Não sei nem onde pôr Kate quando eu chegar lá. Minha mãe me disse que posso esvaziar uma gaveta
para usar como berço. Se deu certo comigo e com meus irmãos, creio que dará certo para a minha filha também.
Lori sabia que muitas vezes a mãe adolescente ficava ressentida com o bebê por tirar sua liberdade. Mas Mary já tinha tido a responsabilidade de cuidar dos irmãos
mais jovens ao crescer. A gravidez não fora planejada, e o pai morrera num acidente de carro. Mary contara a Lori que transaram apenas uma vez, pensando que nada
aconteceria. A realidade foi diferente. Lori lhe deu uma aula de planejamento familiar para o futuro, com fatos e não ficção.
- A coisa mais importante que seu bebê precisa é do seu amor - Lori murmurou.
- Amor... e leite - Mary acrescentou. - Eu sempre disse que não queria outra criança na minha casa. Mas esta daqui é minha, e isso faz toda a diferença, sabe?
Lori não sabia, mas podia imaginar como seria ter seu filho acalentado perto do coração. Conteve as lágrimas e se prometeu que em breve teria um bebê. Um filho seu.
E enquanto sorria para Mary, jurava para si mesma que poria em prática seu plano de engravidar.
Na manhã seguinte, na clínica de obstetrícia, Molly e Lori tomavam uma xícara de café antes de os pacientes chegarem. Lori acabara de vestir seu jaleco branco, enquanto
Molly contava-lhe como por pouco salvara da destruição a casa de biscoito de gengibre que fizera.
- O pequeno Billie pôs as mãos nos chicletes que serviam de base. Arrancou dois deles antes que eu conseguisse fazê-lo parar. Por sorte, evitei que pegasse as balas
de menta das janelas - disse Molly.
- Espero que tenha levado sua obra-prima para um local mais seguro.
- Pode apostar. Coloquei no alto da estante na sala de estar. Tive de subir numa escada para alcançar.
- Que bom, gosto muito das suas casas de biscoitos, até mais do que as crianças.
- Isso me faz lembrar uma coisa... Pensou mais sobre a conversa que tivemos no seu aniversário? - Molly perguntou. - Sobre ter um filho?
- Não fiz mais nada além de pensar sobre isso - Lori respondeu, apoiando o queixo sobre a palma da mão e, com um dedo, brincando com seu brinco cor-de-rosa. - E
a Danette aparentemente não fez mais nada além de falar sobre isso. Acredita que até Travis soube da fofoca? Ele bateu na minha porta alguns dias atrás, ditando
regras. Disse que queria colocar algum juízo na minha cabeça, mas tudo que fez foi gritar. E acabou me desafiando a pôr um daqueles anúncios pessoais no jornal.
Os olhos de Molly se arregalaram com a notícia.
- Travis sugeriu que pusesse um anúncio no jornal?
- Não, claro que não. Apenas duvidou de que eu seria capaz.
- Você quer dizer que fez isso? Lori fez que sim com a cabeça.
- Saiu ontem no jornal.
- E então, alguém respondeu?
- Não sei. O jornal tem um número de telefone próprio para as pessoas deixarem mensagens. Ainda não tive tempo de checar.
- Ligue agora - Molly a encorajou.
- Agora?
- Claro, por que não? Ainda tem alguns minutos antes de o primeiro paciente chegar.
- Certo. Talvez seja bom acabar logo com isso. - Lori levantou e relutantemente discou o número que o jornal lhe dera, seguindo as instruções para acessar as mensagens
pelo código de seu anúncio. Havia mais de 12 respostas. Algumas lhe deram raiva, outras a fizeram rir, e outras a fizeram elevar as sobrancelhas de tanta criatividade.
E uma soava muito parecida com a voz de Travis. Quando terminou, tinha uma folha cheia de números de telefone.
- Nossa - Molly exclamou, impressionada com a quantidade de anotações que Lori tinha feito. - Recebeu todas essas mensagens apenas um dia depois?
- Tenho a impressão de que Travis fez metade das ligações apenas para me provocar - Lori resmungou.
- Como saberia que pôs o anúncio? Seu nome não estava escrito, certo?
- Tem razão. Certamente estou sendo paranóica.
Depois do trabalho, Lori passou nos correios para enviar um presente de Natal para os pais no Arizona. Com a proximidade das festas de fim de ano, a fila estava
longa e a espera pareceu levar uma eternidade. Não devia ser seu dia de sorte, pois encontrou Travis checando sua caixa postal.
- Não vai funcionar, viu? - disse, quando Lori passou por ele sem dizer nada.
- O quê?
- Esse seu plano para me deixar doido. Sei que era esse seu único objetivo ao pôr aquele anúncio no jornal.
- Você se acha muito importante.
- Está negando que fez aquilo apenas porque eu lhe disse que não faria?
- Claro que nego.
- Então, a única explicação é que está completamente maluca.
Completamente maluca... essas palavras ecoaram em sua cabeça. Lembrou-se de como perdeu a cabeça quando ele passou a mão sobre sua pele no porão da igreja, quando
baixou a cabeça para acariciar seus seios com a ponta da língua. As visões preencheram sua mente como fotos de Polaroid, congeladas para a eternidade. Os dedos dela
presos ao cabelo dourado dele, a cabeça inclinada para trás enquanto ele deslizava dentro dela...
- Sei exatamente o que estou fazendo - disse alto, embora com a boca seca de pensar nas imagens sensuais que invadiram sua mente.
- Bem, se é o que deseja, não serei eu quem vai ficar no seu caminho.
O tom sarcástico daquela frase a tirou do devaneio.
- Como você é generoso - respondeu ela no mesmo tom.
- Na verdade, farei tudo que puder para ajudá-la.
Ela o olhou com bastante suspeita
- O que você quer dizer com isso?
- Vou mandar alguns candidatos para você.
- Ah, com certeza. - Lori não levou a sério a oferta de Travis. - Só acredito vendo - rebateu usando as mesmas palavras que ele dissera antes e também se arrependeu.
Quatro
Três dias depois, domingo à tarde, uma batida na porta. Um caubói grisalho estava parado na entrada da casa, com um chapéu velho na mão.
- Boa tarde, madame, estou aqui para o serviço.
- Serviço? - Lori repetiu, confusa.
O homem balançou a cabeça, deu uma tossida característica das pessoas que fumam um maço de cigarros por dia e depois disse:
- Travis me disse que você estava procurando um homem viril e com saúde. Aqui estou.
- O quê? - Lori quase engasgou. Certamente não o ouvira bem, mas ele pronunciara "virir" em vez de "viril".
Olhando para ele mais de perto, reconhecera-o como um homem que de vez em quando oferecia uns serviços no rancho de Travis. Tinha uns 60 anos e seu pigarro o impedia
de responder às perguntas. Pegando o braço dele, conduziu-o para dentro.
- Precisa de algo para a tosse. Estava fazendo chá, você aceita?
O homem respondeu que sim com a cabeça, grato, e a seguiu até a cozinha, que por sorte estava arrumada. Lori ainda usava as roupas de faxina, com camiseta vermelha
de flanela e calça jeans desbotada. Usava brincos de turquesa em forma de flor.
- Então... qual seu nome? - perguntou ao trabalhador grisalho.
- Granger.
- Bem, Granger, seu patrão tem um ótimo senso de humor - disse, enquanto servia-lhe o chá.
Ele pegou a xícara com cuidado e comentou:
- Não gosto de me meter em briga de casal.
- Travis e eu não somos casados. Somos divorciados. Já faz anos.
- Olha, não quero saber detalhes. Travis apenas me disse que esqueceria a dívida que tenho com ele de quatrocentos dólares caso eu viesse aqui.
Lori deu um suspiro.
- Quantos outros homens ele vai mandar aqui?
- Não tenho idéia.
- Deixe-me ser mais clara: quantos outros trabalhadores devem dinheiro a ele?
- Realmente não sei, mas posso dizer que Travis é um ótimo jogador de pôquer. Não ficaria surpreso se outros caras estivessem lhe devendo.
- Ótimo - murmurou ela.
- Quer a sugestão de um homem com idade suficiente para não querer lhe dar conselhos?
- Diga.
- Não vale a pena provocar um homem como Travis.
- Você quer dizer teimoso, cabeça-de-bagre, anacrônico, da idade das pedras?
- Bem... não é exatamente assim, mas chega perto.
- Fique certo de que não é minha intenção irritá-lo. Apenas acontece. Agora, posso retornar o favor e lhe dar um conselho?
- Não dei um conselho, apenas uma sugestão - Granger reafirmou.
- Certo, uma sugestão. Pare de fumar, os cigarros vão acabar com você - disse diretamente.
- Sou forte como um cavalo - respondeu ela, a frase cortada ao meio pela tosse.
- Um cavalo com enfisema, talvez - Lori replicou. - Pense sobre isso, certo?
O caubói grisalho acenou com a cabeça.
- E tente beber chá de limão para o resinado. Adicione um pouco de mel - relembrou ao levá-lo até a porta da frente.
- Vou fazer isso. Obrigado, madame.
- Mais uma coisa. Diga a Travis que você pagou a dívida completamente e, se ele ficar com raiva, venha falar comigo. O que é tão engraçado? - perguntou.
- Você é bem nervosinha.
Lori deu um sorriso amarelo.
- "Nervosinha" não é a minha palavra favorita - disse.
- Já lhe disseram muito isso, não é?
Ela acenou com a cabeça.
- Vem no pacote. Tenho que ser teimosa para trabalhar como parteira.
- É difícil assim fazer partos, hein?
- Não, é difícil lidar com o preconceito das pessoas sobre parteiras. Os partos são fichinha perto disso - acrescentou com um sorriso cansado.
- Boa sorte para você - Granger disse com aceno de cabeça cortês.
- Para você também, Granger.
Lori ficava de plantão na maioria das noites. Alguns médicos na clínica a substituíam em sextas-feiras alternadas e ocasiões especiais. Lembrava-se bem de como ficara
feliz ao receber seu primeiro bip. Colocou no cinto da calça jeans e se sentiu importante.
Três anos depois e várias horas de sono interrompidas, a emoção passou - mas não a responsabilidade. Sempre checava as baterias para se certificar de que o aparelho
estava funcionando, e hoje não fora exceção.
Mas o bip permaneceu silencioso enquanto Lori se dirigia à loja peculiar de Winona Cobbs para lhe fazer uma visita. Localizado a 30 quilômetros da cidade, a Stop
N já era um ponto turístico - Lori lembrava-se de sua existência por tanto tempo quanto sua memória conseguia voltar ao passado. Alguns a chamavam de jardim do lixo,
outros de baú de tesouros. Winona a chamava de lar.
Além de pias de porcelana e calotas para carros antigos, Winona também vendia o melhor mel da região, e o estoque de Lori estava acabando. Fora isso, também gostava
de visitá-la. Tinha carisma e sempre encontrava coisas para Lori que ela nem sabia que precisava. Como aquela linda mesa de madeira que pintou de branco e pôs no
banheiro.
Winona era especial, e por isso Lori lhe trouxera um presente de Natal. Para ter certeza de que não esquecera o pacote em casa, Lori estendeu a mão ao assento do
lado e tocou o embrulho que continha um par de brincos de quartzo rosa.
Os faróis do carro eram as únicas luzes na escuridão do inverno. Ao mudar de faixa para entrar na rua de Winona, Lori agradeceu por ter um carro com tração nas quatro
rodas, pois se não fosse isso teria ficado presa na neve.
Winona a recebeu calorosamente, convidando-a a sentar e lhe oferecendo uma xícara de chá adoçado com seu melhor mel. Um cacto servia de árvore de Natal, decorado
com pequenas luzes e uma estrela prateada mal colocada no alto.
- Não conseguiria matar uma árvore apenas para enfeitar por duas semanas e depois jogá-la fora - Winona disse. - E acho as artificiais depressivas. Mas gosto desta.
Obrigada pelo presente - agradeceu ao colocá-lo cuidadosamente embaixo da planta. - Vou deixar para abri-lo na noite de Natal, se não se importar.
- Claro que não, mas é apenas uma lembrancinha, uma maneira de agradecer sua ajuda. Aquela mesa que me deu da última vez que estive aqui foi perfeita, como você
disse.
- Um pouco de pintura a deixou bem melhor, não foi?
Tentando relaxar e manter a mente longe de Travis, Lori fez que sim com a cabeça, olhando ao redor. Um cachorro que nunca vira antes estava deitado perto de um sofá
pequeno, enquanto cinco gatos dormiam sobre o mesmo móvel. Winona sempre adotava animais perdidos e naquele ano mais ainda.
Baixa e corpulenta, Winona tinha o tipo de energia que desafiava a idade. Ninguém sabia ao certo quantos anos tinha e ela também não mencionava a ninguém.
- Há algo de errado - Winona disse de repente com sua voz sem igual.
Espantada, Lori voltou-lhe o olhar.
- Está tendo premonições? - perguntou, sabendo* que a amiga era famosa por sua vidência.
Winona fez que não com a cabeça, agitando os cabelos brancos.
- Então como sabe que há algo errado? - Lori perguntou.
- Por sua postura corporal - respondeu objetivamente. - Se apertar essa xícara com mais força, quebrará - brincou. - Um homem cego poderia notar que está tensa.
- Você tem razão. - Sorrindo melancolicamente, Lori diminuiu a pressão na xícara.
- Quer falar sobre o assunto? - Winona perguntou.
Lori deu de ombros.
- Não saberia como começar.
- Pelo início é sempre bom.
- Pelo começo, certo? Bem, vamos ver... Tive um aniversário significativo há pouco tempo que me fez pensar sobre o que quero da vida.
Winona acenou com a cabeça enquanto dedilhava a ametista que tinha no colar.
- Senti que você tinha chegado a uma encruzilhada.
- É que tenho tantas escolhas a fazer.
- Mais do que quando eu tinha sua idade - Winona reconheceu.
- Você se arrepende das decisões que tomou? - Lori perguntou.
Winona fez que não com a cabeça.
- E filhos? Arrepende-se de não ter tido?
- Sinceramente, não - respondeu. - Algumas mulheres são feitas para ser mãe. E isso é ótimo. Não sou uma delas. Mas você sim, não é verdade?
Lori concordou, inclinando a cabeça.
- Então, o que está fazendo a respeito?
- Estou considerando minhas opções. E discutindo com as pessoas sobre isso.
- Pessoas?
- Na maioria das vezes, com Travis - admitiu.
- Pude perceber muita energia negativa, embora talvez seja o ar seco aqui dentro - completou. - Há muita energia estática nesse trailer, às vezes até levo choques.
Talvez isso afete minha vidência de alguma forma. Mas, voltando a você e Travis. Sobre o que estão discutindo? Sobre ter um filho?
- Sim, bem, não exatamente. Quer dizer, a minha decisão de ter um filho não vai envolver Travis.
- Você não quer ter um filho dele? - Winona perguntou, surpreendendo-se com a novidade.
- Somos separados. Não é uma boa idéia ter um filho com o ex-marido, Winona.
- Como posso saber? -Winona ergueu as sobrancelhas e olhou fixamente acima da cabeça de Lori, como se visse algo fascinante.
- O que foi? - Lori indagou. - Está tendo outra premonição?
- Hum... Não, estava apenas vendo aquela aranha ali no teto. Essas coisas picam, sabe?
Nada como a opinião de uma vidente, Lori pensou. Como se percebesse o desânimo de Lori, Winona deu-lhe tapinhas na mão, confortando-a:
- As coisas vão dar certo, você verá. Terá o filho que tanto quer.
- Como sabe?
- Porque a conheço e sei quanta determinação demonstra sempre que sabe o que quer. Decidir o que quer é aí parte mais difícil para você - observou de forma astuta.
- Mas, quando se decide, nada consegue pará-la. Veja o que fez com sua carreira: foi para a cidade grande aprender a fazer partos.
- Nem todas as pessoas do mundo estão contentes com isso como você.
- De quem está falando?
- Do dr. Straker, para começo de conversa.
- Aquele homem não pode ser chamado de pessoa. É um bicho orgulhoso - Winona afirmou.
- Concordo.
- Ele tem infernizado sua vida?
- Não sou das suas preferidas.
- O idiota não tem bom gosto. Ainda teve a cara-de-pau de pechinchar no preço de Harry.
- Harry?
- A cabeça de alce que mantenho acima do caixa na loja. Straker queria comprá-lo por apenas nove dólares. Disse-lhe que podia guardar o dinheiro porque o meu Harry
não estava à venda. Desde então não apareceu mais aqui.
Lori não conseguiu se conter e quase rachou de rir.
- Oh, Winona, você é tão boa para mim - disse ofegante, limpando as lágrimas dos olhos. - Você tem a cabeça no lugar.
- Ah, obrigada! - Winona ficou radiante. - Nem todo mundo por aqui concordaria com você. As pessoas me vêem de outra forma, pensam que eu sou uma... figura
- Winona completou sorrindo, depois de pôr um chiclete na boca. - E eu gosto das coisas dessa maneira, então não saia espalhando por aí que sou normal, certo? Pode
não ser bom para os negócios.
- Seu segredo está seguro - Lori garantiu.
- E o seu também.
- Querer um filho não é exatamente um segredo.
- Talvez não, mas o fato de você ainda se sentir atraída por Travis é. - Ao ver o espanto de Lori, Winona reclinou-se na cadeira e sorriu. - Sou vidente, lembra-se?
- Acho que aquela energia estática está lhe provocando adivinhações erradas - Lori retrucou.
Winona acenou com a cabeça, fazendo a ametista em seu pescoço brilhar com a luz.
- Não, posso sentir, você e Travis estão soltando faíscas. Como nos velhos tempos, hein?
- Será que as palavras "figurinha repetida não enche álbum" significam alguma coisa para você?
Winona balançou a cabeça novamente.
- Travis e eu somos coisa do passado. Certamente não vou cometer o erro de me envolver com ele novamente.
- Não há como escapar do destino - Winona disse, com um tom de voz que deixava claro não haver espaço para discussão.
- Não há como escapar do destino, hein? - Uma hora depois, Lori ainda estava resmungando baixinho por causa das palavras de Winona. De volta à cidade e fazendo compras
para o jantar, não conseguira superar a convicção inabalável da amiga sobre Travis.
Como se os pensamentos tivessem o poder de se manifestar, Travis entrou no supermercado. Lori ficou feliz de vê-lo - disse a si mesma que era por ter a chance de
confrontá-lo. Ainda não tinha se esquecido da aparição de Granger em sua casa no dia anterior.
- Boa jogada - disse, ao passar o carrinho na frente de Travis, que lhe deu um olhar inocente, mas não a enganou. - Mandar seu empregado à minha casa ontem à tarde
- ela explicou melhor.
- Ah, só estava tentando ajudar.
- Então, quantos candidatos ainda vai enviar para me ajudar? - Lori indagou enquanto escolhia um pé de alface. - Talvez seja hora de pendurar aquela placa novamente.
- Que placa?
- Uma que diz "atiro no terceiro que bater na minha porta e o segundo acabou de sair".
- Compramos essa placa na nossa lua-de-mel.
- É mesmo? - ela colocou a alface no carrinho e começou a escolher tomates. - Não me lembrava.
- Mentirosa.
- Desculpe, como assim?
- Deveria mesmo me pedir desculpas, depois das confusões que criou nas últimas semanas.
Ela se voltou para ele com um tomate na mão e disse:
- Quantas vezes tenho que lhe dizer...
- Pode me dizer quantas vezes quiser. - Estendendo o braço, Travis passou-lhe o dedo sobre a boca. - Não fará a menor diferença.
Lori apertou tanto o tomate com as mãos que acabou machucando-o. Preferiu isso a soltá-lo no chão, pois Travis criava mágica com um simples toque. Estavam num local
público - um supermercado lotado, com música de Natal tocando e uma atendente de caixa no fundo pedindo para que o preço de um produto fosse verificado. Lori ouvia
tudo isso, mas a distância. O desejo pelo toque dele deixava tudo em segundo plano.
Olhou-o fixamente como se estivesse encarando as luzes de um caminhão. Sim, e provavelmente será atropelada se continuar aqui de pé, uma voz interior veio alertá-la.
O que havia de errado com ela? Por que estava deixando Travis afetá-la dessa maneira?
Olhe para ele, ordenou-se. Observe bem. Perceba a expressão em seus olhos. Ele está contente de provocá-la, está fazendo de propósito.
Com a mesma intenção, abriu a boca e mordeu o dedo que a acariciava - não com força para machucá-lo, mas firme o suficiente para mostrar-lhe que estava falando sério.
Travis apenas lhe deu um sorriso amarelo e pôs o dedo na boca como se quisesse provar-lhe o gosto em sua pele.
- Não é a primeira vez que me deixa marcas - observou com a voz rouca. - Lembro-me de um incidente incrível num porão de uma igreja cerca de três semanas atrás...
- Psiu! - Lori olhou para os lados nervosamente antes de pegar o carrinho e se dirigir ao caixa.
- Qual o problema? - Travis perguntou, seguindo-a. - Tem vergonha do que aconteceu?
- Só não quero que todos em Whitehorn saibam.
- Ah, essa é boa. Não se importa que todos pensem que ficou doida.
- Ninguém pensa isso de mim. Winona está do meu lado.
Travis soltou um suspiro.
- Como se ela fosse normal.
- Winona é uma mulher muito sábia.
- Que tem uma loja de lixo na frente da casa.
- Isso é apenas uma das várias coisas que faz.
- É, ela também vê o futuro lendo as linhas da testa.
- Não lê não! - Com raiva, Lori deu um soco no braço de Travis, sem causar-lhe danos por causa da proteção do casaco de couro. - Ela tem muitos talentos, como produzir
o melhor mel da região. Ah, nem sei por que perco meu tempo falando com você. Você é impossível. Winona é tão normal quanto Homer.
- Homer é apenas um solitário - Travis o defendeu.
- Que pensa que foi abduzido por alienígenas.
Travis mudou de assunto rapidamente.
- Ele conhece as montanhas da cidade melhor que ninguém.
- Não melhor que Winona.
- Vocês dois vão ficar o dia inteiro aí discutindo ou podem me dar licença para pegar o cereal? - Virgil perguntou. - Nossa, um homem pode morrer de fome esperando
duas pessoas parar de discutir - disse, pegando vários pacotes de cereal e se retirando rapidamente.
- Homer é uma nova pessoa depois que sua filha retornou - Travis afirmou, voltando à defesa do homem excêntrico da cidade. - Ter uma família muda um homem.
- E uma mulher - Lori observou baixinho. - E é por isso que planejo ter uma família.
- Um bebê não é algo que se acrescente à lista de compras como um litro de leite - Travis argumentou. - Não dá para comprar no mercado.
- Sei o que significa ter um filho - respondeu - e, acredite, estou pronta para fazer o que for preciso para realizar meu sonho. - Virando o carrinho 180 graus,
Lori o deixou sem palavras.
Outro candidato apareceu em frente à casa de Lori na noite seguinte. Como o anterior, segurava o chapéu na mão. Ao contrário daquele, não parecia velho nem mesmo
para dirigir e, menos ainda, para fazer a barba. Os dedos dele tremiam de medo.
Durante todo o dia, um vento quente soprava, trazendo consigo um gostinho de primavera, embora fosse uma promessa falsa, claro, pois o inverno mal começara. O tempo
mais quente dava um sentimento de segurança, contudo logo viriam o frio abaixo de zero e meio metro de neve.
Mais ou menos como a relação dela com Travis, Lori observou. A paixão que sentiram teve um gostinho tentador, mas falso.
Porque não haveria volta. Lori era uma mulher diferente da que fora quando esteve casada com Travis e precisava continuar evoluindo.
- Senhora? - A voz do pequeno vaqueiro estremeceu, fazendo-o limpar a garganta e tentar de novo. - Senhora, estou aqui por causa do trabalho.
- Bem, deixe-me adivinhar, Travis o mandou aqui, certo?
O garoto engoliu em seco, o que fez seu pomo-de-adão quase pular do pescoço, e depois acenou com a cabeça. Lori teve pena dele.
- Entre e tome um café. Não se preocupe, não mordo.
- Não, senhora.
- Não... não quer café? - Ela ainda não tinha conhecido um vaqueiro que recusasse uma xícara de café quente numa noite de inverno.
- Não, senhora, quero dizer, sim, senhora. Seria bom um pouco de café.
O rapaz limpou as botas umas cinco vezes no tapete antes de entrar na sala. O chapéu, já todo amassado, parecia parte de sua mão.
- Então, quanto perdeu para Travis no pôquer? - Lori perguntou com naturalidade.
- Bom... 75 dólares, senhora.
- Meu nome é Lori. Sinto-me como sua avó quando me chama de "senhora". - Enquanto o menino dava um gole na bebida, fez-se um silêncio desconfortável. - Então, qual
seu nome?
- Tommy, senhora. Quero dizer... Lori, senhora.
Ela suspirou. Será que fora assim quando jovem?
Dez minutos depois, Tommy tinha relaxado o suficiente para timidamente pedir conselhos amorosos a ela, relacionados a uma menina de 16 anos que conhecera. Lori tinha
um jeito especial de fazer as pessoas se abrirem e contarem seus segredos, inclusive seus desejos e medos. Essa habilidade fazia dela uma parteira melhor.
Quando o menino foi embora, pouco tempo depois de chegar, com o chapéu ainda na mão, tinha um sorriso de alívio no rosto. Lori havia prometido ajudá-lo com a menina
por quem estava apaixonado. Meia hora depois, ouviu-se outra batida na porta. Era Homer, dizendo:
- Vim aqui por causa do trabalho.
Cinco
Não conseguindo se conter, Lori gritou furiosa:
- Você também! Travis foi longe demais desta vez! Não acredito. Como você concordou em fazer isso? Provavelmente, deve-lhe muito dinheiro para aceitar se prestar
a isso. Bem, deixe-me dizer que essa brincadeira já foi longe demais!
Quando ela finalmente parou para respirar, Homer declarou:
- Não tenho a menor idéia do que você está falando. Estou aqui para fazer uns serviços que me pediu uns meses atrás, quando me disse que queria que eu pintasse algumas
paredes e construísse umas estantes. Você lembra?
- Ah, sim! - Lori teve a sensação de estar afundando no carpete. - Certo, claro que lembro. Desculpe pela confusão, Homer.
Ele deu de ombros.
- Ainda precisa do serviço ou não?
- Sim, claro. Vai poder fazer o trabalho?
Homer acenou com a cabeça.
- O dinheiro vai vir em boa hora com as festas se aproximando.
- Tem certeza de que já se recuperou da pneumonia que teve? - perguntou preocupada.
Dessa vez o movimento que Homer fez com a cabeça foi impaciente.
- Nada de preocupação exagerada comigo. Minha filha pega no meu pé o bastante. Já chega de mimo.
Percebendo que estava em jogo o orgulho masculino, ela disse:
- Nesse caso, quando poderia começar?
- Amanhã está bom?
- Está ótimo. Devo deixar uma chave com você para poder entrar enquanto eu estiver no trabalho?
Homer fez que sim com a cabeça.
- Já comprei a tinta - Lori disse orgulhosamente, apontando as latas que guardara perto da porta.
- Calipso? - Homer não acreditou quando leu o rótulo. - Que tipo de nome é esse para uma tinta?
- Escolhi pela cor e não pela marca da tinta - defendeu-se. - É um lindo tom de rosa.
- Humpf. - Várias pessoas tentavam imitar essa bufada de Homer, mas sem sucesso.
Depois de acompanhá-lo até a porta, Lori começou a fechá-la quando ouviu o que parecia o miado de um gato. Foi até a varanda e deu uma olhada no jardim da frente.
E viu um par de olhos verdes luminescentes. Depois que seus olhos se ajustaram à escuridão, pôde ver o gatinho, um pouco distante e posicionado como se fosse fugir
a qualquer momento.
O olhar do gato tocou o coração de Lori, o que a motivou a entrar na casa, abrir uma lata de atum, despejar o conteúdo em um recipiente de plástico e posicioná-lo
na grama.
- Aqui, gatinho - chamou-o baixinho. O gato não veio, mas esperava que voltasse mais tarde para comer, pois parecia faminto.
Ao entrar em casa, Lori voltou a remoer novamente o comportamento ultrajante de Travis em enviar "candidatos". Não tivera coragem de mandar uma mensagem por Tommy
a ele - o jovem estava tremendo de nervoso. Além disso, não era justo envolver outros naquela batalha de teimosia dos dois. O ex-marido a deixara tão alterada que
quase agredira Homer. O homem deve ter pensado que era maluca - e enlouquecê-la parecia ser o objetivo de Travis.
Pôs os olhos no telefone e decidiu ligar para ele. Ele atendeu e, reconhecendo sua voz, Lori deixou de lado as boas maneiras e foi direto ao assunto:
- Pare com essa loucura, Travis.
- Paro se você parar - respondeu suavemente.
- Você era difícil desse jeito quando éramos casados? - murmurou, cansada.
- Responda você, que nunca explicou por que me deixou.
Desconfortável com esse assunto, ela se agitou na cadeira.
- Estávamos sufocando um ao outro.
- Não me sentia sufocado.
- Bem, eu me sentia - disse ela.
- Pensei que tivesse dito que eu passava muito tempo trabalhando na fazenda. Como podia sufocá-la se eu nem estava presente?
Lori passou a mão na testa.
- Não sei.
- Então você nem sabe por que se separou de mim?
- Queríamos coisas diferentes.
- Mas me parece que queríamos o mesmo quando estávamos no porão da igreja.
- Você não vai me deixar esquecer aquilo, não é?
- Com certeza não!
- Não dá para conversar com você - ela gritou. - Apenas pare de mandar esses candidatos ridículos.
- Estou só ajudando na sua coleta de esperma de garanhões.
- Os dois caras que você mandou não estão qualificados - replicou.
- Eu sim - disse arrastadamente.
Lori desligou na cara dele. Como a vida dela tinha ficado tão complicada?
Enquanto, exausta, arrumava-se para dormir, percebeu que não estava perto de encontrar resposta para as inúmeras perguntas que inundaram sua mente. As questões desafiadoras
de Travis sobre os motivos do divórcio trouxeram à tona velhas inseguranças porque ainda não sabia onde exatamente haviam errado.
Não conseguia apontar um incidente, uma briga que tivesse sido o momento crucial da separação. E isso tornava as coisas difíceis, porque como corrigiria os erros
do passado se não sabia quais eram? E mais assustador ainda era não ter como explicar o divórcio.
Sim, os dois foram aos poucos se distanciando. Mas a questão era por quê. Porque ele estava tentando salvar a fazenda enquanto ela buscava tirar seu diploma de enfermeira?
Ou porque estavam se esforçando para que o dinheiro chegasse até o fim do mês e não conseguiam e acabavam com as contas não pagas?
Será que terminaram porque Travis era antiquado e não a deixava ter vida própria nem lhe dava espaço para crescer como pessoa? Ou porque queriam coisas diferentes
da vida? Era verdade que Travis vivia feliz como uma ostra na fazenda, sem sair de lá por semanas, enquanto Lori precisava interagir mais com outras pessoas. Mas,
no fim desses pensamentos, veio-lhe à mente a lembrança do ato sexual deles semanas atrás. Outros homens não chegavam aos pés de Travis, nem mesmo perto. Mas o sexo
não era tudo num casamento.
Então, o que era um bom casamento? Obviamente, não havia relacionamento perfeito. Talvez o amor apenas complicasse as coisas. Talvez fosse melhor apenas ter respeito
um pelo outro, ter os mesmos valores e querer as mesmas coisas da vida. Talvez essas fossem a base de uma relação duradoura, em vez de a volatilidade da paixão e
a fragilidade do amor.
Pensara que tivesse exatamente isso com Kane - uma formação na área de saúde, além de amizade e respeito. Mas essa relação também não dera certo. Lori se machucou,
não uma vez, mas duas, por dois homens diferentes, em dois relacionamentos distintos. O que a deixava temerosa de nunca ser capaz de ter uma relação bem-sucedida
com homem nenhum. E, nesse caso, talvez jamais tivesse um filho da forma tradicional.
Obviamente, dava-se conta de que, hoje em dia, 30 anos não era muito para que seu relógio biológico a preocupasse, mas estava cansada de esperar pelo homem ideal
para se apaixonar, queria ter um filho logo. Ao adormecer, seu último pensamento foi sobre seu bebê.
Lori passou a quarta-feira de manhã atendendo em casa uma paciente, Kaye Ingalls, que estava tendo problemas com enjôos pela manhã.
- Quase matei meu marido ontem! - Kaye declarou.
- O que ele fez?
- Pensou que estava sendo útil ao limpar a geladeira. Quando o vi, abrindo um pacote de salmão para checar se ainda estava bom debaixo do meu nariz, corri para o
banheiro para vomitar. Não faço nada além disso, desde que engravidei. E não me diga para agüentar essa situação!
- Jamais diria isso! - Lori assegurou.
- E ficar comendo bolacha de água e sal é o fim!
- Tenho alguns truques para ensiná-la. Primeiro, tente fazer várias refeições pequenas em vez de três grandes refeições. Dessa forma, terá comida no estômago o tempo
todo.
- Mas manter comida no estômago não está dando certo - Kaye gemeu.
- Porque o seu nariz está impedindo isso. Evite cheiros que a incomodem e anote aqueles que a fazem enjoar para evitá-los no futuro. Perfumes, produtos de limpeza,
peixe... tudo isso pode ter cheiro forte e cair mal.
- Só de lembrar o cheiro de ovos mexidos fico verde.
- Então, evite-os.
- Isso significa evitar meu marido.
- Apenas enquanto ele estiver cozinhando os ovos - Lori disse sorrindo. - Descanse bastante, mas não caia na monotonia. Saia para passar um tempo com amigos ou parentes,
tente tirar a náusea da cabeça.
- A náusea não é coisa da minha cabeça! - Kaye afirmou.
- Sei que não é, mas infelizmente ainda não se sabe ao certo o que causa os enjôos matutinos.
- Se afastassem os homens, com certeza já saberíamos as causas e teríamos uma cura - Kaye resmungou.
- Certamente você tem razão. Mas por enquanto há várias teses a respeito. Alguns dizem que é causada pelos hormônios, outros pela deficiência de vitaminas. Mas não
há conclusão nos estudos. Temos feito progresso no tratamento, no entanto. Trouxe algo para você.
- Tenho medo de tomar remédios - Kaye disse.
- Só em último caso. Experimente isto. - Lori lhe deu um saquinho de papel.
Ao abri-lo Kaye exclamou:
- Balas de limão?
Lori acenou com a cabeça.
- Elas resolveram o caso de muitas das minhas pacientes. Umas delas jurava que pirulitos sabor melancia eram melhores. Pode ver que há mais soluções do que comer
bolachas de água e sal.
- Graças a Deus!
- Você também pode tentar chá de gengibre ou de menta, se preferir. Amanhã entro em contato com você para ver se está se sentindo melhor. E, se tiver vontade de
comer alguma coisa, mesmo que seja algo estranho, coma. É importante nesse momento que você se alimente bem.
- Obrigada, Lori.
Aproxima parada de Lori seria no rancho de Maris e Luke Rivers. Maris era sua amiga de infância. Tinha tido uma vida dura, pois seu primeiro marido, Ray, fora um
montador de rodeios preguiçoso e irresponsável, que acabara morrendo por bater o carro ao dirigir embriagado. Maris ficou viúva e com dívidas até o pescoço.
Uma pessoa mais fraca teria se entregado, mas Maris era a mulher mais forte que conhecia. Além disso, não tinha nenhuma frescura.
E o que Lori viu quando Maris abriu a porta foi alguém que irradiava felicidade. Não apenas se apaixonara por Luke Rivers, que originalmente veio à fazenda para
cobrar uma dívida de Ray, mas casou com ele, com quem depois teve um filho, Clay, que era seu afilhado. Maris trazia Clay no colo ao abrir a porta.
- Fique quietinho, menino maroto - disse. - Lori!
- Espero que não se importe de eu vir visitá-la sem avisar, mas estava por essas bandas atendendo uma paciente...
- Entre, você sabe que não precisa avisar. - Maris estava vestida como de costume, de jeans e camiseta, o cabelo castanho preso em rabo-de-cavalo.
- Queria trazer isso aqui. Tome, deixe que eu seguro o bebê. - Lori deu a Maris uma sacola cheia de presentes de Natal.
- Você tem exagerado nas compras por catálogo - Maris reparou.
Mas Lori nem ouviu, estava acariciando Clay e sentindo seu cheirinho de bebê.
Ao perceber o que estava acontecendo, Maris disse:
- Ele está cheirando bem agora, mas você não ia querer chegar nem perto dele três minutos atrás - disse, abanando a mão em frente ao nariz.
Lori sorriu, mas não respondeu. A verdade era que, com ou sem fedor, queria um daqueles. Na verdade, pela primeira vez na longa amizade delas, Lori a invejou profundamente
porque Maris tinha o que Lori mais queria: uma família.
- Fiquei feliz com a sua visita - Maris disse. - Faz tempo que não a vejo.
- Não posso ficar muito - respondeu. Se ficasse, temia que Maris percebesse a inveja que borbulhava nela. - Você sabe a sorte que tem? - sussurrou.
- Claro que sim - Maris disse, pensando que Lori estava de brincadeira.
Lori devolveu a criança à mãe, mesmo com pena de fazer isso, porque não queria cair na tentação de abraçá-lo para nunca mais soltar.
- Tenho de ir.
- Espere! Leve seu presente. - Maris lhe deu uma pequena caixa. - Desculpe, não está num embrulho chique. Nunca fui muito boa para esse tipo de coisa.
Lori sabia o que mais queria: um filho, e Maris não lhe daria isso. Mas Lori poderia conquistá-lo sozinha, caso quisesse muito esse sonho. E queria.
Quando Lori se encontrava perto do rancho de Travis, antes de ir à casa de outra paciente, decidiu fazer mais uma visita não anunciada. Não podia deixá-lo continuar
com a brincadeira. Naquele dia, antes de sair de casa, encontrara outro candidato à porta, esperando por ela. Como Granger, o homem tinha idade para ser seu avô.
Isso tinha de parar. A raiva ajudou-a a superar o nervosismo de retornar à fazenda pela primeira vez depois do divórcio.
O local não havia mudado muito. A casa recebera uma nova demão de tinta branca desde que a deixara cinco anos atrás. E Tex finalmente conseguira pintar as janelas
de vermelho, em vez de preto, para combinar com o celeiro. Havia fumaça saindo da chaminé, o que significava que a lareira da sala estava funcionando.
Tex cumprimentou Lori na porta dos fundos.
- O que Travis aprontou desta vez? - perguntou resignada.
- Está tentando me deixar louca - Lori disse.
- Ele diz o mesmo sobre você - afirmou com um sorriso, antes de se dirigir ao forno para ver os biscoitos que cozinhava.
- Bem, ele está enganado - Lori disse, enquanto retirava as botas cheias de lama na entrada. Os odores de couro úmido, cavalo e sarja, misturados com o aroma tentador
da cozinha de Tex, eram familiares.
- Apenas estou tentando levar a minha vida e ele, tentando me impedir.
- Homens - Tex murmurou. - Ruim com eles, pior sem eles.
Lori teve de rir do ditado popular. Aquela senhora esteve com eles na fazenda durante todo o casamento de Lori. Tex acompanhou tudo e talvez pudesse lhe dar uma
idéia do que saíra errado.
- Acho que eu e Travis brigamos mais agora do que na época do nosso casamento - disse melancolicamente.
- Amor de adolescência pode dar nisso.
- Você quer dizer que eu e Travis casamos muito cedo?
- Talvez muito cedo para que um casamento durasse - Tex disse.
Essa diferença pareceu bastante significativa, e era algo que não ocorrera antes a Lori. Aos 18 e 19 anos, seriam ela e Travis jovens demais para se doarem para
um casamento? Permanecer casada foi difícil, especialmente quando a aura de romance se evaporou com a realidade.
- Que tal uma xícara de chocolate quente e uns biscoitinhos antes de você estrangular Travis? - Tex perguntou, interrompendo os pensamentos de Lori. - Não recebemos
muitas visitas por aqui.
Ao ouvir essas palavras, Lori sentiu uma pontinha de culpa por não ter mantido contato com Tex. As duas eram próximas quando Lori ainda estava casada com Travis.
Porém, desde que retornara a Whitehorn, Lori não fizera mais do que cumprimentá-la ao vê-la na cidade.
Mas era uma situação estranha de todo jeito. Afinal, a lealdade dela era para com Travis, uma vez que praticamente o criara depois que a mãe dele morreu, quando
era ainda um bebê.
- Você está preocupada - Tex disse. - Posso perceber quando algo a aflige assim como percebo quando Travis está mentindo.
- Ele mente com freqüência?
- Apenas para proteger alguém que ama. Travis é um bom homem, Lori.
- Sei disso, mas também é muito difícil.
- Não posso discordar de você nesse ponto - Tex afirmou com um sorriso. - Pode ir, sei que está louca para falar com ele. A gente toma o chocolate quente em outro
momento. Travis está no celeiro. Tente não agir com muita violência. Slim está velho demais para arrastar pessoas inconscientes até a casa.
Lori encontrou Travis limpando o celeiro com um rastelo. O tempo mais quente, pouco comum naquela época do ano, continuava, mantendo as temperaturas por volta dos
dez graus centígrados, o que fazia a neve derreter e deixava o chão enlameado. No entanto, a bota de Lori impediu-a de ter contato com a sujeira, e a raiva dela
a protegeu do charme de Travis, que sorriu ao vê-la.
- Bem, isso é uma surpresa! A que devo a honra?
Ele vestia suas roupas habituais de trabalho: calça e jaqueta jeans e camiseta branca. Estava divinamente belo, apoiando o braço na alça do rastelo.
- Estou aqui para lhe dizer que deve cair fora - Lori declarou.
- Cair? - disse, apontando com os olhos a pilha de feno ao lado.
Lori sentiu-se corar, pois entendeu perfeitamente o que ele quis dizer.
- Pare com isso - resmungou, frustrada com a habilidade dele de atingi-la antes mesmo de dirigir-lhe a palavra. Tudo o que precisava fazer era olhá-la com aqueles
olhos azuis misteriosos que prometiam paixão e a faziam relembrar segredos.
- Parar com o quê? - Travis murmurou, com a voz tão sedutora quanto o olhar.
- Com isso. - Sua voz tornara-se apenas um suspiro.
- Faça-me parar - ele a desafiou.
- Não sou ingênua para cair nessa.
- Não? Talvez eu seja. - E então a beijou.
Seis
Lori deveria estar preparada, mas não estava. Não esperava sentir tanta química e experimentar uma incrível onda de paixão. Até aquele momento, pressupunha que as
lembranças da tarde de amor deles haviam ganhado proporções exageradas graças à imaginação dela.
Mas esta esperança morreu no momento em que Travis encostou em seus lábios, forçando-a a abri-los.
A maneira como movimentou a língua a fez lembrar a volúpia do amor deles. E ela percebeu que estava louca de desejo...
Proibido. Sabia que Travis era fruto proibido. Mas enquanto ele a beijava, não tinha forças para resistir ao prazer que pulsava em seu corpo.
Nunca recebera um beijo daqueles de outro homem: passional, como se fosse a única mulher no universo para ele. Era quente e intimista, forte e exigente. As línguas
se encontraram numa disputa sem vencedores. Era uma declaração de posse e de intenção.
Chamando-lhe o nome baixinho, ele a trouxe para mais perto. Agora, Lori estava pressionada contra o corpo de Travis, da cintura para cima. Ele tirou a jaqueta jeans
dela num impulso impaciente para acariciá-la. E a camiseta rosa oferecia pouca proteção ao seu toque potente.
Lori gemeu sem conseguir conter o deleite. Era maravilhoso receber carícias dele. Ela se aproximou, enquanto um beijo levava a outro, cada um mais molhado e mais
forte que o anterior.
Não havia nada de delicado no desejo que a tomava. Nada sutil na maneira como seus mamilos intumesceram sob a camiseta de algodão. Perdeu o fôlego quando Travis
acariciou seus seios. Os joelhos dela amoleceram, forçando-a a se apoiar nele para conseguir se manter de pé.
Com os quadris encaixados, faziam movimentos tão antigos quanto a humanidade. Lori podia senti-lo encostando-se e percebia seu desejo, que era o mesmo que o dela,
selvagem e poderoso.
- Sim, querida... - Travis suspirou em voz rouca. - Você está sentindo o mesmo que eu. Você quer o mesmo.
Ao ouvi-lo tratá-la com os mesmos termos carinhosos que usava no passado, Lori voltou à realidade como se alguém tivesse jogado nela um balde de água gelada.
Não tinha mais 18 anos. Travis não podia mais fazê-la concordar com ele apenas beijando-a. Era uma mulher independente. Voltar aos amassos com ele, mesmo que fosse
tentador, era a pior coisa que poderia fazer naquele momento. Não foi fácil deixar Travis da primeira vez. Lori não tinha certeza se conseguiria fazer isso de novo.
E cinco anos de matrimônio comprovaram que não serviam para morar juntos.
Não foram capazes de fazer funcionar o casamento, do amor que tinham um pelo outro no começo. Agora, Lori não sabia o que sentia por Travis. Não sentia nada.
- Não! - gritou enquanto o empurrava. - Não - repetiu. - Não vou deixá-lo me iludir novamente e me levar para a cama...
- Não é uma ilusão - ele respondeu, pegando a mão dela e a posicionando na parte da frente de sua calça. -Nada é mais real do que isso, querida.
Ela puxou a mão, furiosa por ter ficado excitada com aquele gesto ultrajante.
- O que é isso, um jogo? - perguntou.
- Você é quem está jogando - Travis respondeu. - A começar por aquele anúncio ridículo.
- Não era ridículo - ela afirmou. - Recebi várias respostas.
- Com certeza. Se parar em metade dos bares da cidade vai ter o mesmo tipo de resposta.
- Você é tão sutil quanto um touro - disse, ríspida, antes de dar meia-volta e deixá-lo, como se já tivesse feito isso milhões de vezes antes, o que era verdade.
Talvez não um milhão, mas muitas vezes durante os últimos anos do casamento. Irritava-se tanto com ele que não conseguia ficar na sua presença.
- Boa sorte com a sua pesquisa com esperma de garanhões - Travis gritou.
Lori mostrou-lhe o que fazer com essa frase da forma menos feminina possível. Tremia de raiva ao pegar o carro. Ficou feliz pelo fato de as rodas terem espirrado
lama no peito de Travis ao arrancar. Depois de chegar à rua principal, porém, Lori sentiu-se culpada por perder a calma, mas Travis conseguira tirá-la do sério.
Porém não deveria ter deixado que ele a afetasse daquela maneira; e, certamente, não devia permitir que a beijasse. Aquilo foi burrice.
Como foi um beijo roubado, deveria ter ficado dura como um poste e não ter correspondido. Em vez disso, derreteu-se mais rápido que a neve. Não foi nada inteligente.
O que ela estava pensando?
No fundo, não estava pensando, claro. Quem poderia, quando se está sendo beijado intensamente?
O que houve era apenas um resíduo do casamento deles. Sempre foram atraídos um pelo outro, desde o colegial. Alguns efeitos colaterais tinham de permanecer.
E foi isso que aconteceu quando ele a beijou. Ficou presa numa atração do passado.
Sim, gostava daquele termo, pois parecia que era algo do passado que poderia superar. Fizera grandes avanços desde o divórcio. Não voltaria atrás naquele momento.
Mas também sentia falta de muita coisa... sentia falta de ter alguém especial com quem dividir as novidades, com quem deitar abraçadinha à noite, alguém para cuidar
dela quando ficasse doente e para se importar com ela.
A música que tocava no rádio, enquanto ela dirigia, perguntava "quem colaria os caquinhos depois de dois tolos se debaterem". Lori pensou que a letra descrevia bem
os dois: tolos que continuavam batendo de frente.
Não fazia sentindo algum ter mantido a distância nos últimos três anos para perder o controle agora. Claro, o segredo era ficar longe. Deveria fazer isso de novo.
Esquecer Travis, ficar longe dele. Bani-lo de seus pensamentos e se concentrar em seus planos de ter um bebê.
Com o dia indo tão mal, Lori deveria ter evitado ir ao caixa eletrônico naquela noite. Mas precisava pegar dinheiro para o jantar. Para sua frustração, seu cartão
foi engolido.
- Sai! - ela gritou, batendo na máquina.
Ótimo, o que faria agora? O banco ficaria fechado até o dia seguinte.
Há momentos em que é melhor admitir a derrota e deixar a batalha para outro dia, relembrou, já de volta ao carro.
- Nunca ouvi "Jingle Bells" cantado como balada antes - Lori comentou com Virgil, após o ensaio daquela noite.
- É muito... inovador.
- Queria que tivesse um toque de Frank Sinatra, sabe? - ele comentou.
A voz de Virgil não tinha semelhança alguma com a de Frank Sinatra, mas Lori não teve coragem de lhe dizer isso.
- Certo, escutem todos vocês. - Doze pessoas se acotovelavam em torno de uma mesa. - Depois do meu solo de "Jingle Bells", vamos direto para... droga, alguém mexeu
na minha partitura. Lily Mae, foi você?
- Claro que não.
- Ele não conseguiria seguir a partitura nem se a vida dele dependesse disso, não é? - Molly sussurrou.
- O que você está fazendo aqui? - Lori perguntou.
Molly deu de ombros.
- Vim arrastada, lutei o quanto pude.
- Ah, que bom, outra soprano - Virgil disse. - Fique ali - completou, apontando o lado direito da igreja.
- As sopranos ficam do lado esquerdo - Lily Mae relembrou-lhe, recebendo em troca um olhar raivoso.
- Sei disso. Estava apenas vendo se as pessoas estão prestando atenção.
Lori ficou feliz de ver que o jovem funcionário do rancho de Travis, Tommy, estava conversando com a menina por quem se interessava enquanto dividiam um prato de
biscoitos de Natal. Claramente ele só estava no coral por ela. Os conselhos que Lori lhe dera pareciam ter funcionado.
- Parece um caso de amor - Molly notou.
- Cuidado com amor adolescente porque pode levar a uma vida de cão - Lori respondeu citando Tex.
- Quem disse isso para você?
- Uma mulher sábia.
- Nesse coral há apenas homens sábios, quanto às mulheres sábias, a escola está tentando fazer sua parte. Tudo que temos de fazer é cantar.
- No tom, de preferência - alguém acrescentou.
- Quem disse isso? - Virgil perguntou, procurando em volta pelo culpado. - Você disse isso, rapaz?
Enrubescendo, Tommy fez que não com a cabeça.
- Não vou aceitar insubordinação no meu coral - Virgil alertou. - Se algum de vocês não concordar com essa regra, pode sair agora.
Quando todos imediatamente se dirigiram para a porta de saída, Virgil gritou:
- Voltem para seus lugares! Não acabei ainda. Ainda temos de praticar "Joy to the World".
- Por que tenho a impressão de que o auto de Natal desse ano será o mais embaraçoso de todos?
Embaraçoso seria ser pega no porão da igreja com seu ex-marido, Lori pensou. Ainda evitava se aproximar da escada do porão, como se pudesse levá-la a pensar em tentação.
A verdade é que Travis era quem a estava provocando, ela estava tentando evitá-lo. Sem muito sucesso, como o beijo passional daquela tarde comprovou. Ao menos não
caíram no feno e fizeram amor novamente, como ocorreu depois do casamento de Kane. Naquela ocasião, estava se sentindo mal-amada e pouco desejada. Travis fez esses
sentimentos se dissiparem, mas abriu uma torneira de emoções.
- Vamos lá! -Virgil ordenou, e os cantores se dirigiram lentamente para seus lugares. - Certo, Lily Mae, comece a tocar.
Todos fizeram caretas quando Lily Mae tocou o piano, batendo nas teclas erradas e fazendo um som mais parecido com um relincho.
- Oh, desculpem, as partituras estavam de cabeça para baixo - exclamou ao se dar conta de que algo estava errado. - Deixe eu consertar isso... - disse, virando as
páginas e começando novamente. - Agora está melhor.
Com os braços gordos erguidos no ar, Virgil deu o sinal para todos começarem. E todos começaram... desencontrados.
- Não, não, não! - o diretor exclamou, frustrado, como se fosse arrancar os cabelos, se os tivesse.
- Como ele conseguiu esse trabalho? - Molly perguntou baixinho.
- O ex-diretor se mudou para outra cidade no mês passado - Lori respondeu.
- Consigo entender o porquê, com um grupo desses - Molly completou. - Provavelmente não quis encarar outro coral de Natal.
- Vocês duas estão de conversinha? - Virgil questionou. - Não permito conversa durante os ensaios. Diga-lhes, Lily Mae.
- Virgil não aceita conversas durante os ensaios - ela repetiu.
- Agora, se as duas terminaram, talvez possamos ensaiar a música novamente. Não temos a noite toda. Do começo...
Mas a história se repetiu.
- Talvez você possa contar - Lily Mae sugeriu.
- Contar?
- Como Lawrence Welk costumava fazer, sabe?
- Ah-um, ah-dois, ah-três! - Virgil imitou Lawrence Welk, fazendo todos rirem.
- Alguma outra grande idéia? - perguntou para a pianista, que empinou o nariz, magoada.
Na terceira tentativa deram sorte - todos começaram juntos, embora em tons diferentes.
- Melhor - Virgil disse. - Mas precisamos de mais barítonos. - Olhou para o relógio e comentou: - Estão atrasados.
- Quem está atrasado? - alguém perguntou.
- Nós estamos - Travis disse ao entrar na igreja. - Desculpem.
Lori encarou-o, surpresa. O único lugar em que vira Travis cantar fora no chuveiro. O que estava fazendo ali? E como sabia que ela estaria lá? Apesar de ter ido
à fazenda naquela tarde, não contara nada a ele nem a Tex.
- Trouxe reforços - Travis acrescentou apontando Tex e Slim a seu lado.
- Ótimo - Virgil disse. - Precisamos de mais voluntários.
- Voluntários? - Molly sussurrou. - Pensei que éramos recrutados.
- Fomos recrutados - Lori concordou, com os olhos em Travis - e iludidos.
- Sobre o que está falando?
- Travis.
- O que tem ele?
- Ele está aqui para me deixar louca.
- Lori, você não acha que está exagerando? Lori balançou a cabeça e disse:
- Apenas espere para ver.
Travis, claro, sentiu o enorme prazer em ignorar Lori durante todo o ensaio. Ela teve certeza de que ele fazia de propósito, apenas para contradizê-la.
O som da sua voz provocava nela sensações-estranhas. Sem dúvida era porque continuava a pensar nele cantando no chuveiro, nu. Com nada além de gotas de água escorrendo
pelo seu corpo, do alto de seu peito largo até o umbigo e a pélvis.
Ao voltar a si, Lori estava pelo menos três sílabas atrás das outras pessoas do coral.
- Preste atenção - Virgil gritou.
Lori viu que Travis estava rindo. Então aproximou-se de um homem alto que estava a seu lado, e ele fechou a cara. Ótimo. Não queria que pensasse que a controlava
e que se derretia toda vez que a beijava. Não funcionaria. Já experimentara aquela fantasia e não deu certo.
Algumas vezes deu certo, uma voz interior traidora a relembrou. Algumas vezes deu tão certo quanto hoje à tarde e terminou com uma enorme satisfação em vez desse
desejo insatisfeito. Atração residual, Lori disse a si mesma, tentando encobrir a voz interior, atração residual. Repetiu a frase várias vezes como se fosse uma
simpatia poderosa. Graças a Deus que a última música estava chegando ao fim.
- Estamos ensaiando há semanas e até agora não estamos melhor que antes - alguém comentou desanimado.
- As pessoas podem ser obrigadas a entrar para o coral, mas não podem ser forçadas a querer cantar - declarou Tex. Eles têm de querer por si mesmas. Talvez desejem
parecer um bando de bezerros doentes.
Todos protestaram.
- Não querem? Ótimo! O auto de Natal será daqui a três dias, pessoal. É hora de mostrarmos nossa capacidade - continuou Tex. Agora fiquem todos com a postura ereta
e ajam como se estivessem orgulhosos de estar aqui e de cantar para seus vizinhos. Ajam com o espírito do Natal e cantem com alegria. - Levantando o braço, Tex acrescentou:
- Quando eu abaixar meu braço, cantem com o coração. Juntos e afinados. Sei que podem fazer isso, agora vocês têm de provar a si mesmos. Prontos?
Lori notou que o coral inteiro fez que sim com a cabeça.
- Certo, vamos começar o show.
Tex abaixou o braço e o coral cantou... como um coral. O que faltou em harmonia sobrou em entusiasmo.
- Melhor - Tex observou. - Bem melhor.
- Também acho - Lily Mae concordou.
- Esse é o meu trabalho - Virgil reclamou. - Está roubando o meu trabalho.
Ele aproximou seu bastão do corpo como se quisesse impedir que o tomassem dele.
- Pare de reclamar - Tex respondeu, sem ficar intimidada. - Funcionou, não foi? Não os fiz cantar?
- Apenas porque eu os tinha aquecido - Virgil respondeu. - Slim, você pode manter sua esposa sob controle?
- Não - Slim respondeu. - Além disso, ela tem uma voz melhor que a maioria aqui.
- Slim, não precisa se gabar - Tex disse carinhosamente ao marido.
- Não estava me gabando, apenas dizendo a verdade - Slim respondeu, dando-lhe um abraço.
- Se ela tem uma voz tão magnífica, como nunca cantou no coral antes? - Virgil indagou.
- Porque ninguém a convidou. - Slim replicou.
- Bem, se é tão boa, por que não canta alguma coisa para nós, Tex? - O convite de Virgil estava coberto de ironia.
- Certo, Virgil, eu canto. Não preciso de acompanhamento, Lily Mae. - Tomando uma inspiração profunda, ela começou a cantar "Amazing Grace", e no momento em que
terminou todos estavam emocionados.
Lori fitou-a com espanto. Mesmo tendo morado com Tex no rancho, não sabia que tinha uma voz tão bonita. Perguntou-se se Travis sabia desse dom, mas seus pensamentos
foram interrompidos pelo som dos aplausos que demonstravam o quanto as pessoas haviam gostado da voz límpida de Tex.
- Obrigada - Tex disse, antes de dar mais conselhos a Virgil. - Eles não são soldados que você está levando ao campo de batalha, então pare de tratá-los como se
fossem.
- Talvez seja melhor você nos liderar, Tex - alguém sugeriu.
- Não, já tenho muito que fazer na fazenda. Além disso, não seria justo com Virgil, que já trabalhou bastante no coral.
- Se você pensa que pode fazer um trabalho melhor, vá em frente - Virgil sugeriu, claramente não esperando que ela aceitasse. Mas ela aceitou.
- Certo, então vamos começar de novo, do começo.
- Você sabia que Tex cantava desse jeito? - Lori perguntou a Travis depois do ensaio. Teve de dizer alguma coisa em vez de arriscar fazer uma cena ao continuar a
ignorá-lo completamente ao sair da igreja. Achou, portanto, que falar de Tex era seguro o suficiente.
- Claro que sabia.
- Então por que não sugeriu que ela entrasse para o coral antes?
- Tex pode ficar irritada com certas sugestões. Parece outras mulheres que conheço. - Travis deu a Lori um olhar indicativo.
Lori ignorou o recado. Não estava querendo deixá-lo chegar ao assunto do beijo no celeiro. Havia momentos em que o silêncio era precioso. Certamente esse era um
deles.
Vendo que não conseguiria provocá-la, Travis mudou de tática.
- O Natal está chegando. Quais são seus planos para as festas, além do coral?
- Como você soube do coral?
- Como assim? Você estava do meu lado no ensaio.
- Não, o que quero que responda é como soube que eu estaria no ensaio. E por que decidiu participar repentinamente, já que nunca cantou em público antes?
- Não sei. Depois que você me deixou, cantei em alguns bares... claro que tinha bebido umas cervejas a mais.
Lori sentiu-se um pouco culpada ao ouvir aquilo, pois sabia que Travis raramente ficava bêbado. Doía perceber que lhe causara tanta dor.
O arrependimento amoleceu sua autodefesa e a fez parar de questionar os motivos dele para entrar para o coral. Em vez disso, respondeu a pergunta que lhe fizera
antes sobre os planos para o Natal.
- Meus pais me chamaram para passar o Natal com eles, mas não posso deixar a cidade nesse momento. Uma das minhas pacientes dará à luz a qualquer hora.
- Então onde vai celebrar? - Travis perguntou.
- Vou passar a manhã de Natal no hospital para participar da distribuição de presentes aos pacientes.
- E depois?
- Planejei passar um tempo descansando em casa.
- Você será bem-vinda no rancho se quiser se juntar a nós - Travis disse.
Lori imediatamente acenou com a cabeça.
- Não, obrigada.
Ele ficou magoado com a recusa, mas Lori tinha lembranças demais na fazenda para que conseguisse passar o Natal lá - como comprovava o que acontecera naquela tarde.
Como se estivesse lendo seus pensamentos, Travis disse:
- Por quanto tempo vai fugir do passado?
- Não estou fugindo - respondeu. - Apenas não quero revivê-lo.
Segurando o rosto dela com as mãos, ele indagou baixinho:
- Foi tão ruim assim?
- Não tudo. - Percebendo que estava caindo de novo no feitiço dele, rapidamente procurou palavras como se fossem salva-vidas. - Não devia ter me beijado hoje à tarde.
- Se pensa assim, não devia ter correspondido ao beijo.
- Não correspondi ao beijo. - Mas sua negação não convenceu nem a si mesma. - Está certo, correspondi, mas foi um erro - acrescentou imediatamente.
- Sabe, estou cansado de você se referir a mim como um erro - disse ele, com raiva, indo na direção dela.
Desta vez, Lori estava preparada para fugir dele.
- E eu estou cansada de você achar que com um beijo pode me manipular a fazer tudo que quer.
- Já parou para considerar que posso estar beijando você por não conseguir me conter?
- Não.
- Então, considere. -Ao se abaixar, ele a beijou, desta vez de forma suave e gentil. - Nossa relação ainda pode dar certo - sussurrou no ouvido dela, com a voz rouca,
mesclada de bom humor e tentação.
- Só no coral - respondeu.
- Não sei se Tex vai aprovar que eu a seduza no coral - Travis observou seriamente.
Ao fitá-lo nos olhos azuis, Lori notou uma superposição do velho e do novo Travis e o resultado era um homem que gostaria de conhecer melhor.
Quem era aquele fazendeiro que a encarava? Era o homem com quem se casou anos atrás? O homem que pensava conhecer tão bem? Ou era um estranho perigoso, determinado
a conseguir o que queria? E será que realmente a desejava ou estava apenas jogando com ela? Quem era aquele homem de olhar acolhedor e pensamentos dúbios, provocando-a?
Será que seu ex-marido estava tentando se vingar por ela ter se separado dele?
Lori não sabia e não tinha certeza se era sensato descobrir.
Sete
Lori ainda resmungava baixinho ao tentar entrar em casa um tempo depois. A névoa branca formada pelo hálito quente em contato com o frio atrapalhava a visão enquanto
procurava desemperrar a fechadura da porta da frente.
Sabia bem a cura para seus males: pipoca doce e um bom vídeo. Não um vídeo natalino, que a faria se lembrar das cantigas de Natal e, conseqüentemente, de Travis.
Precisava de uma distração. Assim que entrou, correu para a tevê e para as fitas de Poldark - uma das mais bem-sucedidas séries da televisão britânica - que encomendara
pelo catálogo. O romance histórico que se passava na linda Cornualha era exatamente o que precisava para tirar sua mente das dificuldades - também chamadas de "ex-marido".
Ao pôr a fita no videocassete, Lori percebeu que as plantas perto da janela estavam parecendo murchas, então decidiu molhá-las, segurando o regador em uma mão e
o saco de pipocas na outra.
Era muito melhor com bebês do que com plantas. Desde que voltara a Whitehorn, acompanhava o progresso de cada criança que ajudara a pôr no mundo. Os primeiros já
estavam andando e falando. Ela os observava brincando no parque e se lembrava quanto fora importante para eles no começo de sua vida.
Nos últimos tempos, cada vez que passava pelo berçário da maternidade era tomada por uma necessidade incontrolável de pegar os bebês no colo para niná-los. As vezes,
fazia isso, mas descobria depois que o vazio ao retorná-los ao berço tornava-se maior ainda. Sentira o mesmo naquela tarde quando segurou Clay. Ao devolvê-lo à mãe,
parecia que seu coração estava sendo arrancado pela raiz.
Distraída, retirando uma folha seca do imbé, Lori sorriu melancolicamente por causa da analogia com as plantas. Mas era boa. Desde seu aniversário, seu desejo de
ter um filho crescera e agora estava tão arraigado quanto as raízes do imbé de cinco anos.
Já se pegara olhando a seção de bebês nos catálogos gerais. Tinha até marcado algumas páginas: uma bolsa para os objetos do bebê e uns enfeites para berço com espelhinhos
e chocalhos que chamara sua atenção.
- Chega de devaneios - disse a si mesma. - Vou pegar minha pipoca e ser transportada da terra selvagem de Montana para a terra selvagem da Cornualha.
No início, Lori pensou que o miado vinha da trilha sonora do filme. Ao baixar o volume, pôde ouvir claramente o miado vindo... da porta da frente. Puxando a cortina
para o lado, viu uma gata preta sentada no para-peito da janela e olhando para ela.
- Oh, pobrezinha.
Enquanto os dias tinham ficado mais quentes que o normal, as noites estavam abaixo de zero.
- Está pronta para entrar, gatinha?
A gata miou novamente.
Lori abriu a janela para ela entrar.
- Aqui, gatinha, não vou machucá-la - Lori disse melodicamente, estendendo a mão.
- Está frio aí fora, não quer entrar?
Demorou um pouco, mas a gata pulou para dentro da casa. Lori fechou a janela e ficou olhando-a fazer sua inspeção pela sala.
Já esperando que um dia fosse convencer o bichinho a entrar, Lori tinha comprado uma caixa de areia e ração.
- Será que você está perdida? Espero que sim - Lori disse ao preparar a caixa para sua nova visitante.
A gata, apesar de sem-teto, deu-lhe um olhar altivo como resposta.
Enquanto isso, o vídeo estava passando, embora sem volume. A gata pulou em cima do aparelho de TV e ali ficou. Foi então que Lori decidiu o nome que daria a ela.
- Demelza - disse alto.
A gata parou de se lamber e olhou para Lori como se dissesse: "Sim, o que deseja?"
- É um nome grande para uma gatinha - Lori refletiu.
Demelza, completamente despreocupada, ajeitou-se confortavelmente e fechou os olhos numa expressão de contentamento felino que fez Lori sorrir.
- Bem, Demelza, parece que você encontrou um lar - disse melancolicamente antes de deitar no sofá para assistir ao resto do episódio de Poldark.
Depois de um dia como aquele - com a dor silenciosa de segurar o pequeno Clay, passando pelo beijo passional que Travis lhe dera e o fato de o caixa eletrônico ter
engolido seu cartão, até a inesperada aparição de Travis no ensaio e o beijo que deu nela pela segunda vez - parecia apropriado terminar adotando uma gata preta,
sinal tradicional de azar. Mas Lori não era supersticiosa e tinha a intuição de que Demelza iria lhe trazer sorte.
A onda de sorte de Lori começou na manhã seguinte, quando parou no banco a caminho do trabalho. Tentara resolver o caso do cartão por telefone, mas lhe disseram
que precisava comparecer pessoalmente na agência. O acontecimento favorável foi ter de resolver o assunto com o gerente bonitão David Asher. Ele tratou Lori tão
bem que a fez esquecer a raiva com o episódio do cartão. David tinha olhos e cabelos castanhos e um olhar bondoso. Era diferente da maioria dos homens de Whitehorn,
pois apresentava um ar mais urbano que os fazendeiros da região.
Começaram a conversar e ela descobriu que ele havia sido transferido de Billings para Whitehorn há alguns meses, mas era originalmente de Great Falls.
- Verdade? - Lori disse. - Morei alguns anos em Great Falls. Numa daquelas casas de estilo vitoriano perto do Parque Gibson.
Enquanto Lori preenchia o formulário necessário para pegar seu cartão, conversaram mais. Então Lori se deu conta de que tinha de ir ou chegaria atrasada no trabalho.
- Você gostaria de sair para jantar para continuarmos nossa conversa? - David sugeriu. - Vou para Great Falls no Natal, mas volto em seguida. Que tal jantarmos juntos
na segunda-feira?
- É uma ótima idéia - ela concordou ao ser acompanhada por ele até a saída da agência. - Estarei atendendo emergências, então temos de ficar aqui em Whitehorn.
- Sem problemas. Sete horas é um bom horário? - perguntou.
- Sete está bem.
- Pego você na sua casa, então - David disse.
Ela fez que sim com a cabeça.
Chegaram à porta de vidro que se abriu para ela.
- Vejo você na segunda à noite. Feliz Natal! - disse a ela.
- Obrigada, para você também - respondeu docemente. As coisas estão melhorando. David pode ser exatamente a prescrição médica para o meu caso, pensou.
Os dias antes da noite de Natal voaram. Todas as crianças estavam desapontadas por causa da falta de neve, que derretera completamente e não tinha sido renovada.
Lori conseguira fazer seus tradicionais biscoitos e pés-de-moleque. Passou o dia beliscando, nervosa demais para comer uma refeição inteira.
Às 22h, começou a se arrumar para a missa do galo, à meia-noite. Decidiu vestir uma calça de veludo preta e uma blusa branca de pregas. Os brincos de granada adicionaram
um pouco da cor da festividade. Enquanto os colocava na orelha, lembrou que perdera mais um brinco e suspeitou que fora no celeiro de Travis, quando a beijou. Não
perguntou nada a ele porque estava tentando evitá-lo, embora não fosse tarefa fácil, uma vez que se encontravam no coral.
A verdade é que Lori tinha esperanças de ter de trabalhar naquela noite e não precisar cantar no auto de Natal, mas seu bip permaneceu silencioso. De qualquer forma,
estava posicionada perto da saída, caso o dever a chamasse.
Chegou à igreja e encontrou a maior parte do grupo já a postos. Como ela, todos vestiam preto e branco. Quando chegou perto do momento de entrarem, Tommy, que estava
tremendo e com o rosto pálido, murmurou:
- Acho que vou vomitar.
- Besteira - Tex afirmou. - É apenas nervosismo com a apresentação. - Dando-lhe tapinhas nas costas e fitando-o nos olhos, Tex continuou: - Você vai conseguir. -
E, olhando em volta para o coral agora agitado, acrescentou: - Vamos todos conseguir.
- Está nervosa? - Travis sussurrou no ouvido de Lori.
- Não estava, até você me fazer essa pergunta - murmurou, perguntando-se como ele fez para ficar tão perto dela.
Deslizando a mão sobre o braço de Lori, segurou-lhe a mão.
- O que está fazendo? - perguntou ela com desconfiança.
- Vendo se suas mãos estão tremendo. - Travis levantou-lhe a mão para olhá-la de perto, enquanto a acariciava com dedos calejados. - Hum, tremendo um pouquinho,
mas nada mal.
O tremor sutil intensificou-se pela proximidade dele.
- Sou eu quem tem treinamento na área de saúde, certo? - disse ela.
- Não vou me esquecer disso.
- Cada um em seu lugar - Virgil ordenou. - Hora de acender suas velas.
Cada membro do coral entraria com uma vela acesa e pararia em cada banco para acender a vela da pessoa sentada na extremidade, e esta acenderia a do vizinho, e assim,
vela por vela, toda a fileira ficaria iluminada.
- E se eu tropeçar e puser fogo em alguém? - Tommy perguntou numa voz trêmula e fina.
- Não se preocupe, rapaz - Virgil assegurou. - Lori tem treinamento médico. Agora todos se movam!
Lori não se lembrava de mais nada depois de ouvir isso. Exceto que ninguém se machucou. Ficar na frente do público para dar um curso sobre técnicas de parto era
uma coisa. Mas ficar na frente de metade da cidade e cantar era outra, e bem mais assustadora que imaginara. Mais de uma vez, Lori se pegou nervosamente procurando
por Travis do outro lado do grupo do coral. O olhar deles se encontrava, o que, de certa forma, dava-lhe coragem. Em determinado momento, ele piscou para ela. Lori
ficou perplexa em ver quão rápido ele se adaptara em se apresentar à platéia.
A performance de Tex de "Amazing Grace" emocionou os presentes. Virgil decidiu deixar o seu solo de "Jingle Bells" no estilo de Frank Sinatra para o ano seguinte,
quando "estivesse mais ensaiado", como ele mesmo disse, acrescentando que "sempre há um próximo ano". Em troca, Tex devolveu-lhe o posto de diretor do coral.
Ao fim da última música, "Joy to the World", Lori foi tomada pela beleza do momento - a boa vontade gerada pelo Natal, o significado espiritual da data, a esperança
de um mundo melhor, a crença de que milagres eram possíveis. A igreja estava decorada lindamente com guirlandas de flores por todos os lados, que se somavam às velas
acesas para formar uma cena emocionante que se misturava aos aromas característicos de pinho e cera derretida. Eram cheiros que lhe traziam recordações de natais
passados, quando ficava acordada até tarde, ia à igreja com os pais, sentia-se ansiosa pela visita do Papai Noel, vestia um uniforme novo para a escola e esperava
que Travis o aprovasse, e finalmente e sentava-se no banco da frente da igreja já como uma mulher recém-casada.
Casara-se naquela igreja e ali estava, depois de anos, surpresa com a esperança e a fé do momento, mas mesmo assim sentindo-se isolada de tudo. Quem saberia o que
o próximo ano lhe reservava? Seis meses atrás, tinha certeza de que seu futuro seria com Kane, que agora se sentava na igreja com a mulher a e a filha. A emoção
tomou conta dela como uma onda gigante, e teve de prender o choro.
Assim que a missa terminou, pegou o casaco e se dirigiu à porta.
- Lori, espere! - Travis a chamou.
Sabendo que estaria muito vulnerável para falar com Travis naquela noite mágica, ela saiu apressada e sozinha pela escuridão. Nevava levemente - parecia que as crianças
teriam o desejo de Natal realizado, afinal. Lori apenas esperava que seu sonho de ter um bebê também se concretizasse.
- E VOCÊ, foi um bom menino nesse ano? - Lori perguntou a um garoto com a perna quebrada.
- Apenas me dê o presente - o menino exigiu, arrancando-o das mãos dela.
- O que você deve dizer à ajudante do Papai Noel? - a mãe perguntou, incitando-o a agradecer.
- Ela está ridícula com essa roupa de duende - o menino declarou, e depois voltou a atenção ao brinquedo.
- Desculpe - disse a mãe com um sorriso amarelo. - Roger não é mais o mesmo desde que o médico colocou um pino na sua perna quebrada. É a dor, sabe?
Na verdade, era a criança e não a dor, mas Lori não teve coragem de dizer isso à mãe. Meninos mimados como aquele quase faziam Lori repensar seus planos de ter um
filho. Quase, mas não totalmente.
Arrumando o chapéu pontudo de duende, Lori foi até o próximo paciente na ala das crianças, que era um menino muito doce, e seu sorriso de gratidão tocou-lhe o coração
e fez valer a pena vestir aquela fantasia ridícula.
Virgil estava fazendo as vezes de Papai Noel naquela manhã de Natal. Era o papel ideal para ele, que não precisava de nenhum enchimento extra na sua roupa vermelha.
Danette, que não gostava da bagunça das festas no horário do hospital, encarnava uma chata à perfeição.
Molly tinha ido passar o feriado com a família.
Mary Red Deer recebera alta em tempo de passar as festas em casa. Antes de sair do hospital, ganhou de Lori um lindo macacãozinho para a pequena Kate, uma lata de
biscoitos caseiros e uma cesta de frutas para toda a família.
No geral, Lori estava se sentindo muito bem. Como se pressentisse isso, o dr. Straker apareceu, com cara de quem estava pronto para estragar sua alegria.
- E então, tem feito muitos partos em celeiros por aí? - perguntou de forma jocosa.
- Há bons exemplos de pessoas que nasceram em celeiros - Lori respondeu. - Um filho de carpinteiro, nascido em Nazaré. Celebramos seu nascimento hoje. Sabe quem
é, dr. Straker?
- Há dois mil anos talvez as parteiras fossem uma boa idéia, mas no mundo de alta tecnologia de hoje...
- São uma idéia melhor ainda - Lori o cortou.
- Certamente não ia querer que meu filho nascesse em outro lugar que não um hospital - Danette se intrometeu.
- Algumas mulheres pensam da mesma forma, e é por isso que tenho vínculo com esse hospital e dou assistência aos partos aqui - Lori respondeu.
O rosto do dr. Straker ficou tenso, em desaprovação, e suas sobrancelhas grossas se franziram. Danette fez uma versão feminina da mesma expressão.
- Quis dizer com um médico cuidando de mim... - Danette esclareceu.
- Oh, claro, desculpe se entendi mal. Várias grávidas preferem ter apoio e cuidados contínuos durante a gestação e não um médico que só aparece no momento que o
bebê põe a cabeça para fora do útero.
- A enfermeira Bains acredita em energia positiva e cantos em vez de se apoiar na tecnologia médica - o dr. Straker comentou com Danette, com um sorriso que dizia
"sabemos que ela é louca".
- As parteiras acreditam que não se deve interferir no parto apenas para tornar as coisas mais convenientes para o horário do médico - Lori disse.
- Também acreditam em Papai Noel - o dr. Straker acrescentou antes de jogar a ficha de uma de suas pacientes no balcão para ser arquivada por uma enfermeira. - Bem,
tenho de ir. Foi ótimo conversar com vocês, garotas.
Lori cerrou os dentes até sentir dor na mandíbula. Lembrou que estava numa guerra que certamente perderia se não mantivesse o controle. A carreira que escolhera
requeria lutar contra a reputação de que parteiras eram supersticiosas ou hippies da nova era.
Era do interesse do dr. Straker desqualificar as parteiras - ela em particular - porque, podendo escolher, as pacientes preferiam ter seus filhos com ela e todo
o cuidado que oferecia em vez de tê-los com o médico e sua política de altos preços, pouca compaixão e muita arrogância. Nos dias de hoje, com o aumento nos preços
da área médica, as parteiras tinham melhor custo-benefício, e Straker se sentia ameaçado com isso.
Controle conquistado e logo perdido quando Danette lhe perguntou:
- Como vai o projeto do bebê de proveta?
- Até que enfim estou em casa! - Lori murmurou ao entrar e fechar a porta. - Feliz Natal, Demelza - sussurrou quando a gata preta se enrolou em seu tornozelo.
Antes de sair de casa de manhã, Lori deixara um prato de atum para o bichano como presente de Natal. Também ligou cedo aos pais para lhes desejar boas-festas e agradecer
pela caixa de presentes que chegara no dia anterior.
Lori sempre amou as festas de fim de ano. Era seu momento do ano favorito. Adorava decorar a casa e a árvore de Natal, que enfeitava com anjos que colecionava ao
longo do ano. A guirlanda elaborada e feita à mão que pendurava na porta fora comprada no bazar vitoriano de Great Falls.
Lembranças de natais passados inevitavelmente lhe vieram à mente numa seqüência aleatória - quando passara uma manhã de Natal fazendo o parto de um menino que se
chamaria Jesus em homenagem à data, quando ganhara uma boneca loura que pediu o ano inteiro e chegara num embrulho cujo remetente era Papai Noel, quando recebera
um pequeno estojo da Joalheria Mason e encontrou um lindo anel de noivado dado por Travis.
As lembranças de Lori eram um pouco amargas - certamente, nunca esperara passar o Natal sozinha.
- Acho que seremos apenas eu e você, Demelza - murmurou para a gata, que pulou em seu colo e esfregou o focinho na mão de Lori. - Apenas eu e você.
- Temos de ir pescar na primavera para experimentar essa nova vara - Slim disse enquanto Travis admirava o presente que o caseiro do rancho lhe dera.
- É uma beleza - Travis afirmou.
- Falando em beleza, o peru está quase pronto - Tex anunciou da porta. - Em meia hora e deve estar perfeito.
- Finalmente! - o marido exclamou. - Estou com tanta fome que seria capaz de comer um urso.
-Você já comeu urso e não gostou, se bem me lembro - Tex replicou.
- Também não sou fã de carne de búfalo - Slim admitiu. - Concorda comigo, não é, Travis?
- O quê? Desculpe, não estava prestando atenção.
- Não esteve muito presente o dia inteiro, Travis - Tex observou. - Está pensando em Lori?
Travis acenou com a cabeça.
- É isso, então - disse com determinação ao limpar a mão no avental. - Nós vamos lá.
- Vamos aonde? - Travis perguntou.
- Para a casa de Lori. É nosso dever natalino - acrescentou, pressentindo que Travis protestaria.
- Como chegou a essa conclusão?
- Você disse que ela estaria em casa sozinha o dia inteiro. Temos comida suficiente para alimentar um exército. É nosso dever de cristão levar parte dessa ceia para
aquela menina trabalhadora.
- Ela não é uma menina e provavelmente vai nos mandar embora - Travis replicou.
- Ninguém me manda embora - Tex afirmou.
- Ela está certa - Slim disse sorrindo. - E não adianta discutir, Travis. Quando fica com essa cara é melhor lutar contra uma onça do que discutir com Tex.
- Certo, vamos. Apenas lembrem-se de que não foi idéia minha.
- É uma idéia boa demais para vir de você.
Lori estava sentada na poltrona, sentindo pena de si mesma apesar das roupas alegres que vestia. O suéter vermelho de pêlo de angorá era novo, um presente dos pais.
Era tradição familiar vestir ao menos uma peça nova no Natal. Já o legging vermelho e verde que usava tinha-o há algum tempo. Assim como os brincos em forma de sinos.
Não conseguiu deixar de pensar que estava bem-vestida, mas sem lugar nenhum para ir. Não que seu figurino fosse muito elaborado, não era isso. Demelza não parecia
impressionada com o estilo de Lori, mas ela já ouvira o quanto era difícil impressionar os felinos.
O som de um veículo entrando em sua garagem a surpreendeu. Antes que conseguisse levantar - Demelza estava em seu colo novamente -, ouviu batidas na porta. Lori
fez uma cara de dor porque a gata disparou e usou suas garras para isso.
- Já vou - Lori gritou, notando que ninguém batera na sua porta daquele jeito desde que Travis viera até lá para fazer um escândalo sobre ela querer engravidar.
Certamente não poderia ser... mas era.
- Travis!
Não estava sozinho. Tex estava ao seu lado e Slim logo atrás.
- Se Maomé não vai à montanha, então a montanha tem de vir a Maomé - Tex disse. - Trouxemos a ceia de Natal.
Lori olhou-os surpresa.
- Vocês realmente não deveriam ter se incomodado...
- Eu falei que ela não apreciaria o esforço - Travis disse, ainda magoado com a maneira como ela saíra correndo da missa na noite anterior.
- Não disse que não apreciei... - Lori respondeu irritada.
Colocando os dedos na boca, Tex deu um assobio que fez ambos se calarem.
- Chega, você dois. Hoje é Natal, momento de esquecermos as diferenças - disse, olhando primeiro para Travis e depois para Lori. - Agora quero que os dois apertem
as mãos e se comportem.
Lori deu a Travis um sorrisinho, que ele retribuiu em seguida.
- Pazes? - ela perguntou, estendendo-lhe a mão.
- Pazes - ele respondeu, segurando-lhe a mão um pouco mais que o necessário.
- Vamos entrar - Tex disse -, temos comida quente esfriando aqui fora.
O gelo foi quebrado quando Tex começou a organizar a ceia, ocupando a cozinha de Lori como um comandante num campo de batalha.
Sentindo necessidade de contribuir um pouco para o jantar, Lori disse:
- Fiz uma salada ontem. Vou tirá-la da geladeira. Tenho um espumante guardado em algum lugar... Ah, aqui está. Uma paciente me deu há duas semanas.
Quando ela mostrou a bebida gelada, Travis comentou:
- Que chique! E dos bons!
Lori lhe deu a garrafa e o saca-rolhas.
- Você tem habilidades manuais - ela lhe disse maliciosamente. - Tenho certeza de que consegue entender como funciona.
Lori pegou quatro copos antes de sentar para saborear o banquete que Tex preparara.
Sem ser afeito a palavras complicadas, Slim levantou o copo e disse simplesmente:
- Que consigam tudo aquilo que os faça felizes.
Então Lori se perguntou por que olhou para Travis ao brindar. Travis não conseguiria fazê-la feliz. Ela não podia pensar nessas coisas. Tinha de manter seus objetivos
em primeiro lugar. De qualquer forma, aquele dia acabara bem, embora de forma estranha. Mas no ano que vem as coisas seriam diferentes. No ano seguinte teria um
filho. Era disso que precisava para ser feliz. Não de Travis.
Oito
Segunda-feira foi um dia muito atarefado para Lori. Foi duro voltar ao trabalho depois do feriado. Dar a notícia a um casal de que eles iriam realmente ser pais
tornou as coisas mais difíceis. Ao responder as várias dúvidas e fazer algumas perguntas - a respeito do histórico médico deles e os planos para o nascimento -,
disfarçou suas emoções. Lori detestou pensar que estivesse ficando tão egoísta a ponto de negar a felicidade às outras pessoas até ter seu bebê.
Mas bastou um segundo olhar para os futuros pais que suas preocupações se dissolveram. Ficou contente apenas de olhar para eles. Quem não ficaria? Estavam tão apaixonados
e teriam um filho juntos - algo que queriam há bastante tempo.
Lori era paciente. Poderia esperar desde que estivesse agindo para conseguir o que queria.
Informações de vários bancos de esperma do país haviam chegado pelo correio naquela manhã. Além disso, Lori teria um encontro com David Asher naquela noite. Deixar
suas opções em aberto era a ordem do dia.
A próxima paciente de Lori era Sarah.
- O bebê desceu - Lori observou depois de completar o exame. - A cabeça se encaixou na cavidade pélvica.
- Não é cedo para isso? O parto não será antes de três semanas.
- Essa data é apenas uma estimativa - Lori a relembrou. - Os bebês fazem o querem.
- Não vai me medir novamente?
Lori fez que não com a cabeça.
- As medidas não são mais precisas a partir desse ponto. Até agora, o tamanho da barriga correspondia ao tempo de gestação. Impressionante, não é?
- Novas tecnologias são o máximo - Sarah brincou.
- Como o bebê vem se movimentando? Tem se deitado por uma hora todos os dias para anotar quanto o bebê se mexe?
Sarah acenou com a cabeça.
- Trouxe as minhas anotações. Lori deu uma olhada.
- Tem bastante habilidade na escrita, Sarah - observou com um sorriso. - E dom com as palavras... "o bebê dança na minha barriga" - leu.
- É bem interessante ver a minha barriga mudar quando o bebê se mexe. Não sei se Erica era ativa desse jeito quando estava na minha barriga e eu não prestei atenção
ou se este bebê é frenético - Sarah disse. - Mas valorizo muito a hora que eu e o bebê passamos juntos.
- Como vão as coisas com Tom?
- Melhores depois que você falou com ele. Obrigada.
- Sem problemas.
- Mas confesso que parece que vou explodir a qualquer momento.
Lori sorriu.
- E então, quando você acha que o bebê nascerá? - Sarah perguntou.
- Não vai demorar muito. Sua mãe a trouxe de carro? Sarah acenou com a cabeça.
- Ótimo. E você já está pré-registrada no hospital, certo?
Mais uma vez ela respondeu que sim com a cabeça.
- Já estou com as malas prontas.
- Parece então que você já está preparada. Como foi de Natal?
- Ótimo, e o seu?
- Intrigante - Lori murmurou.
Naquela noite, Lori estava um pouco atrasada, então não teve muito tempo de se arrumar para o encontro com David. Além disso, ao chegar em casa ainda encontrou Homer
lixando a parede da sala. Cumprimentando-o rapidamente, dirigiu-se direto ao quarto. Ficou tentada a usar seu vestido roxo de jérsei, mas foi com ele que terminara
fazendo amor com Travis e o pusera na pilha da lavanderia.
Acabou escolhendo um vestido clássico, estampado de vermelho e preto, com gola preta e mangas longas. O vestido fora encomendado em Boston, mas serviria muito bem
para um encontro em Whitehorn. Seu cabelo curto só precisava ser escovado, graças a Deus. Trocou os brincos de prata em forma de tartaruga pelo seu melhor par, de
pérola.
David chegou pontualmente e foi muito gentil. Lori ficou impressionada.
Ele a levou ao melhor restaurante da cidade e fez o máximo para que ela se sentisse à vontade, até que Lily Mae parou ao lado da mesa deles.
- Lori, que surpresa ver você por aqui! - exclamou. - Sr. Asher, está muito elegante hoje!
- Pode me chamar de David, por favor - disse ele, levantando-se para cumprimentá-la, o que deixou Lily Mae impressionada.
- E tem boas maneiras também - Lily Mae disse a Lori em tom aprovador.
- O que faz aqui, Lily Mae? - Apenas depois se deu conta de que poderia soar rude, embora não se sentisse confortável com a maior fofoqueira da cidade em seu calcanhar.
- Ah, alguns amigos de fora da cidade estão me visitando. Até poderia apresentá-los a vocês, se viessem a minha casa, mas não quero ser intrometida. Afinal, vocês
provavelmente não querem ninguém segurando vela.
Lori não soube o que dizer e ficou em silêncio. David fez o mesmo.
- Bem, foi ótimo vê-los - Lily Mae disse, acenando.
Ótimo, o fato de que David e ela saíram juntos seria divulgado por toda a cidade. Não que isso incomodasse Lori, não tinha nada a esconder; era solteira, na verdade,
divorciada. E ter passado o Natal com Travis não significava que devia algo a ele. Foi, na verdade, idéia de Tex ir até lá.
Olhando para David, Lori concluiu que estava fazendo a coisa certa em sair com ele. Já era tempo de retomar sua vida.
- Não estou há muito tempo na cidade - David disse -, mas sei que Lily Mae se ocupa muito com a vida dos outros.
- Ela sabe tudo o que acontece na cidade. Ou pelo menos gosta de pensar que sim. Mas Virgil tem lhe dado um banho no quesito fofoca.
- Virgil?
- O cozinheiro do Hip Hop Café.
David acenou com a cabeça.
- Certo.
- E então, o que acha de Whitehorn até agora?
- Parece uma boa cidade.
- Sim, é - Lori disse. - Mas há momentos em que sinto falta de algumas coisas de Great Falls, como a feira na praça Paris Gibson. Eu costumava ir sempre e me esbaldava
com o artesanato.
David acenou com a cabeça.
- Não há muitas coisas acontecendo aqui em Whitehorn, mas, com a universidade em Bozeman, a civilização não está tão longe.
Ao terminarem de jantar, ela ficou muito feliz de ter conhecido David no banco. Fazia-lhe bem, pois distraía sua mente de Travis. E era um possível candidato com
quem realizar seu objetivo de ter um filho. Além disso, era mais pé no chão que Travis e, quando conversaram sobre família e crianças, Lori notou que tinham opiniões
parecidas.
Apesar de estar ressentida com os homens, também era verdade que morava numa cidade pequena e preocupava-se com o que as pessoas comentariam caso tivesse um filho
por meio de um banco de esperma ou outro método pouco convencional. Estava apenas analisando todas as suas opções - exatamente como dissera a Travis.
Não que Lori estivesse pensando em Travis, porque não estava. Pensava, sim, que estava sendo o centro das atenções de Lily Mae, o que explicava por que ficou nervosa
quando David a ajudou a levantar da mesa ao saírem. Ela acabou pegando a bolsa de cabeça para baixo e derrubando metade do que havia dentro no chão. O batom voou
em uma direção, enquanto o bip foi em outra e a carteira numa terceira.
Sentindo o rosto corar, Lori imediatamente se abaixou para pegar as coisas. David galantemente foi buscar o batom, enquanto ela pegava a carteira e o bip. Só então
percebeu que seu bip não estava funcionando.
Como aquilo poderia ter acontecido? Estava funcionando bem naquela manhã, quanto esteve no hospital. Danette tinha feito algum comentário desaprovando-a de colocá-lo
sobre a mesa das enfermeiras enquanto vestia a fantasia de duende.
- Com licença, David, tenho de ligar para pegar minhas mensagens - Lori disse, rezando para que ninguém tivesse ligado.
Mas suas orações não foram ouvidas - informaram-lhe que estavam tentando encontrá-la há uma hora. Uma de suas pacientes se envolvera em um acidente de carro com
o marido e estava na emergência do hospital de Whitehorn.
Pálida, Lori disse a David que precisava chegar ao hospital o mais rápido possível.
- Fico feliz que finalmente tenha decidido se juntar a nós - o dr. Straker disse com sarcasmo. Ao vê-la de vestido, acrescentou: - Deixou um encontro romântico?
Dizer-lhe para calar a boca não seria apenas politicamente incorreto, mas a colocaria em maus lençóis com a administração do hospital. Mesmo assim ficou tentada.
- Qual é a condição da paciente? - perguntou.
- A prenhe estava histérica quando chegou.
Lori pensou que Straker conseguiria levar qualquer um àquele estado. Referir-se à paciente como prenhe poderia até ser correto, mas era desumano, e Lori detestava
aquele termo, justamente por isso Straker ò usava.
- A pressão sangüínea dela estava elevada - acrescentou.
Lori pensou que a de qualquer um estaria, pois Straker causava isso.
- Algum osso quebrado? Sangramento interno? - questionou.
- Já ia chegar nesse ponto - respondeu ele com prazer.
Lori estava tentada a arrancar a ficha da mão de Straker. Sabia que demorava de propósito. Mas nem mesmo ele arriscaria a vida de um paciente, portanto o jogo que
estava fazendo significava que a vítima não tinha risco de morte.
- Estava prestes a realizar um exame interno...
- Nem pense! - Lori murmurou.
- O que disse? - o dr. Straker indagou.
Sabendo que o confronto não a levaria a lugar nenhum, respeitosamente respondeu:
- Quis dizer que ela já passou por muitos traumas. Seria melhor para a paciente se eu a examinasse.
Na verdade, poderia ter dito que seria definitivamente melhor, mas evitou provocar Straker.
- Temos um monitor fetal ligado a ela - o médico disse. - Verificamos os batimentos cardíacos e parecem bons.
Lori olhou para o exame e concordou.
- Fiz um ultra-som nela e não vi problemas, não há hemorragia.
Não dava para criticar o atendimento de Straker, mas Lori desejou ter estado lá para socorrer sua paciente, Rita Brooks, que estava na 30a semana de gravidez. O
dr. Straker finalmente concordou em deixá-la fazer o exame interno, caso achasse apropriado. Lori passou as horas seguintes assegurando à paciente e ao restante
da família que o acidente de carro não fora grave e que a condição dela era boa - não houve trauma nem à mãe nem ao bebê.
Quando Lori terminou de falar com a mãe de Rita, percebeu que David ainda a esperava.
- Um gentleman não abandona uma moça no primeiro encontro - disse ele, com um sorriso charmoso. - Como está sua paciente?
- Vai ficar bem, graças a Deus. Não posso acreditar que meu bip não funcionou. Nunca tive um problema assim antes. E sempre verifico de manhã, mas hoje estava com
pressa...
- Mas deu tudo certo no final - David disse.
Lori acenou com a cabeça. Apesar de ter trocado a bateria recentemente, parecia que ela acabara do nada. Não fazia sentido.
Ao voltar para casa, não parou de pensar na confusão. Normalmente não cometia erros. O que teria acontecido se não derrubasse a bolsa? Ficaria mais duas horas sem
saber de nada. E se o acidente fosse grave, pondo a grávida em parto prematuro? Lori tinha tanto orgulho de estar sempre disponível para suas pacientes. Sentia que
devia a todas elas aquele alto grau de profissionalismo. E achou que decepcionara Rita ao cometer um erro naquela noite.
Quando David parou em frente à casa dela, Lori disse:
- Sinto muito que a noite não tenha saído como planejamos.
- Tudo bem. Podemos assistir um filme no Roxie qualquer noite dessas.
- Quer dizer que você está disposto a tentar novamente?
Ele fez que sim com a cabeça.
- Que tal no ano-novo? Imagino que já tenha planos...
- Na verdade, não tenho - respondeu ela.
- Tem algum lugar onde queira ir?
- Que tal você vir na minha casa? Quero dizer, posso fazer o jantar e podemos alugar uns vídeos. -As opções de lazer em Whitehorn eram um pouco limitadas. - Não
parece muito divertido...
- Parece ótimo - David disse ao acompanhá-la até a porta da frente. O beijo foi tão charmoso quanto ele. Ao vê-lo partir, Lori disse a si mesma que era melhor o
charme do que a paixão ardente. Mais seguro, também.
Na quarta-feira, Travis passou no Hip Hop Café para comer a tradicional torta de cereja. Desta vez, Virgil esperou que comesse metade da torta antes de envenená-lo
com a última fofoca.
- Lori está correndo atrás de um bancário - anunciou com gosto.
Travis arregalou os olhos.
- Não estou inventando - Virgil insistiu. - Pergunte a Lily Mae. Ela os viu no restaurante juntos. O homem é algum figurão de outra cidade e é o novo gerente do
banco. Provavelmente tem grana.
- Trabalhando num banco, duvido - Travis respondeu, perguntando-se quem seria o cara.
- Ele dirige um Corvette com rodas trabalhadas. Todas as moças querem sair com ele. Tive um desses carros há alguns anos, por isso lhe digo, ele leva as mulheres
à loucura.
- Não a Lori - Travis afirmou.
- Por que não? Ela já está com os hormônios à flor da pele. Adicione a isso um Corvette e pode dar alguma coisa que pegue fogo. Não esqueça como as mulheres ficam
quando querem um filho - Virgil advertiu. - Não há nada que as faça parar. Não lembra que foi assim que minha segunda mulher me prendeu?
- Lembro - Travis disse com tristeza.
- Sabe, vi vocês dois discutindo lá no supermercado... Aquilo podia ser uma briga, mas havia muita química entre vocês.
O olhar que recebeu de Travis fez Virgil engolir em seco e dar dois passos para trás.
- Não que isso seja assunto meu, claro. Não tenho nada a ver com isso. Ao contrário da Lily Mae, acho que em vida de marido e mulher ninguém deve meter a colher.
- Onde está metendo a colher? - Homer perguntou ao sentar do lado de Travis no balcão. - O que um homem precisa fazer para conseguir uma xícara de café por aqui?
- Só precisa pedir! - Virgil exclamou.
- Estou pedindo há cinco minutos, sentado ali - Homer apontou por sobre os ombros - naquela mesa. Mas vocês estavam tão ocupados conversando que nem notaram.
Virgil pôs a xícara na mesa com tanta força que quase rachou.
- Aqui, tome isso - disse ao colocar os resíduos da cafeteira dentro da xícara.
Homer apreciou a bebida.
- Quanto mais forte melhor - afirmou. - Olá, Travis, como vão as coisas?
Travis ficou tão surpreso com a iniciativa de Homer de puxar conversa que esqueceu por um tempo a raiva que a indiscrição de Virgil lhe causou.
- Já estiveram melhores - lamentou.
- Sim, sei como é. Já eu ando bastante ocupado pintando a sala da casa da parteira. Ela escolheu uma tinta que se chama Calipso, veja se isso é nome de tinta!
Travis fez que não com a cabeça. Então Homer estava trabalhando na casa de Lori, hein? Talvez conseguisse alguma informação sobre as atividades dela. Mas com poderia
fazer isso com o fofoqueiro do Virgil escutando.
- Que tal se formos para aquela mesa ali? - Travis sugeriu.
- Para mim está bem - Homer concordou. Pareceu que Virgil ficou irritado de ser deixado de fora da conversa.
- Aquela raposa velha fofoca como uma mulher - Homer falou de Virgil. - Claro que se eu disser isso perto da parteira ela me dá um tapa por insultar as mulheres.
Ela é brava. Não leva desaforo para casa, não é?
- Não.
- Alguns homens gostam de mulher assim. Aquele cara do banco parece que leva numa boa.
- É mesmo? Como você sabe? - Travis perguntou.
- Porque apareceu lá outro dia para levá-la para jantar. Eu ainda estava pintando a parede da lareira, então o vi chegar.
- Ela saiu de vestido?
- Como?
- Lori estava de vestido?
- Por que eu deveria saber? - Homer disse. - Apenas me lembro de que ela estava vestida, só isso.
Já era um consolo. Ao menos não saíra despida. Travis sabia que Lori só usava vestido quando queria impressionar alguém. Da última vez que a vira de vestido foi
no casamento de Hunter. E veja o que aconteceu. Sentiu o suor na testa.
- O cara estava dirigindo um Corvette? - perguntou.
- Era um carro vermelho - Homer respondeu. - Um daqueles rebaixados que dá trabalho para entrar e sair.
- Certo.
- Sabe, pensando bem - Homer refletiu - parece que ela estava sim de vestido.
- Ah, que ótimo! - Travis disse alguns xingamentos baixinho.
- Se disser essas coisas na frente de uma mulher, pode acabar na cadeia - Homer o relembrou.
- Lori estava namorando Kane antes de sua filha voltar para cá, sabia? - Travis perguntou, relembrando-o desse fato sobre o genro dele.
- Ouvi falar. Não há nada que passe despercebido pelas pessoas dessa cidade. É por isso que gosto de viajar, para não ficar preso aos acontecimentos daqui - Homer
disse. - E na primavera planejo sair fora.
- Sei bem o que quer dizer. Cada vez que venho à cidade, escuto coisas que fazem minha pressão subir - Travis disse. - E então, qual foi sua impressão desse canalha
do banco, Homer?
- Que canalha do banco?
- O cara que levou Lori para jantar.
- Parecia bem normal.
- Normal? O que isso significa?
- Bem, Travis, não dei ao moço um teste de personalidade antes de sair. Estava apenas por lá preparando a parede para ser pintada.
- O que ele disse a ela? - Travis pressionou, impaciente. - Q que ela disse a ele?
- Ei, fica frio. Era o primeiro encontro deles. Não acho que você tenha motivo para ficar preocupado ainda. - Esperando até Travis relaxar, Homer acrescentou: -
Claro que isso não significa que não terá de se preocupar em breve. O cara parecia bem entusiasmado e ela estava muito bonita naquele vestido.
- Pensei que não reparasse nessas coisas.
Ele deu de ombros.
- Ela estava com brincos de pérola na orelha.
Maravilha. Travis lhe dera brincos de pérola no primeiro aniversário de casamento deles. Em cima de sua cômoda ainda estava o brinco de ametista que ela usava quando
fizeram amor. Ficara com ele porque não queria devolver uma coisa que o lembrava do momento de paixão que tinham vivido. Depois de se beijarem na quarta-feira, quando
ela saiu correndo, encontrou outro brinco, desta vez um de prata com um penduricalho em forma de pena. Era como se Lori estivesse deixando um rastro de brincos que
o levariam de volta a ela.
Lori estava fazendo cópias da papelada, em três vias, na mesa das enfermeiras, quando ouviu Danette falando dela para unia enfermeira da seção:
- Ela diz que não aprova a posição de litotomia para o parto. Como se soubesse mais que os médicos que passaram anos estudando...
- Normalmente arrancando a criança com o fórceps para não gastar muito tempo no parto - Lori interferiu.
Danette engasgou.
- E se vai fofocar, Danette - continuou -, é melhor que saiba a história direito. O que eu disse é que a posição de litotomia foi criada para a remoção de pedras
nos rins. Litotomia significa exatamente a operação de remoção de cálculos, pode olhar no dicionário. No século XIX, os obstetras copiaram a posição de deitar com
as pernas para cima que era usada para as litotomias. Como parteira, cuido dos partos, não removo pedras. Entendeu? - Sem esperar por resposta, sorriu para a enfermeira
com quem Danette conversava, que também lhe sorriu, e se retirou.
Chegou em casa naquela noite e encontrou um homem franzino e careca na sua porta que lhe deu um olhar tão desamparado que a fez perguntar;
- Posso ajudar?
- Vim por causa... - o homem fez uma pausa e limpou a garganta - por causa... - parou novamente.
Com pena, ela disse:
- Por acaso foi Travis que o enviou? O homem confirmou com a cabeça. Lori suspirou. Era o que precisava.
- Então, quanto perdeu para ele no jogo?
- Trezentos e cinqüenta. Sou o contador dele. Não faço esse tipo de coisa, juro. Mas o Travis sabe ser bem persuasivo.
- Quando resolve convencer alguém, pode fazer um esquimó comprar um freezer - Lori concordou. - Apenas achei que tinha deixado claro que essa brincadeira não tem
mais graça.
Na verdade, não lembrava se realmente havia dito isso a Travis quando o confrontara na fazenda alguns dias atrás. Será que falou especificamente para ele não mandar
mais ninguém lá? Por causa do beijo que a distraiu, Lori não lembrava com precisão.
Mas isso não importava. É claro que Travis não estava levando nada a sério. Escreveu rapidamente um bilhete, colocou num envelope e deu ao contador.
- Leve isso a ele, certo?
O homem fez que sim com a cabeça, parecendo aliviado de ser liberado tão facilmente.
- Hoje à noite, se possível. Ficarei grata - Lori acrescentou com um sorriso persuasivo.
- Deixe comigo - respondeu.
Travis estava na sala de estar, conferindo os livros da fazenda, quando o contador entrou.
- Ei, chegou bem na hora, estava acabando de ver os pagamentos de impostos...
- Não vim aqui por causa dos impostos, mas para lhe dar isso. - O homem jogou o envelope para Travis.
- O que é?
- E da sua ex-mulher.
- Ah, é? - Seu tom de voz era esperançoso.
Mas a esperança desapareceu assim que viu a letra de Lori: "Não se preocupe em me mandar mais candidatos, encontrei o homem certo para o posto".
Nove
Travis tentou controlar o pânico que o sufocava e que fazia seu sangue fervilhava. Ao longe, ouviu Tex dizer:
- Seu contador saiu às pressas. Travis, você está com o rosto pálido, foi alguma notícia ruim?
Travis lhe passou o bilhete em silêncio.
- Nossa! Concordo que não são notícias boas.
- Agora o que devo fazer?
- Bem, se eu fosse você, não teria mais más idéias - Tex aconselhou.
Com a cara amarrada, Travis acenou com a cabeça.
- Não me diga o que não fazer, mas sim o que fazer.
- Primeiro me responda: o que quer com Lori? Você tem interesse em casar com ela novamente?
- Não sei. Não cheguei tão longe.
- Mas é melhor chegar. Lori não é mais uma adolescente, ela cresceu e tem vida própria agora.
- Com certeza - murmurou.
- Se a quiser, você terá de conquistá-la, como qualquer outro homem.
- Como o bancário, você quer dizer.
Tex ficou confusa.
- Que bancário?
- Um cara que tem um Corvette e com quem ela está saindo. O candidato que ela encontrou, um bom prospecto de pai e marido.
- Bem, você também daria um excelente pai e marido - Tex argumentou.
- Lori não achou o mesmo da primeira vez - Travis disse baixinho.
Tex pôs a mão sobre o ombro dele para lhe assegurar:
- Se Lori não o quer mais, por que você acha que fica tão incomodada na sua presença? Vi a expressão no rosto dela quando saiu correndo daqui outro dia.
- Ela estava com raiva.
- Aquele brilho nos olhos não era só de raiva, posso garantir - Tex afirmou. - Lori ainda tem sentimentos por você, mas não quer admitir. E acho que ela está usando
esse bancário para esquecê-lo.
- Talvez eu deva desistir dela.
Tex tirou a mão do ombro dele e fitou-o seriamente.
- Talvez você deva, se não sabe o que quer - disse asperamente.
- Droga, eu sei o que quero! - Travis exclamou. - Eu a quero de volta e vou fazer tudo que precisar para conquistá-la.
- Bem, tudo que precisa é de um plano.
- Certo, Tex, um plano. Obrigado. - Beijou-a no rosto e saiu dançando pela sala.
-Apenas lembre que você tem de conquistá-la, Travis. Nunca precisou fazer isso antes.
Tex tinha razão. Quando pediu Lori em namoro, ela disse sim e só.
- Consigo flertar - Travis afirmou. - O quão difícil pode ser? Apenas preciso comprar flores e bombons, certo?
- Acho que vai precisar de mais do que isso, mas já é um começo - Tex disse. - Você terá de esquecer a raiva, o divórcio e terá de tratá-la como uma mulher que acabou
de conhecer e por quem sente-se verdadeiramente atraído.
- Sem problemas - Travis afirmou. Afinal, sentia-se realmente atraído por ela.
Depois de tocar a campainha, Travis nervosamente mexeu na aba do chapéu de feltro preto e agitou os ombros debaixo da jaqueta de couro. Trazia na mão uma caixa de
bombons que comprara na promoção. Não escolhera pelo preço, mas pelo tamanho - pegara a maior caixa que havia. Mas talvez devesse ter escolhido algo menor e mais
discreto, como os chocolates importados sobre os quais ouvira falar. Droga, ele não era um especialista. Até mesmo para cerveja preferia as nacionais.
Enquanto esperava olhou para baixo, para as botas, e esfregou-as na calça jeans para lustrá-las. Havia calçado suas botas de couro de cobra, as mais bonitas que
tinha e que usara no dia do casamento de Kane, quando fizera amor com Lori. Depois sua atenção passou para as flores. No supermercado um atendente lhe disse que
não erraria se levasse rosas, que agora estavam congelando do lado de fora. Talvez aquilo tudo tenha sido má idéia. Talvez devesse ir embora. Mas era tarde para
entrar em pânico.
A porta se abriu. Lori vestia uma blusa de flanela e jeans preto. Ao vê-lo, perguntou:
- O que é isso?
- Flores - respondeu quase jogando o buquê em cima dela. - E chocolates... - A caixa veio em seguida.
- Você precisa melhorar sua apresentação - advertiu secamente.
- Está querendo dizer que não sou tão polido quanto o cara do banco? - devolveu ele, magoado com a crítica.
- Ah, então é por isso que está aqui - disse, desapontada.
Travis suspirou. Não estava indo bem. Você vai conseguir, encorajou-se.
- Posso entrar por um minuto?
- Sim, pode.
Percebeu que ela cheirou as rosas que lhe dera. Pensou ter feito a escolha certa, afinal. Mas gostaria de saber o que o bancário lhe trouxera.
- Quer que eu guarde seu casaco? - perguntou. Estavam progredindo - da última vez deixara-o de pé na porta. Talvez devesse ter vestido algo mais chique para cortejá-la,
mas havia colocado seu melhor par de botas e roupas limpas. Até mesmo colocara uma cueca nova antes de sair. Não porque pensava que fosse se dar bem com Lori, afinal
seu objetivo era cortejá-la, não levá-la para cama - embora essa idéia fosse tentadora.
- Quer um cafezinho? Acabei de passar - disse, tratando-o como visita.
- Aceito.
- Pode sentar - disse a ele, que parecia enraizado onde estava. - Não repare na bagunça, estou fazendo uma reforma - acrescentou nervosamente. - Homer disse que
vai terminar logo. Ele não gostou da cor, mas eu acho que ficou ótimo.
Percebeu que o olhar dele percorreu as paredes cor-de-rosa. Ela continuou:
- Fui comprar o sofá em Great Falls porque achei que deveria ver se era realmente confortável. Então fiquei sentada nele por três horas... certamente pensaram que
eu era maluca, na loja.
Você está falando como uma matraca, Lori se repreendeu. Como se Travis fosse ligar para sua história de decoração. Admitiu para si mesma que, estava nervosa, mas
quem não estaria com o ex-marido aparecendo com flores e bombons?
Francamente, a maioria das mulheres não tem o tipo de ex-marido que você tem, disse aquela voz interior chata. E certamente não fazem amor com ele na igreja.
E então, por que tinha de ser diferente? O que a atraía tanto em Travis? Certamente era um homem muito sexy. Depois do divórcio, várias mulheres correram atrás dele,
mas ele nunca namorou ninguém seriamente.
Durante o casamento, Travis nunca olhara para outra mulher. E então, o que dera errado?, perguntou-se pela milésima vez. A explicação que Tex lhe dera, sobre serem
muito jovens quando casaram, era a melhor até agora. Mas deixava aberta a possibilidade de que agora que estavam mais velhos poderiam fazer a relação funcionar.
Mas o que era necessário para um relacionamento dar certo? Lori não sabia.
- E o que você achou da pintura?
- É bonita, diferente da fazenda. Mas é a sua cara, leve e alegre ao mesmo tempo.
Percebeu, pelo tom de voz, que Travis também estava nervoso, e ficou surpresa. O desconforto dela se dissolveu de imediato ao tentar fazê-lo relaxar.
- É besteira ficarmos tão nervosos, sabe?
- Quem disse que estou nervoso? - defendeu-se, logo percebendo que dedilhava agitadamente o chapéu.
- Estou nervosa também. O que é ridículo, considerando que passamos metade da vida um com o outro - ela comentou.
- Achei que poderíamos fingir que acabamos de nos conhecer - disse apressadamente.
- Por quê?
- Porque assim seria mais fácil começar de novo.
- Começar de novo? - repetiu com cautela.
- Poderíamos nos conhecer como se fosse a primeira vez. Afinal, nós dois mudamos muito desde o divórcio. Não acha?
Por que fui perguntar isso? É claro que ela vai discordar, Travis pensou.
- É verdade, mudei bastante desde a separação - Lori reconheceu.
- Eu também.
- Em que você mudou?
- Fiquei cinco anos mais velho, para começar.
- Apenas isso?
- Claro que não. - Travis se esforçou para dizer algo.
- Fiquei mais maduro. - Isso soou bem.
- De que maneira?
- Droga. Eu mudei, apenas confie em mim, está bem? - disse, já irritado.
- Não parece que você mudou muito.
- Bem, admito que algumas coisas não mudaram - Travis murmurou. - Algumas coisas não devem se alterar, como isso... - disse ao passar o dedo indicador ao longo do
braço de Lori. Sentiu um prazer proibido percorrer-lhe o corpo.
- Pensei que queria fingir que acabamos de nos conhecer - desafiou-o.
- Tudo que fiz foi tocar no seu braço - disse ele, bancando o inocente.
- Foi a maneira como me tocou. - Embaraçada com o que estava admitindo, Lori recompôs as palavras. - Quero dizer, você está tentando chamar minha atenção deliberadamente.
- Isso é um crime?
- O que você quer, Travis?
- Você.
Era o que temia, mas ouvi-lo admitir foi como receber um choque elétrico no coração.
- Primeiro você diz que quer começar do zero, para me conhecer novamente, e depois fala diretamente que me quer - disse, um pouco trêmula.
- Você preferia que eu mentisse? - perguntou.
- Está sendo presunçoso, especialmente com uma pessoa que acabou de conhecer. - Lori suspirou. - Não vai funcionar. Não conseguimos nem mesmo conversar sem discutir.
- Já fizemos isso antes - relembrou ele. - Não recentemente, admito. Mas pode ser feito. Estou disposto a apostar uma volta na égua de sua escolha do meu rancho.
Ofereceu algo que seria difícil para ela resistir, pois amava cavalgar e a primavera seria um momento perfeito para isso, com o vento soprando no rosto e a total
harmonia com o animal.
- E se perder? - perguntou ela. - Terá de abrir mão de algo importante para você.
Algo importante? Já tinha aberto mão dela quando se divorciaram. O que mais queria dele?
- Suas botas. Terá de ficar sem elas por dois meses.
- Certo, se perder fico sem minhas botas por dois meses. E o que você vai oferecer se perder? Parece que você está levando vantagem nessa negociação - completou
ele.
- Se nenhum de nós discutir, posso montar a cavalo quando quiser e você fica com suas botas.
Foi o brilho nos olhos dela que o fez concordar com essa loucura. Seria capaz de tudo para ver aquela expressão em seu rosto.
- Combinado.
Apertaram as mãos. Houve um momento estranho de silêncio enquanto procuravam um assunto que fosse pacífico.
- O dia está lindo - disse Lori.
- Não vale falar do tempo - Travis acrescentou.
- Você não disse que não podia falar do tempo quando fizemos a aposta. Você está tentando roubar - acusou ela.
- Está discutindo? - respondeu.
- Não. Deve haver coisas sobre as quais concordamos.
Os dois mencionaram uma lista imensa de pratos deliciosos de que ambos gostavam. Biscoito de chocolate, as comidas da Tex, manteiga de amendoim...
- Você reparou que até agora só falamos de comida? - Travis perguntou secamente.
- Provavelmente é porque estou faminta - Lori admitiu. - Você me acompanha para o jantar? - perguntou timidamente.
- Acompanho - respondeu ele, depois de hesitar um pouco.
Ao segui-la até a sala de jantar, Travis reparou que os móveis de Lori eram mais chiques que os que tinham na fazenda. Tudo combinava. Pensar nisso o ajudava a desviar
o pensamento sobre como Lori estava linda naquele jeans preto que vestia. A calça lhe apertava na parte traseira como ele próprio gostaria de fazer, embora estivesse
tentando se comportar ao máximo.
E estava funcionando, afinal fora convidado a entrar e jantar. Nem mencionara que comera antes de sair da fazenda. Não desperdiçaria aquela oportunidade.
Lori serviu o ensopado numa louça fina que combinava com os pratos. Depois de provar, Travis disse:
- Está uma delícia.
- Maris me deu a receita.
- Como estão ela, Luke e o bebê? - Travis perguntou.
- Bem, mas não temos nos falado muito.
- Por que não? Ela é uma das suas amigas mais antigas... vocês brigaram?
- Não, apenas ando ocupada. - Além de não querer ouvir a opinião de Maris sobre sua decisão de ter um filho, sobre a qual tenderia a discordar. Também não queria
que soubesse quanto invejava o fato de Maris ter um filho. Desejava tudo que a amiga tinha: estabilidade, felicidade e uma criança. Mas queria também um marido?
Lori não tinha certeza disso. Era uma das coisas sobre a qual ainda havia decidido.
- Não fiz nada de sobremesa - confessou.
- Você tem o chocolate que acabei de lhe dar. - Trazendo-lhe a caixa, Travis acrescentou: - Escolha um.
Ela escolheu um bombom de chocolate meio amargo com recheio de cereja ao licor. Travis pegou qualquer um, distraído ao ver Lori lamber o recheio que escorrera sobre
o lábio. Os olhares se cruzaram. Ela sentiu o desejo nos olhos de Travis como se fosse uma chama acesa. Ao se deter sobre a boca de Lori, os lábios dele tremeram
ao imaginar um beijo, o que provocou sua libido.
O momento especial foi interrompido por Demelza, que entrou na sala e saiu correndo em disparada depois de ver Travis.
- Adotei essa gata, chama-se Demelza.
- O que a fez pegar uma gata de rua?
- O olhar que ela me deu.
Travis queria saber que tipo de olhar era aquele e se poderia adaptá-lo. Talvez funcionasse para ele também. Não que quisesse vir morar com Lori. Aquela casa era
muito pequena para ele. Precisava de um lugar com espaço. O coração dele estava na fazenda. E com Lori?, uma voz em sua cabeça perguntou.
Lori queria saber em que Travis estava pensando. Não sabia lidar com esse novo Travis, que lhe trazia flores e chocolate - este era difícil resistir. Lori perguntou-se
se aquela atitude dele era porque se sentia ameaçado por David Asher.
Está certo que namorou Kane, mas por alguma razão Travis não o via como adversário - provavelmente porque não era, Lori admitia. Mas naquela época ainda procurava
o homem perfeito, agora estava disposta a ficar com um bonzinho. Talvez "ficar com" fosse o termo errado, mas na verdade Lori parará de procurar a perfeição. Agora
apenas almejava construir uma vida para si e o bebê que tanto queria. E apesar de haver várias opções para uma mulher solteira engravidar, Lori não vivia na mais
liberal das cidades, e isso a dividia.
Além disso, acreditava muito nos valores de família e não desejava criar um filho sozinha. Uma criança precisava de pai e mãe, pois cada um dava contribuições diferentes
para o seu desenvolvimento. Por outro lado, Lori não queria viver uma mentira ao casar com qualquer homem só para fazer o que é certo para os padrões da sociedade.
O silêncio mútuo foi interrompido pelo bip de Lori tocando. A ligação era de Sarah.
- Está na hora - ela disse ofegante.
- Nos encontramos no hospital - Lori respondeu. Voltando-se para Travis, informou-lhe: - O dever me chama, tenho uma paciente em trabalho de parto.
Ao sair de casa, a nevasca estava pesada e a previsão meteorológica era para vinte centímetros de neve, nada que seu carro com tração nas quatro rodas não pudesse
agüentar. Mas, quando deu a partida, o carro não pegou. Ela entrou em pânico. Isso nunca acontecera antes. Travis levantou a capota do carro, mas não conseguiria
consertá-lo imediatamente.
- Tenho a impressão de que é o alternador, mas não há nada que eu possa fazer agora. É melhor que eu a leve ao hospital. Fica a caminho da minha casa de qualquer
maneira.
- Ótimo, obrigada.
Ao entrar no carro com ele, Lori teve a impressão de que estava cruzando um ponto do qual não haveria retorno. Desceu na frente do hospital e pareceu-lhe ouvir Travis
dizer alguma coisa sobre esperá-la. Os pensamentos dela já estavam na paciente ao pegar a escada em vez do elevador até a maternidade. Mas teve a falta de sorte
de encontrar o dr. Straker.
- Decidiu chegar cedo hoje - provocou-lhe. - Deixe-me lhe dar um conselho de amigo, se fosse você me comportaria bem.
- Você não é meu amigo, Straker - Lori disse baixinho. E mais alto, completou: - Se me der licença, tenho uma paciente para atender.
O dr. Straker viu Lori se retirar, perguntando-se quem era ela para dispensá-lo daquela maneira. Nada além de uma parteirazinha de meia-tigela. Se conseguisse o
que queria, Lori Bains não ficaria muito tempo naquele hospital.
- Você ainda por aqui, dr. Straker? - Danette observou com um sorriso. - Pensei que já tivesse ido, antes de a nevasca piorar.
- Já estava de saída - o dr. Straker respondeu. - Estava apenas esperando Mary Jo.
- Mary Jo Kincaid? - Mary Jo era casada com Dugin Kincaid, o único sobrevivente da família mais rica de Whitehorn e, portanto, alguém que Danette respeitava.
- Isso mesmo. Eu a vi na recepção mais cedo. Veio visitar uma amiga que está doente. Disse que está com medo de voltar dirigindo para casa e me pediu uma carona.
- Você é um bom samaritano - Danette disse com admiração.
- Faço o que posso - o dr. Straker disse. - Vejo você amanhã.
Mary Jo estava esperando na saída. O dr. Straker segurou-lhe o braço de forma cortês e a levou para seu Cadillac branco.
Dentro do veículo, Mary Jo perguntou:
- Tem certeza de que não é arriscado deixar meu carro aqui?
Errol Straker deu-lhe tapinhas nas costas e depois deslizou a mão para acariciar-lhe o seio.
- Pare de se preocupar.
Ela soltou um gritinho de prazer e não de raiva - gostava das carícias de Straker. E de poder participar de jogos e armações com ele, que a compreendia mais do que
ninguém naquela cidade, até mesmo que o próprio marido.
- E se alguém nos vir? - perguntou enquanto ele parava o carro no acostamento.
- Um pouco de perigo é excitante, não acha? - respondeu ele, deitando a cadeira do passageiro.
Mary Jo sorriu.
Enquanto isso, o parto de Sarah chegava ao estágio final.
- Isso mesmo, Sarah, maravilhoso... Você está indo muito bem, já estou vendo a cabecinha do bebê - Lori disse.
- É uma menina?
- Ainda não consigo ver, Sarah - Lori disse sorrindo. - Mas só mais um pouquinho e saberá se é menino ou menina.
Sarah estava ofegante, mas fez força mais uma vez e, no empurrão final, o bebê saiu totalmente do útero.
- Bem-vinda ao mundo! Você teve uma filha - disse a Sarah, mostrando-lhe o bebê.
- Winona estava certa, disse que teríamos uma filha. Queremos dar a ela o nome de Lori, se você concordar - Sarah disse.
Os olhos de Lori se encheram de lágrimas. Não sabia o que dizer, apenas acenou com a cabeça. A emoção foi tão intensa que só poderia ser quebrada por risadas. Apropriadamente,
o recém-nascido começou a se mexer, querendo o peito da mãe. Os adultos ali presentes caíram na gargalhada.
Duas horas depois que o parto havia terminado, Lori fez o último exame na paciente e se despediu da família. Ao dirigir-se ao orelhão do hospital para chamar um
táxi, percebeu que Travis andava em círculos na sala de espera.
- Ninguém me disse que você estava me esperando. Não tinha que fazer isso - murmurou.
- Eu quis esperar.
Lori se lembrou de David esperando por ela na noite em que sua paciente se acidentou. Mas o sentimento aqui era completamente diferente. Mal comparando, era como
se a primeira situação fosse uma pelada de domingo e, aquela, a copa do mundo. Mas Lori estava cansada demais para reprimir seus sentimentos.
- Vou levá-la para casa - disse ele.
Ao chegarem ao carro, Travis ligou o aquecedor e o rádio. Havia um alerta para uma tempestade, com a expectativa de mais de um metro de neve. A notícia também dizia
que parte da estrada estava fechada por causa do mau tempo. A polícia estava aconselhando os motoristas a ficarem em casa.
Mesmo a curta distância até a casa de Lori estava perigosa. Colocando o braço em volta dela, Travis ajudou-a a vencer a ventania e a neve até chegar à porta de sua
casa.
Não havia como evitar, Lori sabia o que era certo fazer.
- É melhor que fique comigo essa noite - murmurou.
Dez
- Ficar com você? - Travis repetiu com a sobrancelha erguida.
- Quis dizer no sofá - Lori esclareceu. - O tempo está péssimo para dirigir - acrescentou. - O sofá é bem confortável, eu mesma já peguei no sono nele, assistindo
televisão.
Travis não quis mencionar que era bem maior que ela, com medo de que reconsiderasse a decisão de deixá-lo ficar.
- Você parece cansada e entusiasmada ao mesmo tempo - observou ele pegando o lençol que ela trouxera para forrar o sofá.
- Provavelmente porque é assim que me sinto.
- Sabe, já fiz partos de bezerros, mas hoje foi diferente. Diga-me uma coisa, por que as mulheres querem filhos? Elas sabem como será o nascimento?
- Sei como será o parto e mesmo assim quero muito ter um filho - disse fervorosamente.
Querendo entender seus motivos, Travis perguntou:
- Por quê?
- Envolve mais do que simplesmente querer um bebê. É mais profundo. Sonho com um bebê que seja meu para amá-lo, cuidar dele, abraçá-lo, protegê-lo. Sinto um anseio
grande por isso, não consigo nem mesmo descrever.
Travis conseguia entender o que era um desejo, pois ansiava por ela. O único problema é que Lori se sentia dessa forma em relação a ter um filho, não a ele.
- Estou me contorcendo de vontade de ter um filho
- Lori sussurrou.
Travis também se contorcia, só que de desejo de ter Lori de volta em sua vida e em sua cama. Mas ela estava tão envolvida com essa história de ser mãe que não conseguia
ver um palmo à frente do nariz. Quis falar com ela sobre terem um filho juntos, mas evitou o assunto porque percebeu o quanto estava exausta. Não era o momento.
Em breve falaria.
Travis se perguntou se suportaria ver Lori sentindo dor sem entrar em pânico. Claro que já vira nascimentos de bezerros, mas nunca o de uma criança.
- O nascimento é uma coisa caótica - ele sussurrou.
- A vida também é - Lori respondeu.
Viu nos olhos dela que estava determinada a ter um filho, com ou sem ele. Bem, por enquanto não estava considerando tê-lo com ele, mas chegaria lá.
Lori imaginou que Travis ainda estaria remoendo o parto, então decidiu confortá-lo:
- O parto de Sarah não foi tão longo. Já tive pacientes que levaram 24 horas.
Ele ficou pálido.
- Você não tem medo de sentir dor por tanto tempo? - questionou ele.
- Tenho mais medo do desconhecido e sei tudo sobre partos, é a minha especialidade. E a intensidade da dor varia muito ao longo do nascimento - explicou.
- Existem remédios para a dor?
- Posso usar medicamentos se a paciente quiser.
- Quem não ia querer?
- A medicação pode tornar o parto mais demorado e o bebê também sente o efeito do analgésico. Explico tudo isso à paciente, que toma a decisão.
- Muito embora falar sobre isso não seja o mesmo que sentir - Travis observou.
- Mas a paciente pode mudar de opinião a qualquer momento. É impressionante o que a preparação e o treinamento podem fazer para o controle da dor.
- Ah, todas aquelas respirações que o marido de Sarah estava fazendo?
Ela o fitou com curiosidade.
- Encontrei-o na sala de espera e conversamos um pouco.
- Exercícios de respiração ajudam bastante - Lori disse. - E o resultado final foi uma menina linda e perfeita.
- Ouvi dizer que vão dar o seu nome à filha.
Lori acenou com a cabeça, muito emocionada para conseguir falar.
Travis envolveu-lhe o rosto com as mãos e suavemente enxugou as lágrimas.
- Fiquei tão orgulhoso de você esta noite - sussurrou ele.
- Ficou? - ela teve de perguntar. - Por quê?
- Porque sim.
Lori sorriu ao ouvir suas palavras favoritas. Anos atrás, quando lhe perguntara por que a amava, ele respondeu "porque sim". Quando quis saber por que queria casar
com ela, ouviu "porque sim". Havia algo na maneira como falava, imbuindo de sentido aquelas palavras e tornando-as um código entre eles.
- É tarde. Você precisa dormir um pouco.
- Na verdade, já é cedo. - Mostrou-lhe o relógio que marcava três horas da manhã. - Mas você tem razão, estou pregada.
Depois de tomar um banho, Lori foi para o quarto e fechou a porta. Ao deitar, ficou tentando entender por que Travis e ela nunca conversavam daquele jeito quando
eram casados. Talvez estivessem muito ocupados com as contas e o trabalho ou com os momentos de paixão ou de raiva que viveram. Esses foram seus últimos pensamentos
antes de adormecer.
Lori despertou com o sol batendo no rosto. Notou que não tinha fechado a persiana na noite anterior e conseguiu avistar do lado de fora o "parque de diversões" do
inverno. Tivera apenas quatro horas de sono, mas estava tentada a sair para brincar na neve.
Resolveu primeiro tomar uma xícara de café para ver se essa vontade infantil passaria e trocou de roupa, colocando um moletom rosa. Para chegar à cozinha, passou
por Travis na sala. Olhando para ele, as boas lembranças voltaram. Recordou-se de como era acordar ao seu lado, do carinho que trocavam ainda debaixo das cobertas.
Mas fora da cama nunca brincavam - as responsabilidades pesavam sobre eles.
- Vamos sair e brincar na neve - a sugestão saiu de sua boca.
Travis abriu os olhos e fitou-a, sonolento.
- Vamos, vai ser divertido.
- Você é louca - Travis disse.
Mas ela não prestou atenção ao que dizia.
- Espere um segundo - ele ordenou, levantando e se espreguiçando.
Lori tentou não olhar, mas ele era um homem extremamente sexy! Da cabeça aos pés. Ombros largos sobre uma cintura estreita, sem nenhuma gordura sobrando. As longas
pernas eram perfeitas na calça jeans desgastada e amassada.
- Você não pode sair assim - continuou. - Ainda está ventando muito lá fora. Você precisa de um chapéu - disse Travis ao pegar uma touca e colocar sobre a cabeça
de Lori até quase tapar os olhos. Depois calçou suas botas e vestiu o casaco de couro.
- A neve não vai estragá-las?
- Minhas botas são feitas de material mais duradouro do que essas aí - respondeu, embora nunca as tivesse usado na neve.
- O último a chegar lá fora é mulher do padre! - disse ela, correndo para a porta da frente.
Lori nem mesmo saiu alguns metros na frente da casa e ficou presa na neve até a altura das coxas.
- Vejo que a senhorita está precisando de um caminhão - Travis brincou. - Ouvi falar que uma novilha ficou soterrada na vizinhança.
- Qual é o seu preço? - indagou ela.
- Um beijo - respondeu ele.
- Isso é um roubo - replicou, tentando se livrar da neve.
- E pegar ou largar.
- Certo, tire-me daqui.
Ele a puxou direto para seus braços.
- Hora do pagamento - disse, com seu hálito quente sobre os lábios de Lori.
Ela o beijou no rosto.
- Isso é roubo - gritou ele, enquanto ela escapava, evitando novos montes de neve.
- Veja bem para quem você está dizendo isso - ameaçou ela, pegando uma bola de neve. - Vai retirar o que disse?
Travis fez que não com a cabeça.
- Você não conseguiria acertar nem mesmo se estivesse a vinte centímetros de distância - provocou ele.
Lori mirou e jogou a bola de neve, arrancando-lhe o chapéu da cabeça.
- Ninguém brinca com o chapéu de um caubói - Travis rugiu, pegando seu Stetson antes de se armar com neve. - Você está em perigo!
- Travis, nem pense em me jogar isso... - Whoff!
Ela terminou com a boca cheia de neve.
- Agora é guerra!
A guerra de bolas de neve teve bastante movimento, mas pouca precisão. Ela terminou rindo tanto que não conseguia mais ver um palmo à sua frente.
- Espere! - gritou, sem ar. Caindo para trás, afundou na neve.
- Você está bem? - Travis perguntou preocupado, correndo até ela.
- Sim, estou apenas fazendo um anjo de neve - disse, sorrindo. - Você já deve ter feito um quando era criança, não é?
Percebeu pelo olhar dele que não sabia do que ela estava falando.
- Certo, é assim, Travis. Fique de pé aqui... Perfeito. Agora caia para trás sobre a neve.
Travis se jogou para trás, depois de se certificar de que ninguém estava olhando. O chapéu caiu sobre seu nariz e ele o tirou do rosto.
- Certo, agora mexa os braços assim. - Ensinou-lhe o movimento para cima e para baixo que criava as asas do anjo na neve.
O barulho do gelo sendo raspado foi acompanhado por Virgil gritando:
- Ei, vocês dois estão loucos ou o quê?
- Bom dia para você também, Virgil.
Travis ficou de pé imediatamente, sentindo-se acanhado, e olhou desconfiado para o caminhão de limpar neve, dirigido por Virgil, que se afastava deles.
- Esqueça-o - Lori disse.
Travis segurou-lhe as mãos, fazendo-a esquecer do que ia dizer. O coração de Lori se encheu de surpresa e medo. Não havia palavras para descrever como se sentia.
Ele era capaz de fazê-la sentir tanta felicidade, mesmo sem dizer uma única palavra.
O momento foi interrompido pelo latido de uma cadela da raça labrador, Sally, que morava três casas abaixo naquela rua. A cachorra veio correndo em direção a Lori
e, com entusiasmo, pulou sobre ela, derrubando-a no chão em cima de Travis.
- Que cachorro é esse? - perguntou ele.
Rindo, Lori tentou se levantar do peito de Travis, mas acabou ficando cara a cara com ele. O chapéu saíra de sua cabeça na queda. E também o gorro dela. Ele entrelaçou
os dedos nos cabelos de Lori, a mão quente, sem uma luva. Depois puxou-a delicadamente pela nuca para beijá-la.
Ela tentou protestar, mas a quentura de sua boca convenceu-a do contrário. O beijo foi mágico, começou lento e se acelerou, evoluindo para um jogo sedutor com a
língua.
- Estou congelando aqui fora - Travis disse entre os beijos.
- Eu também - Lori concordou tremendo. - Vamos entrar e tomar chocolate quente para esquentar.
Travis pensou em outras maneiras, melhores, de se esquentarem.
- Hoje é virada do ano, dia perfeito para novos começos. Eu posso trazer uma comida e um champanhe...
- Não posso.
- Por quê? Vai trabalhar? Seu carro não está pronto...
- Eu sei. Vou ligar para o mecânico agora mesmo. - Lori se virou para sair dali, mas o braço de Travis a impediu.
- Não antes de me contar por que não podemos passar a noite de ano-novo juntos.
Pela expressão no rosto dela, Travis sabia que não ia gostar da resposta.
- Já tenho planos.
- Com o bancário?
- Sim.
- Cancele-os - Travis ordenou.
O tom de voz dele a incomodou.
- Não.
- Como assim... não?
- O que normalmente essa palavra quer dizer?
- Que você está louca - respondeu ele com raiva.
- Esse não é o significado que eu me lembro - Lori devolveu.
- Pare de tentar ser engraçadinha. Você está maluca se pensa que vou permitir...
- Permitir? - disse ela, a ponto de bala.
- Tudo bem, não foi a melhor escolha de palavras - Travis admitiu. - Mas o que quer de mim? Quer que eu fique sentado aqui como um covarde enquanto você sai com
outros homens?
- Certamente que não. Eu esperava que você tivesse bom senso, mas claramente foi um erro da minha parte.
- Com certeza foi - disse ele.
- Não sei o que me fez pensar que seria maduro.
- Maduro?
- Desisto.
- Ótimo. Enquanto você e seu bancário querido estiverem brindando o ano-novo, apenas lembre-se disso. -Pegando-a pela cintura, enlaçou Lori com os braços e a beijou.
Em contraste com o beijo anterior, que havia sido delicado, este era puro desejo.
Travis ainda lhe deu um olhar ardente antes de pôr o chapéu e ir embora.
Ao ouvir a partida do carro, Lori automaticamente se lembrou da aposta que fizeram sobre não discutir.
- Agüentamos apenas 12 horas.
O que aconteceria com a aposta agora que brigaram? Lori teve um sentimento desanimador de que ambos saíram perdedores. Agora não teriam a menor chance de reatarem.
Lori não viu Travis pelos 12 dias que se seguiram. Passara a virada do ano sozinha porque David estava gripado. Marcaram de jantar junto alguns dias depois. David
era um bom homem, mas Lori não subia às alturas quando o beijava. Tentou imaginar como seria o filho deles, mas parte do problema era que não conseguia visualizar
a si mesma tendo esse tipo de intimidade com ele. Lori disse a si mesma que estava exigindo demais, o importante era o bebê. O resto se ajeitaria.
Enquanto isso, Homer terminou a pintura da parede, fazendo um excelente trabalho. Lori também esteve bastante ocupada com suas clientes que vieram fazer exames de
Papanicolau. Chamara o mecânico para consertar o carro e gastara uma caixa de lenços de papel por causa de Travis. Determinada a não pensar mais nele, dedicou-se
a preencher uma pilha de um metro de altura de formulários no trabalho e a assistir a mais três episódios de Poldark.
Demelza tinha se domesticado muito facilmente, com modos que pareciam de nascença. Para surpresa de Lori, quando foi visitar a amiga Winona ela já sabia sobre seu
novo animal de estimação.
- E então, como vai aquela sua gata? - perguntou.
- Como sabe disso? - Lori questionou.
- Eu a mandei para você. Não consegui que ela confiasse em mim, mas sabia que gostaria de você.
- Mas minha casa fica a quilômetros de distância.
- Eu saio às vezes, sabia? -Winona declarou. - Aquela gata é de cidade, não de campo.
- Eu a chamei de Demelza.
- Nome pomposo para uma gata de bruxa.
- De bruxa?
- Gata preta de olhos verdes. Gata de bruxa.
- Bem, se é assim, poderia me dar algum feitiço para Straker, que continua muito arrogante.
- Esse homem é insuportável. Percebo nele uma energia estranha com o passar dos anos - Winona murmurou.
- Sei o que quer dizer. - Lori deu um gole no chá que a amiga lhe preparou.
- Bem, fico feliz que tenha adotado aquela gata preta, algumas pessoas ainda são supersticiosas demais.
- Ela me trouxe sorte, e não azar - Lori respondeu. -Na verdade, conheci um cara, David Asher... é novo na cidade, veio de Great Falls.
- Um homem da cidade grande.
- A maioria das pessoas não consideraria Great Falls cidade grande - Lori respondeu. - Não é como Nova York ou Chicago.
- Voltamos a falar do David em um minuto, mas primeiro me diga, Sarah teve uma menina, não foi?
Lori respondeu afirmativamente com a cabeça.
- Disse a ela, no verão passado, que teria uma menina. Acerto cem por cento das minhas premonições sobre o sexo dos bebês - Winona disse orgulhosamente.
- Além de produzir o melhor mel da região.
- Obrigada, mas elogios não vão me fazer mudar de assunto. Conte-me sobre David.
- É o novo gerente do banco.
- De belos cabelos e olhos castanhos? - Winona interrompeu.
Lori acenou com a cabeça.
- Eu o conheci, é um bom homem. Mas não é para você, claro - acrescentou.
- Como assim?
- Travis é o homem certo para você - Winona afirmou
- Travis e eu já tentamos uma vez, fomos casados não deu certo.
- Vocês eram muito jovens naquela época.
- Está tendo uma premonição?
- Não! É apenas bom senso.
- Então o que a faz pensar que Travis e eu somo feitos um para o outro mesmo tendo nos divorciado? Lori questionou.
- O fato de Virgil tê-los visto rolando na neve juntos.
- Não estávamos rolando na neve juntos, e sim fazendo anjos de neve - defendeu-se.
- E com que outro homem você iria querer fazer anjo de neve?
Lori ficou em silêncio.
- Você realmente acha que Travis e eu mudamos suficiente para tentar novamente?
- Só você pode responder essa pergunta - Winona disse.
- Ainda brigamos muito... Na verdade, nem estamos nos falando.
- Como Travis se sente? - indagou ela.
- Disse que me quer.
- E sobre ter um filho?
- Estava no hospital quando Sarah deu à luz, e pareceu um pouco atordoado - Lori respondeu.
- Talvez você deva conversar com ele sobre isso. Lori balançou a cabeça.
- Já lhe disse que não estamos nos falando. Ficarei melhor com David.
Winona deu a última palavra:
- A quem quer convencer? A mim ou a si mesma?
Era inverno, a estação mais calma na fazenda. Travis, Slim e Tommy tinham terminado de alimentar o gado e Travis teria o resto do dia para ficar remoendo a briga
com Lori.
- Posso deduzir pela expressão do seu rosto que está pensando em Lori novamente - Tex disse ao lhe trazer café. - Não falou nada desde que dormiu na casa dela na
noite da tempestade.
- Nós brigamos - Travis relutantemente reconheceu.
- Que surpresa! - Tex respondeu com ironia. - E o que houve desta vez?
- Brigamos porque tinha um encontro com o bancário na virada do ano e disse que não o cancelaria por minha causa.
- Ah, você a desafiou novamente.
- Oh, então é tudo culpa minha?
- Não disse isso. Conhecendo Lori, sei que certamente teve sua parte na briga. Não posso controlar nenhum dos dois, mas posso ao menos tentar fazê-lo ver seus erros.
O que aconteceu com a idéia de começar do zero? Achei que você iria fingir que tinha acabado de conhecê-la.
- Tentei fazer isso. Deu certo no começo - Travis respondeu.
- Até você mandá-la mudar os planos com o bancário - Tex observou.
- O que mais eu poderia fazer?
- Conversar com ela em vez de gritar.
- Poderia conversar com ela até cair morto, mas não faria diferença nenhuma, ela iria fazer o que quer de qualquer maneira.
- Esse é o ponto.
- Ótimo, se quer tanto assim o bancário, pode ficar com ele! - Travis gritou.
- Não diga essas coisas, porque elas podem se tornar realidade - Tex disse, ao se retirar, dando-lhe um olhar pesaroso.
A maior parte da equipe do hospital respeitava Lori, exceto pessoas como Straker e Danette. Para elas, ser uma parteira significava não ser boa o suficiente. Lori
se dedicava com afinco, evitando criar situações em que suas técnicas ou habilidades fossem criticadas. A única situação mais perto disso fora o episódio do bip
que não funcionou. Mesmo assim, Rita Brooks, a paciente que se envolvera no acidente de carro naquela noite, acabara de dar à luz um menino saudável.
Antes de preencher a papelada sobre a paciente, Lori precisava de algo para lhe dar energia, como um chocolate com recheio de coco. Infelizmente, a única máquina
de doces ficava no andar de baixo, perto do atendimento de emergência. Lori desceu de escada mesmo, convencendo-se de que estava queimando as calorias que consumiria.
Ao passar pela sala de emergência, viu um chapéu de feltro preto, que lhe era familiar, numa cabeça baixa, em sinal de preocupação. O coração dela quase parou. Era
Travis, sentado na sala de espera, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos e as mãos entrelaçadas como se rezando. E, naquele momento, Lori soube que algo estava
muito errado.
Onze
- Travis? - disse ela, ao correr até ele. - Tocou-lhe suavemente no ombro, fazendo-o levantar num pulo. - O que houve?
- Trouxe Tex. - Sua voz estava embargada de emoção.
- Tex? O que aconteceu com ela?
- Foi um acidente. Ela estava na cozinha... o chão estava molhado... acabou caindo e batendo a cabeça no chão. Pensei que estivesse morta quando a vi, pois estava
tão quieta.
- Ela voltou à consciência?
- Slim está com ela... não soube de nada desde que cheguei. Já faz quase uma hora...
- Vou ver o que está acontecendo... - Lori prometeu.
- Não se preocupe, vai ficar tudo bem.
Lori saiu rapidamente, sem saber que a razão de Tex ter escorregado foi porque entrara na cozinha correndo depois da discussão que tivera com Travis. Ele gritara
com ela e, quando foi à cozinha se desculpar, encontrou-a no chão, dura como gelo.
Lori retornou e Travis ficou de pé novamente.
- Como ela está?
- Vai ficar bem. Acabou de voltar a si.
- Graças a Deus. - Sentou-se novamente e passou a mão sobre os cabelos despenteados.
- Querem que ela fique aqui essa noite sob observação. Ela teve uma concussão, mas os exames não indicam nenhuma fratura.
- Concussão? - Travis repetiu preocupado.
Lori acenou com a cabeça. Vendo o pânico no rosto dele, sentou a seu lado e segurou-lhe as mãos.
- Travis, você já teve algumas concussões. Três, se bem me lembro. Uma quando estava jogando futebol americano, outra quando caiu do cavalo...
- Fui jogado do cavalo, não caí - corrigiu-a. - Além disso, sou bem mais novo que Tex. Vou ficar aqui no hospital para tomar conta dela.
- Não faz sentido, vão cuidar bem dela aqui. Estão arrumando o quarto agora, e assim que estiver pronto você poderá vê-la. Ou, se preferir, pode ir vê-la na emergência
- Lori acrescentou, sentindo que ele precisava ter certeza de que sua mãe de criação estava bem. Porque na verdade era isso que Tex era para ele, não uma simples
empregada.
- Gostaria de vê-la agora - Travis afirmou. Ao entrarem na emergência, Tex disse:
- Nossa, Travis, você está da cor da minha sopa de ervilhas. Não acha, Slim?
- Essa é uma maneira péssima de tirar folga - Travis brincou, ainda emocionado.
- Foi o que eu disse - Slim concordou.
- Ah, parem, vocês dois, nada de se unirem contra uma velha machucada!
- Achei que detestasse ser chamada de velha! - Travis respondeu.
- Você deveria ter me corrigido - Tex lhe disse. - Vocês estão frágeis, quem levou a pancada aqui, eu ou vocês?
Embora estivesse de bom humor, Travis pôde perceber a dor estampada no o rosto de Tex, o que o incomodou muito.
- Agora volte para a fazenda - disse a Travis, depois de conversarem. - Vou ficar bem. Amanhã cedo estarei lá. E não bagunce a minha cozinha, hein?
- Sim, senhora.
- Eu o eduquei bem - Tex comentou com Slim. Mas, ao sair, Travis discordou. Não fora bem-educado.
Se fosse, não teria gritado com ela. A culpa pesou sobre seus ombros.
Travis voltou à sala de espera, onde ficou até Slim chegar.
- Ela já está no quarto. Acabei de assinar os papéis de admissão. Tex é bem forte, pode ir embora despreocupado.
- Foi o que disse a ele - Lori afirmou, ao se juntar a eles novamente, depois de preencher as fichas das pacientes.
- Não vou embora agora - Travis disse teimosamente.
- Então venha comigo até a lanchonete do hospital para tomarmos um café - Lori convidou, puxando-o pelo braço, praticamente obrigando-o a segui-la.
A lanchonete tinha cheiro de desinfetante e comida de microondas. Sentaram numa mesa para duas pessoas. Ela tinha uma xícara de café à sua frente, enquanto Lori
tomava chá. No meio da conversa entre eles, havia momentos de silêncio, nos quais ela pôde perceber que Travis estava remoendo alguma coisa,
- Tex vai ficar bem - ela assegurou. - Sei que deve ter sido um susto encontrá-la inconsciente...
- Você não entende - ele a interrompeu -, ela caiu por culpa minha. Estava triste porque discutimos antes.
- Você e Tex? - Lori perguntou sem acreditar. - Vocês dois nunca discutem.
- Gritei com ela. - Sua voz estava cheia de remorso.
- Tenho certeza de que ela gritou com você também.
Travis balançou a cabeça.
- Não, não gritou.
- Por que vocês brigaram?
Travis não respondeu, mas Lori pôde adivinhar a resposta.
- Foi por minha causa, não foi? - concluiu. - Então talvez eu também deva me sentir culpada por ter começado tudo.
- Não é culpa sua.
- Nem sua - ela afirmou. - Tex se machucou por causa do acidente, não há razão para culpa.
Ele estendeu o braço sobre a mesa para segurar-lhe a mão.
- Obrigado por estar aqui agora.
- Trabalho aqui.
- Você sabe o que quis dizer.
- Sim, sei - respondeu. - Sente-se melhor agora?
Travis acenou com a cabeça.
Houve um momento de silêncio em que os olhares se entrecruzaram, dizendo mais do que palavras.
- O que você vai fazer? - Travis finalmente perguntou.
- Sobre o quê? - repetiu, desviando o olhar.
- Sobre nós. - Gentilmente segurou o rosto dela com as mãos e levantou-lhe a cabeça. Estava olhando-a diretamente quando disse: - Já estou cansado das nossas brigas.
- Eu também - admitiu baixinho.
- Não quero desistir de nós dois - disse -, mas preciso saber uma coisa - completou, segurando-lhe a mão novamente. - Diga a verdade, certo?
- Certo.
- Você está apaixonada pelo bancário? - Travis perguntou.
Lori fez que não com a cabeça.
- Você está apaixonada por mim? - continuou.
- Não sei - ela sussurrou.
- Certo. - Sua voz áspera revelava que aceitara a resposta. Não era o que desejava ouvir, mas era melhor do que temia.
Lori queria lhe perguntar se estava apaixonado por ela, mas teve medo. E se dissesse que não? E se dissesse que sim?
Em vez disso, ele continuou:
- Eis o que penso. Acho que assim que Tex melhorar, temos de ir a um lugar longe daqui, nem que seja por um dia, algum lugar neutro, que não seja na fazenda ou nessa
cidade. Precisamos passar um tempo juntos, porque sei que vale a pena lutar pelo que há entre nós. O que você me diz? Vai pensar sobre o assunto?
Lori respondeu sim com a cabeça.
- Que bom. - Ele apertou-lhe a mão.
Naquele momento, Lori sentiu uma maior conexão com Travis. Como se uma ponte tivesse se formado entre eles. Pela primeira vez não estavam queimando etapas, e sim
as construindo.
Errol Straker olhou para Mary Jo, deitada em sua cama, e perguntou:
- Seu marido não vai sentir sua falta?
- Disse a ele que ficaria até tarde na cidade por causa da reunião da biblioteca - ela sussurrou.
- Não acredito que tenha casado com tamanho covarde.
- Ele não é covarde, aquilo tudo é fingimento - disse com amargura. Mary Jo sempre se considerou boa atriz. Agora fazia papel de coitadinha, mas estava tentando
usar Errol no próximo passo de seu plano. Para isso, precisava atiçar-lhe o instinto protetor. - Dugin quer que as pessoas pensem isso dele, mas na verdade é um
monstro.
Fechou os olhos e estremeceu, preparando-se para continuar as mentiras calculadas a respeito do marido.
- Ficou muito afetado com a morte de seu irmão no Vietnã. Comparado ao irmão, um herói, Dugin não era nada aos olhos do pai e, depois que este teve um ataque do
coração fatal, não era mais possível que Dugin conquistasse seu respeito. A situação o devora por dentro e ele desconta em mim - Mary Jo narrou com um soluço.
- Aquele imbecil!
Com lágrimas nos olhos, Mary Jo continuou: - As pessoas dizem que casei com ele por dinheiro, porém isso não é verdade. Eu pensava que o amava, mas...
-Mas?
- Conheci você e descobri o que é o amor - disse ela, com a voz rouca. - E o que é um homem de verdade.
Observou-lhe o ego inflar. Os homens eram tão previsíveis.
- Detesto saber que você tem de voltar para ele - Errol murmurou.
- Tenho medo de ir embora. Mas não vamos mais falar de Dugin. Vamos aproveitar o tempo que temos.
O beijo dela pôs fim à conversa.
Já dei o passo número um, Mary Jo disse a si mesma. Você merece um Oscar por essa performance!
Na manhã seguinte Molly e Lori tiveram um tempinho antes dos pacientes chegarem ao hospital. Então Molly perguntou:
- Quais as novidades?
- Travis me convidou para viajar com ele - respondeu.
- Jura? E o que você disse? - Molly perguntou surpresa.
- Disse que pensaria a respeito.
- Mas a última coisa que soube é que você e Travis não estavam se falando.
- Eu sei, mas Tex se machucou numa queda ontem à noite e Travis e eu voltamos a nos falar... - Sua voz foi baixando de volume. - Conversamos bastante e me senti
mais próxima dele do que nos últimos anos.
- E o David? - Molly perguntou.
- Talvez eu tenha de colocar meu passado para trás antes de dar um passo adiante.
- Talvez você vá se meter em mais problemas - Molly disse.
- É apenas por um dia, o que pode acontecer em um dia? - Lembrando-se do que houve no casamento de Kane, Lori remendou: - Certo, vou tomar cuidado.
Parecia ser o momento de Lori receber conselho das amigas, porque mais tarde Maris apareceu inesperadamente para uma visita.
- Entre. Onde está meu afilhado adorável? - Lori perguntou.
- Deixei-o com o pai porque queria conversar com você a sós.
- Aceita alguma coisa para beber?
- Não, obrigada.
- Sobre o que quer conversar? - Lori perguntou, enquanto as duas se sentavam no sofá.
- Tem agido de forma estranha ultimamente. E ouvi de Lily Mae que está querendo ter um filho. E verdade?
Lori acenou com a cabeça.
- Por que não me contou? - Sua voz demonstrava mágoa. - Sou sua amiga mais antiga e tenho de descobrir isso com a fofoqueira da cidade?
- Não pude lhe contar.
- Por que não?
- Às vezes é mais fácil conversar com as amigas mais novas que com as mais antigas. Não queria que me dissesse que eu estava sendo ridícula.
- Não teria dito isso. Eu a entendo mais do que imagina. Quando conheci Luke, tentei enganá-lo para conseguir engravidar - Maris confessou.
Lori não sabia o que dizer, não conseguia imaginar Maris enganando alguém.
- Mas as coisas deram certo entre vocês.
- Apenas estou lhe contando isso para que veja que sou capaz de entender o seu desejo de ser mãe - Mary explicou.
- E o que está acontecendo entre você e Travis? Quando vi vocês dois juntos no coral, mal pude acreditar.
- Não foi planejado. Até onde eu sabia, Travis apenas cantava no chuveiro.
- E quando foi a última vez que o viu no chuveiro? - Maris perguntou brincando, com a intimidade de uma verdadeira amiga.
- Nenhuma vez desde o divórcio.
- Então não há nada acontecendo entre você e Travis? - Maris perguntou.
Lori acabou se entregando ao ficar corada.
- Vamos lá - Maris insistiu - o que está acontecendo?
- Não sei, não faz sentido. Estou de volta a Whitehorn há três anos e consegui resistir a Travis muito bem.
- Resistir? - Maris perguntou com a sobrancelha erguida.
Lori jogou uma almofada na amiga.
- Você sabe o que quero dizer.
- Então o que houve para mudar tudo?
- O casamento de Kane. Não que tenha partido meu coração o fato de ele ter casado com Moriah. Talvez eu tenha ficado um pouco magoada, mas Kane não era o grande
amor da minha vida.
- Não. Era Travis.
Lori fez que sim com a cabeça.
- E isso também não deu certo. Tive uma grande paixão e tive respeito mútuo e companheirismo. Nada durou. Talvez eu não tenha o necessário para levar adiante uma
relação - observou tristemente.
- Besteira. Claro que tem. Você é uma pessoa adorável, Lori. Todos gostam de você.
- Seja como for, as coisas não deram certo para mim e os anos estão passando. É hora de considerar outras opções para ter um filho, mas daí me pego pensando que
aqui é uma cidade pequena e que, se eu decidir ser mãe solteira, meu filho pode sofrer preconceito. Não quero que meu filho sofra com isso.
- Ouvi falar que você está saindo com o gerente do banco.
Lori fez que sim com a cabeça e disse:
- Ele é um cara bem legal.
- Mas não é especial, certo?
Lori acenou com a cabeça.
- Embora eu não quisesse ninguém especial.
- E agora?
- Agora não sei. Travis me quer de volta. Até tentou me reconquistar com flores e bombons. Mas tenho medo. Travis diz que somos pessoas diferentes e maduras, mas
ainda brigamos muito.
- Não há nada de errado em brigar, e a melhor parte é fazer as pazes - Maris disse com um sorriso.
- Bem, de qualquer forma, concordei em passar um dia com ele, fora de Whitehorn.
- Aonde vocês vão?
- Nenhum lugar muito longe, apenas para West Yellowstone.
- Espero que dê tudo certo.
- Obrigada. E fico grata pela visita, Maris. Ainda bem que nos acertamos. Desculpe por não ter dito essas coisas a você antes.
- Tudo bem, mas que isso não se repita. Lori sorriu e elas se abraçaram.
Era um sábado de janeiro quando Lori finalmente conseguiu viajar. Nessa época do ano, escurecia muito cedo e as temperaturas chegavam a ficar abaixo de zero. Embora
o tempo estivesse nublado, o clima estava ameno e havia cinqüenta por cento de chance de nevar à noite. Os dois pegaram a estrada na caminhonete de Travis. Lori
tentou esconder seu nervosismo.
- De quem foi a idéia? - Lori resmungou ao respirar fundo e segurar firme nas hastes de esqui.
- Sua - Travis respondeu atrás dela.
- Esquiar é um dos melhores exercícios aeróbicos - disse, como se estivesse tentando relembrar por que escolhera aquela atividade para fazerem juntos.
- E fazer amor? Que nota recebe entre os exercícios aeróbicos?
Nota dez, pensou ao lembrar a última vez que fizeram amor. Já haviam se passado dois meses. Dois meses de noites solitárias e recordações quentes.
Então o que ela estava fazendo esquiando e não indo para cama com Travis? Expulsou o pensamento da mente. Apesar das reclamações, estava se divertindo. O cenário
era lindo, havia uma bela combinação de vales e montanhas e fontes termais.
Travis interrompeu-lhe os pensamentos para perguntar:
- Quando vamos comer? Estou faminto!
- Estamos quase no fim da trilha de esqui.
- Que bom que começa e termina num restaurante - Travis acrescentou.
- Bem planejado - ela concordou.
Travis tinha fome e não era apenas de comida. Estava faminto por Lori. O dia estava quase no fim e ainda não tinham conversado.
Logo que chegaram a West Yellowstone e Lori viu o cartaz anunciando as trilhas de esqui, agarrou-se àquela idéia como um gato à procura do rato. Já Travis esperava
que, se parassem para comer, voltariam ao rumo certo.
Não que soubesse o que dizer. Não fazia a menor idéia. Ao chegarem ao restaurante, um chalé suíço, e devolverem o equipamento de esqui, Travis sentiu medo. Lori
estava se divertindo, via isso estampado em seu rosto. Realmente queria estragar o momento falando do passado e perguntando-lhe por que se separara dele?
Talvez o mais aconselhável fosse voltar ao plano original e fingir que acabavam de se conhecer. Sim, Travis gostou da idéia. Depois de pedir o prato, conversaram
sobre o trabalho, o rancho e tudo mais. O papo durou duas horas, no restaurante praticamente deserto, enquanto lá fora o tempo estava mudando. Ao saírem, tiveram
de enfrentar o vento frio e muita neve.
Ouviram a previsão no rádio do carro - não parecia que o tempo iria melhorar nas próximas 14 horas. Lori teve um dejá vu naquele momento. Da última vez que uma tempestade
os atingira, Travis havia passado a noite na casa dela, e parecia que isso estava para acontecer novamente.
- Podemos tentar voltar se precisarem de você no hospital. Mas não faz sentido nenhum irmos agora se não for absolutamente necessário.
Vendo as condições da estrada, Lori concordou. Fazia sentido ficar ali até a tempestade passar. E, naquele momento, os meteorologistas já antecipavam que isso não
ocorreria até a manhã do dia seguinte.
Os praticantes de esqui da região, ao ouvirem a notícia, ficaram felizes com a previsão de muita neve e lotaram todos os hotéis da cidade. Depois de três tentativas,
Travis finalmente conseguiu um quarto.
- Um quarto? - Lori repetiu.
- Era tudo que tinham sobrando. E, nesse momento, não pude questionar.
Lori também não quis discutir. Na verdade, estava começando a sentir a atividade física da tarde. Estava louca por um banho quente, mas primeiro fez questão de ligar
para seu serviço de bip e informar o número de telefone de onde se encontrava, caso precisassem dela em alguma emergência. Travis tomou banho enquanto ela fazia
a ligação e saiu do banheiro vestindo jeans e camiseta branca.
Ela passou quase meia hora na banheira e só ao levantar percebeu que não trouxera nada para vestir, exceto o roupão fornecido pelo hotel. Apesar do banho, ainda
se sentia tensa.
Travis fitou-a e convidou-a para se deitar com ele.
- Quer uma massagem para ficar mais relaxada? Lori não tinha certeza se tudo aquilo era uma boa idéia.
Dividir a cama com ele, receber massagem, relaxar.
Mas Travis não lhe deu escolha. Trouxe-a até a cama e, quando ela percebeu, estava gemendo de prazer enquanto ele massageava a parte de trás de sua perna. Depois,
passou-lhe a mão do braço esquerdo até a ponta dos dedos.
- Você tem a mão tão delicada - sussurrou ele. - Já pensou que somos iguais de certa forma, trazendo vida nova ao mundo, e ao mesmo tempo temos mãos tão diferentes?
- As suas são mãos de trabalhador, calejadas.
- E as suas são mágicas - Travis disse ao colocá-las sobre o peito, fazendo Lori olhar para ele. - Sente o que elas fazem?
Lori sentiu o coração de Travis batendo sob sua mão. Estava deitada de lado. Travis a segurou pelos ombros e com delicadeza a fez se deitar confortavelmente, olhando-a
o tempo todo.
Retirou-lhe a mão do ombro e deslizou-a sobre seu braço. O toque de Travis era lento, acariciando-lhe a pele apenas pelo prazer que isso provocava nele. De alguma
forma, o roupão se abriu sem ela nem mesmo notar.
Travis acariciou-a primeiramente com a palma da mão, e a aspereza dos calos adicionava uma textura erótica às carícias. Ele sentiu a maciez dos seios, antes de compará-la
com a da região do umbigo e depois da pele entre as coxas.
Lori pensou que, agora que Travis terminara sua sedução com carícias, ele a beijaria. Mas não foi o que aconteceu. Em vez disso, começou tudo novamente, dessa vez
apenas com a ponta do dedo. Parou sobre os mamilos por bastante tempo, friccionando-os com o polegar, o que era inegavelmente excitante.
Ofegante, ela não conseguiu ficar parada nem mais um segundo - o prazer era intenso demais. Ao sussurrar seu nome, ele abaixou a cabeça para beijá-la, a língua tomando-lhe
a boca rosada com cuidado.
Lori sentiu o desejo aumentar dentro dela. O beijo de Travis criou ondas de felicidade. Enquanto ele se movia e dava ao outro mamilo as mesmas carícias, pôs-lhe
a mão embaixo do quadril. Lori pensou que fosse explodir de prazer e, quando ele tocou intimamente o pequeno ponto entre as pernas, sentiu aquela explosão - não
apenas uma vez, mas várias, pois continuou seus movimentos até que ela chegasse ao ponto máximo de prazer.
Lori ficou deitada, fitando-o, maravilhada. Travis lhe deu um sorriso maroto, parecendo um homem que completara sua missão com sucesso.
- Eu tinha algo a lhe provar - admitiu com a voz rouca.
- Que poderia me levar à loucura? - perguntou satisfeita.
- Que a química entre nós não é falsa e que vai durar muito tempo.
- Mas e você? Ainda está...
- Morto de desejo por você - confessou melancolicamente.
- Então por que não...
- Porque da última vez que fizemos amor foi de maneira rápida e furiosa. Queria lhe mostrar algo mais.
- Adoraria ver algo mais, caubói - Lori sussurrou ao abrir-lhe o zíper da calça jeans. - Por que não vem aqui me mostrar?
Travis fez uma pausa, em conflito consigo mesmo. Por um lado, não queria que Lori se arrependesse do que iriam fazer, por outro, poderia ser a melhor maneira de
se aproximarem de vez.
- Está realmente certa de que quer um filho? - perguntou, fitando-a nos olhos com propósito firme.
Lori acenou com a cabeça.
- Então faça um comigo - Travis disse.
Doze
- Não sei - Lori sussurrou. - Seria muito complicado...
Travis colocou-lhe a mão sobre a boca, silenciando-a.
- Não é nada complicado. Deixe-me mostrar como é simples - murmurou.
Finalmente a beijou. As bocas se encontraram com movimentos lentos e suaves que foram se acelerando com o desejo.
Determinada a não ser uma participante passiva, Lori começou suas explorações, mordiscando a orelha e deslizando a língua sobre o pescoço de Travis. E deliciou-se
com os gemidos de prazer que ele emitia.
Ela queria que soubesse que o sentimento era recíproco, e que, se ela ficara viciada, ele também ficaria.
A sedução que se seguiu foi uma combinação de sabores e toques, quando ela subiu sobre o corpo dele e tirou-lhe a roupa com completa entrega. O barulho dos botões
abrindo soou como tiros sobre a respiração ofegante de ambos.
Enquanto isso os beijos iam dos mais ternos aos mais arrebatadores de paixão. A cada vez que um beijo terminava, outro começava imediatamente. Lori gostava assim.
Adorava quando lhe beijava o queixo, os olhos, a ponta do nariz, a têmpora e chegava até a orelha. Ah, a orelha... chegava às alturas quando ele a afagava com a
ponta da língua.
Trêmula, segurou Travis pelos ombros e puxou-o para que se deitasse sobre ela como um cobertor. Depois, empurrou-lhe as costas e encostou os seios sobre seu peito
nu. Segurando-a pelos cabelos, ele se abaixou para beijá-la. Os movimentos de sua língua eram uma imitação do movimento que estava para acontecer. Lori encaixou
as pernas na cintura dele, adorando senti-lo debaixo dela.
Segurando-a pelos quadris, colocou Lori na posição ideal e a encorajou verbalmente a guiá-lo no caminho certo. Ela o fez, acariciando-o com as mãos ao trazê-lo para
junto de si. Posicionou-se corretamente e se abaixou bem devagar.
Uma avalanche de êxtase a tomou com tremores, gemidos e ondulações tão poderosos que estavam bem no limite do prazer e da dor.
- Mais devagar, querida - Travis pediu. - Ou vai terminar antes de começar - disse ao colocar-lhe as mãos nos quadris - Assim, isso...
A satisfação veio lentamente quando marcou o ritmo de ambos, escalando a montanha de prazer, platô por platô, até chegarem ao pico máximo. Uma vez lá, Lori alcançou
o clímax ao ser tomada por ondulações de puro prazer.
E logo ouviu o grito de Travis. Então sentiu o líquido quente jorrando dentro dela. Ao cair exausta, depois de tanto deleite, o pensamento que lhe veio à mente foi
que aquele momento fora perfeito.
Lori acordou no meio da noite, sem saber o que a tinha incomodado. Depois de desperta, não conseguiu mais voltar a dormir, então, cuidadosamente, levantou da cama,
vestindo a camisa de Travis. Olhou pela janela e viu as montanhas.
Sabia que Travis amava e respeitava a terra. Tanto que freqüentemente se matava de trabalhar nela. Nada poderia removê-lo de suas raízes. E não desejava fazer isso,
apenas queria afrouxá-las um pouco para que houvesse espaço para ela. Observando-o dormir, Lori se perguntou se isso algum dia aconteceria.
De manhã, Travis abriu os olhos e percebeu que Lori já estava vestida, esperando-o sentada na cadeira.
- Você acordou cedo - murmurou.
- Pensei que seria melhor já me aprontar para irmos embora.
- Hum... - respondeu, espreguiçando-se enquanto levantava.
O olhar de Lori percorreu com satisfação o corpo de Travis, dos ombros largos e musculosos até abaixo da cintura.
- Estou pronto para irmos - disse arrastadamente.
- Aonde pensa que vai assim pelado? - perguntou, nervosa.
- Para o céu - disse ele, sorrindo maliciosamente. - Com você.
Abaixou-se em frente a ela, segurando-lhe a cabeça com as mãos grossas e mágicas e puxando-a para um beijo que ansiava por ela, sem preliminares e direto ao ponto.
A língua dele lentamente se enrolou à dela em um gesto tão erótico que seu coração disparou.
Lori percebeu que aquele beijo a estava deixando louca.
- Não está com calor, querida? Parece que sim - disse ao deslizar a mão do joelho até sua cintura, paralisando-a de prazer. - Deixe-me ajudá-la - sussurrou com voz
rouca enquanto começava a desabotoar-lhe a camisa de flanela vermelha com admirável destreza. -Afinal, não há necessidade de tanta pressa. Ainda é cedo, temos tempo,
não é?
- Sim - ela murmurou.
- Isso... - disse ao abrir-lhe a camisa e beijar-lhe o colo. - Melhor assim, não é?
Lentamente ele tirou-lhe a camiseta que usava por baixo, revelando um sutiã de cetim cor-de-rosa. Como na noite anterior ela estava apenas de roupão, ainda não tivera
oportunidade de ver sua lingerie.
- Enquanto esquiávamos ontem, fiquei imaginando o que estava usando debaixo das roupas - disse, passando-lhe o dedo acima da peça íntima. - Muito bonito.
- De repente você ficou muito falante, caubói - Lori reparou.
- Mas não tenho palavras para descrever quanto você é linda.
- Não estava reclamando de nada - ela disse suavemente.
- Espero que não... Eu é que devo reclamar das roupas que a cobrem. - Começou por tirar-lhe as botas, depois as meias, e beijou-lhe os pés.
Lori já abria o fecho de sua calça de lã, retirando-a. Agora estava sentada na cadeira apenas de meia-calça arrastão, calcinha e sutiã. A calcinha fazia par com
a peça de cima, e fizeram Travis querer explorar os lacinhos. Passando o dedo por baixo da meia-calça e prendendo-o no elástico, revelou-lhe a parte do corpo úmida
e quente.
- Ah, querida, você está me deixando louco... Estou tentando ir devagar aqui...
Ela o abraçou enquanto ele lhe beijava os seios sobre o cetim. Travis estendeu o braço para soltar o fecho do sutiã. No momento em que a lingerie se abriu, ele passou
a acariciar-lhe os seios.
Lori olhou para baixo e viu o contraste da mão morena dele sobre sua pele branca. Era muito excitante vê-lo acariciando-a dessa forma. O desejo percorreu-lhe o corpo.
Ela passou os dedos sobre os cabelos louros, beijando-lhe cada pedacinho do rosto. A pele dele estava áspera com a barba por fazer.
Travis deslizou a mão sobre suas costas até o elástico da meia. A boca encobria os gemidos de prazer que Lori emitia, incorporando-lhes aos beijos que eram macios
e passionais. Em seguida, retiraram apressadamente a meia-calça e a calcinha dela.
Quando estava nua como Travis, ele a puxou para si. Lori o envolveu com braços e pernas, abraçando-o firmemente quando ele se aproximou com um movimento suave. Ela
apoiou a cabeça sobre os ombros dele, tomada por um sentimento maravilhoso por tê-lo dentro dela, deixando-a ofegante e extasiada.
Fizeram amor com uma força selvagem, o desejo na sua forma mais pura e primitiva. Travis estava concentrado em satisfazer Lori em primeiro lugar. Quando ela atingiu
o clímax, foi como se tivesse morrido e renascido no mesmo momento. Travis estremeceu e atingiu o ápice apenas um instante depois.
- Oh, querida - disse, ainda junto dela. Tocando-lhe o rosto com as mãos calejadas, beijou-a. - Mesmo quando tentamos ir devagar, ainda assim ardemos de paixão.
Lori acenou que sim com a cabeça e esse movimento fez brilhar seus brincos de prata. Ao vê-los, Travis lembrou-se de que lhe comprara de Natal brincos de prata feitos
pelos índios americanos, mas não tivera coragem de lhe entregar. Tocando o brinco com os dedos, pensou nas duas peças - uma de ametista e outra de prata - que estavam
sobre sua mesa-de-cabeceira.
Ainda não estava pronto para devolvê-las. Não porque precisasse de uma lembrança de Lori, que estava em seu sangue. Sempre esteve, sempre estaria... não havia como
mudar isso.
- Como ficamos agora? - Travis lhe perguntou mais tarde.
- Em Whitehorn.
- Não é isso que quis dizer.
- Sei - disse ela. - Desculpe, não quis ser mal-educada, apenas não sei o que fazer daqui por diante.
A expressão dele se fechou.
- Você está pensando se isso aqui foi uma noitada?
- Significou bem mais para mim.
- Para mim também.
No silêncio, pôde perceber que, apesar do amor que compartilharam, Lori ainda estava hesitante. Mas não havia sido assim na cama, não, de forma alguma. Ali sabia
o que queria. Apenas agora, no controle de seus instintos, as dúvidas retornaram.
Travis não a culpava. Prometera que a conquistaria aos poucos, convidou-a a passarem o dia juntos e novamente terminaram na cama. Só que, desta vez, não tinham como
voltar atrás e fingir que nada acontecera.
- Talvez a gente deva voltar ao meu plano de cortejá-la - sugeriu.
- Para quê? Você já conseguiu o que queria! - As palavras escaparam de sua boca, revelando um dos medos dela.
- Não, não consegui - disse, com a voz embargada, tocando-lhe o rosto ternamente. - Quero-a de volta na minha vida. Talvez eu não tenha notado como nossa relação
era especial quando éramos casados, mas agora percebo com muita clareza.
Lori não sabia o que dizer.
Travis suspirou.
- Vamos voltar a Whitehorn assim que tomarmos café e cuidarmos de alguns negócios.
- Negócios?
Lori queria saber que tipo de negócios Travis teria em West Yellowstone. Será que era compra de gado? Será que foi por isso que vieram ali, para que ele pudesse
tratar de negócios? Tinha ciúmes das terras dele como se fosse outra mulher. O que não era saudável para a relação deles, admitia. Então, não fez nenhum comentário
enquanto tomavam café no hotel.
- No que está pensando? - perguntou-lhe quando a viu com o olhar perdido sobre a xícara de café.
- Nada - murmurou.
Não a pressionou, apesar de saber que era mentira.
Os olhares se encontraram, e foi como se o tempo parasse. O rosto de Travis ainda estava queimado do dia que passaram esquiando. O bronzeado realçava seus olhos
azuis, uma cor suave em um homem duro. Mas a paixão no olhar e as mensagens subliminares do desejo que estavam sendo transmitidas a fizeram perder o fôlego e desviar
os olhos.
- Então conte mais sobre esse negócio - disse.
- É uma surpresa - respondeu. Quando ela estava pronta para reclamar, reclinou-se sobre a mesa, dizendo: - Logo você vai ver.
E viu, embora não acreditasse.
- Um passeio de trenó! Travis acenou com a cabeça.
- Prometi-lhe isso há alguns anos e nunca cumpri.
Lori sabia o quanto aquele gesto significava. Não apenas reconhecia que falhara no passado, mas se esforçava para cumprir a promessa.
Percebendo o tamanho do trenó, que parecia com os dos cartões de Natal, Lori perguntou:
- Apenas para nós dois?
- Isso mesmo, querida. Você confia em mim para levá-la a dar uns giros?
Eleja havia feito seu coração dar uns giros apenas com aquele sorriso em seu rosto. Dando-lhe a mão, sentou no trenó. Travis a cobriu com cobertores de lã antes
de pular para a cadeira ao lado.
Ele puxou as rédeas e os cavalos andaram. O dia estava claro e ensolarado, e a neve do dia anterior derretia e caía das árvores ao longo do caminho pela floresta.
Sentia-se aconchegada debaixo do cobertor enquanto Travis dirigia o trenó. Ele parou duas vezes no caminho, uma para mostrar-lhe um grupo de alces procurando comida
e outra, uma águia.
- Meu pai costumava dizer que Yellowstone só tinha duas estações, verão e inverno - Travis relembrou.
- Gosto mais do inverno - Lori comentou, soltando uma névoa branca ao falar por causa do frio.
- Eu me lembro.
Lori se perguntou do que mais ele lembrava. Será que da dor do pedido de divórcio? Da última briga antes que ela se mudasse? Será que conseguiriam deixar tudo isso
para trás e começar novamente?
Naquela paisagem maravilhosa, Lori teve esperança de que sim. Uma gloriosa queda d'água congelada fez as preocupações de Lori parecerem pequenas.
Depois do passeio de trenó, finalmente voltaram para casa. Lori teve pena de ir embora de um lugar que lhe trouxera tantas coisas boas. Sentiu medo de que, ao deixarem
aquele lugar mágico e retornarem à realidade de Whitehorn, a vida deles seria diferente, e o encanto acabaria.
Treze
Quanto mais se aproximavam de Whitehorn, mais Lori ficava insegura. Travis, que não costumava falar muito, também estava quieto.
Gostava do silêncio entre eles, pois nunca fora um homem de muitas palavras. Ter Lori ao lado e a estrada à sua frente, indo para casa, era tudo o que poderia querer.
Quer dizer, quase tudo. Poderia convidá-la para ir morar com ele na fazenda, estava tentado a fazer isso, mas precisou relembrar a si mesmo para ir devagar. Não
seria bom tentar apressar Lori pois ela era muito arredia.
Agir assim era difícil, considerando a maneira incrível como fizeram amor no dia anterior e naquela manhã. Travis nem queria reconhecer o medo que sentia de estar
sendo usado como provedor de sêmen, na busca de Lori por engravidar. Mas disse a si mesmo que, se fosse esse o caso, não haveria problema, pois criariam entre eles
um laço inquebrável.
Lori se perguntava o que Travis estaria pensando. Notou os olhares possessivos que lançara em sua direção. Rezou para que não a convidasse para ir morar com ele,
porque não estava preparada para isso. Nem mesmo estava pronta para dormirem juntos, mas aconteceu. O que vinha comprovar que não conseguia ser sensata em relação
a Travis.
Fez careta ao lembrar que prometera a Molly que tomaria cuidado. Pôs a mão sobre a barriga ao pensar na possibilidade de ter engravidado depois de fazerem amor.
Travis disse que lhe mostraria como seria fácil ter um filho seu, mas ela não se enganaria de pensar que as coisas eram tão fáceis assim. Travis era um cara antiquado,
tinha idéias definidas sobre como as coisas deveriam ser, inclusive sobre as responsabilidades do pai na criação dos filhos.
Ao se aproximar de Whitehorn, o bip de Lori disparou. Uma de suas pacientes precisava dela. Sua folga terminara.
Nas semanas seguintes nevou tanto que até Lori ficou enjoada. Travis permaneceu preso na fazenda, tentando alimentar o gado. A neve tornava tudo mais lento.
Travis telefonava com freqüência, geralmente antes da hora de dormir.
- Sinto sua falta - dizia com a voz rouca e sexy.
- Você parece solitário, caubói - Lori observou.
- Estou. E você, sente minha falta?
- Hum...
- Você está bocejando ou dizendo que sim?
- As duas coisas - respondeu sorrindo.
- E então, quantos bebês você deu à luz hoje?
- Não dei à luz nenhum... quem faz isso é a mãe, eu apenas o seguro quando nasce.
- Você trabalha demais.
- E você não?
- Sou homem...
- Não diga isso - ela o precaveu.
- O quê? - ele perguntou ingenuamente.
- Você estava prestes a fazer um comentário machista, mas por sorte eu o salvei.
- E quem vai me salvar do desejo que sinto?
- E que tipo de desejo é esse? - Lori perguntou, enrolando o fio do telefone, mas querendo que fosse o cabelo louro dele em suas mãos.
- E quase uma dor física.
- Descreva-a para mim. Tem algum tipo de inchaço?
- Sim - disse ele.
- Parece sério. Talvez você precise apalpar a área para ver se está enrijecida.
- Você é malvada. A única pessoa que gostaria que me tocasse é você. Tenho certeza de que acharia rígido o suficiente.
- Com certeza sim. Se estivesse aí, teria de medir o tamanho do problema. Examinar com cuidado. Com as minhas mãos quentes...
- Mais uma palavra e vou até a sua casa - ameaçou-a com a voz rouca de desejo. - Já estou perto do máximo.
- Apenas perto? - disse ela. - Minha performance está decaindo - continuou, dizendo-lhe o que faria caso estivesse ao lado dele.
- Agora nenhum dos dois vai conseguir dormir - disse, com a voz trêmula.
- Não antes de tomarmos um banho frio.
Travis começou a descrever o que faria com ela no chuveiro, enquanto sua pele estivesse escorregadia com o sabão. O som do suspiro repentino de Lori o fez sorrir.
- Durma bem, querida - disse antes de desligar.
O que aconteceu com ela para seduzi-lo daquela forma? Os caubóis costumavam tratar suas mulheres de forma conservadora. Mas Lori duvidou de que depois da conversa
daquela noite ele pensaria da mesma forma. Com esse pensamento, adormeceu sorrindo.
Na noite seguinte, Travis ligou e perguntou:
- Essa é a mesma mulher que me levou à loucura ontem à noite?
- Talvez - Lori respondeu.
- Tenho planos para você.
- Posso imaginar que sim. Contou-me alguns ontem.
- Ah, estou planejando mais do que apenas lhe contar, quero mostrar a você pessoalmente no Dia dos Namorados.
- Nesse caso, talvez a gente deva se encontrar em algum lugar privado - ela sugeriu. - Como a minha casa.
- Exatamente o que eu tinha em mente.
- Sei exatamente o que você tem em mente.
- Ainda não - Travis murmurou. - Mas saberá.
Na véspera do Dia dos Namorados, o tempo voltou a esquentar. O dia começou mal ao encontrar Danette bajulando o dr. Straker no hospital, onde Lori tinha de ver uma
paciente. Depois da consulta, sentou para preencher os infinitos papéis do serviço de saúde. Apenas vagamente notou o som de alguém limpando a garganta atrás dela,
enquanto escrevia.
- Enfermeira Bains.
Lori levantou a cabeça e viu o dr. Straker encarando-a.
- Sim?
- Está na minha cadeira.
- Como?
- Preciso dessa cadeira. Tenho de escrever meus relatórios sobre os pacientes.
Ah, e eu não?, Lori pensou. Claro que a cadeira não era dele, era de quem chegasse primeiro, a não ser que fosse o todo-poderoso doutor, que esperava que as enfermeiras
pulassem do assento para lhe dar lugar.
- Vou terminar em um minuto - Lori disse educadamente, recusando-se a levantar.
- Sente aqui, dr. Straker - uma enfermeira novata ofereceu.
Lori teve o pressentimento de que haveria uma reclamação sobre insubordinação em seu relatório. Não que levantar da cadeira em favor do médico fosse uma regra, era
apenas uma demonstração de autoridade, dessas que Lori detestava.
Quinze minutos depois, ainda nervosa, Lori se reuniu com os colegas para um café. Naquele dia não estava se sentindo muito bem e ainda não tinha comido nada. O comentário
geral foi sobre o episódio da cadeira. E Lori se perguntou se sua náusea fora causada pela repetição do nome de Straker à medida que a história era recontada.
- Com licença - disse, correndo para o banheiro feminino, que por sorte era perto. Quando voltou à lanchonete, ainda pálida, Danette tinha se juntado ao grupo.
- Eu a ouvi no banheiro. Para mim, parece que alguém está grávida.
- Pare com isso, Danette - Nancy, a enfermeira da pediatria, disse. - A comida daqui seria capaz de deixar qualquer um doente.
Porém, naquela tarde, já havia apostas no hospital sobre se Lori estaria ou não grávida e quem seria o pai.
Lori estava mais preocupada em descobrir se realmente tinha engravidado. A menstruação estava para ir no dia seguinte e sempre fora regular. Naquela noite, a exaustão
superou o entusiasmo, e ela dormiu assim que encostou a cabeça no travesseiro.
A primeira coisa que fez, na manhã seguinte, foi um teste de gravidez de farmácia. Depois, sentou-se sobre a tampa do vaso sanitário em êxtase ao ver um sinal de
positivo no teste. Um bebê. Estava esperando um bebê!
Lágrimas encheram-lhe os olhos. Abraçou Demelza e saiu dançando pela casa antes de cair sem ar sobre a cama. Seria mamãe. Nossa! Depois pensou no que Travis lhe
diria quando soubesse. Será que ficaria feliz de ser pai? Ou decepcionado? Era Dia dos Namorados e ela combinara de passar a noite com ele. Teria de lhe contar.
Naquela noite, depois de trocar as roupas de trabalho por um suéter de pêlo de angorá e calça preta, Lori ficou praticando na frente do espelho do banheiro como
daria a notícia a Travis. Era irônico o fato de ter contado a centenas de mulheres que estavam grávidas e, ainda assim, não sabia como falar sobre isso a seu ex-marido.
- Travis. Adivinhe? Estou grávida. - Muito direto, precisa de mais preparação, pensou.
Tentou novamente:
- Estou esperando... - disse e logo balançou a cabeça. Muito sutil.
- Você vai ser papai!
Ficou na dúvida quanto à última frase. Ela certamente seria mãe, mas será que Travis seria pai? Nunca mencionara o desejo de ser pai.
Entrou em pânico, mas se acalmou relembrando-se de que queria a criança e seria capaz de cuidar dela sozinha se necessário. Não era a situação ideal, mas poderia
ser feito sem problemas.
E crescer sem pai não traria danos à criança?, uma voz interior a questionou. Lori não queria criar sozinha seu filho. Teria de esperar e ver a reação de Travis.
Ele chegou pontualmente às 19h, trouxe-lhe flores e uma caixa de bombons no formato de coração. Desta vez, entregou-lhe de forma menos acanhada do que quando fez
isso antes do ano-novo. E o beijo, então, não foi nada acanhado. Em vez disso, tinha intensidade, paixão e desejo.
Quando os dois estavam ofegantes, encostou sua testa na dela e sussurrou:
- Senti sua falta.
- Eu também - respondeu ela.
Ficaram mais um tempo abraçados até que ela se afastou para ajudá-lo a tirar o casaco.
- Tenho algo a lhe dizer.
- É boa notícia? - perguntou com cautela.
Lori não soube o que responder, mas não conseguiria jantar sem antes lhe contar. Seria muita ansiedade para seu estômago já fragilizado.
- Quer uma bebida? - perguntou para ganhar tempo.
- Uma cerveja está ótimo.
Foi até a cozinha buscar-lhe uma cerveja e quase o atropelou na volta.
- Aqui. - Entregou-lhe com as mãos trêmulas.
- Você disse que tinha algo para me contar?
- Hum, certo. Por que não sentamos no sofá? - sugeriu com uma voz de anfitriã.
- Você está me deixando nervoso, querida. O que está acontecendo?
- Estou grávida - disse, com os olhos grudados nele para ver-lhe a reação. Não sabia se era empolgação ou nervosismo que viu e, por alguma razão, completou: - O
filho é seu.
Travis pôs os dedos sobre os lábios dela e sussurrou:
- Sei disso.
Naquele momento, Lori teve certeza de que sempre o amou e sempre o amaria. Embora isso não quisesse dizer que seria fácil conviver com ele. Mas, naquele instante,
permitiu que a descoberta a aquecesse como uma chuva de verão. Amava Travis. A pergunta agora era: será que ele a amava?
- Não vai dizer nada? - perguntou.
- Um bebê - murmurou suavemente. Ele parecia um pouco estarrecido com a idéia. - Como você se sente? Não deveria ficar deitada?
- Estou bem, apenas sinto um pouco de náusea, de vez em quando, mas é normal.
- Está feliz?
Lori acenou com a cabeça, desejando ter coragem de lhe perguntar o mesmo.
- Que ótimo. Eu apenas não esperava que aconteceria tão rápido. Achei que talvez tivéssemos de praticar um pouco mais - disse com um sorriso malicioso.
Percebeu que ele estava feliz e até um pouco orgulhoso. Como se tivesse passado num teste de masculinidade. E o que isso a tornava? Um campo de teste de fertilidade?
Lori ficou nervosa, viu a caixa de chocolate sobre a mesa e, quando percebeu, já estava rasgando o celofane e apanhando alguns bombons.
Segundos depois, Travis arrancou-lhe a caixa das mãos.
- Doces demais não fazem bem durante a gravidez.
- Como sabe? - disse, com a voz refletindo seu ressentimento pela atitude dele.
- Já comecei a ler sobre o assunto. Por via das dúvidas... Um bebê. Nossa! E quando nascerá?
- Perto do fim de novembro.
- Teremos um bebê no próximo Natal. Vai ser maravilhoso! - Seus olhos azuis brilharam de entusiasmo. - Vamos montar uma árvore de Natal na fazenda e tirar várias
fotos. Botas... quantos anos uma criança precisa ter para calçar botas de caubói?
- Pode ser uma menina - relembrou-lhe.
- Mesmo assim ela pode usar botas.
- Acho que estamos nos adiantando muito - Lori disse.
- Tem razão. Primeiro os bebês usam só meias, certo? Mas temos que comprar um pônei para ele. Você vai voltar a morar na fazenda e terá de se livrar da sua gata.
Li numa revista feminina que grávidas podem pegar doenças dos felinos.
- É verdade, por limpar as caixas de areia dos gatos. É por isso que combinei com o filho do vizinho que ele faria isso para mim. Também levei Demelza para uma consulta
no veterinário antes de castrá-la no mês passado.
- Bem, acho que você pode ficar com a gata, mas não faz muito sentido ter uma gata numa fazenda.
- Não tem problema, porque nem eu nem ela vamos nos mudar para sua fazenda.
- Você está grávida de um filho meu. Claro que virá para a fazenda comigo.
- Por que deveria? - respondeu.
- Porque posso cuidar de você lá.
- Não preciso de cuidados. Além disso, a fazenda é longe do hospital.
- Mas eu a levaria para o hospital a tempo de ter a criança - disse ele.
- Quero dizer que é longe para eu ir para o trabalho todos os dias.
-Trabalho?
- Isso mesmo.
- Não há motivo para você trabalhar enquanto estiver grávida.
- As mulheres fazem isso todos os dias.
- Não a minha mulher.
- Você está se ouvindo? Parece que voltou aos anos 50. E quem disse que sou sua mulher?
- Eu disse.
- E eu nego.
- Lori, pense bem. Está esperando um filho meu. Faz sentido que nos casemos. Uma criança precisa do pai e da mãe.
- Tenho consciência disso.
- Então qual é o seu problema?
- Não sou eu que tenho problema! - ela declarou. - É você quem fica me dando ordens.
- Vamos nos tornar pais e vamos fazer isso juntos. - Travis afirmou. - Não vamos mais nos separar ou fugir quando brigamos.
- Não vou passar os próximos nove meses brigando com você, Travis - disse, exausta.
- Com certeza não. Não seria bom para você ou para o bebê.
- Aonde você vai? - perguntou quando o viu levantar.
- Para a cozinha, servir o jantar. Você parece exausta.
- Nossa, obrigada - disse ela, roubando outro chocolate para se consolar.
O jantar não saiu da maneira que Lori planejara, pois não tinha como prever a cena que se desenrolou: Travis usando um avental, sem a jaqueta e com as mangas da
camisa dobradas, pondo a comida sobre a mesa. O coração de Lori se derreteu ao vê-lo cuidar dela como a galinha de seus pintinhos. Sentindo-se fraquejar, disse:
- Não vou me mudar para a fazenda.
- Vamos conversar sobre isso depois - respondeu ele, acrescentando molho branco à batata assada que acompanhava um bife macio. - Agora coma.
- O que você está olhando? - Errol perguntou a Mary Jo ao entrar no quarto.
Mary Jo fitou-o com ar de culpa. Não podia deixá-lo ver o mapa. Errol teria um papel em seus planos, mas certamente não seria a peça principal no esquema que lhe
traria riqueza e independência. Não precisaria mais de homem. Já passara bastante tempo vivendo de migalhas. Agora estava procurando safiras. Com elas, ficaria livre.
- Não estou olhando nada, é apenas informação para bibliotecárias. Não o ouvi entrar.
- Fico feliz que esteja aqui, tive um dia horrível.
Mary Jo enfiou o mapa em sua bolsa antes de lhe dar atenção.
- Pobrezinho, conte-me o que houve.
- Foi culpa daquela parteira maldita.
- Lori Bains?
- Só temos ela de parteira na cidade, mas acho que finalmente encontrei uma forma de me livrar dela. Já ouviu que ela está grávida do ex-marido? Isso a torna o melhor
exemplo de instabilidade profissional.
Mary Jo sabia como era ser mãe solteira: uma rua sem saída. Fizera bem de sair dessa.
- Levei o caso para a administração do hospital hoje. Pensei que tivesse ferrado a vida da parteira quando troquei as baterias do bip e ela não pôde ser encontrada
quando uma paciente precisou.
- Errol, está me dizendo que sabotou o bip dela? - Errol não respondeu, mas Mary Jo o olhou com admiração pelo fato de estar disposto a quebrar regras para conseguir
o que queria. Ele poderia ser muito útil.
- Além disso, houve o problema com Marilee Taylor, que morreu na casa de Walker quando a parteira a estava atendendo. Vou tocar nesse assunto novamente.
- Pensei que Marilee tivesse tido um acidente de carro e que Lori estava apenas passando por perto...
- Os detalhes não importam - Errol declarou. - É apenas um monte que equívocos. Ela me deu a chave da própria sepultura com essa gravidez. De qualquer maneira, já
convenci o administrador do hospital que é hora de termos uma conversa sobre manter uma parteira lá. - Errol acariciou o braço de Mary Jo. - E seu marido?
- Disse a ele que iria encontrar umas amigas depois do trabalho e que chegaria em casa tarde.
- Não, quis dizer como você acha que ele vai votar na situação da parteira. Afinal, Kincaid é integrante do conselho diretivo do hospital, apesar de não fazer nada
além de permanecer sentado durante as reuniões.
- É assim que ele se comporta na cama - Mary Jo murmurou de forma sedutora, passando-lhe as mãos sobre as coxas. - Esqueça da parteira e do hospital. Apenas pense
em mim, sua amante.
Quando Lori chegou ao hospital na manhã de segunda-feira, ainda se remoia por não ter se decidido sobre Travis, que achava que ela se mudaria para a fazenda depois
de passar seu ataque de independência. Estava tratando-a assim nos últimos dias - como se fosse muito frágil e pudesse partir ao meio.
Lori finalmente conseguira levar a melhor na noite passada, quando ele veio visitá-la, porque, ao começar um sermão sobre a importância de beber mais leite, ela
tascou-lhe um beijo que o silenciou. A cara de pasmo dele depois a fez se sentir muito bem.
Mas o documento oficial que Lori encontrou em sua caixa de correio no hospital não a deixou feliz. Ao abrir, leu com incredulidade as linhas digitadas. As palavras
saltaram-lhe aos olhos: "Audiência para reavaliar sua posição no quadro de funcionários do hospital. Você está sendo convocada a comparecer no conselho diretivo
na segunda-feira, 10 de abril". Em sete semanas.
Sentou e releu a carta. Tivera um pressentimento ruim desde que Straker a olhou torto quando não lhe cedeu cadeira uns dias atrás. Vendo a carta agora, percebeu
que estava adivinhando o que viria pela frente. Uma audiência? Aquilo parecia mais uma caça às bruxas. O que faria? A resposta veio imediatamente: compareceria e
faria o melhor para limpar seu nome.
Lori se recusou a deixar Straker tirá-la do sério, mas estava cansada de se defender de seus ataques o tempo iodo. Talvez fosse melhor tomar uma posição! Claro que
não haveria outro emprego para ela ali em Whitehorn, o que talvez significasse ter de retornar a Great Falls.
Era tentador e, se fosse há alguns dias, teria feito isso, mas agora estava grávida. Não tinha idéia de como contaria a seus pais. Eles não compreenderiam que ficara
grávida do ex-marido e que não planejava voltar a casar com ele. Metade de Whitehorn não entendia sua escolha, e Lori tinha certeza de que os diretores do hospital
também não.
Travis estava no Hip Hop Café comendo um pedaço de torta e remoendo sua situação com Lori. Tinha medo de que ela não precisasse mais dele, agora que conseguira o
que tanto queria, o bebê. Agora que seu "trabalho" estava feito, obviamente ela demonstrava dúvidas a respeito de manter um relacionamento com ele.
Virgil veio trazer uma xícara de café para Travis.
- O dr. Straker passou aqui mais cedo, e ouvi uma fofoca do hospital. Sabe o que estão falando de Lori?
- Sei o que eu estou dizendo. Eu e Lori estamos noivos - Travis disse numa voz ameaçadora e alta para todos ouvirem. - Estamos planejando casar novamente. E o primeiro
homem que disser qualquer coisa sobre minha noiva vai ser o primeiro a perder os dentes da frente.
Lori estava se preparando para deixar a clínica à noite quando encontrou Lily Mae na porta da frente.
- Que notícia maravilhosa - exclamou, abraçando Lori. - Estou tão feliz por você!
- Que notícia? - perguntou confusa.
- Acabo de vir do Hip Hop Café, onde ouvi Travis declarar para todos os presentes que vocês estão noivos!
Catorze
- Noivos? - Lori repetiu, descrente.
- Ah, posso ver que era surpresa. Bem, o gato subiu no telhado - Lily Mae disse. - Acabei de ouvir Travis anunciar para todos. E então, quando será o casamento?
- Não sei... quer dizer, não estamos...
- Sei. - A mulher acenou com a cabeça compreensivamente. - Não tiveram tempo de marcar a data.
- Não é isso. Não estamos noivos.
Lily Mae parecia confusa.
- Mas e o bebê? E por que Travis disse que estavam noivos?
- Não tenho idéia de por que Travis faz a metade das coisas que faz. E o bebê vai bem, obrigada.
- Mas se você não casar com Travis, com que vai casar?
- Com ninguém.
- Ninguém? - disse, arregalando as sobrancelhas.
- Quero dizer, ainda não tenho planos.
- Você não está pensando em ter um bebê sozinha, está?
- Apenas não quero casar sem ter certeza de que é a coisa certa a fazer - Lori respondeu.
Lori foi ao encontro de Travis no café.
- Precisamos conversar - disse.
- Claro, querida - Travis respondeu, colocando o dinheiro do lanche sobre a mesa. - Até mais, Virgil. E não esqueça o que eu disse.
Lori percebeu o tom ameaçador de Travis. E Virgil ficou quieto.
Quando saíram, Travis a envolveu com os braços e disse:
- Deveria estar usando um xale, está mais frio do que pensa aqui fora.
- Estou bem.
- Sobre o que queria conversar? É sobre o bebê?
- O bebê está ótimo. A mãe é que não está bem. Venha, vamos conversar na minha casa.
- Oh, meu Deus, é algo sério, não é? Você parece pálida - disse, enquanto a levava para o carro. - Não se preocupe com nada, vou levá-la para casa.
E foi o que fez, excedendo o limite de velocidade. Com os braços em torno dela, levou-a para dentro, diretamente para o sofá.
- Deite-se, vou pegar um copo d'água.
- Não preciso de água. Preciso conversar com você.
- Certo, estou bem aqui. O que gostaria de me dizer?
- Lily Mae veio até a clínica me contar que você disse a todos no café que estamos noivos.
- E então?
- Falei que devia ter sido um engano.
- Por que lhe disse isso?
- Porque é a verdade.
- Bem, agora você precisa dizer a ela que cometeu um erro.
- Eu cometi um erro? - Lori repetiu descrente. - Acontece com qualquer um - Travis disse, afagando-lhe a cabeça para acalmá-la.
- Não cometi erro algum, Travis, mas você sim.
- Como assim?
- Ao dizer à cidade inteira que ficamos noivos sem antes discutir isso comigo.
- Então é por isso que está brava? Porque não contei antes a você? Querida, não planejei as coisas assim. Não queria que nosso noivado começasse desse jeito.
- Não está começando, não estamos noivos.
- Você estava esperando algo romântico...
- Apenas não queria voltar aos velhos hábitos de você fazer as coisas sem me consultar antes.
- Ei, espere um minuto. Acabei de lhe dizer que não planejei nada disso, mas não ia deixar as pessoas falarem de você e do bebê de forma desrespeitosa.
- Não é segredo para ninguém que você quer que voltemos a morar juntos e tem me pressionado para isso.
- Parece que tenho forçado você a fazer alguma coisa, quando na verdade tenho tido a paciência de um santo com o seu chove-não-molha.
- Chove-não-molha! - repetiu sem acreditar.
- A questão aqui é que nenhum filho meu vai nascer bastardo! - ele vociferou.
Para surpresa de Lori, ela se derreteu em lágrimas. Travis também ficou igualmente estarrecido.
- Ah, querida, não chore, as coisas vão ficar bem, você vai ver.
- São os hormônios - disse a ele. - É natural que as grávidas fiquem mais choronas.
Para acalmá-la, passou-lhe a mão pelos cabelos louros. Ao ver o brinco dela em forma de floco de neve, disse:
- Estou com um dos seus brincos, o que você deixou cair quando discutiu comigo no celeiro. - Na verdade, tinha dois, mas não estava preparado para abrir mão deles
ainda.
Lori se lembrava bem de que fizeram mais do que discutir. Ele a beijou até ela perder os sentidos, ainda não recuperados completamente. Falando nisso, esquecera-se
de que deixara seu carro em frente ao Hip Hop Café.
- Preciso do meu carro.
- Vou pedir a alguém que o traga até aqui - disse, dirigindo-se ao telefone. Ao retomar, depois da ligação, perguntou: - Aconteceu mais alguma coisa hoje para deixá-la
tão nervosa?
A audiência: Lori tinha esquecido esse detalhe. Contou tudo a Travis.
- Podem fazer isso? - questionou. - Podem chamá-la para responder ao conselho diretivo do hospital?
Lori acenou com a cabeça.
- Por quê?
- É simples, o dr. Straker pensa que é o dono do hospital e não me quer trabalhando lá.
- Quer que eu dê uma surra nele?
- Não, mas obrigada por oferecer. Não pense que não fiquei tentada.
- Sei que está tentada - Travis disse suavemente, e ela soube que não falava mais de Straker. - Mas está hesitante. Por quê? Acha que pode me explicar por que não
quer casar comigo?
- Tenho medo - Lori admitiu. - Quando éramos casados me perguntava como era possível amar tanto alguém. Queria muito agradá-lo. Então, fiz coisas que pensava que
o deixariam feliz. Fiz sacrifícios... pequenos, primeiro, depois maiores. E acabei ficando com raiva de você no processo.
- Que tipo de sacrifício? - Travis indagou.
- Vários, inclusive alguns na época que nos conhecemos. Sabe por que me tornei uma animadora de torcida?
- Porque gostava?
- Errado. Por sua causa. Você era o astro do time de futebol e eu queria passar mais tempo com você.
- Nunca pedi para você fazer isso. E sobre fazer sacrifícios, sei que foi difícil para você deixar a bela casa dos seus pais aqui na cidade para se mudar para a
fazenda. Seus pais nunca me deixaram esquecer esse detalhe. Queriam alguém melhor para a filhinha deles.
- Não me divorciei de você por causa dos meus pais - respondeu. - E como futura mãe, estou cansada de a culpa sempre recair sobre os pais.
- A culpa não é dos seus pais, é sua.
- Você não consegue deixar de ser agressivo, não é?
- Já tentei de tudo para ter você de volta. Tentei gritar com você, tentei cortejá-la. Agora talvez seja o momento de agir com honestidade.
- Concordo. Mas não vou assumir a culpa por nosso divórcio apenas por ter tomado a iniciativa - disse.
- Não a culpo pelo divórcio. Nós dois cometemos erros. Eu a culpo por tentar agradar seus pais e tentar me agradar, para ficar com raiva depois. Por tentar adivinhar
o que me faria feliz e não conversar comigo da maneira que está fazendo agora.
- Tenho certeza de que você não teria me ouvido naquela época. Depois de 18 horas de trabalho na fazenda, você não tinha pique de chegar em casa para ter uma conversa
com sua esposa adolescente.
- Eu me arrependo por não ter lhe dado mais do meu tempo. Sei que você acha que eu não estava muito presente quando éramos casados - ele disse, tenso.
- Eu me arrependo de ter casado muito cedo - Lori acrescentou. - O problema não era apenas com você. Não estávamos prontos para encarar algumas coisas.
- Não somos tão jovens agora.
- É verdade - concordou. - E é por isso que desta vez não vou dar um passo apenas para satisfazer a idéia de alguém sobre o que é certo. Preciso fazer o que é correto
para mim.
- E o bebê? - Travis perguntou, revelando impaciência.
- Acho que está usando essa situação para me ter de volta - ela o acusou.
Aquelas palavras o deixaram nervoso - talvez porque fossem verdadeiras. Mas não cometera nenhum crime e Lori não tinha razão para tratá-lo como inimigo.
- Você me usou para conseguir o bebê que tanto queria - Travis respondeu. - Então, estamos quites.
- Não vou me apressar para tomar uma decisão - ela lhe informou.
A expressão dele se tornou tensa.
- Escute, como pai da criança, tenho certos direitos. Apenas pense sobre isso enquanto faz seus planos grandiosos. Agora tenho de voltar para a fazenda, mas não
pense que terminamos. Você não é a única pessoa envolvida aqui, há também o bebê, meu filho ou filha.
- Sei disso e andei pensando sobre divisão da custódia...
- Deveria estar pensando sobre casamento. Comigo. Especialmente com essa audiência no hospital. Ser mãe solteira não vai agradar o conselho diretivo.
- Não vou casar para fazer as vontades do conselho do hospital - declarou.
- Não, como já mencionou, está decidida a fazer apenas as suas vontades, e para o inferno com todos nós. Mas estou igualmente decidido a lutar pelo meu filho, goste
você ou não. Pode apostar!
As notícias sobre Travis e Lori se espalharam rápido pela cidade. Algumas pessoas resolveram ajudar e dar conselhos. Lily Mae começou a pesquisar artigos sobre mães
solteiras e entregá-los a Lori sempre que ia ao Hip Hop Café. Por isso, Lori passou a trazer comida de casa para o trabalho.
Um dia, Molly foi até a clínica levar para ela um sanduíche de um pão integral caseiro e lhe perguntou sobre David.
- Não era sério o que houve entre vocês, era? - perguntou.
Preocupada, Lori fez que não com a cabeça.
Naquela manhã a calça jeans dela estava tão apertada que teve de vestir um moletom cinza com uma blusa rosa de lã. Os brincos eram de pedra cor-de-rosa. Travis havia
devolvido o brinco de pena que deixara cair no celeiro no fim do ano. Enviara-o pelo correio, junto com um artigo sobre a importância da família. Não era nada que
Lori não soubesse, mas a parte sobre famílias desintegradas a abalou muito. Lori sabia como era aquilo, sentira na pele e não queria que acontecesse outra vez. Será
que desistira de seu casamento muito facilmente?
- Lori, você não respondeu minha pergunta. A voz de Molly a trouxe de volta ao presente.
- Desculpe. - Lori voltou novamente a atenção para a amiga.
- Sei que você tem muito com o que se preocupar, por causa da sua gravidez e da audiência no hospital... - Molly reconheceu.
Lori notou um certo desconforto na voz da amiga.
- O que aconteceu, Molly?
- Você ficaria triste se soubesse que eu e David estamos... saindo juntos? - perguntou, hesitante.
- De forma alguma - Lori respondeu. - David é um cara legal. E você é excepcional - acrescentou com um sorriso.
- Você é que é. Não sei se teria a coragem de fazer o que você fez.
- E o que fiz?
Molly respondeu simplesmente:
- Correu atrás do que queria.
Embora Molly pensasse que Lori era excepcional, no hospital Danette e Straker estavam falando mal dela pelas costas. Mas Lori tinha o apoio de vários funcionários,
inclusive de Kane.
- Sei que não tivemos muito tempo para conversar desde que me casei - Kane disse quando se encontrou com ela no café.
- Muita coisa aconteceu desde então.
- Ouvi falar, e se tiver algo que eu possa fazer, apenas peça.
- Obrigada.
- Quero que saiba que essa audiência é um absurdo
- Kane disse. - Vou testemunhar em seu favor. Já disse isso ao conselho. Winona também vai.
Lori franziu as sobrancelhas, confusa.
- Winona?
- Não está sabendo? Winona está organizando um abaixo-assinado. Metade da cidade já assinou.
- Agradeço o apoio de vocês e todo o trabalho que Winona está tendo.
- Espero que esteja cuidando bem de si mesma nesse momento da sua vida. Sei o quanto você queria filhos. Espero que encontre a felicidade ao lado de Travis. Se aceitar
apenas um conselho...
- Pode falar, a cidade inteira tem me dado conselhos - Lori disse.
- Não permita que mágoas do passado afetem o seu futuro. Não compensa. Não deixe o excesso de bagagem pesar de forma que não permita que você siga adiante.
Excesso de bagagem. Ainda havia algum resquício de mágoa do divórcio, mas se sentira bastante aliviada ao admitir seus ressentimentos para Travis na última conversa
que tiveram. Ele não foi condescendente, atribuindo-lhe a responsabilidade por tentar agradar às outras pessoas. Era uma necessidade que ainda tinha de superar.
Lori surpreendeu-se com a notícia sobre Winona estar organizando um abaixo-assinado. Não lhe dissera nada a respeito disso quando a encontrou no correio outro dia.
Winona parou para conversar e pôs a mão sobre a barriga de Lori.
- Uma menina - afirmou com um aceno de cabeça. - Você e Travis terão uma filha. Disse que teriam um bebê, não disse?
Com um aceno de mão, foi embora dizendo que tinha muito a fazer.
Depois das suas consultas daquele dia, Lori foi visitar Maris em seu rancho. Queria que soubesse da gravidez por sua boca e não pelos fofoqueiros de Whitehorn. Lori
passou os primeiros minutos acariciando seu afilhado, Clay, e imaginando como seria quando seu bebê nascesse.
Em termos de conselhos, Maris não colaborou muito. Apenas ouviu Lori abrir seu coração, confidenciar seus medos e erros do passado, listar os defeitos e virtudes
de Travis, e os dela também, e confessar seu amor por ele e as esperanças para o futuro.
- E então, o que acha? - Lori perguntou.
- Acho que você deveria conversar com Travis e não comigo - Maris disse, de forma direta, como de costume. - E então, quando vai até lá falar com ele?
Quinze
Lori se aproximou da fazenda de Travis trêmula. A última vez que estivera lá foi quando se beijaram no celeiro. Encontrou-o no mesmo local, fazendo o parto de um
bezerro. Observou-o trabalhando, sem querer distraí-lo. Aproveitou o momento para fitá-lo com prazer, sem precisar esconder seus sentimentos. Se soubesse que o amava,
faria com que ela voltasse para a fazenda imediatamente. Seria um crime querer ter certeza das coisas primeiro?
Com a experiência de uma vida inteira dedicada à fazenda, Travis adquiriu certa confiança no que fazia, como se cada movimento estivesse próximo da perfeição. Estava
amarrando uma corda ao bezerro e puxando-a lentamente para trazê-lo ao mundo.
A cena a emocionou muito. Sempre ficava comovida com o milagre da vida. Especialmente agora que estava grávida. Depois do casamento deles, a reprodução do gado foi
uma das coisas que a afastaram de Travis. As vacas grávidas eram examinadas de madrugada, na hora do almoço e duas horas depois. Invariavelmente, davam à luz durante
a noite, da mesma forma que os bebês humanos.
- Lori! - Travis a viu de pé na entrada do celeiro, com lágrimas nos olhos. - Está tudo bem?
Lori acenou com a cabeça.
- Tudo certo, estava por perto e resolvi passar por aqui. - Vamos conversar lá fora, está muito quente aqui. Vou só me limpar primeiro - disse, pegando a mangueira
para se lavar.
Ela resolveu sair e esperar lá fora, na esperança de que o ar fresco a ajudasse a clarear a mente. Quando Travis chegou, Lori disse:
- Vim avisar que estarei fora da cidade durante o fim de semana.
- Aonde você vai?
- Para Great Falls para o exame pré-natal.
- O que há de errado com os médicos em Whitehorn?
- Prefiro ver uma parteira em Great Falls - Lori respondeu. - Vou me consultar com a minha mentora.
- Vou junto.
Ela ficou surpresa.
- Talvez fosse melhor perguntar antes se quero que você vá.
- Se eu fizer isso, talvez você diga que não - ele respondeu.
Ao chegarem em Great Falls, Lori estranhou ter a companhia de Travis num local em que vivera sozinha. Ele estava fazendo o melhor para apoiá-la até saber que queria
ter o bebê em casa em vez de no hospital.
- Essa é a pior idéia que já ouvi na vida - declarou diretamente.
- Anne, você terá de perdoar o Travis, ele não é a pessoa mais diplomática do mundo.
- Certo - ele concordou.
Anne não pareceu intimidada.
- Bem, Travis, posso assegurar que Lori está com boa saúde e que o parto em casa não é tão estranho quanto parece. Muitas pacientes preferem ter o filho num ambiente
familiar, dessa forma a parteira vai à casa da gestante em vez de ela se locomover.
- E se algo der errado? Pode garantir que Lori não vai morrer? - Travis indagou.
- Claro que não - Lori respondeu. - Também não há nenhuma garantia de que você não morrerá, Travis. E nesse momento as chances são grandes porque eu mesma estou
prestes a estrangulá-lo - murmurou, exasperada.
- Por que não deixo os dois a sós para que conversem por alguns minutos? - Anne sugeriu.
Depois que Anne saiu, Lori explicou a Travis que a única pessoa no hospital em quem confiaria para fazer seu parto no hospital era Kane, mas mesmo assim preferia
ter uma parteira para ajudá-la. Travis não gostava mesmo da idéia de Kane fazer algo tão íntimo assim com Lori.
- Mas aqui não é longe para o parto?
- Sim, é por essa razão que Anne vai tirar uma licença da clínica. Assim ela pode ir para Whitehorn no início do verão e cuidar das minhas pacientes durante a minha
licença-maternidade e fazer meu parto.
- Vocês já tinham combinado tudo.
- Não tudo.
- Quero ficar inteirado de todos os detalhes. Posso saber bastante sobre nascimento de bezerros, mas não de seres humanos. Preciso aprender tudo para me sentir confortável.
Não quero perdê-la novamente - Travis confessou.
Essas palavras sensibilizaram o coração de Lori.
- Nada vai acontecer comigo, Travis. Partos acontecem todos os dias e na maioria das vezes corre tudo bem.
- Estou preocupado com a minoria.
- Sabe, cuidar de uma fazenda também não é um trabalho dos mais seguros. Há mais chance de você se machucar do que eu.
- Isso a preocupa?
- Sempre me preocupou - Lori respondeu.
- Você nunca me disse.
Ela deu de ombros e desviou os olhos.
- Pensei que me chamaria de boba.
- Lá vem você de novo - disse irritado. - Colocando palavras na minha boca.
- Bem, você acabou de declarar que ter o bebê em casa é a idéia mais estúpida do mundo - relembrou-o secamente.
- Isso é porque você me surpreendeu com a notícia. Você tem esse hábito. Não fala sobre as coisas antes, fica quieta, matutando, tomando suas decisões. E, de repente,
atira a notícia sobre mim: "Travis, quero o divórcio"; "Travis, vou ter um bebê e não preciso mais de você"; "Travis, vou ter o bebê em casa e não estou nem aí sobre
o que você pensa".
- Não disse isso - Lori protestou.
- Foi o que eu ouvi - respondeu. - Como você acha que me sinto? Você se importa?
- Claro que me importo, mais do que você pensa - sussurrou.
- Então por que se recusa a casar comigo?
- Não me recusei - corrigiu. - Apenas disse que não tomaria uma decisão apressada.
- Bem, você não pode esperar para sempre, uma hora o bebê vai nascer.
- E você não quer um filho seu nascendo bastardo - disse, exausta. - Sei disso. É uma atitude nobre da sua parte, mas será que não percebe que essa não é a melhor
razão para casarmos?
- E qual seria a melhor razão?
Amor. A resposta veio para Lori em um segundo.
- Preciso de mais tempo - repetiu. - Assim que a audiência do hospital passar, terei mais calma para pensar. Até lá quero manter as coisas sem estresse, certo?
Travis acenou com a cabeça relutantemente. Anne voltou para a sala.
- E então? Chegaram a um consenso?
- Não completamente - Travis admitiu. - Mas se Lori quer ter o bebê em casa, por mim está tudo certo.
Quando Travis e Lori chegaram a um hotel próximo para passar a noite, ela estava muito cansada. Parecia que não dormia há uma semana. Nem mesmo reclamou quando ele
reservou apenas um quarto. Após tomar um banho de banheira, esticou-se na cama. Travis juntou-se a ela depois de sair do chuveiro. Ficou tensa, com medo de ter de
lhe dizer que não estava a fim naquela noite.
- Travis, não quero...
- Shh... - ele sussurrou - vou apenas abraçá-la.
Travis notou a expressão de surpresa de Lori. Não poderia culpá-la, uma vez que não estava se saindo muito bem no quesito autocontrole. Mas o que sentia agora ia
além do sexo. Apenas se aproximou dela, deitando de costas, enquanto ela, de lado, apoiava a cabeça sobre seu ombro. Acariciou-lhe as costas e os cabelos para acalmá-la.
Aos poucos, Lori percebeu que ele não passaria do carinho, então relaxou e dormiu.
Travis havia lido dois livros sobre gravidez, um que ganhou de Tex e outro que ganhara naquele dia de Lori, o que o deixou esperançoso. Queria tê-la assim, ao seu
lado, o tempo todo. Embora pensasse que era um sonho impossível. Para começar, Lori não era mais uma esposa aquiescente - o único momento em que ficava quieta era
daquele jeito, dormindo.
Lembrou-se de algo que Tex lhe dissera antes: não deveria pensar no passado. Apesar de ter superado a dor e a raiva, ainda estava tentando forçar Lori a se adequar
a suas expectativas de uma mulher ideal.
Mesmo sem obrigá-la a nada, a verdade é que por trás de cada gesto tinha a intenção de que ela voltasse para ele. Adoraria se prender a Lori com laços tão fortes
que não poderiam ser quebrados. Mas era como tentar amarrar o vento, Travis concluiu. Uma situação frustrante e sem sentido.
Tudo que sabia era que Lori precisava concordar espontaneamente. Era a única forma de conquistá-la. Não seria fácil. Essa decisão era dolorosa e assustadora porque
não havia nenhuma garantia de que Lori não iria embora, como o vento, deixando apenas o silêncio para trás.
No fundo, Travis sabia o que tinha de fazer e a hora certa. Primeiro haveria a audiência e até lá faria de tudo para não causar estresse a Lori.
Como a audiência aconteceria em apenas algumas semanas, Lori não conseguiria tomar nenhuma decisão sobre sua vida pessoal. Travis estava sendo muito gentil e distante,
apesar de falar com ela todos os dias. Impressionava-a ao fazer perguntas inteligentes, que demonstravam que estava lendo o livro sobre gravidez que lhe dera.
Mas o que Travis queria? Teria de adivinhar, porque ele não estava mais tocando no assunto.
As três semanas seguintes voaram. Lori passou a maior parte do tempo preparando sua defesa, juntando as fichas de pacientes que pensou serem relevantes. Considerou
a possibilidade de contratar um advogado, mas poderia parecer que tinha algo a esconder.
Na véspera da audiência, estava deitada no sofá, folheando um catálogo de roupas para grávidas com a televisão ligada num programa de auditório que tratava de temas
inusitados, quando, de repente, ouviu o tópico sendo discutido: "Mulheres que se casam com seus ex-maridos". Então aumentou o volume com o controle remoto.
Nenhuma das histórias era parecida com a dela, mas de alguma forma, ao ouvi-las, conseguiu sintetizar os próprios pensamentos e percebeu o quanto era uma pessoa
diferente daquela que fora aos 18 anos, quando casou com Travis e saiu direto da casa dos pais para a fazenda. Nunca ficara sozinha, vivendo por conta própria. Sempre
se sentiu dependente de Travis... e talvez por isso se sentisse tão ameaçada pela propriedade dele, porque as terras poderiam tirá-lo dela, literalmente.
Não tinha sido capaz de suportar o casamento naquele momento da vida porque até então nunca se sustentara sozinha. Agora já tinha feito isso e poderia trazer essa
força para o casamento.
Lori percebeu que havia finalmente encaixado a última peça do quebra-cabeça. E pôde notar que, embora não haja garantias de que nenhum casamento funcione, eles não
tinham mais o mesmo relacionamento que fracassara. Haviam mudado bastante. Travis estava se esforçando tanto para ser paciente. Mostrara isso na noite em que dormiu
abraçado com ela em Great Falls. E também ao parar de insistir em que se mudasse para a fazenda!
- Demelza, agora o que tenho a fazer é contar a Travis. Amanhã, logo após a audiência - disse à gata ronronante.
- É aí que vou lhe contar...
Sentado na cama, Errol perguntou a Mary Jo:
- Posso contar com o voto do seu marido amanhã? Mas o pensamento de Mary Jo estava no próximo passo de seu grande plano.
- O quê?
- O voto do seu marido Dugin Kincaid na reunião do conselho diretivo do hospital, amanhã às 8h45 em ponto - Errol disse impaciente.
- Pensei que começasse às 9h.
- Mudamos para mais cedo porque aquela louca da Winona está organizando uma manifestação popular em prol da parteira, mas todos que vão testemunhar precisam estar
lá no início da audiência.
- Que agora será mais cedo. Jogada esperta, Errol.
- Obrigada, mas e o voto do seu marido? Você conversou com ele como eu lhe pedi, não foi?
Mary Jo acenou com a cabeça, embora não tivesse falado nada sobre isso com Dugin. Afinal, qual seria o objetivo?
- Dugin não poderá estar presente na audiência, ele tem de cuidar de negócios inadiáveis da fazenda.
- O que você quer dizer? Dugin não vai à reunião? Estava contando com o voto dele, Mary Jo.
- Bem, Errol, o mundo não gira ao seu redor - respondeu amargamente. Em vez de ajudá-la com seu problema, ele se tornara obcecado em se livrar da parteira. Um assunto
de menor importância perto do que Mary Jo tinha em mente.
- Mary Jo, estou estranhando você... até sua voz parece diferente - Errol comentou.
- Devo estar pegando uma gripe - disse, num tom mais doce.
- Então vá para casa, tome duas aspirinas e me ligue de manhã - Errol respondeu.
Mary Jo percebeu a irritação dele, mas não se importava com Errol. Logo estaria independente dele e de qualquer outro homem.
- Vamos começar agora? - Lori perguntou, sem acreditar. - Ainda faltam 15 minutos.
- Todos os membros do conselho estão presentes e não quero fazê-los esperar - disse o sr. Freeze, diretor do hospital.
- Vou começar agora, mas me reservo o direito de chamar testemunhas para minha defesa.
- Isso aqui não é um julgamento - o administrador respondeu.
- Não, é uma caça às bruxas - sussurrou depois que ele lhe virou as costas.
- Então jogue uma praga neles - Travis disse. - Mande-os para o inferno.
Lori começou pelo discurso de abertura. Queria ganhar tempo até seus apoiadores chegarem.
- Nos séculos XVI e XVII, as parteiras eram torturadas e queimadas como se fossem bruxas. - Poderia ter acrescentado que, em sua opinião, o objetivo real era que
o patriarcalismo tomasse conta da profissão médica. Continuavam fazendo o mesmo hoje em dia, pois não havia nenhuma médica na audiência. - Gostaria de pensar que
evoluímos desde então.
- Qual a razão desse discurso feminista? - o sr. Freeze a interrompeu.
Lori então anunciou:
- A cada ano, mais de 250 mil mulheres nesse país dão à luz com a ajuda de uma parteira, e os números continuam crescendo.
- Certamente fascinante, mas irrelevante para o caso - o diretor disse impacientemente.
- Estava tentando acrescentar informações para o caso de o conselho não ter conhecimento do papel das parteiras na comunidade médica - Lori explicou.
- Não temos tempo para uma aula de história - Freeze declarou.
- Então deixe-me ao menos citar as últimas estatísticas que apontam que entre pacientes atendidas por parteiras há menor incidência de cesarianas e seus filhos nascem
com maior peso.
- Estamos aqui para lidar com seu caso específico. Não com todas as parteiras do país, apenas uma: você.
Para alívio de Lori, Winona e sua turma chegaram. De repente, havia mais pessoas que cadeiras e a sala chegou à capacidade máxima.
- O que significa isso? - o sr. Freeze perguntou. - Não vamos permitir crianças na audiência.
- Estão aqui como parte da defesa de Lori - Kane Hunter afirmou. - Tenho certeza de que a enfermeira Bains é bastante popular entre seus pacientes... E acredito
que o regulamento é bastante claro nesse ponto, ou seja, a enfermeira Bains tem direito a testemunhas de defesa.
- Seis pessoas e nada mais. Não temos o dia todo - o sr. Freeze acrescentou.
Kane começou a defendê-la listando os casos em que trabalharam juntos.
- Dr. Hunter, não é verdade que quase ficou noivo da enfermeira Bains? - Straker interrompeu.
- O que isso tem a ver com o que está sendo discutido aqui? - Kane questionou.
- Apenas estou apontando que seus interesses talvez não sejam objetivos, digamos assim.
Travis reparou que Kane parecia pronto a arrancar a cabeça de Straker. Ele queria fazer isso primeiro, mas se controlou para o bem de Lori.
Observou-a tensa na cadeira e rezou para que o estresse da audiência não prejudicasse nem ela nem o bebê.
Lori sentiu-se grata pela presença de Travis ali e estava emocionada com o apoio de todas aquelas pessoas.
- Vim falar em nome de várias pacientes - Sarah disse. - Vou contar a história de Debbi, cujo bebê não teria nascido se não fosse por Lori. Graças a seu acompanhamento,
descobriu-se que o bebê estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço e fizeram imediatamente uma cesariana, salvando a vida da filha de Debbi, que hoje tem
2 anos.
Aproxima testemunha foi Mary Red Deer, que trouxe a filha nos braços.
- Estou aqui em nome de todas as pacientes que Lori ajudou na reserva indígena. Se não fosse por Lori, não teria voltado para a escola.
Notando que o conselho estava pendendo para o lado dela, o dr. Straker disse:
- Tudo certo, mas há mais em jogo aqui do que apenas popularidade. Há um problema ainda mais sério que precisa ser mencionado... Estou falando do envolvimento da
enfermeira na morte de Marilee Taylor. O que me dizem a respeito?
- Gostaria de responder - Ethan Walker se ofereceu, no fundo da sala. - Marilee era minha irmã, eu estava presente quando Lori a atendeu naquela noite. Se não fosse
por ela, duvido que a filha de Marilee teria sobrevivido.
- Você estava no quarto com a enfermeira enquanto ela atendia sua irmã, sr. Walker? - Straker perguntou.
- Não, mas...
- Então não pode testemunhar sobre o que ocorre naquele local - Straker disse, descartando o testemunho.
- Mas a porta estava aberta e eu conseguia ouvir tudo o que estava acontecendo - Ethan insistiu.
- Como você não tem treinamento médico, não te qualificação para dizer se o que estava acontecendo era ou não um bom atendimento.
- Não, mas posso testemunhar sobre o que é ser injustamente acusado de alguma coisa - Ethan replicou. - É exatamente o que está acontecendo aqui. Gostaria de avisar
ao conselho que minha mulher é juíza e veio aqui hoje para ouvir esse inquérito.
- E não estou impressionada - a esposa de Ethan, Kat Randall Walker, afirmou secamente.
Com as palavras dela, os membros do conselho começaram a se mexer nervosamente nas cadeiras.
- As pessoas que assinaram essa petição estão prontas para entrar no hospital e protestar, caso vocês demitam a enfermeira Bains - Sarah acrescentou, colocando o
abaixo-assinado sobre a mesa dos diretores.
Temendo uma manifestação pública, os membros do conselho conversaram entre si. A decisão foi rapidamente tomada:
- Com base nos testemunhos, decidimos manter a enfermeira Bains como funcionária do Hospital de Whitehorn - o sr. Freeze declarou.
Houve uma explosão de alegria e aplausos da multidão reunida. Lori não sabia a quem abraçar primeiro. Mas enquanto recebia os cumprimentos, começou a procurar por
Travis no meio das pessoas.
Ao virar para trás, deu de cara com ele, que a abraçou. Mas havia algo estranho naquele gesto - não era um ato de celebração e sim uma expressão de tristeza.
Ao soltá-la, Travis pôs algo em sua mão antes de ir embora. Lori olhou para o objeto e viu que se tratava do brinco de ametista que perdera. Entendeu o que aquilo
significava: estava libertando-a.
- Travis, espere! - Mas ele não esperou. E, justamente naquele momento, o bip dela tocou, impedindo-a de correr atrás dele.
Dezesseis
Ao se dirigir para o telefone a fim de atender o chamado do bip, a dor de Travis indo embora causou um vazio dentro dela. A notícia do sucesso da audiência se espalhou
rápido, e Lori recebeu os parabéns de todos que a encontravam. Mas a vitória pareceu perder o sentido ao perceber que o homem que amava não estava ao seu lado.
Enquanto esperava a mensagem, tentava entender por que Travis fora embora daquele jeito. Teve o pressentimento de estar sendo libertada, mas e se ele percebera que
não daria uma boa esposa? Havia muitas mulheres em Whitehorn com mais potencial que ela para cuidar de uma fazenda, e isso a preocupava. Será que aquilo que Lori
estava considerando como paciência era na verdade indiferença?
Claro que tinham um vínculo forte, afinal estava grávida dele. No fundo, porém, Travis nunca dissera que a amava. Queria casar com ela, mas talvez fosse por causa
de seu senso de responsabilidade. Não era o tipo de homem que abandona um filho. Mas Lori queria mais do que isso, queria seu amor.
Seus pensamentos foram interrompidos pela mensagem. Uma de suas pacientes estava tendo contrações. Lori ligou para ela imediatamente, convencida de que era alarme
falso.
- Quando foi a última contração? - perguntou, anotando a reposta.
- Cerca de quarenta minutos atrás. Não queria telefonar, mas pensei que talvez fosse melhor.
- Fez a coisa certa. Parece ser alarme falso, mas se as contrações voltarem me ligue novamente, certo?
- Obrigada, Lori.
Com aquela situação resolvida, Lori voltou a pensar em seu problema. Precisava de Travis. O bebê que teriam precisava dele. Disse-lhe com a mão na barriga:
- Não se preocupe, pequenina - murmurou. - Tudo vai ficar bem, você vai ver. Assim que eu terminar de atender uma paciente no hospital, pretendo ter uma longa conversa
com seu pai.
Encontrou Straker no elevador. Ele não conseguia acreditar que perdera a chance de se livrar dela. Tinha planejado tudo tão bem.
Com a chegada de uma vítima de queimadura, a atenção dele foi desviada. O homem estava em péssimo estado, Errol percebeu imediatamente, e vociferou instruções para
chamarem o resgate aéreo, já que não havia atendimento para queimados naquele hospital. Demorou apenas um segundo para notar que o paciente era Dugin Kincaid.
Dugin estava semiconsciente, o que parecia uma bênção. A coisa mais importante a fazer era estabilizá-lo até o helicóptero chegar para levá-lo a Billings. Depois
de completar os exames e lhe dar analgésicos, oxigênio e soro, Errol perguntou ao paramédico:
- O que aconteceu?
- Houve um incêndio no celeiro da fazenda. Todos os animais conseguiram escapar, mas o sr. Kincaid ficou preso. Quase não chegamos a tempo de salvá-lo.
- Meu marido! - Errol ouviu Mary Jo gritar no corredor. - Como está?
Dugin gemeu e chamou:
- Mary Jo...
- Eles se amam tanto - uma das enfermeiras disse com lágrimas nos olhos.
- Onde está o resgate? - Errol gritou.
- Houve um grave acidente de carro nas redondezas. O helicóptero vai atrasar trinta minutos - o paramédico respondeu.
Xingando baixinho, Errol murmurou:
- Melhor eu ir avisar a mulher dele.
No corredor, puxou Mary Jo pelo braço até uma sala vazia.
- Mary Jo, lembra-se de que me dizia que Dugin batia em você? Quando eu estava examinando-o, notei um machucado na cabeça dele...
- Deve ter sido quando caiu no chão por causa da fumaça - Mary Jo respondeu, com a voz trêmula.
- Não, era mais profundo que isso. Sei que é uma pergunta boba, mas você...
Os olhos dela se encheram de lágrimas.
- Como pode perguntar algo assim?
- Desculpe por perguntar. - Errol deu meia-volta para ir embora.
- Espere - disse, ao pôr a mão no braço dele. - Não vai mencionar esse machucado na ficha do meu marido, vai?
- Tenho de mencionar.
- Não, não tem. - Sua voz se tornou fria. - Fiz uma pesquisa sobre a sua vida e sei de um incidente que aconteceu enquanto ainda era residente. Aquele que pagou
para encobrirem.
Os olhos de Errol se arregalaram.
- Aquilo foi um acidente, não fui responsável pela morte do paciente.
- Talvez não, mas certamente não quer que eu divulgue essa história, quer?
Errol Straker ficou sem saber o que falar.
- Obrigada por sua ajuda, dr. Straker. Agora, se me der licença, vou para a capela rezar pela saúde do meu marido - Mary Jo concluiu.
- Lori, ouviu a notícia? - Lori estava de saída do hospital quando encontrou com Eileen Wolf, uma das melhores enfermeiras da emergência do hospital.
- Que notícia? - perguntou, absorta em seus pensamentos em Travis e aliviada de não ter mais nenhuma paciente naquele dia, o que significava que poderia ir à fazenda
imediatamente.
- Dugin Kincaid foi trazido ao hospital em condições críticas e não resistiu. A esposa dele está mal, como é de se imaginar. Não se feriu, mas está arrasada com
a morte do marido. Pobre mulher, já passou por tanta coisa. Lembra-se do bebê abandonado em sua porta? Depois o convidado na festa do casamento, que apareceu morto...
em seguida o ataque cardíaco do sogro, Jeremiah, e agora Dugin. Ela o amava tanto...
Lori sabia o que era amar alguém demais.
- Que horror!
- O mais estranho foi que ouvi o dr. Straker comentar algo sobre uma pancada na cabeça da vítima, mas isso não foi registrado na ficha médica... Quando lhe perguntei
sobre isso, ele praticamente me atacou e disse que estava cansado de morar numa cidadezinha como essa, dá para imaginar? Todos sabem que ele é quem estava por trás
da sua audiência no hospital. Está aí um mau perdedor.
- Apenas fiquei feliz, pois tudo terminou bem na audiência - Lori disse. - Mas é uma pena Mary Jo ter perdido o homem que ama...
- Tenho boas notícias para você. O dr. Straker não deve ter gostado da derrota porque pediu demissão.
Lori ficou surpresa, mas feliz com a notícia. Agora só precisava de Travis para que tudo ficasse bem na vida dela.
Encontrou-o no local de sempre, no celeiro da fazenda. Tinha tanto a dizer que não sabia por onde começar. Então lhe contou o que estava sendo falado em toda Whitehorn:
- Dugin Kincaid foi levado ao hospital nesta manhã. Houve um incêndio na fazenda e ele morreu.
Lori viu o choque no rosto de Travis, mesmo com a sombra do chapéu encobrindo-lhe as feições.
- Sei como se sente. Essa notícia faz a vida parecer muito frágil, e cada momento, muito precioso. - Inspirando profundamente e reunindo coragem, disse: - Não quero
mais perder nenhum minuto sem você, Travis. Quero passar o resto da vida a seu lado para nos amarmos, brigarmos, cuidarmos um do outro.
- Eu também.
- Então por que me deixou daquele jeito na audiência?
- Porque lhe dei o que queria - Travis disse -, o bebê e a liberdade.
Lori imaginou o que tinha lhe custado aquela atitude, sendo um machão acostumado a mandar desde a infância.
- E se o bebê não for tudo o que quero? - Lori murmurou. - E se eu lhe falar que quero você também? O que me diria?
- Diria que demorou demais - disse, tremendo de emoção e abraçando-a delicadamente. - O que a fez mudar de idéia?
- Finalmente me dei conta de que não era a mesma menina que fui aos 18 anos. Consegui me virar sozinha, mas, da mesma forma que não é saudável depender de alguém,
também não é saudável viver só. Nesse tempo que estivemos separados eu cresci. Parece simples dito dessa forma, mas tive de processar isso tudo.
- Vai mudar ainda mais agora que está grávida - Travis sussurrou, colocando-lhe a mão delicadamente sobre a barriga.
- E quero que esteja comigo em cada passo do caminho - disse, pondo sua mão sobre a dele. - Desta vez, vai dar tudo certo, Travis. E agora que serei mãe, entendo
melhor sua relação com a fazenda. Você esteve cuidando do que ganhou de seu pai para poder passar para seus filhos, os nossos filhos.
- Eu a amo - Travis sussurrou-lhe no ouvido.
- Eu também o amo - respondeu Lori.
Selaram os votos com um beijo que refletia toda a emoção que sentiam. Fazia tempo que Lori não sentia os lábios dele. Muito tempo. Ela tentou compensar, explorando
cada centímetro de sua boca como se fosse a primeira vez. A paixão logo pegou fogo e Travis a segurou mais forte, puxando-a para mais perto do corpo.
Travis parou de beijá-la para dizer:
- Você está cansada. Seu dia hoje não foi fácil, não deve estar com vontade de...
- Sim, estou com vontade - ela sussurrou, pegando-o pela mão e levando-o em direção a um monte de feno.
- Vamos entrar em casa - disse ele, enquanto desabotoava a blusa dela.
- Da próxima vez.
- Slim e os outros funcionários estão cuidando do pasto - murmurou com a voz rouca de desejo - e Tex foi à cidade, então não seremos interrompidos...
- Hum, mãos - Lori sussurrou ao sentir-lhe as mãos na pele nua. - Senti falta do seu toque.
- Eu também, querida. Tem certeza de que...
- Sinto-me muito bem - assegurou-lhe, empurrando-o sobre o feno. - Mas tem algo que me fará sentir ainda melhor...
Ele a fez se sentir maravilhosamente bem. Havia impaciência e ternura quando tirou-lhe a blusa, revelando a pele clara. Acariciou-lhe as costas e abriu o fecho do
sutiã, afagando-lhe os seios e sorrindo para ela. Quando no lugar das mãos encostou-lhe a boca, criou uma onda de desejo. Lori enlaçou os dedos nos cabelos dele,
gemendo de prazer ao sentir suas mãos debaixo da saia. Estremeceu com o toque das mãos sobre a pele.
Ele estranhou a cinta que ela usava.
- Infelizmente não entro mais nas minhas calcinhas. Esforçou-se para abrir o fecho da cinta, mas disse:
- Com certeza não vamos parar por aqui. Tem praticado seus exercícios com o músculo pélvico?
Lori sorriu.
- Claro.
- Então me mostre... - disse, penetrando-a com um só movimento.
Observou-a antes de continuar o ato de amor dos dois, e então perguntou:
- Tudo certo aí?
- Não, tudo maravilhoso, quer dizer, vai estar quando você começar a se mexer. Ah, isso.
- São exercícios - ele a relembrou, gemendo de prazer.
- Prende e solta - ela sussurrou de um jeito sedutor. - Oh, e é tão bom... vou praticá-los pelo menos cem vezes ao dia.
O prazer aumentou. Houve um momento de pausa antes do êxtase. Quando as ondas de prazer pulsaram em seu corpo, sentiu enorme satisfação.
Depois, ele murmurou com a voz rouca:
- Você realmente disse cem vezes ao dia? Ela acenou com a cabeça.
- Se fizer isso eu morro.
- Mas pelo menos vai ser com um sorriso no rosto. Ele a beijou longamente para sentir o gosto dela. -Notou que desta vez conversamos bastante antes de fazer amor?
- Estamos progredindo - Lori concordou, lânguida. - Depois desse tempo todo rolando sobre o feno, você não acha que já está na hora de me tornar uma mulher honrada?
Brincando, Travis lançou-lhe um olhar de indignação.
- Quero que saiba que fiquei o tempo todo com uma certidão de casamento queimando no bolso!
- Não era a única coisa queimando no bolso - observou com um sorriso maroto.
- Case comigo, Lori Parker Bains.
- Pensei que nunca fosse me pedir.
Quando ele se inclinou para beijá-la, Lori murmurou:
- Eu lhe disse que teremos uma filha? Winona previu e nunca erra. Também me disse que você era o homem certo para mim.
- Vai ver que aquela vidente sabia do que estava falando, afinal - Travis admitiu com um sorriso. - Algumas coisas simplesmente estão predestinadas.
Próximos lançamentos
081 - FLERTANDO COM O PERIGO - CELESTE HAMILTON
Whitehorn é o material perfeito para a bela e cínica repórter Elizabeth Monroe: mortes misteriosas, um bebê abandonado, um eremita abduzido por alienígenas... e
agora um estranho irresistível que tenta a todo custo esconder seus segredos. Por isso, Jonas Monroe resolve que pode ser uma boa idéia mantê-la por perto, por diversos
motivos...
082 - CORAÇÃO SOLITÁRIO - RACHEL LEE
O oficial Clint Calloway não fica feliz ao ganhar como parceira bela e sexy Dakota Winston, a novata da corporação. Ele espera que ela permaneça fora de seu caminho,
mas ela não pretende perder toda a ação. No entanto, mesmo forçados a correr contra o tempo para salvar a vida de uma criança inocente, não conseguem ignorar a atração
que os põe em chamas sempre que se encontram...
Ultimo lançamento:
079 - A DESCOBERTA DA PAIXÃO - LAURIE PAIGE
Moriah Gilmore retorna a Montana depois de muitos anos para procurar seu pai desaparecido, e, para isso, conta com a ajuda do sedutor Kane Hunter. Juntos na busca,
ambos descobrem que a paixão que os arrebatou no passado ainda vive, mas se aproximam cada vez mais da revelação de terríveis segredos...
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